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O Quinto Set

"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.

"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".

É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre  a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!

Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha".  Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.

Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.

"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".

É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre  a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!

Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha".  Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.

Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!

Vale muito a pena!

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O Segredo - Ouse Sonhar

Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.

Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:

Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!

O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!

Sorrindo, eu te digo: vale seu play! 

Assista Agora

Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.

Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:

Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!

O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!

Sorrindo, eu te digo: vale seu play! 

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O Tempo Que Te Dou

"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?

A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:

Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai  tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!

A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a  trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).

Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!

Vale demais esse play!

Assista Agora

"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?

A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:

Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai  tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!

A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a  trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).

Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!

Vale demais esse play!

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O Tigre Branco

"O Tigre Branco" é uma espécie de "Cidade de Deus" da Índia. Ok, talvez sem a mesma genialidade da direção do Fernando Meirelles ou até do roteiro do Bráulio Mantovani, mas é um fato que a produção da Netflix entrega uma jornada tão dinâmica e surpreendente quanto. Muito bem produzida e com um protagonista que dá uma aula de interpretação, Adarsh Gourav, o filme á uma agradável surpresa e merece muito nossa atenção!

O filme é uma adaptação de um livro de muito sucesso escrito por Aravind Adiga, e narra a trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu no meio da miséria em um vilarejo distante da capital e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim da sua vida com muita lealdade. Trabalhando como motorista para o filho de um magnata da região, Balram começa, aos poucos, sentir na pele a desigualdade entre a sua casta e a dos afortunados, e com isso entende o ritmo que dita os rumos do capitalismo em seu país. Quando se dá conta de que é só mais uma galinha dentro de um enorme galinheiro que sabe que será abatida e nem por isso tenta fugir (uma metáfora cruel que o acompanha durante sua saga), o jovem muda seus conceitos e atitudes para buscar o topo que lhe foi sempre renegado e assim se tornar um grande empresário do país. Confira o trailer:

Como em "Cidade de Deus", a história não respeita a linha temporal convencional e é narrada por Balram a partir do seu ponto de vista, enquanto escreve um email para o primeiro-ministro chinês que estará de passagem pela Índia para reuniões com empresários locais. Além de um texto crítico, mas muito bem equilibrado com um humor ácido e inteligente, o premiado diretor americano Ramin Bahrani (de Fahrenheit 451) entrega com a mesma competência a construção de um conto de fadas moderno bem leve na primeira metade com a desconstrução de um mito carregado de drama e angústia na segunda. A fotografia de Paolo Carnera (de Suburra), além de posicionar a narrativa na linha do tempo, com as cenas no presente em cores mais frias e no passado com cores mais quentes, ele também capta maravilhosamente bem os contrastes sociais da Índia e como os personagens se relacionam de formas completamente diferentes com esse abismo - lembrou muito o trabalho do Kyung-pyo Hong em "Parasita", se não na simbologia, pelo menos na intenção!

"O Tigre Branco" tenta nos mostrar que os fins justificam os meios, desde que feito com o coração e sirva de transformação para quem será capaz de olhar para o outro com mais humanidade. Mesmo apoiado na figura do anti-herói, é fácil compreender suas motivações e entender que tudo não passa de uma reação perante um mundo cruel e inegavelmente real! Como em "Cidade Deus", o certo é relativo, mas o errado é uma certeza tão sistemática que uma história que tinha tudo para ser uma jornada de superação e resiliência se torna uma desconfortável, e nada sutil, versão da realidade! Vale muito a pena!

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"O Tigre Branco" é uma espécie de "Cidade de Deus" da Índia. Ok, talvez sem a mesma genialidade da direção do Fernando Meirelles ou até do roteiro do Bráulio Mantovani, mas é um fato que a produção da Netflix entrega uma jornada tão dinâmica e surpreendente quanto. Muito bem produzida e com um protagonista que dá uma aula de interpretação, Adarsh Gourav, o filme á uma agradável surpresa e merece muito nossa atenção!

O filme é uma adaptação de um livro de muito sucesso escrito por Aravind Adiga, e narra a trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu no meio da miséria em um vilarejo distante da capital e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim da sua vida com muita lealdade. Trabalhando como motorista para o filho de um magnata da região, Balram começa, aos poucos, sentir na pele a desigualdade entre a sua casta e a dos afortunados, e com isso entende o ritmo que dita os rumos do capitalismo em seu país. Quando se dá conta de que é só mais uma galinha dentro de um enorme galinheiro que sabe que será abatida e nem por isso tenta fugir (uma metáfora cruel que o acompanha durante sua saga), o jovem muda seus conceitos e atitudes para buscar o topo que lhe foi sempre renegado e assim se tornar um grande empresário do país. Confira o trailer:

Como em "Cidade de Deus", a história não respeita a linha temporal convencional e é narrada por Balram a partir do seu ponto de vista, enquanto escreve um email para o primeiro-ministro chinês que estará de passagem pela Índia para reuniões com empresários locais. Além de um texto crítico, mas muito bem equilibrado com um humor ácido e inteligente, o premiado diretor americano Ramin Bahrani (de Fahrenheit 451) entrega com a mesma competência a construção de um conto de fadas moderno bem leve na primeira metade com a desconstrução de um mito carregado de drama e angústia na segunda. A fotografia de Paolo Carnera (de Suburra), além de posicionar a narrativa na linha do tempo, com as cenas no presente em cores mais frias e no passado com cores mais quentes, ele também capta maravilhosamente bem os contrastes sociais da Índia e como os personagens se relacionam de formas completamente diferentes com esse abismo - lembrou muito o trabalho do Kyung-pyo Hong em "Parasita", se não na simbologia, pelo menos na intenção!

"O Tigre Branco" tenta nos mostrar que os fins justificam os meios, desde que feito com o coração e sirva de transformação para quem será capaz de olhar para o outro com mais humanidade. Mesmo apoiado na figura do anti-herói, é fácil compreender suas motivações e entender que tudo não passa de uma reação perante um mundo cruel e inegavelmente real! Como em "Cidade Deus", o certo é relativo, mas o errado é uma certeza tão sistemática que uma história que tinha tudo para ser uma jornada de superação e resiliência se torna uma desconfortável, e nada sutil, versão da realidade! Vale muito a pena!

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O Time da Redenção

O Time da Redenção

Um MBA de Liderança!

Sim, o documentário "O Time da Redenção" é uma aula sobre liderança graças a alguns personagens que merecem ser observados muito de perto para que se possa entender o contexto da jornada de reconstrução da Seleção Americana de Basquete Masculino e a importância da diferença entre se ter um "plano" ou um bom "planejamento" para conquistar determinados objetivos. Mike Krzyzewski (o Coach K), Kobe Bryant, LeBron James e Dwyane Wade são protagonistas dessa produção da Uninterrupted (a mesma de "Neymar - O Caos Perfeito" e de "Naomi Osaka: Estrela do Tênis") que vai te provocar excelentes reflexões!

Com imagens e conteúdo de bastidores inéditos, "O Time da Redenção" conta a história da jornada rumo ao ouro do time de basquete masculino dos EUA em Pequim 2008, após repetidos "fiascos" em dois campeonatos mundiais e nas Olimpíadas de Atenas (2004) quando perdeu uma semi-final improvável para a Argentina. Confira o trailer:

Contextualizando, após a derrota nas Olimpíadas de 1988 em Seul a Confederação Americana de Basquete tinha um plano: fazer com que o Comitê Olímpico permitisse que jogadores profissionais da NBA pudessem disputar uma competição "amadora" e assim reconquistar a hegemonia absoluta do esporte quatro anos depois em Barcelona. Até aquele momento o time dos Universitário dos EUA tinham um histórico de 84 vitórias e apenas 1 derrota - a dolorida e controversa medalha de prata em Munique quando a URSS venceu no último segundo após uma readequação no cronometro para que o time soviético tivesse mais uma chance no jogo. Pois bem, como todo plano, a estratégia funcionou em curto prazo, os EUA foram campeões olímpicos em Barcelona, em Atlanta e em Sidney (já com muita dificuldade); mas não se sustentou no longo prazo quando as outras seleções começaram a ser adequar àquele novo cenário, complicando a vida (e o jogo) dos americanos com muito mais eficiência e frequência como nunca. Era preciso urgente de um planejamento!

Depois da derrota na semi-final olímpica de 2004 foi iniciado um programa de reconstrução - se reunir 15 dias antes de uma competição importante para treinar, já não era uma opção. Com a chegada do nosso primeiro personagem, Mike Krzyzewski, se estabeleceu que os astros da NBA passariam a jogar dentro de um sistema que privilegiaria o conjunto, mesmo que incentivados a ser quem eram em seus times - até porquê, tanto LeBron James quanto Dwyane Wade já haviam participado da campanha fracassada de Atenas e sentiram na pele que o individualismo não se sustentaria mais. Explorar essa transição de mentalidade é, sem dúvida, o grande diferencial do documentário dirigido pelo Jon Weinbach (o cara por traz de "Arremesso Final") - com vários depoimentos dos personagens que fizeram parte dessa reconstrução e uma quantidade considerável de imagens inéditas dos bastidores dessa preparação, "O Time da Redenção" é um estudo de caso dos mais completos e complexos sobre liderança, motivação e planejamento que já assisti! Uma verdadeira aula de gestão em todos os níveis de relação!

"O Time da Redenção" é um presente para quem gosta do esporte e se aproveita dessas histórias (e aqui não estamos falando apenas das histórias de sucesso, mas também das de fracasso) para decodificar tantas lições e aplicar em seu dia a dia profissional. Entender que é preciso liderar pelo exemplo, como Kobe Bryant fez em sua chegada ao time; ou refletir sobre o papel do profissional que está no topo da pirâmide dentro de uma organização, como sempre pregou o Coach K; e até como o fracasso pode servir de combustível para quem não teria mais nada que provar, como aconteceu com James e Wade; enfim, tudo isso e muito mais está nesses 90 minutos de documentário que, no mínimo, vai te deixar muito mais atento a certos detalhes que para muitos nem importantes são, mas fazem muita diferença como prova essa história.

Vale muito o seu play!

E em tempo, se você quiser se aprofundar nos conceitos de liderança de Mike Krzyzewski (o Coach K) indico com muita tranquilidade o livro "Liderar com o Coração" que ele escreveu ao lado de Jamie K. Spatola.

Assista Agora

Um MBA de Liderança!

Sim, o documentário "O Time da Redenção" é uma aula sobre liderança graças a alguns personagens que merecem ser observados muito de perto para que se possa entender o contexto da jornada de reconstrução da Seleção Americana de Basquete Masculino e a importância da diferença entre se ter um "plano" ou um bom "planejamento" para conquistar determinados objetivos. Mike Krzyzewski (o Coach K), Kobe Bryant, LeBron James e Dwyane Wade são protagonistas dessa produção da Uninterrupted (a mesma de "Neymar - O Caos Perfeito" e de "Naomi Osaka: Estrela do Tênis") que vai te provocar excelentes reflexões!

Com imagens e conteúdo de bastidores inéditos, "O Time da Redenção" conta a história da jornada rumo ao ouro do time de basquete masculino dos EUA em Pequim 2008, após repetidos "fiascos" em dois campeonatos mundiais e nas Olimpíadas de Atenas (2004) quando perdeu uma semi-final improvável para a Argentina. Confira o trailer:

Contextualizando, após a derrota nas Olimpíadas de 1988 em Seul a Confederação Americana de Basquete tinha um plano: fazer com que o Comitê Olímpico permitisse que jogadores profissionais da NBA pudessem disputar uma competição "amadora" e assim reconquistar a hegemonia absoluta do esporte quatro anos depois em Barcelona. Até aquele momento o time dos Universitário dos EUA tinham um histórico de 84 vitórias e apenas 1 derrota - a dolorida e controversa medalha de prata em Munique quando a URSS venceu no último segundo após uma readequação no cronometro para que o time soviético tivesse mais uma chance no jogo. Pois bem, como todo plano, a estratégia funcionou em curto prazo, os EUA foram campeões olímpicos em Barcelona, em Atlanta e em Sidney (já com muita dificuldade); mas não se sustentou no longo prazo quando as outras seleções começaram a ser adequar àquele novo cenário, complicando a vida (e o jogo) dos americanos com muito mais eficiência e frequência como nunca. Era preciso urgente de um planejamento!

Depois da derrota na semi-final olímpica de 2004 foi iniciado um programa de reconstrução - se reunir 15 dias antes de uma competição importante para treinar, já não era uma opção. Com a chegada do nosso primeiro personagem, Mike Krzyzewski, se estabeleceu que os astros da NBA passariam a jogar dentro de um sistema que privilegiaria o conjunto, mesmo que incentivados a ser quem eram em seus times - até porquê, tanto LeBron James quanto Dwyane Wade já haviam participado da campanha fracassada de Atenas e sentiram na pele que o individualismo não se sustentaria mais. Explorar essa transição de mentalidade é, sem dúvida, o grande diferencial do documentário dirigido pelo Jon Weinbach (o cara por traz de "Arremesso Final") - com vários depoimentos dos personagens que fizeram parte dessa reconstrução e uma quantidade considerável de imagens inéditas dos bastidores dessa preparação, "O Time da Redenção" é um estudo de caso dos mais completos e complexos sobre liderança, motivação e planejamento que já assisti! Uma verdadeira aula de gestão em todos os níveis de relação!

"O Time da Redenção" é um presente para quem gosta do esporte e se aproveita dessas histórias (e aqui não estamos falando apenas das histórias de sucesso, mas também das de fracasso) para decodificar tantas lições e aplicar em seu dia a dia profissional. Entender que é preciso liderar pelo exemplo, como Kobe Bryant fez em sua chegada ao time; ou refletir sobre o papel do profissional que está no topo da pirâmide dentro de uma organização, como sempre pregou o Coach K; e até como o fracasso pode servir de combustível para quem não teria mais nada que provar, como aconteceu com James e Wade; enfim, tudo isso e muito mais está nesses 90 minutos de documentário que, no mínimo, vai te deixar muito mais atento a certos detalhes que para muitos nem importantes são, mas fazem muita diferença como prova essa história.

Vale muito o seu play!

E em tempo, se você quiser se aprofundar nos conceitos de liderança de Mike Krzyzewski (o Coach K) indico com muita tranquilidade o livro "Liderar com o Coração" que ele escreveu ao lado de Jamie K. Spatola.

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O Vazio do Domingo

O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!

Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):

Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.

Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a  solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.

Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?

Vale o seu play, mas por conta e risco!

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O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!

Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):

Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.

Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a  solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.

Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?

Vale o seu play, mas por conta e risco!

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Olhos que condenam

"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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Os 7 de Chicago

"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

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"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

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Os Crimes da Nossa Mãe

"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.

A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:

Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em  "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?

De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa. 

Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!

Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência. 

Vale muito o seu play!

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"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.

A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:

Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em  "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?

De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa. 

Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!

Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência. 

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Os Filhos de Sam

A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

Vale o play!

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A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

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Os Suspeitos

Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Osmosis

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Oxigênio

"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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Ozark

Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Pai, Filho, Pátria

"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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Pamela Anderson

É inegável a fragilidade do documentário da Netflix, "Pamela Anderson - Uma História de Amor". Por outro lado, com um pouco menos de olhar crítico, é perceptível seu magnetismo, onde, ao final de quase 120 minutos de filme, vemos o reflexo de uma mulher em busca de redenção sem ao menos se dar conta que seus maiores fantasmas apontam justamente para suas próprias escolhas - escolhas essas que a protagonista faz questão de dizer não se arrepender de ter feito, diga-se de passagem. A história é bem interessante (dolorida para ela) e a personagem é de fato marcante (se você tem mais que 40 anos vai saber do que estou falando), mas nem a soma desses dois elementos essenciais para uma boa narrativa, chega a nos provocar mais do que 20 minutos de empatia - embora o esforço para isso seja tremendo!

"Pamela, A Love Story" (no original) não é um documentário ruim, longe disso, mas talvez a forma como alguns assuntos foram abordados possa dar essa impressão errada. A história de vida que retrata a ascensão à fama e uma quebra de privacidade marcante, de uma vida pessoal turbulenta, bem como seu casamento com Tommy Lee, sua sex tape vazada, os fracassos como atriz e ainda sua ambígua relação com a mídia, fazem do documentário uma curiosa jornada pela intimidade da mulher, Pamela Anderson. Confira o trailer (em inglês):

Se pegarmos o documentário da HBO, "Tina", e compararmos com "Pamela Anderson - Uma História de Amor", encontramos inúmeras semelhanças narrativas - na forma e no conteúdo. O diferencial, e aí já é preciso uma certa reflexão, diz respeito ao que cada uma das personagens representou para sua arte. Obviamente que a comparação é mais teórica do que prática (eu diria até injusta), mas o enredo, repare, aponta para as mesmas lacunas emocionais: uma infância dura, sem muita referência afetiva, relacionamentos tóxicos por todos os lados, fracassos, sucessos, muito sensacionalismo e, claro, uma busca pelo auto-perdão. Indo um pouco mais longe, ambos documentários têm um importante e cruel fio condutor: o amor (ou a falta que ele faz).

O diretor Ryan White (do excelente "Boa Noite Oppy") usa e abusa dos depoimentos de Pamela para construir a imagem de uma mulher frágil, em certos momentos até infantil, o que de alguma forma (para quem conhece um pouco mais da vida da atriz) soa hipocrisia. Ela mesmo tenta se desvencilhar da imagem de vítima, mas com as narrações em off de passagens escritas por ela em seu diário, fica mais difícil. No entanto, uma característica nos chama atenção: a capacidade que Pamela Anderson tem de rir de si mesma é impressionante - e sempre foi assim. É perceptível seu constrangimento ao enfrentar as piadas mais infames e machistas dos Late Show's dos anos 80/90, mas ela se sai bem - já atualmente, quando em uma situação realmente mais desconfortável, ela simplesmente sai de cena.

Para quem assistiu a ótima minissérie do Star+ (no caso, do Hulu), "Pam & Tommy", e gostou; "Pamela Anderson - Uma História de Amor" é quase um complemento obrigatório que possibilita um mergulho mais profundo e real na intimidade de Anderson. A construção apoteótica do mito vs. a mulher que só queria uma família ao lado do amor de sua vida, está ali; o que nos resta é entender se seu ponto de vista, de fato, condiz com uma realidade que ela mesmo semeou, plantou e colheu - difícil dizer, mas o exercício, ao assistir o filme, é dos melhores. Ah, e não deixe de ver os créditos, ele conecta muitos pontos - vai por mim!

Vale seu play!   

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É inegável a fragilidade do documentário da Netflix, "Pamela Anderson - Uma História de Amor". Por outro lado, com um pouco menos de olhar crítico, é perceptível seu magnetismo, onde, ao final de quase 120 minutos de filme, vemos o reflexo de uma mulher em busca de redenção sem ao menos se dar conta que seus maiores fantasmas apontam justamente para suas próprias escolhas - escolhas essas que a protagonista faz questão de dizer não se arrepender de ter feito, diga-se de passagem. A história é bem interessante (dolorida para ela) e a personagem é de fato marcante (se você tem mais que 40 anos vai saber do que estou falando), mas nem a soma desses dois elementos essenciais para uma boa narrativa, chega a nos provocar mais do que 20 minutos de empatia - embora o esforço para isso seja tremendo!

"Pamela, A Love Story" (no original) não é um documentário ruim, longe disso, mas talvez a forma como alguns assuntos foram abordados possa dar essa impressão errada. A história de vida que retrata a ascensão à fama e uma quebra de privacidade marcante, de uma vida pessoal turbulenta, bem como seu casamento com Tommy Lee, sua sex tape vazada, os fracassos como atriz e ainda sua ambígua relação com a mídia, fazem do documentário uma curiosa jornada pela intimidade da mulher, Pamela Anderson. Confira o trailer (em inglês):

Se pegarmos o documentário da HBO, "Tina", e compararmos com "Pamela Anderson - Uma História de Amor", encontramos inúmeras semelhanças narrativas - na forma e no conteúdo. O diferencial, e aí já é preciso uma certa reflexão, diz respeito ao que cada uma das personagens representou para sua arte. Obviamente que a comparação é mais teórica do que prática (eu diria até injusta), mas o enredo, repare, aponta para as mesmas lacunas emocionais: uma infância dura, sem muita referência afetiva, relacionamentos tóxicos por todos os lados, fracassos, sucessos, muito sensacionalismo e, claro, uma busca pelo auto-perdão. Indo um pouco mais longe, ambos documentários têm um importante e cruel fio condutor: o amor (ou a falta que ele faz).

O diretor Ryan White (do excelente "Boa Noite Oppy") usa e abusa dos depoimentos de Pamela para construir a imagem de uma mulher frágil, em certos momentos até infantil, o que de alguma forma (para quem conhece um pouco mais da vida da atriz) soa hipocrisia. Ela mesmo tenta se desvencilhar da imagem de vítima, mas com as narrações em off de passagens escritas por ela em seu diário, fica mais difícil. No entanto, uma característica nos chama atenção: a capacidade que Pamela Anderson tem de rir de si mesma é impressionante - e sempre foi assim. É perceptível seu constrangimento ao enfrentar as piadas mais infames e machistas dos Late Show's dos anos 80/90, mas ela se sai bem - já atualmente, quando em uma situação realmente mais desconfortável, ela simplesmente sai de cena.

Para quem assistiu a ótima minissérie do Star+ (no caso, do Hulu), "Pam & Tommy", e gostou; "Pamela Anderson - Uma História de Amor" é quase um complemento obrigatório que possibilita um mergulho mais profundo e real na intimidade de Anderson. A construção apoteótica do mito vs. a mulher que só queria uma família ao lado do amor de sua vida, está ali; o que nos resta é entender se seu ponto de vista, de fato, condiz com uma realidade que ela mesmo semeou, plantou e colheu - difícil dizer, mas o exercício, ao assistir o filme, é dos melhores. Ah, e não deixe de ver os créditos, ele conecta muitos pontos - vai por mim!

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Paraíso

"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

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"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

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Passageiro Acidental

"Passageiro Acidental" é uma excelente surpresa no catálogo da Netflix. Partindo do princípio que o filme chegou sem grandes expectativas e com uma estratégia de marketing bem tímida, fica fácil afirmar que o segundo filme dirigido pelo brasileiro Joe Penna (o primeiro foi o ótimo "Arctic") é um grande acerto da plataforma - o que para uma parcela de seus assinantes vem se tornando cada vez mais raros.

Na história acompanhamos uma talentosa tripulação de três pessoas em uma missão que vai durar dois anos até Marte: a Dra. Zoe Levenson (Anna Kendrick), o cientista David Kim (Daniel Dae Kim) e a comandante Marina Barnett (Toni Collete). No entanto, as coisas ficam complicadas para eles quando um passageiro inesperado, Michael Adams (Shamier Anderson), acidentalmente causa danos irreparáveis à nave. Com os recursos comprometidos e diante de um resultado fatal, a tripulação é obrigada a tomar uma difícil decisão: só existe oxigênio para três pessoas, ou seja, alguém vai ter que perder a vida! Confira o trailer:

Esse é o tipo de filme que vai dividir opiniões, já que sua estrutura narrativa não está linhada com aquele tipo de audiência que chegou ao título pelo gênero e sem saber muito sobre a história. Não será surpresa nenhuma que alguém se decepcione por não se tratar de uma trama cheia de suspense ou até de terror espacial - esquece! "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" e anos luz de "Alien".

É até compreensível supor que um passageiro misterioso possa ter uma motivação maior para está ali, inclusive, sendo uma ameaça para todos - em muitos momentos do primeiro ato temos a sensação que algo aterrorizante está por vir, porém se lermos atentamente o conceito imposto logo na primeira sequência do filme  (que é ótima por sinal) é de se imaginar que a imersão psicológica de estar em um ambiente sem total controle dos personagens, é o que vai pautar essa jornada. Se Penna não tem a experiência (e o orçamento) de Alfonso Cuarón é de se elogiar sua coerência ao transformar uma premissa simples em um experiência social que nos provoca reflexão e julgamentos a todo momento. Lembre-se: pouco importa qual é a verdadeira razão de um passageiro clandestino estar ali, o grande conflito está na luta pela sobrevivência e nos dilemas morais que isso representa!

Como em "Gravidade", temos um roteiro enxuto e uma edição muito competente para criar uma dinâmica consistente para nos prender por pouco mais de 120 minutos. As sequências são eficientes, envolventes e bem articuladas, mas carecia de um cuidado técnico maior, principalmente na fotografia e na composição entre edição de som e mixagem -  faltou silêncio ao filme, muitos efeitos foram exagerados e a trilha para pontuar a emoção serviu quase como uma bengala. Não é um problema que atrapalhe a experiência, mas precisa ser pontuado.

"Passageiro Acidental" (ou "Stowaway" no original) é um drama no espaço! O drama na concepção da palavra se encaixa perfeitamente às sensações que temos ao assistir o filme e a escolha do roteiro em nos limitar algumas informações, como quando a comandante Barnett se comunica com a Terra, só colabora para transformar uma jornada que parece morna em algo angustiante e misterioso. Se você não gosta de filmes como "Gravidade" ou que testam os limites morais como "127 horas", por exemplo, não dê o play. Agora se você se identifica com os dilemas por trás de cenas bem construídas, vai tranquilo que sua surpresa está garantida.

Excelente entretenimento!

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"Passageiro Acidental" é uma excelente surpresa no catálogo da Netflix. Partindo do princípio que o filme chegou sem grandes expectativas e com uma estratégia de marketing bem tímida, fica fácil afirmar que o segundo filme dirigido pelo brasileiro Joe Penna (o primeiro foi o ótimo "Arctic") é um grande acerto da plataforma - o que para uma parcela de seus assinantes vem se tornando cada vez mais raros.

Na história acompanhamos uma talentosa tripulação de três pessoas em uma missão que vai durar dois anos até Marte: a Dra. Zoe Levenson (Anna Kendrick), o cientista David Kim (Daniel Dae Kim) e a comandante Marina Barnett (Toni Collete). No entanto, as coisas ficam complicadas para eles quando um passageiro inesperado, Michael Adams (Shamier Anderson), acidentalmente causa danos irreparáveis à nave. Com os recursos comprometidos e diante de um resultado fatal, a tripulação é obrigada a tomar uma difícil decisão: só existe oxigênio para três pessoas, ou seja, alguém vai ter que perder a vida! Confira o trailer:

Esse é o tipo de filme que vai dividir opiniões, já que sua estrutura narrativa não está linhada com aquele tipo de audiência que chegou ao título pelo gênero e sem saber muito sobre a história. Não será surpresa nenhuma que alguém se decepcione por não se tratar de uma trama cheia de suspense ou até de terror espacial - esquece! "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" e anos luz de "Alien".

É até compreensível supor que um passageiro misterioso possa ter uma motivação maior para está ali, inclusive, sendo uma ameaça para todos - em muitos momentos do primeiro ato temos a sensação que algo aterrorizante está por vir, porém se lermos atentamente o conceito imposto logo na primeira sequência do filme  (que é ótima por sinal) é de se imaginar que a imersão psicológica de estar em um ambiente sem total controle dos personagens, é o que vai pautar essa jornada. Se Penna não tem a experiência (e o orçamento) de Alfonso Cuarón é de se elogiar sua coerência ao transformar uma premissa simples em um experiência social que nos provoca reflexão e julgamentos a todo momento. Lembre-se: pouco importa qual é a verdadeira razão de um passageiro clandestino estar ali, o grande conflito está na luta pela sobrevivência e nos dilemas morais que isso representa!

Como em "Gravidade", temos um roteiro enxuto e uma edição muito competente para criar uma dinâmica consistente para nos prender por pouco mais de 120 minutos. As sequências são eficientes, envolventes e bem articuladas, mas carecia de um cuidado técnico maior, principalmente na fotografia e na composição entre edição de som e mixagem -  faltou silêncio ao filme, muitos efeitos foram exagerados e a trilha para pontuar a emoção serviu quase como uma bengala. Não é um problema que atrapalhe a experiência, mas precisa ser pontuado.

"Passageiro Acidental" (ou "Stowaway" no original) é um drama no espaço! O drama na concepção da palavra se encaixa perfeitamente às sensações que temos ao assistir o filme e a escolha do roteiro em nos limitar algumas informações, como quando a comandante Barnett se comunica com a Terra, só colabora para transformar uma jornada que parece morna em algo angustiante e misterioso. Se você não gosta de filmes como "Gravidade" ou que testam os limites morais como "127 horas", por exemplo, não dê o play. Agora se você se identifica com os dilemas por trás de cenas bem construídas, vai tranquilo que sua surpresa está garantida.

Excelente entretenimento!

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Pássaro do Oriente

"Pássaro do Oriente" é mais um filme que trás muito da linguagem cinematográfica dos anos 80/90, porém me pareceu muito melhor construído que a recente "A Grande Mentira". Sua linha narrativa claramente se referencia em filmes de sucesso como "Atração Fatal" ou "Instinto Selvagem" ao mesmo tempo em que trás elementos psicológicos de "Cisne Negro" e de sua enorme complexidade no desenvolvimento de personagens, no caso a protagonista Lucy Fly (Alicia Vikander, vencedora do Oscar por "A Garota Dinamarquesa"). Fly é uma jovem sueca que resolve se mudar para o Japão a fim de esquecer um passado marcado por algumas coincidências. Embora ainda carregue esse peso, ela se esforça para levar uma vida normal até se apaixonar por Teiji (Naoki Kobayashi). Reservado e misterioso, Teiji possui uma espécie de fetiche: tirar fotos de mulheres em diferentes ângulos e situações - mesmo estando mortas. Quando Lily Bridges (Riley Keough), uma jovem americana recém chegada ao Japão desaparece, Lucy Fly passa a ser a principal suspeita; já que ela e Bridges criaram uma relação extremamente ambígua tendo Teiji como catalizador desses sentimentos. De fato o filme cria uma dinâmica interessante, pois ao mesmo tempo em que parece economizar na ação, o roteiro aproveita para mergulhar em diálogos inteligentes, trazendo uma certa complexidade - e aquela subjetividade que nos faz querer discutir sobre o filme quando ele termina! Olha, não é um filme inesquecível, muito menos fácil de entender, mas para quem gosta do gênero, posso dizer que é uma ótima opção de entretenimento e um bom exercício de interpretação! Vale o play!

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"Pássaro do Oriente" é mais um filme que trás muito da linguagem cinematográfica dos anos 80/90, porém me pareceu muito melhor construído que a recente "A Grande Mentira". Sua linha narrativa claramente se referencia em filmes de sucesso como "Atração Fatal" ou "Instinto Selvagem" ao mesmo tempo em que trás elementos psicológicos de "Cisne Negro" e de sua enorme complexidade no desenvolvimento de personagens, no caso a protagonista Lucy Fly (Alicia Vikander, vencedora do Oscar por "A Garota Dinamarquesa"). Fly é uma jovem sueca que resolve se mudar para o Japão a fim de esquecer um passado marcado por algumas coincidências. Embora ainda carregue esse peso, ela se esforça para levar uma vida normal até se apaixonar por Teiji (Naoki Kobayashi). Reservado e misterioso, Teiji possui uma espécie de fetiche: tirar fotos de mulheres em diferentes ângulos e situações - mesmo estando mortas. Quando Lily Bridges (Riley Keough), uma jovem americana recém chegada ao Japão desaparece, Lucy Fly passa a ser a principal suspeita; já que ela e Bridges criaram uma relação extremamente ambígua tendo Teiji como catalizador desses sentimentos. De fato o filme cria uma dinâmica interessante, pois ao mesmo tempo em que parece economizar na ação, o roteiro aproveita para mergulhar em diálogos inteligentes, trazendo uma certa complexidade - e aquela subjetividade que nos faz querer discutir sobre o filme quando ele termina! Olha, não é um filme inesquecível, muito menos fácil de entender, mas para quem gosta do gênero, posso dizer que é uma ótima opção de entretenimento e um bom exercício de interpretação! Vale o play!

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Paternidade

O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!

Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:

Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar.  É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!

Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!

"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!

Vale a pena!

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O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!

Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:

Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar.  É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!

Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!

"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!

Vale a pena!

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