indika.tv - ml-familia

Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

Cenas de um Casamento

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Chef

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

Assista Agora

Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Meu primeiro conselho, talvez seja o mais importante: não assista "Chef" com fome! O segundo: após assistir o filme, retorne para esse review que a receita no final do texto fará muito mais sentido para você! 

Carl Casper (Jon Favreau) é um respeitado chef de cozinha do restaurante Riva em Los Angeles. Sua equipe o adora, principalmente seus amigos Martin (John Leguizamo) e Tony (Bobby Cannavale). Quando um famoso crítico gastronômico marca de visitar o restaurante, Casper quer impressiona-lo de toda forma. Infelizmente, o dono do local, Riva (Dustin Hoffman), decide que eles devem continuar servindo os mesmos pratos de um cardápio, na visão dele, estabelecido e aprovado pelos clientes. Acontece que Carl não está nada confiante que esse cardápio possa impressionar o critico, mas sob pressão do empresário, e mesmo contrariado, atende ao pedido de Riva e acaba sendo massacrado pelo crítico. A crítica pouco elogiosa viraliza nas redes sociais e Carl resolve tirar satisfação, mas por não conhecer a dinâmica de postagens do Twitter, ele acaba provocando o crítico para uma espécie de revanche. Mais uma vez seus planos são minados por Riva, só que com um agravante: ele é demitido. Agora Carl precisa arranjar uma forma de se reinventar como chef ao mesmo tempo em que tenta se aproximar do seu filho. Confira o trailer:

Pela sinopse e pelo trailer, fica fácil perceber que o filme é praticamente uma comédia romântica onde a grande paixão do protagonista é a comida. Não é exagero algum comparar a dinâmica narrativa de "Chef" a um clássico dos anos 2000 e que trazia na sua história a mesma leveza e atmosfera: "Duets: Vem Cantar Comigo". Veja, um filme não tem nada a ver com outro, mas o mood  é semelhante: uma espécie de "Sessão da Tarde com um algo a mais" e que adoramos assistir!

Favreau que também dirigiu o filme, acertou em cheio na forma - e mesmo não tendo um conteúdo tão original ou sendo uma história imprevisível, eu diria que pela proposta, vai ser difícil encontrar algum defeito em "Chef". Visualmente, Favreau trabalhou a narrativa usando muito da poesia e provocando os sentidos como um ano depois "Chefs Table" fez. Ele consegue prender a audiência do primeiro ao último segundo do filme, literalmente - aliás, não deixe de assistir o "making of" de uma das cenas que fica disponível durante os créditos.

Outro elemento que salta aos olhos é o elenco: temos Dustin Hoffman, Scarlett Johansson, Bobby Cannavale, Oliver Platt e até Robert Downey Jr. em rápidas cenas, mas que colocam o filme em outro patamar. Sofia Vergara e de John Leguizamo dão o tom do filme ao lado do sempre carismático Favreau, porém o grande destaque é o jovem Emjay Anthony que interpreta o filho de Carl, Percy. Sensível e divertido, Anthony mostra muita maturidade e cria uma química impressionante com Leguizamo e Favreau, principalmente no final do segundo ato quando "Chef" ganha um "delicioso" status de road movie gastronômico.

"Chef" pode ter passado despercebido por você, até pelo tom independente do filme, então sugiro que você aproveite a oportunidade que o streaming está te proporcionando e dê o play! Será uma jornada muito agradável, divertida, emocionante e que vai aguçar os seus sentidos de uma forma que nos praticamente nos obrigou a colar uma receita de comida em um review de filme!

Bom apetite! 

Assista Agora

Bom, agora que vamos ao que interessa, o "Sanduíche Cubano":

Ingredientes:

Para Marinada

  • 2 colheres (sopa) Azeite
  • 1 unidade Laranja (suco)
  • 1 unidade Limão
  • 2 dentes Alho picado
  • 2 colheres (sopa) Coentro fresco picado
  • 1/2 colher (sopa) Hortelã fresca picada
  • 1/2 colher (chá) Cominho a gosto
  • 1/2 colher (chá) Sal
  • 200 g Lombo Suíno
  • 2 unidades Baguete pequenas
  • 40 g Manteiga
  • 10 ml Azeite
  • 4 fatias Presunto Royale
  • 120 g Queijo Suíço
  • 4 unidades Pepino em conserva (picles)
  • 20 g Mostarda Amarela

As instruções do chef:

Para a Marinada

  • Fatiar o lombo suíno em fatias finas
  • Ralar a casca de 1/2 laranja, e retirar o sumo da laranja inteira
  • Espremer o limão até obter todo o sumo
  • Em um saco hermético ou em um recipiente, colocar todos os ingredientes da marinada
  • Adicionar o lombinho suíno fatiado e levar para geladeira durante 20 minutos

Para o Sanduíche

  • Retirar as pontas da baguete e parti-las ao meio no sentido do comprimento
  • Passar manteiga na parte interna da baguete
  • Retirar o lombo da geladeira e grelhar em uma chapa bem quente, cerca de 1 minuto de cada lado
  • Reservar
  • Grelhar o pão com a parte da manteiga para baixo, quando dourar retirar da chapa
  • Grelhar os dois lados das fatias do presunto
  • Partir ao meio o pepino

Para a Montagem

  • Nas metades de baixo dos pães, colocar as fatias do lombo suíno, o presunto, o queijo suíço fatiado, e 4 pedaços de pepino
  • Na metade de cima, passar a mostarda amarela
  • Fechar o sanduíche e pincelar por fora com o restante da manteiga
  • Voltar o sanduíche para chapa com o fogo baixo por cerca de 2 minutos em cada lado, pressionando
  • Retirar da chapa quando os dois lados do sanduíche estiver dourado e o queijo derretido

Cherry

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

Assista Agora

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

Assista Agora

Close

Close

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

Assista Agora

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

Assista Agora

Crimes de Família

Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

Assista Agora ou

Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

Assista Agora ou

De Cabeça Erguida

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

Vale muito seu play!

Assista Agora

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

Vale muito seu play!

Assista Agora

De Volta ao Espaço

O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).

O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):

99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!

Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.

Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).

O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):

99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!

Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.

Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Dentro da Casa

"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

Assista Agora

"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

Assista Agora

Destruição Final

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

Assista Agora

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

Assista Agora

Diga quem sou

E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?

Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?

Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!

"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!

O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores;  enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!

"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!

Assista Agora

E se toda memória que te assombrou a vida inteira pudesse ser apagada? E se algo realmente horrível tivesse acontecido na sua infância e a pessoa que você mais ama pudesse tirar isso da sua mente?

Com essa premissa, qualquer filme ou série de ficção já chamaria a atenção de muita gente, certo? A grande questão é que "Diga quem sou" é um documentário! Um excelente documentário, eu diria! O filme mostra o dilema ético que Marcus Lewis, na época com 18 anos, enfrentou quando seu irmão gêmeo, Alex, despertou do coma após um acidente de moto, completamente sem memória. Marcus foi a única pessoa que ele reconheceu. Alex, então, confiou inteiramente em seu irmão para que pudesse reconstruir o seu passado a partir das lembranças que o irmão descrevia, porém nem tudo precisava ser dito e é aí que o documentário começa ganhar força, pois a todo momento nos colocamos na pele de Marcus e, mesmo sem entender a razão exata das suas escolhas, iniciamos um processo natural de julgamento: qual o preço que devemos pagar por nem sempre falarmos a verdade?

Se prepare, pois essa discussão moral de "Diga quem sou" é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe é um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!

"Diga quem sou" é dividido em três partes muito bem definidas: Primeiro acompanhamos o ponto de vista de Alex e como ele lidou com sua nova condição, sua relação com a família, amigos, namorada e, claro, com o apoio do irmão no processo de reaprendizado. Depois é a vez de Marcus e como ele se relacionou com o irmão logo após o acidente, como ele ajudou o irmão a reconstruir suas memórias a partir dos relatos das suas próprias "lembranças" e depois como ele enfrentou o peso de suas escolhas durante anos. Então, para finalizar, vemos em um terceiro momento, os dois irmãos sendo colocados frente a frente, olho no olho, ouvindo um ao outro e entendendo os motivos pelas quais os fizeram agir da forma com que eles mesmos relataram nos dois atos anteriores. É pesado!!!

O interessante do documentário é que o diretor Ed Perkins (indicado ao Oscar, ano passado, pelo seu curta-metragem documental "Black Sheep") foi capaz de estabelecer uma narrativa muito bem definida, respeitando o ponto de vista de cada um dos irmãos a partir de depoimentos e de dramatizações extremamente conceituais e lindamente filmadas. É perceptível o talento do diretor em nos colocar dentro da história, de uma forma muito envolvente e a cada nova informação, nos provocando, nos tirando de uma zona de conforto e, principalmente, nos mostrando que as histórias possuem sempre um outro lado - ele não faz isso apenas com um roteiro muito bem amarrado, mas com as imagens que se repetem e são interpretadas de um outro ponto de vista! É incrível! Outro detalhe de enorme sensibilidade do diretor, são os enquadramentos perfeitos. Nos dois primeiros atos, nos vemos dentro da sala, como co-protagonistas daqueles depoimentos, quase como entrevistadores;  enquanto no terceiro ato, somos apenas observadores, constrangidos e receosos pelo que virá logo a frente - as pausas, o silêncio, são ensurdecedores e você vai entender na pele o que eu quero dizer assim que estiver assistindo!

"Diga quem sou" é uma surpresa "agradável", lançada sem muito marketing pela Netflix, mas com uma enorme qualidade artística! Um trabalho muito bem realizado a partir de uma autobiografia dos irmãos Lewis, onde Perkins cria um poderoso relato que ajuda o público a explorar essa incrível história e sua notável jornada de 35 anos após aquele "libertador" acidente. E como disse um crítico no Festival de Cinema de Londres: "é um exame profundamente comovente da memória e do trauma, da responsabilidade pessoal e, finalmente, do amor". Mas é preciso dizer também que não se trata de um entretenimento leve, muito pelo contrário, é uma história pesada, cheia de magoas, de mentiras, de desculpas, de dramas íntimos! É um documentário de pouco mais de uma hora que nos tira do sério, nos faz sentir medo do que vamos escutar, descobrir, e isso é raro; por isso indico de olhos fechados, mas esteja preparado para lidar com o lado mais sombrio que um ser humano pode suportar!

Assista Agora

Disque Jane

"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

Assista Agora

"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

Assista Agora

Divertidamente 2

Poucos Estúdios tem a capacidade de gerar sequências tão boas ou melhores que o filme original quanto a Pixar/Disney - e por isso merece muitos elogios! "Divertidamente 2" é um filme para assistir sorrindo, até quando a emoção pede licença e toma conta da nossa alma por saber exatamente onde tocar - é lindo, de verdade! Essa aguardada sequência da aclamada animação de 2015 é dirigida por Kelsey Mann (de "O Bom Dinossauro") e mais uma vez explora as emoções humanas de um forma realmente encantadora e, claro, tocante. Nessa nova jornada, a história continua a acompanhar Riley, agora uma adolescente, e as mudanças emocionais e desafios que vêm com essa fase de transição - os simbolismos do roteiro, olha, são tão especiais quanto do primeiro filme, com o adicional de retratar uma fase que carrega a complexidade que é amadurecer. 

Riley está entrando na adolescência, uma fase marcada por novas emoções e mudanças de perspectiva. Os personagens que representam as emoções (Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho) continuam a acompanhá-la, mas agora são introduzidas novas possibilidades com a Inveja, a Vergonha, o Tédio e a Ansiedade, refletindo a turbulência interna da adolescência. Essas emoções extras criam conflitos e dinâmicas inéditas, com as emoções antigas tentando entender e aceitar suas novas "colegas" no painel de controle da mente de Riley. Confira o trailer:

Kelsey Mann, que assume a direção deixada pelo lendário Pete Docter, mantém a essência do primeiro filme ao mesmo tempo em que expande o universo emocional de Riley. Mann trabalha com sutileza para que a história mantenha o equilíbrio entre a comédia e o drama, capturando os desafios e os momentos de descoberta típicos da adolescência. Ele consegue transmitir de forma inteligente como as emoções se tornam mais complexas e, em muitos momentos, contraditórias, explorando de maneira divertida como a mente precisa se adaptar (e rápido) às mudanças - bem ao estilo "a vida como ela é". O roteiro, assinado por Meg LeFauve (co-autora do primeiro filme), oferece uma narrativa que mistura tanto aventura quanto reflexão - repare como a introdução das novas emoções traz situações inesperadas e com muita semiótica, discute a necessidade de integração para assim lidar com a fase da adolescência. As interações entre as emoções são marcadas por momentos de humor e profundidade, criando uma conexão forte com a audiência, que se vê refletida nas inseguranças e nos desafios enfrentados por Riley - chega a dar um aperto no peito!

O design visual da mente de Riley é outro ponto alto da produção. As novas representações emocionais são visualmente criativas e refletem tanto a estética familiar do primeiro filme quanto um toque inovador que acompanha o amadurecimento da protagonista. A paleta de cores agora está mais rica e variada para refletir essa enxurrada de descobertas, mas sem esquecer de um tom levemente sombrio que surge com as cobranças sociais e intimas desse amadurecimento - aliás, esse contraste conceitual é tão bem desenvolvido e cheio de detalhes que vale a pena até assistir de novo para captar tantas nuances. A trilha sonora, responsabilidade de Andrea Datzman, também merece destaque - ela complementa a jornada emocional de forma muito eficaz, com melodias que variam entre leves e introspectivas, refletindo as flutuações de humor e as incertezas da adolescência. Veja, a música não apenas acompanha a ação, mas intensifica os momentos emocionais, oferecendo uma imersão ainda maior à experiência que é assistir "Divertidamente 2".

Aqui temos um filme que não hesita em explorar a complexidade que é crescer e como essas mudanças afetam a construção da identidade de Riley. Temas sensíveis e que merecem discussões mais profundas como insegurança, aceitação e a necessidade de equilibrar emoções conflitantes, são abordados de forma acessível e envolvente, tanto para a criançada quanto para os adultos - eu diria até que, como o primeiro, esse filme é mais para os pais do que para os filhos. "Divertidamente 2" mostra que, assim como na vida real, a mente é um espaço de adaptação constante, onde as emoções aprendem a conviver e a se ajustar para lidar com novos desafios. O fato é que essa continuação honra, e ainda expande, o legado de seu antecessor, oferecendo uma visão profunda e empática sobre as mudanças que todos nós enfrentamos ao longo da nossa jornada.

Lindo de ver e de viver - e se prepare, vem mais por aí! Imperdível!

Assista Agora

Poucos Estúdios tem a capacidade de gerar sequências tão boas ou melhores que o filme original quanto a Pixar/Disney - e por isso merece muitos elogios! "Divertidamente 2" é um filme para assistir sorrindo, até quando a emoção pede licença e toma conta da nossa alma por saber exatamente onde tocar - é lindo, de verdade! Essa aguardada sequência da aclamada animação de 2015 é dirigida por Kelsey Mann (de "O Bom Dinossauro") e mais uma vez explora as emoções humanas de um forma realmente encantadora e, claro, tocante. Nessa nova jornada, a história continua a acompanhar Riley, agora uma adolescente, e as mudanças emocionais e desafios que vêm com essa fase de transição - os simbolismos do roteiro, olha, são tão especiais quanto do primeiro filme, com o adicional de retratar uma fase que carrega a complexidade que é amadurecer. 

Riley está entrando na adolescência, uma fase marcada por novas emoções e mudanças de perspectiva. Os personagens que representam as emoções (Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho) continuam a acompanhá-la, mas agora são introduzidas novas possibilidades com a Inveja, a Vergonha, o Tédio e a Ansiedade, refletindo a turbulência interna da adolescência. Essas emoções extras criam conflitos e dinâmicas inéditas, com as emoções antigas tentando entender e aceitar suas novas "colegas" no painel de controle da mente de Riley. Confira o trailer:

Kelsey Mann, que assume a direção deixada pelo lendário Pete Docter, mantém a essência do primeiro filme ao mesmo tempo em que expande o universo emocional de Riley. Mann trabalha com sutileza para que a história mantenha o equilíbrio entre a comédia e o drama, capturando os desafios e os momentos de descoberta típicos da adolescência. Ele consegue transmitir de forma inteligente como as emoções se tornam mais complexas e, em muitos momentos, contraditórias, explorando de maneira divertida como a mente precisa se adaptar (e rápido) às mudanças - bem ao estilo "a vida como ela é". O roteiro, assinado por Meg LeFauve (co-autora do primeiro filme), oferece uma narrativa que mistura tanto aventura quanto reflexão - repare como a introdução das novas emoções traz situações inesperadas e com muita semiótica, discute a necessidade de integração para assim lidar com a fase da adolescência. As interações entre as emoções são marcadas por momentos de humor e profundidade, criando uma conexão forte com a audiência, que se vê refletida nas inseguranças e nos desafios enfrentados por Riley - chega a dar um aperto no peito!

O design visual da mente de Riley é outro ponto alto da produção. As novas representações emocionais são visualmente criativas e refletem tanto a estética familiar do primeiro filme quanto um toque inovador que acompanha o amadurecimento da protagonista. A paleta de cores agora está mais rica e variada para refletir essa enxurrada de descobertas, mas sem esquecer de um tom levemente sombrio que surge com as cobranças sociais e intimas desse amadurecimento - aliás, esse contraste conceitual é tão bem desenvolvido e cheio de detalhes que vale a pena até assistir de novo para captar tantas nuances. A trilha sonora, responsabilidade de Andrea Datzman, também merece destaque - ela complementa a jornada emocional de forma muito eficaz, com melodias que variam entre leves e introspectivas, refletindo as flutuações de humor e as incertezas da adolescência. Veja, a música não apenas acompanha a ação, mas intensifica os momentos emocionais, oferecendo uma imersão ainda maior à experiência que é assistir "Divertidamente 2".

Aqui temos um filme que não hesita em explorar a complexidade que é crescer e como essas mudanças afetam a construção da identidade de Riley. Temas sensíveis e que merecem discussões mais profundas como insegurança, aceitação e a necessidade de equilibrar emoções conflitantes, são abordados de forma acessível e envolvente, tanto para a criançada quanto para os adultos - eu diria até que, como o primeiro, esse filme é mais para os pais do que para os filhos. "Divertidamente 2" mostra que, assim como na vida real, a mente é um espaço de adaptação constante, onde as emoções aprendem a conviver e a se ajustar para lidar com novos desafios. O fato é que essa continuação honra, e ainda expande, o legado de seu antecessor, oferecendo uma visão profunda e empática sobre as mudanças que todos nós enfrentamos ao longo da nossa jornada.

Lindo de ver e de viver - e se prepare, vem mais por aí! Imperdível!

Assista Agora

Dois Dias, Uma Noite

Você aceitaria mil euros se soubesse que esse bônus resultaria no desligamento de uma colega de trabalho, que precisa do salário para ajudar sua família? Sim, eu sei que a resposta pode até parecer simples se olharmos pela perspectiva do "politicamente correto", no entanto a vida não é  "politicamente correta"! "Dois Dias, Uma Noite", filme que levou sua protagonista, Marion Cotillard, para a disputa do Oscar de "Melhor Atriz" em 2015 e que ganhou mais de quarenta e um prêmios em festivais ao redor do globo, é um verdadeiro mergulho pela complexidade das relações humanas. Dirigido pelos mestres belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne (de "A Garota Desconhecida"), este filme transcende as fronteiras do drama social, adentrando profundamente na alma de quem luta por alguma dignidade quando o único caminho disponível para a sobrevivência é o trabalho. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e aclamado pela crítica, essa é uma narrativa que ecoa na consciência da audiência, despertando reflexões interessantes sobre solidariedade, ética e o poder da resiliência. Se você busca um filme com uma identidade mais autoral, envolvente (mesmo dentro de uma certa cadência) e capaz explorar os cantos mais sombrios da condição humana, eu diria que esse play é fundamental!

Em "Deux Jours, Une Nuit" (no original) conhecemos Sandra (Marion Cotillard), uma operária de fábrica que ao retornar de uma licença médica descobre que seus colegas optaram por receber um bônus de mil euros em troca de sua demissão. Desesperada, Sandra tem apenas dois dias e uma noite para convencer seus colegas a desistirem do bônus para que ela mantenha seu emprego e assim consiga sustentar sua família com dignidade. Confira o trailer:

Com essa premissa aparentemente simples, a narrativa constrói um cenário perfeito para uma jornada emocional e ética muito provocativa. O mérito disso está na maneira habilidosa como os Dardenne desafiam nossas noções preconcebidas de certo e errado, nos deixando um questionamento legítimo sobre nossas possíveis escolhas e compromissos perante uma situação tão delicada. Veja, a câmera nunca se afasta de Sandra em sua odisseia, capturando cada nuance de sua luta interior e o como ela precisa lidar, olho no olho, com seus colegas de trabalho - embora em um primeiro olhar possa parecer repetitiva, essa estratégia narrativa nada mais é que um inteligente recorte social das relações humanas sob diferentes níveis de entendimento. 

A escolha por uma abordagem mais realista, minimalista talvez, só amplifica a autenticidade da história, criando conexão imediata com a protagonista de uma forma visceral - os dilemas enfrentados por ela realmente nos machucam, ou seja, acompanhar Sandra lidando com aquela dor não é uma jornada das mais tranquilas. É aí que entra a performance magistral de Cotillard - ela adiciona uma série de camadas, com uma profundidade emocional impressionante, tornando sua personagem uma figura universalmente reconhecível tanto em sua vulnerabilidade quanto em sua determinação. Nesse sentido, a cinematografia de Alain Marcoen (de "Rosetta") soa até despojada, enquanto a trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera emocional do filme - repare como essa combinação cria sensações tão particulares perante o cotidiano implacável de Sandra e nos mantém interessados em saber como tudo vai acabar.

Sem julgamentos morais simplistas, "Dois Dias, Uma Noite" é um testemunho poderoso sobre a resiliência e a capacidade (ou a falta) de compaixão. É uma jornada cinematográfica que ressoa muito além da tela, deixando uma discussão pertinente sobre a estrutura moral e ética do ser humano, onde uma situação de medo (que certamente já tomou conta de todo trabalhador ao menos uma vez na vida, especialmente se ele tem uma família para sustentar) se transforma em um lembrete comovente sobre a fragilidade e a falta de responsabilidade que temos como sociedade "saudável".

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Você aceitaria mil euros se soubesse que esse bônus resultaria no desligamento de uma colega de trabalho, que precisa do salário para ajudar sua família? Sim, eu sei que a resposta pode até parecer simples se olharmos pela perspectiva do "politicamente correto", no entanto a vida não é  "politicamente correta"! "Dois Dias, Uma Noite", filme que levou sua protagonista, Marion Cotillard, para a disputa do Oscar de "Melhor Atriz" em 2015 e que ganhou mais de quarenta e um prêmios em festivais ao redor do globo, é um verdadeiro mergulho pela complexidade das relações humanas. Dirigido pelos mestres belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne (de "A Garota Desconhecida"), este filme transcende as fronteiras do drama social, adentrando profundamente na alma de quem luta por alguma dignidade quando o único caminho disponível para a sobrevivência é o trabalho. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e aclamado pela crítica, essa é uma narrativa que ecoa na consciência da audiência, despertando reflexões interessantes sobre solidariedade, ética e o poder da resiliência. Se você busca um filme com uma identidade mais autoral, envolvente (mesmo dentro de uma certa cadência) e capaz explorar os cantos mais sombrios da condição humana, eu diria que esse play é fundamental!

Em "Deux Jours, Une Nuit" (no original) conhecemos Sandra (Marion Cotillard), uma operária de fábrica que ao retornar de uma licença médica descobre que seus colegas optaram por receber um bônus de mil euros em troca de sua demissão. Desesperada, Sandra tem apenas dois dias e uma noite para convencer seus colegas a desistirem do bônus para que ela mantenha seu emprego e assim consiga sustentar sua família com dignidade. Confira o trailer:

Com essa premissa aparentemente simples, a narrativa constrói um cenário perfeito para uma jornada emocional e ética muito provocativa. O mérito disso está na maneira habilidosa como os Dardenne desafiam nossas noções preconcebidas de certo e errado, nos deixando um questionamento legítimo sobre nossas possíveis escolhas e compromissos perante uma situação tão delicada. Veja, a câmera nunca se afasta de Sandra em sua odisseia, capturando cada nuance de sua luta interior e o como ela precisa lidar, olho no olho, com seus colegas de trabalho - embora em um primeiro olhar possa parecer repetitiva, essa estratégia narrativa nada mais é que um inteligente recorte social das relações humanas sob diferentes níveis de entendimento. 

A escolha por uma abordagem mais realista, minimalista talvez, só amplifica a autenticidade da história, criando conexão imediata com a protagonista de uma forma visceral - os dilemas enfrentados por ela realmente nos machucam, ou seja, acompanhar Sandra lidando com aquela dor não é uma jornada das mais tranquilas. É aí que entra a performance magistral de Cotillard - ela adiciona uma série de camadas, com uma profundidade emocional impressionante, tornando sua personagem uma figura universalmente reconhecível tanto em sua vulnerabilidade quanto em sua determinação. Nesse sentido, a cinematografia de Alain Marcoen (de "Rosetta") soa até despojada, enquanto a trilha sonora complementa perfeitamente a atmosfera emocional do filme - repare como essa combinação cria sensações tão particulares perante o cotidiano implacável de Sandra e nos mantém interessados em saber como tudo vai acabar.

Sem julgamentos morais simplistas, "Dois Dias, Uma Noite" é um testemunho poderoso sobre a resiliência e a capacidade (ou a falta) de compaixão. É uma jornada cinematográfica que ressoa muito além da tela, deixando uma discussão pertinente sobre a estrutura moral e ética do ser humano, onde uma situação de medo (que certamente já tomou conta de todo trabalhador ao menos uma vez na vida, especialmente se ele tem uma família para sustentar) se transforma em um lembrete comovente sobre a fragilidade e a falta de responsabilidade que temos como sociedade "saudável".

Vale muito o seu play!

Assista Agora

DOM

DOM

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

Assista Agora

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

Assista Agora

Dor e Glória

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

Assista Agora

Drive My Car

Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!

Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:

Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.

A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação. 

O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!

Imperdível!

Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!

Assista Agora

Se há um filme que merece ser destacado como uma obra imperdível do cinema contemporâneo, esse é "Drive My Car" (2021), dirigido magistralmente por Ryûsuke Hamaguchi (de "Roda do Destino"). Esta produção japonesa, vencedora do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, não apenas cativa a audiência com uma narrativa emocionante como mas também eleva o cinema a novos patamares de excelência técnica e artística - mais uma vez quebrando as barreiras do idioma em diversas formas (eu diria, inclusive, de uma maneira bem metalinguística)! Vencedor de inúmeros prêmios em festivais ao redor do mundo, "Drive My Car" é uma jornada que transcende as fronteiras culturais, deixando uma marca profunda na alma e na mente de quem o assiste ao discutir temas como a morte, o arrependimento, a perseverança e a redenção, sempre chancelado pelo texto do indiscutível dramaturgo russo Anton Tchekhov e de seu "Tio Vanya" (de 1897). Olha, para os apreciadores de um cinema independente que busca uma experiência tão intensa quanto reflexiva, mas sem perder a sensibilidade, esse filme é um verdadeiro achado!

Na trama, conhecemos Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um renomado ator e diretor de teatro que se vê confrontado com uma devastadora perda pessoal. Quando ele recebe uma oferta para dirigir uma produção de "Tio Vanya" em Hiroshima, Yusuke mergulha em uma jornada de autoconhecimento e cura. Ao longo do caminho, ele desenvolve uma conexão improvável com a jovem motorista Misaki (Tôko Miura), que, embora inicialmente tensa, se transforma em uma relação de confiança e afeto, permitindo que ambos explorem seus traumas e encontrem uma redenção definitiva. Confira o trailer:

Um fato: "Drive My Car" é impressionante em vários sentidos. A maneira como Hamaguchi cadencia sua narrativa em troca de tecer camadas complexas de emoção e cheias de significado, onde cada cena funciona como uma espécie de quebra-cabeça íntimo, sem dúvida, é o ponto alto do filme. Nada está ali por acaso. A fotografia do Hidetoshi Shinomiya (de "O Grito"), por exemplo, captura a beleza melancólica daquela paisagem marcante de Hiroshima, enquanto a trilha sonora sutilmente evoca uma gama de sentimentos, desde a nostalgia até a esperança - tudo isso 100% alinhado com o conceito do diretor, mas sem precisar aparecer demais.

A direção de Hamaguchi é verdadeiramente inspiradora, permitindo que os momentos silenciosos e introspectivos da narrativa ressoem com um poder emocional como poucas vezes vemos. A cena de "Tio Vanya" e sua mensagem final, faz tudo fazer sentido sem uma única palavra precisar sem dita - é um espetáculo inesquecível! E aqui cabe mais alguns elogios: a montagem meticulosa do Azusa Yamazaki cria um ritmo hipnótico, nos convidando para uma jornada interior de uma forma visceral e envolvente, enquanto Nishijima entrega uma performance monumental, transmitindo a angústia de seu personagem com uma capacidade técnica exemplar - reparem como a dor e a fragilidade estão nos seus olhos a cada interação. 

O fato é que "Drive My Car" não é nada fácil - daqueles filmes que apenas contam uma história e tudo bem. Aqui temos uma incrível experiência sensorial e emocional que fica gravada na memória muito depois que os créditos finais rolam. Com sua narrativa profundamente comovente, performances excepcionais e uma direção habilidosa, esse filme é daquelas obras que nos faz refletir sobre o luto, sobre a memória e sobre o poder da arte como ferramenta de cura e transformação!

Imperdível!

Up-date: "Drive My Car" ganhou em uma categoria no Oscar 2022 (como adiantamos), mas foi indicado em mais três: Direção, Roteiro Adaptado e até Melhor Filme do Ano!

Assista Agora

É apenas o Fim do Mundo

"É apenas o Fim do Mundo" é um filme difícil, não por uma narrativa complicada ou por um conceito visual ou estético que nos provoque muito mais do que nos mostre; mas pela forma como o jovem diretor canadense Xavier Dolan constrói um espetáculo onde os personagens são profundos, machucados, amargurados e inconsequentes em seus atos e, pricipalmente, em suas palavras. É perceptível a dor enrustida em cada um deles, com motivos, claro, mas sem nenhum controle ou respiro para reflexão. É um "misancene" tão real, palpável e comum, que chega a ferir quem assiste - pelo simples fato de entender que toda história tem dois lados e mesmo sem a coragem de encarar os fatos, todos preferem em alimentar a dor, do que ter que enfrentá-la.

Baseado na peça homônima de Jean-Luc Lagarce de 1990, "É apenas o Fim do Mundo" acompanha um jovem e renomado dramaturgo, Louis (Gaspard Ulliel), que resolve visitar sua família após 12 anos de ausência. Seu objetivo, no entanto, é revelar sua iminente morte para sua mãe (Nathalie Baye), para sua irmã mais nova (Léa Seydoux) com quem praticamente não se relacionou, para o ressentido irmão mais velho (Vincent Cassel) e sua submissa esposa (Marion Cottilard). Confira o trailer:

Xavier Dolan praticamente dirige o filme com uma lente 85mm, ou seja, com planos extremamente fechado ele parece querer que as almas dos personagens sejam lidas, e vou te dizer: funciona! As relações estabelecidas assim que Louis entra na casa de sua família já nos indica exatamente onde estamos nos enfiando - no caos emocional! Ao acompanhar essa dinâmica, o roteiro nos dá o primeiro gatilho: é compreensível que Louis tenha se mantido afastado de sua família por tanto tempo, limitando-se a enviar cartões em datas comemorativas. Mas com o passar do tempo, vem o segundo e poderoso gatilho: mas e o outro lado? E o sentimento de inferioridade e inadequação do irmão mais velho? E a ansiedade de Suzanne para impressionar o irmão famoso que pouco conhece? E a tentativa da mãe em transformar tantas mágoas e recuperar essas relações completamente fragmentadas? Até Catherine, a cunhada, sofre com os reflexos de tudo isso ao ter que lidar com um marido ignorante que a transformou em uma mulher insegura que mal pode se expressar - e aqui cabe um comentário que merece sua atenção: Marion Cottilard é uma grande atriz e todos sabemos disso, mas a capacidade que ela tem de expressar seus sentimentos apenas com o olhar, é de cair o queixo! Reparem!

O filme brilha ao expor a capacidade de interpretação dos atores. "É apenas o Fim do Mundo" é um filme de diálogos, de confrontos, de atuação! Nenhuma discussão é por acaso e tudo ajuda a construir (ou desvendar) as inúmeras camadas de cada um dos personagens - estamos falando de um obra independente, autoral, de relação, com uma referência teatral enorme, cheio de poesia, metáforas, símbolos, sensibilidade - inclusive na fotografia que pontua a troca de atmosferas e a distância entre o que é dito e o que é pensado - a mudança de luz no terceiro ato, entre a chuva e o sol que surge é incrível! Isso é lindo e muito difícil de equilibrar com o realismo que o cinema pede nesse tipo de filme.

O fato é que se você gostou dos também franceses "Até a Eternidade" (ou Les Petits Mouchoirs) ou "Frankie" é muito provável que você vai se identificar com "É apenas o Fim do Mundo", mas se prepare: vai doer na alma!

Assista Agora

"É apenas o Fim do Mundo" é um filme difícil, não por uma narrativa complicada ou por um conceito visual ou estético que nos provoque muito mais do que nos mostre; mas pela forma como o jovem diretor canadense Xavier Dolan constrói um espetáculo onde os personagens são profundos, machucados, amargurados e inconsequentes em seus atos e, pricipalmente, em suas palavras. É perceptível a dor enrustida em cada um deles, com motivos, claro, mas sem nenhum controle ou respiro para reflexão. É um "misancene" tão real, palpável e comum, que chega a ferir quem assiste - pelo simples fato de entender que toda história tem dois lados e mesmo sem a coragem de encarar os fatos, todos preferem em alimentar a dor, do que ter que enfrentá-la.

Baseado na peça homônima de Jean-Luc Lagarce de 1990, "É apenas o Fim do Mundo" acompanha um jovem e renomado dramaturgo, Louis (Gaspard Ulliel), que resolve visitar sua família após 12 anos de ausência. Seu objetivo, no entanto, é revelar sua iminente morte para sua mãe (Nathalie Baye), para sua irmã mais nova (Léa Seydoux) com quem praticamente não se relacionou, para o ressentido irmão mais velho (Vincent Cassel) e sua submissa esposa (Marion Cottilard). Confira o trailer:

Xavier Dolan praticamente dirige o filme com uma lente 85mm, ou seja, com planos extremamente fechado ele parece querer que as almas dos personagens sejam lidas, e vou te dizer: funciona! As relações estabelecidas assim que Louis entra na casa de sua família já nos indica exatamente onde estamos nos enfiando - no caos emocional! Ao acompanhar essa dinâmica, o roteiro nos dá o primeiro gatilho: é compreensível que Louis tenha se mantido afastado de sua família por tanto tempo, limitando-se a enviar cartões em datas comemorativas. Mas com o passar do tempo, vem o segundo e poderoso gatilho: mas e o outro lado? E o sentimento de inferioridade e inadequação do irmão mais velho? E a ansiedade de Suzanne para impressionar o irmão famoso que pouco conhece? E a tentativa da mãe em transformar tantas mágoas e recuperar essas relações completamente fragmentadas? Até Catherine, a cunhada, sofre com os reflexos de tudo isso ao ter que lidar com um marido ignorante que a transformou em uma mulher insegura que mal pode se expressar - e aqui cabe um comentário que merece sua atenção: Marion Cottilard é uma grande atriz e todos sabemos disso, mas a capacidade que ela tem de expressar seus sentimentos apenas com o olhar, é de cair o queixo! Reparem!

O filme brilha ao expor a capacidade de interpretação dos atores. "É apenas o Fim do Mundo" é um filme de diálogos, de confrontos, de atuação! Nenhuma discussão é por acaso e tudo ajuda a construir (ou desvendar) as inúmeras camadas de cada um dos personagens - estamos falando de um obra independente, autoral, de relação, com uma referência teatral enorme, cheio de poesia, metáforas, símbolos, sensibilidade - inclusive na fotografia que pontua a troca de atmosferas e a distância entre o que é dito e o que é pensado - a mudança de luz no terceiro ato, entre a chuva e o sol que surge é incrível! Isso é lindo e muito difícil de equilibrar com o realismo que o cinema pede nesse tipo de filme.

O fato é que se você gostou dos também franceses "Até a Eternidade" (ou Les Petits Mouchoirs) ou "Frankie" é muito provável que você vai se identificar com "É apenas o Fim do Mundo", mas se prepare: vai doer na alma!

Assista Agora

Em defesa de Jacob

É preciso entender que a AppleTV+ está apenas no começo da sua jornada e talvez por isso eu fique muito tranquilo em afirmar: de tudo que assisti até agora no serviço de streaming da Apple, "Em defesa de Jacob" é disparado o melhor titulo - não que os outros sejam ruins, mas essa minissérie é impecável, no seu roteiro, na sua produção e no seu elenco! 

Baseada no livro de 2012 do americano William Landay, "Em Defesa de Jacob" conta a história do promotor Andy Barber (Chris Evans), um homem que acreditava ter uma vida perfeita ao lado de sua esposa Laurie (Michelle Dockery) e do filho Jacob (Jaeden Martell). Porém quando Barber é escalado para investigar o assassinato de um adolescente de 14 anos que foi encontrado esfaqueado em um parque da pequena cidade de Massachusetts onde moram, ele começa a enfrentar um verdadeiro pesadelo. O garoto estudava com seu filho que, pouco tempo depois, passa a ser apontado como o principal suspeito de ter cometido o crime. A partir daí, a vida da família Barber vira de ponta-cabeça, sua intimidade é completamente exposta, a repercussão da acusação destrói seu convívio social e a dúvida sobre o que realmente aconteceu transforma a relação entre eles em um verdadeiro jogo de verdades e mentiras! Confira o trailer:

Antes de seguir, eu preciso dizer que "Em Defesa de Jacob" já começa genial pelo duplo sentido do seu título - isso só ficará claro no último episódio, porém o que você vai assistir nos outros sete que compõem a minissérie, é uma história dinâmica que, mesmo com algumas escolhas óbvias, nos mantém envolvidos e cheio de dúvidas sobre os fatos que levaram o crime ser cometido e sobre quem cometeu! É um verdadeiro exercício de adivinhação constante, mas que o roteiro insiste em nos afastar da solução a cada nova descoberta! Olha, vale muito a pena mesmo, entretenimento de primeira linha, nível HBO, mas na AppleTV+!

"Em Defesa de Jacob" foi criada por Mark Bomback, roteirista de "Planeta dos Macacos" e "Wolverine - Imortal". Seu roteiro traz muitas referências do excelente "Precisamos falar sobre Kevin" de 2011, mas com o frescor de se tratar de uma minissérie e de poder explorar uma história complexa, com personagens profundos, com muito mais tempo de desenvolvimento que as duas horas do filme. Toda a trama envolvendo o assassinato, a investigação criminal e o julgamento é equilibrada com momentos bastante particulares da relação familiar dos Barber. Aquela família perfeita de fato não existe, personagens impecáveis, acima do bem e do mal, muito menos, com isso, a todo momento, o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha com diálogos inteligentes e, principalmente, atuações acima da média, principalmente de Jaeden Martell - o ator consegue entregar uma performance incrível, extremamente contido, trabalhando o silêncio de um forma sombria em alguns momentos e frágil em outros - reparem! Michelle Dockery também surpreende como Laurie e o contraponto da dúvida é tão bem trabalhado pela personagem que o ótimo trabalho do Chris Evans acaba ganhando ainda mais força - embora ele tenha um tendência absurda a trabalhar um tom acima, sua certeza sobre a inocência do filho é de emocionar!

A edição também é um ponto que merece ser comentado: ela é a responsável pela dinâmica narrativa que o premiadíssimo diretor Morten Tyldum (Jogo da Imitação) impõe à história. A quebra da linha temporal parece mais confundir do que explicar e , propositalmente, os cortes nos criam a sensação de insegurança que vai progredindo até chegarmos nos episódios 7 e 8, quando nossa angústia já está quase insuportável. O fato do diretor ser norueguês, certamente, contribuiu para a escolha do look gélido que a minissérie tem - se "Garota Exemplar" trazia uma dominância mais esverdeada, "Em Defesa de Jacob" usa do azul para retratar a frieza e a solidão dos momentos de dúvida e de introspecção que acompanham cada um dos personagens, ao seu modo, em toda história!

"Em Defesa de Jacob" vem forte para a temporada de premiações, com aquele empurrãozinho de sucessos como  "Big Little Lies" ou "Em Prantos", mas com a coragem de um roteiro que nos tira da zona de conforto e nos provoca ao não responder a questão principal da trama, mas de expor as imperfeições dos relacionamentos familiares em várias camadas e situações até o seu limite!

Vale o seu play!

Assista Agora

É preciso entender que a AppleTV+ está apenas no começo da sua jornada e talvez por isso eu fique muito tranquilo em afirmar: de tudo que assisti até agora no serviço de streaming da Apple, "Em defesa de Jacob" é disparado o melhor titulo - não que os outros sejam ruins, mas essa minissérie é impecável, no seu roteiro, na sua produção e no seu elenco! 

Baseada no livro de 2012 do americano William Landay, "Em Defesa de Jacob" conta a história do promotor Andy Barber (Chris Evans), um homem que acreditava ter uma vida perfeita ao lado de sua esposa Laurie (Michelle Dockery) e do filho Jacob (Jaeden Martell). Porém quando Barber é escalado para investigar o assassinato de um adolescente de 14 anos que foi encontrado esfaqueado em um parque da pequena cidade de Massachusetts onde moram, ele começa a enfrentar um verdadeiro pesadelo. O garoto estudava com seu filho que, pouco tempo depois, passa a ser apontado como o principal suspeito de ter cometido o crime. A partir daí, a vida da família Barber vira de ponta-cabeça, sua intimidade é completamente exposta, a repercussão da acusação destrói seu convívio social e a dúvida sobre o que realmente aconteceu transforma a relação entre eles em um verdadeiro jogo de verdades e mentiras! Confira o trailer:

Antes de seguir, eu preciso dizer que "Em Defesa de Jacob" já começa genial pelo duplo sentido do seu título - isso só ficará claro no último episódio, porém o que você vai assistir nos outros sete que compõem a minissérie, é uma história dinâmica que, mesmo com algumas escolhas óbvias, nos mantém envolvidos e cheio de dúvidas sobre os fatos que levaram o crime ser cometido e sobre quem cometeu! É um verdadeiro exercício de adivinhação constante, mas que o roteiro insiste em nos afastar da solução a cada nova descoberta! Olha, vale muito a pena mesmo, entretenimento de primeira linha, nível HBO, mas na AppleTV+!

"Em Defesa de Jacob" foi criada por Mark Bomback, roteirista de "Planeta dos Macacos" e "Wolverine - Imortal". Seu roteiro traz muitas referências do excelente "Precisamos falar sobre Kevin" de 2011, mas com o frescor de se tratar de uma minissérie e de poder explorar uma história complexa, com personagens profundos, com muito mais tempo de desenvolvimento que as duas horas do filme. Toda a trama envolvendo o assassinato, a investigação criminal e o julgamento é equilibrada com momentos bastante particulares da relação familiar dos Barber. Aquela família perfeita de fato não existe, personagens impecáveis, acima do bem e do mal, muito menos, com isso, a todo momento, o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha com diálogos inteligentes e, principalmente, atuações acima da média, principalmente de Jaeden Martell - o ator consegue entregar uma performance incrível, extremamente contido, trabalhando o silêncio de um forma sombria em alguns momentos e frágil em outros - reparem! Michelle Dockery também surpreende como Laurie e o contraponto da dúvida é tão bem trabalhado pela personagem que o ótimo trabalho do Chris Evans acaba ganhando ainda mais força - embora ele tenha um tendência absurda a trabalhar um tom acima, sua certeza sobre a inocência do filho é de emocionar!

A edição também é um ponto que merece ser comentado: ela é a responsável pela dinâmica narrativa que o premiadíssimo diretor Morten Tyldum (Jogo da Imitação) impõe à história. A quebra da linha temporal parece mais confundir do que explicar e , propositalmente, os cortes nos criam a sensação de insegurança que vai progredindo até chegarmos nos episódios 7 e 8, quando nossa angústia já está quase insuportável. O fato do diretor ser norueguês, certamente, contribuiu para a escolha do look gélido que a minissérie tem - se "Garota Exemplar" trazia uma dominância mais esverdeada, "Em Defesa de Jacob" usa do azul para retratar a frieza e a solidão dos momentos de dúvida e de introspecção que acompanham cada um dos personagens, ao seu modo, em toda história!

"Em Defesa de Jacob" vem forte para a temporada de premiações, com aquele empurrãozinho de sucessos como  "Big Little Lies" ou "Em Prantos", mas com a coragem de um roteiro que nos tira da zona de conforto e nos provoca ao não responder a questão principal da trama, mas de expor as imperfeições dos relacionamentos familiares em várias camadas e situações até o seu limite!

Vale o seu play!

Assista Agora

Em Pedaços

"Em Pedaços" conta a história de Katia Sekerci (Diane Kruger), uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri (Numan Acar), e do filho de 7 anos. Certo dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada na frente do escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista. Veja o trailer:

Olha, "In the Fade" (no original) foi o vencedor do Golden Globe de 2018, foi indicado ao Palme d'Or e vencedor da categoria melhor atriz com Diane Kruger em Cannes. Sério, o filme é imperdível! Tenso do começo ao fim, é extremamente bem dirigido pelo alemão (com descendência turca) Fatih Akin, e tem um roteiro capaz de brincar com nossos sentimentos a cada cena. Chega ser inacreditável que a Diane Kruger não tenha sido indicada ao Oscar de 2008 - reparem como ela está simplesmente perfeita no filme!

A experiência de assistir esse filme sem saber muito sobre ele, é única! Faça isso que você não vai se arrepender!

Assista Agora

"Em Pedaços" conta a história de Katia Sekerci (Diane Kruger), uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri (Numan Acar), e do filho de 7 anos. Certo dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada na frente do escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista. Veja o trailer:

Olha, "In the Fade" (no original) foi o vencedor do Golden Globe de 2018, foi indicado ao Palme d'Or e vencedor da categoria melhor atriz com Diane Kruger em Cannes. Sério, o filme é imperdível! Tenso do começo ao fim, é extremamente bem dirigido pelo alemão (com descendência turca) Fatih Akin, e tem um roteiro capaz de brincar com nossos sentimentos a cada cena. Chega ser inacreditável que a Diane Kruger não tenha sido indicada ao Oscar de 2008 - reparem como ela está simplesmente perfeita no filme!

A experiência de assistir esse filme sem saber muito sobre ele, é única! Faça isso que você não vai se arrepender!

Assista Agora