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Untold: Briga na NBA

"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).

Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):

Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte. 

O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência. 

Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!

Vale seu play!

Assista Agora

"Briga na NBA" é mais um documentário imperdível do selo "Untold" - eu diria, inclusive, que além de muito interessante e curioso, essa produção da Netflix pode ser considerada um importante estudo de caso sobre a capacidade emocional de atletas de alto rendimento - principalmente ao tratar dos reflexos da enorme pressão quando muitos deles se colocam como responsáveis por tirar suas famílias de situações de pobreza ou vulnerabilidade social (um assunto muito discutido em "Last Chance U", por exemplo).

Considerada a pior confusão da história da NBA, "Untold: Briga na NBA" destrincha em detalhes os motivos que culminaram em uma pancadaria generalizada entre jogadores do Indiana Pacers, em especial Ron Artest (Metta World Peace), Stephen Jackson e Jermaine O'Neal, os jogadores do Detroit Pistons, principalmente com Ben Wallace, e a torcida da casa, no final de um jogo em 2004. Uma briga que acabou saindo de qualquer controle e indo, inclusive, para as arquibancadas do The Palace Auburn Hills, em Detroit, envolvendo centenas de pessoas entre atletas, torcedores, seguranças e policiais. Confira o trailer (em inglês):

Embora o caso tenha envolvido muita gente, o documentário foi muito feliz em construir a sua linha narrativa em cima de dois personagens-chaves: Ron Artest (hoje conhecido como Metta World Peace) eJermaine O’Neal. Stephen Jackson até tem certa relevância durante os acontecimentos, mas eu diria que Artest e O’Neal são, de fato, os protagonistas - o interessante, inclusive, é que depois dos fatos ocorridos em Detroit, pouco se ouviu deles e essa postura, como será retratado no documentário, ultrapassa os limites da quadra e do esporte. 

O diretor Floyd Russ (de "Zion", também da Netflix) parte de entrevistas reveladoras para aí sim investigar o que aconteceu naquela noite de sexta-feira em Detroit. O foco é entender o bastidores daquele dia, o histórico dos envolvidos e o contexto de "como" e "porquê" várias pessoas começaram (ou entraram) naquela briga. Olhar para o íntimo dos protagonistas, sem a menor dúvida, ajuda a entender como um erro cometido naquele momento marcou para sempre suas carreiras e até mesmo suas vidas. Além de muitos depoimentos de torcedores que estavam envolvidos, dos atletas, de executivos da NBA e até dos policias, ainda temos muitas imagens de arquivo e reportagens da época que ilustram perfeitamente o caso e ainda criam uma dinâmica bastante agradável para a audiência. 

Essencialmente para o fã do esporte, "Untold: Briga na NBA" lembra muito os documentários produzidos pela ESPN Films - na qualidade técnica, no conteúdo jornalístico e na forma cinematográfica como a história é contada, ou seja, se você gostou de histórias como "Sobre Milagres e Homens" ou "Al Davis vs. The NFL", você certamente vai se deliciar com esse episódio marcante do esporte americano retratado nessa maravilhosa série antológica - imperdível!

Vale seu play!

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Untold: Crime e Infrações

Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

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Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

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Untold: Federer x Fish

Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

Vale seu play!

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Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

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Untold: Pacto com o Diabo

Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.  

A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):

O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!

Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.

Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.

Vale seu play! 

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Muito antes dos grandes eventos do UFC e especificamente de Ronda Rousey (lutadora considerada a melhor atleta feminina de todos os tempos pela ESPN americana em 2015) existiu uma boxeadora chamada Christy Martin que foi considerada uma espécie de versão feminina de Mike Tyson pelo próprio Don King (maior produtor de lutas de boxe de todos os tempos). Mais do que um episódio especifico da carreira de Martin, "Pacto com o Diabo", do selo "Untold", faz um recorte biográfico importante da esportista, mostrando sua ascensão, claro, mas principalmente os reflexos de uma relação conturbada com seu então técnico, Jim Martin.  

A sinopse oficial descreve o episódio da seguinte maneira: em pouco mais de 70 minutos, conhecemos a história da boxeadora Christy Martin, que quebrou barreiras dentro do ringue, se consagrando como uma das melhores atletas do boxe feminino. No entanto, sua luta se seguiu de forma dolorosa também em sua vida pessoal, com ela lidando com seus próprios demônios, abusos e uma grave ameaça. Confira o trailer (em inglês):

O mais biográfico de todos os episódios até aqui, considerando as análises que já fizemos de "Crime e Infrações", "Briga na NBA" e "Federer x Fish", "Pacto com o Diabo" deu um tiro certo ao iniciar sua narrativa provocando a nossa curiosidade já que "de cara" sabemos que algo deu errado na vida da protagonista, mas não sabemos exatamente "o que". Muito bem dirigido pela Laura Brownson (de "O Caso Rachel Dolezal"), o episódio gera certa ansiedade para entender "onde" e "como" sua carreira mudou, já que nos primeiros atos assistimos apenas o seu sucesso como atleta que, de fato, é impressionante!

Com inúmeros depoimentos que vão de Mike Tyson à Laila Ali (filha de Muhammad Ali e também boxeadora profissional), imagens de arquivo pessoal e várias reportagens da época em que lutava, temos um episódio com uma estrutura bastante dinâmica que está sempre ancorado no suspense, através da voz e da imagem da própria Christy Martin contando o seu ponto de vista da história sem tanta pressa. Porém o que transforma o filme em algo ainda mais interessante, é a presença (incômoda) de Jim Martin sendo entrevistado diretamente, vejam só, da cadeia. Até mais ou menos o final do segundo ato, não sabemos exatamente o que aconteceu com Jim e se sua prisão tem algo a ver com Christy, mas independente de qualquer pré-julgamento, a diretora, em nenhum momento, impede que ele conte a sua versão, faça as suas considerações e até revisite a história com a mulher que ele diz ter amado por muitos anos.

Outro grande acerto, sem dúvida, é a forma como a narrativa expõe os bastidores do boxe e a relação sempre dúbia do esporte (fantasiado de showbiz) com o dinheiro. Dito isso, eu tendo a definir que "Untold: Pacto com o Diabo" tem um conceito até mais próximo de "Pistorius" do que dos outros episódios da série, ou seja, embora os feitos esportivos sejam impressionantes, é no bastidor que a história ganha força e surpreende a audiência.

Vale seu play! 

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Utoya 22 de Julho

Utoya 22 de Julho

"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.

Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:

O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!

"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!

PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.

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"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.

Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:

O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!

"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!

PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.

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Val

Val

"Val" é um documentário sensacional, mas duro - pela coragem, pela humanidade e pela desconstrução de um símbolo de sucesso, fama e dinheiro tão particular dos astros de Hollywood nos anos 80 e 90 que trouxeram para os holofotes celebridades como Tom Cruise, Kevin Bacon e até Sean Penn. Essa produção original da A24 e distribuído pela Amazon, não suaviza em nenhum momento a jornada pessoal e profissional de Val Kilmer, mesmo quando rotulado de coadjuvante de luxo.  

Val Kilmer, um dos atores mais inconstantes de Hollywood, vem documentando sua vida e arte em milhares de gravações: de filmes caseiros com os irmãos, a momentos vividos enquanto interpretava papeis icônicos em filmes de sucesso como "Top Gun" e "Batman". Este documentário franco e original revela uma vida pautada por extremos, e um olhar cheio de emoção sobre o que significa ser artista. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela dupla de estreantes Ting Poo e Leo Scott, o documentário faz um passeio pela história do ator com o claro propósito de desconstruir a celebridade e humanizar a jornada - é um verdadeiro mergulho na experiência de entender quem é Val Kilmer. O tema central (e seu protagonista) pode até soar desinteressante para muitos, mas acredite: talvez seja um dos recortes mais sinceros que assisti recentemente sobre o outro lado de ser uma celebridade. E aqui não dá para deixar de citar um documentário que vai muito nessa linha e que também vale sua atenção: "Showbiz Kids"da HBO Max.

A escolha por uma narrativa não-linear dá um ritmo muito interessante para o documentário, criando uma espécie de contraposição entre imagens de um Val Kilmer insatisfeito e ansioso em seu auge como ator promissor, com cenas dele completamente fragilizado, graças ao efeito devastador das cirurgias e sessões de radioterapia e quimioterapia que salvaram sua vida quando ele precisou cancelar a turnê de sua peça teatral devido a um câncer na garganta, em 2017. É preciso dizer que essa dicotomia é muito impressionante - observar sua dificuldade ao lidar com o aparelho de traqueostomia instalado em seu pescoço, impacta. 

Por outro lado, "Val" está cheio de curiosidades muito além dos bastidores de Hollywood - do desejo de se tornar ator, passando pela fase de estudos até as primeiras oportunidades, o documentário, de fato, não romantiza em nada a jornada de um aspirante ao sucesso. São inúmeras audições, decepções e intrigas. Mas também conquistas e reconhecimentos - os comentários dele sobre sua escolha para substituir Michael Keaton em "Batman" e sua dificuldade em atuar com o traje do herói, além dos problemas de relação com o diretor John Frankenheimer no set de "A Ilha do Dr. Moreau" onde contracenaria com seu ídolo Marlon Brando, são fascinantes.

"Val" é um documentário forte, melancólico e, sobretudo, de entendimento da vida e da obra do ator de 61 anos que teve momentos memoráveis, mas que também foi marcada pela irregularidade. De um jovem que trazia consigo um ideal romântico sobre a arte da atuação, mas que sucumbiu aos desejos comerciais dos Estúdios em uma época onde ser "Iceman" era mais valorizado do que ser "Hamlet".

Vale muito a pena!

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"Val" é um documentário sensacional, mas duro - pela coragem, pela humanidade e pela desconstrução de um símbolo de sucesso, fama e dinheiro tão particular dos astros de Hollywood nos anos 80 e 90 que trouxeram para os holofotes celebridades como Tom Cruise, Kevin Bacon e até Sean Penn. Essa produção original da A24 e distribuído pela Amazon, não suaviza em nenhum momento a jornada pessoal e profissional de Val Kilmer, mesmo quando rotulado de coadjuvante de luxo.  

Val Kilmer, um dos atores mais inconstantes de Hollywood, vem documentando sua vida e arte em milhares de gravações: de filmes caseiros com os irmãos, a momentos vividos enquanto interpretava papeis icônicos em filmes de sucesso como "Top Gun" e "Batman". Este documentário franco e original revela uma vida pautada por extremos, e um olhar cheio de emoção sobre o que significa ser artista. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela dupla de estreantes Ting Poo e Leo Scott, o documentário faz um passeio pela história do ator com o claro propósito de desconstruir a celebridade e humanizar a jornada - é um verdadeiro mergulho na experiência de entender quem é Val Kilmer. O tema central (e seu protagonista) pode até soar desinteressante para muitos, mas acredite: talvez seja um dos recortes mais sinceros que assisti recentemente sobre o outro lado de ser uma celebridade. E aqui não dá para deixar de citar um documentário que vai muito nessa linha e que também vale sua atenção: "Showbiz Kids"da HBO Max.

A escolha por uma narrativa não-linear dá um ritmo muito interessante para o documentário, criando uma espécie de contraposição entre imagens de um Val Kilmer insatisfeito e ansioso em seu auge como ator promissor, com cenas dele completamente fragilizado, graças ao efeito devastador das cirurgias e sessões de radioterapia e quimioterapia que salvaram sua vida quando ele precisou cancelar a turnê de sua peça teatral devido a um câncer na garganta, em 2017. É preciso dizer que essa dicotomia é muito impressionante - observar sua dificuldade ao lidar com o aparelho de traqueostomia instalado em seu pescoço, impacta. 

Por outro lado, "Val" está cheio de curiosidades muito além dos bastidores de Hollywood - do desejo de se tornar ator, passando pela fase de estudos até as primeiras oportunidades, o documentário, de fato, não romantiza em nada a jornada de um aspirante ao sucesso. São inúmeras audições, decepções e intrigas. Mas também conquistas e reconhecimentos - os comentários dele sobre sua escolha para substituir Michael Keaton em "Batman" e sua dificuldade em atuar com o traje do herói, além dos problemas de relação com o diretor John Frankenheimer no set de "A Ilha do Dr. Moreau" onde contracenaria com seu ídolo Marlon Brando, são fascinantes.

"Val" é um documentário forte, melancólico e, sobretudo, de entendimento da vida e da obra do ator de 61 anos que teve momentos memoráveis, mas que também foi marcada pela irregularidade. De um jovem que trazia consigo um ideal romântico sobre a arte da atuação, mas que sucumbiu aos desejos comerciais dos Estúdios em uma época onde ser "Iceman" era mais valorizado do que ser "Hamlet".

Vale muito a pena!

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Vale o Escrito

Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.

"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:

Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.

De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo! 

Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor"aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.

Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!

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Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.

"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:

Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.

De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo! 

Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor"aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.

Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!

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Verdades Dolorosas

Antes de iniciar esse review, uma pergunta: você mentiria para seu companheiro com o intuito de não desmotivá-lo perante uma jornada? Pois bem, é na tentativa de responder essa pergunta capciosa que a diretora e roteirista Nicole Holofcener (dos excelentes "Mrs. Fletcher" e "Togetherness") constrói um retrato ácido e comovente sobre as relações e as complexidades do casamento pela perspectiva da insegurança e da busca pela validação mesmo depois de uma certa idade. "Verdades Dolorosas" é um filme leve, divertido, mas muito realista - tão realista que não serão poucas as vezes que você vai se pegar rindo de si mesma ao se ver retratada na tela. Mas fica um aviso: ao melhor estilo Woody Allen, o filme ambientado em Nova York é quase uma crônica sobre as neuroses e os dilemas da classe média alta que, mais do que nos divertir, nos convida para ótimas reflexões, ou seja, é preciso gostar desse estilo narrativo onde o charme da história está naquilo com que nos identificamos, não necessariamente naquilo que estamos assistindo.

Protagonizado pela icônica Julia Louis-Dreyfus (de "Veep") e pelo versátil Tobias Menzies (de "The Crown" e "Game of Thrones"), "You Hurt My Feelings" (no original) acompanha a jornada de Beth, uma romancista de sucesso, e Don, seu marido, em uma vida aparentemente perfeita, mas que começa a ruir quando ela acidentalmente ouve ele criticando seu novo livro de forma brutal e honesta, mesmo dizendo repetidamente para ela que havia gostado! Confira o trailer:

A partir de um evento aparentemente banal, "Verdades Dolorosas" tece uma narrativa rica em nuances, explorando os meandros da comunicação, a fragilidade do ego e os questionamentos que surgem quando a verdade nua e crua é exposta. Como já havia provado em seus outros trabalhos, Holofcener demonstra maestria na construção de personagens para esse tipo de embate, explorando camadas e ambiguidades que os tornam extremamente humanos e cativantes - daí a facilidade de identificação com as dores e frustrações de cada um deles.  

Obviamente que a química entre Louis-Dreyfus e Menzies ajuda muito nessa entrega - a relação de seus personagens é tão palpável quanto suas performances, transbordando sensações e sentimentos repletos de emoção. Veja, o trabalho de Holofcener como diretora (essencialmente de atores) permite que eles transitem com a mesma competência entre a comédia sutil até o drama mais intimista onde percebemos uma real e profunda dor, só que sem pesar muito na mão. Existe uma precisão e uma sensibilidade que somados ao trabalho magistral do fotógrafo Jeffrey Waldron (de "The Morning Show") elevam a qualidade da narrativa colocando-a em outro patamar - o que eu quero dizer é que, por mais que possa parecer bobinha em um primeiro olhar, "Verdades Dolorosas" vai te tocar. Waldron usa uma câmera mais fixa e lentes mais fechadas para criar uma atmosfera intimista e claustrofóbica que reflete o estado emocional dos personagens, enquanto seus planos mais abertos passeiam por uma charmosa e apaixonante Nova York. A trilha sonora mais minimalista, composta por Michael Andrews, sem dúvida, complementa essa atmosfera com notas melancólicas e introspectivas, ao mesmo tempo otimistas e emotivas.

O fato é que "Verdades Dolorosas" não se limita a ser apenas um filme sobre um casamento em crise. Aqui temos uma reflexão profunda (e divertida) sobre a natureza das relações verdadeiramente sinceras, senão pelas palavras, pelo receio de magoar quem realmente amamos. Discussões sobre a busca pela aprovação do outro e a importância de uma comunicação honesta em qualquer relacionamento estão ali, mas acredite: a beleza desse filme está no entendimento de que a última coisa que queremos é magoar aqueles que escolhemos para dividir essa jornada complicada chamada vida!

Vale seu play!

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Antes de iniciar esse review, uma pergunta: você mentiria para seu companheiro com o intuito de não desmotivá-lo perante uma jornada? Pois bem, é na tentativa de responder essa pergunta capciosa que a diretora e roteirista Nicole Holofcener (dos excelentes "Mrs. Fletcher" e "Togetherness") constrói um retrato ácido e comovente sobre as relações e as complexidades do casamento pela perspectiva da insegurança e da busca pela validação mesmo depois de uma certa idade. "Verdades Dolorosas" é um filme leve, divertido, mas muito realista - tão realista que não serão poucas as vezes que você vai se pegar rindo de si mesma ao se ver retratada na tela. Mas fica um aviso: ao melhor estilo Woody Allen, o filme ambientado em Nova York é quase uma crônica sobre as neuroses e os dilemas da classe média alta que, mais do que nos divertir, nos convida para ótimas reflexões, ou seja, é preciso gostar desse estilo narrativo onde o charme da história está naquilo com que nos identificamos, não necessariamente naquilo que estamos assistindo.

Protagonizado pela icônica Julia Louis-Dreyfus (de "Veep") e pelo versátil Tobias Menzies (de "The Crown" e "Game of Thrones"), "You Hurt My Feelings" (no original) acompanha a jornada de Beth, uma romancista de sucesso, e Don, seu marido, em uma vida aparentemente perfeita, mas que começa a ruir quando ela acidentalmente ouve ele criticando seu novo livro de forma brutal e honesta, mesmo dizendo repetidamente para ela que havia gostado! Confira o trailer:

A partir de um evento aparentemente banal, "Verdades Dolorosas" tece uma narrativa rica em nuances, explorando os meandros da comunicação, a fragilidade do ego e os questionamentos que surgem quando a verdade nua e crua é exposta. Como já havia provado em seus outros trabalhos, Holofcener demonstra maestria na construção de personagens para esse tipo de embate, explorando camadas e ambiguidades que os tornam extremamente humanos e cativantes - daí a facilidade de identificação com as dores e frustrações de cada um deles.  

Obviamente que a química entre Louis-Dreyfus e Menzies ajuda muito nessa entrega - a relação de seus personagens é tão palpável quanto suas performances, transbordando sensações e sentimentos repletos de emoção. Veja, o trabalho de Holofcener como diretora (essencialmente de atores) permite que eles transitem com a mesma competência entre a comédia sutil até o drama mais intimista onde percebemos uma real e profunda dor, só que sem pesar muito na mão. Existe uma precisão e uma sensibilidade que somados ao trabalho magistral do fotógrafo Jeffrey Waldron (de "The Morning Show") elevam a qualidade da narrativa colocando-a em outro patamar - o que eu quero dizer é que, por mais que possa parecer bobinha em um primeiro olhar, "Verdades Dolorosas" vai te tocar. Waldron usa uma câmera mais fixa e lentes mais fechadas para criar uma atmosfera intimista e claustrofóbica que reflete o estado emocional dos personagens, enquanto seus planos mais abertos passeiam por uma charmosa e apaixonante Nova York. A trilha sonora mais minimalista, composta por Michael Andrews, sem dúvida, complementa essa atmosfera com notas melancólicas e introspectivas, ao mesmo tempo otimistas e emotivas.

O fato é que "Verdades Dolorosas" não se limita a ser apenas um filme sobre um casamento em crise. Aqui temos uma reflexão profunda (e divertida) sobre a natureza das relações verdadeiramente sinceras, senão pelas palavras, pelo receio de magoar quem realmente amamos. Discussões sobre a busca pela aprovação do outro e a importância de uma comunicação honesta em qualquer relacionamento estão ali, mas acredite: a beleza desse filme está no entendimento de que a última coisa que queremos é magoar aqueles que escolhemos para dividir essa jornada complicada chamada vida!

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Vice

Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!

"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente. 

"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!

(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.

(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!

(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!

(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!

(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!

(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!

Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!

O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.

Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!

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Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!

"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente. 

"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!

(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.

(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!

(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!

(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!

(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!

(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!

Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!

O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.

Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!

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Victoria

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

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Vidas à Deriva

Você vai se surpreender - principalmente se você gosta de filmes angustiantes, baseado em fatos reais, como "127 Horas", por exemplo. Aliás, "Vidas à Deriva" é sim mais "um filme de ator" e admito: fiquei muito impressionado com a performance de Shailene Woodley (de "Big Little Lies") - praticamente sozinha, como James Franco (diga-se de passagem), ela é capaz de nos conectar com aquele pesadelo de uma forma muito particular, homeopática até, se aproveitando muito bem do "tempo de tela" para potencializar o valor do silêncio, da solidão, da reflexão e da angustia, que nos provoca, nos tira da zona de conforto e, finalmente, nos emociona! 

Apaixonados, os noivos Tami Oldham (Shailene Woodley) e Richard Sharp (Sam Claflin) velejam em mar aberto quando são atingidos por uma terrível tempestade. Passada a tormenta, ela se vê completamente perdida na embarcação em ruínas e tenta encontrar uma maneira de salvar a própria vida e a do parceiro bastante machucado. Confira o trailer:

Dirigido pelo talentoso cineasta islandês Baltasar Kormákur (de "A Fera") e escrito pelo trio Aaron Kandell, Jordan Kandell (ambos de "Moana") e David Branson Smith (de "UnReal"), "Vidas à Deriva" funciona basicamente como dois filmes em um - o primeiro é pautado no relacionamento de Oldham e Sharp; e o segundo na luta pela sobrevivência durante a deriva. Naturalmente, contada a partir de flashbacks, a versão romântica da história, de fato, não soa como das mais atraentes - tudo acontece tão rápido que mesmo com cenas belíssimas, muito bem fotografadas pelo craque Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars, o último por "Hugo"), fica difícil se envolver ou se identificar com aquela dinâmica entre os personagens (soa adolescente demais). Já o lado mais dramático do filme, esse sim funciona perfeitamente, algo como "Mar Aberto" - e aqui cabe um comentário: durante esse plot, não existe muita ação ou cortes mais acelerados para criar tensão; a própria situação já nos provoca inúmeras sensações que acabam colocando nossa experiência em outro patamar. Funciona e bem!

É claro que a escolha conceitual de misturar esses dois plots tão diferentes em uma montagem que vai e volta na linha temporal sem deixar muito espaço para nos localizarmos ou nos conectarmos com os personagens, cria um fluxo narrativo frágil, mas tambémnão deixa de ser interessante, só que prejudica uma imersão mais profunda e em determinadas passagens faz falta essa relação de empatia - principalmente no primeiro e segundo atos. Sinceramente isso não me atrapalhou, pois eu achei que os saltos aconteceram de forma bem orgânica e consciente - lembra um pouco "Lost" nesse sentido; mas imagino que isso pode incomodar parte da audiência.

A jornada contada pelos olhos de Tami contém desespero (reparem na cena em que ela nota um navio cargueiro vindo ao seu encontro) e também alívio (igualmente ótima a cena em que a ela comemora a chegada da chuva, nua, sobre a proa do barco), e é essa dicotomia que dá o tom de "Vidas à Deriva" - essa complexidade da personagem X o drama que ela esta vivendo, faz valer a jornada da mesma forma que nos faz esquecer o lado "love is in the air" do roteiro; porém, é inegável que o ponto de virada do terceiro ato e o que se segue, ajuda demais na conclusão emocionante e (aí sim) coerente dessa história de amor em meio ao caos!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Você vai se surpreender - principalmente se você gosta de filmes angustiantes, baseado em fatos reais, como "127 Horas", por exemplo. Aliás, "Vidas à Deriva" é sim mais "um filme de ator" e admito: fiquei muito impressionado com a performance de Shailene Woodley (de "Big Little Lies") - praticamente sozinha, como James Franco (diga-se de passagem), ela é capaz de nos conectar com aquele pesadelo de uma forma muito particular, homeopática até, se aproveitando muito bem do "tempo de tela" para potencializar o valor do silêncio, da solidão, da reflexão e da angustia, que nos provoca, nos tira da zona de conforto e, finalmente, nos emociona! 

Apaixonados, os noivos Tami Oldham (Shailene Woodley) e Richard Sharp (Sam Claflin) velejam em mar aberto quando são atingidos por uma terrível tempestade. Passada a tormenta, ela se vê completamente perdida na embarcação em ruínas e tenta encontrar uma maneira de salvar a própria vida e a do parceiro bastante machucado. Confira o trailer:

Dirigido pelo talentoso cineasta islandês Baltasar Kormákur (de "A Fera") e escrito pelo trio Aaron Kandell, Jordan Kandell (ambos de "Moana") e David Branson Smith (de "UnReal"), "Vidas à Deriva" funciona basicamente como dois filmes em um - o primeiro é pautado no relacionamento de Oldham e Sharp; e o segundo na luta pela sobrevivência durante a deriva. Naturalmente, contada a partir de flashbacks, a versão romântica da história, de fato, não soa como das mais atraentes - tudo acontece tão rápido que mesmo com cenas belíssimas, muito bem fotografadas pelo craque Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars, o último por "Hugo"), fica difícil se envolver ou se identificar com aquela dinâmica entre os personagens (soa adolescente demais). Já o lado mais dramático do filme, esse sim funciona perfeitamente, algo como "Mar Aberto" - e aqui cabe um comentário: durante esse plot, não existe muita ação ou cortes mais acelerados para criar tensão; a própria situação já nos provoca inúmeras sensações que acabam colocando nossa experiência em outro patamar. Funciona e bem!

É claro que a escolha conceitual de misturar esses dois plots tão diferentes em uma montagem que vai e volta na linha temporal sem deixar muito espaço para nos localizarmos ou nos conectarmos com os personagens, cria um fluxo narrativo frágil, mas tambémnão deixa de ser interessante, só que prejudica uma imersão mais profunda e em determinadas passagens faz falta essa relação de empatia - principalmente no primeiro e segundo atos. Sinceramente isso não me atrapalhou, pois eu achei que os saltos aconteceram de forma bem orgânica e consciente - lembra um pouco "Lost" nesse sentido; mas imagino que isso pode incomodar parte da audiência.

A jornada contada pelos olhos de Tami contém desespero (reparem na cena em que ela nota um navio cargueiro vindo ao seu encontro) e também alívio (igualmente ótima a cena em que a ela comemora a chegada da chuva, nua, sobre a proa do barco), e é essa dicotomia que dá o tom de "Vidas à Deriva" - essa complexidade da personagem X o drama que ela esta vivendo, faz valer a jornada da mesma forma que nos faz esquecer o lado "love is in the air" do roteiro; porém, é inegável que o ponto de virada do terceiro ato e o que se segue, ajuda demais na conclusão emocionante e (aí sim) coerente dessa história de amor em meio ao caos!

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Vinagre de Maçã

Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.

Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):

"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.

Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.

Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.

Vale muito o seu play!

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Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.

Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):

"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.

Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.

Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.

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Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio

Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.

O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:

A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.

Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.

Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!

"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!

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Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.

O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:

A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.

Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.

Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!

"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!

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Volta Priscila

Da mesma forma que eu disse que "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez"era uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens, certamente em "Volta Priscila" a condição será a mesma - esses quatro episódios vão dilacerar o seu coração! Dirigida por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues para o Disney+, "Volta Priscila" explora o misterioso e ainda não resolvido desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort. A produção traz uma abordagem sensível e cuidadosa sobre o caso, equilibrando o impacto emocional da tragédia familiar com uma análise investigativa dos eventos que levaram ao desaparecimento de Priscila em 2004. "Volta Priscila" não apenas revisita o caso, mas também lança luz sobre questões mais delicadas como as imposições nas relações familiares e o impacto da depressão na vida das pessoas.

A minissérie conta com entrevistas com familiares, amigos e envolvidos no processo que relembram os eventos em torno do desaparecimento de Priscila. Ela desapareceu em plena luz do dia no centro do Rio de Janeiro, e, apesar dos esforços incansáveis de sua família e de investigações, seu paradeiro ainda permanece desconhecido. O foco emocional da minissérie está em Jovita Belfort, que desde o desaparecimento da filha se tornou uma voz ativa na busca por respostas. Confira o trailer:

Inegavelmente que Rajabally e Rodrigues optam por uma abordagem delicada e respeitosa ao levantar algumas questões sobre o desaparecimento de Priscila - isso de fato impacta na nossa experiência como audiência já faltam provocações. Ao dar o play você não vai encontrar grandes novidades sobre o caso, mas vai entender perfeitamente todo o contexto familiar, pessoal e investigativo que deixaram muito mais perguntas do que respostas. Ao mesmo tempo que utilizam de recursos documentais tradicionais, como entrevistas e imagens de arquivo, a direção consegue entregar uma narrativa eficaz intercalando o passado e o presente, mas principalmente o intimo e o especulativo. Veja, com os depoimentos de Jovina, de Vitor, de Joana Prado e de algumas amigas de Priscila, temos um olhar humano e sincero do impacto devastador do desaparecimento em suas vidas. Os depoimentos de Joana, por exemplo, são especialmente tocantes, transmitindo a dor, a frustração e a esperança que perdura na família quase duas décadas depois, mas com um tom um pouco mais racional (mesmo que cheio de emoção).

Já quando minissérie explora o desaparecimento de Priscila em um cenário mais amplo, tentando analisar as falhas durante a investigação e como a mídia lidou com o caso, entendemos exatamente como algumas questões, especialmente institucionais, dificultam a busca por pessoas desaparecidas no país - minha crítica é pelo fato de não existir uma imersão tão evidente em alguns pontos sensíveis que facilmente percebemos durante a minissérie. A relação do pai de Priscila com o pai do namorado de sua filha, por exemplo, não é explorado, apenas citado. Aliás, só sabemos que a família desse namorado de Priscila é poderosa, mas não sabemos nem quem é e nem o que fazem (e consigo imaginar a razão)! Ao citar outras linhas de investigação durante esses "quase vinte anos", por outro lado, temos uma noção bem dolorosa de como é difícil lidar com as especulações e com a falta de humanidade das pessoas em um momento tão difícil. Em uma passagem do documentário, Vitor Belfort chega a falar abertamente sobre a dor permanente que a família enfrenta por ter que lidar com as respostas erradas diariamente: “Ontem meus pais enterraram minha irmã. Hoje temos que enterrar minha irmã de novo. É um enterro diário. É assim há 20 anos”!

Embora as investigações tenham chegado a vários becos sem saída, "Volta Priscila" foi inteligente ao revisitar alguns eventos, levantar algumas hipóteses e até discutir teorias que foram exploradas ao longo dos anos. Ao fazer isso, a minissérie nos mantém ligados, o tom de mistério nos acompanha e, sem sensacionalismo, cria uma abordagem interessante sobre o todo. Sim, eu sei que a falta de uma conclusão definitiva soa frustrante, dada a natureza não resolvida do caso, mas mais do que o aspecto "true crime" da narrativa, o recorte emocional é ainda mais potente - pode deixar uma sensação de vazio e talvez seja essa a razão que a torna interessante como conceito: tentar replicar 1% da dor que é viver com a incerteza! Funciona!

Vale muito o seu play!

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Da mesma forma que eu disse que "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez"era uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens, certamente em "Volta Priscila" a condição será a mesma - esses quatro episódios vão dilacerar o seu coração! Dirigida por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues para o Disney+, "Volta Priscila" explora o misterioso e ainda não resolvido desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort. A produção traz uma abordagem sensível e cuidadosa sobre o caso, equilibrando o impacto emocional da tragédia familiar com uma análise investigativa dos eventos que levaram ao desaparecimento de Priscila em 2004. "Volta Priscila" não apenas revisita o caso, mas também lança luz sobre questões mais delicadas como as imposições nas relações familiares e o impacto da depressão na vida das pessoas.

A minissérie conta com entrevistas com familiares, amigos e envolvidos no processo que relembram os eventos em torno do desaparecimento de Priscila. Ela desapareceu em plena luz do dia no centro do Rio de Janeiro, e, apesar dos esforços incansáveis de sua família e de investigações, seu paradeiro ainda permanece desconhecido. O foco emocional da minissérie está em Jovita Belfort, que desde o desaparecimento da filha se tornou uma voz ativa na busca por respostas. Confira o trailer:

Inegavelmente que Rajabally e Rodrigues optam por uma abordagem delicada e respeitosa ao levantar algumas questões sobre o desaparecimento de Priscila - isso de fato impacta na nossa experiência como audiência já faltam provocações. Ao dar o play você não vai encontrar grandes novidades sobre o caso, mas vai entender perfeitamente todo o contexto familiar, pessoal e investigativo que deixaram muito mais perguntas do que respostas. Ao mesmo tempo que utilizam de recursos documentais tradicionais, como entrevistas e imagens de arquivo, a direção consegue entregar uma narrativa eficaz intercalando o passado e o presente, mas principalmente o intimo e o especulativo. Veja, com os depoimentos de Jovina, de Vitor, de Joana Prado e de algumas amigas de Priscila, temos um olhar humano e sincero do impacto devastador do desaparecimento em suas vidas. Os depoimentos de Joana, por exemplo, são especialmente tocantes, transmitindo a dor, a frustração e a esperança que perdura na família quase duas décadas depois, mas com um tom um pouco mais racional (mesmo que cheio de emoção).

Já quando minissérie explora o desaparecimento de Priscila em um cenário mais amplo, tentando analisar as falhas durante a investigação e como a mídia lidou com o caso, entendemos exatamente como algumas questões, especialmente institucionais, dificultam a busca por pessoas desaparecidas no país - minha crítica é pelo fato de não existir uma imersão tão evidente em alguns pontos sensíveis que facilmente percebemos durante a minissérie. A relação do pai de Priscila com o pai do namorado de sua filha, por exemplo, não é explorado, apenas citado. Aliás, só sabemos que a família desse namorado de Priscila é poderosa, mas não sabemos nem quem é e nem o que fazem (e consigo imaginar a razão)! Ao citar outras linhas de investigação durante esses "quase vinte anos", por outro lado, temos uma noção bem dolorosa de como é difícil lidar com as especulações e com a falta de humanidade das pessoas em um momento tão difícil. Em uma passagem do documentário, Vitor Belfort chega a falar abertamente sobre a dor permanente que a família enfrenta por ter que lidar com as respostas erradas diariamente: “Ontem meus pais enterraram minha irmã. Hoje temos que enterrar minha irmã de novo. É um enterro diário. É assim há 20 anos”!

Embora as investigações tenham chegado a vários becos sem saída, "Volta Priscila" foi inteligente ao revisitar alguns eventos, levantar algumas hipóteses e até discutir teorias que foram exploradas ao longo dos anos. Ao fazer isso, a minissérie nos mantém ligados, o tom de mistério nos acompanha e, sem sensacionalismo, cria uma abordagem interessante sobre o todo. Sim, eu sei que a falta de uma conclusão definitiva soa frustrante, dada a natureza não resolvida do caso, mas mais do que o aspecto "true crime" da narrativa, o recorte emocional é ainda mais potente - pode deixar uma sensação de vazio e talvez seja essa a razão que a torna interessante como conceito: tentar replicar 1% da dor que é viver com a incerteza! Funciona!

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Voo 370

"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.

Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:

Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.

Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.

Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!

Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!

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"Voo 370: O Avião Que Desapareceu" é um documentário em três episódios dos mais interessantes, mas é preciso alinhar as expectativas antes do play: embora tenha a investigação do desaparecimento do avião da Malasya Airlines como foco principal, a força do roteiro gira mesmo em torno de três teorias (em diferentes níveis de possibilidades) sobre o que de fato pode ter acontecido naquela noite de 8 de março de 2014, no trajeto entre Malásia e China, e não nas respostas definitivas sobre o caso. E olha, te garanto, você vai se surpreendente com alguns pontos bem, digamos, misteriosos.

Quando o Boeing 777-200 da Malasya Airlines saiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur em direção ao Aeroporto Internacional de Pequim, tudo parecia bem - o clima era ótimo, a equipe experiente, o avião em perfeito estado; porém, 40 minutos após a decolagem, o avião simplesmente desapareceu dos radares sem deixar nenhum (nenhum mesmo) vestígio. A bordo estavam 239 pessoas, incluindo tripulação e passageiros. O caso não teve uma explicação aceitável dada pelas autoridades da Malásia e, até hoje, a caixa preta ou os restos mortais dos passageiros não foram encontrados. Confira o trailer:

Com direção de Louise Malkinson (do premiado "The Detectives: Murder on the Streets"), a minissérie da Netflix tenta conectar algumas das pontas soltas em um dos casos mais absurdos e curiosos da aviação moderna a partir de inúmeras entrevistas com os familiares das vítimas e especialistas em aviação, além de um trabalho excelente de pesquisa muito bem montado com várias imagens de arquivo e alguma dramatização, em um projeto que envolveu sete países durante toda a investigação.

Com roteiro da própria Malkinson, "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" se apoia em três teorias (para muitos "da conspiração") para tentar explicar detalhes importantes relacionados ao caso - as duas primeiras de autoria do jornalista Jeff Wise e a terceira baseado na obra "The Disappearing Act: The Impossible Case of MH370" de Florence de Changy. Essa dinâmica narrativa cria um vínculo com o mistério que nos impede de parar de assistir entre um episódio e outro - veja, o primeiro episódio, "O Piloto", procura investigar uma forte teoria que colocava o piloto Zaharie Ahmad Shah como principal suspeito - algo como se ele fosse o responsável por um suicido em massa. Já em "O Sequestro", entrevistados analisam uma teoria menos palpável, onde o avião poderia ter sido derrubado por grupos militares ou terroristas russos. Finalmente no terceiro e último episódio, "A Interceptação", outra teoria analisada aponta que o Boeing carregaria uma carga militar e que os EUA teriam abatido o avião para que ele não chegasse em território chinês.

Obviamente que nas três teorias, elementos não fazem sentido ou pelos menos fica difícil de acreditar, mas também é inegável que, no mínimo, cada uma delas coloca uma pulga atrás da nossa orelha - e é essa a graça de assistir "MH370: The Plane That Disappeared"(no original), pode acreditar. Antes de finalizarmos, aqui cabe um aviso: o documentário vai mexer com suas emoções, ele é intrigante, em alguns momentos um pouco angustiante e praticamente em toda a jornada, bastante comovente; então esteja preparado!

Se você gostou de "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", "Risco de Voo" ou "Milagre do Rio Hudson", pode dar o play sem receio algum!

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Vulcão Whakaari

Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!

Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):

Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.

A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.

O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!

Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena! 

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Assistir o documentário produzido pelo Leonardo DiCaprio, "Vulcão Whakaari" (que no Brasil ganhou o subtítulo "Resgate na Nova Zelândia"), definitivamente não é uma jornada das mais tranquilas. Muito mais do que contar as histórias de quem esteve no centro da tragédia, essa produção da Netflix tem o cuidado de contextualizar as relações humanas, conectar os sentimentos de uma forma bastante sensível e, claro, construir uma linha narrativa que nos provoque uma experiência das mais marcantes como obra audiovisual - de fato, os depoimentos de quem sobreviveu e de quem participou do resgate nos tocam a alma!

Em 2019, a erupção do Vulcão Whakaari (conhecido como White Island) na Nova Zelândia colocou a vida de cerca de 50 turistas em risco quando, inexplicavelmente, entrou em erupção após 3 anos de silêncio. Com filmagens detalhadas e relatos que repassam cada minuto da tragédia, os sobreviventes relembram o pesadelo que viveram naquele dia de dezembro. Confira o trailer (em inglês):

Diferente dos documentários que cobriram os ataques em 11 de setembro como "11/9 - A Vida sob Ataque", "The Volcano: Rescue from Whakaari" (no original) não te conquista logo de cara pela repercussão do evento, sua densidade como trama é gradativa e exige um pouco de paciência. Isso não é um problema, mas sim uma solução conceitual que justifica a forma como o clímax vai sendo construído - é inegável que o distanciamento entre os fatos que culminam na tragédia e quem assiste o filme (especialmente aqui no Brasil) nos deixam em uma espécie de "estado de espera" até que algumas informações (e imagens) vão surgindo e, aí sim, nos impactando de uma forma avassaladora.

A diretora Rory Kennedy (indicada ao Oscar em 2015 por "Last Days in Vietnam" e responsável pelo indigesto "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing") é craque em estabelecer o tamanho do problema de acordo com os testemunhos de quem sentiu a dor na pele. Kennedy vai se apropriando dos relatos para identificar alguns gatilhos emocionais que geram conexões imediatas, que nos prendem aos dramas pessoais e que ressignificam nossa posição de observador - um vulcão entrando em erupção parece não ter o mesmo valor que um avião batendo em um prédio no meio de Nova York até sabermos que o vapor desprendido por ele chega a 200 graus ou até vermos um helicóptero que ali estava, com suas hélices completamente derretidas após o fenômeno - ao ligarmos essas informações com as pessoas que não conseguiram sair a tempo da ilha, começamos a sentir o golpe.

O roteiro de Mark Bailey e Dallas Brennan, parceiros de longa data de Kennedy, ainda valoriza os feitos extraordinários de pessoas comuns que pelo "simples" impulso de ajudar o próximo, se colocam em perigo na busca incansável para recuperar uma vida - o interessante, inclusive, é que em nenhum momento o texto se apoia no sensacionalismo; todos os depoimentos, do chefe de policia da região ao piloto comercial de uma empresa de transporte aéreo, são muito humanos, sinceros, honestos. Agora é preciso que se diga um detalhe: embora sejam poucas as imagens da erupção em si (os áudios dos turistas são até mais impactantes do que as fotos ou as gravações dos celulares), o que vemos e ouvimos no terceiro ato de "Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia" é de cortar o coração - são realmente imagens fortes e depoimentos duros!

Se você realmente estiver disposto esse "play" vai valer a pena! 

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Waco

Se você gostou de "Chernobyl"da HBO, assista "Waco"!

Embora os assuntos sejam completamente diferentes, os elementos dramáticos que nos impactaram na trama que expôs o acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986, são exatamente os mesmos que colocam um enorme ponto de interrogação nas escolhas táticas da ATF (agência americana de controle de álcool, tabaco e armas) e depois do FBI, durante o processo de negociação para que uma seita religiosa na cidade Waco, no Texas, fosse dissolvida. Você vai se impressionar com o que vai assistir, então prepare o estômago!

A minissérie de seis episódios explora os detalhes da história real sobre os 51 dias de cerco montado pelo governo dos EUA contra a seita religiosa de David Koresh (Taylor Kitsch), os Branch Davidians. Trazendo perspectivas dos dois lados do conflito, "Waco" mostra de uma forma impactante qual o pior jeito de se enfrentar uma crise. Confira o trailer (em inglês):

Em 1993, a compra de armas em uma quantidade bastante suspeita chamou a atenção da ATF.  Quando descoberto que se tratava de uma seita religiosa, informações desencontradas rapidamente aumentaram o clima de tensão na pequena e árida Waco. Nos holofotes, de uma lado estava o intransigente líder religioso David Koresh, alguns homens, mulheres e crianças do Ramo Davidiano (uma seita criada por dissidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia); e de outro, um FBI completamente dividido entre os agentes a favor do uso de força militar como Mitch Decker (Shea Whigham), e os agentes pró-diplomacia, como o negociador-chefe Gary Noesner (Michael Shannon).

Embora o roteiro deixe algumas pontas soltas (que apenas os mais atentos devem perceber), ele tem o grande mérito de construir uma narrativa que explora os dois lados da história e nos provoca muitas reflexões. O fato da minissérie ter sido baseada nos livros, "Stalling for time", de Noesner, e "A place called Waco" de David Thibodeau, um dos sobreviventes da seita, deixa claro a intenção dos produtores John Erick Dowdle (diretor de filmes como "Quarentena" e "Horas de Desespero") e de seu irmão, Drew Dowdle (roteirista e produtor dos mesmos filmes), em levantar a discussão sobre a liberdade religiosa e como as agências do governo lidam com isso internamente.

Muito bem produzida pela Paramount, "Waco" é cuidadosa ao não romantizar a postura radical de Koresh, mesmo pontuando que os vilões da história são mesmo alguns agentes do FBI e da ATF. Em polêmicas revelações que envolveram o personagem, como poligamia e abuso de crianças (e tudo indique que a primeira seja verdadeira e a segunda completamente falsa), o roteiro mais ajuda do que atrapalha - a construção das camadas é tão profunda que nosso julgamento muda a cada episódio. Aliás, todos os episódios, especialmente o terceiro e o último, são de uma precisão narrativa impressionantes - é impossível não ser impactado pelo que assistimos.

"Waco" é o típico exemplo de uma minissérie sensacional, que está escondida no catálogo de uma plataforma de streaming (no caso da Globoplay) e que merecia muito mais destaque em marketing. A história é indigesta, forte, cruel até. Tecnicamente é impecável. Artisticamente uma aula - da direção do próprio John Erick Dowdle com a Dennie Gordon (de "Bloodline") às performances de todo elenco, com destaque para o já citado Kitsch, mas também sem esquecer de Shea Whigham, Michael Shannon, Paul Sparks, Julia Garner, Rory Culkin e o indicado ao Emmy de 2018 pelo papel, John Leguizamo.

Vale muito o seu play!

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Se você gostou de "Chernobyl"da HBO, assista "Waco"!

Embora os assuntos sejam completamente diferentes, os elementos dramáticos que nos impactaram na trama que expôs o acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986, são exatamente os mesmos que colocam um enorme ponto de interrogação nas escolhas táticas da ATF (agência americana de controle de álcool, tabaco e armas) e depois do FBI, durante o processo de negociação para que uma seita religiosa na cidade Waco, no Texas, fosse dissolvida. Você vai se impressionar com o que vai assistir, então prepare o estômago!

A minissérie de seis episódios explora os detalhes da história real sobre os 51 dias de cerco montado pelo governo dos EUA contra a seita religiosa de David Koresh (Taylor Kitsch), os Branch Davidians. Trazendo perspectivas dos dois lados do conflito, "Waco" mostra de uma forma impactante qual o pior jeito de se enfrentar uma crise. Confira o trailer (em inglês):

Em 1993, a compra de armas em uma quantidade bastante suspeita chamou a atenção da ATF.  Quando descoberto que se tratava de uma seita religiosa, informações desencontradas rapidamente aumentaram o clima de tensão na pequena e árida Waco. Nos holofotes, de uma lado estava o intransigente líder religioso David Koresh, alguns homens, mulheres e crianças do Ramo Davidiano (uma seita criada por dissidentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia); e de outro, um FBI completamente dividido entre os agentes a favor do uso de força militar como Mitch Decker (Shea Whigham), e os agentes pró-diplomacia, como o negociador-chefe Gary Noesner (Michael Shannon).

Embora o roteiro deixe algumas pontas soltas (que apenas os mais atentos devem perceber), ele tem o grande mérito de construir uma narrativa que explora os dois lados da história e nos provoca muitas reflexões. O fato da minissérie ter sido baseada nos livros, "Stalling for time", de Noesner, e "A place called Waco" de David Thibodeau, um dos sobreviventes da seita, deixa claro a intenção dos produtores John Erick Dowdle (diretor de filmes como "Quarentena" e "Horas de Desespero") e de seu irmão, Drew Dowdle (roteirista e produtor dos mesmos filmes), em levantar a discussão sobre a liberdade religiosa e como as agências do governo lidam com isso internamente.

Muito bem produzida pela Paramount, "Waco" é cuidadosa ao não romantizar a postura radical de Koresh, mesmo pontuando que os vilões da história são mesmo alguns agentes do FBI e da ATF. Em polêmicas revelações que envolveram o personagem, como poligamia e abuso de crianças (e tudo indique que a primeira seja verdadeira e a segunda completamente falsa), o roteiro mais ajuda do que atrapalha - a construção das camadas é tão profunda que nosso julgamento muda a cada episódio. Aliás, todos os episódios, especialmente o terceiro e o último, são de uma precisão narrativa impressionantes - é impossível não ser impactado pelo que assistimos.

"Waco" é o típico exemplo de uma minissérie sensacional, que está escondida no catálogo de uma plataforma de streaming (no caso da Globoplay) e que merecia muito mais destaque em marketing. A história é indigesta, forte, cruel até. Tecnicamente é impecável. Artisticamente uma aula - da direção do próprio John Erick Dowdle com a Dennie Gordon (de "Bloodline") às performances de todo elenco, com destaque para o já citado Kitsch, mas também sem esquecer de Shea Whigham, Michael Shannon, Paul Sparks, Julia Garner, Rory Culkin e o indicado ao Emmy de 2018 pelo papel, John Leguizamo.

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Wahl Street

Dizer "não" é fácil, o complicado é saber quando dizer "sim". Se você, empreendedor, se conectou com essa frase dita pelo ex-CEO da Disney, Michael Eisner, em um dos episódios de "Wahl Street", provavelmente você nem vai precisar ler toda essa análise para ter a certeza que essa série de seis episódios é realmente para você! Aliás, para os menos atentos, descobrir que o ator Mark Wahlberg além de reconhecido em Hollywood, ainda está envolvido em mais de 20 negócios, pode parecer uma simples jogada de marketing, porém essa ótima produção da HBO serve justamente para desmistificar esse pré-conceito e deixar claro que até para Wahlberg a jornada empreendedora não é das mais tranquilas!

A premissa de "Wahl Street" é relativamente simples já que sua trama gira em torno da vida pessoal e profissional do astro global Mark Wahlberg enquanto ele concilia as demandas de uma rigorosa programação como ator com sua rede cada vez maior de investimentos e como empreendedor de diversos negócios. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que aquela máxima que diz: "as pessoas querem o whisky que eu tomo, mas não os tombos que eu levo", pode ser levada para outro patamar ao acompanhar a vida por trás das câmeras de um astro de Hollywood. Obviamente que o tema não é nenhuma novidade, visto que séries e filmes adoram tocar no assunto se aproveitando da comédia ou do drama para tentar matar a curiosidade de quem acompanha o showbiz e acha que tudo é festa - foi assim com "Entourage" (projeto onde o próprio Wahlberg esteve diretamente envolvido) e com o inesquecível "Somewhere" de Sofia Coppola.

Em "Wahl Street" ainda encontramos vários elementos que de alguma forma fazem parte da jornada empreendedora de qualquer pessoa - e esse talvez seja o grande mérito do documentário, pois em muitos momentos Wahlberg é colocado em uma posição de vulnerabilidade com a mesma honestidade de quando tem que tomar alguma decisão difícil ou lidar com o inesperado, como foi o caso da pandemia que fez com que todas as suas lanchonetes e academias tivessem que fechar da noite para o dia. Veja, embora sem se aprofundar em nenhuma decisão estratégica ou em algum estudo bastante particular de seus negócios, é possível entender alguns movimentos do "Wahlberg empresário" que são brilhantemente ilustrados por "mentores" de altíssima qualidade que vão do já citado Michael Eisner; passando pelo falecido ex-CEO da Hasbro, Brian Goldner; até chegar em Janice Bryant Howroyd, fundadora da The ActOne Group (a maior empresa privada de recursos humanos dos EUA) ou até de Dana White CEO do UFC.

"Wahl Street" vai fazer mais sentido para quem busca entender a dinâmica de um empreendedor, mesmo que em um universo bastante distante da nossa realidade. Não podemos embarcar nessa série com a ideia pré-concebida de que tudo é muito mais fácil quando se ganha milhões ao atuar em um filme de ação - essa análise é tão rasa quanto aquela que tende a diminuir a conquista de alguém pelo simples fato dele (ou dela) ter um determinado sobrenome. Dito isso, é fácil definir a série como um bom entretenimento, daqueles bacanas de assistir para quem gosta do tema ou para quem é capaz de tirar alguma boa lição mesmo quando tudo soa tão inalcançável.

PS: A segunda temporada também já está disponível na HBO Max.

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Dizer "não" é fácil, o complicado é saber quando dizer "sim". Se você, empreendedor, se conectou com essa frase dita pelo ex-CEO da Disney, Michael Eisner, em um dos episódios de "Wahl Street", provavelmente você nem vai precisar ler toda essa análise para ter a certeza que essa série de seis episódios é realmente para você! Aliás, para os menos atentos, descobrir que o ator Mark Wahlberg além de reconhecido em Hollywood, ainda está envolvido em mais de 20 negócios, pode parecer uma simples jogada de marketing, porém essa ótima produção da HBO serve justamente para desmistificar esse pré-conceito e deixar claro que até para Wahlberg a jornada empreendedora não é das mais tranquilas!

A premissa de "Wahl Street" é relativamente simples já que sua trama gira em torno da vida pessoal e profissional do astro global Mark Wahlberg enquanto ele concilia as demandas de uma rigorosa programação como ator com sua rede cada vez maior de investimentos e como empreendedor de diversos negócios. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que aquela máxima que diz: "as pessoas querem o whisky que eu tomo, mas não os tombos que eu levo", pode ser levada para outro patamar ao acompanhar a vida por trás das câmeras de um astro de Hollywood. Obviamente que o tema não é nenhuma novidade, visto que séries e filmes adoram tocar no assunto se aproveitando da comédia ou do drama para tentar matar a curiosidade de quem acompanha o showbiz e acha que tudo é festa - foi assim com "Entourage" (projeto onde o próprio Wahlberg esteve diretamente envolvido) e com o inesquecível "Somewhere" de Sofia Coppola.

Em "Wahl Street" ainda encontramos vários elementos que de alguma forma fazem parte da jornada empreendedora de qualquer pessoa - e esse talvez seja o grande mérito do documentário, pois em muitos momentos Wahlberg é colocado em uma posição de vulnerabilidade com a mesma honestidade de quando tem que tomar alguma decisão difícil ou lidar com o inesperado, como foi o caso da pandemia que fez com que todas as suas lanchonetes e academias tivessem que fechar da noite para o dia. Veja, embora sem se aprofundar em nenhuma decisão estratégica ou em algum estudo bastante particular de seus negócios, é possível entender alguns movimentos do "Wahlberg empresário" que são brilhantemente ilustrados por "mentores" de altíssima qualidade que vão do já citado Michael Eisner; passando pelo falecido ex-CEO da Hasbro, Brian Goldner; até chegar em Janice Bryant Howroyd, fundadora da The ActOne Group (a maior empresa privada de recursos humanos dos EUA) ou até de Dana White CEO do UFC.

"Wahl Street" vai fazer mais sentido para quem busca entender a dinâmica de um empreendedor, mesmo que em um universo bastante distante da nossa realidade. Não podemos embarcar nessa série com a ideia pré-concebida de que tudo é muito mais fácil quando se ganha milhões ao atuar em um filme de ação - essa análise é tão rasa quanto aquela que tende a diminuir a conquista de alguém pelo simples fato dele (ou dela) ter um determinado sobrenome. Dito isso, é fácil definir a série como um bom entretenimento, daqueles bacanas de assistir para quem gosta do tema ou para quem é capaz de tirar alguma boa lição mesmo quando tudo soa tão inalcançável.

PS: A segunda temporada também já está disponível na HBO Max.

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Wasp Network

A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!

Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:

Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!

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A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!

Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:

Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!

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WeCrashed

Embora a história da Elizabeth Holmes, na minha opinião, seja mais absurda pela forma como ela persuadiu (para ser elegante) os investidores durante a criação da Theranos; tenho a impressão que a jornada da WeWork e de seu fundador Adam Neumann funcione melhor como obra cinematográfica - pelo simples fato que soa mais palpável, mesmo que dentro de um universo raro que é a criação de uma "startup unicórnio". Não que "The Dropout" seja ruim como minissérie, muito pelo contrário, mas "WeCrashed" trouxe mais elegância narrativa e visual, além de dois atores (Jared Leto e Anne Hathaway) extremamente conectados com seus personagens e que, mesmo sabendo das loucuras que ambos fizeram durante muito tempo, nos fazem torcer por eles - não sei se o problema é a Amanda Seyfried ou talvez Holmes realmente não tenha o mesmo carisma de Neumann; mas acho que vale a discussão.

A minissérie original da Apple acompanha o casal Adam (Leto) e Rebekah Neumann (Hathaway), co-fundadores de uma das maiores startups do mundo, a WeWork. A trama apresenta como eles, junto com o colega Miguel Mckelvey (Kyle Marvin), conseguiram criar uma companhia multimilionária, mas que por divergências ideológicas e ganância, a empresa sofreu grandes perdas financeiramente. Adam e Rebekah rapidamente conquistaram a atenção da mídia por, supostamente, revolucionar o ambiente de trabalho de empresas mundo afora. Os dois tentaram criar uma imagem moderna e inovadora, se distanciando de modelos tradiocionais de negócios e pintando a WeWork como o futuro das startups. Mas o sonho de um negócio bem-sucedido foi por água abaixo após várias decisões equivocadas. Confira o trailer (em inglês):

Criada pelo (pouco conhecido) Drew Crevello e pelo (rocky star de "The Office") Lee Eisenberg, "WeCrashed" é mais uma minissérie que expões de uma forma até um pouco romântico, o poder de fundadores e CEOs de startups disruptivas, com suas visões muito interessantes de modelos de negócios, um mindset transformador e uma habilidade fora do comum para atrair as pessoas certas para colocarem muito (mas, muito) dinheiro em seus projetos. Bem como Steve Jobs e talvez Mark Zuckerberg, é na personificação de uma inovação que as histórias se constroem - como se a obra fosse menor que seu criador, e de fato essa co-relação é um elemento que faz os olhos da mídia brilharem. Tanto Adam Neumann quanto Rebekah tinham esse tempero e o que poderia ser um diferencial (e precisamos ser honestos em dizer que por um bom tempo foi), se transformou em algo bem próximo do caos.

É um fato que Crevello e Eisenberg em um determinado momento trouxeram o relacionamento de Adam e Rebekah para os holofotes se aproveitando para desenvolver a conexão dessa relação com a forma como a WeWork era conduzida. "The Dropout" tem um pouco disso, mas não com a mesma potência. Em "WeCrashed" também temos algumas passagens curiosas como quando Newman compra um avião muito mais pela música que tocava ao fundo do que pelo convencimento do vendedor - e sim, isso é uma alivio quase cômico para exaltar a personalidade do protagonista. É óbvio que a história não foi exatamente essa, mas quando a assistente de Newman coloca a mesma música ("Roar" de Patty Perry) para tocar toda vez que Newman chega no escritório, entendemos que aquele personagem é movido por estímulos que elevam sua auto-estima e isso tem total ressonância com a trama (e é envolvente).

"WeCrashed" pontua a história sobre a criação da WeWork, mostra seu crescimento, mas não se aprofunda sobre o que levou a empresa de uma fase para a outra - ou seja, não é um estudo de caso sobre uma jornada que tinha tudo para dar muito certo, mas naufragou. Por outro lado serve de lição se você for capaz de ler nas entrelinhas como uma condução tóxica e completamente fora da realidade podem destruir um negócio promissor. "Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar" - essa celebre frase talvez defina a ascensão e queda de Newman e é isso que a minissérie da AppleTV+ se propõe: mostrar em 8 episódios, com uma qualidade técnica e artística irretocáveis, uma história real e impactante para o universo empreendedor, mas com o claro intuito de entreter e não de documentar.

Vale muito a pena!

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Embora a história da Elizabeth Holmes, na minha opinião, seja mais absurda pela forma como ela persuadiu (para ser elegante) os investidores durante a criação da Theranos; tenho a impressão que a jornada da WeWork e de seu fundador Adam Neumann funcione melhor como obra cinematográfica - pelo simples fato que soa mais palpável, mesmo que dentro de um universo raro que é a criação de uma "startup unicórnio". Não que "The Dropout" seja ruim como minissérie, muito pelo contrário, mas "WeCrashed" trouxe mais elegância narrativa e visual, além de dois atores (Jared Leto e Anne Hathaway) extremamente conectados com seus personagens e que, mesmo sabendo das loucuras que ambos fizeram durante muito tempo, nos fazem torcer por eles - não sei se o problema é a Amanda Seyfried ou talvez Holmes realmente não tenha o mesmo carisma de Neumann; mas acho que vale a discussão.

A minissérie original da Apple acompanha o casal Adam (Leto) e Rebekah Neumann (Hathaway), co-fundadores de uma das maiores startups do mundo, a WeWork. A trama apresenta como eles, junto com o colega Miguel Mckelvey (Kyle Marvin), conseguiram criar uma companhia multimilionária, mas que por divergências ideológicas e ganância, a empresa sofreu grandes perdas financeiramente. Adam e Rebekah rapidamente conquistaram a atenção da mídia por, supostamente, revolucionar o ambiente de trabalho de empresas mundo afora. Os dois tentaram criar uma imagem moderna e inovadora, se distanciando de modelos tradiocionais de negócios e pintando a WeWork como o futuro das startups. Mas o sonho de um negócio bem-sucedido foi por água abaixo após várias decisões equivocadas. Confira o trailer (em inglês):

Criada pelo (pouco conhecido) Drew Crevello e pelo (rocky star de "The Office") Lee Eisenberg, "WeCrashed" é mais uma minissérie que expões de uma forma até um pouco romântico, o poder de fundadores e CEOs de startups disruptivas, com suas visões muito interessantes de modelos de negócios, um mindset transformador e uma habilidade fora do comum para atrair as pessoas certas para colocarem muito (mas, muito) dinheiro em seus projetos. Bem como Steve Jobs e talvez Mark Zuckerberg, é na personificação de uma inovação que as histórias se constroem - como se a obra fosse menor que seu criador, e de fato essa co-relação é um elemento que faz os olhos da mídia brilharem. Tanto Adam Neumann quanto Rebekah tinham esse tempero e o que poderia ser um diferencial (e precisamos ser honestos em dizer que por um bom tempo foi), se transformou em algo bem próximo do caos.

É um fato que Crevello e Eisenberg em um determinado momento trouxeram o relacionamento de Adam e Rebekah para os holofotes se aproveitando para desenvolver a conexão dessa relação com a forma como a WeWork era conduzida. "The Dropout" tem um pouco disso, mas não com a mesma potência. Em "WeCrashed" também temos algumas passagens curiosas como quando Newman compra um avião muito mais pela música que tocava ao fundo do que pelo convencimento do vendedor - e sim, isso é uma alivio quase cômico para exaltar a personalidade do protagonista. É óbvio que a história não foi exatamente essa, mas quando a assistente de Newman coloca a mesma música ("Roar" de Patty Perry) para tocar toda vez que Newman chega no escritório, entendemos que aquele personagem é movido por estímulos que elevam sua auto-estima e isso tem total ressonância com a trama (e é envolvente).

"WeCrashed" pontua a história sobre a criação da WeWork, mostra seu crescimento, mas não se aprofunda sobre o que levou a empresa de uma fase para a outra - ou seja, não é um estudo de caso sobre uma jornada que tinha tudo para dar muito certo, mas naufragou. Por outro lado serve de lição se você for capaz de ler nas entrelinhas como uma condução tóxica e completamente fora da realidade podem destruir um negócio promissor. "Em seu momento de maior grandeza, tome cuidado. É nessa hora que o Diabo irá te procurar" - essa celebre frase talvez defina a ascensão e queda de Newman e é isso que a minissérie da AppleTV+ se propõe: mostrar em 8 episódios, com uma qualidade técnica e artística irretocáveis, uma história real e impactante para o universo empreendedor, mas com o claro intuito de entreter e não de documentar.

Vale muito a pena!

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