"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!
Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!
Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.
As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados.
Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!
É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.
"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!
Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!
Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.
As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados.
Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!
É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
"Les Miserables" é incrível! Embora eu seja suspeito já que assisti o espetáculo original em NY, depois a versão em português em SP e por fim ainda comprei o Blu-ray de um show comemorativo de 25 anos da peça, confesso que minha surpresa não foi tão grande com relação a história ou ao musical em si, mas a maneira como toda a magia do teatro foi aplicada na adaptação para o filme, isso sim me surpreendeu!
Na história clássica, Jean Valjean é preso por roubar um pão. Décadas depois, após cumprir sua pena, ele é libertado, mas acaba violando sua em condicional e precisa desaparecer para não ser preso novamente. Disposto a esquecer quem foi e assumir uma vida nova, Jean Valjean passa a usar um novo nome. As coisas começam a se complicar quando o Inspector Javert surge, disposto a tudo para prender Valjean, ao mesmo tempo em que ele procura assegurar um futuro para a pequena Cosette, filha de Fantine, que, no leito de morte, lhe deu a criança e o fez jurar pela sua eterna proteção! Confira o belíssimo trailer:
Tom Hooper conduziu o filme de maneira brilhante! 98% dele é cantado e você tem a sensação que são simplesmente diálogos. A decisão de captar o áudio no set de filmagem e não no estúdio, fez toda a diferença, deu emoção, alma - você vai perceber que no lugar de interpretações artificiais, costumeiras em performances da Broadway, nos deparamos com uma espécie de monólogos com personagens reais, só que cantando com verdade e modulando a voz de acordo com as situações que estão vivendo no filme e isso, certamente, não existiria em uma adaptação mais convencional da obra de Vito Hugo - Samantha Barks dá um verdadeiro show com "On my own" (no vídeo a seguir) e Anne Hathaway com "I Dreamed a Dream"! Ponto para Hopper! Os movimentos de câmera e a fotografia do diretor Danny Cohen (O Discurso do Rei) estão impecáveis, bem como todo o departamento arte do filme que certamente deve render algum Oscar. Os figurinos, meu Deus, estão lindos!!!
O sucesso do filme abre um caminho muito interessante: adaptações realistas de espetáculos da Broadway para o cinema! Olha, "Les Miserables" é imperdível!!! Vale muito o seu play, mas com duas únicas ressalvas: o filme é longo (são quase 3 horas) e você precisa gostar de musicais!
Up-date: "Les Miserables" ganhou em três categorias no Oscar 2013: Melhor Mixagem, Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Atriz Coadjuvante!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
O fato de "Lost Girls" (que em português ganhou o subtítulo de "Os crimes de Long Island") ser baseado em fatos reais, joga muito a favor dessa produção da Netflix que estreiou no último Festival de Sundance. A história se passa em 2010 e gira em torno de Mari Gilbert (Amy Ryan), mãe de uma prostituta recém desaparecida chamada Shannan. Após a descoberta de 4 ossadas de outras mulheres, também prostitutas, Gilbert inicia uma campanha implacável, forçando o chefe de polícia de Long Island (Gabriel Byrne) a conduzir uma busca por sua filha e a procurar pelo assassino em série que pode ter sido responsável por matar mais de 16 mulheres desde meados dos anos 90. Confira o trailer:
Embora a premissa seja muito parecida com "Três Anúncios para um Crime", a jornada de uma mãe para encontrar o responsável pela morte de sua filha enquanto luta contra o descaso (e a incompetência) da policia; "Lost Girls" entrega um filme sem a mesma força dramática e, mesmo muito bem produzido, fica muito fácil encontrar seu principal problema: o roteiro. O roteiristaMichael Werwie, do ótimo "Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal", tinha um excelente material na mão: o livro "Lost Girls: An Unsolved American Mystery", de Robert Kolker, tem tudo que um bom filme de investigação precisa, mas parece que na prática tudo ficou meio jogado, corrido e até superficial se analisarmos bem. Fiquei com a sensação de que a história tinha muito mais para contar e com vários personagens para desenvolver - e aqui cito três exemplos: o chefe de polícia prestes a se aposentar, Richard Dormer, e as filhas mais novas de Gilbert, Sherre (Thomasin McKenzie) e, principalmente, Sarra (Oona Laurence) - quando você ler as legendas finais, essa minha observação fará ainda mais sentido - é surpreendente!
É claro que não há como deixar de ter empatia pela família Gilbert e que os elementos de policiais, ao melhor estilo "Making a Murderer", nos mantém conectados com a história, mas é inegável também que "Lost Girls" tinha potencial para alcançar voos mais altos - eu diria até que tem material para uma boa minissérie!Vale o play para quem gosta do gênero, mas será necessário uma boa dose de abstração da realidade para lidar com as escolhas pouco inspiradas do roteiro e também com a falta de habilidade da diretora em criar um clima de tensão como pede um filme como esse!
A diretora Liz Garbus é uma documentarista de muito sucesso, duas vezes indicada ao Oscar de "Melhor Documentário", com "The Farm" em 1998 e, mais recentemente, "What Happened, Miss Simone?" em 2016!. Acontece que, como comentamos em "Sergio", a gramática cinematográfica da ficção é completamente diferente do documentário - o time é outro, a relação do roteiro com a filmagem tem outras prioridades e a condução da história tem um elemento essencial que nunca deve ser descartado: a importância do trabalho do ator! Garbus sabe enquadrar para contar a história e ao lado do seu parceiro, o excelente fotógrafo Igor Martinovic (The Outsider), nos entrega lindos planos, muito bem conceitualizados e coerentes com o gênero, mas a construção das cenas de tensão e a falta de domínio na relação com os atores derrubam o filme - basta comparar as personagens Mildred Hayes (Frances McDormand) de "Três Anúncios para um Crime" com Mari Gilbert (Amy Ryan) de "Lost Girls". Embora as duas sejam excelentes atrizes e carreguem a responsabilidade de nos guiar pelos respectivos dramas familiares e sentimentos mais íntimos da dor de perder uma filha, McDormand fica anos luz de Gilbert em profundidade e oportunidade de expor seu trabalho!
“Quem perderia tanto tempo procurando uma prostituta?” - essa frase dita por um dos policiais, funciona quase como uma provocação: enquanto as mulheres assassinadas são constantemente chamadas de prostitutas com certo desdém, existe uma forte crítica à sociedade elitista e misógina americana personificadas por dois ótimos personagens (que também mereciam mais tempo de tela): o médico Peter Hackett (Reed Birney) e o policial Dean Bostick (Dean Winters). Mais uma vez sentimos que ambos poderiam ser muito melhor aproveitados para que os odiássemos ainda mais. Quando a diretora Liz Garbus foca nos elementos dramáticos que constroem o caso real, investigativo, inclusive com cenas documentais da época, temos um ótimo filme; quando é cobrado um pouco mais de dramaturgia, tensão ou até uma sensibilidade maior para cenas mais introspectivas ou que dialogam com sentimentos mais latentes, como raiva ou culpa, aí vemos que existe um problema estrutural e de alinhamento entre roteiro / direção - o que resulta só em um bom entretenimento.
"Lost Girls" não é um filme do David Fincher como ("Garota Exemplar" ou "Zodíaco"), mas também não é algo enlatado como "Não fale com estranhos" - o filme funciona bem, tem uma excelente qualidade técnica e uma história bastante envolvente, só peca na falta de aprofundamento do roteiro e na pouca habilidade da diretor para acertar o tom, mas posso afirmar tranqüilamente que vale o pouco mais de 90 minutos de filme!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
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"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:
"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!
É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!
Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.
Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!
"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:
"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!
É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!
Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.
Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.
Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:
Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.
A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.
Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.
Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.
Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:
Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.
A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.
Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.
"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!
Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!
Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!
É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.
"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!
"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!
Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!
Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!
É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.
"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!