Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!
Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):
Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.
A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.
O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!
Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena!
Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!
Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):
Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.
A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.
O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!
Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena!
Se você gostou de "Chernobyl"da HBO, assista "Waco"!
Embora os assuntos sejam completamente diferentes, os elementos dramáticos que nos impactaram na trama que expôs o acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986, são exatamente os mesmos que colocam um enorme ponto de interrogação nas escolhas táticas da ATF (agência americana de controle de álcool, tabaco e armas) e depois do FBI, durante o processo de negociação para que uma seita religiosa na cidade Waco, no Texas, fosse dissolvida. Você vai se impressionar com o que vai assistir, então prepare o estômago!
A minissérie de seis episódios explora os detalhes da história real sobre os 51 dias de cerco montado pelo governo dos EUA contra a seita religiosa de David Koresh (Taylor Kitsch), os Branch Davidians. Trazendo perspectivas dos dois lados do conflito, "Waco" mostra de uma forma impactante qual o pior jeito de se enfrentar uma crise. Confira o trailer (em inglês):
Em 1993, a compra de armas em uma quantidade bastante suspeita chamou a atenção da ATF. Quando descoberto que se tratava de uma seita religiosa, informações desencontradas rapidamente aumentaram o clima de tensão na pequena e árida Waco. Nos holofotes, de uma lado estava o intransigente líder religioso David Koresh, alguns homens, mulheres e crianças do Ramo Davidiano (uma seita criada por dissidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia); e de outro, um FBI completamente dividido entre os agentes a favor do uso de força militar como Mitch Decker (Shea Whigham), e os agentes pró-diplomacia, como o negociador-chefe Gary Noesner (Michael Shannon).
Embora o roteiro deixe algumas pontas soltas (que apenas os mais atentos devem perceber), ele tem o grande mérito de construir uma narrativa que explora os dois lados da história e nos provoca muitas reflexões. O fato da minissérie ter sido baseada nos livros, "Stalling for time", de Noesner, e "A place called Waco" de David Thibodeau, um dos sobreviventes da seita, deixa claro a intenção dos produtores John Erick Dowdle (diretor de filmes como "Quarentena" e "Horas de Desespero") e de seu irmão, Drew Dowdle (roteirista e produtor dos mesmos filmes), em levantar a discussão sobre a liberdade religiosa e como as agências do governo lidam com isso internamente.
Muito bem produzida pela Paramount, "Waco" é cuidadosa ao não romantizar a postura radical de Koresh, mesmo pontuando que os vilões da história são mesmo alguns agentes do FBI e da ATF. Em polêmicas revelações que envolveram o personagem, como poligamia e abuso de crianças (e tudo indique que a primeira seja verdadeira e a segunda completamente falsa), o roteiro mais ajuda do que atrapalha - a construção das camadas é tão profunda que nosso julgamento muda a cada episódio. Aliás, todos os episódios, especialmente o terceiro e o último, são de uma precisão narrativa impressionantes - é impossível não ser impactado pelo que assistimos.
"Waco" é o típico exemplo de uma minissérie sensacional, que está escondida no catálogo de uma plataforma de streaming (no caso da Globoplay) e que merecia muito mais destaque em marketing. A história é indigesta, forte, cruel até. Tecnicamente é impecável. Artisticamente uma aula - da direção do próprio John Erick Dowdle com a Dennie Gordon (de "Bloodline") às performances de todo elenco, com destaque para o já citado Kitsch, mas também sem esquecer de Shea Whigham, Michael Shannon, Paul Sparks, Julia Garner, Rory Culkin e o indicado ao Emmy de 2018 pelo papel, John Leguizamo.
Vale muito o seu play!
Se você gostou de "Chernobyl"da HBO, assista "Waco"!
Embora os assuntos sejam completamente diferentes, os elementos dramáticos que nos impactaram na trama que expôs o acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986, são exatamente os mesmos que colocam um enorme ponto de interrogação nas escolhas táticas da ATF (agência americana de controle de álcool, tabaco e armas) e depois do FBI, durante o processo de negociação para que uma seita religiosa na cidade Waco, no Texas, fosse dissolvida. Você vai se impressionar com o que vai assistir, então prepare o estômago!
A minissérie de seis episódios explora os detalhes da história real sobre os 51 dias de cerco montado pelo governo dos EUA contra a seita religiosa de David Koresh (Taylor Kitsch), os Branch Davidians. Trazendo perspectivas dos dois lados do conflito, "Waco" mostra de uma forma impactante qual o pior jeito de se enfrentar uma crise. Confira o trailer (em inglês):
Em 1993, a compra de armas em uma quantidade bastante suspeita chamou a atenção da ATF. Quando descoberto que se tratava de uma seita religiosa, informações desencontradas rapidamente aumentaram o clima de tensão na pequena e árida Waco. Nos holofotes, de uma lado estava o intransigente líder religioso David Koresh, alguns homens, mulheres e crianças do Ramo Davidiano (uma seita criada por dissidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia); e de outro, um FBI completamente dividido entre os agentes a favor do uso de força militar como Mitch Decker (Shea Whigham), e os agentes pró-diplomacia, como o negociador-chefe Gary Noesner (Michael Shannon).
Embora o roteiro deixe algumas pontas soltas (que apenas os mais atentos devem perceber), ele tem o grande mérito de construir uma narrativa que explora os dois lados da história e nos provoca muitas reflexões. O fato da minissérie ter sido baseada nos livros, "Stalling for time", de Noesner, e "A place called Waco" de David Thibodeau, um dos sobreviventes da seita, deixa claro a intenção dos produtores John Erick Dowdle (diretor de filmes como "Quarentena" e "Horas de Desespero") e de seu irmão, Drew Dowdle (roteirista e produtor dos mesmos filmes), em levantar a discussão sobre a liberdade religiosa e como as agências do governo lidam com isso internamente.
Muito bem produzida pela Paramount, "Waco" é cuidadosa ao não romantizar a postura radical de Koresh, mesmo pontuando que os vilões da história são mesmo alguns agentes do FBI e da ATF. Em polêmicas revelações que envolveram o personagem, como poligamia e abuso de crianças (e tudo indique que a primeira seja verdadeira e a segunda completamente falsa), o roteiro mais ajuda do que atrapalha - a construção das camadas é tão profunda que nosso julgamento muda a cada episódio. Aliás, todos os episódios, especialmente o terceiro e o último, são de uma precisão narrativa impressionantes - é impossível não ser impactado pelo que assistimos.
"Waco" é o típico exemplo de uma minissérie sensacional, que está escondida no catálogo de uma plataforma de streaming (no caso da Globoplay) e que merecia muito mais destaque em marketing. A história é indigesta, forte, cruel até. Tecnicamente é impecável. Artisticamente uma aula - da direção do próprio John Erick Dowdle com a Dennie Gordon (de "Bloodline") às performances de todo elenco, com destaque para o já citado Kitsch, mas também sem esquecer de Shea Whigham, Michael Shannon, Paul Sparks, Julia Garner, Rory Culkin e o indicado ao Emmy de 2018 pelo papel, John Leguizamo.
Vale muito o seu play!
Dizer "não" é fácil, o complicado é saber quando dizer "sim". Se você, empreendedor, se conectou com essa frase dita pelo ex-CEO da Disney, Michael Eisner, em um dos episódios de "Wahl Street", provavelmente você nem vai precisar ler toda essa análise para ter a certeza que essa série de seis episódios é realmente para você! Aliás, para os menos atentos, descobrir que o ator Mark Wahlberg além de reconhecido em Hollywood, ainda está envolvido em mais de 20 negócios, pode parecer uma simples jogada de marketing, porém essa ótima produção da HBO serve justamente para desmistificar esse pré-conceito e deixar claro que até para Wahlberg a jornada empreendedora não é das mais tranquilas!
A premissa de "Wahl Street" é relativamente simples já que sua trama gira em torno da vida pessoal e profissional do astro global Mark Wahlberg enquanto ele concilia as demandas de uma rigorosa programação como ator com sua rede cada vez maior de investimentos e como empreendedor de diversos negócios. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que aquela máxima que diz: "as pessoas querem o whisky que eu tomo, mas não os tombos que eu levo", pode ser levada para outro patamar ao acompanhar a vida por trás das câmeras de um astro de Hollywood. Obviamente que o tema não é nenhuma novidade, visto que séries e filmes adoram tocar no assunto se aproveitando da comédia ou do drama para tentar matar a curiosidade de quem acompanha o showbiz e acha que tudo é festa - foi assim com "Entourage" (projeto onde o próprio Wahlberg esteve diretamente envolvido) e com o inesquecível "Somewhere" de Sofia Coppola.
Em "Wahl Street" ainda encontramos vários elementos que de alguma forma fazem parte da jornada empreendedora de qualquer pessoa - e esse talvez seja o grande mérito do documentário, pois em muitos momentos Wahlberg é colocado em uma posição de vulnerabilidade com a mesma honestidade de quando tem que tomar alguma decisão difícil ou lidar com o inesperado, como foi o caso da pandemia que fez com que todas as suas lanchonetes e academias tivessem que fechar da noite para o dia. Veja, embora sem se aprofundar em nenhuma decisão estratégica ou em algum estudo bastante particular de seus negócios, é possível entender alguns movimentos do "Wahlberg empresário" que são brilhantemente ilustrados por "mentores" de altíssima qualidade que vão do já citado Michael Eisner; passando pelo falecido ex-CEO da Hasbro, Brian Goldner; até chegar em Janice Bryant Howroyd, fundadora da The ActOne Group (a maior empresa privada de recursos humanos dos EUA) ou até de Dana White CEO do UFC.
"Wahl Street" vai fazer mais sentido para quem busca entender a dinâmica de um empreendedor, mesmo que em um universo bastante distante da nossa realidade. Não podemos embarcar nessa série com a ideia pré-concebida de que tudo é muito mais fácil quando se ganha milhões ao atuar em um filme de ação - essa análise é tão rasa quanto aquela que tende a diminuir a conquista de alguém pelo simples fato dele (ou dela) ter um determinado sobrenome. Dito isso, é fácil definir a série como um bom entretenimento, daqueles bacanas de assistir para quem gosta do tema ou para quem é capaz de tirar alguma boa lição mesmo quando tudo soa tão inalcançável.
PS: A segunda temporada também já está disponível na HBO Max.
Vale muito o seu play!
Dizer "não" é fácil, o complicado é saber quando dizer "sim". Se você, empreendedor, se conectou com essa frase dita pelo ex-CEO da Disney, Michael Eisner, em um dos episódios de "Wahl Street", provavelmente você nem vai precisar ler toda essa análise para ter a certeza que essa série de seis episódios é realmente para você! Aliás, para os menos atentos, descobrir que o ator Mark Wahlberg além de reconhecido em Hollywood, ainda está envolvido em mais de 20 negócios, pode parecer uma simples jogada de marketing, porém essa ótima produção da HBO serve justamente para desmistificar esse pré-conceito e deixar claro que até para Wahlberg a jornada empreendedora não é das mais tranquilas!
A premissa de "Wahl Street" é relativamente simples já que sua trama gira em torno da vida pessoal e profissional do astro global Mark Wahlberg enquanto ele concilia as demandas de uma rigorosa programação como ator com sua rede cada vez maior de investimentos e como empreendedor de diversos negócios. Confira o trailer (em inglês):
É inegável que aquela máxima que diz: "as pessoas querem o whisky que eu tomo, mas não os tombos que eu levo", pode ser levada para outro patamar ao acompanhar a vida por trás das câmeras de um astro de Hollywood. Obviamente que o tema não é nenhuma novidade, visto que séries e filmes adoram tocar no assunto se aproveitando da comédia ou do drama para tentar matar a curiosidade de quem acompanha o showbiz e acha que tudo é festa - foi assim com "Entourage" (projeto onde o próprio Wahlberg esteve diretamente envolvido) e com o inesquecível "Somewhere" de Sofia Coppola.
Em "Wahl Street" ainda encontramos vários elementos que de alguma forma fazem parte da jornada empreendedora de qualquer pessoa - e esse talvez seja o grande mérito do documentário, pois em muitos momentos Wahlberg é colocado em uma posição de vulnerabilidade com a mesma honestidade de quando tem que tomar alguma decisão difícil ou lidar com o inesperado, como foi o caso da pandemia que fez com que todas as suas lanchonetes e academias tivessem que fechar da noite para o dia. Veja, embora sem se aprofundar em nenhuma decisão estratégica ou em algum estudo bastante particular de seus negócios, é possível entender alguns movimentos do "Wahlberg empresário" que são brilhantemente ilustrados por "mentores" de altíssima qualidade que vão do já citado Michael Eisner; passando pelo falecido ex-CEO da Hasbro, Brian Goldner; até chegar em Janice Bryant Howroyd, fundadora da The ActOne Group (a maior empresa privada de recursos humanos dos EUA) ou até de Dana White CEO do UFC.
"Wahl Street" vai fazer mais sentido para quem busca entender a dinâmica de um empreendedor, mesmo que em um universo bastante distante da nossa realidade. Não podemos embarcar nessa série com a ideia pré-concebida de que tudo é muito mais fácil quando se ganha milhões ao atuar em um filme de ação - essa análise é tão rasa quanto aquela que tende a diminuir a conquista de alguém pelo simples fato dele (ou dela) ter um determinado sobrenome. Dito isso, é fácil definir a série como um bom entretenimento, daqueles bacanas de assistir para quem gosta do tema ou para quem é capaz de tirar alguma boa lição mesmo quando tudo soa tão inalcançável.
PS: A segunda temporada também já está disponível na HBO Max.
Vale muito o seu play!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
Embora a história da Elizabeth Holmes, na minha opinião, seja mais absurda pela forma como ela persuadiu (para ser elegante) os investidores durante a criação da Theranos; tenho a impressão que a jornada da WeWork e de seu fundador Adam Neumann funcione melhor como obra cinematográfica - pelo simples fato que soa mais palpável, mesmo que dentro de um universo raro que é a criação de uma "startup unicórnio". Não que "The Dropout" seja ruim como minissérie, muito pelo contrário, mas "WeCrashed" trouxe mais elegância narrativa e visual, além de dois atores (Jared Leto e Anne Hathaway) extremamente conectados com seus personagens e que, mesmo sabendo das loucuras que ambos fizeram durante muito tempo, nos fazem torcer por eles - não sei se o problema seja Amanda Seyfried, talvez Holmes não tenha o mesmo carisma de Neumann; mas acho que vale a discussão.
A minissérie original da Apple acompanha o casal Adam (Leto) e Rebekah Neumann (Hathaway), co-fundadores de uma das maiores startups do mundo, a WeWork. A trama apresenta como eles, junto com o colega Miguel Mckelvey (Kyle Marvin), conseguiram criar uma companhia multimilionária, mas que por divergências ideológicas e ganância, a empresa sofreu grandes perdas financeiramente. Adam e Rebekah rapidamente conquistaram a atenção da mídia por, supostamente, revolucionar o ambiente de trabalho de empresas mundo afora. Os dois tentaram criar uma imagem moderna e inovadora, se distanciando de modelos tradiocionais de negócios e pintando a WeWork como o futuro das startups. Mas o sonho de um negócio bem-sucedido foi por água abaixo após várias decisões equivocadas. Confira o trailer (em inglês):
Criada pelo (pouco conhecido) Drew Crevello e pelo (rocky star de "The Office") Lee Eisenberg, "WeCrashed" é mais uma minissérie que expões de uma forma até um pouco romântico, o poder de fundadores e CEOs de startups disruptivas, com suas visões muito interessantes de modelos de negócios, um mindset transformador e uma habilidade fora do comum para atrair as pessoas certas para colocarem muito (mas, muito) dinheiro em seus projetos. Bem como Steve Jobs e talvez Mark Zuckerberg, é na personificação de uma inovação que as histórias se constroem - como se a obra fosse menor que seu criador, e de fato essa co-relação é um elemento que faz os olhos da mídia brilharem. Tanto Adam Neumann quanto Rebekah tinham esse tempero e o que poderia ser um diferencial (e precisamos ser honestos em dizer que por um bom tempo foi), se transformou em algo bem próximo do caos.
É um fato que Crevello e Eisenberg em um determinado momento trouxeram o relacionamento de Adam e Rebekah para os holofotes se aproveitando para desenvolver a conexão dessa relação com a forma como a WeWork era conduzida. "The Dropout" tem um pouco disso, mas não com a mesma potência. Em "WeCrashed" também temos algumas passagens curiosas como quando Newman compra um avião muito mais pela música que tocava ao fundo do que pelo convencimento do vendedor - e sim, isso é uma alivio quase cômico para exaltar a personalidade do protagonista. É óbvio que a história não foi exatamente essa, mas quando a assistente de Newman coloca a mesma música ("Roar" de Patty Perry) para tocar toda vez que Newman chega no escritório, entendemos que aquele personagem é movido por estímulos que elevam sua auto-estima e isso tem total ressonância com a trama (e é envolvente).
"WeCrashed" pontua a história sobre a criação da WeWork, mostra seu crescimento, mas não se aprofunda sobre o que levou a empresa de uma fase para a outra - ou seja, não é um estudo de caso sobre uma jornada que tinha tudo para dar muito certo, mas naufragou. Por outro lado serve de lição se você for capaz de ler nas entrelinhas como uma condução tóxica e completamente fora da realidade podem destruir um negócio promissor. "Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar" - essa celebre frase talvez defina a ascensão e queda de Newman e é isso que a minissérie da AppleTV+ se propõe: mostrar em 8 episódios, com uma qualidade técnica e artística irretocáveis, uma história real e impactante para o universo empreendedor, mas com o claro intuito de entreter e não de documentar.
Vale muito a pena!
Embora a história da Elizabeth Holmes, na minha opinião, seja mais absurda pela forma como ela persuadiu (para ser elegante) os investidores durante a criação da Theranos; tenho a impressão que a jornada da WeWork e de seu fundador Adam Neumann funcione melhor como obra cinematográfica - pelo simples fato que soa mais palpável, mesmo que dentro de um universo raro que é a criação de uma "startup unicórnio". Não que "The Dropout" seja ruim como minissérie, muito pelo contrário, mas "WeCrashed" trouxe mais elegância narrativa e visual, além de dois atores (Jared Leto e Anne Hathaway) extremamente conectados com seus personagens e que, mesmo sabendo das loucuras que ambos fizeram durante muito tempo, nos fazem torcer por eles - não sei se o problema seja Amanda Seyfried, talvez Holmes não tenha o mesmo carisma de Neumann; mas acho que vale a discussão.
A minissérie original da Apple acompanha o casal Adam (Leto) e Rebekah Neumann (Hathaway), co-fundadores de uma das maiores startups do mundo, a WeWork. A trama apresenta como eles, junto com o colega Miguel Mckelvey (Kyle Marvin), conseguiram criar uma companhia multimilionária, mas que por divergências ideológicas e ganância, a empresa sofreu grandes perdas financeiramente. Adam e Rebekah rapidamente conquistaram a atenção da mídia por, supostamente, revolucionar o ambiente de trabalho de empresas mundo afora. Os dois tentaram criar uma imagem moderna e inovadora, se distanciando de modelos tradiocionais de negócios e pintando a WeWork como o futuro das startups. Mas o sonho de um negócio bem-sucedido foi por água abaixo após várias decisões equivocadas. Confira o trailer (em inglês):
Criada pelo (pouco conhecido) Drew Crevello e pelo (rocky star de "The Office") Lee Eisenberg, "WeCrashed" é mais uma minissérie que expões de uma forma até um pouco romântico, o poder de fundadores e CEOs de startups disruptivas, com suas visões muito interessantes de modelos de negócios, um mindset transformador e uma habilidade fora do comum para atrair as pessoas certas para colocarem muito (mas, muito) dinheiro em seus projetos. Bem como Steve Jobs e talvez Mark Zuckerberg, é na personificação de uma inovação que as histórias se constroem - como se a obra fosse menor que seu criador, e de fato essa co-relação é um elemento que faz os olhos da mídia brilharem. Tanto Adam Neumann quanto Rebekah tinham esse tempero e o que poderia ser um diferencial (e precisamos ser honestos em dizer que por um bom tempo foi), se transformou em algo bem próximo do caos.
É um fato que Crevello e Eisenberg em um determinado momento trouxeram o relacionamento de Adam e Rebekah para os holofotes se aproveitando para desenvolver a conexão dessa relação com a forma como a WeWork era conduzida. "The Dropout" tem um pouco disso, mas não com a mesma potência. Em "WeCrashed" também temos algumas passagens curiosas como quando Newman compra um avião muito mais pela música que tocava ao fundo do que pelo convencimento do vendedor - e sim, isso é uma alivio quase cômico para exaltar a personalidade do protagonista. É óbvio que a história não foi exatamente essa, mas quando a assistente de Newman coloca a mesma música ("Roar" de Patty Perry) para tocar toda vez que Newman chega no escritório, entendemos que aquele personagem é movido por estímulos que elevam sua auto-estima e isso tem total ressonância com a trama (e é envolvente).
"WeCrashed" pontua a história sobre a criação da WeWork, mostra seu crescimento, mas não se aprofunda sobre o que levou a empresa de uma fase para a outra - ou seja, não é um estudo de caso sobre uma jornada que tinha tudo para dar muito certo, mas naufragou. Por outro lado serve de lição se você for capaz de ler nas entrelinhas como uma condução tóxica e completamente fora da realidade podem destruir um negócio promissor. "Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar" - essa celebre frase talvez defina a ascensão e queda de Newman e é isso que a minissérie da AppleTV+ se propõe: mostrar em 8 episódios, com uma qualidade técnica e artística irretocáveis, uma história real e impactante para o universo empreendedor, mas com o claro intuito de entreter e não de documentar.
Vale muito a pena!
Descoberta, no início da década de 80, pelo presidente da Arista Records, a carreira de Whitney foi toda moldada para que ela fosse vista, não como uma cantora com influências da música negra norte-americana, e sim como uma cantora pop, cujo estilo musical agradasse plateias de todos os tipos e de fato isso aconteceu, porém o sucesso trouxe com um preço caro: o desprezo de sua comunidade.
Pode parecer uma situação superficial, mas soma-se a isso um série de relacionamentos tóxicos e abusivos, além de uma forte dependência de álcool e drogas! A família sempre foi totalmente dependente financeiramente de Whitney. Seu casamento com Bobby Brown nunca representou uma relação saudável. Os amigos não podiam estar mais tão próximos. Sua amiga mais fiel, Robyn Crawford, por exemplo, foi obrigada a se afastar por diversos motivos (revelados no documentário). Enfim, o roteiro estava escrito há muito tempo, mas o que choca mesmo é a forma como tudo se desenvolveu!
"Whitney: Can I be me" mostra a maneira trágica como a cantora morreu e os sinais que a vida foi lhe dando até chegar ao trágico ponto final. Se você gostou de "Amy", certamente vai perceber nesse documentário, dirigido pelo Nick Broomfield e pelo Rudi Dolezal, como os roteiros são muito parecidos, só mudando os personagens, uma ou outra situação particular e talvez a forma como o fim se aproximou - é incrível acompanhar como o ser humano se relaciona com o sucesso, com o dinheiro e com o poder, e quase sempre vai perdendo suas referências e se esquecendo que a vida é muito mais simples do que possa parecer!
É triste demais, admito, mas se trata de um documentário muito bom! Eu diria imperdível para quem admirava a cantora!
Descoberta, no início da década de 80, pelo presidente da Arista Records, a carreira de Whitney foi toda moldada para que ela fosse vista, não como uma cantora com influências da música negra norte-americana, e sim como uma cantora pop, cujo estilo musical agradasse plateias de todos os tipos e de fato isso aconteceu, porém o sucesso trouxe com um preço caro: o desprezo de sua comunidade.
Pode parecer uma situação superficial, mas soma-se a isso um série de relacionamentos tóxicos e abusivos, além de uma forte dependência de álcool e drogas! A família sempre foi totalmente dependente financeiramente de Whitney. Seu casamento com Bobby Brown nunca representou uma relação saudável. Os amigos não podiam estar mais tão próximos. Sua amiga mais fiel, Robyn Crawford, por exemplo, foi obrigada a se afastar por diversos motivos (revelados no documentário). Enfim, o roteiro estava escrito há muito tempo, mas o que choca mesmo é a forma como tudo se desenvolveu!
"Whitney: Can I be me" mostra a maneira trágica como a cantora morreu e os sinais que a vida foi lhe dando até chegar ao trágico ponto final. Se você gostou de "Amy", certamente vai perceber nesse documentário, dirigido pelo Nick Broomfield e pelo Rudi Dolezal, como os roteiros são muito parecidos, só mudando os personagens, uma ou outra situação particular e talvez a forma como o fim se aproximou - é incrível acompanhar como o ser humano se relaciona com o sucesso, com o dinheiro e com o poder, e quase sempre vai perdendo suas referências e se esquecendo que a vida é muito mais simples do que possa parecer!
É triste demais, admito, mas se trata de um documentário muito bom! Eu diria imperdível para quem admirava a cantora!
"Y2K: Bomba-Relógio" é um documentário clássico, ou seja, foge daquela estética moderninha de transformar uma história real em uma narrativa fluida cheia de intervenções gráficas, reconstituições ou depoimentos atuais. Não, aqui temos um recorte temporal baseado em imagens de arquivos muito bem montado, diga-se de passagem, para que tudo faça sentido como documento histórico. Embora esse conceito deixe a narrativa mais cadenciada, eu diria que para aqueles que apreciam tecnologia como estudo antropológico, claro que com um certo toque de nostalgia bem anos 90, esse documentário é imperdível. Dirigido pelo Brian Becker (de "America's War on Drugs") e pela estreante Marley McDonald, o filme mergulha nos bastidores do bug do milênio e destrincha como uma possível falha (ou escolha) administrativa se tornou uma ameaça de colapso global em 31 de dezembro de 1999.
"Y2K: Bomba-Relógio" nos convida a acompanhar a investigação sobre o bug do milênio, desde sua origem até as medidas drásticas tomadas pelo governo dos EUA para evitar uma verdadeira catástrofe mundial. Através de depoimentos com especialistas, programadores e figuras chave da época, como Bill Gates, Steve Jobs e o mensageiro do apocalipse digital, Peter de Jager, o documentário explora o desenvolvimento tecnológico do século passado pela perspectiva da dependência social e como as falhas nos sistemas computacionais teriam consequências potencialmente devastadoras. Confira o trailer (em inglês):
"É preciso pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro" - em uma época pós-pandemia pouca coisa faz tanto sentido quanto essa frase do historiador grego Heródoto. A partir dessa premissa, "Y2K: Bomba-Relógio" ganha força como obra documental e se torna tão especial por ser capaz de retratar com muita inteligência e sensibilidade uma época marcada tanto pela euforia tecnológica quanto pelo medo do desconhecido. A direção de Becker e McDonald utiliza poucos recursos gráficos que poderiam nos distrair, tudo para manter o foco no que realmente interessa: construir com imagens de arquivo uma linha temporal capaz de criar uma experiência imersiva no que foi o assunto de pelo menos 4 anos.
A qualidade das entrevistas, todas realizadas na época, de fato, fornecem diferentes perspectivas sobre o bug do milênio. Através de seus relatos, podemos entender a magnitude do problema e a importância do trabalho para evitá-lo. É nesse contexto que figuras como Peter de Jager se tornam referências de como a humanidade pode ser facilmente manipulada ao se sentir acuada - embora de uma forma mais dramática, é mais ou menos como assistimos em "O Nevoeiro" de 2007.
"Y2K: Bomba-Relógio" pode ser considerada mais do que um documentário sobre um bug do milênio (aquele que nunca aconteceu). Na verdade, ele é mais um lembrete da importância sobre tomar as decisões corretas sem pensar apenas no seu umbigo. Olhar para o ser humano ganancioso é dar a devida atenção para o que representa a segurança cibernética e a necessidade de estarmos preparados para enfrentar os desafios (que certamente virão) do futuro. Em um mundo tão infinitamente mais rápido do que em 1999, não aprender com os erros do passado é como assinar nosso atestado de incompetência, então, se você se interessa por tecnologia e como ela se torna sensível para uma sociedade em transformação, essa produção da HBO é a escolha perfeita e vai te provocar ótimas reflexões!
Ah, e antes de finalizar, você sabe de onde surgiu o termo "bug" para uma falha tecnológica?
Divirta-se!
"Y2K: Bomba-Relógio" é um documentário clássico, ou seja, foge daquela estética moderninha de transformar uma história real em uma narrativa fluida cheia de intervenções gráficas, reconstituições ou depoimentos atuais. Não, aqui temos um recorte temporal baseado em imagens de arquivos muito bem montado, diga-se de passagem, para que tudo faça sentido como documento histórico. Embora esse conceito deixe a narrativa mais cadenciada, eu diria que para aqueles que apreciam tecnologia como estudo antropológico, claro que com um certo toque de nostalgia bem anos 90, esse documentário é imperdível. Dirigido pelo Brian Becker (de "America's War on Drugs") e pela estreante Marley McDonald, o filme mergulha nos bastidores do bug do milênio e destrincha como uma possível falha (ou escolha) administrativa se tornou uma ameaça de colapso global em 31 de dezembro de 1999.
"Y2K: Bomba-Relógio" nos convida a acompanhar a investigação sobre o bug do milênio, desde sua origem até as medidas drásticas tomadas pelo governo dos EUA para evitar uma verdadeira catástrofe mundial. Através de depoimentos com especialistas, programadores e figuras chave da época, como Bill Gates, Steve Jobs e o mensageiro do apocalipse digital, Peter de Jager, o documentário explora o desenvolvimento tecnológico do século passado pela perspectiva da dependência social e como as falhas nos sistemas computacionais teriam consequências potencialmente devastadoras. Confira o trailer (em inglês):
"É preciso pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro" - em uma época pós-pandemia pouca coisa faz tanto sentido quanto essa frase do historiador grego Heródoto. A partir dessa premissa, "Y2K: Bomba-Relógio" ganha força como obra documental e se torna tão especial por ser capaz de retratar com muita inteligência e sensibilidade uma época marcada tanto pela euforia tecnológica quanto pelo medo do desconhecido. A direção de Becker e McDonald utiliza poucos recursos gráficos que poderiam nos distrair, tudo para manter o foco no que realmente interessa: construir com imagens de arquivo uma linha temporal capaz de criar uma experiência imersiva no que foi o assunto de pelo menos 4 anos.
A qualidade das entrevistas, todas realizadas na época, de fato, fornecem diferentes perspectivas sobre o bug do milênio. Através de seus relatos, podemos entender a magnitude do problema e a importância do trabalho para evitá-lo. É nesse contexto que figuras como Peter de Jager se tornam referências de como a humanidade pode ser facilmente manipulada ao se sentir acuada - embora de uma forma mais dramática, é mais ou menos como assistimos em "O Nevoeiro" de 2007.
"Y2K: Bomba-Relógio" pode ser considerada mais do que um documentário sobre um bug do milênio (aquele que nunca aconteceu). Na verdade, ele é mais um lembrete da importância sobre tomar as decisões corretas sem pensar apenas no seu umbigo. Olhar para o ser humano ganancioso é dar a devida atenção para o que representa a segurança cibernética e a necessidade de estarmos preparados para enfrentar os desafios (que certamente virão) do futuro. Em um mundo tão infinitamente mais rápido do que em 1999, não aprender com os erros do passado é como assinar nosso atestado de incompetência, então, se você se interessa por tecnologia e como ela se torna sensível para uma sociedade em transformação, essa produção da HBO é a escolha perfeita e vai te provocar ótimas reflexões!
Ah, e antes de finalizar, você sabe de onde surgiu o termo "bug" para uma falha tecnológica?
Divirta-se!
"Zola" é o típico filme que desde a primeira cena já entendemos que "vai dar ruim" - mais ou menos como a sensação de assistir "Victória"! Porém o que envolve sua premissa é o fato de que essa história é inteiramente baseada em uma sequência de 150 tweets, onde A’Ziah King conta uma experiência maluca que de fato aconteceu com ela. O filme estreou no Festival de Sundance em 2020 e recebeu, em sua maioria, críticas muito positivas o credenciando para um contrato de distribuição internacional pela HBO.
A história é relativamente simples, pois narra um período de 48 horas em que duas mulheres que se tornam amigas por acaso, Zola (Taylour Paige) e Stefani (Riley Keough), partem para uma viagem para se apresentar em casas noturnas de Tampa, na Flórida, mas acabam envolvidas no perigoso submundo da prostituição. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela A24 e muito fiel a um cenário pesado da noite americana, a diretora Janicza Bravo (de "Lemon") impõe uma identidade muito particular para sua narrativa, trazendo elementos quase experimentais, mas que a ajudam a criar um mood perfeito para essa jornada. Com cortes rapidíssimos, e aqui o filme merece muito destaque já que a montadora Joi McMillon (indicada ao Oscar por "Moonlight") foi muito premiada por esse trabalho; e muitos planos captados pelas câmeras de celular das próprias atrizes, Bravo cria uma dinâmica angustiante nos dando a impressão que a noite nunca vai acabar. Um detalhe interessante merece sua atenção: todos os personagens ao redor de Zola parecem estar sempre alucinados, porém em nenhum momento assistimos algum consumo de drogas durante o filme.
Visualmente o filme usa e abusa do neon e das cores marcantes que encontramos na Flórida, mesmo quando o cenário transita do luxo para o lixo (e vice-versa). O fato de ter sido filmado em 16 mm, também ajuda na percepção granulada e vintage da composição estética. Algumas referências vindas do "estilo Scorsese" de construir sua linha narrativa ficam claras - do ritmo frenético das ações à protagonista narrando sua história com freeze frames e um rock anos 50 de fundo. Mas tudo funciona. Tanto Taylour Paige quanto Riley Keough entregam ótimas (mas propositalmente diferentes) performances, porém é impossível não destacar o trabalho de Nicholas Braun (o eterno Greg de Succession).
"Zola" vai agradar mais aqueles que se conectam com produções independentes e circulam pelos festivais de cinema com muita propriedade. O fato da história ser real ajuda na nossa imersão pela história e nos faz torcer pela protagonista, porém uma coisa é fato: em nada o filme se aproxima da gramática convencional dos roteiros de cinema, ou seja. você vai assistir uma história que parece estar sendo cobrada por alguém ou lida em uma curiosa sequência de tweets.
Vale a pena!
"Zola" é o típico filme que desde a primeira cena já entendemos que "vai dar ruim" - mais ou menos como a sensação de assistir "Victória"! Porém o que envolve sua premissa é o fato de que essa história é inteiramente baseada em uma sequência de 150 tweets, onde A’Ziah King conta uma experiência maluca que de fato aconteceu com ela. O filme estreou no Festival de Sundance em 2020 e recebeu, em sua maioria, críticas muito positivas o credenciando para um contrato de distribuição internacional pela HBO.
A história é relativamente simples, pois narra um período de 48 horas em que duas mulheres que se tornam amigas por acaso, Zola (Taylour Paige) e Stefani (Riley Keough), partem para uma viagem para se apresentar em casas noturnas de Tampa, na Flórida, mas acabam envolvidas no perigoso submundo da prostituição. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela A24 e muito fiel a um cenário pesado da noite americana, a diretora Janicza Bravo (de "Lemon") impõe uma identidade muito particular para sua narrativa, trazendo elementos quase experimentais, mas que a ajudam a criar um mood perfeito para essa jornada. Com cortes rapidíssimos, e aqui o filme merece muito destaque já que a montadora Joi McMillon (indicada ao Oscar por "Moonlight") foi muito premiada por esse trabalho; e muitos planos captados pelas câmeras de celular das próprias atrizes, Bravo cria uma dinâmica angustiante nos dando a impressão que a noite nunca vai acabar. Um detalhe interessante merece sua atenção: todos os personagens ao redor de Zola parecem estar sempre alucinados, porém em nenhum momento assistimos algum consumo de drogas durante o filme.
Visualmente o filme usa e abusa do neon e das cores marcantes que encontramos na Flórida, mesmo quando o cenário transita do luxo para o lixo (e vice-versa). O fato de ter sido filmado em 16 mm, também ajuda na percepção granulada e vintage da composição estética. Algumas referências vindas do "estilo Scorsese" de construir sua linha narrativa ficam claras - do ritmo frenético das ações à protagonista narrando sua história com freeze frames e um rock anos 50 de fundo. Mas tudo funciona. Tanto Taylour Paige quanto Riley Keough entregam ótimas (mas propositalmente diferentes) performances, porém é impossível não destacar o trabalho de Nicholas Braun (o eterno Greg de Succession).
"Zola" vai agradar mais aqueles que se conectam com produções independentes e circulam pelos festivais de cinema com muita propriedade. O fato da história ser real ajuda na nossa imersão pela história e nos faz torcer pela protagonista, porém uma coisa é fato: em nada o filme se aproxima da gramática convencional dos roteiros de cinema, ou seja. você vai assistir uma história que parece estar sendo cobrada por alguém ou lida em uma curiosa sequência de tweets.
Vale a pena!
Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!
Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original) tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.
O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.
Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!
Vale seu play!
Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!
Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original) tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.
O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.
Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!
Vale seu play!
Mais do que um soco no estômago (o que de fato, é), "Zona de Interesse" é um verdadeiro tapa na cara da audiência quando, respeitando a potência e a importância da história que está sendo contata, criamos uma certa analogia com o mundo que vivemos hoje - especialmente se olharmos pelo prisma das diferenças sociais tão latentes e que cada vez vem ganhando mais espaço e profundidade pelas mãos do cinema independente (basta olharmos para o sucesso de "Parasita", por exemplo). Pois bem, o filme do diretor Jonathan Glazer nem de longe será uma unanimidade e certamente deve afastar aqueles que buscam respostas claras em uma narrativa. Aqui temos uma experiência cinematográfica visceral e perturbadora, mas muito mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado - não por acaso que o filme surpreendeu no Oscar 2024 ao levar o prêmio de Melhor Desenho de Som. Aclamado pela crítica e vencedor do prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes, além do Oscar de Melhor Filme Internacional, "Zona de Interesse" nos leva a um olhar instigante sobre a banalidade do egoísmo e da relação humana perante o desconfortável.
Na trama acompanhamos o comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) enquanto constroem uma vida familiar bucólica em uma casa de luxo exatamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz. A rotina doméstica, com seus afazeres banais e conversas triviais, contrasta brutalmente com os horrores que se desenrolam a poucos metros de distância - não raramente simbolizado pelos sons de tiros, gritos e até de um potente incinerador noturno. Essa justaposição cria um efeito tão desconcertante que temos a exata noção do que é morar ao lado do inferno sem ter que olhar para ele. Confira o trailer e sinta o clima:
"Zona de Interesse" não é um filme fácil de assistir - em sua forma e em seu conteúdo. Através de sua abordagem original e corajosa, o filme nos convida a confrontar os horrores do passado e a refletir sobre as raízes do mal, tanto na sociedade quanto no indivíduo - existe um tom de urgência em sua proposta conceitual que sem a menor dúvida coloca o filme naquela prateleira de obra tão necessária quanto importante.Glazer, que basicamente construiu sua carreira dirigindo videos musicais de bandas consagradas como "Massive Attack"e "Radiohead", utiliza uma série de recursos técnicos e estéticos para criar e desenvolver a atmosfera extremamente claustrofóbica e opressora de Auschwitz com o cuidado de não expor visualmente nenhum de seus horrores. Aqui o foco não é o horror em si, mas a percepção dele pelo olhar de quem não quer enfrentá-lo por estar em uma posição mais confortável socialmente.
A fotografia do grande Lukasz Zal (indicado ao Oscar por "Guerra Fria" e pelo fabuloso "Ida") se apropria de enquadramentos rigorosos para criar uma abismo estético entre o real e o fantasioso. Se de um lado do muro as cores brotam do chão a partir da delicadeza das flores em um encontro simbólico entre a paz, a segurança e a tranquilidade; do outro o que vemos é o frio e o monocromático dos tons de cinza e marrom. Reparem como essa experiência visual nos lembra o contraste tão marcante de "Florida Project". A direção precisa de Glazer (uma das melhores do ano) sabe nos provocar de uma maneira muito sensorial, nos jogando por uma jornada perturbadora, sem jamais cair na exploração gratuita da violência ou no sentimentalismo - e é com o apoio da trilha sonora minimalista e de um premiado desenho de som, que temos uma mixagem/aula sobre criação de desconforto e de angústia constantes.
"Zona de Interesse" é mesmo um filme imperdível, mas sua identidade mais independente tende a dividir opiniões. Sem perder aquele natural incômodo de um ritmo super cadenciado, Glazer parece não querer questionar os motivos das crueldades que acontecem do "outro lado do muro" ou até mesmo as motivações dos Höss em se fazerem de surdos em troca de uma vida pautada pela comodidade - e aqui é muito interessante reparar como os personagens secundários lidam com essa mesma condição, mas com propósitos diametralmente opostos. Ainda que o filme pareça trazer para os holofotes toda a crueldade nazista, seu objetivo mesmo é pontuar como o comportamento humano se adapta àquela zona de conforto (ou de interesse) sem muito questionar o status quo.
Imperdível em vários sentidos!
Mais do que um soco no estômago (o que de fato, é), "Zona de Interesse" é um verdadeiro tapa na cara da audiência quando, respeitando a potência e a importância da história que está sendo contata, criamos uma certa analogia com o mundo que vivemos hoje - especialmente se olharmos pelo prisma das diferenças sociais tão latentes e que cada vez vem ganhando mais espaço e profundidade pelas mãos do cinema independente (basta olharmos para o sucesso de "Parasita", por exemplo). Pois bem, o filme do diretor Jonathan Glazer nem de longe será uma unanimidade e certamente deve afastar aqueles que buscam respostas claras em uma narrativa. Aqui temos uma experiência cinematográfica visceral e perturbadora, mas muito mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado - não por acaso que o filme surpreendeu no Oscar 2024 ao levar o prêmio de Melhor Desenho de Som. Aclamado pela crítica e vencedor do prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes, além do Oscar de Melhor Filme Internacional, "Zona de Interesse" nos leva a um olhar instigante sobre a banalidade do egoísmo e da relação humana perante o desconfortável.
Na trama acompanhamos o comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) enquanto constroem uma vida familiar bucólica em uma casa de luxo exatamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz. A rotina doméstica, com seus afazeres banais e conversas triviais, contrasta brutalmente com os horrores que se desenrolam a poucos metros de distância - não raramente simbolizado pelos sons de tiros, gritos e até de um potente incinerador noturno. Essa justaposição cria um efeito tão desconcertante que temos a exata noção do que é morar ao lado do inferno sem ter que olhar para ele. Confira o trailer e sinta o clima:
"Zona de Interesse" não é um filme fácil de assistir - em sua forma e em seu conteúdo. Através de sua abordagem original e corajosa, o filme nos convida a confrontar os horrores do passado e a refletir sobre as raízes do mal, tanto na sociedade quanto no indivíduo - existe um tom de urgência em sua proposta conceitual que sem a menor dúvida coloca o filme naquela prateleira de obra tão necessária quanto importante.Glazer, que basicamente construiu sua carreira dirigindo videos musicais de bandas consagradas como "Massive Attack"e "Radiohead", utiliza uma série de recursos técnicos e estéticos para criar e desenvolver a atmosfera extremamente claustrofóbica e opressora de Auschwitz com o cuidado de não expor visualmente nenhum de seus horrores. Aqui o foco não é o horror em si, mas a percepção dele pelo olhar de quem não quer enfrentá-lo por estar em uma posição mais confortável socialmente.
A fotografia do grande Lukasz Zal (indicado ao Oscar por "Guerra Fria" e pelo fabuloso "Ida") se apropria de enquadramentos rigorosos para criar uma abismo estético entre o real e o fantasioso. Se de um lado do muro as cores brotam do chão a partir da delicadeza das flores em um encontro simbólico entre a paz, a segurança e a tranquilidade; do outro o que vemos é o frio e o monocromático dos tons de cinza e marrom. Reparem como essa experiência visual nos lembra o contraste tão marcante de "Florida Project". A direção precisa de Glazer (uma das melhores do ano) sabe nos provocar de uma maneira muito sensorial, nos jogando por uma jornada perturbadora, sem jamais cair na exploração gratuita da violência ou no sentimentalismo - e é com o apoio da trilha sonora minimalista e de um premiado desenho de som, que temos uma mixagem/aula sobre criação de desconforto e de angústia constantes.
"Zona de Interesse" é mesmo um filme imperdível, mas sua identidade mais independente tende a dividir opiniões. Sem perder aquele natural incômodo de um ritmo super cadenciado, Glazer parece não querer questionar os motivos das crueldades que acontecem do "outro lado do muro" ou até mesmo as motivações dos Höss em se fazerem de surdos em troca de uma vida pautada pela comodidade - e aqui é muito interessante reparar como os personagens secundários lidam com essa mesma condição, mas com propósitos diametralmente opostos. Ainda que o filme pareça trazer para os holofotes toda a crueldade nazista, seu objetivo mesmo é pontuar como o comportamento humano se adapta àquela zona de conforto (ou de interesse) sem muito questionar o status quo.
Imperdível em vários sentidos!