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Encontros e Desencontros

É realmente complicado encontrar um filme capaz de quebrar as barreiras do tempo e da cultura e assim se transformar em uma experiência única e permanente que sabe exatamente o seu poder como obra cinematográfica - especialmente pelo seu caráter extremamente sensorial. "Encontros e Desencontros," dirigido por uma Sofia Coppola no melhor da sua forma, é exatamente isso, mesmo que algumas pessoas possam achar um certo exagero de nossa parte. Naturalmente o filme exige uma certa dose de sensibilidade para entender como sua narrativa é uma viagem pelo autoconhecimento - partindo da melancolia , da solidão, até o encontro da paixão e da saudade antes mesmo dela acontecer. Essa característica tão especial de "Lost in Translation" (no seu título original) proporcionou ao filme uma centena de prêmios em festivais importantes ao redor do planeta, incluindo o Oscar de Melhor Roteiro Original - sem falar na indicação como "Melhor Filme do Ano". Agora é preciso dizer: para se conectar com a história de Bob e Charlotte, você precisa gostar de filmes mais intimistas, que exploram a complexidade das relações humanas - mas saiba também que isso, Sofia Coppola faz como poucos!

No coração de "Encontros e Desencontros" está a história de Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson). Bob, um ator em decadência, é enviado para Tóquio para filmar um comercial, enquanto Charlotte, uma jovem esposa em busca de significado, acompanha seu marido fotógrafo na mesma cidade. O filme se desenrola a partir do encontro inesperado dessas duas pessoas, em meio às luzes neon de Tóquio, pela perspectiva da solidão e da busca pela felicidade, mesmo que passageira. Confira o trailer (em inglês):

Ao analisar "Encontros e Desencontros" é mesmo impossível ignorar o brilhante trabalho de Sofia Coppola como diretora e, principalmente, como roteirista. Ela foi capaz de nos colocar como audiência em uma profunda atmosfera melancólica e contemplativa graças ao signo universal que inevitavelmente cria barreiras de comunicação: o idioma. E é aí que a escolha de Tóquio como pano de fundo não apenas contribui para a estética visual única do filme, mas também serve como metáfora para a desconexão emocional dos personagens já que ambos se sentem sozinhos até quando podem se comunicar em inglês - essa dualidade narrativa entre o que é falado e o que é sentido nos acompanha durante todo filme e, acreditem, mexe demais com nossas sensações e sentimentos.

A fotografia do Lance Acord (de "Onde Vivem os Monstros") é uma verdadeira obra-prima, já que ele é capaz de capturar a beleza caótica da cidade de Tóquio ao mesmo tempo em que transforma os olhares e as expressões sutis dos protagonistas perante o silêncio em uma verdadeira janela para alma. E aqui entra outro ponto crucial para o sucesso da proposta de Coppola: a performance magistral de Bill Murray e Scarlett Johansson. A química entre os dois atores cria uma dinâmica tão envolvente e autêntica que fica impossível não torcer por eles. Reparem como a montagem cuidadosa de Sarah Flack potencializa a direção e a relação dos atores em seus dramas, permitindo que os vários momentos de introspecção falem mais alto do que as próprias palavras - essa abordagem cria uma ressonância emocional impressionante. 

"Encontros e Desencontros" dividiu opiniões na época de seu lançamento e vai continuar dividindo por algum tempo, no entanto é preciso admitir que mais do que apenas um filme sobre relações improváveis, sua proposta se aproxima de uma interessante experiência cinematográfica transformadora que vai tocar fundo em qualquer pessoa que busca a autenticidade e a conexão com uma história, de fato, muito marcante por sua sensibilidade e delicadeza. Sofia Coppola, para mim, entregou um filme que transcende com muita inteligência as fronteiras culturais daquele cenário, explorando a essência da solidão e da redescoberta pessoal, mesmo que acompanhado daquele "dolorido" aperto no peito.  

Dê o play e prepare-se para uma jornada emocional e estética que permanecerá contigo muito depois dos créditos finais. Eu garanto.

Assista Agora

É realmente complicado encontrar um filme capaz de quebrar as barreiras do tempo e da cultura e assim se transformar em uma experiência única e permanente que sabe exatamente o seu poder como obra cinematográfica - especialmente pelo seu caráter extremamente sensorial. "Encontros e Desencontros," dirigido por uma Sofia Coppola no melhor da sua forma, é exatamente isso, mesmo que algumas pessoas possam achar um certo exagero de nossa parte. Naturalmente o filme exige uma certa dose de sensibilidade para entender como sua narrativa é uma viagem pelo autoconhecimento - partindo da melancolia , da solidão, até o encontro da paixão e da saudade antes mesmo dela acontecer. Essa característica tão especial de "Lost in Translation" (no seu título original) proporcionou ao filme uma centena de prêmios em festivais importantes ao redor do planeta, incluindo o Oscar de Melhor Roteiro Original - sem falar na indicação como "Melhor Filme do Ano". Agora é preciso dizer: para se conectar com a história de Bob e Charlotte, você precisa gostar de filmes mais intimistas, que exploram a complexidade das relações humanas - mas saiba também que isso, Sofia Coppola faz como poucos!

No coração de "Encontros e Desencontros" está a história de Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson). Bob, um ator em decadência, é enviado para Tóquio para filmar um comercial, enquanto Charlotte, uma jovem esposa em busca de significado, acompanha seu marido fotógrafo na mesma cidade. O filme se desenrola a partir do encontro inesperado dessas duas pessoas, em meio às luzes neon de Tóquio, pela perspectiva da solidão e da busca pela felicidade, mesmo que passageira. Confira o trailer (em inglês):

Ao analisar "Encontros e Desencontros" é mesmo impossível ignorar o brilhante trabalho de Sofia Coppola como diretora e, principalmente, como roteirista. Ela foi capaz de nos colocar como audiência em uma profunda atmosfera melancólica e contemplativa graças ao signo universal que inevitavelmente cria barreiras de comunicação: o idioma. E é aí que a escolha de Tóquio como pano de fundo não apenas contribui para a estética visual única do filme, mas também serve como metáfora para a desconexão emocional dos personagens já que ambos se sentem sozinhos até quando podem se comunicar em inglês - essa dualidade narrativa entre o que é falado e o que é sentido nos acompanha durante todo filme e, acreditem, mexe demais com nossas sensações e sentimentos.

A fotografia do Lance Acord (de "Onde Vivem os Monstros") é uma verdadeira obra-prima, já que ele é capaz de capturar a beleza caótica da cidade de Tóquio ao mesmo tempo em que transforma os olhares e as expressões sutis dos protagonistas perante o silêncio em uma verdadeira janela para alma. E aqui entra outro ponto crucial para o sucesso da proposta de Coppola: a performance magistral de Bill Murray e Scarlett Johansson. A química entre os dois atores cria uma dinâmica tão envolvente e autêntica que fica impossível não torcer por eles. Reparem como a montagem cuidadosa de Sarah Flack potencializa a direção e a relação dos atores em seus dramas, permitindo que os vários momentos de introspecção falem mais alto do que as próprias palavras - essa abordagem cria uma ressonância emocional impressionante. 

"Encontros e Desencontros" dividiu opiniões na época de seu lançamento e vai continuar dividindo por algum tempo, no entanto é preciso admitir que mais do que apenas um filme sobre relações improváveis, sua proposta se aproxima de uma interessante experiência cinematográfica transformadora que vai tocar fundo em qualquer pessoa que busca a autenticidade e a conexão com uma história, de fato, muito marcante por sua sensibilidade e delicadeza. Sofia Coppola, para mim, entregou um filme que transcende com muita inteligência as fronteiras culturais daquele cenário, explorando a essência da solidão e da redescoberta pessoal, mesmo que acompanhado daquele "dolorido" aperto no peito.  

Dê o play e prepare-se para uma jornada emocional e estética que permanecerá contigo muito depois dos créditos finais. Eu garanto.

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Encounter

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

Assista Agora

Era uma vez um sonho

"Era uma vez um sonho" é um filme que chegou sem muito barulho na Netflix e que apanhou muito da critica, na minha opinião, injustamente. A estrutura narrativa e o tema que movimenta a história tem como base o peso que o ciclos geracionais trazem para vida de um personagem - tudo muito parecido com o excelente "O Castelo de Vidro", embora sem a mesma profundidade e força dramática.

A filme conta a história real de J.D. Vance (Gabriel Basso) um jovem promissor que tenta vencer sua origem humilde para ingressar na prestigiada Universidade de Yale e se formar em Direito, mas vê seu sonho ameaçado quando recebe uma ligação de sua irmã Lindsay (Haley Bennett) contando que sua mãe, Beverly (Amy Adams), teve uma overdose de heroína. No caminho de volta para sua terra natal, Vance relembra sua vida através de três gerações: a de sua mãe, de sua avó Mamaw (Glenn Close) e sua própria e de sua irmã. Confira o trailer:

Definir o filme como uma peça política por ter tido seu relato disputado por democratas e republicanos, competindo pela narrativa exposta no livro lançado em 2016, é de uma limitação sem tamanho. Entender que essa mesma narrativa se baseia em provar que o chamado “sonho americano” está vivo e que todos podem conquistá-lo se batalharem bastante é tão frágil quanto a tese de que a história mostra exatamente o fundo do poço no qual estava a nação norte-americana que elegeu o (ex)presidente Donald Trump na época. Esquece! O filme pode ter as duas interpretações, porém, ambas, estão na camada mais superficial (e tendenciosa) da história. Tanto a direção de Ron Howard, quanto o roteiro de Vanessa Taylor, mesmo com algumas falhas conceituais, buscam algo muito mais intimista - um olhar para o passado, cheio de cicatrizes profundas, e a possibilidade de quebrar a repetição de padrões  familiares que, pouco a pouco, destruiram todos daquela família.

Amy Adams e Glenn Close dão um show de interpretação - que rendeu mais uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante para Close e outra ignorada para o trabalho de Adams. Sério, as duas estão impecáveis - e aqui cabe um comentário: "Era uma vez um sonho" recebeu mais uma indicação ao Oscar 2021, o de "Cabelo e Maquiagem", elemento vital para a construção da personagem de Glenn Close. Ao ver os vídeos reais de J.D. Vance no final do filme, percebemos que a vó Mamaw é, de fato, a atriz. Impressionante a semelhança! Ah, antes de seguir, é preciso comentar sobre o trabalho de Owen Asztalos (o J.D. Vance jovem): ele também merece todos os elogios.

É fato que "Era uma vez um sonho" tinha pretensões maiores para a temporada de premiações e não só as dezenas de indicações que Glenn Close recebeu, mas olhando em perspectiva, nesse mundo polarizado que estamos vivendo, é até natural o distanciamento do público americano (e da Academia) por uma história biográfica tão complexa ideologicamente e que merecia ser contada, da forma que foi. Eu diria que vale muito a pena, desde que você se permita (e para nós isso será mais fácil) enxergar além dos esteriótipos regionais e assim encarar o que realmente importa: o significado de deixar nossos fantasmas para trás quando é necessário seguir nosso caminho olhando para frente!

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"Era uma vez um sonho" é um filme que chegou sem muito barulho na Netflix e que apanhou muito da critica, na minha opinião, injustamente. A estrutura narrativa e o tema que movimenta a história tem como base o peso que o ciclos geracionais trazem para vida de um personagem - tudo muito parecido com o excelente "O Castelo de Vidro", embora sem a mesma profundidade e força dramática.

A filme conta a história real de J.D. Vance (Gabriel Basso) um jovem promissor que tenta vencer sua origem humilde para ingressar na prestigiada Universidade de Yale e se formar em Direito, mas vê seu sonho ameaçado quando recebe uma ligação de sua irmã Lindsay (Haley Bennett) contando que sua mãe, Beverly (Amy Adams), teve uma overdose de heroína. No caminho de volta para sua terra natal, Vance relembra sua vida através de três gerações: a de sua mãe, de sua avó Mamaw (Glenn Close) e sua própria e de sua irmã. Confira o trailer:

Definir o filme como uma peça política por ter tido seu relato disputado por democratas e republicanos, competindo pela narrativa exposta no livro lançado em 2016, é de uma limitação sem tamanho. Entender que essa mesma narrativa se baseia em provar que o chamado “sonho americano” está vivo e que todos podem conquistá-lo se batalharem bastante é tão frágil quanto a tese de que a história mostra exatamente o fundo do poço no qual estava a nação norte-americana que elegeu o (ex)presidente Donald Trump na época. Esquece! O filme pode ter as duas interpretações, porém, ambas, estão na camada mais superficial (e tendenciosa) da história. Tanto a direção de Ron Howard, quanto o roteiro de Vanessa Taylor, mesmo com algumas falhas conceituais, buscam algo muito mais intimista - um olhar para o passado, cheio de cicatrizes profundas, e a possibilidade de quebrar a repetição de padrões  familiares que, pouco a pouco, destruiram todos daquela família.

Amy Adams e Glenn Close dão um show de interpretação - que rendeu mais uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante para Close e outra ignorada para o trabalho de Adams. Sério, as duas estão impecáveis - e aqui cabe um comentário: "Era uma vez um sonho" recebeu mais uma indicação ao Oscar 2021, o de "Cabelo e Maquiagem", elemento vital para a construção da personagem de Glenn Close. Ao ver os vídeos reais de J.D. Vance no final do filme, percebemos que a vó Mamaw é, de fato, a atriz. Impressionante a semelhança! Ah, antes de seguir, é preciso comentar sobre o trabalho de Owen Asztalos (o J.D. Vance jovem): ele também merece todos os elogios.

É fato que "Era uma vez um sonho" tinha pretensões maiores para a temporada de premiações e não só as dezenas de indicações que Glenn Close recebeu, mas olhando em perspectiva, nesse mundo polarizado que estamos vivendo, é até natural o distanciamento do público americano (e da Academia) por uma história biográfica tão complexa ideologicamente e que merecia ser contada, da forma que foi. Eu diria que vale muito a pena, desde que você se permita (e para nós isso será mais fácil) enxergar além dos esteriótipos regionais e assim encarar o que realmente importa: o significado de deixar nossos fantasmas para trás quando é necessário seguir nosso caminho olhando para frente!

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Estaremos Sempre Juntos

O mais incrível de "Estaremos Sempre Juntos" é que, mais uma vez, o diretor Guillaume Canet consegue capturar a essência do que representa uma longa amizade entre um grupo de pessoas tão diferentes entre si, mas que seguem conectadas pelo que existe de mais bacana nessa vida: o amor verdadeiro. Para quem não sabe, essa produção francesa é uma sequência do também excelente "Até a Eternidade" (Les Petits Mouchoirs" no original), de 2010, que acompanhava um grupo de amigos que se reuniu para um fim de semana na casa de praia de Max após um acidente grave de um deles - é nesse contexto de dor e expectativa que velhos ressentimentos e segredos há muito enterrados vêm à tona. Mas calma, é preciso assistir o primeiro filme? Não, Canet sabe muito bem pontuar as marcas de 9 atrás no seu novo roteiro, no entanto, também é preciso que se diga, a experiência de revisitar todos aqueles personagens tanto tempo depois é muito especial.

Aqui, preocupado com os rumos da vida, Max (François Cluzet) decide tirar um final de semana de folga em sua casa de praia. Mas seus planos são interrompidos com a chegada de Eric (Gilles Lellouche), Marie (Marion Cotillard), Vincent (Benoît Magimel), Isabelle (Pascale Arbillot) e Antoine (Laurent Lafitte), que planejavam uma festa de aniversário surpresa para ele. Depois de 9 anos afastados, será que a amizade entre eles continua a mesma? Confira o trailer:

"Estaremos Sempre Juntos" sabe, como ninguém, se apoiar na leveza quase irônica da famosa comédia do cinema independente francês. A base da narrativa, claro, continua sendo o drama mais íntimos de cada um dos personagens - mesmo que o tempo de tela quase sempre impeça seu diretor de desenvolver a quantidade de camadas que as performances dos atores tendem a pincelar. Ao explorar os altos e baixos da amizade, do amor e da vida adulta, pela perspectiva do individuo, o roteiro do Rodolphe Lauga ao lado do próprio Canet, ainda assim, é inteligente e perspicaz - ele captura como poucos a dinâmica complexa de um grupo de amigos que se conhece há décadas e trazem consigo as marcas dessa relação.

A direção de Canet é sensível e segura o bastante para transformar situações improváveis em algo emocionalmente marcante. Um bom exemplo disso é que você poderá se emocionar em cenas que nem de longe foram criadas para isso - no meu caso, um "simples" salto de paraquedas me tocou. Eu nunca saltei, mas aquilo que representou essa ação em seu subtexto, por algum motivo, se conectou comigo - e isso vai acontecer com você, se não nessa cena, certamente, em algum outra. Como gosto de pontuar: o roteiro de "Estaremos Sempre Juntos" tem suas falhas, não é tecnicamente perfeito, mas tem alma! Com uma fotografia linda (afinal estamos falando da costa francesa) e uma trilha sonora nostálgica, capaz de evocar a melancolia e a felicidade com muita competência, criando uma atmosfera emocional poderosa, eu diria que a performance do elenco é apenas a deliciosa cereja do bolo. Destaque para os impagáveis, François Cluzet, Marion Cotillard e Benoît Magimel.

Um filme com o toque francês, delicado o bastante para nos levar a questionar a natureza da amizade e do amor verdadeiro em pouco mais de 120 minutos. "Estaremos Sempre Juntos" provoca o questionamento como se realmente conhecêssemos as pessoas que amamos ou se é possível perdoar os erros do passado ou ainda se vale a pena deixar o passado para trás em troca de um presente mais confortável. O fato é que "Estaremos Sempre Juntos" não oferece respostas fáceis para essas perguntas, mas nos convida para uma reflexão profunda sobre as relações humanas com autenticidade e algum humor.

Se não genal, pode acreditar que temos aqui um filme tocante que vai valer muito o seu play!

Assista Agora

O mais incrível de "Estaremos Sempre Juntos" é que, mais uma vez, o diretor Guillaume Canet consegue capturar a essência do que representa uma longa amizade entre um grupo de pessoas tão diferentes entre si, mas que seguem conectadas pelo que existe de mais bacana nessa vida: o amor verdadeiro. Para quem não sabe, essa produção francesa é uma sequência do também excelente "Até a Eternidade" (Les Petits Mouchoirs" no original), de 2010, que acompanhava um grupo de amigos que se reuniu para um fim de semana na casa de praia de Max após um acidente grave de um deles - é nesse contexto de dor e expectativa que velhos ressentimentos e segredos há muito enterrados vêm à tona. Mas calma, é preciso assistir o primeiro filme? Não, Canet sabe muito bem pontuar as marcas de 9 atrás no seu novo roteiro, no entanto, também é preciso que se diga, a experiência de revisitar todos aqueles personagens tanto tempo depois é muito especial.

Aqui, preocupado com os rumos da vida, Max (François Cluzet) decide tirar um final de semana de folga em sua casa de praia. Mas seus planos são interrompidos com a chegada de Eric (Gilles Lellouche), Marie (Marion Cotillard), Vincent (Benoît Magimel), Isabelle (Pascale Arbillot) e Antoine (Laurent Lafitte), que planejavam uma festa de aniversário surpresa para ele. Depois de 9 anos afastados, será que a amizade entre eles continua a mesma? Confira o trailer:

"Estaremos Sempre Juntos" sabe, como ninguém, se apoiar na leveza quase irônica da famosa comédia do cinema independente francês. A base da narrativa, claro, continua sendo o drama mais íntimos de cada um dos personagens - mesmo que o tempo de tela quase sempre impeça seu diretor de desenvolver a quantidade de camadas que as performances dos atores tendem a pincelar. Ao explorar os altos e baixos da amizade, do amor e da vida adulta, pela perspectiva do individuo, o roteiro do Rodolphe Lauga ao lado do próprio Canet, ainda assim, é inteligente e perspicaz - ele captura como poucos a dinâmica complexa de um grupo de amigos que se conhece há décadas e trazem consigo as marcas dessa relação.

A direção de Canet é sensível e segura o bastante para transformar situações improváveis em algo emocionalmente marcante. Um bom exemplo disso é que você poderá se emocionar em cenas que nem de longe foram criadas para isso - no meu caso, um "simples" salto de paraquedas me tocou. Eu nunca saltei, mas aquilo que representou essa ação em seu subtexto, por algum motivo, se conectou comigo - e isso vai acontecer com você, se não nessa cena, certamente, em algum outra. Como gosto de pontuar: o roteiro de "Estaremos Sempre Juntos" tem suas falhas, não é tecnicamente perfeito, mas tem alma! Com uma fotografia linda (afinal estamos falando da costa francesa) e uma trilha sonora nostálgica, capaz de evocar a melancolia e a felicidade com muita competência, criando uma atmosfera emocional poderosa, eu diria que a performance do elenco é apenas a deliciosa cereja do bolo. Destaque para os impagáveis, François Cluzet, Marion Cotillard e Benoît Magimel.

Um filme com o toque francês, delicado o bastante para nos levar a questionar a natureza da amizade e do amor verdadeiro em pouco mais de 120 minutos. "Estaremos Sempre Juntos" provoca o questionamento como se realmente conhecêssemos as pessoas que amamos ou se é possível perdoar os erros do passado ou ainda se vale a pena deixar o passado para trás em troca de um presente mais confortável. O fato é que "Estaremos Sempre Juntos" não oferece respostas fáceis para essas perguntas, mas nos convida para uma reflexão profunda sobre as relações humanas com autenticidade e algum humor.

Se não genal, pode acreditar que temos aqui um filme tocante que vai valer muito o seu play!

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Eu, Daniel Blake

Eu, Daniel Blake

Uma imersão pelo desespero humano perante uma burocracia desumana de um sistema hipócrita e ultrapassada! Talvez não exista forma melhor de definir “Eu, Daniel Blake” depois de assimilar a pancada que é se envolver com a narrativa proposta pelo brilhante diretor Ken Loach (de "Mundo Livre"). E aqui vale ressaltar que Loach não apenas levou para casa a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2016, mas também tocou corações e mentes ao redor do mundo como poucas vezes vimos no cinema moderno - seu filme recebeu mais de 30 prêmios em festivais, além de reconhecimento no Bafta, no Goya, em Locarno e no Cézar Awards. Embora o filme seja uma crítica contundente ao sistema de assistência social britânico, sua mensagem ressoa universalmente, ecoando as lutas de muitos que enfrentam a burocracia opressora em momentos de extrema vulnerabilidade - e isso dói demais! Comparável a outras produções do próprio Loach ao trazer para tela discussões profundas sobre dramas sociais, “Eu, Daniel Blake”, posso garantir, se destaca por seu realismo brutal e por sua jornada visceral na busca pelo que é certo por direito.

Daniel Blake (Dave Johns) é um carpinteiro de 59 anos que, após sofrer um ataque cardíaco, se vê incapaz de trabalhar e por isso precisa solicitar benefícios sociais. Durante sua jornada, ele conhece Katie (Hayley Squires), uma mãe solteira que também enfrenta as dificuldades de um sistema indiferente às necessidades humanas. Juntos, Daniel e Katie formam uma aliança improvável e comovente contra a desumanização burocrática, lutando para manter sua dignidade e, principalmente, a esperança. Confira o trailer:

Não tem como iniciar uma análise mais técnica sem citar Ken Loach - ele é simplesmente magistral como diretor ao transformar uma narrativa até certo ponto simples em uma poderosa crítica social sem soar politizado demais! Loach, conhecido por seu estilo realista e por sua abordagem direta, captura a essência da luta cotidiana dos menos favorecidos e decodifica narrativamente como um verdadeira jornada do herói, sem esteriótipos ou pré-conceitos. Repare como ele faz isso sem exageros melodramáticos, sempre se apoiando em uma honestidade brutal que nos obriga, de um lado, uma reflexão mais estruturada e de outro, uma certa necessidade de confronto perante as injustiças retratadas.

A partir de sua identidade fortemente estabelecida em sua filmografia, Loach brinca com nossa percepção sobre onde começa a "ficção" e termina o "documental" ao escolher atores amadores ou pouco conhecidos, como o próprio Dave Johns, adicionando assim uma camada de autenticidade impressionante e para muitos, até rara. Aliás, Johns, com sua atuação crua e sincera, é a personificação da resistência silenciosa e um símbolo da desesperança para muitos que estão à margem da sociedade. A belíssima fotografia de Robbie Ryan (indicado ao Oscar duas vezes, por "Pobres Criaturas" e "A Favorita")  também merece destaque - existe uma simplicidade tão eficaz perante um trabalho tão complexo que é preciso aplaudir de pé. A câmera de Ryan segue de perto os personagens, quase como um documentário, reforçando a sensação de realidade e urgência. As cores são frias e a iluminação é natural, refletindo toda essa atmosfera mais opressiva e desoladora da vida de Daniel e Katie. Essa abordagem visual complementa perfeitamente o conceito narrativo do filme, nos levando em uma experiência onde o foco é unicamente os protagonistas sem distração estética alguma.

“Eu, Daniel Blake” é um filme que todos deveriam assistir - e você vai entender essa observação assim que os créditos subirem. Esse filme não apenas expõe as falhas de um sistema que deveria proteger os mais vulneráveis, mas também celebra a resiliência e a solidariedade humana por um olhar bem mais empático. Ken Loach está no melhor da sua forma, ele oferece uma visão implacável, porém essencial, da luta por dignidade em um mundo cada vez mais indiferente. Olha, não será uma jornada confortável, mas se você estiver disposto a encarar a dura realidade apresentada por Loach, “Eu, Daniel Blake” será uma experiência, de fato, inesquecível. Pode me cobrar depois!

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Uma imersão pelo desespero humano perante uma burocracia desumana de um sistema hipócrita e ultrapassada! Talvez não exista forma melhor de definir “Eu, Daniel Blake” depois de assimilar a pancada que é se envolver com a narrativa proposta pelo brilhante diretor Ken Loach (de "Mundo Livre"). E aqui vale ressaltar que Loach não apenas levou para casa a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2016, mas também tocou corações e mentes ao redor do mundo como poucas vezes vimos no cinema moderno - seu filme recebeu mais de 30 prêmios em festivais, além de reconhecimento no Bafta, no Goya, em Locarno e no Cézar Awards. Embora o filme seja uma crítica contundente ao sistema de assistência social britânico, sua mensagem ressoa universalmente, ecoando as lutas de muitos que enfrentam a burocracia opressora em momentos de extrema vulnerabilidade - e isso dói demais! Comparável a outras produções do próprio Loach ao trazer para tela discussões profundas sobre dramas sociais, “Eu, Daniel Blake”, posso garantir, se destaca por seu realismo brutal e por sua jornada visceral na busca pelo que é certo por direito.

Daniel Blake (Dave Johns) é um carpinteiro de 59 anos que, após sofrer um ataque cardíaco, se vê incapaz de trabalhar e por isso precisa solicitar benefícios sociais. Durante sua jornada, ele conhece Katie (Hayley Squires), uma mãe solteira que também enfrenta as dificuldades de um sistema indiferente às necessidades humanas. Juntos, Daniel e Katie formam uma aliança improvável e comovente contra a desumanização burocrática, lutando para manter sua dignidade e, principalmente, a esperança. Confira o trailer:

Não tem como iniciar uma análise mais técnica sem citar Ken Loach - ele é simplesmente magistral como diretor ao transformar uma narrativa até certo ponto simples em uma poderosa crítica social sem soar politizado demais! Loach, conhecido por seu estilo realista e por sua abordagem direta, captura a essência da luta cotidiana dos menos favorecidos e decodifica narrativamente como um verdadeira jornada do herói, sem esteriótipos ou pré-conceitos. Repare como ele faz isso sem exageros melodramáticos, sempre se apoiando em uma honestidade brutal que nos obriga, de um lado, uma reflexão mais estruturada e de outro, uma certa necessidade de confronto perante as injustiças retratadas.

A partir de sua identidade fortemente estabelecida em sua filmografia, Loach brinca com nossa percepção sobre onde começa a "ficção" e termina o "documental" ao escolher atores amadores ou pouco conhecidos, como o próprio Dave Johns, adicionando assim uma camada de autenticidade impressionante e para muitos, até rara. Aliás, Johns, com sua atuação crua e sincera, é a personificação da resistência silenciosa e um símbolo da desesperança para muitos que estão à margem da sociedade. A belíssima fotografia de Robbie Ryan (indicado ao Oscar duas vezes, por "Pobres Criaturas" e "A Favorita")  também merece destaque - existe uma simplicidade tão eficaz perante um trabalho tão complexo que é preciso aplaudir de pé. A câmera de Ryan segue de perto os personagens, quase como um documentário, reforçando a sensação de realidade e urgência. As cores são frias e a iluminação é natural, refletindo toda essa atmosfera mais opressiva e desoladora da vida de Daniel e Katie. Essa abordagem visual complementa perfeitamente o conceito narrativo do filme, nos levando em uma experiência onde o foco é unicamente os protagonistas sem distração estética alguma.

“Eu, Daniel Blake” é um filme que todos deveriam assistir - e você vai entender essa observação assim que os créditos subirem. Esse filme não apenas expõe as falhas de um sistema que deveria proteger os mais vulneráveis, mas também celebra a resiliência e a solidariedade humana por um olhar bem mais empático. Ken Loach está no melhor da sua forma, ele oferece uma visão implacável, porém essencial, da luta por dignidade em um mundo cada vez mais indiferente. Olha, não será uma jornada confortável, mas se você estiver disposto a encarar a dura realidade apresentada por Loach, “Eu, Daniel Blake” será uma experiência, de fato, inesquecível. Pode me cobrar depois!

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Every Breath You Take

Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!

Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.

A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.

"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.

Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!

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Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!

Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.

A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.

"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.

Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!

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Extraordinário

Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!

Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:

"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.

Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!

"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!

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Daqui alguns anos, "Extraordinário" vai passar na Sessão da Tarde tantas vezes quanto "Meu primeiro amor" passou e nem por isso vamos deixar de assistir e de se apaixonar!

Baseado no best-seller do New York Times, "Wonder" (título original) lançado por R.J. Palacio em 2012, o filme conta uma inspiradora e emocionante história de um menino, August Pullman (Jacob Tremblay), que tem uma deformidade facial e que, já com 10 anos, é incentivado a frequentar uma escola normal pela primeira vez. Confira o trailer:

"Extraordinário" é um filme delicado, mas acabou se tornando, propositalmente, superficial demais. Explorar algumas discussões tão pertinentes nos dias de hoje nunca foi o foco: claro que o roteiro não deixa de abordar temas como o bullying, por exemplo, mas de fato optou por trabalhar com leveza o assunto, mostrando a atitude muito mais como um reflexo de problemas emocionais de quem pratica do que se apegando às profundas marcas que podem deixar em quem sofre.

Na minha opinião o filme também poderia ter ido mais fundo em outra questão importante: o preconceito - seria uma grande oportunidade, mas a jornada de superação de Auggie era mais relevante para a história do que levantar qualquer uma bandeira, mas é importante dizer que sim, está tudo lá; basta saber enxergar e entender que o objetivo nunca foi chocar! Ao fugir dos assuntos mais polêmicos, o filme ficou muito agradável de assistir, deixando claro que seu único objetivo era te fazer chorar - e nesse aspecto cumpre com louvor!

"Extraordinário" vale a pena como entretenimento, mas não espere muito mais que um filme bonitinho e muito emocionante!

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Falando a Real

Pode até parecer um pouco confuso isso que vou dizer, mas "Falando a Real" é uma mistura extremamente bem equilibrada de "Ted Lasso" com "O Método Kominsky".Aliás, isso não acontece por acaso, já que a série é uma co-criação de Bill Lawrence (também criador de "Ted Lasso"), Brett Goldstein (o inesquecível Roy Kent) e Jason Segel (sim, o Marshall de "How I Met Your Mother"). O comparativo entre as séries não para por aí, já que Lawrence repete exatamente a mesma estrutura narrativa, só que dessa vez pontuando a vida de um terapeuta (pouco ortodoxo como Lasso) que tenta passar pelo luto da perda repentina de sua esposa (lembram do Norman?). De uma forma extremamente sensível, a série discute temas como o luto, a depressão, o relacionamento distante entre pai e filha e também, conforme a temporada vai se desenvolvendo, traz para os holofotes o drama diante do diagnóstico do Mal de Parkinson - com um Harrison Ford no melhor de sua forma.

Jimmy (Segel) é um terapeuta em luto que decide burlar todas as regras de sua profissão para dizer aos seus pacientes exatamente o que pensa. Deixando a ética profissional um pouco de lado, ele consegue transformar a vida de muitas pessoas a partir dessa nova abordagem, incluindo a sua. Jimmy é um dos protegidos do Dr. Phil Rodes (Ford), um psicólogo pé no chão, afiado e genial na área de terapia cognitivo-comportamental que acaba de ser diagnosticado com Mal de Parkinson. A relação entre eles ganha uma nova camada quando Phil passa a aconselhar a filha do amigo (e pupilo) na tentativa de uni-los após a tragédia familiar que ambos não conseguiram resolver juntos. Confira o trailer (em inglês):

Além de um texto dos mais inteligentes, irônico e divertido, é inegável que a força do elenco acaba colocando a série em outro patamar - o Jimmy de Segel é tão envolvente quanto humano, na forma como passa a tratar seus pacientes, quando diz sempre a "real", em um contraponto enorme ao tentar se relacionar com a filha, Alice (Lukita Maxwell), com quem tem enorme dificuldade de se comunicar, e assim quebrar todas as barreiras construídas pela maneira como cada um enfrentou o luto. A dobradinha Segel e Ford também entrega performances brilhantes, trazendo uma mistura de humor e emoção para seus personagens - mais ou menos como Douglas e Arkin em "Kominsky". A química entre os dois é palpável, e sua amizade, além da admiração profissional, rende diálogos afiados e situações cômicas ao mesmo tempo em que pontua temas mais sérios de uma maneira acessível, mantendo um equilíbrio entre o riso, a reflexão e a emoção.

Outro ponto muito interessante de "Falando a Real", sem dúvida, está nas camadas que o roteiro pincela com muita habilidade para construir momentos que exploram alguns sentimentos sem soar pragmático demais. Veja, é natural Jimmy sofrer pela perda da esposa, no entanto, Phil também precisa lidar com as suas sem ao menos se expor perante quem, na visão dele, precisa de ajuda naquele momento - a cena em que ele conta se permitir sofrer 15 minutos por dia, dada sua condição de saúde, e depois retomar a vida como se nada tivesse acontecido, dá o exato tom da profundidade das relações estabelecidas na série. Reparem que existe muito arrependimento, situações familiares e de amizade mal resolvidas nas entrelinhas e isso, meu amigo, mexe demais com a gente.

"Shrinking" (no original) é mais uma daquelas séries que consegue equilibrar habilmente momentos mais sérios com um humor inteligente, garantindo uma jornada cheia de nuances e, principalmente, emocionante. Encantadora na sua essência e bem executada na sua forma, a série da Apple sabe ser autêntica, espontânea e comovente com a mesma habilidade com que se posiciona após uma ou outra cena claramente estereotipada. Com performances excelentes, diálogos afiados e uma mistura equilibrada de comédia e drama, a série vai te conquistar - pode apostar!

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Pode até parecer um pouco confuso isso que vou dizer, mas "Falando a Real" é uma mistura extremamente bem equilibrada de "Ted Lasso" com "O Método Kominsky".Aliás, isso não acontece por acaso, já que a série é uma co-criação de Bill Lawrence (também criador de "Ted Lasso"), Brett Goldstein (o inesquecível Roy Kent) e Jason Segel (sim, o Marshall de "How I Met Your Mother"). O comparativo entre as séries não para por aí, já que Lawrence repete exatamente a mesma estrutura narrativa, só que dessa vez pontuando a vida de um terapeuta (pouco ortodoxo como Lasso) que tenta passar pelo luto da perda repentina de sua esposa (lembram do Norman?). De uma forma extremamente sensível, a série discute temas como o luto, a depressão, o relacionamento distante entre pai e filha e também, conforme a temporada vai se desenvolvendo, traz para os holofotes o drama diante do diagnóstico do Mal de Parkinson - com um Harrison Ford no melhor de sua forma.

Jimmy (Segel) é um terapeuta em luto que decide burlar todas as regras de sua profissão para dizer aos seus pacientes exatamente o que pensa. Deixando a ética profissional um pouco de lado, ele consegue transformar a vida de muitas pessoas a partir dessa nova abordagem, incluindo a sua. Jimmy é um dos protegidos do Dr. Phil Rodes (Ford), um psicólogo pé no chão, afiado e genial na área de terapia cognitivo-comportamental que acaba de ser diagnosticado com Mal de Parkinson. A relação entre eles ganha uma nova camada quando Phil passa a aconselhar a filha do amigo (e pupilo) na tentativa de uni-los após a tragédia familiar que ambos não conseguiram resolver juntos. Confira o trailer (em inglês):

Além de um texto dos mais inteligentes, irônico e divertido, é inegável que a força do elenco acaba colocando a série em outro patamar - o Jimmy de Segel é tão envolvente quanto humano, na forma como passa a tratar seus pacientes, quando diz sempre a "real", em um contraponto enorme ao tentar se relacionar com a filha, Alice (Lukita Maxwell), com quem tem enorme dificuldade de se comunicar, e assim quebrar todas as barreiras construídas pela maneira como cada um enfrentou o luto. A dobradinha Segel e Ford também entrega performances brilhantes, trazendo uma mistura de humor e emoção para seus personagens - mais ou menos como Douglas e Arkin em "Kominsky". A química entre os dois é palpável, e sua amizade, além da admiração profissional, rende diálogos afiados e situações cômicas ao mesmo tempo em que pontua temas mais sérios de uma maneira acessível, mantendo um equilíbrio entre o riso, a reflexão e a emoção.

Outro ponto muito interessante de "Falando a Real", sem dúvida, está nas camadas que o roteiro pincela com muita habilidade para construir momentos que exploram alguns sentimentos sem soar pragmático demais. Veja, é natural Jimmy sofrer pela perda da esposa, no entanto, Phil também precisa lidar com as suas sem ao menos se expor perante quem, na visão dele, precisa de ajuda naquele momento - a cena em que ele conta se permitir sofrer 15 minutos por dia, dada sua condição de saúde, e depois retomar a vida como se nada tivesse acontecido, dá o exato tom da profundidade das relações estabelecidas na série. Reparem que existe muito arrependimento, situações familiares e de amizade mal resolvidas nas entrelinhas e isso, meu amigo, mexe demais com a gente.

"Shrinking" (no original) é mais uma daquelas séries que consegue equilibrar habilmente momentos mais sérios com um humor inteligente, garantindo uma jornada cheia de nuances e, principalmente, emocionante. Encantadora na sua essência e bem executada na sua forma, a série da Apple sabe ser autêntica, espontânea e comovente com a mesma habilidade com que se posiciona após uma ou outra cena claramente estereotipada. Com performances excelentes, diálogos afiados e uma mistura equilibrada de comédia e drama, a série vai te conquistar - pode apostar!

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Falsos Milionários

"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.

Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:

Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.

A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.

Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.

Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!

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"Falsos Milionários" é excelente, mas não deve agradar a todos pela forma cadenciada como sua narrativa conduz uma história densa e cheia de nuances (com um conceito bem independente, aliás). Eu diria que o filme dirigido pela quase novata Miranda July segue muito a linha de "Florida Project", "Castelo de Vidro" e "Capitão Fantástico", para discutir as relações familiares e a maneira como o amor (ou a falta dele) pode impactar profundamente a vida de uma pessoa. Veja, o filme é muito feliz em não cair na tentação de cortar caminhos para expressar toda a complexidade e a dinâmica dessa relação pouco usual, porém quando as peças se encaixam, encontramos um verdadeiro ensaio sobre a solidão, sobre a busca por uma identidade e sobre os traumas mais íntimos. Então se prepare, você vai precisar de um tempo para digerir todas essas camadas.

Old Dolio (Evan Rachel Wood) é uma jovem de 26 anos que convive com sua família completamente desestruturada que frequentemente faz pequenos golpes para sobreviver. Desprovidos de qualquer nível de bom-senso (para dizer o mínimo), seus pais, Robert (Richard Jenkins) e Theresa (Debra Winger), acabam se envolvendo com a porto-riquenha Melanie (Gina Rodriguez) enquanto aplicavam mais um de seus golpes. A partir dessa nova relação, a vida de Dolio vira de cabeça para baixo e alguns questionamentos começam a tomar conta do seu dia a dia. Confira o trailer:

Apenas para alinhar as expectativas: o filme não é sobre os golpes e muito menos sobre os golpistas como em "Sharper"; e também não é uma comédia como muitos sites vem classificando "Falsos Milionários". O filme é um drama, com algumas passagens engraçadas, várias passagens bem constrangedoras, mas mesmo assim com uma temática bastante profunda e reflexiva. Embora esse seja apenas o terceiro longa-metragem de July, talvez o mais comercial de todos eles, a diretora foi muito feliz em construir sua história (ela também é a roteirista) sem a pretensão de impactar visualmente os embates sentimentais entre os personagens - tirando uma ou outra cena, nossa percepção de solidão vai além dos diálogos; ela está no silêncio, no olhar carregado de dor de Wood.

A fotografia do Sebastian Wintero (muito reconhecido pelo seu trabalho no cenário musical, em trabalhos com o U2, por exemplo) tem o cuidado de nos distanciar da movimentação dessa família disfuncional criando uma atmosfera extremamente esquisita - os planos abertos chegam a ser cômicos, já que as situações são impensáveis. Tudo parece acontecer em um universo à parte, distante de qualquer realismo lógico - as cenas da família tentando não chamar a atenção do dono do lugar onde eles dormem, seriam muito divertidas se não fossem trágicas. Nos planos mais fechados, aí Wintero brinca com nossas sensações mesmo, principalmente ao potencializar os olhares e os tempos certos, a falta de ética dos pais de Dolio e a ausência de amor entre todos eles.

Cheia de simbolismos, "Kajillionaire" (no seu curioso título original) é muito, mas muito maior do que aparenta ser. Existe uma sensibilidade incrível da diretora ao nos convidar para acompanhar o processo de despertar da protagonista que, mesmo sem entender as razões, passa a enxergar além de sua miserável realidade - o trabalho de Wood é tão intenso que surpreende o fato dela não ter sido lembrada no Oscar 2021. Pois bem, essa é uma obra genuína, original, daquelas de difícil digestão, pois embora nada nos seja apresentado de forma tão convencional, a trama sabe exatamente onde colocar o dedo na ferida para gerar conexão.

Pode ter certeza que essa será uma das mais belas surpresas que você vai experienciar! É só dar o play!

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Ficção Americana

Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Filhos da Esperança

“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.

No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:

Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!

Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.

No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.

Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!

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“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.

No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:

Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!

Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.

No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.

Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!

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Filhos de Ninguém

É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

Vale muito o seu play!

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É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

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Florida Project

Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: ​Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:

Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.

"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.

Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!

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Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: ​Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:

Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.

"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.

Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!

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Fome de Sucesso

A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.

A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.

O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.

"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!

Vale muito o seu play!

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A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.

A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.

O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.

"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!

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For All Mankind

Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.

É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.    

"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio. 

É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem? 

"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar, mas não deve se tornar inesquecível! Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!

Assista Agora 

Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.

É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.    

"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio. 

É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem? 

"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar, mas não deve se tornar inesquecível! Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!

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Força Maior

"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

Assista Agora

"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

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Garra de Ferro

Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.

"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:

Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.

Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.

"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.

Vale eu play!

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Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.

"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:

Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.

Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.

"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.

Vale eu play!

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Girl

"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o "Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!

A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):

De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.

A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.

A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!

Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!

Assista Agora

"Girl", que por aqui ganhou o sugestivo título de "O Florescer de Uma Garota", é um filme que precisa ser levado muito a sério e que certamente vai te exigir alguma reflexão, além de muita (mas, muita) empatia - e olha, não será uma jornada fácil! É inegável que essa obra dirigida pelo Lukas Dhont (o mesmo de "Close") se destaca não apenas pela delicadeza com que trata o tema da transição de gênero, como também pela intensidade de sua narrativa extremamente realista, profunda e visceral! A obra é uma verdadeira joia escondida no catálogo do streaming, capaz de capturar a complexidade de uma jovem bailarina em sua busca por identidade e aceitação - é de cortar a alma! Premiado com a "Camera d'Or" de Melhor Diretor, com o prêmio "FIPRESCI", com o "Victor Polster e com "Queer Palm", todos no Festival de Cannes de 2018, esse filme de fato se sobressai perante outras produções menos sensíveis sobre a experiência trans, por justamente se apoiar em uma abordagem única e corajosa de um assunto tão importante!

A trama segue Lara (Polster) uma garota de 16 anos que se dedica ao balé enquanto enfrenta a difícil jornada de sua transição de gênero. Ao lado de seu pai, Mathias (Arieh Worthalter), ela navega pelas complexidades emocionais e físicas do processo, enquanto se esforça para se relacionar normalmente com suas amigas adolescentes e com sua paixão pela dança. Essa história é um retrato íntimo e angustiante de Lara, que luta não só contra a disforia de gênero, mas também contra o preconceito e o auto-julgamento. Confira o trailer (com legendas em inglês):

De uma forma muito inteligente, Lukas Dhont combina a intensidade física da dedicação de Lara pelo balé com a sua dolorosa experiência em se aceitar - essa dinâmica narrativa cria uma sensação de angústia absurda que realmente chama nossa atenção. A câmera do fotógrafo Frank van den Eeden (também de "Close"), com seus closes inquietantes e longas tomadas, enfatiza ainda mais esse conceito ao focar na fisicalidade extrema da dança de um lado e nos desafios pessoais de Lara do outro, tornando palpável o esforço titânico da personagem em um jogo de simbologias dos mais interessantes. O balé, aqui, além de retratado como uma paixão da protagonista, também funciona como um campo de batalha onde cada movimento e cada ensaio se tornam um reflexo de sua luta diária por identidade. A precisão dessa conexão entre a semiose e a semiótica é poderoso e serve de contexto para explorar a necessidade de Lara em se adaptar a um mundo em movimento que constantemente testa e desafia sua alma de várias formas.

A performance de Victor Polster é impecável - chega a ser surpreendente como ele não foi indicado ao Oscar de 2019, especialmente quando lembramos que o vencedor daquele ano foi Rami Malek. Com pouca experiência até aquele momento, Polster entrega uma performance surpreendentemente madura e autêntica, trabalhando a vulnerabilidade e a determinação de Lara de maneira que transcende a tela e realmente nos toca fundo. Sua interpretação, combinada com a abordagem sensível do roteiro, evita estereótipos, mergulhando na psicologia do personagem como raramente vemos - repare nos olhares, nos momentos de silêncio, na respiração pausada. Embora seja uma performance que exige empatia e oferece uma janela indigesta para a realidade de uma jovem em transição, é incrível como seu trabalho reforça a sensação de humanidade de Lara sem reduzi-la a um símbolo ou um arquétipo.

A escolha de uma narrativa que não se esquiva de momentos dolorosos e desconfortáveis é um dos pontos altos de "Girl". As sequências em que Lara enfrenta seus próprios limites em um vestiário feminino ou na casa de uma de suas amigas do balé são particularmente impactantes. E esses são só dois rápidos exemplos da atmosfera emocional que o filme representa - um misto de angústia e esperança que nos acompanha durante toda jornada. Então, para aqueles que apreciam histórias duras, difíceis e que desafiam (e provocam) reflexões, esta é realmente uma obra que merece ser vista e discutida com um olhar mais humano. Impressionante!

Dê o play e embarque nessa experiência sem receios!

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Gleason

ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!

Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):

"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.

Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA. 

(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.) 

Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!

Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!

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ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!

Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):

"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.

Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA. 

(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.) 

Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!

Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!

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