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Não Me Abandone Jamais

"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

Vale muito o seu play!

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Nomadland

"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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Nós somos a Onda

"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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"Nós somos a Onda" se apoia apenas na idéia do experimento real que aconteceu em 1967 nos EUA e que, posteriormente, foi documentado no livro a “A Onda”, de Todd Strasser, e que gerou ótimas adaptações, em 1981 (para TV) e em 2008 (para o cinema). A série é uma mistura de "The Bling Ring" com "A Casa de Papel" - mas mesmo assim é preciso dizer que essa produção alemã é, sem dúvida, a melhor série feita para o público adolescente que a Netflix lançou recentemente. Para os mais exigentes, fica claro desde o início que será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na história, mas como entretenimento os episódios fluem muito bem e divertem.

"Nós somos a Onda" acompanha um grupo de adolescentes de uma pequena cidade alemã que criam uma espécie de movimento ativista onde o principal inimigo não é necessariamente o extremismo político ou ideológico, mas sim uma vertente do capitalismo inconsequente, opressor e, muitas vezes, até segregador... Funciona, porque existe uma linha muito clara de desenvolvimento de personagens que, de alguma forma, lida (ou lidou) com tal problema e a própria maneira como a narrativa vai apresentando "caso a caso" fica muito alinhada à forte personalidade visual da série - inclusive, essa é uma característica do cinema alemão (bem na linha de "Dark") que coloca "Nós somos a Onda" em um patamar diferente do que estamos costumados a encontrar nas recentes produções americanas para o mesmo público. Olha, como entretenimento despretensioso, vale o play.

Quando Tristan Broch (Ludwig Simon) chega a escola; Zazie (Michelle Barthel), Hagen (Daniel Friedl) e Rahim Hadad (Mohamed Issa) percebem que agora existe alguém onde eles podem se apoiar. Os três sofrem bullying diariamente por motivos distintos, mas Tristan tenta ajuda-los a lidar com esse problema, criando assim uma forte relação entre eles. Isso chama atenção de Lea Herst (Luise Befort), a garota bem nascida e popular, que resolve se aproximar do grupo rebelde quando percebe que as coisas não deveriam ser da maneira como sempre foram apresentadas para ela - é perceptível esse choque de realidades e Luise Befort não decepciona no trabalho de atriz! Grupo estabelecido, não por acaso denominado "A Onda", eles começam a atuar como uma forma de resistência contra o capitalismo que sempre ditou o rumo desses personagens - e aqui começa a surgir o diferencial da série: "Nós somos a Onda" trás uma reflexão social relevante, mas que evita cravar uma bandeira irresponsável quando, com o passar dos episódios, desmistifica o espírito aventureiro e inconsequente dos adolescentes, mostrando que para cada ação existe uma consequência real e que manter o controle sobre uma multidão de pessoas tão diferentes, é quase impossível (e como isso enfraquece uma causa legítima). Veja o trailer:

Como no filme, será natural que muitos se aproximem do discurso polarizado que vivemos no mundo de hoje; mas não acredito que isso interfira na experiência de quem se propõe a ter alguns minutos de entretenimento e diversão. O próprio roteiro suaviza as discussões reais e nos leva para ficção de uma forma bem natural - isso poderia ser um problema, mas no caso, acaba funcionando como um alivio já que fica claro se tratar de algo distante da nossa realidade - como em "A Casa de Papel" por exemplo. Aliás, o roteiro perde uma grande chance de elevar sua proposta no quinto e no sexto episódios - ele flerta com o surpreendente, mas recua em nome do romantismo barato. Uma pena! Fora isso, a produção está impecável: as locações e a trilha sonora criam um universo interessante, fortalecendo aquele ar de rebeldia da juventude alemã dos anos 80/90 apoiado em uma fotografia belíssima do Jan-Marcello Kahl com movimentos de câmera que criam agilidade, ação e envolvimento com os episódios, além dos lindos planos abertos de tirar o fôlego. A direção é dividida entre a romena Anca Miruna Lazarescu e o alemão Mark Monheim (premiado diretor com o ótimo "About the Girl" de 2014). Ah, o elenco adolescente é realmente muito bom, acima da média.

"Nós somos a Onda" talvez não tenha a profundidade de "Areia Movediça", mas é uma série interessante e merece uma chance. São 6 episódios de 50 minutos em média - daquelas ótimas para matar no final de semana chuvoso!!! Vale a pena!

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Nove Desconhecidos

"Nove Desconhecidos" chegou com status de "minissérie premium da HBO" na Prime Vídeo, principalmente por todos os nomes envolvidos, como o showrunner David E. Kelley de “The Undoing” e a autora australiana Liane Moriarty de “Big Little Lies”, sem falar, obviamente, de Nicole Kidman como protagonista, apoiada em um elenco com Melissa McCarthy, Regina Hall, Luke Evans, Michael Shannon e Bobby Cannavale. Como comentamos no Blog da Viu Review"Nove Desconhecidos" foi cercada de muita expectativa e após a exibição de 3 episódios muitas incertezas começaram aparecer (e com razão), mas só no final do episódio 8 que foi possível cravar que a minissérie estava longe de ser um decepção como muitos previam - muito pelo contrário, eu diria que vale muito a pena, desde que você embarque no conceito narrativo, digamos, psicodélico!

Frustrados com suas vidas, nove estranhos embarcam em um programa de relaxamento e espiritualidade criado por um SPA de luxo liderado por Marsha (Nicole Kidman), mas ao longo dos dias eles percebem que a experiência pode acabar colocando suas vidas e sanidade em perigo, confira o trailer:

Talvez a o grande problema de "Nove Desconhecidos" seja a falta de identidade - mas não pela história não se posicionar perante um gênero especifico ou um conceito narrativo e estético inovador, e sim pela própria expectativa que nós mesmos criamos. É claro que o roteiro colabora para essa sensação de que algo extraordinário está prestes a acontecer a todo momento e que a trama vem repleta de reviravoltas surpreendentes, mas a fato é que isso tem mais a ver com quem assiste do que com a minissérie em si. Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade e mesmo sabendo que muitos personagens são completamente estereotipados, em nenhum momento o roteiro rouba no jogo - ele só demora para mostrar as peças certas que, juntas, entregam um final bem satisfatório.

No fundo, "Nove Desconhecidos" é um recorte de uma era onde os programas de auto-conhecimento e os coachings de terapias holísticas se tornaram sinônimos de superficialidade e oportunismo - por isso sempre esperamos o pior da protagonista, afinal acreditamos nesse estereótipo, mesmo que inconscientemente. Veja, enquanto a narrativa demonstra elementos que facilmente nos remetem as conexões com a espiritualidade, temos a impressão de que se trata de uma história cheia de mistérios, mas quando os psicotrópicos vão ganhando força de uma maneira muito natural dentro da trama, somos transportados para situações mais palpáveis e é quando começamos a reconhecer o valor da história - e isso não quer dizer que o mistério desaparece, ele só se transforma. Diferente do livro, não se tem tempo suficiente para desenvolver cada um dos personagens com deveria e é por isso que alguns se sobressaem: a história da família Marconi formada por Napoleon (Michael Shannon), Heather (Asher Keddie) e Zoe (Grace Van Patten) é um caso e a forte relação entre Frances (Melissa McCarthy) e Tony (Bobby Cannavale), é outro destaque - se a série chamasse "Cinco Desconhecidos" teríamos o mesmo resultado, acreditem!

A atmosfera poética criada ao redor de Masha, criadora da Tranquillum House, vai se dissipar com o passar dos episódios e sua motivação se tornará cada vez mais clara. A questão dos métodos ou da ilegalidade de suas ações também geram boas discussões. Com isso temos bons conflitos e outros nem tanto, mas quando nos apegarmos na real proposta de "Nove Desconhecidos", passamos a entender que o processo de "perdão" e a "cura emocional" de cada um dos personagens guiam uma crítica velada sobre a ética, a legalidade e o real benefício de alguns, digamos, treinamentos de reprogramação.

Vale o play!

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"Nove Desconhecidos" chegou com status de "minissérie premium da HBO" na Prime Vídeo, principalmente por todos os nomes envolvidos, como o showrunner David E. Kelley de “The Undoing” e a autora australiana Liane Moriarty de “Big Little Lies”, sem falar, obviamente, de Nicole Kidman como protagonista, apoiada em um elenco com Melissa McCarthy, Regina Hall, Luke Evans, Michael Shannon e Bobby Cannavale. Como comentamos no Blog da Viu Review"Nove Desconhecidos" foi cercada de muita expectativa e após a exibição de 3 episódios muitas incertezas começaram aparecer (e com razão), mas só no final do episódio 8 que foi possível cravar que a minissérie estava longe de ser um decepção como muitos previam - muito pelo contrário, eu diria que vale muito a pena, desde que você embarque no conceito narrativo, digamos, psicodélico!

Frustrados com suas vidas, nove estranhos embarcam em um programa de relaxamento e espiritualidade criado por um SPA de luxo liderado por Marsha (Nicole Kidman), mas ao longo dos dias eles percebem que a experiência pode acabar colocando suas vidas e sanidade em perigo, confira o trailer:

Talvez a o grande problema de "Nove Desconhecidos" seja a falta de identidade - mas não pela história não se posicionar perante um gênero especifico ou um conceito narrativo e estético inovador, e sim pela própria expectativa que nós mesmos criamos. É claro que o roteiro colabora para essa sensação de que algo extraordinário está prestes a acontecer a todo momento e que a trama vem repleta de reviravoltas surpreendentes, mas a fato é que isso tem mais a ver com quem assiste do que com a minissérie em si. Embora seja necessário uma boa dose de suspensão da realidade e mesmo sabendo que muitos personagens são completamente estereotipados, em nenhum momento o roteiro rouba no jogo - ele só demora para mostrar as peças certas que, juntas, entregam um final bem satisfatório.

No fundo, "Nove Desconhecidos" é um recorte de uma era onde os programas de auto-conhecimento e os coachings de terapias holísticas se tornaram sinônimos de superficialidade e oportunismo - por isso sempre esperamos o pior da protagonista, afinal acreditamos nesse estereótipo, mesmo que inconscientemente. Veja, enquanto a narrativa demonstra elementos que facilmente nos remetem as conexões com a espiritualidade, temos a impressão de que se trata de uma história cheia de mistérios, mas quando os psicotrópicos vão ganhando força de uma maneira muito natural dentro da trama, somos transportados para situações mais palpáveis e é quando começamos a reconhecer o valor da história - e isso não quer dizer que o mistério desaparece, ele só se transforma. Diferente do livro, não se tem tempo suficiente para desenvolver cada um dos personagens com deveria e é por isso que alguns se sobressaem: a história da família Marconi formada por Napoleon (Michael Shannon), Heather (Asher Keddie) e Zoe (Grace Van Patten) é um caso e a forte relação entre Frances (Melissa McCarthy) e Tony (Bobby Cannavale), é outro destaque - se a série chamasse "Cinco Desconhecidos" teríamos o mesmo resultado, acreditem!

A atmosfera poética criada ao redor de Masha, criadora da Tranquillum House, vai se dissipar com o passar dos episódios e sua motivação se tornará cada vez mais clara. A questão dos métodos ou da ilegalidade de suas ações também geram boas discussões. Com isso temos bons conflitos e outros nem tanto, mas quando nos apegarmos na real proposta de "Nove Desconhecidos", passamos a entender que o processo de "perdão" e a "cura emocional" de cada um dos personagens guiam uma crítica velada sobre a ética, a legalidade e o real benefício de alguns, digamos, treinamentos de reprogramação.

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O Abraço da Serpente

O Abraço da Serpente

"O Abraço da Serpente" é um filme muito complicado de assistir, que foge dos padrões estéticos e narrativos que estamos acostumados, e mesmo chancelado por mais de 40 prêmios em Festivais Internacionais (que incluem Cannes e Sundance), além de uma indicação de "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2016, eu diria que apenas um público muito pequeno e selecionado vai se conectar com a história e se permitir às profundas reflexões que o diretor colombiano Ciro Guerra propõe. 

Com a ajuda do xamã Karamakate (Nilbio Torres), Theodor Koch-Grunberg (Jan Bijvoet), um famoso explorador europeu, percorreu centenas de quilómetros do rio Amazonas quando, gravemente doente, buscava uma flor que poderia ser o objeto de sua cura. Anos depois, Richard Evans Schultes (Brionne Davis), considerado o pai da etnobotânica moderna, que tendo as publicações de Grunberg em mãos, tenta refazer os passos do pesquisador ao lado do mesmo Karamakate (aqui Antonio Bolívar) para encontrar a tal planta lendária. Confira o trailer:

O "preto e branco" da fotografia de David Gallego (de "Sal") é um contraponto potente com a diversidade de cores que representa o cenário por onde a história do filme se desenrola, mas ao mesmo tempo foi a forma como Guerra estabeleceu a frieza daqueles dois recortes temporais - quando acompanhamos Théo, estamos nos primeiros anos da década de 1900; quando somos apresentados para Evans, já estamos no meio do século; porém nada mudou, ou melhor, se transformou em algo muito pior! A missão religiosa (e o que isso se tornou) nos causa um forte (forte mesmo) impacto emocional - é incrível como o filme se apropria de uma linguagem quase documental para explorar de forma antropológica como a cultura indígena foi destruída (ou ceifada) pela catequização. A passagem que mostra o Messias louco no meio do "nada" é tão atual quanto a assustadora relação do um missionário colombiano com crianças indígenas - tudo em nome de Deus.

Grande parte de "O Abraço da Serpente" nos entrega a natureza como parte de uma jornada espiritual. Há muito simbolismo e até metáforas já que a percepção de mundo de um xamã é completamente diferente de um ocidental, no entanto, é muito interessante como o roteiro conecta esses dois mundos e propõe uma discussão inteligente sobre ação e consequência - mesmo que em alguns momentos soe como ato de boa-fé (a passagem da bússola é um bom exemplo, reparem). Tanto Bijvoet quanto Davis estão impecáveis na pele dos exploradores, mas, sem dúvida, é Nilbio Torres que se destaca - é impressionante como é possível sentir sua dor sem ao menos precisar entender uma palavra do seu dialeto.

"O Abraço da Serpente" retrata tantas nuances da colonização cultural na América que chega a embrulhar o estômago. Poucas vezes vi a ficção ser tão dura (e realista) sem precisar exaltar o indígena como individuo intocável. Esse realismo visceral só nos ajuda a entender como a preservação antropológica de uma cultura é importante e como ela continua praticamente esquecida até hoje. O filme é sim uma forte crítica a todas questões pertinentes que envolveram a colonização, como a extração irregular das riquezas naturais (para produzir borracha), ou o braço pesado do homem branco sobre o povo indígena como elemento de imposição e, claro, o total esgotamento (contínuo) de um povo cheio de sabedoria que já não existe mais.

Não espere uma jornada fácil - o que você vai encontrar é uma jornada cadenciada, profunda e de difícil absorção; mas que vale muito a pena!

Assista Agora

"O Abraço da Serpente" é um filme muito complicado de assistir, que foge dos padrões estéticos e narrativos que estamos acostumados, e mesmo chancelado por mais de 40 prêmios em Festivais Internacionais (que incluem Cannes e Sundance), além de uma indicação de "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2016, eu diria que apenas um público muito pequeno e selecionado vai se conectar com a história e se permitir às profundas reflexões que o diretor colombiano Ciro Guerra propõe. 

Com a ajuda do xamã Karamakate (Nilbio Torres), Theodor Koch-Grunberg (Jan Bijvoet), um famoso explorador europeu, percorreu centenas de quilómetros do rio Amazonas quando, gravemente doente, buscava uma flor que poderia ser o objeto de sua cura. Anos depois, Richard Evans Schultes (Brionne Davis), considerado o pai da etnobotânica moderna, que tendo as publicações de Grunberg em mãos, tenta refazer os passos do pesquisador ao lado do mesmo Karamakate (aqui Antonio Bolívar) para encontrar a tal planta lendária. Confira o trailer:

O "preto e branco" da fotografia de David Gallego (de "Sal") é um contraponto potente com a diversidade de cores que representa o cenário por onde a história do filme se desenrola, mas ao mesmo tempo foi a forma como Guerra estabeleceu a frieza daqueles dois recortes temporais - quando acompanhamos Théo, estamos nos primeiros anos da década de 1900; quando somos apresentados para Evans, já estamos no meio do século; porém nada mudou, ou melhor, se transformou em algo muito pior! A missão religiosa (e o que isso se tornou) nos causa um forte (forte mesmo) impacto emocional - é incrível como o filme se apropria de uma linguagem quase documental para explorar de forma antropológica como a cultura indígena foi destruída (ou ceifada) pela catequização. A passagem que mostra o Messias louco no meio do "nada" é tão atual quanto a assustadora relação do um missionário colombiano com crianças indígenas - tudo em nome de Deus.

Grande parte de "O Abraço da Serpente" nos entrega a natureza como parte de uma jornada espiritual. Há muito simbolismo e até metáforas já que a percepção de mundo de um xamã é completamente diferente de um ocidental, no entanto, é muito interessante como o roteiro conecta esses dois mundos e propõe uma discussão inteligente sobre ação e consequência - mesmo que em alguns momentos soe como ato de boa-fé (a passagem da bússola é um bom exemplo, reparem). Tanto Bijvoet quanto Davis estão impecáveis na pele dos exploradores, mas, sem dúvida, é Nilbio Torres que se destaca - é impressionante como é possível sentir sua dor sem ao menos precisar entender uma palavra do seu dialeto.

"O Abraço da Serpente" retrata tantas nuances da colonização cultural na América que chega a embrulhar o estômago. Poucas vezes vi a ficção ser tão dura (e realista) sem precisar exaltar o indígena como individuo intocável. Esse realismo visceral só nos ajuda a entender como a preservação antropológica de uma cultura é importante e como ela continua praticamente esquecida até hoje. O filme é sim uma forte crítica a todas questões pertinentes que envolveram a colonização, como a extração irregular das riquezas naturais (para produzir borracha), ou o braço pesado do homem branco sobre o povo indígena como elemento de imposição e, claro, o total esgotamento (contínuo) de um povo cheio de sabedoria que já não existe mais.

Não espere uma jornada fácil - o que você vai encontrar é uma jornada cadenciada, profunda e de difícil absorção; mas que vale muito a pena!

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O Agente Noturno

"O Agente Noturno" poderia tranquilamente ser uma segunda temporada de "Segurança em Jogo" - e se você sabe do que eu estou falando, também sabe o que te espera! Lançada em 2023 pela Netflix, essa série tem uma mistura de elementos de suspense e de ação das mais envolventes, que simplesmente nos mergulha em um mundo complexo de conspirações governamentais, espionagem e traições. Baseada no livro homônimo de Matthew Quirk, "O Agente Noturno" oferece uma narrativa cheia de tensão, seguindo a trajetória de um agente de baixo escalão que se vê no centro de uma trama maior do que ele poderia imaginar. Para os fãs das saudosas "24 Horas" e "Homeland", aqui temos uma experiência igualmente eletrizante e cheia de surpresas!

A trama segue Peter Sutherland (Gabriel Basso), um jovem agente do FBI que trabalha em um turno noturno aparentemente monótono, respondendo chamadas de emergência em uma linha direta destinada a casos de extrema confidencialidade. Sua rotina muda drasticamente quando ele recebe uma ligação de Rose Larkin (Luciane Buchanan), uma mulher em pânico que se encontra em perigo após um ataque contra sua tia e tio, ambos envolvidos em atividades, no mínimo, suspeitas. À medida que Peter e Rose vão se comprometendo com o caso, eles descobrem uma conspiração que vai até as mais altas posições do governo, colocando suas vidas em risco. Confira o trailer:

Criada e adaptada por Shawn Ryan (de "The Shield"), a trama da série é habilmente construída para manter a audiência engajada do inicio ao fim. Sério, é preciso ter o autocontrole de um monge budista para deixar de assistir o próximo episódio - os "ganchos" são tão bem construídos que chega a irritar! Com reviravoltas inesperadas e uma rede de intrigas que se desenrola gradualmente, a narrativa equilibra habilmente a tensão daqueles momentos de mais ação com um desenvolvimento de personagens bastante cuidadoso, explorando assim, temas como lealdade, corrupção e luta pelo poder. Veja, embora a série siga muitas das convenções do gênero de espionagem, ela consegue se destacar ao introduzir uma camada mais humana aos personagens que ganham cada vez mais força com diálogos, de fato, bastante afiados.

"O Agente Noturno" é comandada por Seth Gordon e uma equipe talentosa de diretores que mantém um ritmo acelerado e constante durante todos os episódios - eu diria até que essa dinâmica é essencial para manter a tensão e o suspense de maneira a nos tirar o fôlego em muitos momentos. A fotografia desenhada pelo Michael Wale (o mesmo de "A Origem") é estilosa - um conceito visual que caminha tranquilamente entre um "House of Cards" e um "Homeland". Wale utiliza muito o jogo de sombras, priorizando uma iluminação mais densa para refletir o tom mais conspiratório de Washington, D.C. Agora vale um comentário: repare como as cenas de ação são bem coreografadas, como as perseguições, as lutas e os tiroteios são bem construídos - é emocionante e plausível dentro do contexto da história. Ah, e sim, será preciso uma certa abstração da realidade para embarcar na jornada do protagonista, mas te garanto que isso não atrapalha em nada na experiência de assistir qualquer que seja a sequência da série. Aliás, Gabriel Basso oferece uma performance sólida, retratando um agente determinado e competente, mas também alguém que luta com questões de confiança e insegurança. Basso consegue nivelar a intensidade exigida pelas cenas de ação com momentos de vulnerabilidade emocional, tornando seu Peter um protagonista fácil de se conectar. Luciane Buchanan, como Rose, também entrega uma atuação convincente, mostrando uma evolução de personagem das mais interessantes: de uma vítima em fuga à uma aliada corajosa.

Como cada personagem traz suas próprias motivações e conflitos, criando uma rede complexa de alianças e traições que nos mantém em dúvida sobre quem realmente está do lado certo, é fácil afirmar que "O Agente Noturno" é muito eficaz ao que se propõe, mesmo que seguindo uma fórmula já familiar do gênero de espionagem, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade em certos momentos, mas quem se importa? Com uma narrativa bem estruturada, performances das mais competentes e uma atmosfera tensa em todos os episódios, a série cumpre o que promete: entreter com a qualidade de quem sabe o que está fazendo e onde quer chegar!

Diversão garantida!

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"O Agente Noturno" poderia tranquilamente ser uma segunda temporada de "Segurança em Jogo" - e se você sabe do que eu estou falando, também sabe o que te espera! Lançada em 2023 pela Netflix, essa série tem uma mistura de elementos de suspense e de ação das mais envolventes, que simplesmente nos mergulha em um mundo complexo de conspirações governamentais, espionagem e traições. Baseada no livro homônimo de Matthew Quirk, "O Agente Noturno" oferece uma narrativa cheia de tensão, seguindo a trajetória de um agente de baixo escalão que se vê no centro de uma trama maior do que ele poderia imaginar. Para os fãs das saudosas "24 Horas" e "Homeland", aqui temos uma experiência igualmente eletrizante e cheia de surpresas!

A trama segue Peter Sutherland (Gabriel Basso), um jovem agente do FBI que trabalha em um turno noturno aparentemente monótono, respondendo chamadas de emergência em uma linha direta destinada a casos de extrema confidencialidade. Sua rotina muda drasticamente quando ele recebe uma ligação de Rose Larkin (Luciane Buchanan), uma mulher em pânico que se encontra em perigo após um ataque contra sua tia e tio, ambos envolvidos em atividades, no mínimo, suspeitas. À medida que Peter e Rose vão se comprometendo com o caso, eles descobrem uma conspiração que vai até as mais altas posições do governo, colocando suas vidas em risco. Confira o trailer:

Criada e adaptada por Shawn Ryan (de "The Shield"), a trama da série é habilmente construída para manter a audiência engajada do inicio ao fim. Sério, é preciso ter o autocontrole de um monge budista para deixar de assistir o próximo episódio - os "ganchos" são tão bem construídos que chega a irritar! Com reviravoltas inesperadas e uma rede de intrigas que se desenrola gradualmente, a narrativa equilibra habilmente a tensão daqueles momentos de mais ação com um desenvolvimento de personagens bastante cuidadoso, explorando assim, temas como lealdade, corrupção e luta pelo poder. Veja, embora a série siga muitas das convenções do gênero de espionagem, ela consegue se destacar ao introduzir uma camada mais humana aos personagens que ganham cada vez mais força com diálogos, de fato, bastante afiados.

"O Agente Noturno" é comandada por Seth Gordon e uma equipe talentosa de diretores que mantém um ritmo acelerado e constante durante todos os episódios - eu diria até que essa dinâmica é essencial para manter a tensão e o suspense de maneira a nos tirar o fôlego em muitos momentos. A fotografia desenhada pelo Michael Wale (o mesmo de "A Origem") é estilosa - um conceito visual que caminha tranquilamente entre um "House of Cards" e um "Homeland". Wale utiliza muito o jogo de sombras, priorizando uma iluminação mais densa para refletir o tom mais conspiratório de Washington, D.C. Agora vale um comentário: repare como as cenas de ação são bem coreografadas, como as perseguições, as lutas e os tiroteios são bem construídos - é emocionante e plausível dentro do contexto da história. Ah, e sim, será preciso uma certa abstração da realidade para embarcar na jornada do protagonista, mas te garanto que isso não atrapalha em nada na experiência de assistir qualquer que seja a sequência da série. Aliás, Gabriel Basso oferece uma performance sólida, retratando um agente determinado e competente, mas também alguém que luta com questões de confiança e insegurança. Basso consegue nivelar a intensidade exigida pelas cenas de ação com momentos de vulnerabilidade emocional, tornando seu Peter um protagonista fácil de se conectar. Luciane Buchanan, como Rose, também entrega uma atuação convincente, mostrando uma evolução de personagem das mais interessantes: de uma vítima em fuga à uma aliada corajosa.

Como cada personagem traz suas próprias motivações e conflitos, criando uma rede complexa de alianças e traições que nos mantém em dúvida sobre quem realmente está do lado certo, é fácil afirmar que "O Agente Noturno" é muito eficaz ao que se propõe, mesmo que seguindo uma fórmula já familiar do gênero de espionagem, o que pode levar a uma sensação de previsibilidade em certos momentos, mas quem se importa? Com uma narrativa bem estruturada, performances das mais competentes e uma atmosfera tensa em todos os episódios, a série cumpre o que promete: entreter com a qualidade de quem sabe o que está fazendo e onde quer chegar!

Diversão garantida!

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O Aviso

"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

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"O Aviso" é mais um daqueles suspenses psicológicos intrigantes, muito bem realizado e com um roteiro interessante, mas por conta de uma pequena solução narrativa, certamente, vai dividir opiniões. Esse filme espanhol, produzido pela Netflix se baseia no livro de Paul Pen e conta a história de Jon (Raúl Arévalo) que ao ver  seu melhor amigo, David (Sergio Mur), ser baleado enquanto estavam em um posto de gasolina, começa investigar o crime até que percebe um estranho padrão matemático entre vários incidentes que ocorreram no mesmo local durante anos. Ao mesmo tempo, mas dez anos a frente, acompanhamos Nico (Hugo Arbúes), uma criança de nove anos que certo dia recebe um bilhete dizendo que sua vida pode estar em risco se ele for nesse posto de gasolina no dia do seu aniversário. É, eu sei que pode parecer confuso, mas o filme contorna muito bem essa premissa com inteligência. Confira o trailer, dublado:

"O Aviso", na minha opinião, tem mais acertos do que erros - principalmente se você assistir sem muita expectativa e mergulhar na paranóia do protagonista na busca alucinada para entender os padrões que construíram todos os crimes que ocorreram naquele local. Não espere explicações lógicas, por mais controversa que possa parecer a frase já que os números "não mentem" - o fato é que a trama vai fazer algum sentido se você não se preocupar com as respostas e sim com as suposições que o roteiro vai inserindo na história pouco a pouco... e isso é muito divertido! 

O diretor Daniel Calparsoro (de "Tormenta" e o "O Silêncio da Cidade Branca") acertou ao brincar com a temporalidade do roteiro sem a necessidade de parecer didático com quem assiste. No início pode causar algum estranhamento, mas lentamente fica fácil entender exatamente quando cada linha narrativa acontece e, claro, nos provoca a imaginar como elas se encontrarão - apenas algumas cenas com um filtro sépia para invocar um passado distante, incomoda um pouco e embora a escolha visual seja justificável, faltou coragem para manter aquele conceito visual mais neutro! A partir do segundo ato, essa conjunção temporal vai ficando cada vez mais óbvia, mas o valor do roteiro de Chris Sparling ("Mercy") e Jorge Guerricaechevarría ("Quem com ferro fere") está em, justamente, não deixar o óbvio atrapalhar a experiência - eles vão nos apresentando outros elementos (inclusive sobrenaturais) com o objetivo de criar mais dúvidas do que repostas - da mesma forma como o grande M. Night Shyamalan nos presenteava em um passado distante.

O elenco merece destaque também: Raúl Arévalo entrega um personagem (Jon) bastante honesto - por sofrer de esquizofrenia e da culpa pelo acidente do amigo, a tendência óbvia era fugir do tom e super valorizar o drama ou o estereótipo; não foi o caso - nem mesmo as aplicações de insetos em um CG bem mequetrefe, atrapalharam seu trabalho! Aura Garrido, a Laura, mãe de Nico, também não cede a tentação do overacting e funciona bem ao equilibrar o fato de ser super protetora com a necessidade de preparar seu filho para enfrentar o mundo! Hugo Arbúes, o Nico, traduz exatamente o que representa uma infância insegura e ameaçada pelo bullying que pode viver um menino mais introvertido nos dias de hoje.

No geral, "O Aviso" funciona muito bem como um ótimo entretenimento que mistura mistério, investigação e suspense (com uma pitada de sobrenatural), que nos deixam intrigados e imersos em uma infinidade de possibilidades que nos movem até o final do filme. Talvez esse final possa decepcionar um pouco (foi o que aconteceu comigo), porém a jornada foi tão divertida que nem dei muita bola para esse vacilo do roteiro. Eu indico, mais pela diversão do que por ser um filme inesquecível!

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O Caso Collini

"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

Vale a pena! 

Assista Agora

"O Caso Collini" merece sua atenção! Muito elogiado pela crítica e pelo público, essa produção alemã é uma adaptação do livro de Ferdinand von Schirach e apresenta uma história baseada em um caso real que aconteceu na Alemanha no começo dos anos 2000. E aqui eu já faço uma importante advertência: não busque mais informações sobre o filme, pois até algumas peças de divulgação já entregam spoilers que impactam diretamente na experiência investigativa de quem assiste o drama. Aliás, justamente por isso não vou publicar o trailer nesse review.

Veja, a premissa do filme é bastante simples: um jovem advogado, Caspar Leinen (Elyas M'Barek), é designado para defender um italiano que mora na Alemanha, Fabrizio Collini (Franco Nero), e que assassinou brutalmente um respeitado empresário local, Hans Meyer (Manfred Zapatka), aparentemente sem motivo algum.

O talentoso cineasta Marco Kreuzpaintner (responsável por dois episódios do ótimo "Soulmates" da Prime Vídeo) fez questão de mostrar a verdade sobre o assassinato de Hans Meyer já no seu prólogo, não estabelecendo assim qualquer tipo de dúvida ou mistério sobre o ato em si, apostando fielmente apenas nos motivos que levaram Collini a cometer esse crime tão brutal. Ao melhor estilo dos recentes documentários de "True Crime", a pergunta que fica martelando em nossa cabeça por 2/3 da história é: O que de fato aconteceu naquele quarto de hotel?

Kreuzpaintner impõe um ritmo bastante interessante desde o inicio, mesmo que em alguns momentos pareça vacilar quando escolhe trocar o drama pelo thriller de investigação - "Perfume", do seu compatriota e premiado diretor Philipp Kadelbach, trabalha essa dualidade com mais naturalidade, mas é inegável a quantidade de pontos em comum entre as duas obras: no conceito visual e até no narrativo.

Citando o conceito visual primeiro: "O Caso Collini" é extremamente carregado de contraste e saturação, transformando a imagem da maioria das cenas em uma atmosfera bastante carregada. O trabalho de Elyas M'Barek e Franco Nero colaboram para esse mood, mas talvez o grande destaque do elenco seja mesmo Heiner Lauterbach como o promotor e ex-professor de Caspar, Dr. Richard Mattinger - é irritante sua postura egocêntrica, reparem.

Já pontuando as similaridades do conceito narrativo, um dos grandes méritos do trabalho dos roteiristas Christian Zübert, Robert Gold, Jens-Frederik Otto; foi justamente criar linhas temporais paralelas para ir desvendando tudo que está por trás das relações entre os personagens e entre os envolvidos no crime diretamente. Ao se aprofundar na história de um dos julgamentos mais marcantes da Alemanha, "O Caso Collini" se aproveita de uma das camadas mais interessantes da trama para se diferenciar como gênero: a surpresa e a emoção perante os desdobramentos que deixaram muita gente sem chão (e que geraram muita reflexão na época).

"O Caso Collini" pode não ser excepcional, mas certamente vai agradar como entretenimento - daqueles que quanto menos você souber, melhor. Saiba apenas que sua narrativa vai muito além do drama de tribunal convencional - e isso é muito mais que um elogio, já que a intensidade da direção, da montagem, da fotografia e do elenco dão um aspecto quase independente para o filme que se apoia em um roteiro muito competente para se distanciar das produções americanas.

Vale a pena! 

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O Caso Richard Jewell

"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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"O Caso Richard Jewell" não é um filme de investigação, é um filme de empatia! 

Richard Jewell (Paul Walter Hauser) sempre sonhou em se tornar policial, mas entre um bico e outro, acabou como segurança nos jogos olímpicos de Atlanta em 1996. No dia 27 de julho, durante um show no Centennial Olympic Park, Jewell reparou em uma mochila que estava largada próximo a torre de iluminação. Receoso, ele chamou a policia local e depois o esquadrão anti-bombas - ambos não puderam fazer nada a tempo: a bomba explodiu, matando duas pessoas e ferindo outras 112. Certamente a tragédia teria sido ainda maior se Richard Jewell não tivesse agido rápido, afastando o máximo de pessoas possíveis do local da explosão. Da noite para o dia ele se tornou um herói, uma celebridade instantânea, até que um investigador do FBI sugeriu que ele pudesse ser o principal suspeito, vazando a informação para a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que, irresponsavelmente, o colocou em um perfil completamente estereotipado de quem seria capaz de cometer um atentado terrorista para chamar a atenção. O fato é que Jewell e sua mãe Bobi (Kathy Bates) passam a viver um inferno, sendo massacrados pela mídia e perseguidos pelo FBI.

A escolha do diretor Clint Eastwood e do roteirista Billy Ray (Captain Phillips) em contar essa história real pelos olhos inocentes de Richard Jewell, transforma nossa percepção sobre o caso e nos provoca à reflexão sobre aqueles personagens de uma forma muito próxima, quase familiar, emotiva até! Olha, vale muito a pena! O filme estreia dia 2 de janeiro e é cotado para, pelo menos, 2 ou 3 indicações no Oscar 2020! 

Embora a história seja muito interessante e nos prenda por mais de duas horas, a força do filme está, sem dúvida, no seu elenco: Paul Walter Hauser está sensacional e, para mim, seria um dos indicados no Oscar, porém sua ausência no Globo de Ouro ligou um sinal de alerta. O mesmo serve para o excelente Sam Rockwell como o advogado Watson Bryant - ele está perfeito, mas vai cair em uma das categorias mais disputadas e que deve contar com Joe Pesci (O irlandês), Anthony Hopkins (Dois papas) e Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood). Kathy Bates tem uma das cenas mais emocionantes que eu assisti em 2019 - um monólogo que vale o filme e que a credencia como uma das favoritas para melhor atriz coadjuvante. Até Olivia Wilde mereceria uma indicação, mas acho que não será dessa vez: sua postura como uma repórter ambiciosa é irritante ao mesmo tempo que muito charmosa - aliás, uma das polêmicas que o filme gerou diz respeito a sua personagem que, teoricamente, teria oferecido sexo em troca de uma informação. Kathy Scruggs faleceu em 2001, mas a A Cox Enterprises, responsável pelo diário Atlanta Journal-Constitutionque deu o furo na época, enviou uma carta aberta para o diretor Clint Eastwood, afirmando que sua versão para os fatos seria "errada e malévola [...] difamatória e destruidora de reputações"! O fato é que essa polêmica, em tempos de #MeToo, deve atrapalhar a corrida do filme pela disputa do prêmio máximo do Oscar.

Outros fatores contribuem para o ótimo resultado de "O Caso Richard Jewell". Sem muita inventividade , mas com muita competência, a direção de Eastwood é infinitamente melhor do que em "15h17 - Trem para Paris". A montagem de Joel Cox (Os Imperdoáveis e American Sniper) cria uma dinâmica bastante interessante, embora muito linear, mistura bem o que é arquivo e o que é ficção. A trilha sonora do Arturo Sandoval (três vezes vencedor do Grammy) ajuda a dar o tom emocional que o roteiro propõe com muita habilidade. Outro elemento que pode passar batido, mas que é muito interessante é a bela fotografia de Yves Bélanger (o cara por trás de Big Little Lies da HBO e de Clube de Compras Dallas). 

"O Caso Richard Jewell" é um filme com potencial para fazer barulho graças ao excelente trabalho de um elenco acima da média! O roteiro, mesmo acertando no conceito narrativo, dá umas pequenas vaciladas, deixando algumas ações sem muita explicação (até aí, ok) ou aprofundamento (como a dor no peito de Richard Jewell ou a crise de consciência Kathy Scruggs durante a entrevista coletiva da mãe de Richard) - dá a impressão que algo não entrou no corte final, sabe? De modo geral eu gostei muito do filme e digo que vale muito a pena! Indico de olhos fechados e com o coração apertado ao lembrar da cena da Kathy Bates!!!

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O Castelo de Vidro

"O Castelo de Vidro" é excelente, mas, admito, achei pesado! 

Baseado no livro autobiográfico da jornalistaJeannette Walls, o filme não foca na sua carreira profissional, e sim na sua vida em família desde a infância. É uma história (real) difícil, mas muito bem resolvida no roteiro, sobre uma jovem menina que atinge a maioridade em uma família nômade completamente desestruturada, com uma mãe excêntrica e um pai alcoólatra, e que tenta despertar a imaginação dos irmãos com a esperança que elas se abstraiam da pobreza em que vivem.

Muito bem filmado pelo Destin Daniel Cretton, outro jovem diretor que, de um curta, fez um outro filme de grande sucesso em festivais - chegando a ganhar Locarno em 2013 com seu "Short Term 12" (Temporário 12). Em "The Glass Castle" (título original), ele repete a parceria com a ótima Brie Larson, mas quem rouba a cena é o Woody Harrelson. Embora possa parecer um pouco fora do tom, apoiado em esteriótipos locais, ele traz a dor de quem vive uma dependência, mas acredita que pode compensar sua fraqueza com uma máscara de inabalável. Impressionante como ele trabalha essa dualidade e influencia nosso julgamento a cada cena. Naomi Watts também se desconstruiu para sua personagem e foi muito bem - ambos mereceram todos os elogios, porém foram completamente esquecidos no Oscar 2018!

"The Glass Castle" é um filme tecnicamente muito bem realizado, muito honesto na sua proposta e com uma história difícil de digerir pela sua complexidade moral. Vale muito a pena!!!

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"O Castelo de Vidro" é excelente, mas, admito, achei pesado! 

Baseado no livro autobiográfico da jornalistaJeannette Walls, o filme não foca na sua carreira profissional, e sim na sua vida em família desde a infância. É uma história (real) difícil, mas muito bem resolvida no roteiro, sobre uma jovem menina que atinge a maioridade em uma família nômade completamente desestruturada, com uma mãe excêntrica e um pai alcoólatra, e que tenta despertar a imaginação dos irmãos com a esperança que elas se abstraiam da pobreza em que vivem.

Muito bem filmado pelo Destin Daniel Cretton, outro jovem diretor que, de um curta, fez um outro filme de grande sucesso em festivais - chegando a ganhar Locarno em 2013 com seu "Short Term 12" (Temporário 12). Em "The Glass Castle" (título original), ele repete a parceria com a ótima Brie Larson, mas quem rouba a cena é o Woody Harrelson. Embora possa parecer um pouco fora do tom, apoiado em esteriótipos locais, ele traz a dor de quem vive uma dependência, mas acredita que pode compensar sua fraqueza com uma máscara de inabalável. Impressionante como ele trabalha essa dualidade e influencia nosso julgamento a cada cena. Naomi Watts também se desconstruiu para sua personagem e foi muito bem - ambos mereceram todos os elogios, porém foram completamente esquecidos no Oscar 2018!

"The Glass Castle" é um filme tecnicamente muito bem realizado, muito honesto na sua proposta e com uma história difícil de digerir pela sua complexidade moral. Vale muito a pena!!!

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O céu está em todo lugar

"O céu está em todo lugar" é um graça, embora discuta um tema extremamente delicado e que vai exigir certa sensibilidade para entender o conceito por trás da narrativa lúdica que simboliza o "luto na adolescência". Veja, o que você vai encontrar nesse filme dirigido pela Josephine Decker (de "Shirley") é um drama jovem, com toque de comédia romântica, alguns clichês, mas muita honestidade - é como se assistíssemos um mix de "No Ritmo do Coração" com o "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".

"O céu está em todo lugar" segue Lennie (Grace Kaufman), uma jovem de 17 anos, após a morte da irmã mais velha e melhor amiga, Bailey (Havana Rose Liu). Ela se vê dividida entre Toby (Pico Alexander), o namorado de Bailey que na visão dela é o único que compartilha sua dor, e Joe (Jacques Colimon), o novo garoto da cidade que explode de vida. Cada um oferece a Lennie algo que ela precisa desesperadamente para superar seu luto. Através das experiências do primeiro relacionamento e da reflexão sobre as escolhas para o seu futuro, Lennie precisa encarar a vida real, mesmo que essa fique entre a linha tênue do sonho de um amor verdadeiro e o pesadelo da perda de alguém tão especial. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no best-seller de Jandy Nelson, "O céu está em todo lugar" se beneficia da inteligência e criatividade de Josephine Decker que respeitou o "espirito" da história contada no livro, ao criar uma narrativa completamente lúdica que transformou uma premissa densa, onde uma família que não sabe lidar com a dor da perda e uma adolescente que tinha todos os motivos para viver em um mundo de lamentações, em uma jornada de aceitação e auto-descoberta através da arte - e aqui não falo apenas do amor de Lennie e Joe pela música, mas sim pelas representações cênicas que Decker utilizou para expressar alguns dos sentimentos e sensações dos personagens.

Obviamente que ter Jandy Nelson como roteirista ajudou nesse processo, mas de fato o filme transita muito bem entre a dura realidade do luto e a fantasia do recomeço, sem deixar de tocar nas feridas de uma forma muito dura até: quando Lennie pergunta para sua vó, Fiona, a incrível Cherry Jones, se o luto vai durar para sempre, a resposta é de cortar o coração, pela sinceridade e delicadeza da conversa. Aliás essa não é a única cena em que as duas juntas brilham: reparem na cena em que Fiona confronta Lennie sobre o egoísmo dela e expõe pela primeira vez seus sentimentos em relação a morte da neta - é lindo, mas toca fundo!

"The Sky is Everywherer" (no original) vai se conectar com os mais jovens pelas indagações e pela beleza da descoberta do amor; e com os mais velhos (como esse que vos escreve) pela capacidade que o roteiro tem de criar inúmeras camadas, em vários personagens, saindo completamente da superfície para discutir o luto como um sentimento muito particular, com visões, percepções e atitudes diferentes, mas não menos importante ou difícil de lidar, não importa para quem seja.

Vale seu play.

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"O céu está em todo lugar" é um graça, embora discuta um tema extremamente delicado e que vai exigir certa sensibilidade para entender o conceito por trás da narrativa lúdica que simboliza o "luto na adolescência". Veja, o que você vai encontrar nesse filme dirigido pela Josephine Decker (de "Shirley") é um drama jovem, com toque de comédia romântica, alguns clichês, mas muita honestidade - é como se assistíssemos um mix de "No Ritmo do Coração" com o "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".

"O céu está em todo lugar" segue Lennie (Grace Kaufman), uma jovem de 17 anos, após a morte da irmã mais velha e melhor amiga, Bailey (Havana Rose Liu). Ela se vê dividida entre Toby (Pico Alexander), o namorado de Bailey que na visão dela é o único que compartilha sua dor, e Joe (Jacques Colimon), o novo garoto da cidade que explode de vida. Cada um oferece a Lennie algo que ela precisa desesperadamente para superar seu luto. Através das experiências do primeiro relacionamento e da reflexão sobre as escolhas para o seu futuro, Lennie precisa encarar a vida real, mesmo que essa fique entre a linha tênue do sonho de um amor verdadeiro e o pesadelo da perda de alguém tão especial. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no best-seller de Jandy Nelson, "O céu está em todo lugar" se beneficia da inteligência e criatividade de Josephine Decker que respeitou o "espirito" da história contada no livro, ao criar uma narrativa completamente lúdica que transformou uma premissa densa, onde uma família que não sabe lidar com a dor da perda e uma adolescente que tinha todos os motivos para viver em um mundo de lamentações, em uma jornada de aceitação e auto-descoberta através da arte - e aqui não falo apenas do amor de Lennie e Joe pela música, mas sim pelas representações cênicas que Decker utilizou para expressar alguns dos sentimentos e sensações dos personagens.

Obviamente que ter Jandy Nelson como roteirista ajudou nesse processo, mas de fato o filme transita muito bem entre a dura realidade do luto e a fantasia do recomeço, sem deixar de tocar nas feridas de uma forma muito dura até: quando Lennie pergunta para sua vó, Fiona, a incrível Cherry Jones, se o luto vai durar para sempre, a resposta é de cortar o coração, pela sinceridade e delicadeza da conversa. Aliás essa não é a única cena em que as duas juntas brilham: reparem na cena em que Fiona confronta Lennie sobre o egoísmo dela e expõe pela primeira vez seus sentimentos em relação a morte da neta - é lindo, mas toca fundo!

"The Sky is Everywherer" (no original) vai se conectar com os mais jovens pelas indagações e pela beleza da descoberta do amor; e com os mais velhos (como esse que vos escreve) pela capacidade que o roteiro tem de criar inúmeras camadas, em vários personagens, saindo completamente da superfície para discutir o luto como um sentimento muito particular, com visões, percepções e atitudes diferentes, mas não menos importante ou difícil de lidar, não importa para quem seja.

Vale seu play.

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O Chalé

É impossível assistir "O Chalé" (ou "The Lodge", título original) e não lembrar de "Hereditário". De fato existem muitas semelhanças, principalmente por usar de alguns elementos visuais e até de um certo conceito narrativo para trazer o mesmo tom de suspense, porém se o filme do diretor Ari Aster se apoiava no sobrenatural, o da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (a mesma do excelente "Boa Noite, Mamãe" de 2014) usa mais do psicológico (mesmo que flertando com o inexplicável).

"O Chalé" conta a história de Aidan (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) que após viverem um drama familiar, são levados pelo pai, Richard (Richard Armitage), até um chalé da família para passar o Natal com sua nova namorada, Grace (Riley Keough). O problema é que ele precisa se ausentar alguns uns dias para trabalhar e a única opção é deixar as crianças com Grace, que mal as conhecem e ainda é taxada como a culpada pela separação de Richard. O que poderia ser uma ótima oportunidade de aproximação entre eles, logo se transforma em um verdadeiro terror quando situações inexplicáveis começam acontecer. Confira o trailer:

Na verdade "O Chalé" não me pareceu um filme tão autoral quanto "Hereditário", embora conceitualmente, seja! Minha percepção foi que Severin Fiala e Veronika Franz entregam um filme não tão profundo, sem tantas camadas e que exige menos da interpretação. O que eu quero dizer é que, mesmo misterioso,  "O Chalé" é um filme mais fácil de entender, onde as peças do quebra-cabeça vão se encaixando com o tempo e no final tudo faz sentido e pronto - não precisamos sair igual loucos buscando mais informações além do que acabamos de assistir! Sendo assim, é um filme que deve agradar mais pessoas: aquelas que gostam do gênero e pretendem se entreter com ele, sem a necessidade de depois ficar discutindo sobre os mínimos detalhes! Eu gostei e indico com mais tranquilidade que "Hereitário" ou que o próprio "Boa Noite, Mamãe", mas saiba que se você se envolve com esse tipo de narrativa, sua diversão está garantida!

O roteiro de Sergio Casci, Veronika Franz e Severin Fiala consegue criar aquela dúvida interminável desde o momento em que o filme mergulha na tensão entre as crianças e a futura madrasta. O mérito de carregar tantas perguntas sem respostas até o final do segundo ato, merece ser destacado - poucos filmes conseguem manter o nível de tensão, de abstração dos fatos e de mistério com tanta competência. O problema, ao meu ver, é justamente o terceiro ato: não pelo conteúdo, mas pela forma como tudo é resolvido - me pareceu rápido demais! Até a metade do segundo ato, mais ou menos, o roteiro chega a empolgar: ele  transita entre uma boa atmosfera de suspense sobrenatural e uma excelente linha de terror psicológico. Não que o final não faça sentido ou que seja ruim, longe disso, ele só é resolvido sem muitos questionamentos, tudo fica muito claro e explicado demais - até alguns enquadramentos são didáticos além da conta.

"O Chalé" não se apoia em tantas alegorias como "Hereditário", embora use muitos elementos que parecem ser até uma cópia do filme de Aster (e lógico que não é); cito duas: a sensação angustiante de misturar planos do chalé com a de uma casa em miniatura, que nos faz perder completamente a noção de espaço e realidade, e as referências às seitas religiosas (ou satânicas, dependendo do ponto de vista) - aqui temos uma cena sensacional gravada em vídeo, bem documental, que é angustiante e que explica muito sobre Grace e seus fantasmas - reparem! Além disso existe um certo mergulho na psiquê dos personagens que também são similares, principalmente da própria Grace (Riley Keough) e de Laura (Alicia Silverstone, em uma participação curta, mas marcante) com relação à Annie de Toni Collette. Sobre o elenco, mais um excelente trabalho, comedido, no tom certo e ao mesmo tempo bastante convincente do Jaeden Martell ("Em defesa de Jacob") - esse menino é um fenômeno e logo será reconhecido por isso - podem me cobrar!

O diretores já haviam provado conhecer exatamente essa gramática cinematográfica do suspense e, mais uma vez, fazem uma leitura visual muito interessante ao fixar a câmera e deixar que os atores contem a história como se estivessem em um palco. Quando escolhem os planos mais fechados, normalmente no rosto dos atores e em momentos extremamente introspectivos, temos a impressão que somos capazes que compreender perfeitamente aquele olhar e ao escutar o silêncio de suas pausas, vem aquela sensação aterrorizante de desconhecido - Riley Keough usa e abusa dessas pausas com muita maestria! A fotografia do grego Thimios Bakatakis (de "O Sacrifício do Cervo Sagrado") é linda e o Desenho de Som do Sylvain Bellemare (vencedor do Oscar com "A Chegada") e Paul Lucien Col (responsável por grandes sucessos da HBO como "Sharp Objects" e "Big Little Lies") é digno de prêmios!

"O Chalé" não é um filme de "sustos", é um filme de personagens complexos em sentimentos que, mesmo sem um mergulho tão profundo, nos provocam a reinterpretar as situações de acordo com a nossa crença - e isso é um dos pontos altos do filme. Ele é angustiante, um pouco claustrofóbico, mas bastante honesto ao construir o suspense baseado em uma trama que não rouba no jogo, que entrega as pistas nos momentos certos e nos deixa viajar em várias teorias. Vale como entretenimento sem a menor dúvida!

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É impossível assistir "O Chalé" (ou "The Lodge", título original) e não lembrar de "Hereditário". De fato existem muitas semelhanças, principalmente por usar de alguns elementos visuais e até de um certo conceito narrativo para trazer o mesmo tom de suspense, porém se o filme do diretor Ari Aster se apoiava no sobrenatural, o da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (a mesma do excelente "Boa Noite, Mamãe" de 2014) usa mais do psicológico (mesmo que flertando com o inexplicável).

"O Chalé" conta a história de Aidan (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) que após viverem um drama familiar, são levados pelo pai, Richard (Richard Armitage), até um chalé da família para passar o Natal com sua nova namorada, Grace (Riley Keough). O problema é que ele precisa se ausentar alguns uns dias para trabalhar e a única opção é deixar as crianças com Grace, que mal as conhecem e ainda é taxada como a culpada pela separação de Richard. O que poderia ser uma ótima oportunidade de aproximação entre eles, logo se transforma em um verdadeiro terror quando situações inexplicáveis começam acontecer. Confira o trailer:

Na verdade "O Chalé" não me pareceu um filme tão autoral quanto "Hereditário", embora conceitualmente, seja! Minha percepção foi que Severin Fiala e Veronika Franz entregam um filme não tão profundo, sem tantas camadas e que exige menos da interpretação. O que eu quero dizer é que, mesmo misterioso,  "O Chalé" é um filme mais fácil de entender, onde as peças do quebra-cabeça vão se encaixando com o tempo e no final tudo faz sentido e pronto - não precisamos sair igual loucos buscando mais informações além do que acabamos de assistir! Sendo assim, é um filme que deve agradar mais pessoas: aquelas que gostam do gênero e pretendem se entreter com ele, sem a necessidade de depois ficar discutindo sobre os mínimos detalhes! Eu gostei e indico com mais tranquilidade que "Hereitário" ou que o próprio "Boa Noite, Mamãe", mas saiba que se você se envolve com esse tipo de narrativa, sua diversão está garantida!

O roteiro de Sergio Casci, Veronika Franz e Severin Fiala consegue criar aquela dúvida interminável desde o momento em que o filme mergulha na tensão entre as crianças e a futura madrasta. O mérito de carregar tantas perguntas sem respostas até o final do segundo ato, merece ser destacado - poucos filmes conseguem manter o nível de tensão, de abstração dos fatos e de mistério com tanta competência. O problema, ao meu ver, é justamente o terceiro ato: não pelo conteúdo, mas pela forma como tudo é resolvido - me pareceu rápido demais! Até a metade do segundo ato, mais ou menos, o roteiro chega a empolgar: ele  transita entre uma boa atmosfera de suspense sobrenatural e uma excelente linha de terror psicológico. Não que o final não faça sentido ou que seja ruim, longe disso, ele só é resolvido sem muitos questionamentos, tudo fica muito claro e explicado demais - até alguns enquadramentos são didáticos além da conta.

"O Chalé" não se apoia em tantas alegorias como "Hereditário", embora use muitos elementos que parecem ser até uma cópia do filme de Aster (e lógico que não é); cito duas: a sensação angustiante de misturar planos do chalé com a de uma casa em miniatura, que nos faz perder completamente a noção de espaço e realidade, e as referências às seitas religiosas (ou satânicas, dependendo do ponto de vista) - aqui temos uma cena sensacional gravada em vídeo, bem documental, que é angustiante e que explica muito sobre Grace e seus fantasmas - reparem! Além disso existe um certo mergulho na psiquê dos personagens que também são similares, principalmente da própria Grace (Riley Keough) e de Laura (Alicia Silverstone, em uma participação curta, mas marcante) com relação à Annie de Toni Collette. Sobre o elenco, mais um excelente trabalho, comedido, no tom certo e ao mesmo tempo bastante convincente do Jaeden Martell ("Em defesa de Jacob") - esse menino é um fenômeno e logo será reconhecido por isso - podem me cobrar!

O diretores já haviam provado conhecer exatamente essa gramática cinematográfica do suspense e, mais uma vez, fazem uma leitura visual muito interessante ao fixar a câmera e deixar que os atores contem a história como se estivessem em um palco. Quando escolhem os planos mais fechados, normalmente no rosto dos atores e em momentos extremamente introspectivos, temos a impressão que somos capazes que compreender perfeitamente aquele olhar e ao escutar o silêncio de suas pausas, vem aquela sensação aterrorizante de desconhecido - Riley Keough usa e abusa dessas pausas com muita maestria! A fotografia do grego Thimios Bakatakis (de "O Sacrifício do Cervo Sagrado") é linda e o Desenho de Som do Sylvain Bellemare (vencedor do Oscar com "A Chegada") e Paul Lucien Col (responsável por grandes sucessos da HBO como "Sharp Objects" e "Big Little Lies") é digno de prêmios!

"O Chalé" não é um filme de "sustos", é um filme de personagens complexos em sentimentos que, mesmo sem um mergulho tão profundo, nos provocam a reinterpretar as situações de acordo com a nossa crença - e isso é um dos pontos altos do filme. Ele é angustiante, um pouco claustrofóbico, mas bastante honesto ao construir o suspense baseado em uma trama que não rouba no jogo, que entrega as pistas nos momentos certos e nos deixa viajar em várias teorias. Vale como entretenimento sem a menor dúvida!

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O Degelo

Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..

A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):

É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.

Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja. 

Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!

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Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..

A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):

É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.

Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja. 

Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!

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O Eleito

"O Eleito" pode te surpreender, mas será preciso embarcar na proposta de seu criador Mark Millar e ter alguma paciência já que a série de 6 episódios da Netflix começa a engrenar mesmo, lá pelo terceiro episódio. Muito bem dirigida pelo Everardo Gout (de "Caleidoscópio"), essa produção americana falada em espanhol, se aproveita da premissa do ótimo (e até hoje lembrado pelo seu cancelamento prematuro) "Messiah", para discutir o comportamento humano a partir de dogmas religiosos, nos dias de hoje, pela perspectiva de 5 jovens que moram em uma cidadezinha no México em 1999. Além da dinâmica "Stranger Things"da narrativa, é muito importante ressaltar a profundidade que a história vai ganhando ao discutir temas como a idolatria e a megalomania do "todo" perante a jornada mais íntima e, claro, repleta de imperfeições do "indivíduo".

Na trama acompanhamos a história de Jodie (Bobby Luhnow), um jovem de 12 anos que passa a suspeitar ser a reencarnação de Jesus Cristo. Capaz de fazer uma pessoa voltar a andar, transformar água em vinho e até mesmo ressuscitar os mortos, ele precisa aprender a lidar com seu destino durante a fase das maiores descobertas da vida, a adolescência.. Entre a ideia de ser alguém especial ou um garoto que quer apenas se divertir com os amigos, cabe a Jodie decidir se vai ou não atender esse "chamado divino". Confira o trailer:

De fato, a série derrapa um pouco na sua contextualização. Os primeiros episódios soam infantis e desconexos - como se o roteiro tivesse necessidade de estabelecer o conflito logo de cara para rapidamente começar a explorar como Jodie lida com seu destino divino, enfrentando seus desafios pessoais e as forças obscuras que o rodeiam, enquanto tenta compreender e aceitar sua missão. Eu diria, inclusive, que o conceito estético escolhido pelo diretor pouco ajuda nesse momento, já que a montagem é extremamente fragmentada, o aspecto de tela é um pouco desconfortável em seu "antigo" 4:3 e a imagem é bastante granulada. No entanto, ao entender que esse conceito está 100% alinhado com aquele universo onde a história acontece em seu tempo, espaço e assunto, tudo muda -  e aí passamos a achar tudo aquilo bem envolvente e imersivo.

A jornada pessoal de Jodie é o coração de "O Eleito" e quando entendemos que suas dúvidas, medos e anseios diante da revelação de sua identidade divina são muito mais profundos do que uma trama infanto-juvenil com toques de sobrenatural, nos conectamos com a série e passamos a nos surpreender com as soluções propostas pelo roteiro. Os relacionamentos complexos entre os personagens que inicialmente soavam superficiais, se transformam em reflexões relevantes: suas lutas internas (e cada um tem a sua) ao lado da necessidade constante dos discursos religiosos de definir o que é do bem e o que é do mal, evocam uma gama de emoções, que vão desde a empatia por alguns personagens até uma tensão improvável pelas ações de outros. Reparem como a  paleta de cores, o desenho de produção e arte, além da iluminação e da trilha sonora, são capazes de refletir os aspectos espirituais e terrenos da história com a mesma propriedade. 

"O Eleito" é muito feliz em trazer para tela temas universais como identidade, fé e destino - temas esses que naturalmente nos provocam algumas reflexões sobre nossas próprias crenças e escolhas. Agora, o ponto alto dessa premissa, sem dúvida, está em projetar o "e se" de fato algo parecido acontecesse na vida real? Ao explorar com muita habilidade "o sagrado" e "o profano" na jornada de um adolescente com um destino extraordinário, a série oferece uma experiência que desafia, inspira e nos mantém ansiosos por mais episódios - e que as próximas temporadas tragam ainda mais respostas, porque o gancho do final é simplesmente excelente!

Vale seu play!

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"O Eleito" pode te surpreender, mas será preciso embarcar na proposta de seu criador Mark Millar e ter alguma paciência já que a série de 6 episódios da Netflix começa a engrenar mesmo, lá pelo terceiro episódio. Muito bem dirigida pelo Everardo Gout (de "Caleidoscópio"), essa produção americana falada em espanhol, se aproveita da premissa do ótimo (e até hoje lembrado pelo seu cancelamento prematuro) "Messiah", para discutir o comportamento humano a partir de dogmas religiosos, nos dias de hoje, pela perspectiva de 5 jovens que moram em uma cidadezinha no México em 1999. Além da dinâmica "Stranger Things"da narrativa, é muito importante ressaltar a profundidade que a história vai ganhando ao discutir temas como a idolatria e a megalomania do "todo" perante a jornada mais íntima e, claro, repleta de imperfeições do "indivíduo".

Na trama acompanhamos a história de Jodie (Bobby Luhnow), um jovem de 12 anos que passa a suspeitar ser a reencarnação de Jesus Cristo. Capaz de fazer uma pessoa voltar a andar, transformar água em vinho e até mesmo ressuscitar os mortos, ele precisa aprender a lidar com seu destino durante a fase das maiores descobertas da vida, a adolescência.. Entre a ideia de ser alguém especial ou um garoto que quer apenas se divertir com os amigos, cabe a Jodie decidir se vai ou não atender esse "chamado divino". Confira o trailer:

De fato, a série derrapa um pouco na sua contextualização. Os primeiros episódios soam infantis e desconexos - como se o roteiro tivesse necessidade de estabelecer o conflito logo de cara para rapidamente começar a explorar como Jodie lida com seu destino divino, enfrentando seus desafios pessoais e as forças obscuras que o rodeiam, enquanto tenta compreender e aceitar sua missão. Eu diria, inclusive, que o conceito estético escolhido pelo diretor pouco ajuda nesse momento, já que a montagem é extremamente fragmentada, o aspecto de tela é um pouco desconfortável em seu "antigo" 4:3 e a imagem é bastante granulada. No entanto, ao entender que esse conceito está 100% alinhado com aquele universo onde a história acontece em seu tempo, espaço e assunto, tudo muda -  e aí passamos a achar tudo aquilo bem envolvente e imersivo.

A jornada pessoal de Jodie é o coração de "O Eleito" e quando entendemos que suas dúvidas, medos e anseios diante da revelação de sua identidade divina são muito mais profundos do que uma trama infanto-juvenil com toques de sobrenatural, nos conectamos com a série e passamos a nos surpreender com as soluções propostas pelo roteiro. Os relacionamentos complexos entre os personagens que inicialmente soavam superficiais, se transformam em reflexões relevantes: suas lutas internas (e cada um tem a sua) ao lado da necessidade constante dos discursos religiosos de definir o que é do bem e o que é do mal, evocam uma gama de emoções, que vão desde a empatia por alguns personagens até uma tensão improvável pelas ações de outros. Reparem como a  paleta de cores, o desenho de produção e arte, além da iluminação e da trilha sonora, são capazes de refletir os aspectos espirituais e terrenos da história com a mesma propriedade. 

"O Eleito" é muito feliz em trazer para tela temas universais como identidade, fé e destino - temas esses que naturalmente nos provocam algumas reflexões sobre nossas próprias crenças e escolhas. Agora, o ponto alto dessa premissa, sem dúvida, está em projetar o "e se" de fato algo parecido acontecesse na vida real? Ao explorar com muita habilidade "o sagrado" e "o profano" na jornada de um adolescente com um destino extraordinário, a série oferece uma experiência que desafia, inspira e nos mantém ansiosos por mais episódios - e que as próximas temporadas tragam ainda mais respostas, porque o gancho do final é simplesmente excelente!

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O Escândalo

Antes de mais nada é preciso dizer que "O Escândalo" é um filme difícil de digerir - é preciso ter estômago e, certamente, vai tocar mais em algumas pessoas do que em outras, mas posso garantir: é um grande filme! Ele é baseado na história real sobre as denúncias de assédio sexual contra o então presidente e fundador da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow).

A história é contada pelo ponto de vista de três personagens-chaves: Megyn Kelly (Charlize Theron), Gretchen Carlson (Nicole Kidman) - âncoras do canal; e Kayla Pospisil (Margot Robbie) uma produtora, personagem criada para o filme, que representa (e até com um certo estereótipo) várias outras funcionárias da emissora que também sofreram algum tipo de assédio de Ailes. O fato é que tudo caminhava bem até que Gretchen Carlson, cansada dos seguidos ataques de assédio moral, resolve forçar sua demissão para iniciar um processo contra as várias investidas que sofreu de Roger Ailes no passado. Embora fosse um tiro no escuro, afinal Roger Ailes sempre foi um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos, várias mulheres começam a se pronunciar contra o executivo, fortalecendo a iniciativa de Gretchen - mas faltava alguém de dentro da Fox News para dar o "tiro de misericórdia" e é aí que o Megyn Kelly e Kayla Pospisil ganham força no drama e o filme deslancha! 

O ponto forte do filme está no elenco: Charlize Theron é uma grande atriz e está perfeita como Megyn Kelly - é impressionante como as duas estão parecidas, o que só fortalece a chance de "O Escândalo" ganhar o Oscar na categoria "Cabelo/Maquiagem". Margot Robbie também está impecável e por mais que possa parecer que ela é a personificação do estereótipo da mulher bonita/ingênua/oportunista, seu trabalho vai muito além: ela transita por cada uma dessas características de uma forma muito introspectiva, causando uma enorme confusão na sua cabeça, porém quando tudo começa a fazer sentido, seus olhos falam mais do que qualquer diálogo que o roteirista pudesse ter escrito para explicar o que passa com uma mulher assediada daquela forma - é lindo de ver! Nicole Kidman também está incrível, mas o pouco tempo de tela prejudicou sua caminha até o Oscar - se a dúvida ficou entre ela e Margot Robbie, ficaria impossível tirar a chance da segunda! John Lithgow também está ótimo como Roger Ailes - um pecado ele não ter tido a chance de disputar os maiores prêmios da temporada. Merecia!

O roteiro do Charles Randolph (vencedor do Oscar por "A Grande Aposta") é bom, mas pode parecer confuso para quem não conhece dos bastidores da politica americana. Embora o prólogo nos ajude entender a dinâmica sócio-politica da Fox News, as quebras narrativas da linha temporal dificultam o entendimento logo de cara. Além disso, o roteiro trás alguns elementos sem a menor conceitualização dramática: a quebra da quarta parede e a exposição do pensamento funcionam bem, mas são usadas poucas vezes, parecendo ser muito mais uma solução pontual do que uma característica marcante da escrita! A direção do Jay Roach é ótima, embora tenha lido muitas críticas sobre suas escolhas - disseram, inclusive, que ele copiou o estilo de Adam McKay depois dos sucessos de "Vice"e a "Grande Aposta". Outro elemento que incomodou alguns críticos foi o tom que ele imprimiu no filme, parecendo menos preocupado com a seriedade das denúncias e mais em justificar as atitudes erradas de Ailes - a cena onde Kayla Pospisil vai até a sala de Roger Ailes pela primeira vez é o exemplo que justifica essa tese. Eu discordo!

"O Escândalo" foi indicado em 3 categorias do Oscar 2020 e, sinceramente, "Cabelo/Maquiagem" é sua única chance real. Margot Robbie e Charlize Theron, embora com excelentes performances, não tem chance pelo nível das concorrentes diretas pelo prêmio, porém isso não diminui em nada a qualidade e a importância delas no filme. "O Escândalo" funciona como entretenimento, mas é muito mais valoroso pela exposição de uma história que perecia ser tão usual nos corredores da Fox News e de vários outras lugares onde o poder parece estar acima de tudo! 

Up-date: "O Escândalo" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Cabelo e Maquiagem!

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Antes de mais nada é preciso dizer que "O Escândalo" é um filme difícil de digerir - é preciso ter estômago e, certamente, vai tocar mais em algumas pessoas do que em outras, mas posso garantir: é um grande filme! Ele é baseado na história real sobre as denúncias de assédio sexual contra o então presidente e fundador da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow).

A história é contada pelo ponto de vista de três personagens-chaves: Megyn Kelly (Charlize Theron), Gretchen Carlson (Nicole Kidman) - âncoras do canal; e Kayla Pospisil (Margot Robbie) uma produtora, personagem criada para o filme, que representa (e até com um certo estereótipo) várias outras funcionárias da emissora que também sofreram algum tipo de assédio de Ailes. O fato é que tudo caminhava bem até que Gretchen Carlson, cansada dos seguidos ataques de assédio moral, resolve forçar sua demissão para iniciar um processo contra as várias investidas que sofreu de Roger Ailes no passado. Embora fosse um tiro no escuro, afinal Roger Ailes sempre foi um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos, várias mulheres começam a se pronunciar contra o executivo, fortalecendo a iniciativa de Gretchen - mas faltava alguém de dentro da Fox News para dar o "tiro de misericórdia" e é aí que o Megyn Kelly e Kayla Pospisil ganham força no drama e o filme deslancha! 

O ponto forte do filme está no elenco: Charlize Theron é uma grande atriz e está perfeita como Megyn Kelly - é impressionante como as duas estão parecidas, o que só fortalece a chance de "O Escândalo" ganhar o Oscar na categoria "Cabelo/Maquiagem". Margot Robbie também está impecável e por mais que possa parecer que ela é a personificação do estereótipo da mulher bonita/ingênua/oportunista, seu trabalho vai muito além: ela transita por cada uma dessas características de uma forma muito introspectiva, causando uma enorme confusão na sua cabeça, porém quando tudo começa a fazer sentido, seus olhos falam mais do que qualquer diálogo que o roteirista pudesse ter escrito para explicar o que passa com uma mulher assediada daquela forma - é lindo de ver! Nicole Kidman também está incrível, mas o pouco tempo de tela prejudicou sua caminha até o Oscar - se a dúvida ficou entre ela e Margot Robbie, ficaria impossível tirar a chance da segunda! John Lithgow também está ótimo como Roger Ailes - um pecado ele não ter tido a chance de disputar os maiores prêmios da temporada. Merecia!

O roteiro do Charles Randolph (vencedor do Oscar por "A Grande Aposta") é bom, mas pode parecer confuso para quem não conhece dos bastidores da politica americana. Embora o prólogo nos ajude entender a dinâmica sócio-politica da Fox News, as quebras narrativas da linha temporal dificultam o entendimento logo de cara. Além disso, o roteiro trás alguns elementos sem a menor conceitualização dramática: a quebra da quarta parede e a exposição do pensamento funcionam bem, mas são usadas poucas vezes, parecendo ser muito mais uma solução pontual do que uma característica marcante da escrita! A direção do Jay Roach é ótima, embora tenha lido muitas críticas sobre suas escolhas - disseram, inclusive, que ele copiou o estilo de Adam McKay depois dos sucessos de "Vice"e a "Grande Aposta". Outro elemento que incomodou alguns críticos foi o tom que ele imprimiu no filme, parecendo menos preocupado com a seriedade das denúncias e mais em justificar as atitudes erradas de Ailes - a cena onde Kayla Pospisil vai até a sala de Roger Ailes pela primeira vez é o exemplo que justifica essa tese. Eu discordo!

"O Escândalo" foi indicado em 3 categorias do Oscar 2020 e, sinceramente, "Cabelo/Maquiagem" é sua única chance real. Margot Robbie e Charlize Theron, embora com excelentes performances, não tem chance pelo nível das concorrentes diretas pelo prêmio, porém isso não diminui em nada a qualidade e a importância delas no filme. "O Escândalo" funciona como entretenimento, mas é muito mais valoroso pela exposição de uma história que perecia ser tão usual nos corredores da Fox News e de vários outras lugares onde o poder parece estar acima de tudo! 

Up-date: "O Escândalo" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Cabelo e Maquiagem!

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O Farol das Orcas

Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!

O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):

Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola. 

Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.

É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.

Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!

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Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!

O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):

Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola. 

Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.

É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.

Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!

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O Homem do Norte

"O Homem do Norte" é impressionante visualmente, embora sua narrativa seja um pouco apressada - principalmente no prólogo. E aí, meu amigo, a culpa é do formato de longa-metragem que não permite um cuidado maior na hora de construir uma história repleta de simbolismos que impactam diretamente em inúmeras camadas da personalidade de cada personagem. Em “The Northman” (no original) é possível encontrar todo o talento e a identidade de Robert Eggers, cineasta responsável pelo “A Bruxa” e pelo surreal "O Farol", em uma atmosfera que equilibra perfeitamente fortes elementos teatrais shakespeareanos, ao melhor estilo “A Tragédia de Hamlet”, com épicos de ação, guerra e traição, daqueles grandiosos, como "300" e até "Game of Thrones".

O filme acompanha a história do Príncipe Amleth (Alexander Skarsgard), cuja missão de vida, assim profetizada, é vingar a morte do seu pai, o Rei Aurvandil (Ethan Hawke), que foi covardemente assassinado pelas mãos de seu tio bastardo, Fjölnir (Claes Bang), e assim salvar a sua mãe, a Rainha Gudrún (Nicole Kidman). Vamos ao trailer:

Esse é o primeiro grande filme (em orçamento) de Eggers, um diretor que ganhou notoriedade pela forma como transitou no cinema independente com projetos de gênero (no caso dramas, com fortes referências de terror e suspense psicológico) que fizeram muito sucesso entre os críticos e o público. Aqui, o diretor busca nos contos nórdicos da mitologia viking, um história sangrenta sobre vingança. Aliás, vale dizer que foi Shakespeare quem revisitou a história do Príncipe Amleth e a adaptou aos moldes da sociedade inglesa e não o contrário. Veja, Eggers não reproduz com fidelidade o conto escrito pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus, que viveu entre os séculos XII e XIII., já que seu Amleth foi, propositalmente, apenas um recorte de uma saga fantástica muito maior, a "Gesta Danorum" - conhecida como a mais importante história medieval da Dinamarca.

Cinematograficamente falando, "O Homem do Norte" chama atenção por alguns elementos que não me surpreenderei se forem lembrados no próximo Oscar. O primeiro, sem dúvida, é a belíssima fotografia do seu parceiro de longa data, Jarin Blaschke - é incrível como Blaschke vai pontuando cada um dos capítulos do filme com cores e enquadramentos que são facilmente percebidos pelo tom dramático da evolução da história. Além de criativo, os planos são perfeitos tecnicamente. O outro ponto que merece nosso aplauso é a trilha sonora - fantástica! Os estreantes Robin Carolan e Sebastian Gainsborough dão um show! E para finalizar, o desenho de produção e o departamento de arte, puxa, impecáveis - reparem como os rituais (que vimos muito na série "Vikings") se integram perfeitamente no cotidiano e nos costumes daquele povo, com o roteiro que respeita a simbologia mitológica da história. A cena em que Björk revela ao Príncipe Amleth sua profecia, talvez seja o maior exemplo disso!

Com elenco afinado e muito bem inseridos na proposta conceitual do diretor, “O Homem do Norte” é um impressionante e verdadeiro espectáculo visual, rico em toda sua essência como obra cinematográfica e honesto com o estilo já estabelecido de Robert Eggers - talvez a única concessão do diretor tenha sido no idioma do filme, que para Eggers faria mais sentido se fosse falado só em nórdico antigo. Em todo caso, você pode esperar uma jornada sangrenta, brutal e empolgante; eu diria que é uma verdadeira viagem no tempo de um trabalho orientado pelos detalhes e pela precisão técnica e artística, mas sem esquecer daquele tempero independente de uma narrativa autoral.

Vale muito a pena!

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"O Homem do Norte" é impressionante visualmente, embora sua narrativa seja um pouco apressada - principalmente no prólogo. E aí, meu amigo, a culpa é do formato de longa-metragem que não permite um cuidado maior na hora de construir uma história repleta de simbolismos que impactam diretamente em inúmeras camadas da personalidade de cada personagem. Em “The Northman” (no original) é possível encontrar todo o talento e a identidade de Robert Eggers, cineasta responsável pelo “A Bruxa” e pelo surreal "O Farol", em uma atmosfera que equilibra perfeitamente fortes elementos teatrais shakespeareanos, ao melhor estilo “A Tragédia de Hamlet”, com épicos de ação, guerra e traição, daqueles grandiosos, como "300" e até "Game of Thrones".

O filme acompanha a história do Príncipe Amleth (Alexander Skarsgard), cuja missão de vida, assim profetizada, é vingar a morte do seu pai, o Rei Aurvandil (Ethan Hawke), que foi covardemente assassinado pelas mãos de seu tio bastardo, Fjölnir (Claes Bang), e assim salvar a sua mãe, a Rainha Gudrún (Nicole Kidman). Vamos ao trailer:

Esse é o primeiro grande filme (em orçamento) de Eggers, um diretor que ganhou notoriedade pela forma como transitou no cinema independente com projetos de gênero (no caso dramas, com fortes referências de terror e suspense psicológico) que fizeram muito sucesso entre os críticos e o público. Aqui, o diretor busca nos contos nórdicos da mitologia viking, um história sangrenta sobre vingança. Aliás, vale dizer que foi Shakespeare quem revisitou a história do Príncipe Amleth e a adaptou aos moldes da sociedade inglesa e não o contrário. Veja, Eggers não reproduz com fidelidade o conto escrito pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus, que viveu entre os séculos XII e XIII., já que seu Amleth foi, propositalmente, apenas um recorte de uma saga fantástica muito maior, a "Gesta Danorum" - conhecida como a mais importante história medieval da Dinamarca.

Cinematograficamente falando, "O Homem do Norte" chama atenção por alguns elementos que não me surpreenderei se forem lembrados no próximo Oscar. O primeiro, sem dúvida, é a belíssima fotografia do seu parceiro de longa data, Jarin Blaschke - é incrível como Blaschke vai pontuando cada um dos capítulos do filme com cores e enquadramentos que são facilmente percebidos pelo tom dramático da evolução da história. Além de criativo, os planos são perfeitos tecnicamente. O outro ponto que merece nosso aplauso é a trilha sonora - fantástica! Os estreantes Robin Carolan e Sebastian Gainsborough dão um show! E para finalizar, o desenho de produção e o departamento de arte, puxa, impecáveis - reparem como os rituais (que vimos muito na série "Vikings") se integram perfeitamente no cotidiano e nos costumes daquele povo, com o roteiro que respeita a simbologia mitológica da história. A cena em que Björk revela ao Príncipe Amleth sua profecia, talvez seja o maior exemplo disso!

Com elenco afinado e muito bem inseridos na proposta conceitual do diretor, “O Homem do Norte” é um impressionante e verdadeiro espectáculo visual, rico em toda sua essência como obra cinematográfica e honesto com o estilo já estabelecido de Robert Eggers - talvez a única concessão do diretor tenha sido no idioma do filme, que para Eggers faria mais sentido se fosse falado só em nórdico antigo. Em todo caso, você pode esperar uma jornada sangrenta, brutal e empolgante; eu diria que é uma verdadeira viagem no tempo de um trabalho orientado pelos detalhes e pela precisão técnica e artística, mas sem esquecer daquele tempero independente de uma narrativa autoral.

Vale muito a pena!

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O Homem Duplicado

"Enemy" (título original) é simplesmente sensacional, mas já aviso: é uma loucura, daqueles de dar nó na cabeça ao melhor estilo Nolan - e por isso pode decepcionar quem busca algo mais, digamos, tradicional! 

O filme narra a história de Adam Bell (Jake Gyllenhaal), professor universitário preso a uma monótona rotina diária, que descobre um sósia famoso enquanto assiste a um filme. Intrigado, ele passa a seguir este homem, transformando a vida de ambos em uma loucura. Baseado no livro "O Homem Duplicado" de José Saramago, o filme vai te provocar e fazer com que você busque muitas respostas fora do filme - sim, esse é daqueles que nos faz pensar, discutir, pesquisar por horas!

A força de "O Homem Duplicado" reside justamente em sua habilidade de criar uma atmosfera de tensão e paranoia, alimentada pela atuação magistral de Gyllenhaal. Sua interpretação de dois personagens aparentemente idênticos, mas com nuances distintas, é verdadeiramente impressionante e cativante. Villeneuve, conhecido por sua habilidade em construir tramas cheias de suspense, utiliza cenários sombrios e uma trilha sonora inquietante para mergulhar a audiência na mente perturbada de Adam.

O roteiro de Javier Gullón (de "Invasor") é de uma complexidade e profundidade absurdos. Ao explorar temas como identidade, alienação e desejo, o filme desafia as nossas expectativas a cada nova descoberta e nos convida à reflexão sobre a natureza da realidade e da individualidade sem pedir permissão. A escolha de Villeneuve em manter o mistério e a ambiguidade ao longo da narrativa eleva o filme a um nível absurdo de excelência artística, deixando espaço para interpretações diversas e debates profundos após os créditos.

Além da performance estelar de Gyllenhaal, o elenco de apoio também merece destaque, com atuações sólidas de Mélanie Laurent, Sarah Gadon e Isabella Rossellini. Cada personagem adiciona uma camada adicional à complexidade da trama, contribuindo para a riqueza emocional e intelectual do filme. Dito isso, recomendar "O Homem Duplicado" acaba se tornando fácil, já que é considerada por muitos uma obra-prima do cinema moderno, que combina uma narrativa envolvente, performances excepcionais e uma profundidade temática incomparável. 

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"Enemy" (título original) é simplesmente sensacional, mas já aviso: é uma loucura, daqueles de dar nó na cabeça ao melhor estilo Nolan - e por isso pode decepcionar quem busca algo mais, digamos, tradicional! 

O filme narra a história de Adam Bell (Jake Gyllenhaal), professor universitário preso a uma monótona rotina diária, que descobre um sósia famoso enquanto assiste a um filme. Intrigado, ele passa a seguir este homem, transformando a vida de ambos em uma loucura. Baseado no livro "O Homem Duplicado" de José Saramago, o filme vai te provocar e fazer com que você busque muitas respostas fora do filme - sim, esse é daqueles que nos faz pensar, discutir, pesquisar por horas!

A força de "O Homem Duplicado" reside justamente em sua habilidade de criar uma atmosfera de tensão e paranoia, alimentada pela atuação magistral de Gyllenhaal. Sua interpretação de dois personagens aparentemente idênticos, mas com nuances distintas, é verdadeiramente impressionante e cativante. Villeneuve, conhecido por sua habilidade em construir tramas cheias de suspense, utiliza cenários sombrios e uma trilha sonora inquietante para mergulhar a audiência na mente perturbada de Adam.

O roteiro de Javier Gullón (de "Invasor") é de uma complexidade e profundidade absurdos. Ao explorar temas como identidade, alienação e desejo, o filme desafia as nossas expectativas a cada nova descoberta e nos convida à reflexão sobre a natureza da realidade e da individualidade sem pedir permissão. A escolha de Villeneuve em manter o mistério e a ambiguidade ao longo da narrativa eleva o filme a um nível absurdo de excelência artística, deixando espaço para interpretações diversas e debates profundos após os créditos.

Além da performance estelar de Gyllenhaal, o elenco de apoio também merece destaque, com atuações sólidas de Mélanie Laurent, Sarah Gadon e Isabella Rossellini. Cada personagem adiciona uma camada adicional à complexidade da trama, contribuindo para a riqueza emocional e intelectual do filme. Dito isso, recomendar "O Homem Duplicado" acaba se tornando fácil, já que é considerada por muitos uma obra-prima do cinema moderno, que combina uma narrativa envolvente, performances excepcionais e uma profundidade temática incomparável. 

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O Labirinto

"O Labirinto" é mais um daqueles filmes "ame ou odeie", bem na linha do espanhol "O Poço". Essa produção italiana que tem Dustin Hoffman (falando em inglês) no elenco, é bem peculiar - tanto na forma quanto no seu conteúdo, ou seja, é possível amar a história, mas odiar a estética e vice-versa. O fato é que essa adaptação da obra homônima do aclamado escritor italiano Donato Carrisi (que também dirige o filme) é um suspense psicológico com elementos que remetem ao drama policial e que tenta, de várias maneiras, revitalizar o estilo noir trazendo para os dias de hoje, toda aquela experiência do exagero visual e da narrativa pontuada por uma trilha sonora igualmente marcante.

Na história, Samantha (Valentina Bellè) está no hospital, em estado de choque, quinze anos depois de ser raptada a caminho da escola. Ao lado dela, Dr. Green (Dustin Hoffman) busca resgatar suas memórias para tentar encontrar o criminoso que a manteve em cativeiro por tanto tempo. É nesse processo que Green descobre o labirinto - uma prisão subterrânea, aparentemente sem saída, onde a jovem era obrigada a resolver alguns enigmas em troca de recompensas por seus sucessos (ou sendo punida por seus fracassos). Paralelo a isso, Bruno Genko (Toni Servillo), um investigador particular de talento excepcional, também está ansioso para resolver o mistério já que não tem muito tempo de vida e ainda guarda uma relação de dívida com os pais de Samantha que o contrataram na época do sequestro. Confira o trailer:

Partindo do principio que dois protagonistas (um italiano e um americano) buscam encontrar o mesmo criminoso, mas usando de métodos e estilos distintos, a sensação de urgência e dúvida nos fisga logo de cara. A pergunta sobre qual deles conseguirá chegar até a verdade primeiro, nos guia por duas linhas narrativas distintas que, é preciso que se diga, deve ter funcionado muito melhor no livro do que no filme - e aqui cabe um comentário pertinente: muito dessa falta de conexão entre o propósito e os personagens é culpa do diretor que não teve (e não tem) a capacidade de construir uma jornada inesquecível a partir de uma história ótima, por simplesmente não dominar a gramática cinematográfica do suspense policial. Para mim a forma é falha, o conteúdo não - para você a inverso pode ser verdadeiro e tudo bem, será uma questão de gosto.

É de se ressaltar que essa é uma adaptação das mais difíceis, já que os elementos narrativos pedem uma atmosfera repleta de cenários abstratos para trazer uma forte sensação de terror psicológico com base em ambientes apavorantes - daqueles que nunca sabemos se é real ou produto da imaginação dos personagens. Essa mistura entre o pesadelo juvenil e o cabaréhardcore, mesmo em sua complexidade, funciona em vários momentos e entrega a sustentação para uma trama cheia de peças e informações espalhadas e que, a todo momento, nos convida a participar de uma investigação interessante - sempre esperando aqueles plots twistsmatadores.

Veja, como todo filme "ame ou odeie", se você se permitir mergulhar no exagero estético que comentamos, abstrair o senso de realidade e ainda se permitir embarcar na proposta do diretor, é muito provável que você vai se divertir (e muito) com "L'uomo del Labirinto" (no original). Agora, se você procura uma história mais palpável, com um realismo narrativo e estético mais conservador, esse filme definitivamente não vai te agradar. 

Na linha de Harlan Coben (de "Não Fale com Estranhos") ou dos games de investigação como "Black Dahlia", vale a pena experimentar!

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"O Labirinto" é mais um daqueles filmes "ame ou odeie", bem na linha do espanhol "O Poço". Essa produção italiana que tem Dustin Hoffman (falando em inglês) no elenco, é bem peculiar - tanto na forma quanto no seu conteúdo, ou seja, é possível amar a história, mas odiar a estética e vice-versa. O fato é que essa adaptação da obra homônima do aclamado escritor italiano Donato Carrisi (que também dirige o filme) é um suspense psicológico com elementos que remetem ao drama policial e que tenta, de várias maneiras, revitalizar o estilo noir trazendo para os dias de hoje, toda aquela experiência do exagero visual e da narrativa pontuada por uma trilha sonora igualmente marcante.

Na história, Samantha (Valentina Bellè) está no hospital, em estado de choque, quinze anos depois de ser raptada a caminho da escola. Ao lado dela, Dr. Green (Dustin Hoffman) busca resgatar suas memórias para tentar encontrar o criminoso que a manteve em cativeiro por tanto tempo. É nesse processo que Green descobre o labirinto - uma prisão subterrânea, aparentemente sem saída, onde a jovem era obrigada a resolver alguns enigmas em troca de recompensas por seus sucessos (ou sendo punida por seus fracassos). Paralelo a isso, Bruno Genko (Toni Servillo), um investigador particular de talento excepcional, também está ansioso para resolver o mistério já que não tem muito tempo de vida e ainda guarda uma relação de dívida com os pais de Samantha que o contrataram na época do sequestro. Confira o trailer:

Partindo do principio que dois protagonistas (um italiano e um americano) buscam encontrar o mesmo criminoso, mas usando de métodos e estilos distintos, a sensação de urgência e dúvida nos fisga logo de cara. A pergunta sobre qual deles conseguirá chegar até a verdade primeiro, nos guia por duas linhas narrativas distintas que, é preciso que se diga, deve ter funcionado muito melhor no livro do que no filme - e aqui cabe um comentário pertinente: muito dessa falta de conexão entre o propósito e os personagens é culpa do diretor que não teve (e não tem) a capacidade de construir uma jornada inesquecível a partir de uma história ótima, por simplesmente não dominar a gramática cinematográfica do suspense policial. Para mim a forma é falha, o conteúdo não - para você a inverso pode ser verdadeiro e tudo bem, será uma questão de gosto.

É de se ressaltar que essa é uma adaptação das mais difíceis, já que os elementos narrativos pedem uma atmosfera repleta de cenários abstratos para trazer uma forte sensação de terror psicológico com base em ambientes apavorantes - daqueles que nunca sabemos se é real ou produto da imaginação dos personagens. Essa mistura entre o pesadelo juvenil e o cabaréhardcore, mesmo em sua complexidade, funciona em vários momentos e entrega a sustentação para uma trama cheia de peças e informações espalhadas e que, a todo momento, nos convida a participar de uma investigação interessante - sempre esperando aqueles plots twistsmatadores.

Veja, como todo filme "ame ou odeie", se você se permitir mergulhar no exagero estético que comentamos, abstrair o senso de realidade e ainda se permitir embarcar na proposta do diretor, é muito provável que você vai se divertir (e muito) com "L'uomo del Labirinto" (no original). Agora, se você procura uma história mais palpável, com um realismo narrativo e estético mais conservador, esse filme definitivamente não vai te agradar. 

Na linha de Harlan Coben (de "Não Fale com Estranhos") ou dos games de investigação como "Black Dahlia", vale a pena experimentar!

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O Labirinto de Mentiras

"O Labirinto de Mentiras" não é um filme fácil - em sua "forma" e muito menos em seu "conteúdo". Trazer os fantasmas do passado nazista pelos olhos de um povo que teve sua história (e essência) manchada durante o período da segunda guerra mundial, não é uma tarefa muito confortável. O diretor italiano Giulio Ricciarelli estreia em um longa-metragem "pisando em ovos" justamente por isso, embora consiga entregar um filme honesto em sua proposta e dolorido por sua veracidade - aliás, foi esse o filme que disputou uma vaga no Oscar 2014 pela Alemanha.

Em 1958, na Alemanha, o jovem procurador Johann Radmann (Alexander Fehling) investiga casos relacionados aos crimes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e descobre diversos fatos capazes de incriminar pessoas que passaram a levar uma vida comum, na impunidade. Mesmo sofrendo grande pressão para abandonar a investigação, Radmann se mantém determinado a revelar todas as atrocidades cometidas por seus compatriotas, principalmente em Auschwitz, na Polônia. Confira o trailer:

Bem na linha do elogiado "O Caso Collini""O Labirinto de Mentiras" constrói uma trama bastante linear e coerente com os fatos reais, porém (é preciso que se diga) se perde com algumas distrações que acabam funcionando muito mais como um alivio narrativo do que como impulso para a história caminhar - é o caso da relação amorosa entre Radmann e Marlene Wondrak (Friederike Becht). Existem pontos que justificariam esse arco, porém é pouco aproveitado pelo roteiro; dando muito mais um tom hollywoodiano para a produção do que a camada dramática que a história merecia.

Deixo claro que esse deslize não prejudica nossa experiência, mas impacta no andamento do filme. A impressão é que o terceiro ato é muito mais acelerado do que os dois primeiros, por outro lado o encaixe de algumas peças tornam a história ainda mais envolvente - as insinuações são tão verdadeiras quanto a obsessão de Radmann por Josef Mengele, médico alemão conhecido como "Anjo da Morte" que fazia experiências em crianças nos campos de concentração. Por outro lado, alguns temas que são pincelados no roteiro como a relação da sociedade alemã perante o nazismo, parecem se perder conforme o protagonista vai mergulhando naquele labirinto de investigação e descobertas - muito provavelmente essa escolha conceitual tenha sido até proposital, mas é impossível deixar de lado a sensação de vazio e confusão que o filme nos provoca. 

"O Labirinto de Mentiras" tem uma história muito interessante para quem gosta de discutir os reflexos do nazismo na Alemanha pós-guerra. Com alguns momentos bem dramáticos, o filme foge do entretenimento usual e mergulha em um assunto espinhoso (e importante) com uma linguagem que mistura o tradicional com o independente - nesse sentido eu achei a proposta do filme excelente. Ricciarelli conduz uma narrativa quase documental ao mesmo tempo em que usa e abusa de clichês como a trilha sonora marcante (linda por sinal - bem ao estilo "Lee Miserables") para pontuar a emoção.

Ao explorar os dramas psicológicos de uma geração que vivia uma realidade sem ao menos saber qual a posição de seus pais perante todas aquelas atrocidades, "O Labirinto de Mentiras" se coloca como uma boa surpresa no catálogo do streaming. Vale o seu play!

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"O Labirinto de Mentiras" não é um filme fácil - em sua "forma" e muito menos em seu "conteúdo". Trazer os fantasmas do passado nazista pelos olhos de um povo que teve sua história (e essência) manchada durante o período da segunda guerra mundial, não é uma tarefa muito confortável. O diretor italiano Giulio Ricciarelli estreia em um longa-metragem "pisando em ovos" justamente por isso, embora consiga entregar um filme honesto em sua proposta e dolorido por sua veracidade - aliás, foi esse o filme que disputou uma vaga no Oscar 2014 pela Alemanha.

Em 1958, na Alemanha, o jovem procurador Johann Radmann (Alexander Fehling) investiga casos relacionados aos crimes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e descobre diversos fatos capazes de incriminar pessoas que passaram a levar uma vida comum, na impunidade. Mesmo sofrendo grande pressão para abandonar a investigação, Radmann se mantém determinado a revelar todas as atrocidades cometidas por seus compatriotas, principalmente em Auschwitz, na Polônia. Confira o trailer:

Bem na linha do elogiado "O Caso Collini""O Labirinto de Mentiras" constrói uma trama bastante linear e coerente com os fatos reais, porém (é preciso que se diga) se perde com algumas distrações que acabam funcionando muito mais como um alivio narrativo do que como impulso para a história caminhar - é o caso da relação amorosa entre Radmann e Marlene Wondrak (Friederike Becht). Existem pontos que justificariam esse arco, porém é pouco aproveitado pelo roteiro; dando muito mais um tom hollywoodiano para a produção do que a camada dramática que a história merecia.

Deixo claro que esse deslize não prejudica nossa experiência, mas impacta no andamento do filme. A impressão é que o terceiro ato é muito mais acelerado do que os dois primeiros, por outro lado o encaixe de algumas peças tornam a história ainda mais envolvente - as insinuações são tão verdadeiras quanto a obsessão de Radmann por Josef Mengele, médico alemão conhecido como "Anjo da Morte" que fazia experiências em crianças nos campos de concentração. Por outro lado, alguns temas que são pincelados no roteiro como a relação da sociedade alemã perante o nazismo, parecem se perder conforme o protagonista vai mergulhando naquele labirinto de investigação e descobertas - muito provavelmente essa escolha conceitual tenha sido até proposital, mas é impossível deixar de lado a sensação de vazio e confusão que o filme nos provoca. 

"O Labirinto de Mentiras" tem uma história muito interessante para quem gosta de discutir os reflexos do nazismo na Alemanha pós-guerra. Com alguns momentos bem dramáticos, o filme foge do entretenimento usual e mergulha em um assunto espinhoso (e importante) com uma linguagem que mistura o tradicional com o independente - nesse sentido eu achei a proposta do filme excelente. Ricciarelli conduz uma narrativa quase documental ao mesmo tempo em que usa e abusa de clichês como a trilha sonora marcante (linda por sinal - bem ao estilo "Lee Miserables") para pontuar a emoção.

Ao explorar os dramas psicológicos de uma geração que vivia uma realidade sem ao menos saber qual a posição de seus pais perante todas aquelas atrocidades, "O Labirinto de Mentiras" se coloca como uma boa surpresa no catálogo do streaming. Vale o seu play!

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