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I Wanna Dance with Somebody

Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

Assista Agora

Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

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Icarus

Enquanto Bryan Fogel se propunha a documentar uma experiência pessoal para entender os efeitos do doping na performance de um atleta, no caso de um ciclista, uma reunião casual com um cientista acabou transformando completamente seu projeto: ele começa a descobrir uma verdade extremamente inconveniente sobre o sistema de doping no esporte russo. Confira o trailer (em inglês):

O vencedor do Oscar de melhor Documentário do Oscar de 2018 era pra ser uma espécie de "Super Size Me" do doping e virou uma das maiores revelações conspiratórias do esporte mundial de todos os tempos - se não a maior! Por muita sorte do diretor (e a história é inacreditável), o documentário mostra como a Rússia vinha burlando os exames anti-doping em competições olímpicas há anos - com 50% (dados reais) dos atletas que disputaram as Olimpíadas de Londres competindo a base de protocolos proibidos. Ainda mais surpreendente é a atuação do Governo (leia-se Vladimir Putin) na troca das amostras de urina dos atletas na Olimpíadas de Inverno em Sochi 2014. 

O triste é, mais uma vez, comprovar que "o crime compensa" - pelo menos aos olhos da Política!!! "Ícaro" é um grande documentário, que usou o "acaso" a seu favor e foi capaz de construir um storytelling dinâmico e surpreendente, mostrando que as as melhores histórias estão por aí, mas ta estar disposto a descobri-las! Olha, esse documentário é realmente imperdível! Vale muito o seu play!!!

Assista Agora

Enquanto Bryan Fogel se propunha a documentar uma experiência pessoal para entender os efeitos do doping na performance de um atleta, no caso de um ciclista, uma reunião casual com um cientista acabou transformando completamente seu projeto: ele começa a descobrir uma verdade extremamente inconveniente sobre o sistema de doping no esporte russo. Confira o trailer (em inglês):

O vencedor do Oscar de melhor Documentário do Oscar de 2018 era pra ser uma espécie de "Super Size Me" do doping e virou uma das maiores revelações conspiratórias do esporte mundial de todos os tempos - se não a maior! Por muita sorte do diretor (e a história é inacreditável), o documentário mostra como a Rússia vinha burlando os exames anti-doping em competições olímpicas há anos - com 50% (dados reais) dos atletas que disputaram as Olimpíadas de Londres competindo a base de protocolos proibidos. Ainda mais surpreendente é a atuação do Governo (leia-se Vladimir Putin) na troca das amostras de urina dos atletas na Olimpíadas de Inverno em Sochi 2014. 

O triste é, mais uma vez, comprovar que "o crime compensa" - pelo menos aos olhos da Política!!! "Ícaro" é um grande documentário, que usou o "acaso" a seu favor e foi capaz de construir um storytelling dinâmico e surpreendente, mostrando que as as melhores histórias estão por aí, mas ta estar disposto a descobri-las! Olha, esse documentário é realmente imperdível! Vale muito o seu play!!!

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Incêndios

“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.

Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"! 

Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.

“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!

Vale muito a pena!

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“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.

Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"! 

Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.

“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!

Vale muito a pena!

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Indústria Americana

"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.

No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:

É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?

É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".

Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.

Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!

Vale muito a pena!

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"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.

No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:

É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?

É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".

Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.

Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!

Vale muito a pena!

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Infiltrado na Klan

Infiltrado na Klan

"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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Interestelar

"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!

Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):

Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.

O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!

No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!

Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!

Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.

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"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!

Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):

Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.

O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!

No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!

Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!

Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.

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Intocáveis

Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!

Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:

"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!  

Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.

"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.

Vale muito o seu play!

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Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!

Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:

"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!  

Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.

"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.

Vale muito o seu play!

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Jojo Rabbit

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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Judas e o Messias Negro

Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Judy - Muito além do Arco-Íris

"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.

O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!

Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...

A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!

"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!

Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

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"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.

O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!

Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...

A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!

"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!

Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

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Juno

"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).

Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:

Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!

A trilha sonora é outro show:  "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!

Vale muito a pena!

Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".

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"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).

Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:

Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!

A trilha sonora é outro show:  "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!

Vale muito a pena!

Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".

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King Richard

Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

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Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

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Klaus

Certamente um dos maiores acertos da Netflix esse ano. "Klaus" é sua primeira animação original em parceria com o The SPA Studios - e olha, não deixa nada a desejar para nenhum outro Estúdio. Mesmo a animação sendo em 2D, com um conceito visual muito usado pela Disney, o filme soube equilibrar muito bem a arte dos traços com um roteiro redondinho. "Klaus" mostra a jornada de Jesper que, por ser um filho muito mimado e que não valoriza o trabalho, é transferido para cuidar de um negócio da família: um Correio na distante Smeerensburg, uma pequena cidade no Círculo Polar Ártico que vive em pé de guerra - baseado em uma tradição histórica de rivalidade entre os Krum (cabelos pretos) e os Ellingboe (cabelos ruivos). Sabendo que só poderia retornar ao conforto do lar após entregar 6.000 cartas, Jesper precisa usar a criatividade (e a ajuda do velho lenhador Klaus) para cumprir sua missão como carteiro e como ser humano - é aí que a Animação vai ganhando força, pois o roteiro usa de situações inusitadas dos dois personagens para contar como cada signo do natal foi criado. É muito interessante e criativo! Além de uma mensagem belíssima, o filme é dinâmico, bonito, inteligente e muito gostoso de assistir! Filme para a família, sem a menor dúvida! Imperdível!

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Certamente um dos maiores acertos da Netflix esse ano. "Klaus" é sua primeira animação original em parceria com o The SPA Studios - e olha, não deixa nada a desejar para nenhum outro Estúdio. Mesmo a animação sendo em 2D, com um conceito visual muito usado pela Disney, o filme soube equilibrar muito bem a arte dos traços com um roteiro redondinho. "Klaus" mostra a jornada de Jesper que, por ser um filho muito mimado e que não valoriza o trabalho, é transferido para cuidar de um negócio da família: um Correio na distante Smeerensburg, uma pequena cidade no Círculo Polar Ártico que vive em pé de guerra - baseado em uma tradição histórica de rivalidade entre os Krum (cabelos pretos) e os Ellingboe (cabelos ruivos). Sabendo que só poderia retornar ao conforto do lar após entregar 6.000 cartas, Jesper precisa usar a criatividade (e a ajuda do velho lenhador Klaus) para cumprir sua missão como carteiro e como ser humano - é aí que a Animação vai ganhando força, pois o roteiro usa de situações inusitadas dos dois personagens para contar como cada signo do natal foi criado. É muito interessante e criativo! Além de uma mensagem belíssima, o filme é dinâmico, bonito, inteligente e muito gostoso de assistir! Filme para a família, sem a menor dúvida! Imperdível!

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La La Land

A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa! 

O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:

Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!

Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").

Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.

Vale muito o seu play!

Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!

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A vida é feita de escolhas e talvez o maior mérito do premiado "La La Land" seja, justamente, criar uma conexão entre os nossos sonhos e objetivos pessoais (e profissionais), com as renúncias que temos que fazer para alcança-los - mesmo que isso doa no coração, mesmo que não tenhamos a certeza que fizemos a escolha certa! 

O filme nos conta a história de Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), uma atriz no início de sua carreira e um pianista que deseja abrir sua própria casa de jazz, para salvar o gênero musical de uma cidade que idolatra tudo, mas não valoriza nada. Se conhecendo sob circunstâncias inusitadas, eles acabam se apaixonando e acompanhamos seu relacionamento e suas escolhas através das mudanças de estação do ano – de Inverno a Inverno. Confira o trailer:

Quem assiste a primeira cena do filme pode até ter um impressão errada do que virá pela frente, mas vale a reflexão: aqui estamos falando de uma impressionante sequência em uma rodovia de Los Angeles. São centenas de carros em um dos engarrafamentos normais da região, com cada pessoa isolada em seu mundo, escutando seu tipo de música. Aos poucos, elas começam a deixar os veículos e cantar - são os aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de fazer sucesso em Hollywood. Tanto a coreografia quanto o movimento de câmera criam uma dinâmica cinematográfica que funciona muito mais como uma homenagem aos clássicos musicais de outros tempos do que como uma cena imprescindível para o entendimento da trama - mas e daí? É lindo, porém o filme não será sobre isso - pelo menos não em sua "forma"!

Durante mais de duas horas, você vai assistir uma ou outra intervenção musical (até mais durante o prólogo para estabelecer o conceito narrativo). O fato é que o drama vai tomando conta do filme, priorizando um "conteúdo" que rapidamente dialoga com a audiência, entregando uma história que todos nós já vivemos, independente da área que escolhemos atuar ou quem não escolhemos amar – o que é até irônico, pois ninguém, de fato, tem essa escolha. Por outro lado, a escolha do talentoso diretor Damien Chazelle (do elogiado e inesquecível "Whiplash") em trazer para o seu elenco Ryan Gosling e Emma Stone, foi essencial. Ela está está encantadora, especialmente porque percebemos seu esforço para cantar e dançar - essa metáfora proposital de Chazelle é genial, pois só vamos conseguir nossas maiores conquistas quando sairmos da zona de conforto e Stone, aliás, provou essa tese ganhando o Oscar de Melhor Atriz pelo papel em 2017! Gosling segue a mesma linha, ele mal canta, é duro dançando, mas convence muito como pianista e como personagem que traz muito da introspecção (mérito dele em todos os sentidos) de Dean de "Namorados para Sempre"(ou "Blue Valentine").

Tecnicamente perfeito e artisticamente impressionante, "La La Land" é um filme que vai exigir certa sensibilidade para entender o seu subtexto. Não que seja um filme complicado ou "cabeça" demais, mas é nítido que ao mesmo tempo que se posiciona como uma homenagem ao cinema e ao jazz, ele também traz uma mensagem otimista sobre perseguir seus sonhos, independente do seu preço. Como em "Tick, Tick... Boom!" estamos expostos aos tropeços, as lágrimas deixadas pelo caminho e as pessoas que o destino nos apresenta na hora errada. Com um astral bacana e até com certa leveza, esse incrível roteiro, também de Chazelle, nos mostra a realidade, mesmo que enquadrada na fantasia e nas cores de um belo musical.

Vale muito o seu play!

Up-date: "La La Land" foi indicado a ganhou em quatorze categorias no Oscar 2017. Levando em seis categorias - inclusive dando a Damien Chazelle a honra de ser o diretor mais jovem da história (até ali) a ganhar o prêmio!

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Lady Bird

"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:

O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.

O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!

Vale muito a pena!

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"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:

O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.

O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!

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Les Miserables

"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!

Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer: 

Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!

O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!

Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!

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"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!

Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer: 

Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!

O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!

Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!

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Leviathan

Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.

Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).

A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.

Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".

Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!

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Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.

Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).

A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.

Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".

Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!

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Licorice Pizza

Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!

Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:

"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.

Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!

"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.

Vale muito a pena!

Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original! 

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Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!

Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:

"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.

Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!

"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.

Vale muito a pena!

Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original! 

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Lion

Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.

Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:

"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!

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Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.

Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:

"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!

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Livre

Esse, definitivamente, é um  filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!

"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:

Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.

A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.

Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.

Vale muito o seu play!

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Esse, definitivamente, é um  filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!

"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:

Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.

A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.

Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.

Vale muito o seu play!

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