Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
Esse, definitivamente, é um filme que merece ser visto e sentido! "Livre", dirigido pelo saudoso (e para mim um dos melhores de sua geração) Jean-Marc Vallée (de "Big Little Lies") é um verdadeiro convite para uma jornada emocional intensa, profunda e cheia de significados, impulsionado pela brilhante atuação de Reese Witherspoon. O filme é baseado em uma história real, adaptado do best-seller homônimo de Cheryl Strayed que conquistou, merecidamente, o reconhecimento em diversos festivais pelo mundo na temporada 2014/15 - incluindo duas indicações ao Oscar 2015: de Melhor Atriz para Witherspoon e de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. "Wild" (no original) não será uma jornada fácil e vai se conectar especialmente com o público feminino por explorar a relação intima de uma personagem incrível, mas humana em seus erros e acertos - eu diria que aqui temos, dada as devidas proporções, uma mistura de "Na Natureza Selvagem" com "Comer, Rezar, Amar". Imperdível!
"Livre" nos apresenta Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que decide enfrentar seus demônios internos e os desafios da vida ao embarcar em uma jornada de mais de mil quilômetros pela Pacific Crest Trail, uma trilha que se estende desde a fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. Com sua vida desmoronando após tragédias pessoais e escolhas autodestrutivas, Cheryl busca redenção e renascimento através desse desafio física e espiritual. Confira o trailer:
Cheio de poesia, como é possível perceber nesse belíssimo trailer, "Livre" é o tipo do filme que transcende as barreiras do cinema convencional, capturando não apenas a paisagem imponente da Pacific Crest Trail, brilhantemente enquadrada pelo canadense Yves Bélanger (de "Objetos Cortantes"), mas também a relação intima do auto-conhecimento de Cheryl. A fotografia de Bélanger de fato nos transporta para as vastidões selvagens da natureza, criando uma simbiose entre a jornada física da protagonista e sua necessidade de se reencontrar como ser humano. Para isso, Vallée faz o que sempre soube fazer de melhor: usar a sensibilidade do movimento de câmera, da lente correta, do tom exato de atuação e ainda de uma trilha sonora magnifica. Reparem como tudo se complementa perfeitamente, onde cada momento é intensificado pelas emoções, criando uma espécie de elo sentimental extremamente poderoso.
A performance de Reese Witherspoon é um verdadeiro show - acho até que foi aqui que ela se consolidou depois do Oscar por "Johnny & June". Witherspoon mergulha nas complexidades de Cheryl com uma entrega visceral, transmitindo a vulnerabilidade e a força da personagem de maneira igualmente magistral. Conduzida por Vallée, a atriz equilibra a introspecção do presente com a ação do passado a partir de flashbacks cirúrgicos, mais uma vez brilhantemente montados pelo próprio diretor - sim, foi Vallée que editou o filme com o pseudônimo de John Mac McMurphy. Aqui cabe outro elogio: a construção cuidadosa dos personagens secundários, interpretados por Laura Dern e Thomas Sadoski, adiciona camadas à narrativa, enriquecendo a nossa experiência - a interação entre Cheryl com os personagens Bobbi e Paul, respectivamente, oferece momentos inesquecíveis.
Com roteiro de Nick Hornby (duas vezes indicado ao Oscar, última por "Brooklyn"), "Livre" é uma jornada catártica que deixa marcas permanentes, no entanto sua narrativa pode soar cadenciada demais para alguns. É impossível considerar isso um problema já que a combinação de elementos técnicos e artísticos impecáveis, performances excepcionais e uma história poderosa fazem deste filme uma pérola contemporânea. Se você for um apaixonado pela natureza, que entende a importância da busca espiritual e tem a sensibilidade de olhar para o outro com empatia, "Livre" será uma experiência cinematográfica que você não deve ignorar. Prepare-se para enfrentar lugares emocionais inexplorados que, ao final, servirá como uma espécie de compreensão mais profunda do significado da resiliência e do poder transformador da autenticidade.
Vale muito o seu play!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
"Maestro", produção original da Netflix, é o "Mank" de 2020 ou o "Roma" de 2018, ou seja, se você tem nessas duas referências ótimas experiências como audiência, o seu play é obrigatório, caso contrário, é muito provável que você não se conecte com o filme dirigido pelo Bradley Cooper, que se apropria de uma forma mais cadenciada para explorar as nuances de uma complexa relação entre o protagonista com sua esposa - e não, "Maestro" não tem absolutamente nada a ver com a levada mais popde "Nasce uma Estrela". Aqui, Cooper é muito mais autoral na sua proposta narrativa e eu até completaria: mais maduro como diretor em todos os sentidos. Dito isso é preciso alinhar outra expectativa: não se trata de uma cinebiografia clássica onde o foco é a carreira de um gênio como Leonard Bernstein; o recorte profissional existe, mas é apenas o pano de fundo para discutir sua bissexualidade e como isso impactou em sua família.
Para quem não sabe, Bernstein (Bradley Cooper) é um compositor, músico e pianista responsável por trilhas sonoras de musicais aclamados da Broadway, como "West Side Story", "Peter Pan" e "Candice". Como maestro (daí o nome do filme), foi o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York durante 18 anos e se consagrou como um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos em sua época. Mas é na relação com a atriz de TV e teatro Felicia Montealegre (Carey Mulligan,), seu grande amor, que suas escolhas passam a ser discutidas em um tumultuado contexto que durou mais de 25 anos. Confira o trailer:
Em um projeto que, curiosamente, primeiro seria dirigida porSteven Spielberg e, depois, porMartin Scorsese, é de se elogiar a performance criativa de Bradley Cooper como diretor. Seu trabalho é impecável - é impressionante como ele consegue capturar a essência de Bernstein, tanto como artista quanto como homem, além de estabelecer uma conexão imediata com Felicia, equilibrando a jornada de ascensão do músico com o drama de relações entre um casal que notavelmente se ama, mas vive pautado pela insegurança. Reparem como Cooper pontua as escolhas do protagonista com signos que remetem para uma busca incansável pelo prazer - Bernstein está sempre com um cigarro ou com um drink na mão (e não raramente, com os dois). Essa construção de camadas reflete na incrível performance do diretor também como ator - digno de prêmios!
Mulligan que inclusive tem o mérito do first billing, ou seja, seu nome aparece antes que o do próprio Cooper na lista do elenco, é a figura marcante do filme. Mesmo mas cenas musicais emocionantes ou nos concertos grandiosos onde Bernstein parece estar iluminado, a presença de Felicia é quase onipresente, dada a força dramática que a atriz conseguiu entregar para sua personagem. Cooper é cirúrgico em reproduzir os maneirismos de Bernstein (aliás que maquiagem mais genial é essa?), mas como Mulligan, não tem como comparar - a cena onde Felicia, já doente, recebe uma visita fora de hora ou quando ela cobra do marido mais discrição para que sua bissexualidade não impacte na vida da filha, olha, é de se aplaudir de pé.
"Maestro" tem uma atmosfera vibrante e emocionante que captura a magia da música, ao mesmo tempo em que explora com muita sensibilidade e respeito as camadas mais íntimas de cada um dos personagens. Essa proposta de Cooper só funciona graças a forma como ele brinca com nossos sentidos através da imagem e do som. Na fotografia do Matthew Libatique (o mesmo de "Cisne Negro") o preto e branco de alto contraste pontua o começo da vida profissional de Bernstein e seu inicio de relacionamento com Felicia; já o granulado das cores vivas fazem o mesmo pelo libertário anos 70, quando os problemas, ainda discretos, começam a aparecer e a incomodar. Na trilha sonora, o que encontramos é um Leonard Bernstein multifacetado, mas igualmente brilhante em sua capacidade de fazer arte com alma. O fato é que "Maestro" é um filme com personalidade, feito para ganhar muitos prêmios, impecável na sua produção e profundo na sua proposta, mas que vai exigir uma certa predileção por filmes mais independentes e isso nem todos vão comprar.
Para nós, imperdível!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.
Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:
Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane.
Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.
"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.
Imperdível!
Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".
Vale seu play!
"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.
Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:
Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane.
Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.
"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.
Imperdível!
Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".
Vale seu play!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Nada de Novo no Front" pode ser considerado, tranquilamente, um dos melhores filmes de 2022 - da mesma forma como também deve ser classificado como um dos mais violentos e impactantes visualmente - ele é, de fato, muito pesado! Saiba que após o "play" você estará diante de uma jornada de cerca de duas horas e meia, muito dura, visceral, indigesta e extremamente tocante - eu diria que essa produção da Netflix é praticamente um complemento ou um outro ponto de vista do que assistimos no brilhante "1917"!
"Nada de Novo no Front" conta a emocionante história de um jovem alemão, Paul Baumer (Felix Kammerer), e de seus amigos Albert Kopp (Aaron Hilmer) e Franz Muller (Moritz Klaus), durante a Primeira Guerra Mundial. Lutando pelas próprias vidas, Paul e seus colegas sentem como a euforia inicial, marcada por uma onda de fervor patriótico, se transforma em desespero e medo quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Confira o trailer:
"Im Westen nichts Neues" (no original) é baseado no livro de Erich Maria Remarque publicado em 1929. Já em 1930, a primeira versão de "Nada de Novo no Front", dirigida por Lewis Milestone, venceu o Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Roteiro", "Melhor Fotografia" e "Melhor Direção". Chancelado por uma obra premiada e inegavelmente potente, o talentoso diretor alemão Edward Berger (vencedor do Emmy em 2018 por "Patrick Melrose" e do Urso de Ouro em Berlin por "Jack", em 2014) reconstrói uma atmosfera da primeira guerra tão realista quanto impressionante, se apropriando de uma dinâmica narrativa muito envolvente que nem vemos o tempo passar!
Alguns elementos saltam aos olhos: o elenco é o primeiro deles. É tocante como todos os atores (protagonistas e coadjuvantes) passam de uma maneira muito autêntica, todo o horror de estar em uma situação indigna e desprovida de qualquer humanidade, seja durante as batalhas, seja nos momentos em que buscam alguma esperança de um dia voltar para casa, vivos - aliás, estar vivo é um dos gatilhos narrativos que mais vai te provocar durante o filme. A partir de uma bela, mas densa, fotografia do inglês James Friend (vencedor do BAFTA por "Rillington Place"), somos expostos ao que de pior a guerra pode representar e muito habilmente, Berger não suaviza em nenhum momento, deixando claro que diferença entre a vida e morte passa por um mísero milésimo de segundo (ou qualquer ação mal pensada).
"Nada de Novo no Front" foi construído de uma forma que nos tira o fôlego (mesmo com raros momentos de alívios narrativos) - as situações são, de fato, angustiantes e diversas vezes claustrofóbicas, mas é na capacidade humana de representar o medo através do olhar, que mais somos tocados. É interessante como o roteiro (também escrito por Edward Berger) faz paralelos entre o caos e o luxo, entre o horror e a tranquilidade, entre o gabinete politico e o campo de batalha. Tudo é tão bem encaixado pela edição do Sven Budelmann (de "Dark") que temos uma noção exata de como o "bastidor" é tão cruel quanto o "palco", e vice-versa. Reparem como a trilha sonora conecta esses dois mundos - ela parece rasgar a narrativa, cortando a ação com sons e notas completamente desconcertantes que incomodam demais.
Olha, "Nada de Novo no Front" vale muito a pena, mas saiba que não será uma jornada das mais fáceis!
Up-date: o Filme ganhou em quatro categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme Internacional!
"Nada de Novo no Front" pode ser considerado, tranquilamente, um dos melhores filmes de 2022 - da mesma forma como também deve ser classificado como um dos mais violentos e impactantes visualmente - ele é, de fato, muito pesado! Saiba que após o "play" você estará diante de uma jornada de cerca de duas horas e meia, muito dura, visceral, indigesta e extremamente tocante - eu diria que essa produção da Netflix é praticamente um complemento ou um outro ponto de vista do que assistimos no brilhante "1917"!
"Nada de Novo no Front" conta a emocionante história de um jovem alemão, Paul Baumer (Felix Kammerer), e de seus amigos Albert Kopp (Aaron Hilmer) e Franz Muller (Moritz Klaus), durante a Primeira Guerra Mundial. Lutando pelas próprias vidas, Paul e seus colegas sentem como a euforia inicial, marcada por uma onda de fervor patriótico, se transforma em desespero e medo quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Confira o trailer:
"Im Westen nichts Neues" (no original) é baseado no livro de Erich Maria Remarque publicado em 1929. Já em 1930, a primeira versão de "Nada de Novo no Front", dirigida por Lewis Milestone, venceu o Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Roteiro", "Melhor Fotografia" e "Melhor Direção". Chancelado por uma obra premiada e inegavelmente potente, o talentoso diretor alemão Edward Berger (vencedor do Emmy em 2018 por "Patrick Melrose" e do Urso de Ouro em Berlin por "Jack", em 2014) reconstrói uma atmosfera da primeira guerra tão realista quanto impressionante, se apropriando de uma dinâmica narrativa muito envolvente que nem vemos o tempo passar!
Alguns elementos saltam aos olhos: o elenco é o primeiro deles. É tocante como todos os atores (protagonistas e coadjuvantes) passam de uma maneira muito autêntica, todo o horror de estar em uma situação indigna e desprovida de qualquer humanidade, seja durante as batalhas, seja nos momentos em que buscam alguma esperança de um dia voltar para casa, vivos - aliás, estar vivo é um dos gatilhos narrativos que mais vai te provocar durante o filme. A partir de uma bela, mas densa, fotografia do inglês James Friend (vencedor do BAFTA por "Rillington Place"), somos expostos ao que de pior a guerra pode representar e muito habilmente, Berger não suaviza em nenhum momento, deixando claro que diferença entre a vida e morte passa por um mísero milésimo de segundo (ou qualquer ação mal pensada).
"Nada de Novo no Front" foi construído de uma forma que nos tira o fôlego (mesmo com raros momentos de alívios narrativos) - as situações são, de fato, angustiantes e diversas vezes claustrofóbicas, mas é na capacidade humana de representar o medo através do olhar, que mais somos tocados. É interessante como o roteiro (também escrito por Edward Berger) faz paralelos entre o caos e o luxo, entre o horror e a tranquilidade, entre o gabinete politico e o campo de batalha. Tudo é tão bem encaixado pela edição do Sven Budelmann (de "Dark") que temos uma noção exata de como o "bastidor" é tão cruel quanto o "palco", e vice-versa. Reparem como a trilha sonora conecta esses dois mundos - ela parece rasgar a narrativa, cortando a ação com sons e notas completamente desconcertantes que incomodam demais.
Olha, "Nada de Novo no Front" vale muito a pena, mas saiba que não será uma jornada das mais fáceis!
Up-date: o Filme ganhou em quatro categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme Internacional!
"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.
A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:
Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.
Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.
Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.
Vale muito seu play!
"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.
A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:
Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.
Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.
Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.
Vale muito seu play!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia.
Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):
"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.
E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.
Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!
Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!
Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!
Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia.
Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):
"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.
E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.
Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!
Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!
Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!
"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!
Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:
CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.
Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.
Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.
"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.
Vale muito a pena!
Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!
"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!
Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:
CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.
Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.
Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.
"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.
Vale muito a pena!
Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!
"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!
Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.
Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:
A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.
O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem.
"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.
Vale muito o seu play.
Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.
"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!
Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.
Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:
A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.
O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem.
"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.
Vale muito o seu play.
Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.
Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!
"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:
A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.
Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!
Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.
Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!
Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!
Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!
"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:
A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.
Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!
Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.
Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!
Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!