"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!
Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:
Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.
Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).
Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.
Vale seu play!
"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!
Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:
Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.
Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).
Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.
Vale seu play!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!
Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:
Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.
Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso - basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois: de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.
A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!
Vale muito seu play!
Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!
Confira o trailer:
Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!
É de se imaginar que no livro de Joan Didion, a história de "A última coisa que ele queria" avance com mais naturalidade e as peças do quebra-cabeça não sejam tão aleatórias, pois certamente existe uma coerência dramática na construção das motivações da protagonista. Nessa adaptação, o roteiro se perde com alguns elementos que para o filme não fazem o menor sentido. A relação de Elena McMahon com sua filha e a citação do seu câncer de mama criam o drama, mas não se justificam - experimente tirar todas essas cenas e reparem se faz (ou não) alguma diferença no resultado final! É claro que, com mais tempo, esses dramas seriam essenciais para a construção da personagem - mais ou menos como a bipolaridade e a tensão sexual serviam de gatilhos para Carrie Mathison (Claire Danes) em "Homeland". As relações estabelecidas com seu pai Dick (Willem Dafoe) e com o Treat Morrison (Ben Affleck) são superficiais, baseado em motivações sem questionamentos ou preocupações - Treat Morrison, por exemplo, parece o "Mestre do Magos": ele aparece (e some) em todos os lugares do planeta como em um passe de mágica!
Quando o filme começa com Elena McMahon cobrindo o conflito militar de El Salvador em 1982 e depois questionando o governo americano sobre uma possível relação com grupos milicianos da região, temos a impressão que tudo vai funcionar bem, porém quando o drama do seu pai é inserido na trama e uma série de personagens começam a surgir na história sem nenhuma explicação, ficamos apenas com a tensão que a personagem está vivendo por estar em um ambiente completamente inóspito, onde a chance de tudo acabar mal é muito grande - e aí temos o alivio dramático com o excelente trabalho de Hathaway. A direção consegue construir esse clima (tirando a última cena de Elena McMahon que foi pessimamente realizada), a fotografia do Bobby Bukowski não compromete (mas também não empolga), o desenho de produção é bem interessante na reconstrução dos anos 80 caribenho, mas o roteiro não acompanha - parece que faltaram cenas que contassem melhor a história! Embora o final tenha um certo valor, percebemos claramente um descompasso entre um primeiro ato interessante, um segundo ato fraco e um terceiro bem confuso e corrido.
"A última coisa que ele queria" deixa um gostinho de que poderia ser melhor - mas não nesse formato! Quem gosta de tramas politicas com aquele tempero investigativo vai se divertir mais do que aqueles que buscam apenas um bom entretenimento, mas ambos não vão terminar o filme com aquela sensação maravilhosa de ter assistido algo incrível!
"A última coisa que ele queria" chegou no catálogo da Netflix com algumas credenciais importantes: tinha no seu comando uma diretora extremamente competente, Dee Rees (de Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi); um elenco com nomes de muito peso como: Anne Hathaway, Ben Affleck e Willem Dafoe; e para finalizar, era baseado em um livro que, mesmo sem tanta projeção, parecia servir como uma excelente premissa para um ótimo filme de ação com elementos dramáticos, políticos, históricos e até jornalísticos - um pouco na linha de "Argo"!
Confira o trailer:
Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem problemas sérios de roteiro - são muitos detalhes (históricos, inclusive) que não dá tempo de desenvolver, explicar e até organizar dentro de um arco consistente: a história de uma repórter, Elena McMahon (Anne Hathaway), que investiga uma conspiração politica envolvendo contrabando de armas e que, por acaso, acaba se envolvendo nessas negociações em uma América Central marcada pela guerra miliciana; merecia, pelo menos, mais umas duas ou três horas! O filme não é ruim, mas eu tenho que admitir que esperava mais - talvez se fosse mesmo uma minissérie, teríamos um excelente entretenimento disponível, como é um filme, o resultado ficou apenas mediano!
É de se imaginar que no livro de Joan Didion, a história de "A última coisa que ele queria" avance com mais naturalidade e as peças do quebra-cabeça não sejam tão aleatórias, pois certamente existe uma coerência dramática na construção das motivações da protagonista. Nessa adaptação, o roteiro se perde com alguns elementos que para o filme não fazem o menor sentido. A relação de Elena McMahon com sua filha e a citação do seu câncer de mama criam o drama, mas não se justificam - experimente tirar todas essas cenas e reparem se faz (ou não) alguma diferença no resultado final! É claro que, com mais tempo, esses dramas seriam essenciais para a construção da personagem - mais ou menos como a bipolaridade e a tensão sexual serviam de gatilhos para Carrie Mathison (Claire Danes) em "Homeland". As relações estabelecidas com seu pai Dick (Willem Dafoe) e com o Treat Morrison (Ben Affleck) são superficiais, baseado em motivações sem questionamentos ou preocupações - Treat Morrison, por exemplo, parece o "Mestre do Magos": ele aparece (e some) em todos os lugares do planeta como em um passe de mágica!
Quando o filme começa com Elena McMahon cobrindo o conflito militar de El Salvador em 1982 e depois questionando o governo americano sobre uma possível relação com grupos milicianos da região, temos a impressão que tudo vai funcionar bem, porém quando o drama do seu pai é inserido na trama e uma série de personagens começam a surgir na história sem nenhuma explicação, ficamos apenas com a tensão que a personagem está vivendo por estar em um ambiente completamente inóspito, onde a chance de tudo acabar mal é muito grande - e aí temos o alivio dramático com o excelente trabalho de Hathaway. A direção consegue construir esse clima (tirando a última cena de Elena McMahon que foi pessimamente realizada), a fotografia do Bobby Bukowski não compromete (mas também não empolga), o desenho de produção é bem interessante na reconstrução dos anos 80 caribenho, mas o roteiro não acompanha - parece que faltaram cenas que contassem melhor a história! Embora o final tenha um certo valor, percebemos claramente um descompasso entre um primeiro ato interessante, um segundo ato fraco e um terceiro bem confuso e corrido.
"A última coisa que ele queria" deixa um gostinho de que poderia ser melhor - mas não nesse formato! Quem gosta de tramas politicas com aquele tempero investigativo vai se divertir mais do que aqueles que buscam apenas um bom entretenimento, mas ambos não vão terminar o filme com aquela sensação maravilhosa de ter assistido algo incrível!
"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união.
O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim
Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).
"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!
A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!
"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!
Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!
"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união.
O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim
Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).
"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!
A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!
"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!
Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!
Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.
Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.
A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.
Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.
Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.
A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.
Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.
"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):
Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.
Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.
"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!
Imperdível!
"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.
"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):
Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.
Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.
"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!
Imperdível!
"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.
Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York City) de Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!
O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade.
Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).
"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!
"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.
Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York City) de Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!
O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade.
Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).
"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!
"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!
Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:
Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!
Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!
O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!
Vale muito seu play!
Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!
"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!
Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:
Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!
Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!
O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!
Vale muito seu play!
Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!
Do mesmo diretor de "Joy: O Nome do Sucesso"e "Trapaça", o premiadíssimo David O. Russell, "Amsterdam" fatalmente vai entrar naquela prateleira do "ame ou odeie" - a própria bilheteria do filme provou essa tese. Bem na linha de Wes Anderson (de "O Grande Hotel Budapeste" e "A Crônica Francesa") com um leve toque de "Entre Facas e Segredos" a história tranquilamente poderia ter sido tirada da obra de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, porém (e aí que está a divisão do público) com uma narração mais cadenciada, muitas vezes até cansativa, onde os detalhes estéticos se sobrepõem à trama (que curiosamente foi baseada em fatos reais) - é como se estivéssemos lendo um livro do Jô Soares (O Xangô de Baker Street ) que era cheio de descrições contextuais, mas ainda assim com uma história com certa criatividade.
"Amsterdam" acompanha a jornada de três amigos que se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial. Eles são Burt Berendsen (Christian Bale), um médico que perdeu o olho em combate; seu amigo advogado Harold Woodman (John David Washington); e uma excêntrica artista/enfermeira Valerie Voze (Margot Robbie). Após retornarem do campo de batalha, o trio passa um período se divertindo em Amsterdam, mas acabam se separando, apenas para se reunirem muitos anos depois no meio de um assassinato em plena década de 30, em que Burt e Harold são suspeitos. Os amigos, então, se unem para limpar seus nomes, enquanto tentam desvendar uma conspiração gigantesca. Confira o trailer:
Inegavelmente que o que mais chama atenção inicialmente é a qualidade da produção no que diz respeito ao departamento de arte - do desenho de produção, passando pelo figurino e maquiagem, "Amsterdam" brilha no quesito técnico e artístico extremamente alinhado com a fotografia do (sempre ele) Emmanuel Lubezki (vencedor de três Oscars, sendo o último deles por "O Regresso"). Logo depois, no entanto, o que vemos brilhar é o elenco - e aqui cabe uma observação importante: os protagonistas e os coadjuvantes são tão importantes quanto todo elenco de apoio que é recheado de convidados que vão de Taylor Swift até Robert De Niro.
O que teria tudo para fazer o filme brilhar, na verdade acaba escondendo um roteiro que soa um pouco confuso e uma edição (de Jay Cassidy) com soluções que várias vezes mais atrapalham do que nos conecta com a história - os flashbacks contextualizam, mas ao mesmo tempo quebram o ritmo. Além disso, o conceito narrativo que O. Russell propõe causa um certo estranhamento - demora para entendermos sua intenção (muitas delas, inclusive, criadas para funcionar como alivio cômico onde não precisava). É preciso dizer, no entanto, que a sensação de "caos" existe e ao embarcarmos na jornada, atentos a proposta, vemos que tudo isso faz sentido.
Após duas horas de filme, temos a exata noção que "Amsterdam" aproveita da sua excentricidade para discutir elementos políticos de uma época onde o fascismo começava a imperar. Mesmo que com essa caricatura visual na sua forma, é de se perceber o propósito politico de O. Russell no seu conteúdo até quando soa dispensável - o personagem de Chris Rock é um bom exemplo: ele aparece, faz um comentário sobre racismo e/ou supremacia branca e depois desaparece na mesma velocidade. O fato é que o filme transita entre a conspiração e a espionagem, mas com sua base enraizada na sátira política, quase pastelão, com aquele leve toque de drama de relação mais emocional. Confuso? Sim, mas como entretenimento é inegável o seu charme!
Do mesmo diretor de "Joy: O Nome do Sucesso"e "Trapaça", o premiadíssimo David O. Russell, "Amsterdam" fatalmente vai entrar naquela prateleira do "ame ou odeie" - a própria bilheteria do filme provou essa tese. Bem na linha de Wes Anderson (de "O Grande Hotel Budapeste" e "A Crônica Francesa") com um leve toque de "Entre Facas e Segredos" a história tranquilamente poderia ter sido tirada da obra de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, porém (e aí que está a divisão do público) com uma narração mais cadenciada, muitas vezes até cansativa, onde os detalhes estéticos se sobrepõem à trama (que curiosamente foi baseada em fatos reais) - é como se estivéssemos lendo um livro do Jô Soares (O Xangô de Baker Street ) que era cheio de descrições contextuais, mas ainda assim com uma história com certa criatividade.
"Amsterdam" acompanha a jornada de três amigos que se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial. Eles são Burt Berendsen (Christian Bale), um médico que perdeu o olho em combate; seu amigo advogado Harold Woodman (John David Washington); e uma excêntrica artista/enfermeira Valerie Voze (Margot Robbie). Após retornarem do campo de batalha, o trio passa um período se divertindo em Amsterdam, mas acabam se separando, apenas para se reunirem muitos anos depois no meio de um assassinato em plena década de 30, em que Burt e Harold são suspeitos. Os amigos, então, se unem para limpar seus nomes, enquanto tentam desvendar uma conspiração gigantesca. Confira o trailer:
Inegavelmente que o que mais chama atenção inicialmente é a qualidade da produção no que diz respeito ao departamento de arte - do desenho de produção, passando pelo figurino e maquiagem, "Amsterdam" brilha no quesito técnico e artístico extremamente alinhado com a fotografia do (sempre ele) Emmanuel Lubezki (vencedor de três Oscars, sendo o último deles por "O Regresso"). Logo depois, no entanto, o que vemos brilhar é o elenco - e aqui cabe uma observação importante: os protagonistas e os coadjuvantes são tão importantes quanto todo elenco de apoio que é recheado de convidados que vão de Taylor Swift até Robert De Niro.
O que teria tudo para fazer o filme brilhar, na verdade acaba escondendo um roteiro que soa um pouco confuso e uma edição (de Jay Cassidy) com soluções que várias vezes mais atrapalham do que nos conecta com a história - os flashbacks contextualizam, mas ao mesmo tempo quebram o ritmo. Além disso, o conceito narrativo que O. Russell propõe causa um certo estranhamento - demora para entendermos sua intenção (muitas delas, inclusive, criadas para funcionar como alivio cômico onde não precisava). É preciso dizer, no entanto, que a sensação de "caos" existe e ao embarcarmos na jornada, atentos a proposta, vemos que tudo isso faz sentido.
Após duas horas de filme, temos a exata noção que "Amsterdam" aproveita da sua excentricidade para discutir elementos políticos de uma época onde o fascismo começava a imperar. Mesmo que com essa caricatura visual na sua forma, é de se perceber o propósito politico de O. Russell no seu conteúdo até quando soa dispensável - o personagem de Chris Rock é um bom exemplo: ele aparece, faz um comentário sobre racismo e/ou supremacia branca e depois desaparece na mesma velocidade. O fato é que o filme transita entre a conspiração e a espionagem, mas com sua base enraizada na sátira política, quase pastelão, com aquele leve toque de drama de relação mais emocional. Confuso? Sim, mas como entretenimento é inegável o seu charme!
"Anatomia de um Escândalo" é uma espécie de "The Undoing" da Netflix - e não por acaso também adaptado por David E. Kelley a partir do livro homônimo de Sarah Vaughan. Pois bem, mesmo tendo o DNA de Kelley é preciso deixar bem claro que a produção não carrega o "selo HBO" e isso pode ser sentido em sua forma, mas não no conteúdo, ou seja, se para você tudo que escrevi até aqui fez sentido, provavelmente você nem vai precisar ler a análise inteira para ter a certeza que seu entretenimento está garantido! "Anatomia de um Escândalo" foi lançada em 2022 trazendo o melhor do drama jurídico ao explorar as nuances de como o poder pode gerar privilégios nocivos a partir da sensação "natural" de impunidade nos bastidores da política - aqui, britânica. A minissérie de Kelly conta com a colaboração precisa de Melissa James Gibson (de "House of Cards") para traduzir as complexidades de um caso de abuso sexual envolvendo um político influente, expondo as fissuras nas instituições que frequentemente protegem os poderosos. Esteja preparado para uma narrativa envolvente, capaz de entregar uma experiência que equilibra perfeitamente o entretenimento com o drama pessoal e a crítica social.
James Whitehouse (Rupert Friend) é um político carismático e bem-sucedido que, após ser acusado de estuprar uma colega de trabalho, Olivia Lytton (Naomi Scott), se vê no centro de um escândalo midiático. Ao seu lado está sua esposa, Sophie (Sienna Miller), que enfrenta a difícil tarefa de reconciliar sua lealdade ao marido com as crescentes suspeitas sobre seu comportamento e integridade. Enquanto a narrativa se desenrola, vemos o caso sendo disputado no tribunal pela promotora Kate Woodcroft (Michelle Dockery), que busca justiça em meio ao que parece ser uma batalha desigual de um homem protegido por seu status contra uma mulher aparentemente desacreditada por muitos. Confira o trailer:
1 + 1 nem sempre é 2, pelo menos pela perspectiva de quem interpreta uma situação estando nela e "Anatomia de um Escândalo" é muito inteligente em criar essa atmosfera de dúvidas com muita sabedoria - através do seu roteiro, de sua montagem e de sua direção. Ao lado das montadoras Liana Del Giudice (de "Marcella") e Mary Finlay (de "A Cor do Poder"), a diretora S.J. Clarkson (de "Succession") trabalha os flashbacks e os cortes rápidos (e desconexos) para fortalecer o conceito de narrativa fragmentada que gradualmente revela os segredos e as motivações dos personagens ao mesmo tempo em que sugere um forte senso de desorientação. Repare como as cenas de tribunal são intensas, capturando a pressão e o drama de um julgamento onde as questões de consentimento são colocadas em primeiro plano, mas é no recorte pontual das situações, com o uso de ângulos e lentes que distorcem a percepção do espaço, que encontramos o colapso de verdades que antes pareciam absolutas - isso é muito bacana.
O roteiro, de fato, é eficiente em construir uma narrativa que se equilibra o suspense com o drama mais psicológico. Kelley e Gibson exploram de forma hábil os dilemas morais e as complexidades de um escândalo sexual no meio político, mostrando o privilégio de maneira crítica e como isso molda a percepção da verdade ao ponto de influenciar os desfechos judiciais, e mais do que isso, ainda destacam o impacto devastador não apenas sobre as vítimas, mas também sobre as pessoas que cercam o acusado. Sophie, por exemplo, é uma mulher que vê seu mundo desmoronar ao questionar tudo o que sabia sobre o marido e sobre seu casamento - a performance de Sienna Miller é cheia de camadas, capturando a dor e a confusão de uma esposa que é forçada a confrontar a realidade que sempre tentou ignorar. Sua evolução ao longo da minissérie é convincente, pois ela passa de uma figura passiva e protetora para alguém que precisa lidar com as duras verdades sobre o homem com quem escolheu compartilhar sua vida. Rupert Friend entrega uma atuação sólida, interpretando esse homem que, apesar de seu charme e aparente vulnerabilidade, carrega um tom de arrogância e frieza. E Michelle Dockery, o que dizer? Ela consegue equilibrar a frieza profissional e o envolvimento emocional, tornando sua performance um dos pilares da minissérie, mas saiba que o charme da sua personagem está mesmo é no subtexto - pontuado pela hipocrisia no primeiro momento e na dura auto-avaliação mais a frente!
Obviamente que "Anatomia de um Escândalo" sofre com os clichês típicos de dramas jurídicos e escândalos políticos, podendo se tornar até previsível, mas para os amantes do gênero eu posso garantir que a minissérie é bastante eficaz em proporcionar um ótimo e rápido entretenimento (são apenas 6 episódios) ao mesmo tempo que provoca boas discussões sobre os mecanismos que sustentam os privilégios de poucos e sobre a realidade por trás dos escândalos que frequentemente vemos na tv. Para pensar sem esquecer de se divertir!
Vale o seu play!
"Anatomia de um Escândalo" é uma espécie de "The Undoing" da Netflix - e não por acaso também adaptado por David E. Kelley a partir do livro homônimo de Sarah Vaughan. Pois bem, mesmo tendo o DNA de Kelley é preciso deixar bem claro que a produção não carrega o "selo HBO" e isso pode ser sentido em sua forma, mas não no conteúdo, ou seja, se para você tudo que escrevi até aqui fez sentido, provavelmente você nem vai precisar ler a análise inteira para ter a certeza que seu entretenimento está garantido! "Anatomia de um Escândalo" foi lançada em 2022 trazendo o melhor do drama jurídico ao explorar as nuances de como o poder pode gerar privilégios nocivos a partir da sensação "natural" de impunidade nos bastidores da política - aqui, britânica. A minissérie de Kelly conta com a colaboração precisa de Melissa James Gibson (de "House of Cards") para traduzir as complexidades de um caso de abuso sexual envolvendo um político influente, expondo as fissuras nas instituições que frequentemente protegem os poderosos. Esteja preparado para uma narrativa envolvente, capaz de entregar uma experiência que equilibra perfeitamente o entretenimento com o drama pessoal e a crítica social.
James Whitehouse (Rupert Friend) é um político carismático e bem-sucedido que, após ser acusado de estuprar uma colega de trabalho, Olivia Lytton (Naomi Scott), se vê no centro de um escândalo midiático. Ao seu lado está sua esposa, Sophie (Sienna Miller), que enfrenta a difícil tarefa de reconciliar sua lealdade ao marido com as crescentes suspeitas sobre seu comportamento e integridade. Enquanto a narrativa se desenrola, vemos o caso sendo disputado no tribunal pela promotora Kate Woodcroft (Michelle Dockery), que busca justiça em meio ao que parece ser uma batalha desigual de um homem protegido por seu status contra uma mulher aparentemente desacreditada por muitos. Confira o trailer:
1 + 1 nem sempre é 2, pelo menos pela perspectiva de quem interpreta uma situação estando nela e "Anatomia de um Escândalo" é muito inteligente em criar essa atmosfera de dúvidas com muita sabedoria - através do seu roteiro, de sua montagem e de sua direção. Ao lado das montadoras Liana Del Giudice (de "Marcella") e Mary Finlay (de "A Cor do Poder"), a diretora S.J. Clarkson (de "Succession") trabalha os flashbacks e os cortes rápidos (e desconexos) para fortalecer o conceito de narrativa fragmentada que gradualmente revela os segredos e as motivações dos personagens ao mesmo tempo em que sugere um forte senso de desorientação. Repare como as cenas de tribunal são intensas, capturando a pressão e o drama de um julgamento onde as questões de consentimento são colocadas em primeiro plano, mas é no recorte pontual das situações, com o uso de ângulos e lentes que distorcem a percepção do espaço, que encontramos o colapso de verdades que antes pareciam absolutas - isso é muito bacana.
O roteiro, de fato, é eficiente em construir uma narrativa que se equilibra o suspense com o drama mais psicológico. Kelley e Gibson exploram de forma hábil os dilemas morais e as complexidades de um escândalo sexual no meio político, mostrando o privilégio de maneira crítica e como isso molda a percepção da verdade ao ponto de influenciar os desfechos judiciais, e mais do que isso, ainda destacam o impacto devastador não apenas sobre as vítimas, mas também sobre as pessoas que cercam o acusado. Sophie, por exemplo, é uma mulher que vê seu mundo desmoronar ao questionar tudo o que sabia sobre o marido e sobre seu casamento - a performance de Sienna Miller é cheia de camadas, capturando a dor e a confusão de uma esposa que é forçada a confrontar a realidade que sempre tentou ignorar. Sua evolução ao longo da minissérie é convincente, pois ela passa de uma figura passiva e protetora para alguém que precisa lidar com as duras verdades sobre o homem com quem escolheu compartilhar sua vida. Rupert Friend entrega uma atuação sólida, interpretando esse homem que, apesar de seu charme e aparente vulnerabilidade, carrega um tom de arrogância e frieza. E Michelle Dockery, o que dizer? Ela consegue equilibrar a frieza profissional e o envolvimento emocional, tornando sua performance um dos pilares da minissérie, mas saiba que o charme da sua personagem está mesmo é no subtexto - pontuado pela hipocrisia no primeiro momento e na dura auto-avaliação mais a frente!
Obviamente que "Anatomia de um Escândalo" sofre com os clichês típicos de dramas jurídicos e escândalos políticos, podendo se tornar até previsível, mas para os amantes do gênero eu posso garantir que a minissérie é bastante eficaz em proporcionar um ótimo e rápido entretenimento (são apenas 6 episódios) ao mesmo tempo que provoca boas discussões sobre os mecanismos que sustentam os privilégios de poucos e sobre a realidade por trás dos escândalos que frequentemente vemos na tv. Para pensar sem esquecer de se divertir!
Vale o seu play!
Uma série criminal nórdica raiz e simplesmente viciante, assim é "Aqueles que Matam"! "Den som Dræber" (um original Viaplay) mergulha fundo nas complexidades da mente humana, trazendo uma abordagem sombria e visceral ao universo das investigações criminais. Criada por Ina Bruhn, essa série dinamarquesa se diferencia pelo formato antológico, onde cada temporada apresenta um novo caso, novos personagens e uma narrativa que vai muito além da tradicional caçada policial. Aqui, o crime é apenas o ponto de partida para uma jornada que confronta tanto o passado dos criminosos quanto os limites éticos e emocionais dos investigadores que os perseguem - nesse sentido, aliás, a série traz muitos dos conceitos narrativos de "The Killing" e de "True Detective", ou seja, se você gostou das referências, nem perca seu tempo lendo toda essa análise, vá direto para o play! Com uma atmosfera pesada e realista, a série está em sintonia com o que há de mais denso no suspense criminal nórdico,onde a tensão recorrente e a construção de personagens são tão protagonistas quanto o próprio mistério.
A trama de cada temporada é centrada em investigações complexas, onde os crimes e suas motivações são explorados de maneira quase cirúrgica, revelando nuances que deixam claro o quanto a mente humana pode ser um campo de batalha brutal e enigmático. No primeiro ano, por exemplo, acompanhamos o dedicado, mas complicado, detetive Jan Michelsen (Kenneth M. Christensen) investigando o desaparecimento de uma jovem que ele acredita estar relacionado a um caso semelhante de dez anos atrás. Quando o corpo de uma das jovens é encontrado, ele recorre à especialista em assassinos em série, Louise Bergstein (Natalie Madueño), para ajuda-lo na busca pela solução do mistério. Confira o trailer original:
O mais interessante de "Aqueles que Matam" é que em vez de se contentar com o “quem matou”, a série está mais interessada no “por que” e no “como”, usando o crime como um espelho para temas mais profundos como culpa e trauma, sempre pela perspectiva da linha tênue entre a sanidade e a obsessão. O foco na psicologia dos personagens, principalmente dos assassinos e dos próprios investigadores, adiciona uma camada de desconforto e introspecção que desafia a audiência a acompanhar de perto os conflitos que surgem ao longo dos episódios. O roteiro é extremamente preciso ao construir essas camadas emocionais, entregando diálogos que revelam e questionam ao mesmo tempo, mantendo um ritmo que oscila entre o suspenso e o reflexivo sem perder força.
A direção de fotografia modulada na primeira temporada pelo Eric Kress (de "Halo") merece destaque por sua capacidade de intensificar a tensão da trama com um visual pautado nos tons frios e nos ambientes cheios de desolação. Os enquadramentos das paisagens urbanas e rurais, quase sempre opressivas, se apropriam desse conceito para criar um clima de isolamento e de melancolia que é essencial na experiência da série. A escolha dos contrastes, das luzes e sombras, é cuidadosa, reforçando a sensação de que não há escapismo ali – apenas o confronto constante com as zonas mais sombrias da alma humana. Cada protagonista, seja detetive, psicólogo criminal ou consultor, traz consigo ao longo das temporadas um peso emocional que não é facilmente desvendado. As atuações são contidas, mas impactantes, explorando as reações silenciosas e o desgaste que os casos impõem a esses profissionais. Natalie Madueño e Simon Sears, por exemplo, entregam performances marcantes, construindo personagens humanos que carregam suas próprias feridas, tornando-os críveis e cativantes.
A estrutura introspectiva de "Aqueles que Matam", com foco no desenvolvimento psicológico e na tensão moral, pode parecer lenta em certos momentos, exigindo certa paciência e atenção, mas te garanto: vale a pena embarcar na proposta da série. E sim, existe uma certa densidade que impacta de verdade, especialmente nas temporadas que abordam temas mais sombrios como abuso, traumas de infância e violência doméstica, no entanto, é essa mesma intensidade que dá à série um caráter único. O fato é que "Aqueles que Matam" entrega uma narrativa que desafia e desconstrói o gênero criminal, mostrando que o verdadeiro horror nem sempre está no ato violento, mas nas motivações e nas consequências que ele carrega para todos os envolvidos. Para quem busca uma série que vai além do mistério e se aventura no território da psique humana, você está a um play de muitas horas de um excelente entretenimento!
Vale demais!
Uma série criminal nórdica raiz e simplesmente viciante, assim é "Aqueles que Matam"! "Den som Dræber" (um original Viaplay) mergulha fundo nas complexidades da mente humana, trazendo uma abordagem sombria e visceral ao universo das investigações criminais. Criada por Ina Bruhn, essa série dinamarquesa se diferencia pelo formato antológico, onde cada temporada apresenta um novo caso, novos personagens e uma narrativa que vai muito além da tradicional caçada policial. Aqui, o crime é apenas o ponto de partida para uma jornada que confronta tanto o passado dos criminosos quanto os limites éticos e emocionais dos investigadores que os perseguem - nesse sentido, aliás, a série traz muitos dos conceitos narrativos de "The Killing" e de "True Detective", ou seja, se você gostou das referências, nem perca seu tempo lendo toda essa análise, vá direto para o play! Com uma atmosfera pesada e realista, a série está em sintonia com o que há de mais denso no suspense criminal nórdico,onde a tensão recorrente e a construção de personagens são tão protagonistas quanto o próprio mistério.
A trama de cada temporada é centrada em investigações complexas, onde os crimes e suas motivações são explorados de maneira quase cirúrgica, revelando nuances que deixam claro o quanto a mente humana pode ser um campo de batalha brutal e enigmático. No primeiro ano, por exemplo, acompanhamos o dedicado, mas complicado, detetive Jan Michelsen (Kenneth M. Christensen) investigando o desaparecimento de uma jovem que ele acredita estar relacionado a um caso semelhante de dez anos atrás. Quando o corpo de uma das jovens é encontrado, ele recorre à especialista em assassinos em série, Louise Bergstein (Natalie Madueño), para ajuda-lo na busca pela solução do mistério. Confira o trailer original:
O mais interessante de "Aqueles que Matam" é que em vez de se contentar com o “quem matou”, a série está mais interessada no “por que” e no “como”, usando o crime como um espelho para temas mais profundos como culpa e trauma, sempre pela perspectiva da linha tênue entre a sanidade e a obsessão. O foco na psicologia dos personagens, principalmente dos assassinos e dos próprios investigadores, adiciona uma camada de desconforto e introspecção que desafia a audiência a acompanhar de perto os conflitos que surgem ao longo dos episódios. O roteiro é extremamente preciso ao construir essas camadas emocionais, entregando diálogos que revelam e questionam ao mesmo tempo, mantendo um ritmo que oscila entre o suspenso e o reflexivo sem perder força.
A direção de fotografia modulada na primeira temporada pelo Eric Kress (de "Halo") merece destaque por sua capacidade de intensificar a tensão da trama com um visual pautado nos tons frios e nos ambientes cheios de desolação. Os enquadramentos das paisagens urbanas e rurais, quase sempre opressivas, se apropriam desse conceito para criar um clima de isolamento e de melancolia que é essencial na experiência da série. A escolha dos contrastes, das luzes e sombras, é cuidadosa, reforçando a sensação de que não há escapismo ali – apenas o confronto constante com as zonas mais sombrias da alma humana. Cada protagonista, seja detetive, psicólogo criminal ou consultor, traz consigo ao longo das temporadas um peso emocional que não é facilmente desvendado. As atuações são contidas, mas impactantes, explorando as reações silenciosas e o desgaste que os casos impõem a esses profissionais. Natalie Madueño e Simon Sears, por exemplo, entregam performances marcantes, construindo personagens humanos que carregam suas próprias feridas, tornando-os críveis e cativantes.
A estrutura introspectiva de "Aqueles que Matam", com foco no desenvolvimento psicológico e na tensão moral, pode parecer lenta em certos momentos, exigindo certa paciência e atenção, mas te garanto: vale a pena embarcar na proposta da série. E sim, existe uma certa densidade que impacta de verdade, especialmente nas temporadas que abordam temas mais sombrios como abuso, traumas de infância e violência doméstica, no entanto, é essa mesma intensidade que dá à série um caráter único. O fato é que "Aqueles que Matam" entrega uma narrativa que desafia e desconstrói o gênero criminal, mostrando que o verdadeiro horror nem sempre está no ato violento, mas nas motivações e nas consequências que ele carrega para todos os envolvidos. Para quem busca uma série que vai além do mistério e se aventura no território da psique humana, você está a um play de muitas horas de um excelente entretenimento!
Vale demais!
Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.
Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?
Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!
A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!!
"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!
Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.
Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?
Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!
A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!!
"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!
"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!
A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):
Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.
O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.
"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.
Vale muito o seu play!
"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!
A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):
Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.
O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.
"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.
Vale muito o seu play!
"As Flores Perdidas de Alice Hart" é daquelas minisséries que você se pergunta: por que não assisti isso antes? É sério, que espetáculo de roteiro! Lançada em 2023 pela Prime Video, "As Flores Perdidas de Alice Hart"é um drama profundo que transita pelas nuances do trauma e do luto em uma atmosfera de muito mistério, onde a busca pela cura em meio à beleza e ao simbolismo das flores transforma nossa jornada em uma experiência das mais envolventes e surpreendentes. Criada por Sarah Lambert e baseada no romance homônimo de Holly Ringland, a produção é dirigida por Glendyn Ivin (do excelente "Em Prantos") e apresenta uma narrativa que, assim como "Big Little Lies" e "Sharp Objects", parte dos fantasmas mais íntimos para explorar questões delicadas como violência doméstica, laços familiares e autodescoberta.
A história acompanha Alice Hart (interpretada por Alycia Debnam-Carey na fase adulta e por Alyla Browne na infância), uma jovem que perde os pais em um incêndio traumático. Depois da tragédia, Alice vai morar com sua avó June (Sigourney Weaver) em uma fazenda remota chamada Thornfield, onde flores nativas são cultivadas e utilizadas para expressar sentimentos que palavras não conseguem transmitir. Ao longo dos anos, Alice descobre segredos obscuros sobre sua família e enfrenta os próprios demônios enquanto busca um caminho para a cura e para uma liberdade emocional. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que soe cadenciada em um primeiro momento, a narrativa proposta pela Sarah Lambert é muito fiel ao espírito da obra de Ringland, equilibrando a exploração emocional com o mistério que envolve os segredos familiares da protagonista. O roteiro é construída de forma não linear, utilizando a quebra temporal para revelar gradualmente as conexões entre alguns personagens - é essa estrutura que nos mantém intrigados, enquanto somos provocados a olhar por diversas perspectivas na busca por uma compreensão mais profunda das motivações e escolhas que moldam a trajetória de Alice. É aqui que entra a direção de Glendyn Ivin - sua sensibilidade e habilidade para construir momentos de introspecção através de uma narrativa visualmente rica, é de se aplaudir de pé. Já no primeiro episódio, mesmo com momentos realmente impactantes, temos a exata noção de que estamos diante de um profissional capaz de traduzir sensações em uma certa poesia visual - algo como o saudoso Jean-Marc Vallée fazia com maestria.
A fotografia de "As Flores Perdidas de Alice Hart" também chama atenção. O trabalho do Sam Chiplin (parceiro de Ivin em "Em Prantos") captura a beleza das paisagens australianas e das flores que servem como metáfora para as emoções dos personagens, de uma forma magnifica. A diversidade da paleta de cores e toda iluminação são cuidadosamente trabalhadas, refletindo tanto a serenidade quanto a tensão que permeiam a história. As flores e seu simbolismo, sem dúvida, funcionam como um elemento narrativo poderoso, adicionando profundidade e significado para a jornada. Alycia Debnam-Carey sabe transformar essa atmosfera semiótica, sutil e poderosa, em energia para sua Alice - repare como ela transmite a complexidade de sua personagem na luta para superar o passado e encontrar seu próprio lugar no mundo. Sigourney Weaver também entrega uma performance que merece destaque - contida e intensa, ela vai revelando as camadas de uma mulher forte, mas que é cheia de falhas e que carrega o peso dos segredos e das decisões difíceis que já teve que tomar. A química entre as duas, aliás, é essencial para dar o tom do relacionamento conturbado entre avó e neta. E rapidamente cito Alyla Browne, a Alice na infância - que atuação sensível e comovente. Olho nessa garota!
"As Flores Perdidas de Alice Hart" não tem medo de confrontar a dor e a complexidade das relações familiares, explorando o peso do trauma e como ele pode ser transmitido de geração em geração. Embora muitas vezes densa demais, a narrativa também oferece momentos de esperança, mostrando que é possível encontrar um certo significado mesmo em meio à escuridão. Se seu ritmo pode soar lento e introspectivo demais, entenda que é essa escolha conceitual que traz a profundidade emocional que a história merece. O que eu quero dizer é que estamos diante de uma minissérie diferente, visualmente deslumbrante e emocionalmente profunda, que sabe explorar as obscuridades da vida, pontuando perfeitamente o valor da resiliência e da autodescoberta como forma de sobrevivência sem esquecer da importância da sororidade.
Imperdível!
"As Flores Perdidas de Alice Hart" é daquelas minisséries que você se pergunta: por que não assisti isso antes? É sério, que espetáculo de roteiro! Lançada em 2023 pela Prime Video, "As Flores Perdidas de Alice Hart"é um drama profundo que transita pelas nuances do trauma e do luto em uma atmosfera de muito mistério, onde a busca pela cura em meio à beleza e ao simbolismo das flores transforma nossa jornada em uma experiência das mais envolventes e surpreendentes. Criada por Sarah Lambert e baseada no romance homônimo de Holly Ringland, a produção é dirigida por Glendyn Ivin (do excelente "Em Prantos") e apresenta uma narrativa que, assim como "Big Little Lies" e "Sharp Objects", parte dos fantasmas mais íntimos para explorar questões delicadas como violência doméstica, laços familiares e autodescoberta.
A história acompanha Alice Hart (interpretada por Alycia Debnam-Carey na fase adulta e por Alyla Browne na infância), uma jovem que perde os pais em um incêndio traumático. Depois da tragédia, Alice vai morar com sua avó June (Sigourney Weaver) em uma fazenda remota chamada Thornfield, onde flores nativas são cultivadas e utilizadas para expressar sentimentos que palavras não conseguem transmitir. Ao longo dos anos, Alice descobre segredos obscuros sobre sua família e enfrenta os próprios demônios enquanto busca um caminho para a cura e para uma liberdade emocional. Confira o trailer (em inglês):
Mesmo que soe cadenciada em um primeiro momento, a narrativa proposta pela Sarah Lambert é muito fiel ao espírito da obra de Ringland, equilibrando a exploração emocional com o mistério que envolve os segredos familiares da protagonista. O roteiro é construída de forma não linear, utilizando a quebra temporal para revelar gradualmente as conexões entre alguns personagens - é essa estrutura que nos mantém intrigados, enquanto somos provocados a olhar por diversas perspectivas na busca por uma compreensão mais profunda das motivações e escolhas que moldam a trajetória de Alice. É aqui que entra a direção de Glendyn Ivin - sua sensibilidade e habilidade para construir momentos de introspecção através de uma narrativa visualmente rica, é de se aplaudir de pé. Já no primeiro episódio, mesmo com momentos realmente impactantes, temos a exata noção de que estamos diante de um profissional capaz de traduzir sensações em uma certa poesia visual - algo como o saudoso Jean-Marc Vallée fazia com maestria.
A fotografia de "As Flores Perdidas de Alice Hart" também chama atenção. O trabalho do Sam Chiplin (parceiro de Ivin em "Em Prantos") captura a beleza das paisagens australianas e das flores que servem como metáfora para as emoções dos personagens, de uma forma magnifica. A diversidade da paleta de cores e toda iluminação são cuidadosamente trabalhadas, refletindo tanto a serenidade quanto a tensão que permeiam a história. As flores e seu simbolismo, sem dúvida, funcionam como um elemento narrativo poderoso, adicionando profundidade e significado para a jornada. Alycia Debnam-Carey sabe transformar essa atmosfera semiótica, sutil e poderosa, em energia para sua Alice - repare como ela transmite a complexidade de sua personagem na luta para superar o passado e encontrar seu próprio lugar no mundo. Sigourney Weaver também entrega uma performance que merece destaque - contida e intensa, ela vai revelando as camadas de uma mulher forte, mas que é cheia de falhas e que carrega o peso dos segredos e das decisões difíceis que já teve que tomar. A química entre as duas, aliás, é essencial para dar o tom do relacionamento conturbado entre avó e neta. E rapidamente cito Alyla Browne, a Alice na infância - que atuação sensível e comovente. Olho nessa garota!
"As Flores Perdidas de Alice Hart" não tem medo de confrontar a dor e a complexidade das relações familiares, explorando o peso do trauma e como ele pode ser transmitido de geração em geração. Embora muitas vezes densa demais, a narrativa também oferece momentos de esperança, mostrando que é possível encontrar um certo significado mesmo em meio à escuridão. Se seu ritmo pode soar lento e introspectivo demais, entenda que é essa escolha conceitual que traz a profundidade emocional que a história merece. O que eu quero dizer é que estamos diante de uma minissérie diferente, visualmente deslumbrante e emocionalmente profunda, que sabe explorar as obscuridades da vida, pontuando perfeitamente o valor da resiliência e da autodescoberta como forma de sobrevivência sem esquecer da importância da sororidade.
Imperdível!
Uma das maiores discussões assim que saíram os indicados para o Oscar de 2020 foi a ausência de Jennifer Lopez pelo seu trabalho em "As Golpistas"! Após assistir ao filme, fica claro que Lopez tinha total condição de estar entre as cinco, seu trabalho realmente merece elogios e ela carrega o filme nas costas, mas é um fato que ela deu um pouco de azar pelo alto nível da temporada - eu mesmo posso citar pelo menos mais uma ou duas atrizes que também mereciam estar entre as indicadas: caso da Awkwafina e da Lupita Nyong'o, por exemplo.
Pois bem, disse tudo isso para afirmar que "As Golpistas" se apoia muito na qualidade do seu elenco e como o próprio nome do filme sugere, as personagens tem importância vital perante a história, repare: são strippers que esquematizavam golpes sobre seus clientes cheios da grana, na maioria vindo de Wall Street, que se beneficiavam da situação de crise que assolava o país e, na visão delas, não sofreriam ao perder um pouco de dinheiro em uma noitada de "diversão". Confira o trailer:
Baseado no artigo da New York Magazine "The Hustlers at Scores", assinado pela jornalista Jessica Pressler, e fielmente adaptado pela roteirista Lorene Scafaria, "Hustlers" (título original) entrega quase duas horas de uma trama, se não original, muito bem construída. A apresentação dos fatos segue uma estrutura narrativa que quebra a linha do tempo, mas não confunde quem assiste graças a algumas inserções gráficas que indicam um período especifico da história. A partir dos relatos de Destiny (Constance Wu) para Elizabeth (Julia Stiles), vamos conhecendo cada uma das personagens e os motivos que as colocaram nos crimes.
Muito bem dirigido pela própria Lorene Scafaria, o filme nos transporta para o "submundo" de Wall Street pelos olhos femininos - e isso talvez seja o maior mérito da obra! Quando essa perspectiva ganha força, automaticamente criamos empatia com as personagens e, por incrível que pareça, não as julgamos. É preciso dizer, porém, que o filme oscila um pouco até o meio do segundo ato quando Ramona (Jennifer Lopez) assume a liderança do próprio negócio e cria uma equipe de garotas golpistas para drogar seus clientes e estourar os limites de seus cartões de crédito. O próprio ritmo da direção e da montagem ganha mais vida e parece que a história flui melhor a partir daí.
"As Golpistas" é um ótimo entretenimento, bem despretensioso e muito fácil de se divertir. Com uma trilha sonora sensacional, o empoderamento feminino ganha um ritmo de "vingança" que não agride quem assiste, mas nos enche de curiosidade para saber onde tudo aquilo vai dar - "A Grande Jogada", filme do Diretor e Roteirista Aaron Sorkin tem muito disso!
Vale seu play!
Uma das maiores discussões assim que saíram os indicados para o Oscar de 2020 foi a ausência de Jennifer Lopez pelo seu trabalho em "As Golpistas"! Após assistir ao filme, fica claro que Lopez tinha total condição de estar entre as cinco, seu trabalho realmente merece elogios e ela carrega o filme nas costas, mas é um fato que ela deu um pouco de azar pelo alto nível da temporada - eu mesmo posso citar pelo menos mais uma ou duas atrizes que também mereciam estar entre as indicadas: caso da Awkwafina e da Lupita Nyong'o, por exemplo.
Pois bem, disse tudo isso para afirmar que "As Golpistas" se apoia muito na qualidade do seu elenco e como o próprio nome do filme sugere, as personagens tem importância vital perante a história, repare: são strippers que esquematizavam golpes sobre seus clientes cheios da grana, na maioria vindo de Wall Street, que se beneficiavam da situação de crise que assolava o país e, na visão delas, não sofreriam ao perder um pouco de dinheiro em uma noitada de "diversão". Confira o trailer:
Baseado no artigo da New York Magazine "The Hustlers at Scores", assinado pela jornalista Jessica Pressler, e fielmente adaptado pela roteirista Lorene Scafaria, "Hustlers" (título original) entrega quase duas horas de uma trama, se não original, muito bem construída. A apresentação dos fatos segue uma estrutura narrativa que quebra a linha do tempo, mas não confunde quem assiste graças a algumas inserções gráficas que indicam um período especifico da história. A partir dos relatos de Destiny (Constance Wu) para Elizabeth (Julia Stiles), vamos conhecendo cada uma das personagens e os motivos que as colocaram nos crimes.
Muito bem dirigido pela própria Lorene Scafaria, o filme nos transporta para o "submundo" de Wall Street pelos olhos femininos - e isso talvez seja o maior mérito da obra! Quando essa perspectiva ganha força, automaticamente criamos empatia com as personagens e, por incrível que pareça, não as julgamos. É preciso dizer, porém, que o filme oscila um pouco até o meio do segundo ato quando Ramona (Jennifer Lopez) assume a liderança do próprio negócio e cria uma equipe de garotas golpistas para drogar seus clientes e estourar os limites de seus cartões de crédito. O próprio ritmo da direção e da montagem ganha mais vida e parece que a história flui melhor a partir daí.
"As Golpistas" é um ótimo entretenimento, bem despretensioso e muito fácil de se divertir. Com uma trilha sonora sensacional, o empoderamento feminino ganha um ritmo de "vingança" que não agride quem assiste, mas nos enche de curiosidade para saber onde tudo aquilo vai dar - "A Grande Jogada", filme do Diretor e Roteirista Aaron Sorkin tem muito disso!
Vale seu play!
A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.
A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:
Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!
Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.
Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.
Vale muito o seu play!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.
A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:
Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!
Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.
Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.
Vale muito o seu play!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!