A América Latina parece ser o novo caldeirão fervilhante para os serviços de streaming. Após Disney Plus anunciar seus planos de aterrisagem em solo brasileiro, HBO Max e Pluto TV pretendem investir tempo e dinheiro nos países da América do Sul, Central e México. O potencial econômico da região é notável e o público é altamente consumidor de conteúdo audiovisual. Enquanto HBO Max traz um pacote bem amplo e sofisticado de atrações por uma expectativa de preço mais salgada do que a concorrência, o Pluto TV investe no modelo tradicional de publicidade para oferecer uma experiência de consumo gratuita e repleta de curadoria.
De acordo com uma pesquisa da empresa britânica Ampere Analysis, cada consumidor de streaming no Brasil e no México assinam em média 2,5 serviços. Esse dado demonstra como o território é um mercado ávido por conteúdo e com recursos para sustentar uma certa variabilidade de ofertas e produtos digitais. Disney Plus e HBO Max buscam um espaço na memória e na carteira do consumidor latino-americano, figurando como uma segunda opção ao líder supremo Netflix. A expectativa é que a taxa de acumulação de serviços chegue a níveis da Europa Ocidental, o que demonstra fertilidade para aqueles que fincaram melhor sua bandeira no território.
Em nível global, Índia e China ainda representam os maiores bolsões de demanda ainda não devidamente atendida por streamings ocidentais. As especificidades culturais são muito maiores do que as da América Latina e os países por si só já impõem desafios estratégicos imensos. O consumo mobile da Índia é assustador, o que cria oportunidades e armadilhas. Bollywood é uma potência e influencia totalmente a estética e a compreensão do que é Índia para os indianos. E a multiplicidade étnica e idiomática do país também cria desafios para os concorrentes internacionais.
Já a China enfrenta a censura governamental e fortes bloqueios à entrada de competidores externos. Internamente, há o fortalecimento de empresas chinesas como a iQiyi e a Tencent Video, que muito provavelmente deverão vislumbrar em um futuro próximo a expansão de seus serviços em nível regional. Não podemos nos esquecer que a indústria cultural é um tipo de soft power extremamente elaborado e eficiente. Mais do que uma guerra de streaming, teremos uma guerra por dominância cultural.
Por esses e outros motivos, HBO Max fará sua primeira largada internacional na América Latina, prevista para o início de 2021. Reunindo filmes da Warner Bros, séries originais, títulos marcantes como “Friends” e franquias de sucesso da DC, o streaming da WarnerMedia será um forte concorrente para serviços globais como Netflix, Disney Plus e Amazon Prime Video.
Outra vantagem para o lançamento do HBO Max é a força da marca no território e a ramificação da empresa em vários locais importantes da região. Uma pesquisa da Digital TV Research prevê que, em cinco anos, o serviço terá adicionado 2.2 milhões de usuários latino-americanos, além de seus 10 milhões de assinantes atuais via operadora. Se a previsão se confirmar, HBO Max será o terceiro serviço mais consumido no local, atrás de Netflix e Disney Plus.
Ainda não há muitos detalhes revelados sobre a chegada do serviço por aqui. O preço é um mistério, mas se usarmos o parâmetro americano, será salgado. Nos Estados Unidos, o preço é de $14,99, enquanto Netflix varia entre $8,99 a $15,99 e Disney Plus com um bundle de Hulu e ESPN+ chega a $12,99. É aguardar para ver como será a estratégia para fisgar os latino-americanos.
Se o preço pode vir a ser uma pedra no sapato do HBO Max, o Pluto TV pode descansar tranquilo. Com uma proposta diferenciada da maioria dos streamings, o serviço da ViacomCBS desembarca no Brasil em dezembro. Diferentemente da HBO Max, o Pluto TV optou por lançar primeiramente nos países hispânicos da região para depois focar exclusivamente no nosso país.
Estruturado completamente por meio da publicidade como sua fonte de renda, o Pluto TV oferecerá aos consumidores brasileiros 24 canais de streamings totalmente de graça. Disponível em dispositivos móveis, web e TVs conectadas, o AVOD (Ad-Supported Video on Demand) da ViacomCBS trará um catálogo de produtos baseados na curadoria e segmentação, algo bem parecido com a nossa TV por assinatura atual, incluindo produções do portfólio do grupo como MTV e Nickelodeon. Alguns dos canais já divulgados são: Nick Jr. Club, MTV Pluto TV, Pluto TV Cine Sucessos, Pluto TV Cine Comédia, Pluto TV Cine Drama, Pluto TV Cine Terror, Pluto TV Retrô, Pluto TV Anime, Pluto TV Investiga, Pluto TV Natureza e Pluto TV Junior.
ViacomCBS: conglomerado de mídia adquiriu Pluto TV em janeiro de 2019 por 340 milhões de dólares
A bem-sucedida investida do Pluto TV nos países de língua espanhola da região no início do ano pavimentou a construção da estratégia de lançamento no Brasil. Argentina, México e Chile são alguns países com o serviço disponível. Além dos Estados Unidos e Canadá, Reino Unido, Austrália e partes da Europa são outros territórios com esse AVOD.
Da mesma forma que o HBO Max, maiores detalhes sobre o lançamento ainda não foram divulgados. Mas fica a expectativa para observar como um serviço digital gratuito, muito semelhante ao já ofertado pelas operadoras de TV por assinatura, vai se comportar em um ano economicamente massacrado pela pandemia.