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Anatomia de uma Queda

Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

Assista Agora

Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Aniquilação

É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.

Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:

Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência  que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.

Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica -  com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).

Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.

Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada".  E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!

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É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.

Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:

Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência  que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.

Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica -  com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).

Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.

Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada".  E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!

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Apenas uma Vez

Já vamos partir de um principio básico: "Apenas uma Vez" é imperdível - daqueles filmes gostosos de assistir e que mesmo soando "meio água com açúcar", nos conquista pela sua capacidade de nos emocionar com uma premissa simples, mas muito eficaz: a de que mesmo nas dificuldades, a vida está sempre pronta para nos mostrar que podemos ser felizes! Sim, se você está em busca de um filme descomplicado e ao mesmo tempo muito surpreendente, "Once" (no original) é perfeito - para assistir várias vezes! O filme dirigidopelo John Carney, de fato, oferece uma experiência profundamente cativante e envolvente que combina uma narrativa simples e bem desenvolvida, performances excepcionais de um elenco muito bem escalado (com alma) e uma trilha sonora que olha, é de tirar o fôlego. Não é de surpreender que "Apenas uma Vez" tenha conquistado tantos elogios e prêmios no cenário independente até chegar no Oscar de 2008, para faturar a estatueta de "Melhor Canção Original" - e na minha opinião, foi pouco!

Na trama, somos jogados em meio às ruas movimentadas de Dublin, na Irlanda, onde um músico talentoso de rua e sem nome (Glen Hansard) encontra uma imigrante tcheca (Markéta Irglová) que toca piano. O destino que os uniu através da música faz com que eles compartilhem histórias pessoais, esperanças e sonhos, construindo uma conexão profunda, única e apaixonante. Confira o trailer (em inglês):

"Apenas uma Vez" é uma verdadeira joia do cinema indie que explora a alma humana através de sua sensibilidade e delicadeza. A beleza do filme reside muito na sua autenticidade e na forma como os personagens, interpretados de maneira magnífica por Glen Hansard e Markéta Irglová, transmitem emoções cruas e genuínas - eles são tão reais que parecem ter saído de um documentário. Hansard e Irglová não são apenas atores talentosos, mas também músicos excepcionais que oferecem performances deslumbrantes que evocam sensações que transitam entre a melancolia e a esperança. Hansard é vocalista da banda dublinense The Frames, onde, não por acaso, Carney participou como contrabaixista até 1993. Já  Irglova trabalhou com Hansard no álbum folk, The Swell Season.

A direção talentosa de Carney é evidente na escolha do elenco, mas também na construção do tom da narrativa - reparem nas pausas dramáticas que ele estimula entre um diálogo e outro. As belíssimas locações de Dublin se conectam perfeitamente com a fotografia do grande Tim Fleming (de "Citadel") - a maneira como ele captura a atmosfera da cidade, tornando-a quase um personagem em si mesma, lembra muito o trabalho de Sean Price Williams em "Amor, Drogas e Nova York".A fotografia contrastada e uma montagem extremamente cuidadosa do Paul Mullen aprofundam a imersão na história de um maneira arrebatadora - e é aí que entra a estrela do filme: a trilha sonora! Composta principalmente por canções originais escritas pelos próprios protagonistas, posso te garantir que é uma das mais marcantes da história do cinema independente - daquelas onde as músicas continuam ecoando na sua mente muito tempo após o término do filme e que passam a fazer parte da nossa playlist com muita naturalidade.

"Apenas uma Vez" é uma homenagem à beleza da música como uma forma de comunicação universal que transcende as barreiras linguísticas e culturais. O filme é uma jornada emocional que vai tocar seu coração e que alimentará sua alma pelo que ele é na sua essência - e isso é tão raro. Não hesite em dar o play para um filme que se destacou nos festivais independentes do mundo inteiro e se consolidou como um dos melhores exemplos do poder transformador que cinema pode proporcionar. Seja você um amante da boa música ou simplesmente alguém que busca uma história emocionalmente rica e muito sensível, "Once" é uma escolha inigualável que você não pode perder. É sério!

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Já vamos partir de um principio básico: "Apenas uma Vez" é imperdível - daqueles filmes gostosos de assistir e que mesmo soando "meio água com açúcar", nos conquista pela sua capacidade de nos emocionar com uma premissa simples, mas muito eficaz: a de que mesmo nas dificuldades, a vida está sempre pronta para nos mostrar que podemos ser felizes! Sim, se você está em busca de um filme descomplicado e ao mesmo tempo muito surpreendente, "Once" (no original) é perfeito - para assistir várias vezes! O filme dirigidopelo John Carney, de fato, oferece uma experiência profundamente cativante e envolvente que combina uma narrativa simples e bem desenvolvida, performances excepcionais de um elenco muito bem escalado (com alma) e uma trilha sonora que olha, é de tirar o fôlego. Não é de surpreender que "Apenas uma Vez" tenha conquistado tantos elogios e prêmios no cenário independente até chegar no Oscar de 2008, para faturar a estatueta de "Melhor Canção Original" - e na minha opinião, foi pouco!

Na trama, somos jogados em meio às ruas movimentadas de Dublin, na Irlanda, onde um músico talentoso de rua e sem nome (Glen Hansard) encontra uma imigrante tcheca (Markéta Irglová) que toca piano. O destino que os uniu através da música faz com que eles compartilhem histórias pessoais, esperanças e sonhos, construindo uma conexão profunda, única e apaixonante. Confira o trailer (em inglês):

"Apenas uma Vez" é uma verdadeira joia do cinema indie que explora a alma humana através de sua sensibilidade e delicadeza. A beleza do filme reside muito na sua autenticidade e na forma como os personagens, interpretados de maneira magnífica por Glen Hansard e Markéta Irglová, transmitem emoções cruas e genuínas - eles são tão reais que parecem ter saído de um documentário. Hansard e Irglová não são apenas atores talentosos, mas também músicos excepcionais que oferecem performances deslumbrantes que evocam sensações que transitam entre a melancolia e a esperança. Hansard é vocalista da banda dublinense The Frames, onde, não por acaso, Carney participou como contrabaixista até 1993. Já  Irglova trabalhou com Hansard no álbum folk, The Swell Season.

A direção talentosa de Carney é evidente na escolha do elenco, mas também na construção do tom da narrativa - reparem nas pausas dramáticas que ele estimula entre um diálogo e outro. As belíssimas locações de Dublin se conectam perfeitamente com a fotografia do grande Tim Fleming (de "Citadel") - a maneira como ele captura a atmosfera da cidade, tornando-a quase um personagem em si mesma, lembra muito o trabalho de Sean Price Williams em "Amor, Drogas e Nova York".A fotografia contrastada e uma montagem extremamente cuidadosa do Paul Mullen aprofundam a imersão na história de um maneira arrebatadora - e é aí que entra a estrela do filme: a trilha sonora! Composta principalmente por canções originais escritas pelos próprios protagonistas, posso te garantir que é uma das mais marcantes da história do cinema independente - daquelas onde as músicas continuam ecoando na sua mente muito tempo após o término do filme e que passam a fazer parte da nossa playlist com muita naturalidade.

"Apenas uma Vez" é uma homenagem à beleza da música como uma forma de comunicação universal que transcende as barreiras linguísticas e culturais. O filme é uma jornada emocional que vai tocar seu coração e que alimentará sua alma pelo que ele é na sua essência - e isso é tão raro. Não hesite em dar o play para um filme que se destacou nos festivais independentes do mundo inteiro e se consolidou como um dos melhores exemplos do poder transformador que cinema pode proporcionar. Seja você um amante da boa música ou simplesmente alguém que busca uma história emocionalmente rica e muito sensível, "Once" é uma escolha inigualável que você não pode perder. É sério!

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Assassinos da Lua das Flores

Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

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Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

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Ataque dos Cães

Ataque dos Cães

"Ataque dos Cães" é um filme essencialmente sobre vingança e que tem como seu maior mérito criar um clima de tensão permanente, onde em minuto algum sabemos exatamente o que vai acontecer ou qual será o gatilho para que todas aquelas relações desmoronem - e aqui cabe meu primeiro elogio: é impressionante como a diretora  (e roteirista) Jane Campion, vencedora do Oscar por "O Piano", consegue manter essa sensação de angústia durante toda trama, sem perder o controle, mesmo com uma narrativa completamente cadenciada e reflexiva pelo ponto de vista de quatro personagens-chave. É, de fato, incrível!

O filme conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), dois irmãos, ricos e proprietários da maior fazenda de Montana em plena década de 1920. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. Tão diferentes, a relação de cumplicidade entre os dois vai do céu ao inferno quando George se casa secretamente com uma viúva local, Rose (Kirsten Dunst), e ainda resolve cuidar do seu filho Peter (Kodi Smit-McPhee), um jovem introspectivo e profundamente marcado pelo suicídio do pai. Invejoso, inseguro e solitário, Phil tenta de todas as formas fazer com que essa relação não se sustente dentro do seu ambiente, fazendo com que suas atitudes machistas e seu comportamento rústico vá minando, pouco a pouco, a tranquilidade de Rose e de Peter. Confira o trailer:

"The Power of the Dog" é o livro que originou "Ataque dos Cães". Ele foi lançado em 1967 pelo autor Thomas Savage - que é uma referência dentro do gênero literário de Faroeste e que teve inúmeras obras publicadas entre 1944 e 1988. Pois bem, o desafio dessa adaptação de Campion era justamente o de trazer para a tela uma proposta muito mais intimista do que estamos acostumados assistir no gênero e isso era considerado um risco - é por essa razão que todas as tentativas de adaptar o livro para o cinema falharam até aqui.

Com o sinal verde da Netflix, que aposta (e com razão) no reconhecimento da Academia no Oscar de 2022, Campion montou um verdadeiro dream team para surpreender aqueles não buscariam em um "faroeste", um drama de relações tão profundo como esse. Obviamente que todos os elementos visuais que o gênero pede estão impecáveis no filme: de uma fotografia maravilhosa da diretora Ari Wegner (de "Lady Macbeth") ao cenário primoroso de Grant Major (de "Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei"), passando pelos lindos figurinos de Kirsty Cameron (de "Oeste sem Lei") e, claro, pela trilha sonora marcante e essencial para o conceito narrativo funcionar, de Jonny Greenwood (indicado ao Oscar por "Trama Fantasma").

Jane Campion tem como característica um cuidado quase patológico com os detalhes para que seus filmes se tornem uma experiência totalmente sensorial. Em "Ataque dos Cães" ela alinha o artístico e o técnico perfeitamente, praticamente quebrando qualquer barreira que separe esses elementos, trazendo para o nosso olhar, enquadramentos de objetos, mãos e reações, de uma forma tão orgânica que chegamos a sentir arrepios com sua precisão. Reparem que, por mais discretos ou mesmo secretos que sejam, nenhum detalhe escapa e o desenho de som (apoiado na trilha sonora) só potencializa essa percepção de que tudo faz sentido, mesmo que quase nunca seja explicado (as revistas de fisiculturismo que Peter encontra é um ótimo exemplo disso e, certamente, o final também). 

"Ataque dos Cães" pode colocar Benedict Cumberbatch em uma prateleira de ainda mais destaque, embora todo o elenco principal seja vital para isso - e não me surpreenderia se todos eles ganharem muitas indicações na próxima temporada de premiações, inclusive no Oscar. Acontece que o veredito, depois de mais de duas horas de filme, vai muito além do que imaginamos como trama, já que precisamos de alguns minutos para processar tudo que assistimos. Se a discussão sobre as relações de poder e a repressão dos desejos mais íntimos são categorizados como uma visão de masculinidade problemática enraizada na sociedade, pode ter certeza que o contraponto também está lá e será percebido naquele último suspiro antes dos créditos.

Vale muito a pena!

Up-date: "Ataque dos Cães" foi indicado em doze categorias no Oscar 2022, mas levou apenas como Melhor Direção! 

Assista Agora

"Ataque dos Cães" é um filme essencialmente sobre vingança e que tem como seu maior mérito criar um clima de tensão permanente, onde em minuto algum sabemos exatamente o que vai acontecer ou qual será o gatilho para que todas aquelas relações desmoronem - e aqui cabe meu primeiro elogio: é impressionante como a diretora  (e roteirista) Jane Campion, vencedora do Oscar por "O Piano", consegue manter essa sensação de angústia durante toda trama, sem perder o controle, mesmo com uma narrativa completamente cadenciada e reflexiva pelo ponto de vista de quatro personagens-chave. É, de fato, incrível!

O filme conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), dois irmãos, ricos e proprietários da maior fazenda de Montana em plena década de 1920. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. Tão diferentes, a relação de cumplicidade entre os dois vai do céu ao inferno quando George se casa secretamente com uma viúva local, Rose (Kirsten Dunst), e ainda resolve cuidar do seu filho Peter (Kodi Smit-McPhee), um jovem introspectivo e profundamente marcado pelo suicídio do pai. Invejoso, inseguro e solitário, Phil tenta de todas as formas fazer com que essa relação não se sustente dentro do seu ambiente, fazendo com que suas atitudes machistas e seu comportamento rústico vá minando, pouco a pouco, a tranquilidade de Rose e de Peter. Confira o trailer:

"The Power of the Dog" é o livro que originou "Ataque dos Cães". Ele foi lançado em 1967 pelo autor Thomas Savage - que é uma referência dentro do gênero literário de Faroeste e que teve inúmeras obras publicadas entre 1944 e 1988. Pois bem, o desafio dessa adaptação de Campion era justamente o de trazer para a tela uma proposta muito mais intimista do que estamos acostumados assistir no gênero e isso era considerado um risco - é por essa razão que todas as tentativas de adaptar o livro para o cinema falharam até aqui.

Com o sinal verde da Netflix, que aposta (e com razão) no reconhecimento da Academia no Oscar de 2022, Campion montou um verdadeiro dream team para surpreender aqueles não buscariam em um "faroeste", um drama de relações tão profundo como esse. Obviamente que todos os elementos visuais que o gênero pede estão impecáveis no filme: de uma fotografia maravilhosa da diretora Ari Wegner (de "Lady Macbeth") ao cenário primoroso de Grant Major (de "Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei"), passando pelos lindos figurinos de Kirsty Cameron (de "Oeste sem Lei") e, claro, pela trilha sonora marcante e essencial para o conceito narrativo funcionar, de Jonny Greenwood (indicado ao Oscar por "Trama Fantasma").

Jane Campion tem como característica um cuidado quase patológico com os detalhes para que seus filmes se tornem uma experiência totalmente sensorial. Em "Ataque dos Cães" ela alinha o artístico e o técnico perfeitamente, praticamente quebrando qualquer barreira que separe esses elementos, trazendo para o nosso olhar, enquadramentos de objetos, mãos e reações, de uma forma tão orgânica que chegamos a sentir arrepios com sua precisão. Reparem que, por mais discretos ou mesmo secretos que sejam, nenhum detalhe escapa e o desenho de som (apoiado na trilha sonora) só potencializa essa percepção de que tudo faz sentido, mesmo que quase nunca seja explicado (as revistas de fisiculturismo que Peter encontra é um ótimo exemplo disso e, certamente, o final também). 

"Ataque dos Cães" pode colocar Benedict Cumberbatch em uma prateleira de ainda mais destaque, embora todo o elenco principal seja vital para isso - e não me surpreenderia se todos eles ganharem muitas indicações na próxima temporada de premiações, inclusive no Oscar. Acontece que o veredito, depois de mais de duas horas de filme, vai muito além do que imaginamos como trama, já que precisamos de alguns minutos para processar tudo que assistimos. Se a discussão sobre as relações de poder e a repressão dos desejos mais íntimos são categorizados como uma visão de masculinidade problemática enraizada na sociedade, pode ter certeza que o contraponto também está lá e será percebido naquele último suspiro antes dos créditos.

Vale muito a pena!

Up-date: "Ataque dos Cães" foi indicado em doze categorias no Oscar 2022, mas levou apenas como Melhor Direção! 

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Bastardos Inglórios

"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Belfast

"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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Blue Valentine

Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Bohemian Rhapsody

É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Close

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Closer

“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Coringa

É preciso dizer que "Coringa" é o melhor filme que a DC produziu desde o "Cavaleiro das Trevas" do Nolan!!! O filme é simplesmente sensacional - eu diria que quase perfeito (e mais abaixo vou explicar por onde, na minha opinião, escapou a perfeição). Algumas observações para você que está muito ansioso para assistir: o filme é uma verdadeira imersão na "sombra" do personagem, na construção da jornada de transformação e nas suas motivações. "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA. Esse novo selo da DC deu a liberdade que algumas histórias pediam e fica claro na tela que a violência, a profundidade psíquica, o cuidado no roteiro e o conceito estético são pilares que devem ser seguidos daqui para frente, porque o resultado é incrível!

"Coringa" segue a vida Arthur Fleck, um aspirante a comediante, completamente fracassado e com uma condição mental bastante peculiar onde, em determinados momentos,  o faz rir compulsivamente (normalmente o gatilho vem do seu estado emocional fragilizado ou ameaçado). Morando com mãe, Fleck é um pacato ser humano, vítima de uma sociedade elitista e preconceituosa. Aliás, aqui vem o primeiro elogio ao roteiro: situar a história no começo dos anos 80 permitiu não só construir um novo personagem como também iniciar uma gênese que pode servir de base para futuros filmes. Em "Coringa" vemos porque Gothan se tornou tão violenta e como a dinastia Wayne interferiu nessa realidade. Aliás não foi preciso citar nada além do que vemos na tela para nos sentirmos familiarizados com aquele Universo de tão bem construído que foi. Só espero que a DC saiba usar isso com inteligência e que as informações que foram veiculadas sobre a independência dos filmes desse selo seja revista, porque seria um pecado não aproveitar "Coringa" para nada!

O roteiro é poético ao mesmo tempo que é extremamente violento. O diretor Todd Phillips ("Se beber, não case") merece uma indicação ao Oscar, pois seu trabalho é simplesmente perfeito. Ele achou o tom do filme, alinhou com a espetacular atuação de Joaquin Phoenix (que também vai ser indicado) e finalizou com uma fotografia lindíssima de um surpreendente Lawrence Sher (Godzilla II e Cães de Guerra). O roteiro é super original até para quem ama o personagem e acompanha os quadrinhos, porém peca em dois únicos momentos (e aí parece muito mais culpa ou pressão do Estúdio, do que um preciosismo dos roteiristas): quando explica as alucinações de Fleck (não precisava explicar, estava claro, o corte já contava essa história, não precisava mastigar para o público - deu raiva) e quando, mais uma vez, mostra o destino dos Wayne saindo do cinema - sério, eu já não aguento mais assistir aquele colar de pérolas caindo (desperdício de oportunidade de só sugestionar uma situação e trabalhar com a memória emotiva de quem acompanha a saga do Batman há anos). A edição de som, mixagem, a trilha sonora e o desenho de produção, olha, estão primorosos!

"Coringa" vai levar Phoenix ao Oscar por entregar um personagem tão bem construído (ou mais) que Heath Ledger. A comparação será inevitável, mas injusta, pois não se trata de um filme do Batman e sim do Coringa, mas se pensarmos como uma homenagem, meu Deus, que personagem complexo e profundo que vemos nesse filme - os caras deveriam ter feito uma série sobre ele (rs)! O filme é tão bom, tão dinâmico, tão redondo, que nem vemos o tempo passar e chegamos a torcer para que ele não acabe - e são duas horas de filme!!! Puxa, é preciso admitir que foi um grande trabalho da DC e, pode apostar, vai render pelo menos umas 5 indicações no próximo Oscar - me cobrem! Grande acerto, só, por favor, não estraguem essa obra-prima com o que já está planejado!!!

Assistam o que foi, para mim, um dos melhore filmes do ano até aqui! Mesmo!!!

Up-date: "Coringa" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator!

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É preciso dizer que "Coringa" é o melhor filme que a DC produziu desde o "Cavaleiro das Trevas" do Nolan!!! O filme é simplesmente sensacional - eu diria que quase perfeito (e mais abaixo vou explicar por onde, na minha opinião, escapou a perfeição). Algumas observações para você que está muito ansioso para assistir: o filme é uma verdadeira imersão na "sombra" do personagem, na construção da jornada de transformação e nas suas motivações. "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA. Esse novo selo da DC deu a liberdade que algumas histórias pediam e fica claro na tela que a violência, a profundidade psíquica, o cuidado no roteiro e o conceito estético são pilares que devem ser seguidos daqui para frente, porque o resultado é incrível!

"Coringa" segue a vida Arthur Fleck, um aspirante a comediante, completamente fracassado e com uma condição mental bastante peculiar onde, em determinados momentos,  o faz rir compulsivamente (normalmente o gatilho vem do seu estado emocional fragilizado ou ameaçado). Morando com mãe, Fleck é um pacato ser humano, vítima de uma sociedade elitista e preconceituosa. Aliás, aqui vem o primeiro elogio ao roteiro: situar a história no começo dos anos 80 permitiu não só construir um novo personagem como também iniciar uma gênese que pode servir de base para futuros filmes. Em "Coringa" vemos porque Gothan se tornou tão violenta e como a dinastia Wayne interferiu nessa realidade. Aliás não foi preciso citar nada além do que vemos na tela para nos sentirmos familiarizados com aquele Universo de tão bem construído que foi. Só espero que a DC saiba usar isso com inteligência e que as informações que foram veiculadas sobre a independência dos filmes desse selo seja revista, porque seria um pecado não aproveitar "Coringa" para nada!

O roteiro é poético ao mesmo tempo que é extremamente violento. O diretor Todd Phillips ("Se beber, não case") merece uma indicação ao Oscar, pois seu trabalho é simplesmente perfeito. Ele achou o tom do filme, alinhou com a espetacular atuação de Joaquin Phoenix (que também vai ser indicado) e finalizou com uma fotografia lindíssima de um surpreendente Lawrence Sher (Godzilla II e Cães de Guerra). O roteiro é super original até para quem ama o personagem e acompanha os quadrinhos, porém peca em dois únicos momentos (e aí parece muito mais culpa ou pressão do Estúdio, do que um preciosismo dos roteiristas): quando explica as alucinações de Fleck (não precisava explicar, estava claro, o corte já contava essa história, não precisava mastigar para o público - deu raiva) e quando, mais uma vez, mostra o destino dos Wayne saindo do cinema - sério, eu já não aguento mais assistir aquele colar de pérolas caindo (desperdício de oportunidade de só sugestionar uma situação e trabalhar com a memória emotiva de quem acompanha a saga do Batman há anos). A edição de som, mixagem, a trilha sonora e o desenho de produção, olha, estão primorosos!

"Coringa" vai levar Phoenix ao Oscar por entregar um personagem tão bem construído (ou mais) que Heath Ledger. A comparação será inevitável, mas injusta, pois não se trata de um filme do Batman e sim do Coringa, mas se pensarmos como uma homenagem, meu Deus, que personagem complexo e profundo que vemos nesse filme - os caras deveriam ter feito uma série sobre ele (rs)! O filme é tão bom, tão dinâmico, tão redondo, que nem vemos o tempo passar e chegamos a torcer para que ele não acabe - e são duas horas de filme!!! Puxa, é preciso admitir que foi um grande trabalho da DC e, pode apostar, vai render pelo menos umas 5 indicações no próximo Oscar - me cobrem! Grande acerto, só, por favor, não estraguem essa obra-prima com o que já está planejado!!!

Assistam o que foi, para mim, um dos melhore filmes do ano até aqui! Mesmo!!!

Up-date: "Coringa" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator!

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Corpo e Alma

"Corpo e Alma" foi o representante Húngaro na disputa do Oscar 2018. Ele chegou com a validação por ter ganho o Urso de Ouro em Berlin em 2017. O filme conta a história de um homem e uma mulher, colegas de trabalho, que passam a se conhecer melhor e acabam descobrindo que eles sonham as mesmas coisas durante a noite. Com isso, eles decidem tornar essa relação incomum em algo real, apesar das dificuldades no mundo real. Confira o trailer:

"On Body and Soul" (título internacional)é tecnicamente muito bem realizado e tem uma história até que interessante - embora, tenha uma ou outra cena mais chocante envolvendo animais, porém apresentada de forma gratuita - muito mais para chocar do que para mover a história para frente. Até acho que faz algum sentido no contexto cruel daquele universo, mas, admito, marca demais!

Analisando isoladamente é um filme que te prende e te instiga assim que a trama central é apresentada. Os atores húngaros estão muito bem, com destaque para o Géza Morcsányi. Já a Alexandra Borbély, mais experiente, achei um pouco fora do tom, quase esteriotipada, mas como seu personagem pedia isso, certamente foi uma escolha justificada pelo contexto - penso que se não estivesse tão robótica ficaria mais fácil criar uma empatia. O fato é que em nenhum momento torci ou me preocupei com ela, talvez por isso não tenha gostado tanto do filme quanto gostei de "Loveless" e "The Square" que também estão na disputa pelo Oscar.

A diretora, Ildikó Enyedi, já havia ganho a Camera de Ouro em Cannes em 89 e vale a pena conhecer o trabalho dela. Ela não inventa, faz um cinema mais clássico e com muita qualidade. Gostei!

No geral, o filme é bacana. O cinema húngaro foi um novidade para mim, mas eu gostei do que vi e por isso indico tranquilamente!

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"Corpo e Alma" foi o representante Húngaro na disputa do Oscar 2018. Ele chegou com a validação por ter ganho o Urso de Ouro em Berlin em 2017. O filme conta a história de um homem e uma mulher, colegas de trabalho, que passam a se conhecer melhor e acabam descobrindo que eles sonham as mesmas coisas durante a noite. Com isso, eles decidem tornar essa relação incomum em algo real, apesar das dificuldades no mundo real. Confira o trailer:

"On Body and Soul" (título internacional)é tecnicamente muito bem realizado e tem uma história até que interessante - embora, tenha uma ou outra cena mais chocante envolvendo animais, porém apresentada de forma gratuita - muito mais para chocar do que para mover a história para frente. Até acho que faz algum sentido no contexto cruel daquele universo, mas, admito, marca demais!

Analisando isoladamente é um filme que te prende e te instiga assim que a trama central é apresentada. Os atores húngaros estão muito bem, com destaque para o Géza Morcsányi. Já a Alexandra Borbély, mais experiente, achei um pouco fora do tom, quase esteriotipada, mas como seu personagem pedia isso, certamente foi uma escolha justificada pelo contexto - penso que se não estivesse tão robótica ficaria mais fácil criar uma empatia. O fato é que em nenhum momento torci ou me preocupei com ela, talvez por isso não tenha gostado tanto do filme quanto gostei de "Loveless" e "The Square" que também estão na disputa pelo Oscar.

A diretora, Ildikó Enyedi, já havia ganho a Camera de Ouro em Cannes em 89 e vale a pena conhecer o trabalho dela. Ela não inventa, faz um cinema mais clássico e com muita qualidade. Gostei!

No geral, o filme é bacana. O cinema húngaro foi um novidade para mim, mas eu gostei do que vi e por isso indico tranquilamente!

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Corra

"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo recente de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

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"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo recente de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

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Distrito 9

Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".

A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:

Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.

Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.

Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.

Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!

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Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".

A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:

Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.

Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.

Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.

Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!

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Dois Dias, Uma Noite

Você aceitaria mil euros se soubesse que esse bônus resultaria no desligamento de uma colega de trabalho, que precisa do salário para ajudar sua família? Sim, eu sei que a resposta pode até parecer simples se olharmos pela perspectiva do "politicamente correto", no entanto a vida não é  "politicamente correta"! "Dois Dias, Uma Noite", filme que levou sua protagonista, Marion Cotillard, para a disputa do Oscar de "Melhor Atriz" em 2015 e que ganhou mais de quarenta e um prêmios em festivais ao redor do globo, é um verdadeiro mergulho pela complexidade das relações humanas. Dirigido pelos mestres belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne (de "A Garota Desconhecida"), este filme transcende as fronteiras do drama social, adentrando profundamente na alma de quem luta por alguma dignidade quando o único caminho disponível para a sobrevivência é o trabalho. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e aclamado pela crítica, essa é uma narrativa que ecoa na consciência da audiência, despertando reflexões interessantes sobre solidariedade, ética e o poder da resiliência. Se você busca um filme com uma identidade mais autoral, envolvente (mesmo dentro de uma certa cadência) e capaz explorar os cantos mais sombrios da condição humana, eu diria que esse play é fundamental!

Em "Deux Jours, Une Nuit" (no original) conhecemos Sandra (Marion Cotillard), uma operária de fábrica que ao retornar de uma licença médica descobre que seus colegas optaram por receber um bônus de mil euros em troca de sua demissão. Desesperada, Sandra tem apenas dois dias e uma noite para convencer seus colegas a desistirem do bônus para que ela mantenha seu emprego e assim consiga sustentar sua família com dignidade. Confira o trailer:

Com essa premissa aparentemente simples, a narrativa constrói um cenário perfeito para uma jornada emocional e ética muito provocativa. O mérito disso está na maneira habilidosa como os Dardenne desafiam nossas noções preconcebidas de certo e errado, nos deixando um questionamento legítimo sobre nossas possíveis escolhas e compromissos perante uma situação tão delicada. Veja, a câmera nunca se afasta de Sandra em sua odisseia, capturando cada nuance de sua luta interior e o como ela precisa lidar, olho no olho, com seus colegas de trabalho - embora em um primeiro olhar possa parecer repetitiva, essa estratégia narrativa nada mais é que um inteligente recorte social das relações humanas sob diferentes níveis de entendimento. 

A escolha por uma abordagem mais realista, minimalista talvez, só amplifica a autenticidade da história, criando conexão imediata com a protagonista de uma forma visceral - os dilemas enfrentados por ela realmente nos machucam, ou seja, acompanhar Sandra lidando com aquela dor não é uma jornada das mais tranquilas. É aí que entra a performance magistral de Cotillard - ela adiciona uma série de camadas, com uma profundidade emocional impressionante, tornando sua personagem uma figura universalmente reconhecível tanto em sua vulnerabilidade quanto em sua determinação. Nesse sentido, a cinematografia de Alain Marcoen (de "Rosetta") soa até despojada, enquanto a trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera emocional do filme - repare como essa combinação cria sensações tão particulares perante o cotidiano implacável de Sandra e nos mantém interessados em saber como tudo vai acabar.

Sem julgamentos morais simplistas, "Dois Dias, Uma Noite" é um testemunho poderoso sobre a resiliência e a capacidade (ou a falta) de compaixão. É uma jornada cinematográfica que ressoa muito além da tela, deixando uma discussão pertinente sobre a estrutura moral e ética do ser humano, onde uma situação de medo (que certamente já tomou conta de todo trabalhador ao menos uma vez na vida, especialmente se ele tem uma família para sustentar) se transforma em um lembrete comovente sobre a fragilidade e a falta de responsabilidade que temos como sociedade "saudável".

Vale muito o seu play!

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Você aceitaria mil euros se soubesse que esse bônus resultaria no desligamento de uma colega de trabalho, que precisa do salário para ajudar sua família? Sim, eu sei que a resposta pode até parecer simples se olharmos pela perspectiva do "politicamente correto", no entanto a vida não é  "politicamente correta"! "Dois Dias, Uma Noite", filme que levou sua protagonista, Marion Cotillard, para a disputa do Oscar de "Melhor Atriz" em 2015 e que ganhou mais de quarenta e um prêmios em festivais ao redor do globo, é um verdadeiro mergulho pela complexidade das relações humanas. Dirigido pelos mestres belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne (de "A Garota Desconhecida"), este filme transcende as fronteiras do drama social, adentrando profundamente na alma de quem luta por alguma dignidade quando o único caminho disponível para a sobrevivência é o trabalho. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e aclamado pela crítica, essa é uma narrativa que ecoa na consciência da audiência, despertando reflexões interessantes sobre solidariedade, ética e o poder da resiliência. Se você busca um filme com uma identidade mais autoral, envolvente (mesmo dentro de uma certa cadência) e capaz explorar os cantos mais sombrios da condição humana, eu diria que esse play é fundamental!

Em "Deux Jours, Une Nuit" (no original) conhecemos Sandra (Marion Cotillard), uma operária de fábrica que ao retornar de uma licença médica descobre que seus colegas optaram por receber um bônus de mil euros em troca de sua demissão. Desesperada, Sandra tem apenas dois dias e uma noite para convencer seus colegas a desistirem do bônus para que ela mantenha seu emprego e assim consiga sustentar sua família com dignidade. Confira o trailer:

Com essa premissa aparentemente simples, a narrativa constrói um cenário perfeito para uma jornada emocional e ética muito provocativa. O mérito disso está na maneira habilidosa como os Dardenne desafiam nossas noções preconcebidas de certo e errado, nos deixando um questionamento legítimo sobre nossas possíveis escolhas e compromissos perante uma situação tão delicada. Veja, a câmera nunca se afasta de Sandra em sua odisseia, capturando cada nuance de sua luta interior e o como ela precisa lidar, olho no olho, com seus colegas de trabalho - embora em um primeiro olhar possa parecer repetitiva, essa estratégia narrativa nada mais é que um inteligente recorte social das relações humanas sob diferentes níveis de entendimento. 

A escolha por uma abordagem mais realista, minimalista talvez, só amplifica a autenticidade da história, criando conexão imediata com a protagonista de uma forma visceral - os dilemas enfrentados por ela realmente nos machucam, ou seja, acompanhar Sandra lidando com aquela dor não é uma jornada das mais tranquilas. É aí que entra a performance magistral de Cotillard - ela adiciona uma série de camadas, com uma profundidade emocional impressionante, tornando sua personagem uma figura universalmente reconhecível tanto em sua vulnerabilidade quanto em sua determinação. Nesse sentido, a cinematografia de Alain Marcoen (de "Rosetta") soa até despojada, enquanto a trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera emocional do filme - repare como essa combinação cria sensações tão particulares perante o cotidiano implacável de Sandra e nos mantém interessados em saber como tudo vai acabar.

Sem julgamentos morais simplistas, "Dois Dias, Uma Noite" é um testemunho poderoso sobre a resiliência e a capacidade (ou a falta) de compaixão. É uma jornada cinematográfica que ressoa muito além da tela, deixando uma discussão pertinente sobre a estrutura moral e ética do ser humano, onde uma situação de medo (que certamente já tomou conta de todo trabalhador ao menos uma vez na vida, especialmente se ele tem uma família para sustentar) se transforma em um lembrete comovente sobre a fragilidade e a falta de responsabilidade que temos como sociedade "saudável".

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Dois Papas

Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) eAnthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!

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Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) eAnthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!

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Dor e Glória

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

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Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

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Drive My Car

Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!

Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:

Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.

A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação. 

O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!

Imperdível!

Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!

Assista Agora

Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!

Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:

Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.

A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação. 

O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!

Imperdível!

Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!

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