Monica Lewinsky era apenas uma estagiária de 21 anos quando iniciou um relacionamento extraconjugal com o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. O escândalo político veio à tona e propagou um maremoto de críticas, acusações e recortes enviesados sobre a jovem que transformou o símbolo da nação em quase um criminoso. A fogueira do julgamento da mídia e da população ardeu bem mais na pele de Monica. Com um establishment da Casa Branca ao seu lado, Bill Clinton pôde enfrentar a chuva ácida dos adversários políticos com um escudo resistente.
A narrativa da jovem sensual que destrói lares e famílias felizes caiu como uma luva na imprensa e Monica Lewinsky foi o “tiro ao alvo” preferido de vários americanos na época. A versão oficial propagada inocentou Clinton do processo de impeachment, manteve o casamento e as aparências com Hillary e escorraçou a estagiária como a erva daninha que envenenou o casamento mais perfeito do país.
O tempo passou e Monica virou o jogo. Tornou-se palestrante sobre assuntos relacionados à cyberbullying, exposição vergonhosa e assédio. E resgatou o poder de contar sua própria história. Atualmente, Monica é produtora executiva da terceira temporada de American Crime Story (a mesma série antológica de "The Assassination of Gianni Versace" e de "The People vs. O. J. Simpson"), que será focada no escândalo protagonizado por ela e o ex-presidente Bill Clinton nos anos 1990. “Impeachment” é mais uma produção do prolífico Ryan Murphy, que fez questão de convidar a ex-estagiária para produzir um retrato mais fiel aos acontecimentos do que aquilo que já foi exposto na mídia. Beanie Feldstein irá interpretar Lewinsky na trama, que tem previsão para estrear ainda em 2021.
(Monica Lewinsky)
Já tendo vivido poucas e boas, Monica também dará expediente em uma série documental da HBO Max sobre a cultura da humilhação pública. “15 Minutes of Shame” é descrito como um olhar para as pessoas ao redor do mundo que já experimentaram uma situação de humilhação, exposição e criticismo público. Max Joseph, produtor e apresentador do programa “Catfish”, vai atuar como produtor executivo, assim como Lewinsky, que palestrou sobre “o preço da vergonha” em um TED que já alcançou mais de 9MM de visualizações. Confira (em inglês):
Alvo do escrutínio público, Lorena Bobbitt foi um nome que marcou os anos 1990 nos Estados Unidos. Nascida no Equador, Lorena conheceu seu marido John Bobbitt em 1988, enquanto morava nos Estados Unidos com visto de estudante e trabalhava como manicure. Na época, ela era uma jovem de 18 anos e ele, um homem atlético e sedutor de 21 anos. Após 10 meses de namoro, Lorena aceitou se casar com John. Ali, começava um relacionamento abusivo, que misturava agressões físicas, verbais e outras inúmeras violações. Exaurida por quatro anos e meio de maus-tratos, Lorena resolveu se vingar. Na noite de 23 de junho de 1993, ela pegou uma faca na cozinha e castrou o marido enquanto dormia.
(Lorena Bobbitt e John Bobbitt)
O caso ganhou as manchetes do mundo e acabou tornando-se motivo de piada, trocadilhos e títulos vulgares. A verdadeira face da moeda ficou eclipsada por uma intensa cortina de fumaça, repleta de julgamento social, humilhação pública e machismo. Em 2019, a Amazon lançou uma série documental intitulada “Lorena”, que reconta os detalhes do caso pela versão da própria Lorena Bobbitt. Em quatro capítulos, a docussérie produzida por Jordan Peele revisa as nuances machistas na cobertura do incidente e como a imigrante foi alvo de ameaças do ex-marido. Após passar por uma cirurgia de reconstrução do órgão, John tornou-se uma celebridade, adentrou na indústria pornográfica, porém seu comportamento agressivo o levou a prisão outras vezes:
Anunciado pelo canal Lifetime, “I Was Lorena Bobbitt” é uma produção ficcional que teve a participação de Lorena como produtora executiva. O telefilme foi lançado em 2020 e contou a famosa história pela perspectiva de Lorena, acompanhando sua vida como uma noiva imigrante até atingir o estranho status de celebridade ao protagonizar a castração do ex-marido. O filme também a mostrará como uma defensora dos direitos das mulheres contra a violência.
Por fim, temos um caso dos anos 1960, que abalou as estruturas da Inglaterra. Christine Keeler era uma modelo de 19 anos que se envolveu em um escândalo político com o Secretário de Estado para a Guerra John Profumo. A série de seis episódios da BBC foi concebida por meio da perspectiva de Keeler. O relacionamento entre Keeler e Profumo começou em 1961, enquanto ele estava casado com Valerie Hobson, uma famosa atriz britânica. O caso Profumo estouro em 1963, quando John foi forçado a falar sobre o assunto na Câmara britânica. Os rumores o levaram a renunciar do cargo alguns meses depois.
(Christine Keeler)
Os detalhes do envolvimento de Keeler e Profumo ganham traços de segurança nacional quando reportagens passam a ligar o nome de Christine a um capitão soviético chamado Yevgeny Ivanov. Sempre representado como um homem de família dedicado a uma vida de caridades, John Profumo é mais um personagem que saiu quase ileso do julgamento público. Já Keeler, podemos dizer que ela foi retratada como a cobra peçonhenta que enfeitiçou o braço direito do Estado apenas por desejos frívolos ou maldade descomunal. A proposta desta série da BBC é tentar reverter o viés machista que soterrou por décadas da vida de Christine Keeler. Assista o trailer de "The Trial of Christine Keeler":
Como podemos observar, obras baseadas em escândalos sexuais reais estão buscando contrabalancear o passivo histórico de representações machistas ou enviesadas por demais a fim de oferecer mais espaço à versão da mulher, normalmente a verdadeira vítima dos casos. Isso tem muito a ver com os movimentos que clamam por mais equidade nas narrativas da indústria cultural e por mais vigilância contra as situações de assédio e violações da existência feminina. O que anteriormente foi retratado como a ninfeta que destruiu casamentos ou a desequilibrada que castrou o próprio marido, hoje ganha uma nova visibilidade com o olhar pós #metoo.