"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o " Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!
A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):
De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.
A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.
A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!
Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!
"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o " Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!
A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):
De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.
A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.
A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!
Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!
"Girls5Eva" é um estilo de comédia que, sem dúvida, funciona melhor na sua língua nativa e dentro da cultura americana, do que para nós, uma audiência que não vai entender muito das piadas escritas no roteiro - mais ou menos como acontece no Oscar, onde achamos sem graça pelo simples fato de não pertencermos àquele universo crítico. Mal e porcamente comparando, é como se colocássemos um americano que mal fala português para assistir a "TV Pirata" ou "Tá no Ar" (para ser menos nostálgico). Isso é um problema? Não e vou te explicar a razão...
A série é uma produção da NBC para o seu Peacock, tem 8 episódios de 30 minutos e conta a história do reencontro das integrantes de um grupo musical de sucesso efêmero dos anos 1990. Tempos depois do sucesso, cada personagem passou a levar uma vida longe dos holofotes. “Girls5Eva” foi uma banda famosa por apenas um único hit, esquecido pouco depois do lançamento. Porém, quase que milagrosamente, um rapper em ascensão se depara com o hit do passado e decide usar a batida em sua nova criação. O gesto, aparentemente inocente, reacende o desejo das quatro cantoras em retornar ao mundo artístico. O quarteto culpa o antigo agente pela rápida derrocada naquela época. Então essa é a oportunidade perfeita para o grupo, após anos de amadurecimento, trilhar uma carreira mais autêntica e honesta. Confira o trailer, em inglês:
Escrita e criada por Meredith Scardino, roteirista de “Unbreakble Kimmy Schmidt” (Netflix), e com produção executiva de Tina Fey, “Girls5Eva” tem um humor bastante peculiar - uma marca registrada de Fey que transforma críticas pontuais em ações que beiram o absurdo estético, desequilibrando a narrativa propositalmente para que o tom seja estereotipado, mesmo que soe realista para as personagens. Scardino, inclusive, é uma das aprendizes de Tina Fey e ainda carrega consigo a experiência de mais de 6 anos com Stephen Colbert do "The Colbert Report", com isso é natural que a sátira esteja fortemente embutida na série, bem non-sense, mas que causa uma certa quebra de expectativa e abusa de referências culturais do momento para divertir.
Protagonizada por Sara Bareilles (Dawn), Renée Elise Goldsberry (Wickie), Paula Pell (Gloria) e Busy Philipps (Summer) a série soa despretensiosa e mesmo perdendo muito do que o roteiro sugere em inglês, nos divertimos. Eu diria, inclusive, que as personagens ajudam muito nessa dinâmica e mesmo com um over-acting claro, nos importamos com elas já que suas dores nos tocam - você pode até achar que não, mas preste atenção porque se depois do último episódio você sentir aquela vontade de assistir a segunda temporada imediatamente, me desculpe: “Girls5Eva” te fisgou.
É verdade que a série leva um tempo até encontrar o seu ritmo e o seu equilíbrio cômico: seja percebendo qual personagem se desenvolve melhor, entendendo seu conceito narrativo mais "pastelão" ou até descobrindo a razão e os alvos de cada uma das sátiras. Mais uma vez o elenco ajuda muito e destaco Renée Elise Goldsberry (Wickie) - guardem esse nome, pois ela pode surpreender nas premiações de 2022.
Se você não gosta do trabalho de Tina Fey, “Girls5Eva” não é para você; caso contrário se prepare para se divertir, se emocionar e até se empolgar com um roteiro preciso e muito inteligente. Vale o play!
"Girls5Eva" é um estilo de comédia que, sem dúvida, funciona melhor na sua língua nativa e dentro da cultura americana, do que para nós, uma audiência que não vai entender muito das piadas escritas no roteiro - mais ou menos como acontece no Oscar, onde achamos sem graça pelo simples fato de não pertencermos àquele universo crítico. Mal e porcamente comparando, é como se colocássemos um americano que mal fala português para assistir a "TV Pirata" ou "Tá no Ar" (para ser menos nostálgico). Isso é um problema? Não e vou te explicar a razão...
A série é uma produção da NBC para o seu Peacock, tem 8 episódios de 30 minutos e conta a história do reencontro das integrantes de um grupo musical de sucesso efêmero dos anos 1990. Tempos depois do sucesso, cada personagem passou a levar uma vida longe dos holofotes. “Girls5Eva” foi uma banda famosa por apenas um único hit, esquecido pouco depois do lançamento. Porém, quase que milagrosamente, um rapper em ascensão se depara com o hit do passado e decide usar a batida em sua nova criação. O gesto, aparentemente inocente, reacende o desejo das quatro cantoras em retornar ao mundo artístico. O quarteto culpa o antigo agente pela rápida derrocada naquela época. Então essa é a oportunidade perfeita para o grupo, após anos de amadurecimento, trilhar uma carreira mais autêntica e honesta. Confira o trailer, em inglês:
Escrita e criada por Meredith Scardino, roteirista de “Unbreakble Kimmy Schmidt” (Netflix), e com produção executiva de Tina Fey, “Girls5Eva” tem um humor bastante peculiar - uma marca registrada de Fey que transforma críticas pontuais em ações que beiram o absurdo estético, desequilibrando a narrativa propositalmente para que o tom seja estereotipado, mesmo que soe realista para as personagens. Scardino, inclusive, é uma das aprendizes de Tina Fey e ainda carrega consigo a experiência de mais de 6 anos com Stephen Colbert do "The Colbert Report", com isso é natural que a sátira esteja fortemente embutida na série, bem non-sense, mas que causa uma certa quebra de expectativa e abusa de referências culturais do momento para divertir.
Protagonizada por Sara Bareilles (Dawn), Renée Elise Goldsberry (Wickie), Paula Pell (Gloria) e Busy Philipps (Summer) a série soa despretensiosa e mesmo perdendo muito do que o roteiro sugere em inglês, nos divertimos. Eu diria, inclusive, que as personagens ajudam muito nessa dinâmica e mesmo com um over-acting claro, nos importamos com elas já que suas dores nos tocam - você pode até achar que não, mas preste atenção porque se depois do último episódio você sentir aquela vontade de assistir a segunda temporada imediatamente, me desculpe: “Girls5Eva” te fisgou.
É verdade que a série leva um tempo até encontrar o seu ritmo e o seu equilíbrio cômico: seja percebendo qual personagem se desenvolve melhor, entendendo seu conceito narrativo mais "pastelão" ou até descobrindo a razão e os alvos de cada uma das sátiras. Mais uma vez o elenco ajuda muito e destaco Renée Elise Goldsberry (Wickie) - guardem esse nome, pois ela pode surpreender nas premiações de 2022.
Se você não gosta do trabalho de Tina Fey, “Girls5Eva” não é para você; caso contrário se prepare para se divertir, se emocionar e até se empolgar com um roteiro preciso e muito inteligente. Vale o play!
"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!
Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:
"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.
É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.
Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!
Vale muito a pena!
"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!
Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:
"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.
É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.
Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!
Vale muito a pena!
ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!
Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):
"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.
Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA.
(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.)
Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!
Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!
ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!
Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):
"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.
Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA.
(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.)
Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!
Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!
"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.
Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.
Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield", as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!
O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!
Vale muito o seu play!
"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.
Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.
Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield", as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!
O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!
Vale muito o seu play!
Embora a revista Vogue tenha definido "Good Girls" como uma mistura de "Big Little Lies" e "Breaking Bad", eu diria que está mais para "Desperate Housewives" com "Rainhas do Crime" - e isso, por favor, não entendam como demérito, até porque a série de sucesso da NBC, distribuída pela Netflix, é muito (mas muito) divertida! Ela é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho (no caso três protagonistas) vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair! Ao adicionar uma passagem importante da sua sinopse: "três mães decidem que o crime é a única opção para salvar suas famílias"; fica impossível não relacionar com Breaking Bad - e faz até sentido, mas, infelizmente, não dá para cobrar mais do que um ou outro elemento narrativo similar!
"Good Girls" acompanha a jornada de três mães de família em um momento onde precisam lidar com questões difíceis em suas vidas. Beth (Christina Hendricks) descobre que está sendo traída pelo marido depois de 20 anos de casada e, para piorar, ele contraiu uma dívida enorme de hipoteca; Ruby (Retta) e o marido Stan (Reno Wilson) não tem condições de bancar o tratamento médico da filha que precisa urgentemente de um transplante de rim; e Annie (Mae Whitman) precisa se resolver com o ex-marido, que luta pela guarda da filha de 11 anos, Sadie (Izzy Stannard).O fato é que as três precisam de muito dinheiro e por isso resolvem assaltar um supermercado local, o problema é que as consequências desta escolha colocam o trio frente a frente com um dos criminosos mais procurados de Detroit. Confira o trailer:
Já pelo trailer é possível reconhecer muito do tom de "Desperate Housewives" na narrativa, e isso não acontece por acaso: Jenna Bans foi roteirista da série. Embora ela entregue com muita competência uma história que desafia o conceito da vida pacata de uma “boa mãe, esposa e dona de casa” ao mesmo tempo em que se constrói uma (ou três) persona completamente estereotipada do empoderamento "custe o que custar" em meio a traições, crimes e vinganças; é explicita a falta que faz a genialidade de um Vince Gilligan no comando - tanto do roteiro, quanto da direção! Eu devorei os 10 primeiros episódios da primeira temporada e tenho certeza que o fã de Breaking Bad vai curtir também, mas não espere a profundidade no desenvolvimento dos personagens (o que é uma pena) e muito menos uma identidade narrativa e visual marcantes - mas disso falaremos mais a frente! Por enquanto é fácil afirmar: "Good Girls" vale muito pela diversão, pelo entretenimento e pela sensação de sentir algumas das angustias que para esse estilo de série é fundamental!
A primeira temporada de "Good Girls" realmente parece uma brincadeira - no melhor sentido da palavra. Embora traga elementos sérios como um assalto a mão armada, ameaças de morte, sequestros, extorsões e até uma tentativa de estupro, o tom escolhido ameniza a tensão visual e nos provoca muito mais por empatia do que por identificação às personagens. Ao se auto-definir como o "Breaking Bad de mulheres", trazemos a referência de um projeto muito bem construído em sua narrativa, principalmente na transformação dos personagens ao longo das temporadas. É claro que ainda é muito cedo para afirmar que "Good Girls" foge desse objetivo, mas quando vemos em um episódio Beth sofrendo como a esposa traída, mãe de quatro filhos e ainda falida, e no outro ela já se comporta como uma rainha do crime, perdemos completamente aquela experiência de julgamento moral que nos convidava à discussão após os episódios de Breaking Bad. Embora Christina Hendricks esteja dando um show, sua personagem sofre com a superficialidade de suas próprias dores. Quando falamos de Retta e Mae Whitman isso fica ainda mais evidente, porém é de se elogiar a química entre as três atrizes e a forma como a história vai unindo suas personagens e seus respectivos dramas.
Michael Weaver, o principal diretor da série, usa da sua experiencia como diretor de fotografia de Pushing Daisies para trazer um pouco de identidade para "Good Girls" - e aqui é preciso admitir: por se tratar de uma série da TV aberta dos EUA, fica muito complicado pesar a mão e assustar a audiência. O próprio "Breaking Bad", que era da TV fechada, foi construindo a sua durante as temporadas e só se tornou uma relevante, lá pela segunda temporada quando sua trama já estava estabelecida e aí o conceito visual passou a fazer parte da história quase como um protagonista! "Good Girls" é muito bem produzida, mas não arrisca!
Para mim, a série foi uma grande surpresa - me diverti muito. Em alguns momentos senti que faltou coragem para colocar a história em outro nível - como, por exemplo, assumir a tensão sexual entre Rio e Beth. Sacrificar um personagem-chave para mover a história em outra direção também seria interessante - imagina se a filha de Ruby morre por não aceitarem o cheque que pagaria o transplante! Não sei se devemos esperar por essa dramaticidade, mesmo que fantasiada de comédia - não acredito que "Good Girls" possa ir por esse caminho, mas achei tão bacana o que assisti até aqui, que vou pagar para ver e acho que você deveria fazer o mesmo. A segunda temporada já está disponível e uma terceira deve ser lançada ainda em 2020.
Vale muito o seu play! Diversão garantida!
Embora a revista Vogue tenha definido "Good Girls" como uma mistura de "Big Little Lies" e "Breaking Bad", eu diria que está mais para "Desperate Housewives" com "Rainhas do Crime" - e isso, por favor, não entendam como demérito, até porque a série de sucesso da NBC, distribuída pela Netflix, é muito (mas muito) divertida! Ela é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho (no caso três protagonistas) vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair! Ao adicionar uma passagem importante da sua sinopse: "três mães decidem que o crime é a única opção para salvar suas famílias"; fica impossível não relacionar com Breaking Bad - e faz até sentido, mas, infelizmente, não dá para cobrar mais do que um ou outro elemento narrativo similar!
"Good Girls" acompanha a jornada de três mães de família em um momento onde precisam lidar com questões difíceis em suas vidas. Beth (Christina Hendricks) descobre que está sendo traída pelo marido depois de 20 anos de casada e, para piorar, ele contraiu uma dívida enorme de hipoteca; Ruby (Retta) e o marido Stan (Reno Wilson) não tem condições de bancar o tratamento médico da filha que precisa urgentemente de um transplante de rim; e Annie (Mae Whitman) precisa se resolver com o ex-marido, que luta pela guarda da filha de 11 anos, Sadie (Izzy Stannard).O fato é que as três precisam de muito dinheiro e por isso resolvem assaltar um supermercado local, o problema é que as consequências desta escolha colocam o trio frente a frente com um dos criminosos mais procurados de Detroit. Confira o trailer:
Já pelo trailer é possível reconhecer muito do tom de "Desperate Housewives" na narrativa, e isso não acontece por acaso: Jenna Bans foi roteirista da série. Embora ela entregue com muita competência uma história que desafia o conceito da vida pacata de uma “boa mãe, esposa e dona de casa” ao mesmo tempo em que se constrói uma (ou três) persona completamente estereotipada do empoderamento "custe o que custar" em meio a traições, crimes e vinganças; é explicita a falta que faz a genialidade de um Vince Gilligan no comando - tanto do roteiro, quanto da direção! Eu devorei os 10 primeiros episódios da primeira temporada e tenho certeza que o fã de Breaking Bad vai curtir também, mas não espere a profundidade no desenvolvimento dos personagens (o que é uma pena) e muito menos uma identidade narrativa e visual marcantes - mas disso falaremos mais a frente! Por enquanto é fácil afirmar: "Good Girls" vale muito pela diversão, pelo entretenimento e pela sensação de sentir algumas das angustias que para esse estilo de série é fundamental!
A primeira temporada de "Good Girls" realmente parece uma brincadeira - no melhor sentido da palavra. Embora traga elementos sérios como um assalto a mão armada, ameaças de morte, sequestros, extorsões e até uma tentativa de estupro, o tom escolhido ameniza a tensão visual e nos provoca muito mais por empatia do que por identificação às personagens. Ao se auto-definir como o "Breaking Bad de mulheres", trazemos a referência de um projeto muito bem construído em sua narrativa, principalmente na transformação dos personagens ao longo das temporadas. É claro que ainda é muito cedo para afirmar que "Good Girls" foge desse objetivo, mas quando vemos em um episódio Beth sofrendo como a esposa traída, mãe de quatro filhos e ainda falida, e no outro ela já se comporta como uma rainha do crime, perdemos completamente aquela experiência de julgamento moral que nos convidava à discussão após os episódios de Breaking Bad. Embora Christina Hendricks esteja dando um show, sua personagem sofre com a superficialidade de suas próprias dores. Quando falamos de Retta e Mae Whitman isso fica ainda mais evidente, porém é de se elogiar a química entre as três atrizes e a forma como a história vai unindo suas personagens e seus respectivos dramas.
Michael Weaver, o principal diretor da série, usa da sua experiencia como diretor de fotografia de Pushing Daisies para trazer um pouco de identidade para "Good Girls" - e aqui é preciso admitir: por se tratar de uma série da TV aberta dos EUA, fica muito complicado pesar a mão e assustar a audiência. O próprio "Breaking Bad", que era da TV fechada, foi construindo a sua durante as temporadas e só se tornou uma relevante, lá pela segunda temporada quando sua trama já estava estabelecida e aí o conceito visual passou a fazer parte da história quase como um protagonista! "Good Girls" é muito bem produzida, mas não arrisca!
Para mim, a série foi uma grande surpresa - me diverti muito. Em alguns momentos senti que faltou coragem para colocar a história em outro nível - como, por exemplo, assumir a tensão sexual entre Rio e Beth. Sacrificar um personagem-chave para mover a história em outra direção também seria interessante - imagina se a filha de Ruby morre por não aceitarem o cheque que pagaria o transplante! Não sei se devemos esperar por essa dramaticidade, mesmo que fantasiada de comédia - não acredito que "Good Girls" possa ir por esse caminho, mas achei tão bacana o que assisti até aqui, que vou pagar para ver e acho que você deveria fazer o mesmo. A segunda temporada já está disponível e uma terceira deve ser lançada ainda em 2020.
Vale muito o seu play! Diversão garantida!
Se você é um amante da boa gastronomia, mais especificamente tem alguma ligação afetiva com o prazer de tomar algumas taças de vinho, pode parar tudo que está assistindo e dê o play nessa pérola escondida na AppleTV+. "Gotas Divinas" (ou "Drops of God") é de uma elegância cinematográfica e de uma profundidade narrativa que certamente vai te deixar com "água na boca" - e aqui, por favor, me desculpe o trocadilho, mas não existe maneira mais eficaz de traduzir o que vemos na tela sem estabelecer uma conexão, de fato, sensorial com a história de Camille Léger e de Issei Tomine.
Em oito episódios acompanhamos a jornada de Camille (Fleur Geffrier), uma jovem francesa e filha do especialista em vinhos Alexandre Léger (Stanley Weber), que acaba de falecer. Depois de ver seu pai pela última vez quando tinha ainda nove anos, Camille é levada para o Japão para a leitura de seu testamento. Lá, ela descobre que pode herdar a mais valiosa coleção de vinhos do mundo, avaliada em quase 150 milhões de dólares. No entanto, ela será submetida a três testes de enologia para finalmente receber sua herança, acontece que ela precisa passar por dois obstáculos: Issei Tomine (Tomohisa Yamashita), o talentoso pupilo de Léger, e o fato de que ela nunca antes ter provado uma gota de vinho sequer. Confira o trailer (em inglês):
Essa incrível co-produção França, EUA e Japão é baseado em um mangá de enorme sucesso, criado por Tadashi Agi e Shu Okimoto, e que foi lançado em 2004 no Japão. Adaptado pelo Quoc Dang Tran (do excelente "Dix Pour Cent"), "Gotas Divinas" é um verdadeiro mergulho na cultura e na história do vinho. A cada episódio somos apresentados a uma variedade de vinhos, regiões vinícolas e técnicas de degustação, nos proporcionando uma experiência tão divertida quanto educativa. Olha, a série é um convite para entender a diversidade e as sutilezas dessa bebida tão venerada no mundo inteiro.
Obviamente que como entretenimento, "Gotas Divinas" não se sustentaria apenas pela atmosfera onde a história está inserida - o drama, claramente focado em personagens complexos e muito cativantes, também expõe questões emocionais delicadas, colocando Camille em uma jornada de autodescoberta enquanto Issei busca se estabelecer como uma autoridade em enologia, mesmo indo contra as vontades de sua família tradicional japonesa. À medida que ambos vão encontrando seus propósitos com muita sensibilidade narrativa, vamos desvendando os segredos do mundo dos vinhos e nos conectando com os desafios de cada um deles. Talvez aí, inclusive, esteja o grande valor do roteiro escrito pelo próprio Tran ao lado de Clémence Madeleine-Perdrillat (da versão francesa de "Sessão de Terapia") e de Alice Vial (do inédito no Brasil, "La fille au coeur de cochon"): saber equilibrar os dramas dos protagonistas enquanto cria pontos em comum entre eles.
Com uma fotografia maravilhosa do Rotem Yaron (de "Losing Alice"), que enquadra com perfeição tanto as belas paisagens das vinícolas pelo mundo quanto as emoções mais profundas da personagem de Geffrier e de Yamashita; e uma trilha sonora sutil e elegante do (multi-plataforma) Kenma Shindo, "Gotas Divinas" chega até a brincar com aquela sensação de imersão nessa atmosfera tão particular e envolvente. Eu diria até que a série mereceria muito mais atenção do que recebeu aqui no Brasil, então não deixe essa oportunidade passar.
Para aqueles que têm interesse na cultura do vinho e apreciam uma abordagem mais contemplativa e profunda do ser humano, a série oferece uma experiência única! Vale muito o seu play!
Se você é um amante da boa gastronomia, mais especificamente tem alguma ligação afetiva com o prazer de tomar algumas taças de vinho, pode parar tudo que está assistindo e dê o play nessa pérola escondida na AppleTV+. "Gotas Divinas" (ou "Drops of God") é de uma elegância cinematográfica e de uma profundidade narrativa que certamente vai te deixar com "água na boca" - e aqui, por favor, me desculpe o trocadilho, mas não existe maneira mais eficaz de traduzir o que vemos na tela sem estabelecer uma conexão, de fato, sensorial com a história de Camille Léger e de Issei Tomine.
Em oito episódios acompanhamos a jornada de Camille (Fleur Geffrier), uma jovem francesa e filha do especialista em vinhos Alexandre Léger (Stanley Weber), que acaba de falecer. Depois de ver seu pai pela última vez quando tinha ainda nove anos, Camille é levada para o Japão para a leitura de seu testamento. Lá, ela descobre que pode herdar a mais valiosa coleção de vinhos do mundo, avaliada em quase 150 milhões de dólares. No entanto, ela será submetida a três testes de enologia para finalmente receber sua herança, acontece que ela precisa passar por dois obstáculos: Issei Tomine (Tomohisa Yamashita), o talentoso pupilo de Léger, e o fato de que ela nunca antes ter provado uma gota de vinho sequer. Confira o trailer (em inglês):
Essa incrível co-produção França, EUA e Japão é baseado em um mangá de enorme sucesso, criado por Tadashi Agi e Shu Okimoto, e que foi lançado em 2004 no Japão. Adaptado pelo Quoc Dang Tran (do excelente "Dix Pour Cent"), "Gotas Divinas" é um verdadeiro mergulho na cultura e na história do vinho. A cada episódio somos apresentados a uma variedade de vinhos, regiões vinícolas e técnicas de degustação, nos proporcionando uma experiência tão divertida quanto educativa. Olha, a série é um convite para entender a diversidade e as sutilezas dessa bebida tão venerada no mundo inteiro.
Obviamente que como entretenimento, "Gotas Divinas" não se sustentaria apenas pela atmosfera onde a história está inserida - o drama, claramente focado em personagens complexos e muito cativantes, também expõe questões emocionais delicadas, colocando Camille em uma jornada de autodescoberta enquanto Issei busca se estabelecer como uma autoridade em enologia, mesmo indo contra as vontades de sua família tradicional japonesa. À medida que ambos vão encontrando seus propósitos com muita sensibilidade narrativa, vamos desvendando os segredos do mundo dos vinhos e nos conectando com os desafios de cada um deles. Talvez aí, inclusive, esteja o grande valor do roteiro escrito pelo próprio Tran ao lado de Clémence Madeleine-Perdrillat (da versão francesa de "Sessão de Terapia") e de Alice Vial (do inédito no Brasil, "La fille au coeur de cochon"): saber equilibrar os dramas dos protagonistas enquanto cria pontos em comum entre eles.
Com uma fotografia maravilhosa do Rotem Yaron (de "Losing Alice"), que enquadra com perfeição tanto as belas paisagens das vinícolas pelo mundo quanto as emoções mais profundas da personagem de Geffrier e de Yamashita; e uma trilha sonora sutil e elegante do (multi-plataforma) Kenma Shindo, "Gotas Divinas" chega até a brincar com aquela sensação de imersão nessa atmosfera tão particular e envolvente. Eu diria até que a série mereceria muito mais atenção do que recebeu aqui no Brasil, então não deixe essa oportunidade passar.
Para aqueles que têm interesse na cultura do vinho e apreciam uma abordagem mais contemplativa e profunda do ser humano, a série oferece uma experiência única! Vale muito o seu play!
O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.
A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:
A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som.
Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.
O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!
Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming
O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.
A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:
A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som.
Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.
O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!
Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
"Happy End" foi o filme francês que tentou a indicação ao Oscar 2018 e não conseguiu - na verdade não ficou nem entre os pré selecionados, mas tem uma grife de respeito por trás dele: o diretor austríaco Michael Haneke - vencedor do Oscar com "Amour" em 2013. Foi essa grife que me fez assistir o filme e valeu a pena, mas com algumas ressalvas!
O filme se passa em Calais uma cidade do norte da França. Georges Laurent (Jean-Louis Trintignant) é o patriarca de uma família típica da classe média. Ele está preso em uma cadeira de rodas e sua filha Anne (Isabelle Huppert) ainda mora com ele, porém Thomas (Mathieu Kassovitz), seu filho, acaba de retornar para a casa, junto com a esposa e a filha Eve (Fantine Harduin), cuja mãe faleceu recentemente. É nesse universo que "Happy End" transita - o filme fala sobre a intensa incomunicabilidade entre os membros dessa família, que faz com que todos levem uma vida segundo seus interesses pessoais e esqueçam que existe algo muito mais importante que o próprio umbigo: a empatia! Confira o trailer:
Como Cineasta, Michael Haneke, é um monstro! Ele dá mais uma aula de posicionamento de câmera (como em "Amour") e direção de atores. Haneke tem seu estilo muito bem definido e ele imprime isso em cada cena com muita personalidade e sempre no tom certo. Ele consegue tirar do ator aquilo que ele quer com muita precisão e isso é raro. O filme vale muito por isso - mas será preciso um olhar mais crítico, detalhista e mais paciente com o que comentarei a seguir!
"Happy End" é um filme que não vai agradar a todos. A história me pareceu um pouco fraca, as motivações não se sustentam ao longo do tempo de tela e isso deixa o filme razoavelmente arrastado. Não que seja um filme ruim, porque de fato ele não é, mas você fica sempre esperando algo mais e isso nunca chega - por isso é necessário alinhas as expectativas e embarcar na proposta de Haneke!
Esse filme foi até indicado pra Palme d'Or em Cannes 2017, o que deixa bem claro que ele vai agradar mais aquela audiência que gosta de uma cinema com um conceito narrativo e visual independente, autoral e, claro, para quem está disposto a ir além do que é dito nos diálogos.
"Happy End" foi o filme francês que tentou a indicação ao Oscar 2018 e não conseguiu - na verdade não ficou nem entre os pré selecionados, mas tem uma grife de respeito por trás dele: o diretor austríaco Michael Haneke - vencedor do Oscar com "Amour" em 2013. Foi essa grife que me fez assistir o filme e valeu a pena, mas com algumas ressalvas!
O filme se passa em Calais uma cidade do norte da França. Georges Laurent (Jean-Louis Trintignant) é o patriarca de uma família típica da classe média. Ele está preso em uma cadeira de rodas e sua filha Anne (Isabelle Huppert) ainda mora com ele, porém Thomas (Mathieu Kassovitz), seu filho, acaba de retornar para a casa, junto com a esposa e a filha Eve (Fantine Harduin), cuja mãe faleceu recentemente. É nesse universo que "Happy End" transita - o filme fala sobre a intensa incomunicabilidade entre os membros dessa família, que faz com que todos levem uma vida segundo seus interesses pessoais e esqueçam que existe algo muito mais importante que o próprio umbigo: a empatia! Confira o trailer:
Como Cineasta, Michael Haneke, é um monstro! Ele dá mais uma aula de posicionamento de câmera (como em "Amour") e direção de atores. Haneke tem seu estilo muito bem definido e ele imprime isso em cada cena com muita personalidade e sempre no tom certo. Ele consegue tirar do ator aquilo que ele quer com muita precisão e isso é raro. O filme vale muito por isso - mas será preciso um olhar mais crítico, detalhista e mais paciente com o que comentarei a seguir!
"Happy End" é um filme que não vai agradar a todos. A história me pareceu um pouco fraca, as motivações não se sustentam ao longo do tempo de tela e isso deixa o filme razoavelmente arrastado. Não que seja um filme ruim, porque de fato ele não é, mas você fica sempre esperando algo mais e isso nunca chega - por isso é necessário alinhas as expectativas e embarcar na proposta de Haneke!
Esse filme foi até indicado pra Palme d'Or em Cannes 2017, o que deixa bem claro que ele vai agradar mais aquela audiência que gosta de uma cinema com um conceito narrativo e visual independente, autoral e, claro, para quem está disposto a ir além do que é dito nos diálogos.
Passados quase ¼ do século XXI, o tema homossexualidade ainda é considerado um tabu. Mesmo que a sociedade tenha evoluído na garantia dos direitos fundamentais da população LGBTQIA+, como casamento civil, adoção, etc; o preconceito ainda perdura e pode deixar marcas profundas no indivíduo. Digo isso, pois tenho certeza que muitos pais vão se incomodar que seus filhos assistam “Heartstopper”, série teen que adapta a obra de Alice Oseman para Netflix. Mesmo com uma narrativa inocente, honesta e educativa, a série, inicialmente, deve chamar mais atenção de um determinado nicho, já que os personagens principais são gays ou bissexuais - uma pena, pois a produção é uma das mais sensíveis e acolhedoras disponíveis no streaming. Todos os assuntos são tratados com uma delicadeza e cuidado pouco visto em produções voltadas para os adolescentes.
Na trama, os adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) acabam descobrindo que são mais que apenas bons amigos. A partir daí, eles precisam lidar com as dificuldades que esta relação amorosa irá provocar, principalmente no convívio escolar. O bacana é que a série não apresenta jovens drogados, bêbados, e tampouco mostra cenas vulgares de sexo para chocar. Não que isso seja necessariamente um problema, mas o conceito narrativo não precisou utilizar estes artifícios clichês para rotular os adolescentes, muito pelo contrário. Confira o trailer:
Ter Oseman como roteirista e produtora executiva na série trouxe uma sensibilidade impressionante para adaptação e que dialoga perfeitamente com a direção de Euros Lyn (de "Doctor Who") - a qualidade cinematográfica de “Heartstopper” impressiona (algo pouco comum em séries adolescentes). Leve, o roteiro fala sobre o primeiro amor, sobre o valor da amizade, sobre realizar bons gestos para fazer o bem ao próximo. Apesar de focar nas descobertas e no relacionamento amoroso entre dois garotos, a série não deveria ser encarada como uma produção voltada apenas para o público gay. Acredito, inclusive, que todos irão se encantar, se surpreender e ainda se identificar com os personagens, pois a trama fala de um tema universal: o amor!
Com um mood que nos faz lembrar de "Atypical" ou "O céu está em todo lugar", é muito interessante como acompanhamos Charlie passar pelos difíceis obstáculos da adolescência com o apoio de seus inseparáveis melhores amigos: Tao (William Gao) o amigo hétero e superprotetor; Elle (Yasmin Finney), uma aluna transsexual que estudou com os garotos anteriormente e que agora frequenta o colégio vizinho, apenas para garotas; e Isaac (Tobie Donovan) um personagem silencioso que infelizmente não teve muito destaque no núcleo na primeira temporada; sem falar, claro, em Sarah Nelson (mãe de Nick), interpretada por Olivia Colman (sim, ela mesmo!) e que entrega no olhar a cumplicidade e o amor fraternal que é pedido diante de várias situações.
“Heartstopper” me parece ser a grande surpresa de 2022 na Netflix. Sua história é necessária, incrivelmente irresistível e deliciosa de acompanhar. Recomendo que todos deixem de lado qualquer tipo de preconceito e assistam porque vale muito a pena!
Por fim, vale destacar a nota altíssima que a atração recebeu no site de avaliações IMDb: 9,0 - o que prova que não há exageros quanto a qualidade impecável desta produção inglesa da badalada "See-Saw Films" (de "Ataque do Cães", "Lion", entre outras) para a Netflix!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Passados quase ¼ do século XXI, o tema homossexualidade ainda é considerado um tabu. Mesmo que a sociedade tenha evoluído na garantia dos direitos fundamentais da população LGBTQIA+, como casamento civil, adoção, etc; o preconceito ainda perdura e pode deixar marcas profundas no indivíduo. Digo isso, pois tenho certeza que muitos pais vão se incomodar que seus filhos assistam “Heartstopper”, série teen que adapta a obra de Alice Oseman para Netflix. Mesmo com uma narrativa inocente, honesta e educativa, a série, inicialmente, deve chamar mais atenção de um determinado nicho, já que os personagens principais são gays ou bissexuais - uma pena, pois a produção é uma das mais sensíveis e acolhedoras disponíveis no streaming. Todos os assuntos são tratados com uma delicadeza e cuidado pouco visto em produções voltadas para os adolescentes.
Na trama, os adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) acabam descobrindo que são mais que apenas bons amigos. A partir daí, eles precisam lidar com as dificuldades que esta relação amorosa irá provocar, principalmente no convívio escolar. O bacana é que a série não apresenta jovens drogados, bêbados, e tampouco mostra cenas vulgares de sexo para chocar. Não que isso seja necessariamente um problema, mas o conceito narrativo não precisou utilizar estes artifícios clichês para rotular os adolescentes, muito pelo contrário. Confira o trailer:
Ter Oseman como roteirista e produtora executiva na série trouxe uma sensibilidade impressionante para adaptação e que dialoga perfeitamente com a direção de Euros Lyn (de "Doctor Who") - a qualidade cinematográfica de “Heartstopper” impressiona (algo pouco comum em séries adolescentes). Leve, o roteiro fala sobre o primeiro amor, sobre o valor da amizade, sobre realizar bons gestos para fazer o bem ao próximo. Apesar de focar nas descobertas e no relacionamento amoroso entre dois garotos, a série não deveria ser encarada como uma produção voltada apenas para o público gay. Acredito, inclusive, que todos irão se encantar, se surpreender e ainda se identificar com os personagens, pois a trama fala de um tema universal: o amor!
Com um mood que nos faz lembrar de "Atypical" ou "O céu está em todo lugar", é muito interessante como acompanhamos Charlie passar pelos difíceis obstáculos da adolescência com o apoio de seus inseparáveis melhores amigos: Tao (William Gao) o amigo hétero e superprotetor; Elle (Yasmin Finney), uma aluna transsexual que estudou com os garotos anteriormente e que agora frequenta o colégio vizinho, apenas para garotas; e Isaac (Tobie Donovan) um personagem silencioso que infelizmente não teve muito destaque no núcleo na primeira temporada; sem falar, claro, em Sarah Nelson (mãe de Nick), interpretada por Olivia Colman (sim, ela mesmo!) e que entrega no olhar a cumplicidade e o amor fraternal que é pedido diante de várias situações.
“Heartstopper” me parece ser a grande surpresa de 2022 na Netflix. Sua história é necessária, incrivelmente irresistível e deliciosa de acompanhar. Recomendo que todos deixem de lado qualquer tipo de preconceito e assistam porque vale muito a pena!
Por fim, vale destacar a nota altíssima que a atração recebeu no site de avaliações IMDb: 9,0 - o que prova que não há exageros quanto a qualidade impecável desta produção inglesa da badalada "See-Saw Films" (de "Ataque do Cães", "Lion", entre outras) para a Netflix!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!
Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro.
"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!
Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!
PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!
Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro.
"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!
Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!
PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
Costumo dizer que uma história tem sempre dois lados e por isso acredito que uma das maiores covardias sociais que pode existir é o julgamento ou pior, quando alguém próximo resolve tomar partido de um dos lados durante a separação ou no fim de um casamento, principalmente se o casal já tiver filhos! "História de um Casamento" é um soco no estômago por tudo isso e dependendo da sua história de vida, esse soco pode doer mais! O filme mostra o processo de separação de um Diretor de Teatro residente em NY e de uma atriz nascida em Los Angeles. Os dois foram muito felizes durante anos até que ela resolve se separar e voltar com o filho para sua cidade - o que acontece a partir daí é uma das mais doloridas jornadas de aceitação que um casal precisa passar durante a vida.
O interessante do filme é que o roteiro trás os dois lados da história desde o início (com uma prólogo sensacional que já dá o tom do que virá pela frente, apresentando os personagens e o momento que eles estão passando) e toda a transformação que eles se submetem graças a pressão social e, claro, ao ego ferido de cada um (inclusive dos advogados)! A crueldade do filme está em abordar com muita sensibilidade essa solidão muito particular que Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) passam ao tentar esconder seus reais sentimentos para impedir que esse divórcio não acabe definitivamente com tudo que eles construíram juntos e com todos os sonhos que compartilharam durante anos - aliás, muito personificado na figura de um lindo garoto, filho do casal! Olha, se prepare para um grande filme, difícil, inteligente e muito visceral - mais um que deve brilhar nas premiações do próximo ano, pode apostar!
Poderia ser um filme dirigido pelo Wood Allen tranquilamente, mas a competência do Noah Baumbach (A Lula e a Baleia e The Meyerowitz Stories) nos proporciona a mesma qualidade na experiência de acompanhar a história dos dois protagonistas filmando em 35mm (e não em Digital) para aproveitar aquela magia do grão e o aspecto mais, digamos, antigo da imagem - propositalmente nostálgico. Noah, que também escreveu o roteiro, se inspirou no seu próprio processo de divórcio, deixando claro que o filme, na verdade, é mais uma provocação sobre o valor do verdadeiro amor, mesmo em um cenário tão conturbado como o divórcio. Pode parecer complexo, mas não é; "História de um Casamento" tem alma e uma direção focada nos detalhes - sem a necessidade de elevar o tom da interpretação, aproveitando o silêncio, os olhares, o sofrimento dos atores - puxa, e que atores!!!! Claro que os diálogos são excelentes, mas Scarlett Johansson e (principalmente) Adam Drive dão um show. Pode escrever: Adam Drive será indicado como melhor ator e não me surpreenderia se ganhasse, mesmo correndo por fora contra Adam Sandler e Joaquin Phoenix. Outra atriz que merece destaque e pode ganhar uma indicação de coadjuvante é Laura Dern (Big Little Lies) - ela está incrível como a advogada de Nicole.
"História de um Casamento" é o que é, um filme que mexe com a gente, que emociona pelo simples fato de nos colocarmos na pele de cada um dos personagens. É um filme de relação difícil, dolorido, injusto, mas muito (muito mesmo) sensível! Embora Noah Baumbach tenha colocado sua história em muitos detalhes dessa jornada, é notável sua capacidade de universalizar os assuntos discutidos no filme. O amor colocado em segundo plano por causa de convenções de uma mesma sociedade que cobra a cada instante e que se sente prazer ao julgar um casal quando não se assume alguma dificuldade ou até quando se toma alguma decisão diferente do óbvio pensando no bem do filho, por exemplo. Olha, "História de um Casamento" é sensacional; com um roteiro, direção e atuação extremamente alinhados. Impecável! O filme foi muito bem nos Festivais que participou até agora e, na minha opinião, vem muito forte para o Oscar de 2020 - dá para esperar umas 3 ou 4 indicações tranquilamente, entre elas, melhor filme (e não é exagero)! Não acredita? Dê o play e se prepare para duas horas com o coração apertado e muito tempo de reflexão quando o filme acabar - e por favor repare como a trilha sonora é a cereja desse bolo delicioso!!!
Up-date: "História de um Casamento" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz Coadjuvante!
Costumo dizer que uma história tem sempre dois lados e por isso acredito que uma das maiores covardias sociais que pode existir é o julgamento ou pior, quando alguém próximo resolve tomar partido de um dos lados durante a separação ou no fim de um casamento, principalmente se o casal já tiver filhos! "História de um Casamento" é um soco no estômago por tudo isso e dependendo da sua história de vida, esse soco pode doer mais! O filme mostra o processo de separação de um Diretor de Teatro residente em NY e de uma atriz nascida em Los Angeles. Os dois foram muito felizes durante anos até que ela resolve se separar e voltar com o filho para sua cidade - o que acontece a partir daí é uma das mais doloridas jornadas de aceitação que um casal precisa passar durante a vida.
O interessante do filme é que o roteiro trás os dois lados da história desde o início (com uma prólogo sensacional que já dá o tom do que virá pela frente, apresentando os personagens e o momento que eles estão passando) e toda a transformação que eles se submetem graças a pressão social e, claro, ao ego ferido de cada um (inclusive dos advogados)! A crueldade do filme está em abordar com muita sensibilidade essa solidão muito particular que Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) passam ao tentar esconder seus reais sentimentos para impedir que esse divórcio não acabe definitivamente com tudo que eles construíram juntos e com todos os sonhos que compartilharam durante anos - aliás, muito personificado na figura de um lindo garoto, filho do casal! Olha, se prepare para um grande filme, difícil, inteligente e muito visceral - mais um que deve brilhar nas premiações do próximo ano, pode apostar!
Poderia ser um filme dirigido pelo Wood Allen tranquilamente, mas a competência do Noah Baumbach (A Lula e a Baleia e The Meyerowitz Stories) nos proporciona a mesma qualidade na experiência de acompanhar a história dos dois protagonistas filmando em 35mm (e não em Digital) para aproveitar aquela magia do grão e o aspecto mais, digamos, antigo da imagem - propositalmente nostálgico. Noah, que também escreveu o roteiro, se inspirou no seu próprio processo de divórcio, deixando claro que o filme, na verdade, é mais uma provocação sobre o valor do verdadeiro amor, mesmo em um cenário tão conturbado como o divórcio. Pode parecer complexo, mas não é; "História de um Casamento" tem alma e uma direção focada nos detalhes - sem a necessidade de elevar o tom da interpretação, aproveitando o silêncio, os olhares, o sofrimento dos atores - puxa, e que atores!!!! Claro que os diálogos são excelentes, mas Scarlett Johansson e (principalmente) Adam Drive dão um show. Pode escrever: Adam Drive será indicado como melhor ator e não me surpreenderia se ganhasse, mesmo correndo por fora contra Adam Sandler e Joaquin Phoenix. Outra atriz que merece destaque e pode ganhar uma indicação de coadjuvante é Laura Dern (Big Little Lies) - ela está incrível como a advogada de Nicole.
"História de um Casamento" é o que é, um filme que mexe com a gente, que emociona pelo simples fato de nos colocarmos na pele de cada um dos personagens. É um filme de relação difícil, dolorido, injusto, mas muito (muito mesmo) sensível! Embora Noah Baumbach tenha colocado sua história em muitos detalhes dessa jornada, é notável sua capacidade de universalizar os assuntos discutidos no filme. O amor colocado em segundo plano por causa de convenções de uma mesma sociedade que cobra a cada instante e que se sente prazer ao julgar um casal quando não se assume alguma dificuldade ou até quando se toma alguma decisão diferente do óbvio pensando no bem do filho, por exemplo. Olha, "História de um Casamento" é sensacional; com um roteiro, direção e atuação extremamente alinhados. Impecável! O filme foi muito bem nos Festivais que participou até agora e, na minha opinião, vem muito forte para o Oscar de 2020 - dá para esperar umas 3 ou 4 indicações tranquilamente, entre elas, melhor filme (e não é exagero)! Não acredita? Dê o play e se prepare para duas horas com o coração apertado e muito tempo de reflexão quando o filme acabar - e por favor repare como a trilha sonora é a cereja desse bolo delicioso!!!
Up-date: "História de um Casamento" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz Coadjuvante!
Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano.
Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):
Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.
Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.
Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.
Imperdível!
Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano.
Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):
Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.
Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.
Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.
Imperdível!
Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.
Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:
O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.
Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!
"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.
Vale seu play!
Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.
Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:
O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.
Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!
"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.
Vale seu play!
"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.
O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:
Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!
Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!
"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!
Vale muito o play!!!!
"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.
O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:
Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!
Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!
"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!
Vale muito o play!!!!
Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").
"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:
A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!
Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração! John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!
Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!
Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo!
Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").
"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:
A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!
Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração! John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!
Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!
Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo!
"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!
Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:
De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!
"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO.
Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!
Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.
Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!
"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!
Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:
De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!
"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO.
Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!
Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.
Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!
Se você está em busca de um bom entretenimento sobre assaltos espetaculares em uma mistura de ação com algum drama, "Ida Red - O Preço da Liberdade" pode ser uma boa pedida - mas te adianto: não se trata de um filme inesquecível, pelo contrário, ele é despretensioso ao ponto de abdicar de pelo menos 30 minutos de história, onde as tramas, subtramas e soluções narrativas certamente seriam melhores desenvolvidas, para ganhar em dinâmica e alguma emoção. Isso faz do filme escrito e dirigido por John Swab (do mediano "One Day as a Lion") honesto em sua proposta, tanto que chegou a ser indicado ao Locarno em 2021, mas é inegável que deixa um gostinho de que poderia ser melhor do que realmente é!
"Ida Red - O Preço da Liberdade", basicamente, acompanha a carreira da criminosa Ida ‘Red’ Walker (Melissa Leo), que luta contra uma doença terminal enquanto cumpre uma pena de 25 anos de prisão em Oklahoma. Sob a tutela de Ida, seu filho, Wyatt Walker (Josh Hartnett) sustenta os negócios da família ao lado de seu tio, Dallas Walker (Frank Grillo), até que um assalto dá errado e o detetive local e cunhado de Wyatt, Bodie Collier (George Carroll), se junta ao agente do FBI Lawrence Twilley (William Forsythe) para tentar rastrear os responsáveis pelo crime - e como é de se imaginar, eles já têm seus suspeitos. Confira o trailer:
Embora o filme se apresente como uma montanha-russa emocional que mergulha nas complexidades das relações familiares e do dilema moral para definir o que é certo, o que é errado e em qual circunstâncias isso pode se misturar, "Ida Red" é mesmo um filme de ação. Certo disso, percebemos que durante os 120 minutos de história, assistimos Swab nos negar alguns eventos importantes da trama e isso faz com que todos aqueles conflitos soem mais superficiais do que eles poderiam ser. Ao recortar o grande arco dramático de uma família amplamente envolvida com o mundo do crime e nos apresentar apenas uma parte desse todo, o diretor assume o risco de que sua audiência não se importe realmente com aqueles personagens - isso me pareceu acontecer, por outro lado não impacta no que ele prioriza como fio condutor.
A direção de John Swab respeita suas próprias escolhas conceituais e sua abordagem habilidosa dessa gramática de gênero ao criar uma atmosfera mais sombria do que tensa, especialmente no prólogo e no final do terceiro ato, onde a ação propriamente dita, nos conduz entre os dramas mais existenciais dos personagens. Essa proposta acaba deixando para o elenco todo ônus da falta de tempo de tela - Melissa Leo talvez seja o maior exemplo disso. Ela oferece uma atuação de tirar o fôlego quando é demandada, incorporando uma Ida Red com presença magnética, mas pouco aproveitada. Josh Hartnett e Frank Grillo, esses sim oferecem performances convincentes sem tanta pressa - a química entre eles é palpável, o que adiciona uma camada extra de autenticidade à história, mas infelizmente, mesmo assim, falta aquela conexão.
A fotografia do Matt Clegg (de "What Doesn't Float") é primorosa ao equilibrar o drama mais íntimo com seus planos fechados e quase sempre estáticos, com a ação mais dinâmica das lentes mais abertas e uma câmera mais nervosa. A escolha de locações e a trilha sonora se combinam com essa dualidade da fotografia para criar um ambiente mais imersivo que faz com que a audiência se sinta parte daquele submundo - uma pena que essas sensações sejam tão esporádicas devido aos gaps do roteiro. Em resumo, "Ida Red - O Preço da Liberdade" diverte mais do que nos impacta, mesmo quando escolhe questionar o real valor da família como instituição inabalável em meio aquele cenário imoral de crimes e redenção. Uma pena que não tenha tido o tempo necessário para unificar esses dois elementos dramáticos, que estão lá, mas que acabaram funcionando mais sozinhos do que juntos.
Se você está em busca de um bom entretenimento sobre assaltos espetaculares em uma mistura de ação com algum drama, "Ida Red - O Preço da Liberdade" pode ser uma boa pedida - mas te adianto: não se trata de um filme inesquecível, pelo contrário, ele é despretensioso ao ponto de abdicar de pelo menos 30 minutos de história, onde as tramas, subtramas e soluções narrativas certamente seriam melhores desenvolvidas, para ganhar em dinâmica e alguma emoção. Isso faz do filme escrito e dirigido por John Swab (do mediano "One Day as a Lion") honesto em sua proposta, tanto que chegou a ser indicado ao Locarno em 2021, mas é inegável que deixa um gostinho de que poderia ser melhor do que realmente é!
"Ida Red - O Preço da Liberdade", basicamente, acompanha a carreira da criminosa Ida ‘Red’ Walker (Melissa Leo), que luta contra uma doença terminal enquanto cumpre uma pena de 25 anos de prisão em Oklahoma. Sob a tutela de Ida, seu filho, Wyatt Walker (Josh Hartnett) sustenta os negócios da família ao lado de seu tio, Dallas Walker (Frank Grillo), até que um assalto dá errado e o detetive local e cunhado de Wyatt, Bodie Collier (George Carroll), se junta ao agente do FBI Lawrence Twilley (William Forsythe) para tentar rastrear os responsáveis pelo crime - e como é de se imaginar, eles já têm seus suspeitos. Confira o trailer:
Embora o filme se apresente como uma montanha-russa emocional que mergulha nas complexidades das relações familiares e do dilema moral para definir o que é certo, o que é errado e em qual circunstâncias isso pode se misturar, "Ida Red" é mesmo um filme de ação. Certo disso, percebemos que durante os 120 minutos de história, assistimos Swab nos negar alguns eventos importantes da trama e isso faz com que todos aqueles conflitos soem mais superficiais do que eles poderiam ser. Ao recortar o grande arco dramático de uma família amplamente envolvida com o mundo do crime e nos apresentar apenas uma parte desse todo, o diretor assume o risco de que sua audiência não se importe realmente com aqueles personagens - isso me pareceu acontecer, por outro lado não impacta no que ele prioriza como fio condutor.
A direção de John Swab respeita suas próprias escolhas conceituais e sua abordagem habilidosa dessa gramática de gênero ao criar uma atmosfera mais sombria do que tensa, especialmente no prólogo e no final do terceiro ato, onde a ação propriamente dita, nos conduz entre os dramas mais existenciais dos personagens. Essa proposta acaba deixando para o elenco todo ônus da falta de tempo de tela - Melissa Leo talvez seja o maior exemplo disso. Ela oferece uma atuação de tirar o fôlego quando é demandada, incorporando uma Ida Red com presença magnética, mas pouco aproveitada. Josh Hartnett e Frank Grillo, esses sim oferecem performances convincentes sem tanta pressa - a química entre eles é palpável, o que adiciona uma camada extra de autenticidade à história, mas infelizmente, mesmo assim, falta aquela conexão.
A fotografia do Matt Clegg (de "What Doesn't Float") é primorosa ao equilibrar o drama mais íntimo com seus planos fechados e quase sempre estáticos, com a ação mais dinâmica das lentes mais abertas e uma câmera mais nervosa. A escolha de locações e a trilha sonora se combinam com essa dualidade da fotografia para criar um ambiente mais imersivo que faz com que a audiência se sinta parte daquele submundo - uma pena que essas sensações sejam tão esporádicas devido aos gaps do roteiro. Em resumo, "Ida Red - O Preço da Liberdade" diverte mais do que nos impacta, mesmo quando escolhe questionar o real valor da família como instituição inabalável em meio aquele cenário imoral de crimes e redenção. Uma pena que não tenha tido o tempo necessário para unificar esses dois elementos dramáticos, que estão lá, mas que acabaram funcionando mais sozinhos do que juntos.
"Imperdoável" vem dividindo opniões, mas eu posso te adiantar: o filme é realmente bom e vale o seu play! Agora, não é nenhuma surpresa também que essa produção da Netflix seja baseada em uma minissérie de três episódios - no caso a britânica "Unforgiven" (no original), lançada em janeiro de 2009 e que foi muito bem de audiência e de crítica. Digo isso, pois algumas relações entre personagens que estão no filme mereciam um pouco mais de tempo de tela e certos assuntos justificariam mais aprofundamento. Isso prejudica a experiência? Não, mas fica aquele gostinho de "quero mais" (que para alguns vem sendo interpretado como um filme de resoluções atropeladas").
Na história, conhecemos a protagonista Ruth Slater (Sandra Bullock) que passa 20 anos na prisão após ter sido acusada do assassinato de um policial que estava em serviço no dia em que seria despejada de sua casa. Depois de cumprir a longa pena, Slater tenta retomar a vida em sociedade, enquanto busca de todas as formas reencontrar a irmã caçula, com quem perdeu contato após a sua prisão e que foi adotada por uma outra família na época. Confira o trailer:
Alguns pontos chamam muito nossa atenção. Sandra Bullock está sensacional e não fosse um certo preconceito com a atriz (mesmo depois do seu Oscar com "The Blind Side"), eu apostaria, no mínimo, em uma indicação na premiação de 2022 - sua performance é contida, pontuada, minimalista e sempre no tom correto para os diferentes tipos de cenas que ela precisa estar. Uma delas, inclusive, talvez seja o grande ponto alto do filme, quando "Ruth" de Bullock encontra com "Liz" de Viola Davis - além de uma cena muito bem construída para nos surpreender e de um talentoso embate entre duas excelentes atrizes, outro ponto que merece destaque é a montagem. Desde o inicio do filme, a montagem cria um ritmo sensacional para "Imperdoável" - mérito de Joe Walker (indicado ao Oscar por "A Chegada" e que usa do mesmo conceito técnico e narrativo para construir um mistério (e um suspense) em cima de um roteiro bem menos genial).
Dirigido pela ótima cineasta alemã Nora Fingscheidt, estreando em produções com um maior orçamento, o filme flerta com discussões bastante relevantes como o difícil processo de ressocialização de um ex-presidiário e como as vidas desses indivíduos são impactadas pelos crimes cometidos (especialmente contra policiais). O roteiro até pincela algumas críticas sobre os privilégios de ser uma mulher branca perante o preconceito sofrido pelos negros nas mesmas condições, mas não se tem tempo de ir além. A própria relação e as motivações dos irmãos Whelan ficam prejudicadas pela restrição de tempo.
O fato é que "Imperdoável" merece muito mais elogios do que críticas, além de ser um excelente entretenimento com um plot twist bem arquitetado, mesmo que com um final não tão corajoso. Existe um certo ar emotivo no desfecho da história, claro, mas talvez tenha faltado um pouco mais de impacto - algo que uma série da HBO entregaria sem receio, entende?
Se você gosta de um bom drama, pode ir tranquilo que vale a pena!
"Imperdoável" vem dividindo opniões, mas eu posso te adiantar: o filme é realmente bom e vale o seu play! Agora, não é nenhuma surpresa também que essa produção da Netflix seja baseada em uma minissérie de três episódios - no caso a britânica "Unforgiven" (no original), lançada em janeiro de 2009 e que foi muito bem de audiência e de crítica. Digo isso, pois algumas relações entre personagens que estão no filme mereciam um pouco mais de tempo de tela e certos assuntos justificariam mais aprofundamento. Isso prejudica a experiência? Não, mas fica aquele gostinho de "quero mais" (que para alguns vem sendo interpretado como um filme de resoluções atropeladas").
Na história, conhecemos a protagonista Ruth Slater (Sandra Bullock) que passa 20 anos na prisão após ter sido acusada do assassinato de um policial que estava em serviço no dia em que seria despejada de sua casa. Depois de cumprir a longa pena, Slater tenta retomar a vida em sociedade, enquanto busca de todas as formas reencontrar a irmã caçula, com quem perdeu contato após a sua prisão e que foi adotada por uma outra família na época. Confira o trailer:
Alguns pontos chamam muito nossa atenção. Sandra Bullock está sensacional e não fosse um certo preconceito com a atriz (mesmo depois do seu Oscar com "The Blind Side"), eu apostaria, no mínimo, em uma indicação na premiação de 2022 - sua performance é contida, pontuada, minimalista e sempre no tom correto para os diferentes tipos de cenas que ela precisa estar. Uma delas, inclusive, talvez seja o grande ponto alto do filme, quando "Ruth" de Bullock encontra com "Liz" de Viola Davis - além de uma cena muito bem construída para nos surpreender e de um talentoso embate entre duas excelentes atrizes, outro ponto que merece destaque é a montagem. Desde o inicio do filme, a montagem cria um ritmo sensacional para "Imperdoável" - mérito de Joe Walker (indicado ao Oscar por "A Chegada" e que usa do mesmo conceito técnico e narrativo para construir um mistério (e um suspense) em cima de um roteiro bem menos genial).
Dirigido pela ótima cineasta alemã Nora Fingscheidt, estreando em produções com um maior orçamento, o filme flerta com discussões bastante relevantes como o difícil processo de ressocialização de um ex-presidiário e como as vidas desses indivíduos são impactadas pelos crimes cometidos (especialmente contra policiais). O roteiro até pincela algumas críticas sobre os privilégios de ser uma mulher branca perante o preconceito sofrido pelos negros nas mesmas condições, mas não se tem tempo de ir além. A própria relação e as motivações dos irmãos Whelan ficam prejudicadas pela restrição de tempo.
O fato é que "Imperdoável" merece muito mais elogios do que críticas, além de ser um excelente entretenimento com um plot twist bem arquitetado, mesmo que com um final não tão corajoso. Existe um certo ar emotivo no desfecho da história, claro, mas talvez tenha faltado um pouco mais de impacto - algo que uma série da HBO entregaria sem receio, entende?
Se você gosta de um bom drama, pode ir tranquilo que vale a pena!