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Estou pensando em acabar com tudo

"Estou pensando em acabar com tudo" é um filmaço, daqueles que dão nó na nossa cabeça, com a mesma força que nos provocam a refletir em cada cena, em cada diálogo e, principalmente, em cada construção alegórica que nos faz viajar aos momentos mais íntimos que guardamos nos cantos mais profundos da nossa alma! Sim, pode parecer poético demais, mas, de fato, esse filme é semiótica pura - e aqui cabe uma observação: "Estou pensando em acabar com tudo" é o novo filme do Charlie Kaufman, o cara por trás de roteiros pouco convencionais como "Quero Ser John Malkovich"  de 1999, "Adaptação" de 2002 e do inesquecível "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de 2004, ou seja, se você não se apaixonou por nenhum deles, nem dê o play, pois certamente você vai querer me matar depois de duas horas de filme!

O filme adapta o romance de estreia do canadense Iain Reid, e conta a história de uma jovem (cujo personagem nem nome tem, ou melhor, cada hora a chamam por um nome, reparem; e é incrivelmente bem interpretado pela Jessie Buckley) que depois de seis ou sete semanas de relação com Jake (Jesse Plemons) já cogita seriamente terminar o namoro, mas ainda assim aceita viajar no meio de uma tempestade de neve para conhecer a fazenda dos sogros. O curioso é que a todo momento, a jovem frisa que precisa retornar no dia seguinte e isso diz muito sobre o filme como vamos explicar adiante, mas antes confira essa maravilha de trailer:

Já é possível imaginar que "Estou pensando em acabar com tudo" vai dividir opiniões, mais ou menos como aconteceu com "Mother!" do Aronofsky, e que se não for devidamente avisado, a reclamação sobre a perda de tempo será enorme; porém, o que posso adiantar, sem prejudicar a ótima experiência que é assistir o filme, é que essa não linearidade do tempo que vimos no trailer e como Lucy (vamos assumir esse nome para a protagonista) se comporta ao se sentir presa nele, vai ditar o entendimento de um complexo e cuidadoso roteiro! As idiossincrasias da personagem ao se relacionar com o tempo e como ela percebe sua passagem, com as decisões ruins que tomou ou com relacionamentos nocivos que teve na vida, são sensacionais! Olha, a partir do segundo ato, se você estiver imerso na história, tenho certeza que, muitas vezes, você vai se pegar pensando em algumas passagens marcantes da sua vida e se isso acontecer, o filme cumpriu o seu papel! Pode dar o "play" sem medo de errar!

O primeiro elemento que salta aos olhos de quem assiste "Estou pensando em acabar com tudo", sem dúvida, é a direção de arte (e já chega forte para lutar por uma indicação no Oscar 2021) - é um lindo trabalho, tanto da Molly Hughes (no desenho de produção) quando do Gonzalo Cordoba (na arte em si). O interessante, e aqui vale sua atenção, é como o cenário tem papel fundamental na construção do conceito visual imposto pelo Charlie Kaufman. Kaufman é um excelente roteirista, mas trás referências de outros diretores como Michel Gondry e Spike Jonze, para fortalecer sua identidade - os movimentos são, em grande parte, comedidos, tanto horizontalmente, quanto verticalmente, e isso impacta na fotografia do diretor Lukasz Zal (do lindo "Ida"), principalmente na escolha de trabalhar em 4:3 (aquele aspecto quadrado das TVs antigas) onde, mesmo com duas colunas laterais espremendo a cena, vemos muitos planos abertos, com grande angulares que transformam a sensação de vazio e trazem incômodo para o ambiente - nos detalhes da decoração às cores que compõem o cenário.

Quando temos um roteiro tão cheio de camadas, baseado em tantas alegorias, todos os detalhes das cenas ajudam a nos contar a história, então reparem no desenho de som e como os ruídos nos incomodam tanto, mesmo que inconscientemente: o som do limpador de parabrisa ou o cachorro que se balança como se estivesse eternamente molhado (o trailer já usa desse artificio), são bons exemplos. Como várias coisas estranhas acontecem a todo momento, o filme acaba brincando com nossa imaginação e criatividade, por isso vou citar algumas para que você preste mais atenção durante o filme e assim melhore sua percepção sobre o universo que  Kaufman criou: quando Lucy e Jake decidem parar em uma sorveteria, ela conversa com uma "versão" mais nova de si mesma, mesmo sendo interpretada por outra atriz - essa ficha, quando cai, nos ajuda a entender muito do que já aconteceu e do que vai acontecer dali em diante. Outro detalhe: a foto e as pinturas que Lucy encontra na casa dos pais de Jake e a cena em que mostra, repetidas vezes, ela descendo a escada, são fundamentais para entendermos algumas teorias que criamos durante o filme! Fica a dica!

"Estou pensando em acabar com tudo" fala sobre o passado, o presente e o futuro, com detalhes muito preciosos. Como algumas decisões impactam na nossa vida e nos transformam em pessoas irreconhecíveis. Como algumas decisões (brilhantemente resumidas em um dos últimos pensamentos de Lucy e que se justificam na última cena, inclusive) funcionam como uma bola de neve, que vai nos cobrindo e nos sufocando e quando nos damos conta, pronto, a vida já passou! Lindo, poético, profundo e difícil, mas que merece ser assistido e interpretado com muita sensibilidade e paciência!

Vale muito o play!

Assista Agora

"Estou pensando em acabar com tudo" é um filmaço, daqueles que dão nó na nossa cabeça, com a mesma força que nos provocam a refletir em cada cena, em cada diálogo e, principalmente, em cada construção alegórica que nos faz viajar aos momentos mais íntimos que guardamos nos cantos mais profundos da nossa alma! Sim, pode parecer poético demais, mas, de fato, esse filme é semiótica pura - e aqui cabe uma observação: "Estou pensando em acabar com tudo" é o novo filme do Charlie Kaufman, o cara por trás de roteiros pouco convencionais como "Quero Ser John Malkovich"  de 1999, "Adaptação" de 2002 e do inesquecível "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de 2004, ou seja, se você não se apaixonou por nenhum deles, nem dê o play, pois certamente você vai querer me matar depois de duas horas de filme!

O filme adapta o romance de estreia do canadense Iain Reid, e conta a história de uma jovem (cujo personagem nem nome tem, ou melhor, cada hora a chamam por um nome, reparem; e é incrivelmente bem interpretado pela Jessie Buckley) que depois de seis ou sete semanas de relação com Jake (Jesse Plemons) já cogita seriamente terminar o namoro, mas ainda assim aceita viajar no meio de uma tempestade de neve para conhecer a fazenda dos sogros. O curioso é que a todo momento, a jovem frisa que precisa retornar no dia seguinte e isso diz muito sobre o filme como vamos explicar adiante, mas antes confira essa maravilha de trailer:

Já é possível imaginar que "Estou pensando em acabar com tudo" vai dividir opiniões, mais ou menos como aconteceu com "Mother!" do Aronofsky, e que se não for devidamente avisado, a reclamação sobre a perda de tempo será enorme; porém, o que posso adiantar, sem prejudicar a ótima experiência que é assistir o filme, é que essa não linearidade do tempo que vimos no trailer e como Lucy (vamos assumir esse nome para a protagonista) se comporta ao se sentir presa nele, vai ditar o entendimento de um complexo e cuidadoso roteiro! As idiossincrasias da personagem ao se relacionar com o tempo e como ela percebe sua passagem, com as decisões ruins que tomou ou com relacionamentos nocivos que teve na vida, são sensacionais! Olha, a partir do segundo ato, se você estiver imerso na história, tenho certeza que, muitas vezes, você vai se pegar pensando em algumas passagens marcantes da sua vida e se isso acontecer, o filme cumpriu o seu papel! Pode dar o "play" sem medo de errar!

O primeiro elemento que salta aos olhos de quem assiste "Estou pensando em acabar com tudo", sem dúvida, é a direção de arte (e já chega forte para lutar por uma indicação no Oscar 2021) - é um lindo trabalho, tanto da Molly Hughes (no desenho de produção) quando do Gonzalo Cordoba (na arte em si). O interessante, e aqui vale sua atenção, é como o cenário tem papel fundamental na construção do conceito visual imposto pelo Charlie Kaufman. Kaufman é um excelente roteirista, mas trás referências de outros diretores como Michel Gondry e Spike Jonze, para fortalecer sua identidade - os movimentos são, em grande parte, comedidos, tanto horizontalmente, quanto verticalmente, e isso impacta na fotografia do diretor Lukasz Zal (do lindo "Ida"), principalmente na escolha de trabalhar em 4:3 (aquele aspecto quadrado das TVs antigas) onde, mesmo com duas colunas laterais espremendo a cena, vemos muitos planos abertos, com grande angulares que transformam a sensação de vazio e trazem incômodo para o ambiente - nos detalhes da decoração às cores que compõem o cenário.

Quando temos um roteiro tão cheio de camadas, baseado em tantas alegorias, todos os detalhes das cenas ajudam a nos contar a história, então reparem no desenho de som e como os ruídos nos incomodam tanto, mesmo que inconscientemente: o som do limpador de parabrisa ou o cachorro que se balança como se estivesse eternamente molhado (o trailer já usa desse artificio), são bons exemplos. Como várias coisas estranhas acontecem a todo momento, o filme acaba brincando com nossa imaginação e criatividade, por isso vou citar algumas para que você preste mais atenção durante o filme e assim melhore sua percepção sobre o universo que  Kaufman criou: quando Lucy e Jake decidem parar em uma sorveteria, ela conversa com uma "versão" mais nova de si mesma, mesmo sendo interpretada por outra atriz - essa ficha, quando cai, nos ajuda a entender muito do que já aconteceu e do que vai acontecer dali em diante. Outro detalhe: a foto e as pinturas que Lucy encontra na casa dos pais de Jake e a cena em que mostra, repetidas vezes, ela descendo a escada, são fundamentais para entendermos algumas teorias que criamos durante o filme! Fica a dica!

"Estou pensando em acabar com tudo" fala sobre o passado, o presente e o futuro, com detalhes muito preciosos. Como algumas decisões impactam na nossa vida e nos transformam em pessoas irreconhecíveis. Como algumas decisões (brilhantemente resumidas em um dos últimos pensamentos de Lucy e que se justificam na última cena, inclusive) funcionam como uma bola de neve, que vai nos cobrindo e nos sufocando e quando nos damos conta, pronto, a vida já passou! Lindo, poético, profundo e difícil, mas que merece ser assistido e interpretado com muita sensibilidade e paciência!

Vale muito o play!

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Expresso do Amanhã

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

Assista Agora

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

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Extraordinário

Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!

Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:

"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.

Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!

"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!

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Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!

Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:

"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.

Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!

"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!

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Fale Comigo

Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Falsos Milionários

Falsos Milionários

"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.

Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:

Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.

A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.

Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.

Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!

Assista Agora

"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.

Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:

Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.

A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.

Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.

Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!

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Ferrugem e Osso

"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf". 

Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:

Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!

"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu  play.

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"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf". 

Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:

Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!

"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu  play.

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Ficção Americana

Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Ghostbusters - Mais Além

O que mais chama atenção em "Ghostbusters - Mais Além", sem a menor dúvida, é o elemento nostálgico - principalmente se você estiver na casa dos 45 anos e lembrar do que representou o filme original para a cultura pop da época. Já para os mais novos, a comparação com "Stranger Things" será natural e isso, de fato, pode prejudicar sua percepção sobre a proposta do filme. Claro que existem similaridades, mas o tom é completamente outro e basta assistir ao "Ghostbusters" de 1984 para entender que a estrutura narrativa do novo filme é muito semelhante, menos densa que a série da Netflix, mas também muito divertida - alinhar as expectativas é a principal premissa para que sua experiência seja divertida aqui!

Depois de se mudar com seus filhos, Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace), para uma pequena cidade, Callie (Carrie Coon) acaba descobrindo sobre os escombros de seu passado uma conexão inesperada com os Caça-Fantasmas por meio da herança deixada para trás por seu pai. Confira o trailer:

Mesmo não sendo uma continuação direta (simplesmente ignorando os filmes de 1989 e o reboot de 2016), eu sugiro que antes do play, você assista o "Ghostbusters" original, pois, muito mais do que uma revitalização da franquia (que nunca decolou, convenhamos),  "Ghostbusters - Afterlife" (no original) é uma grande homenagem, cheio de elementos emocionais e referências narrativas que impactam diretamente na nossa jornada como audiência - e aqui cabe um comentário que pode gerar certa polêmica: eu não tenho certeza se esse filme funciona tão bem isoladamente, quanto dentro de um contexto histórico e , principalmente, afetivo.

Mas "afetivo"? Sim e cito dois pontos cruciais que justificam essa tese. O primeiro é o fato de Jason Reitman (do imperdível "Tully") ser filho do diretor Ivan Reitman, responsável pelos dois primeiros filmes - é incrível como Jason moderniza seu conceito cinematográfico, construindo belíssimas cenas com a ajuda do fotógrafo Eric Steelberg (também de "Tully"), entregando um filme visualmente impecável, sem perder aquele estilo narrativo que fez muito sucesso nos anos 80 com os clássicos "Goonies", "Gremlins" e até "E.T.". A sensação de estarmos assistindo um filme "datado", que exige uma boa dose de suspensão da realidade (mesmo sendo fantasia), nos acompanha durante toda a história - e é proposital, então se acostume. Já o segundo fato diz respeito ao subtítulo em inglês (claro). "Afterlife" nos remete a algo como "o que acontece depois que morremos" - é quando a arte imita a vida,  já que Harold Ramis (o Caça Fantasma original Egan Spangler) nos deixou em 2014. E é a partir da sua "morte" em "Ghostbusters - Mais Além" que essa jornada começa (eu diria, inclusive, que as cenas finais são emocionantes justamente por essa conexão entre presente e passado, entre ficção e realidade)!

"Ghostbusters - Mais Além" está recheado de easter-eggs que passam pelos diálogos (muitos deles com um certo tom de humor - como quando o xerife pergunta para quem Phoebe gostaria de ligar?), pelos cenários, até chegar nos objetos de cena onde encontramos com as mochilas de prótons, com várias Ghost Trap e, claro, com o inesquecível Ectomóvel, o Ecto-1 - sem falar nas participações mais que especiais de vários personagens do filme original! Dito isso, é impossível não se conectar emocionalmente com a história, mesmo não sendo um primor de roteiro; por outro lado é de se elogiar que o elenco formado por Finn Wolfhard, McKenna Grace, Celeste O 'Connor e o estreante (e impagável) Logan Kim, tenha deixado muito claro sua capacidade de perpetuar uma franquia que precisava se revitalizar e que agora sabe exatamente qual o melhor caminho à seguir.

Vale a pena pelo entretenimento e pela nostalgia!

Assista Agora

O que mais chama atenção em "Ghostbusters - Mais Além", sem a menor dúvida, é o elemento nostálgico - principalmente se você estiver na casa dos 45 anos e lembrar do que representou o filme original para a cultura pop da época. Já para os mais novos, a comparação com "Stranger Things" será natural e isso, de fato, pode prejudicar sua percepção sobre a proposta do filme. Claro que existem similaridades, mas o tom é completamente outro e basta assistir ao "Ghostbusters" de 1984 para entender que a estrutura narrativa do novo filme é muito semelhante, menos densa que a série da Netflix, mas também muito divertida - alinhar as expectativas é a principal premissa para que sua experiência seja divertida aqui!

Depois de se mudar com seus filhos, Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace), para uma pequena cidade, Callie (Carrie Coon) acaba descobrindo sobre os escombros de seu passado uma conexão inesperada com os Caça-Fantasmas por meio da herança deixada para trás por seu pai. Confira o trailer:

Mesmo não sendo uma continuação direta (simplesmente ignorando os filmes de 1989 e o reboot de 2016), eu sugiro que antes do play, você assista o "Ghostbusters" original, pois, muito mais do que uma revitalização da franquia (que nunca decolou, convenhamos),  "Ghostbusters - Afterlife" (no original) é uma grande homenagem, cheio de elementos emocionais e referências narrativas que impactam diretamente na nossa jornada como audiência - e aqui cabe um comentário que pode gerar certa polêmica: eu não tenho certeza se esse filme funciona tão bem isoladamente, quanto dentro de um contexto histórico e , principalmente, afetivo.

Mas "afetivo"? Sim e cito dois pontos cruciais que justificam essa tese. O primeiro é o fato de Jason Reitman (do imperdível "Tully") ser filho do diretor Ivan Reitman, responsável pelos dois primeiros filmes - é incrível como Jason moderniza seu conceito cinematográfico, construindo belíssimas cenas com a ajuda do fotógrafo Eric Steelberg (também de "Tully"), entregando um filme visualmente impecável, sem perder aquele estilo narrativo que fez muito sucesso nos anos 80 com os clássicos "Goonies", "Gremlins" e até "E.T.". A sensação de estarmos assistindo um filme "datado", que exige uma boa dose de suspensão da realidade (mesmo sendo fantasia), nos acompanha durante toda a história - e é proposital, então se acostume. Já o segundo fato diz respeito ao subtítulo em inglês (claro). "Afterlife" nos remete a algo como "o que acontece depois que morremos" - é quando a arte imita a vida,  já que Harold Ramis (o Caça Fantasma original Egan Spangler) nos deixou em 2014. E é a partir da sua "morte" em "Ghostbusters - Mais Além" que essa jornada começa (eu diria, inclusive, que as cenas finais são emocionantes justamente por essa conexão entre presente e passado, entre ficção e realidade)!

"Ghostbusters - Mais Além" está recheado de easter-eggs que passam pelos diálogos (muitos deles com um certo tom de humor - como quando o xerife pergunta para quem Phoebe gostaria de ligar?), pelos cenários, até chegar nos objetos de cena onde encontramos com as mochilas de prótons, com várias Ghost Trap e, claro, com o inesquecível Ectomóvel, o Ecto-1 - sem falar nas participações mais que especiais de vários personagens do filme original! Dito isso, é impossível não se conectar emocionalmente com a história, mesmo não sendo um primor de roteiro; por outro lado é de se elogiar que o elenco formado por Finn Wolfhard, McKenna Grace, Celeste O 'Connor e o estreante (e impagável) Logan Kim, tenha deixado muito claro sua capacidade de perpetuar uma franquia que precisava se revitalizar e que agora sabe exatamente qual o melhor caminho à seguir.

Vale a pena pelo entretenimento e pela nostalgia!

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Glass Onion

"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!

Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:

"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.

É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.

Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!

Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:

"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.

É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.

Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!

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Godzilla Minus One

"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.

Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.

Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield",  as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!

O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!

Vale muito o seu play!

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"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.

Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.

Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield",  as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!

O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!

Vale muito o seu play!

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Heartstopper

Passados quase ¼ do século XXI, o tema homossexualidade ainda é considerado um tabu. Mesmo que a sociedade tenha evoluído na garantia dos direitos fundamentais da população LGBTQIA+, como casamento civil, adoção, etc; o preconceito ainda perdura e pode deixar marcas profundas no indivíduo. Digo isso, pois tenho certeza que muitos pais vão se incomodar que seus filhos assistam “Heartstopper”, série teen que adapta a obra de  Alice Oseman para Netflix. Mesmo com uma narrativa inocente, honesta e educativa, a série, inicialmente, deve chamar mais atenção de um determinado nicho, já que os personagens principais são gays ou bissexuais - uma pena, pois a produção é uma das mais sensíveis e acolhedoras disponíveis no streaming. Todos os assuntos são tratados com uma delicadeza e cuidado pouco visto em produções voltadas para os adolescentes.

Na trama, os adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) acabam descobrindo que são mais que apenas bons amigos. A partir daí, eles precisam lidar com as dificuldades que esta relação amorosa irá provocar, principalmente no convívio escolar. O bacana é que a série não apresenta jovens drogados, bêbados, e tampouco mostra cenas vulgares de sexo para chocar. Não que isso seja necessariamente um problema, mas o conceito narrativo não precisou utilizar estes artifícios clichês para rotular os adolescentes, muito pelo contrário. Confira o trailer:

Ter Oseman como roteirista e produtora executiva na série trouxe uma sensibilidade impressionante para adaptação e que dialoga perfeitamente com a direção de Euros Lyn (de "Doctor Who") - a qualidade cinematográfica de “Heartstopper” impressiona (algo pouco comum em séries adolescentes).  Leve, o roteiro fala sobre o primeiro amor, sobre o valor da amizade, sobre realizar bons gestos para fazer o bem ao próximo. Apesar de focar nas descobertas e no relacionamento amoroso entre dois garotos, a série não deveria ser encarada como uma produção voltada apenas para o público gay. Acredito, inclusive, que todos irão se encantar, se surpreender e ainda se identificar com os personagens, pois a trama fala de um tema universal: o amor!

Com um mood que nos faz lembrar de "Atypical" ou "O céu está em todo lugar", é muito interessante como acompanhamos Charlie passar pelos difíceis obstáculos da adolescência com o apoio de seus inseparáveis melhores amigos: Tao (William Gao) o amigo hétero e superprotetor; Elle (Yasmin Finney), uma aluna transsexual que estudou com os garotos anteriormente e que agora frequenta o colégio vizinho, apenas para garotas; e Isaac (Tobie Donovan) um personagem silencioso que infelizmente não teve muito destaque no núcleo na primeira temporada; sem falar, claro, em Sarah Nelson (mãe de Nick), interpretada por Olivia Colman (sim, ela mesmo!) e que entrega no olhar a cumplicidade e o amor fraternal que é pedido diante de várias situações.

“Heartstopper” me parece ser a grande surpresa de 2022 na Netflix. Sua história é necessária, incrivelmente irresistível e deliciosa de acompanhar. Recomendo que todos deixem de lado qualquer tipo de preconceito e assistam porque vale muito a pena!

Por fim, vale destacar a nota altíssima que a atração recebeu no site de avaliações IMDb: 9,0 - o que prova que não há exageros quanto a qualidade impecável desta produção inglesa da badalada "See-Saw Films" (de "Ataque do Cães", "Lion", entre outras) para a Netflix!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Passados quase ¼ do século XXI, o tema homossexualidade ainda é considerado um tabu. Mesmo que a sociedade tenha evoluído na garantia dos direitos fundamentais da população LGBTQIA+, como casamento civil, adoção, etc; o preconceito ainda perdura e pode deixar marcas profundas no indivíduo. Digo isso, pois tenho certeza que muitos pais vão se incomodar que seus filhos assistam “Heartstopper”, série teen que adapta a obra de  Alice Oseman para Netflix. Mesmo com uma narrativa inocente, honesta e educativa, a série, inicialmente, deve chamar mais atenção de um determinado nicho, já que os personagens principais são gays ou bissexuais - uma pena, pois a produção é uma das mais sensíveis e acolhedoras disponíveis no streaming. Todos os assuntos são tratados com uma delicadeza e cuidado pouco visto em produções voltadas para os adolescentes.

Na trama, os adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) acabam descobrindo que são mais que apenas bons amigos. A partir daí, eles precisam lidar com as dificuldades que esta relação amorosa irá provocar, principalmente no convívio escolar. O bacana é que a série não apresenta jovens drogados, bêbados, e tampouco mostra cenas vulgares de sexo para chocar. Não que isso seja necessariamente um problema, mas o conceito narrativo não precisou utilizar estes artifícios clichês para rotular os adolescentes, muito pelo contrário. Confira o trailer:

Ter Oseman como roteirista e produtora executiva na série trouxe uma sensibilidade impressionante para adaptação e que dialoga perfeitamente com a direção de Euros Lyn (de "Doctor Who") - a qualidade cinematográfica de “Heartstopper” impressiona (algo pouco comum em séries adolescentes).  Leve, o roteiro fala sobre o primeiro amor, sobre o valor da amizade, sobre realizar bons gestos para fazer o bem ao próximo. Apesar de focar nas descobertas e no relacionamento amoroso entre dois garotos, a série não deveria ser encarada como uma produção voltada apenas para o público gay. Acredito, inclusive, que todos irão se encantar, se surpreender e ainda se identificar com os personagens, pois a trama fala de um tema universal: o amor!

Com um mood que nos faz lembrar de "Atypical" ou "O céu está em todo lugar", é muito interessante como acompanhamos Charlie passar pelos difíceis obstáculos da adolescência com o apoio de seus inseparáveis melhores amigos: Tao (William Gao) o amigo hétero e superprotetor; Elle (Yasmin Finney), uma aluna transsexual que estudou com os garotos anteriormente e que agora frequenta o colégio vizinho, apenas para garotas; e Isaac (Tobie Donovan) um personagem silencioso que infelizmente não teve muito destaque no núcleo na primeira temporada; sem falar, claro, em Sarah Nelson (mãe de Nick), interpretada por Olivia Colman (sim, ela mesmo!) e que entrega no olhar a cumplicidade e o amor fraternal que é pedido diante de várias situações.

“Heartstopper” me parece ser a grande surpresa de 2022 na Netflix. Sua história é necessária, incrivelmente irresistível e deliciosa de acompanhar. Recomendo que todos deixem de lado qualquer tipo de preconceito e assistam porque vale muito a pena!

Por fim, vale destacar a nota altíssima que a atração recebeu no site de avaliações IMDb: 9,0 - o que prova que não há exageros quanto a qualidade impecável desta produção inglesa da badalada "See-Saw Films" (de "Ataque do Cães", "Lion", entre outras) para a Netflix!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Hereditário

"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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I Know this Much is True

Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").

"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:

A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!

Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração!  John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!

Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão  depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!

Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo! 

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Desde que assistimos o primeiro episódio de "I Know this Much is True", ficou fácil perceber que se tratava de uma minissérie diferente! Pode até parecer repetitivo, mas encontrar na HBO um projeto comandado por Derek Cianfrance (de “Blue Valentine” e "A Luz entre Oceanos") já foi o suficiente para que embarcássemos nessa jornada sem o menor receio de errar - e olha, que jornada foi essa?! "I Know this Much is True" é um drama denso, profundo, incômodo; é um mergulho na intimidade mais obscura de um personagem tão complexo como Dominick Birdsey (Mark Ruffalo). São 6 episódios de 60 minutos que nos tiram completamente do equilíbrio emocional, que nos provocam ao julgamento, à empatia, compaixão e, principalmente, ao auto-conhecimento - isso mesmo, Cianfrance usa da mesma excelência ao discutir as relações de familiares, que usou para expôr a fragilidade da relação de um casal no ótimo "Blue Valentine").

"I Know this Much is True" não tem uma narrativa tão dinâmica, isso é um fato, mas a forma como o roteiro usa o relacionamento entre Dominick e seu irmão gêmeo para falar sobre a importância (e as influências) da ancestralidade, é genial! A minissérie é uma adaptação do livro de Wally Lamb e acompanha Dominick, um pintor divorciado que se sente responsável pelo irmão Thomas, que após um surto causado por sua esquizofrenia, corta a própria mão em uma biblioteca pública e é encaminhado para um hospital forense cheio de criminosos. Confira o belíssimo trailer e tente não se envolver com esse drama:

A partir das lembranças mais traumáticas do próprio Dominick, a minissérie vai pontuando como as experiências do passado refletem ativamente na sua relação com o irmão e nas atitudes de ambos no presente. Das agressões que sofriam do padrasto, Ray (John Procaccino), em uma infância completamente desestruturada e abusiva, ao dolorido divórcio de Dessa (Kathryn Hahn), até a morte prematura da sua mãe, vamos entendendo (e sofrendo com) o protagonista e nos relacionando com sua dor como poucas vezes fizemos recentemente. "I Know this Much is True" é uma aula de direção, de roteiro e de interpretação; que machuca, mas que também nos faz pensar e acreditar que nada acontece por acaso e que cabe a nós mudar o rumo das histórias onde somos os personagens!

Embora "I Know this Much is True" tenha uma qualidade de produção incontestável, a soma (ou o encontro) de talentos individuais é o ponto forte da minissérie. De cara, o trabalho do Mark Ruffalo salta aos olhos - sua performance como Dominick e como o gêmeo, Thomas, é algo digno de todos os prêmios da próxima temporada e pode acreditar: talvez seja o nome mais forte para levar tudo que se tem direito! Outros três trabalhos merecem nossa atenção: Kathryn Hahn como a ex-mulher de Dominick, Dessa, vai te destruir emocionalmente - quando descobrimos a razão da separação do casal é como se estivessem esmagando nosso coração!  John Procaccino como o padrasto abusivo, Ray - ele fica enrolando em 5 episódios, mas quando chega no último, ele dá um verdadeiro show! Rosie O'Donnell como Lisa Sheffer está sensacional - ela tem uma verdade na sua interpretação que é comovente! E para finalizar, Juliette Lewis - mesmo aparecendo com destaque apenas no primeiro episódio, sua Nedra Frank, uma descontrolada acadêmica contratada por Dominick para traduzir a história de seu avô italiano, está simplesmente impagável!

Além do show do elenco, não podemos deixar de citar o trabalho técnico e artístico de Derek Cianfrance. Ele cria uma atmosfera tão particular e, nesse caso, tão  depressiva, que praticamente nos obriga a pausar a minissérie algumas vezes para nos recompor, tamanho é o desconforto que sua narrativa nos causa. A direção está muito alinhada ao tipo de história que Wally Lamb quis contar e com isso fica fácil perceber a importância de um grande diretor para equilibrar o enquadramento mais adequado para aquele tipo de texto (invariavelmente com planos mais fechados) com uma ótima direção de atores, sem perder o realismo. Em "I Know this Much is True" as pausas dramáticas fazem tanto sentido que o silêncio é quase ensurdecedor - reparem! A fotografia do Jody Lee Lipes (de "Girls") é linda e a composição emocional que ela faz com a trilha sonora define muito bem a sensação de "vazio" dos personagens em vários momentos da minissérie!

Sinceramente, é a esperança por um final feliz que nos move até o sexto episódio, mas é a reflexão sobre cada uma das situações que acompanhamos que nos dá a força para continuar ao lado de Dominick. "I Know this Much is True" está longe de ser um entretenimento tranquilo, na verdade é uma minissérie cansativa psicologicamente, para assistir aos poucos, mas que vale pela experiência profunda, quase sensorial, de um trabalho único, de uma equipe talentosa e de um texto extremamente profundo! 

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Infiltrado na Klan

"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!

O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:

Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer.  Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!

Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!

Vale muito a pena

Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!

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IT - Capítulo II

Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Jojo Rabbit

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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Joy

Joy

Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar. 

Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:

Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.

Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.

Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.

É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!

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Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar. 

Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:

Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.

Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.

Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.

É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!

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Judas e o Messias Negro

Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Julieta

"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.

A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:

Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.

O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.

"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.

Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.

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"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.

A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:

Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.

O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.

"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.

Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.

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