"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa!
O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:
Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!
Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").
Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.
Vale muito o seu play!
Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!
A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa!
O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:
Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!
Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").
Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.
Vale muito o seu play!
Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Lazzaro Felice" é um filme bastante peculiar, principalmente se você embarcar nessa jornada sem a menor expectativa do que vai encontrar. Pode parecer contraditório ler um review sobre o filme ao mesmo tempo que sugiro não se aprofundar na história para escolher o título, mas é isso mesmo que eu proponho nesse texto. Saiba que esse filme italiano de 2018 venceu na categoria "Melhor Roteiro" no Festival de Cannes, "Melhor Filme" no Festival de Chicago e em Rotterdam - onde recebeu a seguinte resenha: "Acreditamos que o "Lazzaro" inspirará um futuro público a ser mais humano e refletir sobre suas experiências e interações diárias".
Pelo trailer já dá para se ter uma ideia de que "Lazzaro Felice" trás um conceito narrativo muito baseado na poesia, na alegoria, o que, certamente, agradará mais o público sensível e disposto a reinterpretar aquilo que assiste na tela, porém é preciso que se diga que o filme da (excelente) diretora italiana Alice Rohrwacher trabalha tão bem as sensações que chega a ser impressionante. "Lazzaro Felice" conta a história de um jovem camponês chamado Lazzaro (Adriano Tardiolo), que por ser tão inocente (e bondoso) acaba sendo explorado por todos da comunidade onde vive, no interior da Itália. Pouco mais de 50 pessoas, entre idosos, crianças e adultos, exercem alguma função para manter o local vivo, embora em condições precárias, essas pessoas sobrevivem como escravos sob as ordens da marquesa Alfonsina De Luna (Nicoletta Braschi) - que acredita que todo e qualquer ser humano deve explorar e ser explorado por alguém, em uma pirâmide social abusiva, hierárquica e viciada em padrões estabelecidos pelo conhecimento e a cultura. Acontece que essa dinâmica acaba sendo desfeita quando a polícia chega na comunidade para investigar o falso sequestro do filho da marquesa e é aí que a história se transforma completamente, transitando entre a fantasia e a realidade de uma forma muito sensível e profunda. Confira o trailer:
"Lazzaro Felice" não vai agradar a todos, isso é um fato, mas se você gostou de "Atlantique" (também na Netflix) é bem provável que se identifique com esse belíssimo filme, pois ele mistura com a mesma eficiência, o drama e o sobrenatural graças a um roteiro muito bem escrito, uma direção extremamente competente e uma fotográfica digna de muitos prêmios! Vale muito a pena - filme independente com carreira consistente em festivais!
Embora o conceito de exploração do mais fraco (defendido pela marquesa) seja o fio condutor de "Lazzaro Felice", é muito curioso a forma como a Rohrwacher usa a figura do protagonista para representar um limite que precisa ser respeitado e que vai nos provocar a reflexão. Estar na base da pirâmide não nos deixa saída, afinal não há em quem se apoiar (ou explorar), porém essa realidade não influencia ou define o caráter de uma pessoa - e o filme usa de vários exemplos, muitos deles apenas em diálogos pontuais ou em ações que parecem despretensiosas, para justificar essa tese. Se uma personagem pode enganar uma pessoa que acabou de ajuda-la só para faturar 30 euros, isso não exime da mesma personagem a escolha de abrir mão de algo quando alguém pede sua ajuda - mesmo que esse "alguém" já tenha mal tratado ela no passado! Essa dualidade do roteiro é explorada a todo momento e ganha ainda mais força quando entendemos a alegoria bíblica que a história se propõe a discutir - existe um Lázaro descrito na Bíblia e como o personagem do filme, ele é alguém que foi ressuscitado por Jesus e que destoa da fragilidade moral do mundo em que vive. Reparem na cena da igreja e vejam como a diretora, em nenhum momento levanta uma bandeira, seja ela politica ou religiosa, sem mostrar o outro lado ou criticar a distorção pela qual o ser humano se apoia!
Filmado 100% em 16 mm, o que dá um aspecto granulado a imagem e sugere uma certa abstração da realidade, e finalizado com uma margem irregular como se estivéssemos assistindo um filme projetado em um pergaminho, "Lazzaro Felice" é um excelente exemplo de como uma identidade narrativa baseada em um conceito fortemente estabelecido com propósito, funciona a favor da história. Nada que acontece na tela é por acaso - da maneira como o protagonista se movimenta, se comunica ou simplesmente observa uma ação, até os planos abertos enquadrando uma geografia rural que vai se desfazer em um cenário urbano caótico e opressor, um pouco mais a frente. É um grande trabalho da fotógrafa Hélène Louvart (de "A vida invisível" do brasileiro Karim Aïnouz). O elenco também está irretocável: Adriano Tardiolo dá uma aula de neutralidade na interpretação, daquelas que o ator fala com os olhos, com a alma, com o sentimento! Tommaso Ragno como o Tancredi adulto também dá um show, mas quem rouba a cena mesmo é a ótima Alba Rohrwacher como Antonia - que trabalho maravilhoso!
"Lazzaro Felice" é um filme autoral de quem conhece a gramática cinematográfica e sabe exatamente onde quer chegar com aquela história. Um show de roteiro que usa da alegoria para tocar em temas delicados e atuais como as consequências do êxodo rural e do desemprego, a violência contra a mulher, a desigualdade social, o capitalismo predatório, etc. Saiba que não será um jornada fácil, a diretora acerta em não nos entregar as informações de mão beijada, nos sugerindo muito mais do que impondo (com excessão da cena posterior a da igreja, onde a música segue os personagens, que destoa das escolhas acertadas até ali). "Lazzaro Felice" pode causar um certo estranhamento inicial, mas que aos poucos vai se encontrando e, claro, nos deixando com mais dúvidas do que certezas e nos tirando de uma zona de conforto como poucas vezes sentimos - a lembrança que me vem a cabeça, respeitando suas peculiaridades de gênero, é a sensação de assistir "Abre los Ojos" do Alejandro Amenábar pela primeira vez!
Não vacile, dê o play!
"Lazzaro Felice" é um filme bastante peculiar, principalmente se você embarcar nessa jornada sem a menor expectativa do que vai encontrar. Pode parecer contraditório ler um review sobre o filme ao mesmo tempo que sugiro não se aprofundar na história para escolher o título, mas é isso mesmo que eu proponho nesse texto. Saiba que esse filme italiano de 2018 venceu na categoria "Melhor Roteiro" no Festival de Cannes, "Melhor Filme" no Festival de Chicago e em Rotterdam - onde recebeu a seguinte resenha: "Acreditamos que o "Lazzaro" inspirará um futuro público a ser mais humano e refletir sobre suas experiências e interações diárias".
Pelo trailer já dá para se ter uma ideia de que "Lazzaro Felice" trás um conceito narrativo muito baseado na poesia, na alegoria, o que, certamente, agradará mais o público sensível e disposto a reinterpretar aquilo que assiste na tela, porém é preciso que se diga que o filme da (excelente) diretora italiana Alice Rohrwacher trabalha tão bem as sensações que chega a ser impressionante. "Lazzaro Felice" conta a história de um jovem camponês chamado Lazzaro (Adriano Tardiolo), que por ser tão inocente (e bondoso) acaba sendo explorado por todos da comunidade onde vive, no interior da Itália. Pouco mais de 50 pessoas, entre idosos, crianças e adultos, exercem alguma função para manter o local vivo, embora em condições precárias, essas pessoas sobrevivem como escravos sob as ordens da marquesa Alfonsina De Luna (Nicoletta Braschi) - que acredita que todo e qualquer ser humano deve explorar e ser explorado por alguém, em uma pirâmide social abusiva, hierárquica e viciada em padrões estabelecidos pelo conhecimento e a cultura. Acontece que essa dinâmica acaba sendo desfeita quando a polícia chega na comunidade para investigar o falso sequestro do filho da marquesa e é aí que a história se transforma completamente, transitando entre a fantasia e a realidade de uma forma muito sensível e profunda. Confira o trailer:
"Lazzaro Felice" não vai agradar a todos, isso é um fato, mas se você gostou de "Atlantique" (também na Netflix) é bem provável que se identifique com esse belíssimo filme, pois ele mistura com a mesma eficiência, o drama e o sobrenatural graças a um roteiro muito bem escrito, uma direção extremamente competente e uma fotográfica digna de muitos prêmios! Vale muito a pena - filme independente com carreira consistente em festivais!
Embora o conceito de exploração do mais fraco (defendido pela marquesa) seja o fio condutor de "Lazzaro Felice", é muito curioso a forma como a Rohrwacher usa a figura do protagonista para representar um limite que precisa ser respeitado e que vai nos provocar a reflexão. Estar na base da pirâmide não nos deixa saída, afinal não há em quem se apoiar (ou explorar), porém essa realidade não influencia ou define o caráter de uma pessoa - e o filme usa de vários exemplos, muitos deles apenas em diálogos pontuais ou em ações que parecem despretensiosas, para justificar essa tese. Se uma personagem pode enganar uma pessoa que acabou de ajuda-la só para faturar 30 euros, isso não exime da mesma personagem a escolha de abrir mão de algo quando alguém pede sua ajuda - mesmo que esse "alguém" já tenha mal tratado ela no passado! Essa dualidade do roteiro é explorada a todo momento e ganha ainda mais força quando entendemos a alegoria bíblica que a história se propõe a discutir - existe um Lázaro descrito na Bíblia e como o personagem do filme, ele é alguém que foi ressuscitado por Jesus e que destoa da fragilidade moral do mundo em que vive. Reparem na cena da igreja e vejam como a diretora, em nenhum momento levanta uma bandeira, seja ela politica ou religiosa, sem mostrar o outro lado ou criticar a distorção pela qual o ser humano se apoia!
Filmado 100% em 16 mm, o que dá um aspecto granulado a imagem e sugere uma certa abstração da realidade, e finalizado com uma margem irregular como se estivéssemos assistindo um filme projetado em um pergaminho, "Lazzaro Felice" é um excelente exemplo de como uma identidade narrativa baseada em um conceito fortemente estabelecido com propósito, funciona a favor da história. Nada que acontece na tela é por acaso - da maneira como o protagonista se movimenta, se comunica ou simplesmente observa uma ação, até os planos abertos enquadrando uma geografia rural que vai se desfazer em um cenário urbano caótico e opressor, um pouco mais a frente. É um grande trabalho da fotógrafa Hélène Louvart (de "A vida invisível" do brasileiro Karim Aïnouz). O elenco também está irretocável: Adriano Tardiolo dá uma aula de neutralidade na interpretação, daquelas que o ator fala com os olhos, com a alma, com o sentimento! Tommaso Ragno como o Tancredi adulto também dá um show, mas quem rouba a cena mesmo é a ótima Alba Rohrwacher como Antonia - que trabalho maravilhoso!
"Lazzaro Felice" é um filme autoral de quem conhece a gramática cinematográfica e sabe exatamente onde quer chegar com aquela história. Um show de roteiro que usa da alegoria para tocar em temas delicados e atuais como as consequências do êxodo rural e do desemprego, a violência contra a mulher, a desigualdade social, o capitalismo predatório, etc. Saiba que não será um jornada fácil, a diretora acerta em não nos entregar as informações de mão beijada, nos sugerindo muito mais do que impondo (com excessão da cena posterior a da igreja, onde a música segue os personagens, que destoa das escolhas acertadas até ali). "Lazzaro Felice" pode causar um certo estranhamento inicial, mas que aos poucos vai se encontrando e, claro, nos deixando com mais dúvidas do que certezas e nos tirando de uma zona de conforto como poucas vezes sentimos - a lembrança que me vem a cabeça, respeitando suas peculiaridades de gênero, é a sensação de assistir "Abre los Ojos" do Alejandro Amenábar pela primeira vez!
Não vacile, dê o play!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.
No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:
Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo").
"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".
É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!
Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".
Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!
Vale muito o play... 3x no mínimo!!!
Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.
No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:
Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo").
"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".
É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!
Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".
Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!
Vale muito o play... 3x no mínimo!!!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Malcolm e Marie" é excelente, porém é preciso fazer um alerta: como a história se apoia, basicamente, em uma longa discussão entre um jovem casal; toda narrativa fica muito cadenciada, naturalmente verborrágica e isso, normalmente, cansa quem não é adepto a esse estilo de filme. Além disso, ele foi todo rodado em "preto e branco" e em película, o que traz para a imagem uma certa granulação que, mais uma vez, pode incomodar quem assiste e é indiferente a esse conceito mais "retrô". Dito isso, e se você não enxergou nenhum problema nesses elementos conceituais que o diretor Sam Levinson trouxe para sua obra, "Malcolm e Marie" não decepciona ao discutir sob o olhar profundo e cirurgicamente dividido em várias camadas, o desafio de um relacionamento construído em cima de expectativas que muitas vezes não são atingidas por um simples detalhe: as pessoas são únicas e enxergam algumas passagens da vida de forma diferente - nem certo, nem errado, apenas diferente!
Na história acompanhamos um cineasta, Malcolm (John David Washington), voltando para casa com sua namorada, Marie (Zendaya), após a pré-estreia de seu novo filme. Enquanto espera as primeiras críticas sobre seu filme, Malcolm e Marie iniciam uma conversa despretensiosa que acaba se transformando em uma longa e reveladora discussão - o fato é que uma “pequena” fagulha estoura uma bomba de acusações com muita tensão acumulada, mágoas, reflexões e arrependimentos. Uma noite que seria de comemoração, muda repentinamente e coloca em teste a força do amor do casal. Confira o trailer:
Desde o seu anúncio, "Malcolm e Marie" já flertava com a possibilidade de algumas indicações para o Oscar 2021 e, de fato, não seria surpresa se John David Washington, Zendaya, Marcell Rév (Diretor de Fotografia) e talvez Sam Levinson, fossem indicados. Não acredito que o filme tenha força para alcançar voos mais altos pelo simples fato de que são os atores a base de toda narrativa e tanto o diretor, quanto o fotógrafo, estão ali apenas para servir de apoio e potencializar o trabalho deles - que é simplesmente sensacional (e do mesmo nível), diga-se de passagem.
Alguns diálogos escritos pelo próprio diretor são capazes de nos remeter a situações que já passamos, mas outros não acrescentam absolutamente nada para a história e acabam virando monólogos sem muito propósito. Na verdade até existe um propósito, mas não se encaixa ao que está acontecendo com aqueles personagens - toda a discussão racial, por exemplo, embora importante, cansa um pouco, já que perde muita força por ter sido inserida em um contexto muito frágil e que pouco impacta nos dramas de Malcolm e Marie como casal. As referências do universo do cinema também podem deixar algumas pessoas "boiando" - da mesma forma como aconteceu recentemente com Mank!
Talvez o grande mérito do filme, tenha sido a capacidade do diretor Sam Levinson em mostrar um retrato cruel e extremamente realista de como algumas relações podem se tornar complicadas quando as expectativas não são alcançadas, mesmo entre pessoas que se amam. Basta um querer discutir para que uma pequena mágoa se transforme em um motivo para rever a relação - "Malcolm e Marie" é isso! Tenho a impressão que o filme poderia agradar mais pessoas se fosse mais direto, sem tantos rodeios poéticos e ações sem sentido - certamente traria mais dinâmica para narrativa! Se você gosta de um texto "estilo Woody Allen", mas com um certo peso emocional de "História de um Casamento", esse filme foi feito para você!
"Malcolm e Marie" é excelente, porém é preciso fazer um alerta: como a história se apoia, basicamente, em uma longa discussão entre um jovem casal; toda narrativa fica muito cadenciada, naturalmente verborrágica e isso, normalmente, cansa quem não é adepto a esse estilo de filme. Além disso, ele foi todo rodado em "preto e branco" e em película, o que traz para a imagem uma certa granulação que, mais uma vez, pode incomodar quem assiste e é indiferente a esse conceito mais "retrô". Dito isso, e se você não enxergou nenhum problema nesses elementos conceituais que o diretor Sam Levinson trouxe para sua obra, "Malcolm e Marie" não decepciona ao discutir sob o olhar profundo e cirurgicamente dividido em várias camadas, o desafio de um relacionamento construído em cima de expectativas que muitas vezes não são atingidas por um simples detalhe: as pessoas são únicas e enxergam algumas passagens da vida de forma diferente - nem certo, nem errado, apenas diferente!
Na história acompanhamos um cineasta, Malcolm (John David Washington), voltando para casa com sua namorada, Marie (Zendaya), após a pré-estreia de seu novo filme. Enquanto espera as primeiras críticas sobre seu filme, Malcolm e Marie iniciam uma conversa despretensiosa que acaba se transformando em uma longa e reveladora discussão - o fato é que uma “pequena” fagulha estoura uma bomba de acusações com muita tensão acumulada, mágoas, reflexões e arrependimentos. Uma noite que seria de comemoração, muda repentinamente e coloca em teste a força do amor do casal. Confira o trailer:
Desde o seu anúncio, "Malcolm e Marie" já flertava com a possibilidade de algumas indicações para o Oscar 2021 e, de fato, não seria surpresa se John David Washington, Zendaya, Marcell Rév (Diretor de Fotografia) e talvez Sam Levinson, fossem indicados. Não acredito que o filme tenha força para alcançar voos mais altos pelo simples fato de que são os atores a base de toda narrativa e tanto o diretor, quanto o fotógrafo, estão ali apenas para servir de apoio e potencializar o trabalho deles - que é simplesmente sensacional (e do mesmo nível), diga-se de passagem.
Alguns diálogos escritos pelo próprio diretor são capazes de nos remeter a situações que já passamos, mas outros não acrescentam absolutamente nada para a história e acabam virando monólogos sem muito propósito. Na verdade até existe um propósito, mas não se encaixa ao que está acontecendo com aqueles personagens - toda a discussão racial, por exemplo, embora importante, cansa um pouco, já que perde muita força por ter sido inserida em um contexto muito frágil e que pouco impacta nos dramas de Malcolm e Marie como casal. As referências do universo do cinema também podem deixar algumas pessoas "boiando" - da mesma forma como aconteceu recentemente com Mank!
Talvez o grande mérito do filme, tenha sido a capacidade do diretor Sam Levinson em mostrar um retrato cruel e extremamente realista de como algumas relações podem se tornar complicadas quando as expectativas não são alcançadas, mesmo entre pessoas que se amam. Basta um querer discutir para que uma pequena mágoa se transforme em um motivo para rever a relação - "Malcolm e Marie" é isso! Tenho a impressão que o filme poderia agradar mais pessoas se fosse mais direto, sem tantos rodeios poéticos e ações sem sentido - certamente traria mais dinâmica para narrativa! Se você gosta de um texto "estilo Woody Allen", mas com um certo peso emocional de "História de um Casamento", esse filme foi feito para você!