"O Pintassilgo" chegou com a pretensão de disputar prêmios importantes em 2019/2020, porém, mesmo sendo um bom entretenimento, sua expectativa não foi nem um pouco alcançada e, para mim, o principal problema está no seu roteiro e na falta de identidade que a história carrega por mais de duas horas. O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por uma autora americana chamada Donna Tartt que, inclusive, lhe rendeu o prêmio Pulitzer de ficção em 2014 e a Medalha Andrew Carnegie de Excelência em Ficção no mesmo ano.
A história acompanha a jornada do personagem Theodore Decker (Oakes Fegley/Ansel Elgort), um garoto de 13 anos que perde a mãe em um ataque terrorista no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Esse acontecimento impacta para sempre a vida do jovem, porém o elo emocional estabelecido na época do atentado que sobrevive ao tempo (e não sabemos exatamente a razão, mas desconfiamos) é um quadro que estava exposto no museu, “O Pintassilgo“, e que Theodore é incentivado por um desconhecido a levar consigo antes que as autoridades chegassem ao local. Confira o trailer:
Muito mais que um drama profundo, cheio de camadas, que o trailer sugere e que o livro, provavelmente, deve entregar, essa adaptação de "O Pintassilgo" foca no reflexo que o atentado gerou na vida do protagonista e na sua busca pela paz interior através do tempo, mas de uma forma superficial e até atrapalhada. Por se tratar de uma jornada de vida, muitas histórias são desenvolvidas paralelamente, fica impossível conectá-las de uma maneira orgânica e equilibrada, mesmo com o esforço da montadora Kelley Dixon - que notavelmente conhece essa gramática de misturar presente com passado por ter trabalhado em nada mais, nada menos do que "Breaking Bad" e "Better Call Saul".
De fato, o filme não é ruim, eu diria que é até bom, com ótimos momentos - um pouco mais dramáticos no primeiro ato, mais adolescente no segundo e quase um thriller nórdico no terceiro; mas é a falta de unidade entre esses três atos que pode incomodar um pouco se você busca um drama mais existencial e com uma narrativa mais equilibrada como "Em Pedaços", por exemplo. Tecnicamente o filme também é muito bem realizado, tendo o talentoso diretor John Crowley (vencedor do BAFTA em 2016 com "Brooklyn" e em 2007 com "Boy A") no comando e o sensacional diretor de fotografia, multi-premiado (14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" e "1917"), Roger Deakins, ao seu lado - reparem na belíssima cena em que Theodore está no balanço com seu amigo Boris (Finn Wolfhard)! No elenco Nicole Kidman e Jeffrey Wright sempre competentes, mesmo com personagens secundários e, claro, Finn Wolfhard e Oakes Fegley dão um show.
Olha, sinceramente, vale pelo entretenimento, por ótimas atuações e por um história que é boa.
"O Pintassilgo" chegou com a pretensão de disputar prêmios importantes em 2019/2020, porém, mesmo sendo um bom entretenimento, sua expectativa não foi nem um pouco alcançada e, para mim, o principal problema está no seu roteiro e na falta de identidade que a história carrega por mais de duas horas. O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por uma autora americana chamada Donna Tartt que, inclusive, lhe rendeu o prêmio Pulitzer de ficção em 2014 e a Medalha Andrew Carnegie de Excelência em Ficção no mesmo ano.
A história acompanha a jornada do personagem Theodore Decker (Oakes Fegley/Ansel Elgort), um garoto de 13 anos que perde a mãe em um ataque terrorista no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Esse acontecimento impacta para sempre a vida do jovem, porém o elo emocional estabelecido na época do atentado que sobrevive ao tempo (e não sabemos exatamente a razão, mas desconfiamos) é um quadro que estava exposto no museu, “O Pintassilgo“, e que Theodore é incentivado por um desconhecido a levar consigo antes que as autoridades chegassem ao local. Confira o trailer:
Muito mais que um drama profundo, cheio de camadas, que o trailer sugere e que o livro, provavelmente, deve entregar, essa adaptação de "O Pintassilgo" foca no reflexo que o atentado gerou na vida do protagonista e na sua busca pela paz interior através do tempo, mas de uma forma superficial e até atrapalhada. Por se tratar de uma jornada de vida, muitas histórias são desenvolvidas paralelamente, fica impossível conectá-las de uma maneira orgânica e equilibrada, mesmo com o esforço da montadora Kelley Dixon - que notavelmente conhece essa gramática de misturar presente com passado por ter trabalhado em nada mais, nada menos do que "Breaking Bad" e "Better Call Saul".
De fato, o filme não é ruim, eu diria que é até bom, com ótimos momentos - um pouco mais dramáticos no primeiro ato, mais adolescente no segundo e quase um thriller nórdico no terceiro; mas é a falta de unidade entre esses três atos que pode incomodar um pouco se você busca um drama mais existencial e com uma narrativa mais equilibrada como "Em Pedaços", por exemplo. Tecnicamente o filme também é muito bem realizado, tendo o talentoso diretor John Crowley (vencedor do BAFTA em 2016 com "Brooklyn" e em 2007 com "Boy A") no comando e o sensacional diretor de fotografia, multi-premiado (14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" e "1917"), Roger Deakins, ao seu lado - reparem na belíssima cena em que Theodore está no balanço com seu amigo Boris (Finn Wolfhard)! No elenco Nicole Kidman e Jeffrey Wright sempre competentes, mesmo com personagens secundários e, claro, Finn Wolfhard e Oakes Fegley dão um show.
Olha, sinceramente, vale pelo entretenimento, por ótimas atuações e por um história que é boa.
"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!
Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:
Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!
"O Poço" é o filme de estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia - ele foi o produtor responsável pelo premiado "El ataúd de cristal". Gaztelu-Urrutiasurpreende na função, ele entrega um filme bastante dinâmico, mesmo se passando 100% do tempo em um mesmo lugar. Com uma narrativa que mistura elementos de terror com suspense, o filme é praticamente uma crítica a estrutura socioeconômica capitalista que o mundo se apoia e como o reflexo dessa desigualdade interfere nas relações humanas em diversos, olha só, níveis!
O Desenho de Produção entrega um cenário completamente minimalista e que se adequa ao tamanho do orçamento com muita inteligência. O Desenho de som e os Efeitos Especiais trabalham alinhados ao departamento de arte, dando o "peso" que os objetos precisam para impactar quem assiste. A fotografia do Jon D. Domínguez é muito boa, já que explora um ambiente extremamente limitado, mas nem por isso nos dá a sensação de mentiroso - o conceito distópico ajuda muito, convenhamos, mas o conjunto é harmonioso! Domínguez foi o diretor de fotografia de um dos "curtas" que fez parte do projeto VHS.
Dois outros destaques que merecem muitos elogios: 1. O Roteiro do David Desola e do Pedro Rivero é criativo como contexto de universo, mas os diálogos são incríveis - acima da média! O trabalho alegórico do texto é digno de Darren Aronofsky (Mother! e Fonte da Vida)! 2. O trabalho do Ivan Massagué como o protagonista que precisa ir "literalmente" ao fundo do poço em busca das respostas para sua jornada, é digno de muitos prêmios - e acho que a quebra de paradigmas de "Parasita" tem muito que ajudar na percepção de um trabalho como esse!
Antes de finalizar eu preciso fazer um alerta: o filme requer estômago forte, principalmente quando vemos o que acontece nos níveis mais baixos da prisão e isso nada mais é do que um enorme tapa na cara ao expor e nos provocar com uma "verdade" extremamente inconveniente, mas que justifica todas as marcas que aqueles personagens deixam dentro de uma jornada muito dura! Como o próprio protagonista diz no final: “(...) nenhuma mudança é espontânea” porém nós sabemos por onde começar!
Vale muito a pena!
"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!
Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:
Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!
"O Poço" é o filme de estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia - ele foi o produtor responsável pelo premiado "El ataúd de cristal". Gaztelu-Urrutiasurpreende na função, ele entrega um filme bastante dinâmico, mesmo se passando 100% do tempo em um mesmo lugar. Com uma narrativa que mistura elementos de terror com suspense, o filme é praticamente uma crítica a estrutura socioeconômica capitalista que o mundo se apoia e como o reflexo dessa desigualdade interfere nas relações humanas em diversos, olha só, níveis!
O Desenho de Produção entrega um cenário completamente minimalista e que se adequa ao tamanho do orçamento com muita inteligência. O Desenho de som e os Efeitos Especiais trabalham alinhados ao departamento de arte, dando o "peso" que os objetos precisam para impactar quem assiste. A fotografia do Jon D. Domínguez é muito boa, já que explora um ambiente extremamente limitado, mas nem por isso nos dá a sensação de mentiroso - o conceito distópico ajuda muito, convenhamos, mas o conjunto é harmonioso! Domínguez foi o diretor de fotografia de um dos "curtas" que fez parte do projeto VHS.
Dois outros destaques que merecem muitos elogios: 1. O Roteiro do David Desola e do Pedro Rivero é criativo como contexto de universo, mas os diálogos são incríveis - acima da média! O trabalho alegórico do texto é digno de Darren Aronofsky (Mother! e Fonte da Vida)! 2. O trabalho do Ivan Massagué como o protagonista que precisa ir "literalmente" ao fundo do poço em busca das respostas para sua jornada, é digno de muitos prêmios - e acho que a quebra de paradigmas de "Parasita" tem muito que ajudar na percepção de um trabalho como esse!
Antes de finalizar eu preciso fazer um alerta: o filme requer estômago forte, principalmente quando vemos o que acontece nos níveis mais baixos da prisão e isso nada mais é do que um enorme tapa na cara ao expor e nos provocar com uma "verdade" extremamente inconveniente, mas que justifica todas as marcas que aqueles personagens deixam dentro de uma jornada muito dura! Como o próprio protagonista diz no final: “(...) nenhuma mudança é espontânea” porém nós sabemos por onde começar!
Vale muito a pena!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:
Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão - Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!
É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.
Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!
"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!
"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:
Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão - Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!
É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.
Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!
"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
"O Telefone Preto" chega com aquele ar de "clássico do suspense" em pleno 2022! Sim, pode parecer brincadeira, mas o filme do diretor Scott Derrickson (de "O Exorcismo de Emily Rose" e "A Entidade") recupera elementos narrativos que equilibram perfeitamente o "psicológico" com o "sobrenatural" ao melhor estilo "Stephen King" (mas sem decepcionar no final) - aliás, diga-se de passagem, o conto que deu origem ao filme é de autoria do filho de King, Joe Hill e foi retirado do best-seller do New York Times, "Fantasmas do Século XX".
Finney Shaw (Mason Thames), um menino tímido e inteligente, de 13 anos, é sequestrado pelo sádico "Grabbler" (Ethan Hawke) e preso em um porão à prova de som. Quando um telefone preto desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das cinco vítimas anteriores do assassino. São eles que tentam garantir que Finney possa ter um destino diferente do deles. Confira o trailer:
É bem possível que você, amante do gênero, tenha a impressão de já ter assistido algo semelhante ao "O Telefone Preto". O roteiro do próprio Derrickson com seu parceiro de "A Entidade" e "Doutor Estranho I", C. Robert Cargill, traz fortes referências de filmes como "It" e o "O Sexto Sentido" - eu diria até que não seria nada absurdo dizer que aqui temos uma mistura das duas obras, com seus méritos, com seus clichês e com suas falhas (mesmo que nenhuma delas impactem na nossa experiência como audiência se estivermos dispostos a mergulhar naquele universo proposto pela história).
Um dos grandes méritos de Derrickson é o de criar personagens interessantes e profundos que geram empatia logo de cara - ninguém gosta de ver um garoto bonzinho sendo ameaçado na escola ou a irmã mais nova apanhando do pai alcoólatra e depressivo. Aliás, mesmo como coadjuvante, Jeremy Davies (o inesquecível Dr. Daniel Faraday de "Lost") está excelente como o pai de Finney e de sua irmã Gwen (Madeleine McGraw). Pois bem, estabelecida essa conexão com o protagonista, é impossível pensar que a trama de suspense que vem pela frente não possa ser bem sucedida, afinal já nos importamos com os personagens e com suas dores. Mas o diretor ainda fortalece essa possibilidade ao mostrar sua enorme competência em criar uma atmosfera aterrorizante: se você lembrar do drama psicológico e perturbador de "3096 Dias" ou dos sustos de "A Entidade", vai entender exatamente o que "O Telefone Preto" quer te provocar.
Alinhar as expectativas será essencial para que você se envolva com o filme, ou seja, "O Telefone Preto" não é (e muito menos se propõe a ser) um terror raiz. Derrickson está bem mais preocupado na criação de uma tensão constante do que em te impactar com imagens grotescas ou banhos de sangue - não que não tenha, mas não é o que vai mais te interessar. Se o protagonista parece ter saído de "Stranger Things" enquanto o antagonista deixa claro ser grande fã de John Kramer (de "Jogos Mortais") e de Hannibal Lecter (de "Silêncio dos Inocentes") é de se esperar uma trama com uma boa história, alguns sustos e ótimos personagens - e é isso!
Antes de finalizar, reparou como eu citei vários filmes para descrever essa produção da Blumhouse? Pois bem, será essa a receita que vai te fazer ficar satisfeito quando os créditos subirem!
Vale o play!
"O Telefone Preto" chega com aquele ar de "clássico do suspense" em pleno 2022! Sim, pode parecer brincadeira, mas o filme do diretor Scott Derrickson (de "O Exorcismo de Emily Rose" e "A Entidade") recupera elementos narrativos que equilibram perfeitamente o "psicológico" com o "sobrenatural" ao melhor estilo "Stephen King" (mas sem decepcionar no final) - aliás, diga-se de passagem, o conto que deu origem ao filme é de autoria do filho de King, Joe Hill e foi retirado do best-seller do New York Times, "Fantasmas do Século XX".
Finney Shaw (Mason Thames), um menino tímido e inteligente, de 13 anos, é sequestrado pelo sádico "Grabbler" (Ethan Hawke) e preso em um porão à prova de som. Quando um telefone preto desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das cinco vítimas anteriores do assassino. São eles que tentam garantir que Finney possa ter um destino diferente do deles. Confira o trailer:
É bem possível que você, amante do gênero, tenha a impressão de já ter assistido algo semelhante ao "O Telefone Preto". O roteiro do próprio Derrickson com seu parceiro de "A Entidade" e "Doutor Estranho I", C. Robert Cargill, traz fortes referências de filmes como "It" e o "O Sexto Sentido" - eu diria até que não seria nada absurdo dizer que aqui temos uma mistura das duas obras, com seus méritos, com seus clichês e com suas falhas (mesmo que nenhuma delas impactem na nossa experiência como audiência se estivermos dispostos a mergulhar naquele universo proposto pela história).
Um dos grandes méritos de Derrickson é o de criar personagens interessantes e profundos que geram empatia logo de cara - ninguém gosta de ver um garoto bonzinho sendo ameaçado na escola ou a irmã mais nova apanhando do pai alcoólatra e depressivo. Aliás, mesmo como coadjuvante, Jeremy Davies (o inesquecível Dr. Daniel Faraday de "Lost") está excelente como o pai de Finney e de sua irmã Gwen (Madeleine McGraw). Pois bem, estabelecida essa conexão com o protagonista, é impossível pensar que a trama de suspense que vem pela frente não possa ser bem sucedida, afinal já nos importamos com os personagens e com suas dores. Mas o diretor ainda fortalece essa possibilidade ao mostrar sua enorme competência em criar uma atmosfera aterrorizante: se você lembrar do drama psicológico e perturbador de "3096 Dias" ou dos sustos de "A Entidade", vai entender exatamente o que "O Telefone Preto" quer te provocar.
Alinhar as expectativas será essencial para que você se envolva com o filme, ou seja, "O Telefone Preto" não é (e muito menos se propõe a ser) um terror raiz. Derrickson está bem mais preocupado na criação de uma tensão constante do que em te impactar com imagens grotescas ou banhos de sangue - não que não tenha, mas não é o que vai mais te interessar. Se o protagonista parece ter saído de "Stranger Things" enquanto o antagonista deixa claro ser grande fã de John Kramer (de "Jogos Mortais") e de Hannibal Lecter (de "Silêncio dos Inocentes") é de se esperar uma trama com uma boa história, alguns sustos e ótimos personagens - e é isso!
Antes de finalizar, reparou como eu citei vários filmes para descrever essa produção da Blumhouse? Pois bem, será essa a receita que vai te fazer ficar satisfeito quando os créditos subirem!
Vale o play!
O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!
Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):
Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.
Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.
Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?
Vale o seu play, mas por conta e risco!
O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!
Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):
Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.
Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.
Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?
Vale o seu play, mas por conta e risco!
Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs".
A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):
Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.
Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia.
Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.
"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.
Vale muito o seu play!
Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs".
A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):
Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.
Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia.
Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.
"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.
Vale muito o seu play!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!
O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:
Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado.
Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.
Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta.
Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!
"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!
O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:
Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado.
Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.
Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta.
Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!
Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:
Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.
A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!
O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.
Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!
Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:
Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.
A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!
O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.
Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!
Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.
A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.
Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.
"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!
Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.
A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.
Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.
"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!
Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final.
A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:
"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).
A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.
"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!
Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final.
A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:
"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).
A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.
"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!
Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.
A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer:
"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.
Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!
Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.
Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!
Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!
Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.
Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.
A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer:
"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.
Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!
Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.
Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!
Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!
Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.
"Pachinko" não é uma série fácil e muito menos daquelas que entregam respostas rápidas - e isso vai exigir uma certa paciência, mas que será recompensada com uma belíssima poesia visual e narrativa que se pauta no melodrama de uma história de vida através das gerações. Lançada em 2022 para o Apple TV+, essa série criada pela Soo Hugh ("The Killing"), é uma verdadeira jornada épica que narra a saga de uma família coreana ao longo de quatro gerações, explorando temas como identidade, resiliência e até como o impacto da colonização reflete na sociedade até hoje. Baseada no aclamado romance homônimo de Min Jin Lee, "Pachinko" é uma obra emocionalmente rica, que abrange décadas de histórias, oferecendo uma visão íntima da diáspora coreana no Japão. Com uma narrativa realmente cativante, em muitos momentos até flertando com novelesco, "Pachinko" inegavelmente se destaca como uma das séries mais ambiciosas e envolventes de 2022. Para os fãs de dramas históricos e narrativas intergeracionais que transitam entre um "The Crown" e um"This Is Us" , mas com um toque de "Minari", "Pachinko" oferece uma experiência igualmente emocionante e por si só, bastante profunda.
A trama de "Pachinko" começa no início do século 20, durante o período da ocupação japonesa na Coreia, e se estende até o final do século, traçando a jornada de Sunja, uma jovem coreana cuja vida é irrevogavelmente alterada por um romance proibido e uma série de escolhas difíceis. A história se desdobra em múltiplas linhas do tempo, acompanhando a vida de Sunja desde sua juventude até a velhice, bem como as experiências de seus descendentes, que lutam para encontrar seu lugar em um mundo que muitas vezes os rejeita. Confira o trailer (em inglês):
Soo Hugh adapta o romance de Min Jin Lee com uma sensibilidade que respeita tanto a riqueza histórica quanto a profundidade emocional do material original. A série é estruturada de forma não linear, saltando entre diferentes períodos e perspectivas, o que permite uma exploração mais rica e complexa dos temas propostos pelo roteiro, mas que também exige uma atenção maior da audiência. Essa estrutura narrativa reflete a natureza multifacetada da gênese coreana, onde o passado e o presente se entrelaçam constantemente para discutir as marcas profundas de sua colonização. A direção de "Pachinko", conduzida por nomes como Kogonada (de "After Yang") e Justin Chon (de "Blue Bayou"), ambos premiados em Cannes com o "Un Certain Regard Award", é notável por sua beleza visual e sua atenção meticulosa aos detalhes históricos e culturais. Kogonada, conhecido por seu estilo visual elegante e contemplativo em filmes como "Columbus", traz uma sensibilidade estética que eleva cada cena, transformando a série em uma obra de arte visual. Justin Chon, por sua vez, traz uma crueza emocional e uma autenticidade aos personagens, especialmente nas cenas que lidam com o racismo, a pobreza e a luta por dignidade em um ambiente hostil.
A Fotografia de Florian Hoffmeister (de "Tár") e de Ante Cheng (de "Blue Bayou"), de fato é um espetáculo à parte! Deslumbrante, capturando a rica diversidade de paisagens e ambientes que vão desde as aldeias costeiras da Coreia até as ruas densamente povoadas e industriais de Osaka. O uso de iluminação natural e enquadramentos cuidadosamente compostos contribui para a atmosfera imersiva da série, transportando a audiência para cada momento e lugar com uma autenticidade impressionante. Alinhado com um Desenho de Produção digno de muito prêmios, as mudanças da fotografia refletem o mood de cada época com perfeição - com tons mais suaves e nostálgicos para os flashbacks e uma abordagem mais sombria e gritante para o presente. Já o elenco de "Pachinko", o que dizer? É um dos maiores trunfos da série sem a menor dúvida. Minha Kim, como a jovem Sunja, entrega uma performance de partir o coração, capturando a inocência e a determinação de uma mulher jovem que se recusa a ser definida por suas circunstâncias. Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar por "Minari", é igualmente impressionante como a versão mais velha da personagem - ela traz uma profundidade emocional impressionante, que reflete as muitas décadas de dor, perda e resistência de Sunja. Lee Min-ho, como Hansu, é simultaneamente charmoso e moralmente ambíguo - um personagem que personifica muitas das contradições e desafios enfrentados pelos coreanos que tentavam se integrar em uma sociedade que os marginalizava. Jin Ha, interpretando Solomon, neto de Sunja, é uma adição poderosa ao elenco, representando a geração mais jovem que luta para reconciliar seu patrimônio cultural com seu desejo de sucesso e pertencimento em um mundo globalizado.
"Pachinko" discute a importância de uma identidade cultural sólida. A série não apenas narra os desafios enfrentados pelos coreanos que migraram para o Japão, mas também examina como essas experiências moldaram as gerações futuras. É realmente uma exploração sensível de como a história, a cultura e as escolhas pessoais se entrelaçam para definir a individualidade perante sua comunidade. É importante pontuar que o roteiro ainda destaca as desigualdades e as injustiças sistêmicas que os personagens enfrentam, oferecendo uma crítica incisiva da xenofobia e do colonialismo. Veja, a decisão de intercalar múltiplas gerações permite uma discussão mais rica e matizada sobre como o legado, seja de um trauma ou de sua resistência, é transmitido e transformado ao longo do tempo. Aclamada por sua narrativa ambiciosa e produção de altíssima qualidade, "Pachinko" é um testemunho da resiliência humana e da complexidade da experiência migratória - uma visão ampla que é tanto educativa quanto emocionalmente ressonante.
Imperdível!
"Pachinko" não é uma série fácil e muito menos daquelas que entregam respostas rápidas - e isso vai exigir uma certa paciência, mas que será recompensada com uma belíssima poesia visual e narrativa que se pauta no melodrama de uma história de vida através das gerações. Lançada em 2022 para o Apple TV+, essa série criada pela Soo Hugh ("The Killing"), é uma verdadeira jornada épica que narra a saga de uma família coreana ao longo de quatro gerações, explorando temas como identidade, resiliência e até como o impacto da colonização reflete na sociedade até hoje. Baseada no aclamado romance homônimo de Min Jin Lee, "Pachinko" é uma obra emocionalmente rica, que abrange décadas de histórias, oferecendo uma visão íntima da diáspora coreana no Japão. Com uma narrativa realmente cativante, em muitos momentos até flertando com novelesco, "Pachinko" inegavelmente se destaca como uma das séries mais ambiciosas e envolventes de 2022. Para os fãs de dramas históricos e narrativas intergeracionais que transitam entre um "The Crown" e um"This Is Us" , mas com um toque de "Minari", "Pachinko" oferece uma experiência igualmente emocionante e por si só, bastante profunda.
A trama de "Pachinko" começa no início do século 20, durante o período da ocupação japonesa na Coreia, e se estende até o final do século, traçando a jornada de Sunja, uma jovem coreana cuja vida é irrevogavelmente alterada por um romance proibido e uma série de escolhas difíceis. A história se desdobra em múltiplas linhas do tempo, acompanhando a vida de Sunja desde sua juventude até a velhice, bem como as experiências de seus descendentes, que lutam para encontrar seu lugar em um mundo que muitas vezes os rejeita. Confira o trailer (em inglês):
Soo Hugh adapta o romance de Min Jin Lee com uma sensibilidade que respeita tanto a riqueza histórica quanto a profundidade emocional do material original. A série é estruturada de forma não linear, saltando entre diferentes períodos e perspectivas, o que permite uma exploração mais rica e complexa dos temas propostos pelo roteiro, mas que também exige uma atenção maior da audiência. Essa estrutura narrativa reflete a natureza multifacetada da gênese coreana, onde o passado e o presente se entrelaçam constantemente para discutir as marcas profundas de sua colonização. A direção de "Pachinko", conduzida por nomes como Kogonada (de "After Yang") e Justin Chon (de "Blue Bayou"), ambos premiados em Cannes com o "Un Certain Regard Award", é notável por sua beleza visual e sua atenção meticulosa aos detalhes históricos e culturais. Kogonada, conhecido por seu estilo visual elegante e contemplativo em filmes como "Columbus", traz uma sensibilidade estética que eleva cada cena, transformando a série em uma obra de arte visual. Justin Chon, por sua vez, traz uma crueza emocional e uma autenticidade aos personagens, especialmente nas cenas que lidam com o racismo, a pobreza e a luta por dignidade em um ambiente hostil.
A Fotografia de Florian Hoffmeister (de "Tár") e de Ante Cheng (de "Blue Bayou"), de fato é um espetáculo à parte! Deslumbrante, capturando a rica diversidade de paisagens e ambientes que vão desde as aldeias costeiras da Coreia até as ruas densamente povoadas e industriais de Osaka. O uso de iluminação natural e enquadramentos cuidadosamente compostos contribui para a atmosfera imersiva da série, transportando a audiência para cada momento e lugar com uma autenticidade impressionante. Alinhado com um Desenho de Produção digno de muito prêmios, as mudanças da fotografia refletem o mood de cada época com perfeição - com tons mais suaves e nostálgicos para os flashbacks e uma abordagem mais sombria e gritante para o presente. Já o elenco de "Pachinko", o que dizer? É um dos maiores trunfos da série sem a menor dúvida. Minha Kim, como a jovem Sunja, entrega uma performance de partir o coração, capturando a inocência e a determinação de uma mulher jovem que se recusa a ser definida por suas circunstâncias. Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar por "Minari", é igualmente impressionante como a versão mais velha da personagem - ela traz uma profundidade emocional impressionante, que reflete as muitas décadas de dor, perda e resistência de Sunja. Lee Min-ho, como Hansu, é simultaneamente charmoso e moralmente ambíguo - um personagem que personifica muitas das contradições e desafios enfrentados pelos coreanos que tentavam se integrar em uma sociedade que os marginalizava. Jin Ha, interpretando Solomon, neto de Sunja, é uma adição poderosa ao elenco, representando a geração mais jovem que luta para reconciliar seu patrimônio cultural com seu desejo de sucesso e pertencimento em um mundo globalizado.
"Pachinko" discute a importância de uma identidade cultural sólida. A série não apenas narra os desafios enfrentados pelos coreanos que migraram para o Japão, mas também examina como essas experiências moldaram as gerações futuras. É realmente uma exploração sensível de como a história, a cultura e as escolhas pessoais se entrelaçam para definir a individualidade perante sua comunidade. É importante pontuar que o roteiro ainda destaca as desigualdades e as injustiças sistêmicas que os personagens enfrentam, oferecendo uma crítica incisiva da xenofobia e do colonialismo. Veja, a decisão de intercalar múltiplas gerações permite uma discussão mais rica e matizada sobre como o legado, seja de um trauma ou de sua resistência, é transmitido e transformado ao longo do tempo. Aclamada por sua narrativa ambiciosa e produção de altíssima qualidade, "Pachinko" é um testemunho da resiliência humana e da complexidade da experiência migratória - uma visão ampla que é tanto educativa quanto emocionalmente ressonante.
Imperdível!
"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.
Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:
"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.
Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.
Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.
Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!
"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.
Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:
"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.
Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.
Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.
Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!
Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.
A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).
O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.
Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.
A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).
O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.
Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.
A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):
"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.
A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.
Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.
Vale seu play!
"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.
A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):
"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.
A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.
Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.
Vale seu play!
O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!
Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:
Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar. É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!
Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!
"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!
Vale a pena!
O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!
Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:
Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar. É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!
Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!
"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!
Vale a pena!