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Um Diabo na Família

Diretor
Olly Lambert
Elenco
Shari Franke, Kevin Franke, Chad Franke
Ano
2025
País
EUA

Lançamentos Documentário ml-real ml-religião ml-investigação ml-assedio ml-crime ml-sexo ml-mm Disney+

Um Diabo na Família

Depois do imperdível "The Vow" ou do insano "As Faces da Marca", é impressionante a quantidade de documentários que fazem um recorte, cada vez mais doentio, da sociedade americana - e quando a gente acha que o limite chegou, surge outra produção que simplesmente destrói qualquer sinal de esperança perante o ser-humano nos dias "conectados" de hoje. Olha, é muito difícil terminar “Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” sem sentir um incômodo bastante profundo - especialmente se você já tiver filhos. A minissérie documental do Hulu, aqui no Disney+, é dirigida com sobriedade por Olly Lambert (vencedor do BAFTA por "Syria: Across the Lines") e mergulha nos bastidores de um dos casos mais chocantes da história recente da internet: a queda da influencer que colecionava milhões de visualizações no YouTube, Ruby Franke. Mas ao contrário do que se poderia esperar de uma produção sobre escândalos online, aqui não há pressa em apontar vilões ou simplificar dilemas - o que há é um trabalho de exposição cuidadoso, devastador e necessário.

Repare como a sinopse oficial já antecipa o desconforto que vem após o play: Por anos, Ruby Franke encantou o público americano com sua imagem de mãe exemplar no canal "8 Passengers". No entanto, por trás das câmeras, uma realidade sombria se desenrolava - após um dramático pedido de ajuda de seu caçula, na época com 12 anos, o mundo descobre os abusos sofridos pelos filhos de Ruby, culminando em sua prisão e uma condenação a 30 anos de reclusão. Ao longo de três episódios, a minissérie constrói com inteligência uma narrativa que não apenas documenta os fatos, mas os reposicionam dentro de um contexto maior - o da cultura da influência digital desmedida. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura dos episódios de "Devil in the Family: The Fall of Ruby Franke", no original, é bastante clara: começamos com o sucesso, seguimos para os sinais ignorados até chegar na revelação impactante dos abusos físicos, emocionais e psicológicos a que as crianças foram submetidas - e é pesado, viu?! O trabalho de Olly Lambert na direção é ao mesmo tempo econômico e eficiente: ele evita os truques visuais comuns do true crime para apostar em um mise-en-scène mais sóbrio, baseado em imagens de arquivo cedidos pela própria família e em depoimentos, de fato, estarrecedores. Tudo isso é feito para amplificar o horror das situações justamente por não precisar encená-las. Veja, o peso narrativo está todo em depoimentos atuais, no olhar em retrospectiva de algumas imagens que vão além do que um dia foi publicado no YouTube e, principalmente, nas lacunas que vamos preenchendo com a imaginação, afinal o sinais estão ali, basta se propor a olha-los com cuidado. 

Um dos acertos mais contundentes da minissérie está na forma como o roteiro conecta o caso Ruby Franke com a figura da conselheira Jodi Hildebrandt - uma figura misteriosa que se tornou uma espécie de mentora espiritual, pra variar, da influencer. Ao incorporar a fé mormon como ferramenta de controle e justificativa moral para práticas abusivas, Lambert vai criando paralelos de como os discursos religiosos podem ser instrumentalizados em contextos de poder, e como a lógica da “cura pelo sofrimento” pode desaguar em perversões ainda mais profundas. A manipulação emocional aqui, é um dos eixos centrais, e talvez dos mais indigestos, da minissérie - e é isso que torna tudo ainda mais incômodo, especialmente quando percebemos que parte do público estava aplaudindo, curtindo e compartilhando vídeos com conteúdos de gosto, no mínimo, duvidoso.

Do ponto de vista técnico, vale destacar o equilíbrio na montagem, que costura um belíssimo material de pesquisa com uma diversidade de vozes que ajuda a ampliar o olhar sobre o caso, evitando com que a audiência caia no erro de emitir conclusões precipitadas - em alguns momentos, inclusive, é possível até relativizar alguns comportamentos de Ruby e isso merece uma reflexão sem qualquer tipo de hipocrisia. Um ponto a se destacar é a sensível decisão de não expor as vítimas de forma tão direta - a ausência deliberada dos filhos mais novos da influencer em depoimentos atuais reforça a gravidade da situação e preserva a dignidade de quem mais sofreu com a situação. Agora saiba que “Um Diabo na Família” é menos sobre uma história de uma personagem de sucesso que acabou caindo em desgraça e mais sobre um retrato infeliz de uma sociedade que deixa de enxergar o óbvio apenas para construir pseudo-referências digitais. A linha entre entretenimento e crueldade, entre autoridade e violência, entre correção e abuso, é sempre tênue - e nos dias de hoje, se torna ainda mais difícil de identificar tais limites.

“Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” não é fácil de assistir, e nem deveria ser. Mas é necessária - principalmente num tempo em que curtidas ainda pesam mais que responsabilidade. Para quem busca alguma reflexão sobre os limites de uma exposição familiar, sobre o papel da fé na estrutura disciplinar das pessoas e sobre as consequências de transformar a infância em vitrine, essa é uma das obras mais relevantes que você vai encontrar no streaming! Vale demais o seu play!

Assista Agora

Depois do imperdível "The Vow" ou do insano "As Faces da Marca", é impressionante a quantidade de documentários que fazem um recorte, cada vez mais doentio, da sociedade americana - e quando a gente acha que o limite chegou, surge outra produção que simplesmente destrói qualquer sinal de esperança perante o ser-humano nos dias "conectados" de hoje. Olha, é muito difícil terminar “Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” sem sentir um incômodo bastante profundo - especialmente se você já tiver filhos. A minissérie documental do Hulu, aqui no Disney+, é dirigida com sobriedade por Olly Lambert (vencedor do BAFTA por "Syria: Across the Lines") e mergulha nos bastidores de um dos casos mais chocantes da história recente da internet: a queda da influencer que colecionava milhões de visualizações no YouTube, Ruby Franke. Mas ao contrário do que se poderia esperar de uma produção sobre escândalos online, aqui não há pressa em apontar vilões ou simplificar dilemas - o que há é um trabalho de exposição cuidadoso, devastador e necessário.

Repare como a sinopse oficial já antecipa o desconforto que vem após o play: Por anos, Ruby Franke encantou o público americano com sua imagem de mãe exemplar no canal "8 Passengers". No entanto, por trás das câmeras, uma realidade sombria se desenrolava - após um dramático pedido de ajuda de seu caçula, na época com 12 anos, o mundo descobre os abusos sofridos pelos filhos de Ruby, culminando em sua prisão e uma condenação a 30 anos de reclusão. Ao longo de três episódios, a minissérie constrói com inteligência uma narrativa que não apenas documenta os fatos, mas os reposicionam dentro de um contexto maior - o da cultura da influência digital desmedida. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura dos episódios de "Devil in the Family: The Fall of Ruby Franke", no original, é bastante clara: começamos com o sucesso, seguimos para os sinais ignorados até chegar na revelação impactante dos abusos físicos, emocionais e psicológicos a que as crianças foram submetidas - e é pesado, viu?! O trabalho de Olly Lambert na direção é ao mesmo tempo econômico e eficiente: ele evita os truques visuais comuns do true crime para apostar em um mise-en-scène mais sóbrio, baseado em imagens de arquivo cedidos pela própria família e em depoimentos, de fato, estarrecedores. Tudo isso é feito para amplificar o horror das situações justamente por não precisar encená-las. Veja, o peso narrativo está todo em depoimentos atuais, no olhar em retrospectiva de algumas imagens que vão além do que um dia foi publicado no YouTube e, principalmente, nas lacunas que vamos preenchendo com a imaginação, afinal o sinais estão ali, basta se propor a olha-los com cuidado. 

Um dos acertos mais contundentes da minissérie está na forma como o roteiro conecta o caso Ruby Franke com a figura da conselheira Jodi Hildebrandt - uma figura misteriosa que se tornou uma espécie de mentora espiritual, pra variar, da influencer. Ao incorporar a fé mormon como ferramenta de controle e justificativa moral para práticas abusivas, Lambert vai criando paralelos de como os discursos religiosos podem ser instrumentalizados em contextos de poder, e como a lógica da “cura pelo sofrimento” pode desaguar em perversões ainda mais profundas. A manipulação emocional aqui, é um dos eixos centrais, e talvez dos mais indigestos, da minissérie - e é isso que torna tudo ainda mais incômodo, especialmente quando percebemos que parte do público estava aplaudindo, curtindo e compartilhando vídeos com conteúdos de gosto, no mínimo, duvidoso.

Do ponto de vista técnico, vale destacar o equilíbrio na montagem, que costura um belíssimo material de pesquisa com uma diversidade de vozes que ajuda a ampliar o olhar sobre o caso, evitando com que a audiência caia no erro de emitir conclusões precipitadas - em alguns momentos, inclusive, é possível até relativizar alguns comportamentos de Ruby e isso merece uma reflexão sem qualquer tipo de hipocrisia. Um ponto a se destacar é a sensível decisão de não expor as vítimas de forma tão direta - a ausência deliberada dos filhos mais novos da influencer em depoimentos atuais reforça a gravidade da situação e preserva a dignidade de quem mais sofreu com a situação. Agora saiba que “Um Diabo na Família” é menos sobre uma história de uma personagem de sucesso que acabou caindo em desgraça e mais sobre um retrato infeliz de uma sociedade que deixa de enxergar o óbvio apenas para construir pseudo-referências digitais. A linha entre entretenimento e crueldade, entre autoridade e violência, entre correção e abuso, é sempre tênue - e nos dias de hoje, se torna ainda mais difícil de identificar tais limites.

“Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” não é fácil de assistir, e nem deveria ser. Mas é necessária - principalmente num tempo em que curtidas ainda pesam mais que responsabilidade. Para quem busca alguma reflexão sobre os limites de uma exposição familiar, sobre o papel da fé na estrutura disciplinar das pessoas e sobre as consequências de transformar a infância em vitrine, essa é uma das obras mais relevantes que você vai encontrar no streaming! Vale demais o seu play!

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