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O.J.: Made in America

Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.

Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):

Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.

Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de  O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.

"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.

Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):

Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.

Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de  O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.

"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!

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Observador

Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que  "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs". 

A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.

Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia. 

Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.

"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.

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Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que  "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs". 

A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.

Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia. 

Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.

"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.

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Olhos que condenam

"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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Onde nascem os fortes

Seguindo o padrão Globo, "Onde nascem os fortes" pode ser definida como uma história de amores impossíveis, ódio e perdão, que se passa no sertão do Nordeste, um território onde, às vezes, quem vence é o mais forte e não a lei. 

A minissérie da Globo mostra o desespero de uma irmã em busca de respostas - Nonato (Marco Pigossi) desaparece sem deixar rastros após flertar justamente com a amante de Pedro (Alexandre Nero), a sedutora Joana (Maeve Jinkings). O suposto envolvimento de Pedro, o homem mais poderoso da cidade, no sumiço de Nonato é o estopim de uma batalha que interrompe de forma abrupta romances, altera o destino de uns e obriga outros a desenterrarem segredos de família. 

Eu costumo dizer que trabalho de Diretor bom é simples e ao mesmo tempo elegante. Em todos os projetos do José Luiz Villamarim (e sua parceria com o fotógrafo e diretor Walter Carvalho) a câmera está sempre no lugar certo, mesmo que seja no lugar mais inusitado. Dessa vez ele não dirigiu de ponta a ponta como de costume, mas sua condução artística está impressa em cada detalhe: nada de muitos cortes (aquela coisa de plano, contra-plano e geral); "pra que?" se dá pra fazer em um plano único e fica lindo! Mais uma vez vemos uma bela fotografia, como sempre cinematográfica! Alice Wegmann já tinha me chamado muito a atenção em "Ligações Perigosas" e agora, certamente, sobe de patamar. Alexandre Nero e Henrique Dias, impecáveis - mas aí não é novidade!

Já o texto do George Moura, mesmo com a forte personalidade que lhe é característica, não é consistente o bastante para suportar tantos episódios: 53 no total! Se fossem 10, eu diria que a minissérie seria um enorme sucesso pois, de fato, é uma linda produção, com uma premissa muito interessante (mesmo não sendo das mais originais), uma atmosfera criada pelo Villamarim que trouxe a angustia suficiente para nos identificarmos com a protagonista e querer segui-la durante toda essa dolorosa jornada. Pena que o texto foi perdendo força com episódios completamente dispensáveis. Pena mesmo!

Vale o play, claro, mas só se você estiver disposto a assistir uma novela um pouco mais curta!

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Seguindo o padrão Globo, "Onde nascem os fortes" pode ser definida como uma história de amores impossíveis, ódio e perdão, que se passa no sertão do Nordeste, um território onde, às vezes, quem vence é o mais forte e não a lei. 

A minissérie da Globo mostra o desespero de uma irmã em busca de respostas - Nonato (Marco Pigossi) desaparece sem deixar rastros após flertar justamente com a amante de Pedro (Alexandre Nero), a sedutora Joana (Maeve Jinkings). O suposto envolvimento de Pedro, o homem mais poderoso da cidade, no sumiço de Nonato é o estopim de uma batalha que interrompe de forma abrupta romances, altera o destino de uns e obriga outros a desenterrarem segredos de família. 

Eu costumo dizer que trabalho de Diretor bom é simples e ao mesmo tempo elegante. Em todos os projetos do José Luiz Villamarim (e sua parceria com o fotógrafo e diretor Walter Carvalho) a câmera está sempre no lugar certo, mesmo que seja no lugar mais inusitado. Dessa vez ele não dirigiu de ponta a ponta como de costume, mas sua condução artística está impressa em cada detalhe: nada de muitos cortes (aquela coisa de plano, contra-plano e geral); "pra que?" se dá pra fazer em um plano único e fica lindo! Mais uma vez vemos uma bela fotografia, como sempre cinematográfica! Alice Wegmann já tinha me chamado muito a atenção em "Ligações Perigosas" e agora, certamente, sobe de patamar. Alexandre Nero e Henrique Dias, impecáveis - mas aí não é novidade!

Já o texto do George Moura, mesmo com a forte personalidade que lhe é característica, não é consistente o bastante para suportar tantos episódios: 53 no total! Se fossem 10, eu diria que a minissérie seria um enorme sucesso pois, de fato, é uma linda produção, com uma premissa muito interessante (mesmo não sendo das mais originais), uma atmosfera criada pelo Villamarim que trouxe a angustia suficiente para nos identificarmos com a protagonista e querer segui-la durante toda essa dolorosa jornada. Pena que o texto foi perdendo força com episódios completamente dispensáveis. Pena mesmo!

Vale o play, claro, mas só se você estiver disposto a assistir uma novela um pouco mais curta!

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Only Murders in the Building

Only Murders in the Building

"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

Vale muito o seu play!

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"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

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Operação Lioness

Operação Lioness" ou simplesmente "Lioness", é uma série com muita ação e boas pitadas de drama político, que mergulha nos perigos e nas complexidades da vida de agentes secretos envolvidos em operações especiais anti-terrorismo. Criada pelo Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em séries como "Yellowstone" e "Mayor of Kingstown", "Lioness" repete sua fórmula de sucesso de "Homeland", com uma narrativa intensa e focada em personagens realmente bem desenvolvidos, oferecendo uma visão cheia de adrenalina de um mundo onde a espionagem se mistura com o cotidiano para entregar episódios de tirar o fôlego!

A trama, basicamente, segue a história de Joe (Zoe Saldaña), uma agente da CIA encarregada de liderar uma unidade ultra-secreta de operações especiais conhecida como "Lioness". Essa unidade é composta por mulheres altamente treinadas, cuja missão é se infiltrar em redes terroristas de alto risco, ganhando a confiança de pessoas próximas aos alvos e com isso realizar operações suicidas que são cruciais para a segurança nacional dos Estados Unidos. Confira o trailer:

O mais interessante de "Lioness" é a forma como a série sabe explorar tanto os perigos físicos das missões quanto os dilemas morais e emocionais enfrentados pelas protagonistas - especialmente quando tentam equilibrar essa vida dupla, muitas vezes com lealdade conflitantes, e onde os traumas psicológicos dessas atividades clandestinas parecem impossíveis de lidar com naturalidade. Sheridan, mais uma vez, traz uma intensidade característica à narrativa, que é envolvente e implacável. Ele constrói o roteiro da temporada com uma estrutura que alterna entre cenas de ação explosivas e momentos de desenvolvimento de personagem mais introspectivos, criando um equilíbrio que mantém a audiência imersa na trama ao mesmo tempo em que tenta se conectar com as motivações dos personagens - nesse ponto, a série, de fato, traz muito de "Homeland".

Rica em tensão e suspense, fica fácil para a direção de John Hillcoat (e equipe) encontrar um ritmo que basicamente nos impede de parar de assistir um episódio após o outro. Tudo é muito bem executado, com um estilo muito particular e uma cinematografia que captura a vastidão e o isolamento dos ambientes desérticos onde muitas das missões se desenrolam com a mesma competência com que enquadra o visual mais cosmopolita das grandes cidades onde as estratégias são desenhadas. O uso de câmeras na mão e os ângulos mais dinâmicos durante as cenas de ação aumentam a sensação de urgência e perigo, enquanto as sequências mais calmas utilizam enquadramentos fechados para explorar a vulnerabilidade emocional dos personagens - eu diria que aqui temos um thriller de ação e espionagem com alma. Nesse sentido, Zoe Saldaña entrega uma performance poderosa, liderando o elenco com uma intensidade que reflete a dureza de uma personagem cheia de marcas - repare como ela traz aquela camada de humanidade para um papel que poderia facilmente ter sido unidimensional, mostrando tanto a força quanto as dores de uma agente que é, antes de tudo, uma mulher de carne e osso. 

"Lioness" sabe perfeitamente como explorar temas espinhosos como a moralidade das operações, os efeitos psicológicos da violência e o impacto das decisões de "colarinho branco" nas vidas dos indivíduos. A série questiona as linhas tênues entre bem e mal, certo e errado, muitas vezes colocando suas personagens em posições onde a escolha certa é ambígua ou até inexistente. Essa exploração adiciona profundidade à narrativa e oferece para a audiência uma experiência desconfortavelmente mais reflexiva - o prólogo do primeiro episódio é um bom exemplo desse conceito na prática. Eficaz em capturar o perigo e a incerteza do mundo da espionagem moderna, ao mesmo tempo em que oferece uma visão humana das pessoas que realizam essas missões, "Lioness" merece muitos elogios por conseguir traçar uma jornada de ação e drama de uma maneira que nos mantém engajados e reflexivos sobre os reais custos do dever e da lealdade.

Olha, entretenimento da melhor qualidade! Só dar o play!

Assista Agora

Operação Lioness" ou simplesmente "Lioness", é uma série com muita ação e boas pitadas de drama político, que mergulha nos perigos e nas complexidades da vida de agentes secretos envolvidos em operações especiais anti-terrorismo. Criada pelo Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em séries como "Yellowstone" e "Mayor of Kingstown", "Lioness" repete sua fórmula de sucesso de "Homeland", com uma narrativa intensa e focada em personagens realmente bem desenvolvidos, oferecendo uma visão cheia de adrenalina de um mundo onde a espionagem se mistura com o cotidiano para entregar episódios de tirar o fôlego!

A trama, basicamente, segue a história de Joe (Zoe Saldaña), uma agente da CIA encarregada de liderar uma unidade ultra-secreta de operações especiais conhecida como "Lioness". Essa unidade é composta por mulheres altamente treinadas, cuja missão é se infiltrar em redes terroristas de alto risco, ganhando a confiança de pessoas próximas aos alvos e com isso realizar operações suicidas que são cruciais para a segurança nacional dos Estados Unidos. Confira o trailer:

O mais interessante de "Lioness" é a forma como a série sabe explorar tanto os perigos físicos das missões quanto os dilemas morais e emocionais enfrentados pelas protagonistas - especialmente quando tentam equilibrar essa vida dupla, muitas vezes com lealdade conflitantes, e onde os traumas psicológicos dessas atividades clandestinas parecem impossíveis de lidar com naturalidade. Sheridan, mais uma vez, traz uma intensidade característica à narrativa, que é envolvente e implacável. Ele constrói o roteiro da temporada com uma estrutura que alterna entre cenas de ação explosivas e momentos de desenvolvimento de personagem mais introspectivos, criando um equilíbrio que mantém a audiência imersa na trama ao mesmo tempo em que tenta se conectar com as motivações dos personagens - nesse ponto, a série, de fato, traz muito de "Homeland".

Rica em tensão e suspense, fica fácil para a direção de John Hillcoat (e equipe) encontrar um ritmo que basicamente nos impede de parar de assistir um episódio após o outro. Tudo é muito bem executado, com um estilo muito particular e uma cinematografia que captura a vastidão e o isolamento dos ambientes desérticos onde muitas das missões se desenrolam com a mesma competência com que enquadra o visual mais cosmopolita das grandes cidades onde as estratégias são desenhadas. O uso de câmeras na mão e os ângulos mais dinâmicos durante as cenas de ação aumentam a sensação de urgência e perigo, enquanto as sequências mais calmas utilizam enquadramentos fechados para explorar a vulnerabilidade emocional dos personagens - eu diria que aqui temos um thriller de ação e espionagem com alma. Nesse sentido, Zoe Saldaña entrega uma performance poderosa, liderando o elenco com uma intensidade que reflete a dureza de uma personagem cheia de marcas - repare como ela traz aquela camada de humanidade para um papel que poderia facilmente ter sido unidimensional, mostrando tanto a força quanto as dores de uma agente que é, antes de tudo, uma mulher de carne e osso. 

"Lioness" sabe perfeitamente como explorar temas espinhosos como a moralidade das operações, os efeitos psicológicos da violência e o impacto das decisões de "colarinho branco" nas vidas dos indivíduos. A série questiona as linhas tênues entre bem e mal, certo e errado, muitas vezes colocando suas personagens em posições onde a escolha certa é ambígua ou até inexistente. Essa exploração adiciona profundidade à narrativa e oferece para a audiência uma experiência desconfortavelmente mais reflexiva - o prólogo do primeiro episódio é um bom exemplo desse conceito na prática. Eficaz em capturar o perigo e a incerteza do mundo da espionagem moderna, ao mesmo tempo em que oferece uma visão humana das pessoas que realizam essas missões, "Lioness" merece muitos elogios por conseguir traçar uma jornada de ação e drama de uma maneira que nos mantém engajados e reflexivos sobre os reais custos do dever e da lealdade.

Olha, entretenimento da melhor qualidade! Só dar o play!

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Origem

É tipo "Lost"! Se você já ouviu falar da nova série de mistério, "Origem" (ou "From" em seu original), é bem possível que a afirmação sobre a semelhança com o sucesso dos anos 2000, "Lost", venha logo em seguida para chancelar sua história que, de fato, carrega muitos elementos narrativos da série de J. J. Abrams, Jeffrey Lieber, Damon Lindelof. Aliás, nem só no roteiro encontramos semelhanças, mas também na fotografia, na direção, na trilha sonora e, obviamente, no mood da série - e isso tem seu lado bom, afinal é inegável o envolvimento da audiência com esse tipo de trama; mas também carrega o seu lado ruim, afinal, será que com tantas perguntas abertas, seu criador, John Griffi, sabe para onde está conduzindo a história?

Basicamente "Origem" acompanha os residentes de uma misteriosa cidade que simplesmente aprisiona todos que chegam ali. Enquanto alguns deles tentam desesperadamente escapar do local, todos os moradores precisam sobreviver às ameaças que vem floresta: criaturas terríveis que aparecem a noite e que tentam te convencer a deixa-las entrar em suas casas (para matar). Confira o trailer:

Produzida pelos irmãos Russo e por Jack Bender, uma das mentes criativas que também produziu e dirigiu "Lost", "Origem" chama a atenção de cara por toda atmosfera de tensão que o primeiro episódio foi capaz dos nos apresentar - sem, obviamente, gastar o orçamento absurdo (para época) do piloto de duas horas de "Lost". É inegável que o novo projeto de Griffi possui um roteiro dos mais inteligentes, repleto de possibilidades e teorias que funcionam como isca para que a audiência não pare de assistir os demais episódios por nada desse mundo - a trama é uma verdadeira batalha contra o desconhecido, onde a nossa paciência e capacidade de dedução, ainda bem, são colocadas à prova novamente, 15 anos depois.

Embora a cidade seja um organismo vivo, como a ilha, existe um certo receio de "viajar demais" e isso acaba trazendo uma sensação de equilíbrio para a história que transita perfeitamente entre o suspense, o terror e drama - bem na linha Stephen King, diga-se de passagem. Bender, como diretor, sabe das fragilidades de "Lost" (que nunca foi na direção) então praticamente repete só o que deu certo, ou seja,submeter seus personagens ao desconhecido, ao terror daquilo que não se pode descrever com exatidão, e como isso aproveita dos pesadelos torturantes de vários episódios para em algum momento também oferecer um suspiro de esperança - suficiente para que a audiência acredite que teremos algumas respostas em breve em meio a algumas teorias e suposições.

"Origem" tem cara de TV aberta, mas é do MGM+, então com certeza, não deve sofrer com episódios sem força para suportar a trama. Isso é bem perceptível na primeira temporada inteira que praticamente nos deixa sem fôlego em várias passagens - a sequência da invasão da Casa Colônia é angustiante, embora tenha faltado um pouco mais de coragem para o roteiro ser ainda mais impactante (algo como o "casamento vermelho", por exemplo). Nada que prejudique, muito pelo contrário, já que o potencial está ali e é perceptível. Depois de dez episódios, minha mais sincera impressão é que finalmente "Lost" pode encontrar sua redenção graças ao "primo pobre" que aprendeu a lição e se transformou em um grande fenômeno justamente por isso! Vamos aguardar!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

É tipo "Lost"! Se você já ouviu falar da nova série de mistério, "Origem" (ou "From" em seu original), é bem possível que a afirmação sobre a semelhança com o sucesso dos anos 2000, "Lost", venha logo em seguida para chancelar sua história que, de fato, carrega muitos elementos narrativos da série de J. J. Abrams, Jeffrey Lieber, Damon Lindelof. Aliás, nem só no roteiro encontramos semelhanças, mas também na fotografia, na direção, na trilha sonora e, obviamente, no mood da série - e isso tem seu lado bom, afinal é inegável o envolvimento da audiência com esse tipo de trama; mas também carrega o seu lado ruim, afinal, será que com tantas perguntas abertas, seu criador, John Griffi, sabe para onde está conduzindo a história?

Basicamente "Origem" acompanha os residentes de uma misteriosa cidade que simplesmente aprisiona todos que chegam ali. Enquanto alguns deles tentam desesperadamente escapar do local, todos os moradores precisam sobreviver às ameaças que vem floresta: criaturas terríveis que aparecem a noite e que tentam te convencer a deixa-las entrar em suas casas (para matar). Confira o trailer:

Produzida pelos irmãos Russo e por Jack Bender, uma das mentes criativas que também produziu e dirigiu "Lost", "Origem" chama a atenção de cara por toda atmosfera de tensão que o primeiro episódio foi capaz dos nos apresentar - sem, obviamente, gastar o orçamento absurdo (para época) do piloto de duas horas de "Lost". É inegável que o novo projeto de Griffi possui um roteiro dos mais inteligentes, repleto de possibilidades e teorias que funcionam como isca para que a audiência não pare de assistir os demais episódios por nada desse mundo - a trama é uma verdadeira batalha contra o desconhecido, onde a nossa paciência e capacidade de dedução, ainda bem, são colocadas à prova novamente, 15 anos depois.

Embora a cidade seja um organismo vivo, como a ilha, existe um certo receio de "viajar demais" e isso acaba trazendo uma sensação de equilíbrio para a história que transita perfeitamente entre o suspense, o terror e drama - bem na linha Stephen King, diga-se de passagem. Bender, como diretor, sabe das fragilidades de "Lost" (que nunca foi na direção) então praticamente repete só o que deu certo, ou seja,submeter seus personagens ao desconhecido, ao terror daquilo que não se pode descrever com exatidão, e como isso aproveita dos pesadelos torturantes de vários episódios para em algum momento também oferecer um suspiro de esperança - suficiente para que a audiência acredite que teremos algumas respostas em breve em meio a algumas teorias e suposições.

"Origem" tem cara de TV aberta, mas é do MGM+, então com certeza, não deve sofrer com episódios sem força para suportar a trama. Isso é bem perceptível na primeira temporada inteira que praticamente nos deixa sem fôlego em várias passagens - a sequência da invasão da Casa Colônia é angustiante, embora tenha faltado um pouco mais de coragem para o roteiro ser ainda mais impactante (algo como o "casamento vermelho", por exemplo). Nada que prejudique, muito pelo contrário, já que o potencial está ali e é perceptível. Depois de dez episódios, minha mais sincera impressão é que finalmente "Lost" pode encontrar sua redenção graças ao "primo pobre" que aprendeu a lição e se transformou em um grande fenômeno justamente por isso! Vamos aguardar!

Vale muito o seu play!

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Os Crimes da Nossa Mãe

"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.

A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:

Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em  "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?

De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa. 

Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!

Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência. 

Vale muito o seu play!

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"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.

A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:

Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em  "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?

De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa. 

Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!

Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência. 

Vale muito o seu play!

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Os Encanadores da Casa Branca

"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

Vale muito a pena assistir!"

Assista Agora

"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

Vale muito a pena assistir!"

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Os Filhos de Sam

A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

Vale o play!

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A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

Vale o play!

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Os Homens que venderam a Copa

Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".

Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:

Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.

DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".

De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!

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Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".

Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:

Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.

DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".

De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!

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Os Segredos que Guardamos

Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Os Suspeitos

Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Oslo

Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

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Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

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Osmosis

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

Assista Agora

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Outsider

Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

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Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

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Ozark

Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez

"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:

É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.

Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.

Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!

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"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:

É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.

Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.

Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!

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Pagan Peak

Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

Vale muito (muito mesmo) o seu play!

Assista Agora

Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

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Palmer

"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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