Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga!
Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!
Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível!
"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!
"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!
Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.
A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!
Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga!
Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!
Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível!
"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!
"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!
Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.
A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Poucas vezes eu dou 5 estrelas para alguma obra, mas “Meu Pai” tem todos os acertos que um filme precisa para ser excelente - é um drama que te coloca na pele de um personagem que sofre de demência, vivido brilhantemente pelo magnífico Anthony Hopkins.
Na trama, o personagem Anthony (Anthony Hopkins) é um homem idoso que recusa toda ajuda de sua filha Anne (Olivia Colman). Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, por isso está buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Porém, ao tentar entender as mudanças pela qual está passando, Anthony começa a duvidar de sua filha, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Confira o trailer:
“Meu Pai” constrói uma dinâmica narrativa muito interessante e que arrisca ao contar a história pela perspectiva de Anthony, então à medida que ele se torna confuso de seus atos e dos acontecimentos que o cercam, nós sentimos na pele essas mesmas angústias e medos. A direção do francês Florian Zeller é admirável por isso! O Filme com uma direção errada poderia apelar para o emocional da audiência, mas aqui a trama é desenvolvida de uma maneira delicada, sensível - por mais que toda a situação seja uma crescente de desespero.
Veja, em nenhum momento a direção parte para uma dramatização forçada. Tudo o que acompanhamos da trajetória de Anthony é extremamente verossímil, pois sabemos como uma pessoa que tem essa doença se comporta diante das mesmas situações do protagonista. O ator Anthony Hopkins, obviamente, dá um show de interpretação! Se antes o maior trabalho de sua carreira era em “O Silêncio dos Inocentes”, possivelmente você ficará em dúvida após assistir seu desempenho nesse drama.
“Meu Pai” foi indicado em mais de 150 premiações em diversos Festivais de Cinema pelo mundo. Só no Oscar foram 6 categorias. Independente do reconhecimento da Academia e de mais uma vitória de Anthony Hopkins (se tornando o ator mais velho a ganhar o prêmio de Melhor Ator com 83 anos), esse filme é uma verdadeira obra-prima que merece muito a sua atenção! É só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
Essa série tem um humor bastante peculiar, inteligente e em muitas passagens vai exigir um certo, digamos, conhecimento da relação geo-politica-cultural-religiosa da Palestina, de Israel, dos EUA e, claro, da dinâmica cotidiana dos imigrantes na terra do Tio Sam. Dito isso, "Mo", um original Netflix criado por Mohammed Amer e Ramy Youssef, é aquele tipo raro de produção que consegue equilibrar humor, drama e crítica social com uma leveza irresistível, sem abrir mão de uma sinceridade realmente tocante. Olha, posso te garantir que essa série é uma pequena joia que ninguém comenta, mas que merece ser vista e celebrada.
Lançada em 2022, a série acompanha a vida do protagonista Mo Najjar (interpretado com brilhantismo pelo próprio Mohammed Amer), um palestino vivendo há anos em Houston, no Texas, enquanto espera a definição do seu pedido de asilo nos Estados Unidos. Com forte influência autobiográfica, "Mo" conquista o público ao explorar questões delicadas sobre imigração, identidade cultural e pertencimento, com um humor afiado e uma sensibilidade profundamente humana. Confira o trailer (em inglês):
Mo é um personagem extremamente carismático: rápido nas tiradas, cheio de simpatia e que sempre encontra maneiras criativas e, por vezes, questionáveis de lidar com as dificuldades que o dia a dia da sua vida traz. Mas não é só isso: ele também é vulnerável, já que precisa lidar diariamente com as feridas emocionais causadas pelos traumas de uma migração forçada, pelo luto da morte de seu pai e pela pressão de ser o principal suporte de sua família. Entre risadas genuínas e momentos de profunda reflexão, Mohammed Amer e Ramy Youssef apresentam um protagonista que foge dos estereótipos frequentemente vistos na mídia sobre refugiados, criando um retrato envolvente e realmente rico em nuances. E aqui cabe um elogio para um dos pontos fortes de "Mo": o seu roteiro. O texto acerta ao mostrar o constante atrito entre as tradições familiares palestinas e a realidade dos Estados Unidos. Veja, a série nunca perde a chance de destacar a burocracia absurda e frustrante do sistema de imigração americano, o que é feito com ironia, capaz de provocar risos e empatia, tudo junto e misturado.
A direção de Solvan Naim (de "Power"), é preciso que se diga, é competente ao ponto de capturar esse cotidiano multicultural de Houston, destacando com naturalidade a diversidade e a linguística que cerca Mo e sua família. Visualmente, a produção aposta em uma estética urbana realista, com cores vivas e enquadramentos mais dinâmicos, refletindo o ritmo acelerado e imprevisível da vida do protagonista em uma cidade grande. Aliás, a série sabe explorar muito bem esse cenário texano, criando um certo caos cultural ao trazer para a tela, elementos da cultura palestina e da americana com fluidez e bom humor. Nesse sentido, e respeitando o conceito narrativo de "Mo", o elenco secundário aparece como "a cereja do bolo" - Teresa Ruiz, que vive Maria, a namorada mexicana/americana de Mo, é encantadora. É ela que carrega boa parte da emoção e da tensão dramática da história - o relacionamento entre Maria e Mo é retratado com autenticidade, explorando a complexidade das diferenças culturais sem perder o tom afetuoso - nesse ponto lembra muito "Ninguém Quer".
Com apenas dezesseis episódios curtos e bem ritmados, divididos em duas excelente temporadas (e com um final), "Mo" é uma série das mais envolventes, daquelas que nunca se permitem cair em lugares-comuns ou exageros dramáticos. A força emocional da série está exatamente no equilíbrio que consegue alcançar entre a comédia absurda e a tragédia cotidiana, mas sempre com um olhar carinhoso, mesmo quando aborda temas mais dolorosos como o preconceito e o sentimento de nunca se sentir completamente em casa. Antes do play, saiba que "Mo" não é para qualquer um - essa é uma série que consegue ir além do entretenimento puro e simples para proporcionar uma reflexão sutil sobre a busca por identidade e oportunidade, sem nunca deixar de ser divertida ou acolhedora. É uma das melhores comédias dramáticas lançadas pela Netflix em muitos anos - mas que infelizmente vai cair naquela caixinha rasa de "ame ou adeie".
Para você, reafirmo: vale demais o play!
Essa série tem um humor bastante peculiar, inteligente e em muitas passagens vai exigir um certo, digamos, conhecimento da relação geo-politica-cultural-religiosa da Palestina, de Israel, dos EUA e, claro, da dinâmica cotidiana dos imigrantes na terra do Tio Sam. Dito isso, "Mo", um original Netflix criado por Mohammed Amer e Ramy Youssef, é aquele tipo raro de produção que consegue equilibrar humor, drama e crítica social com uma leveza irresistível, sem abrir mão de uma sinceridade realmente tocante. Olha, posso te garantir que essa série é uma pequena joia que ninguém comenta, mas que merece ser vista e celebrada.
Lançada em 2022, a série acompanha a vida do protagonista Mo Najjar (interpretado com brilhantismo pelo próprio Mohammed Amer), um palestino vivendo há anos em Houston, no Texas, enquanto espera a definição do seu pedido de asilo nos Estados Unidos. Com forte influência autobiográfica, "Mo" conquista o público ao explorar questões delicadas sobre imigração, identidade cultural e pertencimento, com um humor afiado e uma sensibilidade profundamente humana. Confira o trailer (em inglês):
Mo é um personagem extremamente carismático: rápido nas tiradas, cheio de simpatia e que sempre encontra maneiras criativas e, por vezes, questionáveis de lidar com as dificuldades que o dia a dia da sua vida traz. Mas não é só isso: ele também é vulnerável, já que precisa lidar diariamente com as feridas emocionais causadas pelos traumas de uma migração forçada, pelo luto da morte de seu pai e pela pressão de ser o principal suporte de sua família. Entre risadas genuínas e momentos de profunda reflexão, Mohammed Amer e Ramy Youssef apresentam um protagonista que foge dos estereótipos frequentemente vistos na mídia sobre refugiados, criando um retrato envolvente e realmente rico em nuances. E aqui cabe um elogio para um dos pontos fortes de "Mo": o seu roteiro. O texto acerta ao mostrar o constante atrito entre as tradições familiares palestinas e a realidade dos Estados Unidos. Veja, a série nunca perde a chance de destacar a burocracia absurda e frustrante do sistema de imigração americano, o que é feito com ironia, capaz de provocar risos e empatia, tudo junto e misturado.
A direção de Solvan Naim (de "Power"), é preciso que se diga, é competente ao ponto de capturar esse cotidiano multicultural de Houston, destacando com naturalidade a diversidade e a linguística que cerca Mo e sua família. Visualmente, a produção aposta em uma estética urbana realista, com cores vivas e enquadramentos mais dinâmicos, refletindo o ritmo acelerado e imprevisível da vida do protagonista em uma cidade grande. Aliás, a série sabe explorar muito bem esse cenário texano, criando um certo caos cultural ao trazer para a tela, elementos da cultura palestina e da americana com fluidez e bom humor. Nesse sentido, e respeitando o conceito narrativo de "Mo", o elenco secundário aparece como "a cereja do bolo" - Teresa Ruiz, que vive Maria, a namorada mexicana/americana de Mo, é encantadora. É ela que carrega boa parte da emoção e da tensão dramática da história - o relacionamento entre Maria e Mo é retratado com autenticidade, explorando a complexidade das diferenças culturais sem perder o tom afetuoso - nesse ponto lembra muito "Ninguém Quer".
Com apenas dezesseis episódios curtos e bem ritmados, divididos em duas excelente temporadas (e com um final), "Mo" é uma série das mais envolventes, daquelas que nunca se permitem cair em lugares-comuns ou exageros dramáticos. A força emocional da série está exatamente no equilíbrio que consegue alcançar entre a comédia absurda e a tragédia cotidiana, mas sempre com um olhar carinhoso, mesmo quando aborda temas mais dolorosos como o preconceito e o sentimento de nunca se sentir completamente em casa. Antes do play, saiba que "Mo" não é para qualquer um - essa é uma série que consegue ir além do entretenimento puro e simples para proporcionar uma reflexão sutil sobre a busca por identidade e oportunidade, sem nunca deixar de ser divertida ou acolhedora. É uma das melhores comédias dramáticas lançadas pela Netflix em muitos anos - mas que infelizmente vai cair naquela caixinha rasa de "ame ou adeie".
Para você, reafirmo: vale demais o play!
Não deixe de assistir esse filme - tenho certeza que você vai se surpreender! O premiado diretor Hirokazu Koreeda, conhecido por explorar com delicadeza as complexidades das relações humanas em filmes como "Assunto de Família" e "Depois da Tempestade", retorna com "Monster" para entregar mais uma obra sensível e multifacetada que transcende o drama familiar para abordar temas importantes como a busca por uma identidade pela perspectiva da empatia - mesmo que inicialmente Koreeda nos guie por um caminho completamente oposto (o que aliás, é genial como proposta narrativa). "Monster", premiado em Cannes pelo seu roteiro em 2023, é um filme que nos convida a olhar para alguns eventos a partir do ponto de vista de três personagens, desafiando a ideia de uma única verdade. Inegavelmente provocador se tratando de uma produção japonesa, esse é um filme que encontra ecos de sua estrutura narrativa em obras como "Close" e "A Caça", ou seja, esteja preparado para uma jornada bastante desconfortável que vai, de fato, mexer com suas emoções.
A história começa em uma pequena cidade japonesa, quando Minato (Soya Kurokawa), um menino retraído e sensível, começa a agir de maneira estranha após um incidente na escola. Sua mãe, Saori (Sakura Ando), acredita que um professor, Hori (Eita Nagayama), é o responsável pela mudança de comportamento do filho, o que desencadeia uma série de eventos que gradualmente revelam os segredos e as verdades escondidas sob as aparências cotidianas de uma sociedade tão patriarcal. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, é a proposta narrativa, contada por diferentes olhares (de Saori, do professor Hori e de Minato), que nos move diante de uma trama que sabe brincar com nossa percepção e que vai nos colocando em determinados lugares que dificilmente temos condições de julgar. Cada um dos personagens vai adicionando camadas de nuances e de profundidade ao mistério central que, olha, nos tira do eixo de uma forma muito cruel, eu diria. Koreeda dirige o filme com sutileza e atenção aos detalhes, permitindo que nossas emoções fluam de maneira orgânica, acompanhando os fatos e se transformando a cada novo olhar. Ele utiliza a estrutura narrativa fragmentada para construir uma tensão emocional crescente, enquanto desvenda os eventos de maneira gradual, quase como um quebra-cabeça. O interessante é que o diretor faz escolhas visuais que reforçam essa complexidade, com enquadramentos que frequentemente isolam os personagens em ambientes amplos, sugerindo uma certa desconexão que permeiam suas vidas - é lindo de ver!
Yuji Sakamoto, o roteirista, complementa perfeitamente a abordagem de Koreeda, explorando questões delicadas como bullying, como luto, como a culpa e os desafios de entender e aceitar o outro. Obviamente que "Monster" é o tipo de filme que evita respostas fáceis ou resoluções apressadas, optando por deixar espaço para a interpretação da audiência e para as ambiguidades que tornam a história tão ressonante. Os diálogos são cuidadosamente escritos, muitas vezes revelando mais nas pausas e no silêncio do que necessariamente nas palavras ditas, capturando assim, as dinâmicas de tensão, de angustia, de insegurança, em subtextos realmente marcantes entre os personagens. Sakura Ando, como a mãe protetora de Minato , transmite uma vulnerabilidade comovente e poderosa, enquanto Eita Nagayama entrega uma atuação mais contida como o professor cuja vida é virada de cabeça para baixo pelas suspeitas e preconceitos dos outros. O jovem Soya Kurokawa, o Minato, é extraordinário - ele traz uma autenticidade rara para um papel que exige tanto sutileza quanto intensidade emocional. Seu desempenho é o núcleo emocional do filme, e sua evolução ao longo da narrativa é dolorosa e profundamente impactante (digna de muitos prêmios).
Antes de finalizar, peço que repare na belíssima trilha sonora composta pelo lendário Ryuichi Sakamoto (vencedor do Oscar por "O Último Imperador") - ela é delicada e evocativa, sublinhando as emoções dos personagens sem jamais dominar a narrativa. Suas composições adicionam um ar de melancolia mais poética que só evidencia a beleza do filme. Com tons suaves na sua forma e uma história potente em seu conteúdo, "Monster" é deliciosamente desafiador, ou seja, para aqueles que se identificam com um cinema mais autoral e independente, onde a ambiguidade dita as regras, pode dar o play, pois essa será uma experiência tão rica quanto recompensadora.
Imperdível!
Não deixe de assistir esse filme - tenho certeza que você vai se surpreender! O premiado diretor Hirokazu Koreeda, conhecido por explorar com delicadeza as complexidades das relações humanas em filmes como "Assunto de Família" e "Depois da Tempestade", retorna com "Monster" para entregar mais uma obra sensível e multifacetada que transcende o drama familiar para abordar temas importantes como a busca por uma identidade pela perspectiva da empatia - mesmo que inicialmente Koreeda nos guie por um caminho completamente oposto (o que aliás, é genial como proposta narrativa). "Monster", premiado em Cannes pelo seu roteiro em 2023, é um filme que nos convida a olhar para alguns eventos a partir do ponto de vista de três personagens, desafiando a ideia de uma única verdade. Inegavelmente provocador se tratando de uma produção japonesa, esse é um filme que encontra ecos de sua estrutura narrativa em obras como "Close" e "A Caça", ou seja, esteja preparado para uma jornada bastante desconfortável que vai, de fato, mexer com suas emoções.
A história começa em uma pequena cidade japonesa, quando Minato (Soya Kurokawa), um menino retraído e sensível, começa a agir de maneira estranha após um incidente na escola. Sua mãe, Saori (Sakura Ando), acredita que um professor, Hori (Eita Nagayama), é o responsável pela mudança de comportamento do filho, o que desencadeia uma série de eventos que gradualmente revelam os segredos e as verdades escondidas sob as aparências cotidianas de uma sociedade tão patriarcal. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, é a proposta narrativa, contada por diferentes olhares (de Saori, do professor Hori e de Minato), que nos move diante de uma trama que sabe brincar com nossa percepção e que vai nos colocando em determinados lugares que dificilmente temos condições de julgar. Cada um dos personagens vai adicionando camadas de nuances e de profundidade ao mistério central que, olha, nos tira do eixo de uma forma muito cruel, eu diria. Koreeda dirige o filme com sutileza e atenção aos detalhes, permitindo que nossas emoções fluam de maneira orgânica, acompanhando os fatos e se transformando a cada novo olhar. Ele utiliza a estrutura narrativa fragmentada para construir uma tensão emocional crescente, enquanto desvenda os eventos de maneira gradual, quase como um quebra-cabeça. O interessante é que o diretor faz escolhas visuais que reforçam essa complexidade, com enquadramentos que frequentemente isolam os personagens em ambientes amplos, sugerindo uma certa desconexão que permeiam suas vidas - é lindo de ver!
Yuji Sakamoto, o roteirista, complementa perfeitamente a abordagem de Koreeda, explorando questões delicadas como bullying, como luto, como a culpa e os desafios de entender e aceitar o outro. Obviamente que "Monster" é o tipo de filme que evita respostas fáceis ou resoluções apressadas, optando por deixar espaço para a interpretação da audiência e para as ambiguidades que tornam a história tão ressonante. Os diálogos são cuidadosamente escritos, muitas vezes revelando mais nas pausas e no silêncio do que necessariamente nas palavras ditas, capturando assim, as dinâmicas de tensão, de angustia, de insegurança, em subtextos realmente marcantes entre os personagens. Sakura Ando, como a mãe protetora de Minato , transmite uma vulnerabilidade comovente e poderosa, enquanto Eita Nagayama entrega uma atuação mais contida como o professor cuja vida é virada de cabeça para baixo pelas suspeitas e preconceitos dos outros. O jovem Soya Kurokawa, o Minato, é extraordinário - ele traz uma autenticidade rara para um papel que exige tanto sutileza quanto intensidade emocional. Seu desempenho é o núcleo emocional do filme, e sua evolução ao longo da narrativa é dolorosa e profundamente impactante (digna de muitos prêmios).
Antes de finalizar, peço que repare na belíssima trilha sonora composta pelo lendário Ryuichi Sakamoto (vencedor do Oscar por "O Último Imperador") - ela é delicada e evocativa, sublinhando as emoções dos personagens sem jamais dominar a narrativa. Suas composições adicionam um ar de melancolia mais poética que só evidencia a beleza do filme. Com tons suaves na sua forma e uma história potente em seu conteúdo, "Monster" é deliciosamente desafiador, ou seja, para aqueles que se identificam com um cinema mais autoral e independente, onde a ambiguidade dita as regras, pode dar o play, pois essa será uma experiência tão rica quanto recompensadora.
Imperdível!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.
Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:
Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.
A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.
Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.
Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.
Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:
Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.
A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.
Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.
Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido.
Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!
Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade - e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!
Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!
O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.
Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!
O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.
Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!
Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido.
Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!
Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade - e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!
Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!
O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.
Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!
O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.
Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.
A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:
Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.
A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).
Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes". É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!
Vale demais o seu play!
Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.
A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:
Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.
A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).
Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes". É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!
Vale demais o seu play!
"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.
A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.
A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.
"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.
Vale muito o seu play!
"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.
A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.
A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.
"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.
Vale muito o seu play!
Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.
"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):
Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"
Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!
Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.
"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento!
Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.
"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):
Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"
Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!
Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.
"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento!
"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!
Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:
CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.
Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.
Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.
"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.
Vale muito a pena!
Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!
"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!
Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:
CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.
Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.
Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.
"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.
Vale muito a pena!
Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!
"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!
Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.
Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:
A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.
O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem.
"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.
Vale muito o seu play.
Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.
"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!
Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.
Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:
A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.
O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem.
"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.
Vale muito o seu play.
Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.