"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.
"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:
Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro - isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá!
"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos.
Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.
Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!
"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.
"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:
Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro - isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá!
"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos.
Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.
Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!
Se você, como eu, achava que "DeLorean" era apenas o carro que viajava no tempo em "De Volta para o Futuro", você precisa assistir essa excelente minissérie documental da Netflix, pois a história, te garanto, vai muito além do objeto de desejo de Martin McFly e da genialidade do Doutor Brown.
"Mito e Magnata: John Delorean" explora a ascensão e queda de um prodígio engenheiro executivo da GM que se tornou um verdadeiro ícone do mercado automobilístico ao criar a DeLorean Motors Company. John DeLorean, uma espécie de Elon Musk dos anos 60/70, era um visionário, mas também um personagem carregado deganância e insegurança, que conseguiu criar um império com a mesma velocidade que o viu desabar. Confira o trailer (em inglês):
Em rápidos três episódios de 40 minutos, você vai conhecer o mito John DeLorean em seu palco dizendo frases como: "Não há atalhos para a qualidade" ou "A lealdade e satisfação do cliente são as únicas bases sólidas para crescer nesse mercado", mas também vai conhecer os bastidores (bem menos glamoroso) de um homem cheio de falhas e que se deixou levar pela possibilidade de se tornar uma lenda sem estar ao menos preparado psicologicamente para isso. Quando ele deixou a GM por não acreditar mais nos produtos que a empresa estava criando, seu propósito era muito claro: seria possível inovar de forma muito mais sustentável em um mercado que sofria com a crise do petróleo na década de 70 - aliás, essa história (e a farsa) lembra muito a jornada de Elizabeth Holmes de "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício".
Com entrevistas exclusivas e imagens inéditas gravadas há algum tempo pelo premiado D.A Pennebaker (Bob Dylan: Don’t Look Back), o diretor Mike Connolly faz um verdadeiro estudo de caso sobre a DeLorean Motors Company ao mesmo tempo que analisa o perfil de seu fundador. Os depoimentos de sua ex-esposa e de seu filho nos dias atuais, já evidenciam um final não tão feliz para a jornada empreendedora de John com reflexos diretos na vida pessoal. Eu diria que a minissérie é mais um exemplo do que não se deve fazer ao gerir um negócio promissor do que propriamente uma aula de empreendedorismo.
"Mito e Magnata: John Delorean" é direto, fácil de entender e tem uma narrativa bastante dinâmica para um documentário que transita muito bem entre vida pessoal e profissional, porém deixa alguns assuntos importantes de lado, como os outros casamentos de John após sua falência e a negociação para ter um "DeLorean" no filme que já comentamos. Ao traçar uma linha temporal bastante recortada, mas bem desenvolvida, a minissérie cumpre seu papel de deixar absolutamente claro que a pessoa que estava no palco era uma versão bastante limitada de um executivo que sonhou mais do que realizou, por falta de foco, organização, lealdade e de caráter - e que depois ficou mais claro ainda não tinha a menor condição moral de se tornar uma lenda.
Observação: tenho a impressão que, muito em breve, teremos muito mais histórias como essa, porque o que existe de empreendedor bom de palco e ruim de negócio, é impressionante!
Vale pela aula e pelo entretenimento!
Se você, como eu, achava que "DeLorean" era apenas o carro que viajava no tempo em "De Volta para o Futuro", você precisa assistir essa excelente minissérie documental da Netflix, pois a história, te garanto, vai muito além do objeto de desejo de Martin McFly e da genialidade do Doutor Brown.
"Mito e Magnata: John Delorean" explora a ascensão e queda de um prodígio engenheiro executivo da GM que se tornou um verdadeiro ícone do mercado automobilístico ao criar a DeLorean Motors Company. John DeLorean, uma espécie de Elon Musk dos anos 60/70, era um visionário, mas também um personagem carregado deganância e insegurança, que conseguiu criar um império com a mesma velocidade que o viu desabar. Confira o trailer (em inglês):
Em rápidos três episódios de 40 minutos, você vai conhecer o mito John DeLorean em seu palco dizendo frases como: "Não há atalhos para a qualidade" ou "A lealdade e satisfação do cliente são as únicas bases sólidas para crescer nesse mercado", mas também vai conhecer os bastidores (bem menos glamoroso) de um homem cheio de falhas e que se deixou levar pela possibilidade de se tornar uma lenda sem estar ao menos preparado psicologicamente para isso. Quando ele deixou a GM por não acreditar mais nos produtos que a empresa estava criando, seu propósito era muito claro: seria possível inovar de forma muito mais sustentável em um mercado que sofria com a crise do petróleo na década de 70 - aliás, essa história (e a farsa) lembra muito a jornada de Elizabeth Holmes de "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício".
Com entrevistas exclusivas e imagens inéditas gravadas há algum tempo pelo premiado D.A Pennebaker (Bob Dylan: Don’t Look Back), o diretor Mike Connolly faz um verdadeiro estudo de caso sobre a DeLorean Motors Company ao mesmo tempo que analisa o perfil de seu fundador. Os depoimentos de sua ex-esposa e de seu filho nos dias atuais, já evidenciam um final não tão feliz para a jornada empreendedora de John com reflexos diretos na vida pessoal. Eu diria que a minissérie é mais um exemplo do que não se deve fazer ao gerir um negócio promissor do que propriamente uma aula de empreendedorismo.
"Mito e Magnata: John Delorean" é direto, fácil de entender e tem uma narrativa bastante dinâmica para um documentário que transita muito bem entre vida pessoal e profissional, porém deixa alguns assuntos importantes de lado, como os outros casamentos de John após sua falência e a negociação para ter um "DeLorean" no filme que já comentamos. Ao traçar uma linha temporal bastante recortada, mas bem desenvolvida, a minissérie cumpre seu papel de deixar absolutamente claro que a pessoa que estava no palco era uma versão bastante limitada de um executivo que sonhou mais do que realizou, por falta de foco, organização, lealdade e de caráter - e que depois ficou mais claro ainda não tinha a menor condição moral de se tornar uma lenda.
Observação: tenho a impressão que, muito em breve, teremos muito mais histórias como essa, porque o que existe de empreendedor bom de palco e ruim de negócio, é impressionante!
Vale pela aula e pelo entretenimento!
Se você gosta de séries mais provocadoras como "Bad Boys e Bilionários: Índia" ou até de algo mais leve, tipo "entretenimento puro", como "The Con", pode dar o play em "Na Rota do Dinheiro Sujo" que sua diversão está garantida por algumas (boas) horas - até porquê a série já tem duas temporadas disponíveis na Netflix. Bem ao estilo Michael Moore, essa produção indicada ao Critics' Choice Documentary Award em 2018, apresenta uma ampla gama de perspectivas sobre o que existe de pior no ser humano quando o assunto é lucrar descontroladamente - mesmo que para isso muitas pessoas tenham que ser prejudicadas. Chega a embrulhar o estômago, mas é incrível como a narrativa criada pelo Josh Adler (de "Murder on Middle Beach") é envolvente!
Essa é uma série documental que inegavelmente provoca um certo fascínio por mergulhar no obscuro mundo da ganância sob diversas formas de "negócios" e "fraudes". Através de uma investigação detalhada e com relatos de muitos especialistas, jornalistas, autoridades e, claro, os envolvidos nos casos, "Na Rota do Dinheiro Sujo"expõe, sem a menor preocupação, as táticas e os métodos utilizados por indivíduos e organizações para ocultar as artimanhas que os levaram a ganhar muito dinheiro - obviamente proveniente de atividades ilegais. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida, uma das principais qualidades de "Na Rota do Dinheiro Sujo" é sua abordagem profunda, imparcial e objetiva sobre os casos. Digo imparcial porque ela se esforça ao máximo para mostrar sempre os dois lados da história - em alguns episódios isso é mais perceptível, em outros soa mais como uma convenção, porém em ambos os casos, Adler é capaz de criar uma atmosfera de indignação que fica impossível não julgar os envolvidos mesmo quando a complexidade do caso nos impede de ter total compreensão sobre os vieses do problema. Digo isso, pois a série tem sim um aspecto um tanto denso e invariavelmente técnico - isso credibiliza a narrativa, mas não a torna tão simples assim.
A produção também merece muitos elogios: o departamento de pesquisa faz um trabalho minucioso e a forma como o roteiro se preocupa com a apresentação dos fatos impressiona. Pouco a pouco, a narrativa vai nos fornecendo informações detalhadas sobre casos reais, muitas vezes apoiadas em imagens de arquivo, reconstituições e intervenções gráficas que nos ajudam a conectar os pontos e a entender os fluxos dos pensamentos e, claro, do dinheiro que essas artimanhas geraram. Já no primeiro episódio que desmascara o esquema da Volkswagen para burlar os testes de poluentes nos EUA, temos o exato tom do que vamos encontrar durante toda a temporada.
Embora a série contextualize os casos a partir de uma análise sobre os impactos financeiros, existe uma preocupação em pontuar como a sociedade também é prejudicada pelas fraudes. A produção explora como esse dinheiro sujo pode financiar do tráfico de drogas ao terrorismo, contribuindo assim para a desestabilização de economias e nações inteiras. Essa proposta da série, sem dúvida, cria camadas bastante relevantes, nos proporcionando uma compreensão ainda mais profunda sobre um cenário macro e como a importância do combate a esse tipo de crime deveria ser prioridade - e aqui cabe uma ressalva, já que alguns políticos fecham os olhos com receio do impacto que o assunto pode ter em seus mandatos.
"Dirty Money" (no original) pode ser um desafio para aqueles que não estão familiarizados com os assuntos que a série aborda. Além disso, em certos momentos, sua narrativa pode parecer excessivamente longa ou até repetitiva, mas eu te garanto, envolvido no tema do episódio, essa é uma das melhores séries sobre "fraudes" já produzida. Entretenimento e educação que faz valer o seu play!
Se você gosta de séries mais provocadoras como "Bad Boys e Bilionários: Índia" ou até de algo mais leve, tipo "entretenimento puro", como "The Con", pode dar o play em "Na Rota do Dinheiro Sujo" que sua diversão está garantida por algumas (boas) horas - até porquê a série já tem duas temporadas disponíveis na Netflix. Bem ao estilo Michael Moore, essa produção indicada ao Critics' Choice Documentary Award em 2018, apresenta uma ampla gama de perspectivas sobre o que existe de pior no ser humano quando o assunto é lucrar descontroladamente - mesmo que para isso muitas pessoas tenham que ser prejudicadas. Chega a embrulhar o estômago, mas é incrível como a narrativa criada pelo Josh Adler (de "Murder on Middle Beach") é envolvente!
Essa é uma série documental que inegavelmente provoca um certo fascínio por mergulhar no obscuro mundo da ganância sob diversas formas de "negócios" e "fraudes". Através de uma investigação detalhada e com relatos de muitos especialistas, jornalistas, autoridades e, claro, os envolvidos nos casos, "Na Rota do Dinheiro Sujo"expõe, sem a menor preocupação, as táticas e os métodos utilizados por indivíduos e organizações para ocultar as artimanhas que os levaram a ganhar muito dinheiro - obviamente proveniente de atividades ilegais. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida, uma das principais qualidades de "Na Rota do Dinheiro Sujo" é sua abordagem profunda, imparcial e objetiva sobre os casos. Digo imparcial porque ela se esforça ao máximo para mostrar sempre os dois lados da história - em alguns episódios isso é mais perceptível, em outros soa mais como uma convenção, porém em ambos os casos, Adler é capaz de criar uma atmosfera de indignação que fica impossível não julgar os envolvidos mesmo quando a complexidade do caso nos impede de ter total compreensão sobre os vieses do problema. Digo isso, pois a série tem sim um aspecto um tanto denso e invariavelmente técnico - isso credibiliza a narrativa, mas não a torna tão simples assim.
A produção também merece muitos elogios: o departamento de pesquisa faz um trabalho minucioso e a forma como o roteiro se preocupa com a apresentação dos fatos impressiona. Pouco a pouco, a narrativa vai nos fornecendo informações detalhadas sobre casos reais, muitas vezes apoiadas em imagens de arquivo, reconstituições e intervenções gráficas que nos ajudam a conectar os pontos e a entender os fluxos dos pensamentos e, claro, do dinheiro que essas artimanhas geraram. Já no primeiro episódio que desmascara o esquema da Volkswagen para burlar os testes de poluentes nos EUA, temos o exato tom do que vamos encontrar durante toda a temporada.
Embora a série contextualize os casos a partir de uma análise sobre os impactos financeiros, existe uma preocupação em pontuar como a sociedade também é prejudicada pelas fraudes. A produção explora como esse dinheiro sujo pode financiar do tráfico de drogas ao terrorismo, contribuindo assim para a desestabilização de economias e nações inteiras. Essa proposta da série, sem dúvida, cria camadas bastante relevantes, nos proporcionando uma compreensão ainda mais profunda sobre um cenário macro e como a importância do combate a esse tipo de crime deveria ser prioridade - e aqui cabe uma ressalva, já que alguns políticos fecham os olhos com receio do impacto que o assunto pode ter em seus mandatos.
"Dirty Money" (no original) pode ser um desafio para aqueles que não estão familiarizados com os assuntos que a série aborda. Além disso, em certos momentos, sua narrativa pode parecer excessivamente longa ou até repetitiva, mas eu te garanto, envolvido no tema do episódio, essa é uma das melhores séries sobre "fraudes" já produzida. Entretenimento e educação que faz valer o seu play!
"Não existe almoço grátis" - essa é uma expressão que usamos para classificar aqueles investimentos que expõem a ganância de pessoas que acreditam que podem ganhar muito dinheiro, rapidamente e com pouco risco; mas que na verdade não existem. A equação é muito simples: quanto maior o lucro, maior o risco - tudo que for diferente disso, pode desconfiar que tem algo errado. Em "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas" muitas pessoas embarcaram no hype dessa nova modalidade de investimento, as criptomoedas, e não se preocuparam em fazer a lição de casa de pesquisar sobre a empresa (e seus fundadores) que movimentaria seus ativos. O resultado: golpe!
O documentário além de explorar o misterioso caso da agência de criptomoedas canadense QuadrigaCX (definida por muitos como a maior do país) e a suposta morte do seu fundador Gerald “Gerry” Cotten que gerou um prejuízo de mais de 200 milhões de dólares para seus clientes, também pontua todas as teorias criadas em torno do caso e as investigações que foram feitas na época. Confira o trailer (em inglês):
Muito mais do que criar uma atmosfera conspiratória, "Trust No One: The Hunt for the Crypto King" (no original) funciona como um aviso! Talvez a frase de um dos entrevistados defina muito bem a dicotomia que é embarcar em uma oportunidade que parece única (e que muitos se beneficiam com ela): "eu confio muito mais na tecnologia, do que nas pessoas!". Ao assistir o documentário, original da Netflix, entendemos perfeitamente como Gerry Cotten construiu um império as custas da ingenuidade (e ganância) das pessoas. Seu estilo NERD ajudou a passar uma imagem de confiança, mas seu modo de agir em pouco difere do que fez Bernie Madoff em Wall Street (talvez o volume do golpe, mas acho que vale a comparação) - mais uma vez o Esquema Ponzi entra em ação (para saber mais sobre o assunto, sugiro que assistam "O Mago das Mentiras").
Embora o documentário faça um recorte interessante e fácil de entender sobre o que fez as pessoas passarem a considerar as criptomoedas como possibilidade de diversificação na carteira de investimentos, o diretor Luke Sewell foca mesmo no processo de investigação feito pelos próprios investidores lesados pela QuadrigaCX e por seu fundador. Obviamente que a morte prematura de Cotten, na Índia e justamente quando as pessoas viam o valor das criptos desabarem, gerou desconfiança. A partir de um grupo de Telegram, essas pessoas iniciam uma verdadeira força-tarefa para tentar reaver o dinheiro (perdido). Um dos personagens mais interessantes atende pelo apelido QCXINT - de máscara e com a voz distorcida, ele dá detalhes de toda a linha do tempo que resultou na resolução de todo mistério. Pela quantia superior a seis dígitos que ele perdeu, e pelo cuidado em nunca mostrar sua identidade, desconfio que seja alguém bem importante que também caiu no golpe.
"Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda" é um documentário rápido, de 90 minutos, interessante e dinâmico, além de muito curioso. Se olharmos por uma perspectiva mais antropológica, fica fácil perceber como o ser humano tem a tendência a querer justificar suas falhas (ou seus erros de julgamento) através da genialidade de quem conseguiu engana-lo. Muito mais do que genial, talvez a esperteza seja a qualidade de quem engana ao tocar no ponto que mais faz o olho da vitima brilhar: normalmente dinheiro fácil ou poder. A reflexão é boa, e o documentário também!
Vale o seu play!
"Não existe almoço grátis" - essa é uma expressão que usamos para classificar aqueles investimentos que expõem a ganância de pessoas que acreditam que podem ganhar muito dinheiro, rapidamente e com pouco risco; mas que na verdade não existem. A equação é muito simples: quanto maior o lucro, maior o risco - tudo que for diferente disso, pode desconfiar que tem algo errado. Em "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas" muitas pessoas embarcaram no hype dessa nova modalidade de investimento, as criptomoedas, e não se preocuparam em fazer a lição de casa de pesquisar sobre a empresa (e seus fundadores) que movimentaria seus ativos. O resultado: golpe!
O documentário além de explorar o misterioso caso da agência de criptomoedas canadense QuadrigaCX (definida por muitos como a maior do país) e a suposta morte do seu fundador Gerald “Gerry” Cotten que gerou um prejuízo de mais de 200 milhões de dólares para seus clientes, também pontua todas as teorias criadas em torno do caso e as investigações que foram feitas na época. Confira o trailer (em inglês):
Muito mais do que criar uma atmosfera conspiratória, "Trust No One: The Hunt for the Crypto King" (no original) funciona como um aviso! Talvez a frase de um dos entrevistados defina muito bem a dicotomia que é embarcar em uma oportunidade que parece única (e que muitos se beneficiam com ela): "eu confio muito mais na tecnologia, do que nas pessoas!". Ao assistir o documentário, original da Netflix, entendemos perfeitamente como Gerry Cotten construiu um império as custas da ingenuidade (e ganância) das pessoas. Seu estilo NERD ajudou a passar uma imagem de confiança, mas seu modo de agir em pouco difere do que fez Bernie Madoff em Wall Street (talvez o volume do golpe, mas acho que vale a comparação) - mais uma vez o Esquema Ponzi entra em ação (para saber mais sobre o assunto, sugiro que assistam "O Mago das Mentiras").
Embora o documentário faça um recorte interessante e fácil de entender sobre o que fez as pessoas passarem a considerar as criptomoedas como possibilidade de diversificação na carteira de investimentos, o diretor Luke Sewell foca mesmo no processo de investigação feito pelos próprios investidores lesados pela QuadrigaCX e por seu fundador. Obviamente que a morte prematura de Cotten, na Índia e justamente quando as pessoas viam o valor das criptos desabarem, gerou desconfiança. A partir de um grupo de Telegram, essas pessoas iniciam uma verdadeira força-tarefa para tentar reaver o dinheiro (perdido). Um dos personagens mais interessantes atende pelo apelido QCXINT - de máscara e com a voz distorcida, ele dá detalhes de toda a linha do tempo que resultou na resolução de todo mistério. Pela quantia superior a seis dígitos que ele perdeu, e pelo cuidado em nunca mostrar sua identidade, desconfio que seja alguém bem importante que também caiu no golpe.
"Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda" é um documentário rápido, de 90 minutos, interessante e dinâmico, além de muito curioso. Se olharmos por uma perspectiva mais antropológica, fica fácil perceber como o ser humano tem a tendência a querer justificar suas falhas (ou seus erros de julgamento) através da genialidade de quem conseguiu engana-lo. Muito mais do que genial, talvez a esperteza seja a qualidade de quem engana ao tocar no ponto que mais faz o olho da vitima brilhar: normalmente dinheiro fácil ou poder. A reflexão é boa, e o documentário também!
Vale o seu play!
Existe uma linha muito tênue entre o "marketing de percepção" e a "mentira compulsiva" e "O Clube dos Meninos Bilionários" talvez seja o melhor exemplo de como os limites podem ser ultrapassados sem tantas dificuldades, causando estragos inimagináveis - e aqui cabe um comentário bastante pertinente: se eu não soubesse que o filme foi baseado em fatos reais que envolveram Joe Hunt e Dean Karny, provavelmente eu não daria tanto crédito para a história. Mas é impressionante o que acontece com os protagonistas depois que uma interpretação errada de um conceito de gestão importante se transforma em uma bola de neve com consequências gravíssimas para a vida de tantas pessoas.
A história se passa em Los Angeles, no início da década de 80. Joe Hunt (Ansel Elgort) é um rapaz inteligente, ambicioso. Ele se junta com Dean (Taron Egerton), um velho amigo de escola, para criar uma empresa de investimentos baseado inicialmente em dois ativos bem arriscados: ouro e um esquema de pirâmide para mostrar resultados quase que imediatos e assim trazer mais investidores para a empreitada. Com o apoio de um grupo seleto de jovens estudantes ricos e de um investidor pouco confiável, a empresa decola rapidamente, porém as coisas começam a se complicar e o que parecia ser um plano infalível, se prova um esquema mortal. Confira o trailer (em inglês):
"O Clube dos Meninos Bilionários" é um mistura de "Altos Negócios" e o "O Primeiro Milhão" com o "O Mago das Mentiras". Isso só mostra que não é que hoje que histórias sobre escândalos envolvendo grandes empresários especializados em enriquecimento rápido, custe o que custar, chamam muita atenção. Nesse caso, inclusive, o diretor James Cox, de “Wonderland“, traz para a tela sua visão sobre uma época maluca onde os investimentos transformaram a percepção da sociedade americana sobre a forma de ganhar dinheiro e, claro, que não existiam mocinhos nesse meio - como o próprio investidor Ron Levin (Kevin Spacey) deixa claro no filme.
Com uma reconstituição de época bastante competente, extremamente alinhada com a fotografia do diretor J. Michael Muro (Crash: No Limite), entendemos rapidamente toda atmosfera que atraiu os protagonistas para o mercado financeiro durante o governo Reagan - a única grande questão, que até incomoda um pouco, é a tentativa de Cox romantizar todas as ações dos protagonistas, especialmente de Hunt, como se ele fosse uma espécie de benfeitor revoltado com a vida e com a realidade fracassada de sua família perante o abismo social de seus "amigos" de escola. De fato essa escolha criativa se justifica em alguns comentários sobre a superficialidade do filme, porém gosto de ir um pouco além - existem vários pontos que nos provocam ótimas reflexões, além de ser um bom entretenimento, claro.
Frases como "A percepção da realidade é mais real do que a realidade em si" ou "Compre no mistério, venda na história" fazem sentido dentro de um contexto empreendedor, mas qual o limite entre um "bom conceito" e o "caos que ele pode gerar"? Ou entre "uma estratégia pontual" e o "mal caráter de uma pessoa"? Claro que "O Clube dos Meninos Bilionários" não se propõe a responder todas essas perguntas, mas elas estão lá e é aí que você vai encontrar um pouco mais de profundidade que pode ir além do bom entretenimento para quem gosta do assunto!
Antes de finalizar uma curiosidade: O filme é de 2015, mas após as acusações dirigidas ao Kevin Spacey, seu lançamento atrasou alguns anos e se resumiu a uma discreta estratégia por meio de plataformas digitais para só depois migrar para os cinemas, onde arrecadou míseros 3 milhões de dólares - isso não define o filme, mas vale a informação.
Existe uma linha muito tênue entre o "marketing de percepção" e a "mentira compulsiva" e "O Clube dos Meninos Bilionários" talvez seja o melhor exemplo de como os limites podem ser ultrapassados sem tantas dificuldades, causando estragos inimagináveis - e aqui cabe um comentário bastante pertinente: se eu não soubesse que o filme foi baseado em fatos reais que envolveram Joe Hunt e Dean Karny, provavelmente eu não daria tanto crédito para a história. Mas é impressionante o que acontece com os protagonistas depois que uma interpretação errada de um conceito de gestão importante se transforma em uma bola de neve com consequências gravíssimas para a vida de tantas pessoas.
A história se passa em Los Angeles, no início da década de 80. Joe Hunt (Ansel Elgort) é um rapaz inteligente, ambicioso. Ele se junta com Dean (Taron Egerton), um velho amigo de escola, para criar uma empresa de investimentos baseado inicialmente em dois ativos bem arriscados: ouro e um esquema de pirâmide para mostrar resultados quase que imediatos e assim trazer mais investidores para a empreitada. Com o apoio de um grupo seleto de jovens estudantes ricos e de um investidor pouco confiável, a empresa decola rapidamente, porém as coisas começam a se complicar e o que parecia ser um plano infalível, se prova um esquema mortal. Confira o trailer (em inglês):
"O Clube dos Meninos Bilionários" é um mistura de "Altos Negócios" e o "O Primeiro Milhão" com o "O Mago das Mentiras". Isso só mostra que não é que hoje que histórias sobre escândalos envolvendo grandes empresários especializados em enriquecimento rápido, custe o que custar, chamam muita atenção. Nesse caso, inclusive, o diretor James Cox, de “Wonderland“, traz para a tela sua visão sobre uma época maluca onde os investimentos transformaram a percepção da sociedade americana sobre a forma de ganhar dinheiro e, claro, que não existiam mocinhos nesse meio - como o próprio investidor Ron Levin (Kevin Spacey) deixa claro no filme.
Com uma reconstituição de época bastante competente, extremamente alinhada com a fotografia do diretor J. Michael Muro (Crash: No Limite), entendemos rapidamente toda atmosfera que atraiu os protagonistas para o mercado financeiro durante o governo Reagan - a única grande questão, que até incomoda um pouco, é a tentativa de Cox romantizar todas as ações dos protagonistas, especialmente de Hunt, como se ele fosse uma espécie de benfeitor revoltado com a vida e com a realidade fracassada de sua família perante o abismo social de seus "amigos" de escola. De fato essa escolha criativa se justifica em alguns comentários sobre a superficialidade do filme, porém gosto de ir um pouco além - existem vários pontos que nos provocam ótimas reflexões, além de ser um bom entretenimento, claro.
Frases como "A percepção da realidade é mais real do que a realidade em si" ou "Compre no mistério, venda na história" fazem sentido dentro de um contexto empreendedor, mas qual o limite entre um "bom conceito" e o "caos que ele pode gerar"? Ou entre "uma estratégia pontual" e o "mal caráter de uma pessoa"? Claro que "O Clube dos Meninos Bilionários" não se propõe a responder todas essas perguntas, mas elas estão lá e é aí que você vai encontrar um pouco mais de profundidade que pode ir além do bom entretenimento para quem gosta do assunto!
Antes de finalizar uma curiosidade: O filme é de 2015, mas após as acusações dirigidas ao Kevin Spacey, seu lançamento atrasou alguns anos e se resumiu a uma discreta estratégia por meio de plataformas digitais para só depois migrar para os cinemas, onde arrecadou míseros 3 milhões de dólares - isso não define o filme, mas vale a informação.
"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!
"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora") de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor".
Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.
Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.
Vale muito o seu play!
"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!
"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):
Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora") de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor".
Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.
Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.
Vale muito o seu play!
Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".
Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.
Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.
McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.
Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.
Vale a pena!
Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".
Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.
Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.
McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.
Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.
Vale a pena!
"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".
O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGol, e deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.
Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.
Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.
Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!
Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”!
Sem comentários!
"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".
O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGol, e deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.
Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.
Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.
Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!
Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”!
Sem comentários!
Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!
Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:
Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens - e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.
O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.
"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!
Vale seu play!
Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!
Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:
Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens - e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.
O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.
"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!
Vale seu play!
Sabe aqueles filmes de suspense psicológico bem anos 90 que faziam nossa cabeça explodir, mas muito mais pelo entretenimento que eles ofereciam do que por se tratar de uma obra perfeita com um roteiro impecável? Pois bem, "O Melhor Lance" é justamente isso - embora aqui seja chancelado pelo excelente trabalho do diretor italiano Giuseppe Tornatore, responsável por verdadeiras pérolas como "Cinema Paradiso" e "Malena". O filme é eficaz em sua proposta de fomentar o mistério e ao desvendar-lo, criar ramificações interessantes que exploram o drama, o erotismo (muito mais platônico do que visual) e algum romance que se misturam em uma trama envolvente e fácil de assistir - lembrando muito o estilo de "A Grande Mentira" de 2019, em seus méritos e falhas.
"La Migliore Offerta" (no original) segue a história de Virgil Oldman (Geoffrey Rush), um excêntrico especialista em arte que é contratado para avaliar a coleção de uma misteriosa herdeira, Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks). À medida que Virgil mergulha no mundo fascinante das obras de arte, ele se vê cada vez mais intrigado e envolvido com a figura enigmática de Claire que nunca aparece - dada sua condição médica, já que aparentemente ela sofre de agorafobia. O que começa como uma relação profissional entre eles, logo se transforma em uma jornada emocional e existencial que leva Virgil a confrontar seus próprios demônios interiores. Confira o trailer:
De fato "O Melhor Lance" instiga desde o primeiro olhar e nos faz parecer se tratar de um filme excepcional. No entanto o roteiro acaba não sustentando sua proposta inicial, entregando um primeiro e um terceiro ato excelentes, mas um segundo ato pouco inspirado. A maneira habilidosa como Tornatore constrói sua narrativa ameniza essa deficiência, ajudando a diminuir o impacto dessa instabilidade na nossa experiência, especialmente com um visual deslumbrante que se confunde com próprio pano de fundo da trama - os bastidores dos leilões e avaliações de obras de arte. Existe uma elegância estética que funciona muito bem nessa atmosfera mais poética de mistério criada pelo diretor - essencialmente na fotografia, rica em detalhes e com composições impecáveis de segundo plano.
Com uma trama até certo ponto complexa na sua essência, mas fluida e até previsível na sua forma, o filme acaba se beneficiando da performance emocionalmente rica de Geoffrey Rush - ele é um verdadeiro tour de force, proporcionando uma profundidade e nuances ao personagem que são ao mesmo tempo cativantes e comoventes. O fotógrafo Fabio Zamarion (de "A Desconhecida") sabe muito bem disso e não por acaso potencializa o deslumbrante trabalho de Rush, capturando cada detalhe de um Virgil cheio de camadas ao mesmo tempo em que personifica nele (e no seu fiel amigo, Billy Whistler) a beleza e as intrigas do mundo da arte. Além disso, é impossível não citar a trilha sonora do gênio Ennio Morricone - ela eleva ainda mais essa experiência, nos envolvendo em um mood de completo mistério e simbolismo.
Saiba que "O Melhor Lance" é um filme sobre os dilemas do ser humano bem emoldurado pela beleza da arte - é uma reflexão sobre a natureza da solidão, os perigos do desejo e da busca pela redenção. Mas saiba também que, na verdade, diferente de "Retrato de uma Jovem em Chamas", o que nos move mesmo é o mistério de sua trama, de sua narrativa envolvente, com performances interessantes e uma direção magistral de Tornatore. Aqui temos um filme que desafia nossas percepções com o único e claro objetivo de nos entreter o tempo todo. É um filme inesquecível? Longe disso, mas certamente vai te proporcionar duas horas de muitas teorias e algumas emoções.
Vale o seu play!
Sabe aqueles filmes de suspense psicológico bem anos 90 que faziam nossa cabeça explodir, mas muito mais pelo entretenimento que eles ofereciam do que por se tratar de uma obra perfeita com um roteiro impecável? Pois bem, "O Melhor Lance" é justamente isso - embora aqui seja chancelado pelo excelente trabalho do diretor italiano Giuseppe Tornatore, responsável por verdadeiras pérolas como "Cinema Paradiso" e "Malena". O filme é eficaz em sua proposta de fomentar o mistério e ao desvendar-lo, criar ramificações interessantes que exploram o drama, o erotismo (muito mais platônico do que visual) e algum romance que se misturam em uma trama envolvente e fácil de assistir - lembrando muito o estilo de "A Grande Mentira" de 2019, em seus méritos e falhas.
"La Migliore Offerta" (no original) segue a história de Virgil Oldman (Geoffrey Rush), um excêntrico especialista em arte que é contratado para avaliar a coleção de uma misteriosa herdeira, Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks). À medida que Virgil mergulha no mundo fascinante das obras de arte, ele se vê cada vez mais intrigado e envolvido com a figura enigmática de Claire que nunca aparece - dada sua condição médica, já que aparentemente ela sofre de agorafobia. O que começa como uma relação profissional entre eles, logo se transforma em uma jornada emocional e existencial que leva Virgil a confrontar seus próprios demônios interiores. Confira o trailer:
De fato "O Melhor Lance" instiga desde o primeiro olhar e nos faz parecer se tratar de um filme excepcional. No entanto o roteiro acaba não sustentando sua proposta inicial, entregando um primeiro e um terceiro ato excelentes, mas um segundo ato pouco inspirado. A maneira habilidosa como Tornatore constrói sua narrativa ameniza essa deficiência, ajudando a diminuir o impacto dessa instabilidade na nossa experiência, especialmente com um visual deslumbrante que se confunde com próprio pano de fundo da trama - os bastidores dos leilões e avaliações de obras de arte. Existe uma elegância estética que funciona muito bem nessa atmosfera mais poética de mistério criada pelo diretor - essencialmente na fotografia, rica em detalhes e com composições impecáveis de segundo plano.
Com uma trama até certo ponto complexa na sua essência, mas fluida e até previsível na sua forma, o filme acaba se beneficiando da performance emocionalmente rica de Geoffrey Rush - ele é um verdadeiro tour de force, proporcionando uma profundidade e nuances ao personagem que são ao mesmo tempo cativantes e comoventes. O fotógrafo Fabio Zamarion (de "A Desconhecida") sabe muito bem disso e não por acaso potencializa o deslumbrante trabalho de Rush, capturando cada detalhe de um Virgil cheio de camadas ao mesmo tempo em que personifica nele (e no seu fiel amigo, Billy Whistler) a beleza e as intrigas do mundo da arte. Além disso, é impossível não citar a trilha sonora do gênio Ennio Morricone - ela eleva ainda mais essa experiência, nos envolvendo em um mood de completo mistério e simbolismo.
Saiba que "O Melhor Lance" é um filme sobre os dilemas do ser humano bem emoldurado pela beleza da arte - é uma reflexão sobre a natureza da solidão, os perigos do desejo e da busca pela redenção. Mas saiba também que, na verdade, diferente de "Retrato de uma Jovem em Chamas", o que nos move mesmo é o mistério de sua trama, de sua narrativa envolvente, com performances interessantes e uma direção magistral de Tornatore. Aqui temos um filme que desafia nossas percepções com o único e claro objetivo de nos entreter o tempo todo. É um filme inesquecível? Longe disso, mas certamente vai te proporcionar duas horas de muitas teorias e algumas emoções.
Vale o seu play!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.
"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):
Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.
"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.
"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.
Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!
Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".
Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:
Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.
DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".
De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!
Vale seu play!
Se a Copa do Mundo do Catar já acabou no campo, o que se vê nas plataformas de streaming é um lado nada glamoroso do que representou o maior evento esportivo da Terra. Nessa produção do Discovery+, que você já encontra no HBO Max, somos convidados a conhecer os detalhes de como a escolha das sedes de 2018 e 2022 foram uma espécie de "ponto de partida" para um dos maiores escândalos de corrupção institucionalizada da História. Diferente do também excelente "Esquemas da FIFA" da Netflix, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" faz um recorte mais preciso do caso a partir de como o jornal The Sunday Times investigou todas as denúncias e de como FBI e o MI6 se envolveram definitivamente no "FIFAGate".
Em dois episódios de cerca de 60 minutos, os jornalistas Heidi Blake e Jonathan Calvert expõem os bastidores da corrupção desenfreada que acontecia no coração da FIFA na Suíça, como isso levou à escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo e ainda acompanha alguns dos personagens vitais para que toda essa sujeira viesse à tona. Confira o trailer:
Dirigido pelo Daniel DiMauro e pelo Morgan Pehme, parceiros de projetos documentais relevantes como "Na Rota do Dinheiro Sujo" e "Get Me Roger Stone", "The Heist" (no original) se apoia em todo material da investigação relatado no livro "The Ugly Game: The Qatari Plot to Buy the World Cup", de Blake e Calvert, para construir uma narrativa simples, porém densa, sobre o tão falado "FIFAGate". Embora menos apegado ao valor histórico do esporte e da própria FIFA que a produção da Netflix usou para contextualizar o mesmo caso, aqui temos uma dinâmica que soa mais fluída por chegar ao ponto-chave da história sem tantos rodeios - o olhar dos jornalistas do The Sunday Times, os primeiros a receber os documentos de possíveis casos de suborno envolvendo dirigentes da FIFA, do ex-agente do MI6 contratado para investigar possíveis irregularidades na escolha dos países que realizariam a Copa (pela própria Federação Inglesa que sonhava em sediar o evento) e do investigador do FBI responsável pelo caso em si, ajudam a amarrar os fatos, nos afastando um pouco de uma visão sensacionalista (e as vezes até oportunista) da imprensa, para criar uma atmosfera muito mais crítica e criminal.
DiMauro e Pehme até se esforçam para equilibrar o tom jornalístico do documentário com uma narrativa mais voltada para o entretenimento - isso, obviamente, traz curiosidades que ajudam a construir uma visão mais ampla para quem já vem acompanhando e gosta do assunto desde "El Presidente". Aliás, um fator curioso e que nos remete imediatamente ao segundo ano da série antológica da Prime Vídeo, "Jogo da Corrupção", é a participação importante da mulher de Chuck Blazer (principal delator do caso), Mary Lynn, nos depoimentos. Talvez esse seja até o ponto alto dos bastidores da investigação, já que Lynn ajuda a construir um perfil de Blazer inédito para quem já tinha assistido "Esquemas da FIFA".
De fato, "Os Homens que venderam a Copa do Mundo" traz pouca novidade para quem já conhece e assistiu outras produções sobre o assunto, porém seu valor como documentário não pode (e nem deve) ser descartado para quem deseja ter acesso a outros pontos da investigação e até ouvir algumas passagens, histórias e impressões bastante interessantes de quem esteve lá. Mais uma vez o "vovô" Sepp Blatter dá sua versão, e personagens como Sunil Gulati (Presidente da Federação Americana de Futebol e amigo íntimo de Chuck Blazer) e até Gianni Infantino (atual presidente da FIFA) tentam mostrar que mesmo com uma difícil missão de reestabelecer a credibilidade dos seus membros, a FIFA ainda é uma instituição que tem no Esporte seu principal propósito!
Vale seu play!
"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!
O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:
Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.
Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".
Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.
Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!
"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!
O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:
Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.
Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".
Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.
Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
Esse é o melhor documentário sobre o assunto que você vai encontrar nos catálogos de streaming e te garanto: a história que você vai conhecer em "Procurado - A Fuga de Carlos Ghosn" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso James Jones (do premiado "Chernobyl: The Lost Tapes" - indicado ao BAFTA 2023), esse documentário em quatro partes transita perfeitamente por um suposto universo de conspiração sem a pretensão de cravar quem seria o verdadeiro culpado - Ghosn ou a Nissan. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Jones deixa claro desde o inicio que toda história possui duas versões e é isso que ele tenta explorar.
Produzido AppleTV+, a minissérie faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas com o próprio Ghosn e de incontáveis imagens de arquivo, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):
Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões, migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família, incluindo sua esposa Carole. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.
Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Jones, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Procurado - A Fuga de Carlos Ghosn" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes estabelecidas, uma focada na versão de Ghosn e outra na versão da Nissan, o resultado poderia ser até mais satisfatório já que muitas passagens desse embrolho corporativo foram explicadas muito apressadamente - especialmente a versão japonesa dos fatos.
O fato é que "Wanted: The Escape of Carlos Ghosn" (no original) é mais uma minissérie sobre fraudes, ganância e ressentimento, que vai te surpreender. Essa é uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político, que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embate e desacordo. Essa é uma história que nos provoca muitos julgamentos e reflexões, que também envolveu muito dinheiro, poder, e ego. Além, é claro, de um desfecho que se tivesse assistido em algum filme de ação hollywoodiano, eu diria ser impossível de dar certo!
Se prepare, porque vale muito a pena!
Esse é o melhor documentário sobre o assunto que você vai encontrar nos catálogos de streaming e te garanto: a história que você vai conhecer em "Procurado - A Fuga de Carlos Ghosn" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso James Jones (do premiado "Chernobyl: The Lost Tapes" - indicado ao BAFTA 2023), esse documentário em quatro partes transita perfeitamente por um suposto universo de conspiração sem a pretensão de cravar quem seria o verdadeiro culpado - Ghosn ou a Nissan. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Jones deixa claro desde o inicio que toda história possui duas versões e é isso que ele tenta explorar.
Produzido AppleTV+, a minissérie faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas com o próprio Ghosn e de incontáveis imagens de arquivo, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):
Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões, migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família, incluindo sua esposa Carole. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.
Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Jones, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Procurado - A Fuga de Carlos Ghosn" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes estabelecidas, uma focada na versão de Ghosn e outra na versão da Nissan, o resultado poderia ser até mais satisfatório já que muitas passagens desse embrolho corporativo foram explicadas muito apressadamente - especialmente a versão japonesa dos fatos.
O fato é que "Wanted: The Escape of Carlos Ghosn" (no original) é mais uma minissérie sobre fraudes, ganância e ressentimento, que vai te surpreender. Essa é uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político, que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embate e desacordo. Essa é uma história que nos provoca muitos julgamentos e reflexões, que também envolveu muito dinheiro, poder, e ego. Além, é claro, de um desfecho que se tivesse assistido em algum filme de ação hollywoodiano, eu diria ser impossível de dar certo!
Se prepare, porque vale muito a pena!
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
"Sharper" (que no Brasil chegou acompanhado do redundante subtítulo "Uma Vida de Trapaças") é um excelente entretenimento - daqueles que nem pensar muito é preciso! Divertido e envolvente, o filme do diretor Benjamin Caron (da série "Sherlock") usa e abusa dos "plot twists"(ou das reviravoltas, como preferir) para contar histórias de golpistas e, claro, dos seus golpes, pautado em fortes elementos dramáticos com um leve toque de suspense policial - e é justamente isso que o distancia do premiado "Trapaça" do David O. Russell e o aproxima de "A Grande Mentira" do Bill Condon.
Dividido em capítulos, onde um personagem está sempre em evidência, mas onde ninguém é quem diz ser, "Sharper: Uma Vida de Trapaças" pode ser definido como thriller neo-noir sobre os segredos e as mentiras de golpistas profissionais que transitam entre os apartamentos mais luxuosos e os bares mais decadentes da cidade de Nova York, disputando as maiores riquezas e o poder de controlar jogos de alto risco de ambição, ganância, luxúria e inveja. Assista o trailer (em inglês):
Muito bem montado pelo Yan Miles (vencedor de dois Emmys por "The Crown" e por "Sherlock"), eu diria que um dos maiores acertos do roteiro do Brian Gatewood e do Alessandro Tanaka é o de estabelecer seu propósito logo de cara: todos são suspeitos até que se prove o contrário. O interessante, no entanto, é que a trama não precisa se apoiar em um evento especifico (um grande assalto, por exemplo) para nos fisgar, já que são os personagens que vão se conectando com a história de acordo com as experiências que eles mesmos estão vivendo em determinado momento de suas vidas - essa estratégia narrativa é empolgante, pois nos faz sempre buscar um ponto de conexão para que tudo venha fazer sentido, mesmo que inicialmente pareça difícil de perceber que isso seja possível. A forma como as pistas são entregues, em doses bem homeopáticas e fantasiadas de relações humanas, ajuda muito na nossa experiência como audiência.
O elenco de peso que conta com Sebastian Stan, Justice Smith, Briana Middleton, Julianne Moore e até com uma participação muito especial de John Lithgow, só valoriza a dinâmica impressa pelo Benjamin Caron - reparem como tudo vai fazendo sentido, como os nós vão sendo desatados e como as performances dos atores nos conquistam, fazendo com que, mesmo quando o óbvio entra em cena, ainda assim tudo seja muito intrigante.
É fato que em "Sharper: Uma Vida de Trapaças" encontramos algumas passagens, digamos, não tão originais assim - como se ler um livro de mistério barato depois de devorar um clássico de Agatha Christie soe familiar demais! Mas te garanto: essa sensação não vai te impedir de curtir as inúmeras reviravoltas que a história oferece, muito menos diminuir sua ansiedade de chegar ao final e assim entender onde tudo isso começou - e aqui fica minha única critica ao roteiro: se ele terminasse 10 minutos antes, provavelmente, seria muito mais provocativo (e, obviamente, menos expositivo) do que pareceu.
Vale muito o seu play! Diversão (despretensiosa) garantida!
"Sharper" (que no Brasil chegou acompanhado do redundante subtítulo "Uma Vida de Trapaças") é um excelente entretenimento - daqueles que nem pensar muito é preciso! Divertido e envolvente, o filme do diretor Benjamin Caron (da série "Sherlock") usa e abusa dos "plot twists"(ou das reviravoltas, como preferir) para contar histórias de golpistas e, claro, dos seus golpes, pautado em fortes elementos dramáticos com um leve toque de suspense policial - e é justamente isso que o distancia do premiado "Trapaça" do David O. Russell e o aproxima de "A Grande Mentira" do Bill Condon.
Dividido em capítulos, onde um personagem está sempre em evidência, mas onde ninguém é quem diz ser, "Sharper: Uma Vida de Trapaças" pode ser definido como thriller neo-noir sobre os segredos e as mentiras de golpistas profissionais que transitam entre os apartamentos mais luxuosos e os bares mais decadentes da cidade de Nova York, disputando as maiores riquezas e o poder de controlar jogos de alto risco de ambição, ganância, luxúria e inveja. Assista o trailer (em inglês):
Muito bem montado pelo Yan Miles (vencedor de dois Emmys por "The Crown" e por "Sherlock"), eu diria que um dos maiores acertos do roteiro do Brian Gatewood e do Alessandro Tanaka é o de estabelecer seu propósito logo de cara: todos são suspeitos até que se prove o contrário. O interessante, no entanto, é que a trama não precisa se apoiar em um evento especifico (um grande assalto, por exemplo) para nos fisgar, já que são os personagens que vão se conectando com a história de acordo com as experiências que eles mesmos estão vivendo em determinado momento de suas vidas - essa estratégia narrativa é empolgante, pois nos faz sempre buscar um ponto de conexão para que tudo venha fazer sentido, mesmo que inicialmente pareça difícil de perceber que isso seja possível. A forma como as pistas são entregues, em doses bem homeopáticas e fantasiadas de relações humanas, ajuda muito na nossa experiência como audiência.
O elenco de peso que conta com Sebastian Stan, Justice Smith, Briana Middleton, Julianne Moore e até com uma participação muito especial de John Lithgow, só valoriza a dinâmica impressa pelo Benjamin Caron - reparem como tudo vai fazendo sentido, como os nós vão sendo desatados e como as performances dos atores nos conquistam, fazendo com que, mesmo quando o óbvio entra em cena, ainda assim tudo seja muito intrigante.
É fato que em "Sharper: Uma Vida de Trapaças" encontramos algumas passagens, digamos, não tão originais assim - como se ler um livro de mistério barato depois de devorar um clássico de Agatha Christie soe familiar demais! Mas te garanto: essa sensação não vai te impedir de curtir as inúmeras reviravoltas que a história oferece, muito menos diminuir sua ansiedade de chegar ao final e assim entender onde tudo isso começou - e aqui fica minha única critica ao roteiro: se ele terminasse 10 minutos antes, provavelmente, seria muito mais provocativo (e, obviamente, menos expositivo) do que pareceu.
Vale muito o seu play! Diversão (despretensiosa) garantida!
Independente das discussões (e serão muitas) sobre Juízo de Valor, eu diria que a minissérie documental do Hulu, "The Ashley Madison Affair", é imperdível. A partir de um roteiro extremamente dinâmico, temos acesso aos bastidores do controverso site de relacionamentos para pessoas casadas, o Ashley Madison, e tudo que envolveu os vazamentos de dados de milhões de usuários em 2005. O filme, dirigido com maestria pela competente Johanna Hamilton (de "Bad Boys e Bilionários: Índia"), não apenas apresenta os escândalos de adultérios que chocaram o mundo, mas também oferece uma visão crítica e envolvente sobre a interseção entre negócio, tecnologia e intimidade. Elogiado pela profundidade de sua abordagem e pela coragem ao discutir verdades incômodas, aqui temos uma obra que transcende a mera exposição de fatos para explorar as complexidades morais e sociais que envolvem a privacidade online, mesmo para quem trai.
"The Ashley Madison Affair" nos conduz por uma jornada fascinante pelos meandros do site conhecido por facilitar encontros extraconjugais. O documentário revela a ascensão e queda do império digital comandado pelo então CEO da companhia, Noel Biderman. Por meio de entrevistas exclusivas com funcionários da empresa, jornalistas e investigadores, além de um rico material de arquivo e encenações de muito bom gosto, a minissérie discute as consequências devastadoras para relacionamentos e reputações depois do vazamento de dados que impactou, além da empresa, milhões de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Vale tudo para fazer um negócio se tornar um enorme sucesso financeiro, mesmo com um produto teoricamente imoral, se existirem milhões de pessoas dispostas a pagar por ele? Talvez tenha partido desse questionamento a construção narrativa que Hamilton brilhantemente explora em três episódios. Em nenhum momento você vai ficar confortável com o que está assistindo, ao mesmo tempo, olhando pela perspectiva do negócio, sua análise ficará ainda mais confusa, pois mesmo que tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo faz um grande sentido, do conceito ao produto em si, curiosamente ficamos em dúvida se realmente vale a pena embarcar na jornada.
Ao adentrar os meandros da história, "The Ashley Madison Affair" não se contenta em ser um mero relato sobre eventos polêmicos envolvendo os usuários de um site que estimula o adultério. Muito pelo contrário, a diretora quer mesmo provocar, para só depois expor as motivações por trás do negócio, dando voz para a figura de Noel Biderman que revela uma complexidade humana que transcende os julgamentos mais simplistas - chega ser impressionante como ele se expõe ao mesmo tempo em fazia muita coisa errada nos bastidores da empresa. Veja, o roteiro destaca essa interconexão entre o sucesso do site e os desejos de seus usuários frequentes, dando certo holofote para um mal que acompanha a sociedade americana desde sempre: a hipocrisia.
Na linha de "Sexo Bilionário", o que eleva "The Ashley Madison Affair" é sua capacidade de fundir uma história polêmica com uma qualidade técnica e artística de produção de uma maneira bastante harmoniosa - os depoimentos de usuários na voz de atores e atrizes dão o exato tom do que significa essa exploração intensa sobre os limites da privacidade em um mundo cada vez mais conectado. A fotografia também cria uma atmosfera de sedução que intensifica as emoções, guiando a audiência por esse labirinto de escândalos e fantasia, de fato, envolvente.A pesquisa meticulosa é evidente em cada cena, revelando nuances que escapariam a narrativas superficiais - e isso é um golaço. A edição dinâmica mantém um ritmo que prende a nossa atenção, transformando informações densas em uma experiência cativante que certamente vai te fazer refletir, independente do olhar que você tenha sobre o site ou sobre o caso (e aqui sem trocadilhos)!
Vale muito o seu play!
Independente das discussões (e serão muitas) sobre Juízo de Valor, eu diria que a minissérie documental do Hulu, "The Ashley Madison Affair", é imperdível. A partir de um roteiro extremamente dinâmico, temos acesso aos bastidores do controverso site de relacionamentos para pessoas casadas, o Ashley Madison, e tudo que envolveu os vazamentos de dados de milhões de usuários em 2005. O filme, dirigido com maestria pela competente Johanna Hamilton (de "Bad Boys e Bilionários: Índia"), não apenas apresenta os escândalos de adultérios que chocaram o mundo, mas também oferece uma visão crítica e envolvente sobre a interseção entre negócio, tecnologia e intimidade. Elogiado pela profundidade de sua abordagem e pela coragem ao discutir verdades incômodas, aqui temos uma obra que transcende a mera exposição de fatos para explorar as complexidades morais e sociais que envolvem a privacidade online, mesmo para quem trai.
"The Ashley Madison Affair" nos conduz por uma jornada fascinante pelos meandros do site conhecido por facilitar encontros extraconjugais. O documentário revela a ascensão e queda do império digital comandado pelo então CEO da companhia, Noel Biderman. Por meio de entrevistas exclusivas com funcionários da empresa, jornalistas e investigadores, além de um rico material de arquivo e encenações de muito bom gosto, a minissérie discute as consequências devastadoras para relacionamentos e reputações depois do vazamento de dados que impactou, além da empresa, milhões de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Vale tudo para fazer um negócio se tornar um enorme sucesso financeiro, mesmo com um produto teoricamente imoral, se existirem milhões de pessoas dispostas a pagar por ele? Talvez tenha partido desse questionamento a construção narrativa que Hamilton brilhantemente explora em três episódios. Em nenhum momento você vai ficar confortável com o que está assistindo, ao mesmo tempo, olhando pela perspectiva do negócio, sua análise ficará ainda mais confusa, pois mesmo que tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo faz um grande sentido, do conceito ao produto em si, curiosamente ficamos em dúvida se realmente vale a pena embarcar na jornada.
Ao adentrar os meandros da história, "The Ashley Madison Affair" não se contenta em ser um mero relato sobre eventos polêmicos envolvendo os usuários de um site que estimula o adultério. Muito pelo contrário, a diretora quer mesmo provocar, para só depois expor as motivações por trás do negócio, dando voz para a figura de Noel Biderman que revela uma complexidade humana que transcende os julgamentos mais simplistas - chega ser impressionante como ele se expõe ao mesmo tempo em fazia muita coisa errada nos bastidores da empresa. Veja, o roteiro destaca essa interconexão entre o sucesso do site e os desejos de seus usuários frequentes, dando certo holofote para um mal que acompanha a sociedade americana desde sempre: a hipocrisia.
Na linha de "Sexo Bilionário", o que eleva "The Ashley Madison Affair" é sua capacidade de fundir uma história polêmica com uma qualidade técnica e artística de produção de uma maneira bastante harmoniosa - os depoimentos de usuários na voz de atores e atrizes dão o exato tom do que significa essa exploração intensa sobre os limites da privacidade em um mundo cada vez mais conectado. A fotografia também cria uma atmosfera de sedução que intensifica as emoções, guiando a audiência por esse labirinto de escândalos e fantasia, de fato, envolvente.A pesquisa meticulosa é evidente em cada cena, revelando nuances que escapariam a narrativas superficiais - e isso é um golaço. A edição dinâmica mantém um ritmo que prende a nossa atenção, transformando informações densas em uma experiência cativante que certamente vai te fazer refletir, independente do olhar que você tenha sobre o site ou sobre o caso (e aqui sem trocadilhos)!
Vale muito o seu play!