"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.
Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):
Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?
"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.
Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".
Dito isso, é fácil imaginar que "Em Nome do Céu" não agradará a todos por sua "forma", mas também pelo seu "conteúdo"; por outro lado é impossível não elogiar a qualidade técnica e artística da produção, com uma edição muito criativa que realmente ajuda a trama sair do lugar comum.
Vale o seu play, mas não espere uma jornada simples e muito menos usual.
"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.
Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):
Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?
"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.
Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".
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