“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.
Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"!
Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.
“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!
Vale muito a pena!
“Incêndios” (ou “Incendies” no original) é uma obra-prima! Essa produção canadense dirigida pelo então desconhecido Denis Villeneuve (“Duna”e “A Chegada”) apontou como uma das favoritas ao Oscar de 2011, mas acabou deixando escapar o prêmio de “Melhor Filme Internacional” para o dinamarquês “Em um Mundo Melhor” de Susanne Bier ("Bird Box"). O fato é que “Incêndios” é daqueles filmes que nos tocam a alma com um drama pesado, realista, cruel e até desconfortável, mas ao mesmo tempo marcante - uma experiência única, eu diria.
Após a morte da mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) descobrem que têm um irmão e que seu pai, que julgavam morto, ainda está vivo. Em um jornada que se confunde entre uma difícil investigação no Líbano pós-guerra e os reflexos de tantos conflitos internos, eles tem que enfrentar as descobertas de uma história familiar que vai muito além de suas origens libanesas. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o grande mérito de “Incêndios” tenha sido o de construir uma narrativa extremamente densa onde a linha de condução são as ações e não a cronologia temporal, ou seja, sem muito aviso, a história vai do presente para o passado com o intuito de conectar os fatos com as motivações dos personagens - isso acaba criando uma dinâmica muito interessante onde, no final, ficamos com a exata sensação de "tudo faz sentido agora"!
Baseado na peça homônima de Wajdi Mouawad, “Incêndios” retrata a guerra civil no Líbano dos anos 70 pelos olhos de Nawal Marwan enquanto vivenciamos os reflexos do horror pelos olhos de Jeanne, sua filha. Embora funcione como pano de fundo, as cenas de intolerância religiosa são pesadíssimas e ajudam a construir as inúmeras camadas de Nawal - e aqui cabe um comentário: o trabalho de introspecção de Lubna Azabal é simplesmente fantástico. A forma como ela vai se transformando com o passar do tempo, impressiona.
“Incêndios” é um filme de 2010, de uma época pré-streaming, que pode ter passado batido por muita gente. Se esse é o seu caso, não perca tempo - é uma aula de roteiro, de direção, de interpretação e além de tudo isso, tem alma - mesmo que machucada pelas verdade inconvenientes que a história vai nos jogando na cara até encontrar um final de nos tirar o chão!
Vale muito a pena!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
"Instinto Materno" é um filme sensacional e extremamente profundo se você estiver disposto a mergulhar nas relações familiares dentro de um contexto social que vai te provocar inúmeros julgamentos morais e mais do que isso: que vai te fazer refletir, te fazer repensar e até buscar algumas respostas (ou motivos) que justifiquem tantos sentimentos, tabus e comportamentos, muitas vezes incompreensíveis, que permeiam uma dinâmica entre mãe e filho - e essa jornada não será das mais simples!
Superprotetora, Cornelia Keneres (Luminita Gheorghiu) é uma mãe que possui um relacionamento conturbado com o filho Barbu (Bogdan Dumitrache) de 32 anos. Com uma perspectiva completamente infantil e dependente do filho, Cornelia tenta de todas as formas evitar que o filho seja indiciado por um acidente de carro que culminou na morte de um adolescente de 14 anos. Confira o trailer:
Essa produção romena, vencedora do Urso de Ouro em 2014 no Festival de Berlin, explora de maneira muito sútil o enorme abismo social do mundo moderno, sem a premissa de encontrar um vilão ou um mocinho. Na verdade, quando o roteiro pontua os reflexos do status social em algumas relações, como uma suposta facilidade em conseguir algumas informações com a polícia ou o pedido de favores entre patroa e empregada em troca de um lindo par de sapatos para a filha adolescente, a história ganha uma outra dimensão, não só baseada na obsessão de uma mãe, mas também em como isso esconde a fragilidade do ser humano e se conecta com a perda de valores ou com o abuso de privilégios.
Dirigido pelo talentoso Cãlin Peter Netzer (de "Ana, meu Amor"), com roteiro dele ao lado de Razvan Radulescu, "Instinto Materno" usa e abusa de sua câmera na mão, para imprimir um aspecto documental impressionante - é como se observássemos toda cena de dentro dela e ele faz isso com o único intuito de nos constranger. Veja, as situações são apresentadas de maneira seca, sem nenhum tipo de muleta visual (no bom sentido) e isso cria uma enorme sensação de realidade - é como se a história que vemos na tela pode ser a mesma que vamos escutar no próximo encontro com os amigos. Tudo isso faz ainda mais sentido porque temos uma Luminita Gheorghiu roubando a cena - ela é simplesmente intragável ao mesmo tempo em que é frágil, ressentida, perturbada, mal amada, enfim, são tantas camadas que seria impossível definir sua personagem em uma única palavra. Para quem não sabe, Gheorghiu sempre foi considerada uma das melhores atrizes de seu país e que, infelizmente, nos deixou em 4 de julho de 2021, com 71 anos.
"Instinto Materno" discute em vários níveis o conforto que a sensação de controle pode nos gerar e, obviamente, o inferno que nossa vida pode se tornar se não o tivermos. É um preço muito caro viver assim, além de ser uma parte indissociável de uma classe com privilégios, capaz de moldar (e transformar) a índole de um ser humano de acordo com suas próprias frustrações ou anseios. Não se trata de ser bom ou ruim, mas sim de usar os "meios" para alcançar um "fim" por si só. Não estranhe o fato do filme começar e terminar com reticências - esse é o seu conceito narrativo e propósito: talvez te gere uma percepção de vazio além do que estamos acostumados - e se isso acontecer, ele cumpriu seu papel!
Vale muito a pena!
"Instinto Materno" é um filme sensacional e extremamente profundo se você estiver disposto a mergulhar nas relações familiares dentro de um contexto social que vai te provocar inúmeros julgamentos morais e mais do que isso: que vai te fazer refletir, te fazer repensar e até buscar algumas respostas (ou motivos) que justifiquem tantos sentimentos, tabus e comportamentos, muitas vezes incompreensíveis, que permeiam uma dinâmica entre mãe e filho - e essa jornada não será das mais simples!
Superprotetora, Cornelia Keneres (Luminita Gheorghiu) é uma mãe que possui um relacionamento conturbado com o filho Barbu (Bogdan Dumitrache) de 32 anos. Com uma perspectiva completamente infantil e dependente do filho, Cornelia tenta de todas as formas evitar que o filho seja indiciado por um acidente de carro que culminou na morte de um adolescente de 14 anos. Confira o trailer:
Essa produção romena, vencedora do Urso de Ouro em 2014 no Festival de Berlin, explora de maneira muito sútil o enorme abismo social do mundo moderno, sem a premissa de encontrar um vilão ou um mocinho. Na verdade, quando o roteiro pontua os reflexos do status social em algumas relações, como uma suposta facilidade em conseguir algumas informações com a polícia ou o pedido de favores entre patroa e empregada em troca de um lindo par de sapatos para a filha adolescente, a história ganha uma outra dimensão, não só baseada na obsessão de uma mãe, mas também em como isso esconde a fragilidade do ser humano e se conecta com a perda de valores ou com o abuso de privilégios.
Dirigido pelo talentoso Cãlin Peter Netzer (de "Ana, meu Amor"), com roteiro dele ao lado de Razvan Radulescu, "Instinto Materno" usa e abusa de sua câmera na mão, para imprimir um aspecto documental impressionante - é como se observássemos toda cena de dentro dela e ele faz isso com o único intuito de nos constranger. Veja, as situações são apresentadas de maneira seca, sem nenhum tipo de muleta visual (no bom sentido) e isso cria uma enorme sensação de realidade - é como se a história que vemos na tela pode ser a mesma que vamos escutar no próximo encontro com os amigos. Tudo isso faz ainda mais sentido porque temos uma Luminita Gheorghiu roubando a cena - ela é simplesmente intragável ao mesmo tempo em que é frágil, ressentida, perturbada, mal amada, enfim, são tantas camadas que seria impossível definir sua personagem em uma única palavra. Para quem não sabe, Gheorghiu sempre foi considerada uma das melhores atrizes de seu país e que, infelizmente, nos deixou em 4 de julho de 2021, com 71 anos.
"Instinto Materno" discute em vários níveis o conforto que a sensação de controle pode nos gerar e, obviamente, o inferno que nossa vida pode se tornar se não o tivermos. É um preço muito caro viver assim, além de ser uma parte indissociável de uma classe com privilégios, capaz de moldar (e transformar) a índole de um ser humano de acordo com suas próprias frustrações ou anseios. Não se trata de ser bom ou ruim, mas sim de usar os "meios" para alcançar um "fim" por si só. Não estranhe o fato do filme começar e terminar com reticências - esse é o seu conceito narrativo e propósito: talvez te gere uma percepção de vazio além do que estamos acostumados - e se isso acontecer, ele cumpriu seu papel!
Vale muito a pena!
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
"Julho Agosto" (que em algumas plataformas de streaming ganhou o título de "Verão em Família") pode até soar como uma história adolescente com aquele tempero quase independente de um filme francês produzido para encantar o grande público - e de fato o filme escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème traz esses elementos, mas basta alguns minutos para perceber que a proposta é muito mais profunda, pois o roteiro se apoia em diversas camadas para expor um delicado retrato sobre a juventude e como essa realidade pode impactar no relacionamento entre pais (separados) e seus filhos.
As irmãs Laura (Luna Lou) e Josephine (Alma Jodorowsky) vão passar as férias de julho na casa de praia do padrasto. Enquanto a primeira se esforça para esconder uma grave travessura, a mais velha vive a dor e a delícia de uma intensa paixão de verão. No mês seguinte, elas vão visitar o pai em outra região da França e os problemas mudam de figura: enquanto Josephine lida com as consequências inimagináveis de seu romance, Luna se afasta a cada dia da infância em busca de respostas para suas próprias convicções. Confira o trailer:
Veja, "Juillet août" (no original) constrói uma narrativa interessante, mesmo que em alguns momentos pareça se perder na proposta - digo isso pelos caminhos que o roteiro escolhe para criar os conflitos e justificar a relação, essa sim muito mais interessante, entre as irmãs Laura e Josephine com seus pais que não estão mais juntos, mas fazem questão de se mostrar amorosos com elas e respeitosos entre si. Aqui, é bacana relatar que em nenhum momento (ou quase nenhum, graças a personalidade forte de Laura) o embate tem um tom dramático, pelo contrário, Diastème provoca a audiência muito mais por priorizar o diálogo do que por criar cenas impactantes - isso humaniza a relação familiar de tal maneira que fica impossível não nos colocarmos (como pais) nas situações vividas pelos personagens. Não existe a dicotomia usual dos filmes americanos do bom e do mal, ou do certo e do errado - como na vida real, são pontos de vista para uma mesma situação, e a partir daí as demonstrações de carinho, mesmo quando a bronca é necessária, são construídas com o intuito de educar e de encontrar as melhores soluções.
"Julho Agosto" tem o mérito de falar sobre o amadurecimento pelo olhar das jovens protagonistas - e como todos sabem, amadurecer não é um jornada das mais fáceis. O filme é realmente muito feliz ao discutir uma dinâmica de comunicação moderna observando uma nova estrutura familiar, com suas dores, mas também com seus pontos positivos: o papel do padrasto das meninas, é um bom exemplo, já que da sua forma mais simples, ele tenta passar ensinamentos e ainda deixa claro que está sempre disposto a ajudar no que elas precisarem; enquanto, ao mesmo tempo, Laura sente um enorme ciúme do pai e de forma honesta com seu sentimento tenta se colocar entre ele e sua pretendente. Entendem a complexidade das relações, mas com que delicadeza que esse filme trata do tema?
O filme é uma graça, muito mérito do seu roteiro. É incrível como a audiência se sente bem ao lado dos personagens e como eles são carismáticos - não é por acaso que nos interessamos por suas jornadas, entendemos suas motivações e principalmente torcemos para que tudo dê certo em nome da paz para aquela família. A mensagem é das melhores, mesmo que a vida teime em desafiar todos eles.
Vale muito a pena!
"Julho Agosto" (que em algumas plataformas de streaming ganhou o título de "Verão em Família") pode até soar como uma história adolescente com aquele tempero quase independente de um filme francês produzido para encantar o grande público - e de fato o filme escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème traz esses elementos, mas basta alguns minutos para perceber que a proposta é muito mais profunda, pois o roteiro se apoia em diversas camadas para expor um delicado retrato sobre a juventude e como essa realidade pode impactar no relacionamento entre pais (separados) e seus filhos.
As irmãs Laura (Luna Lou) e Josephine (Alma Jodorowsky) vão passar as férias de julho na casa de praia do padrasto. Enquanto a primeira se esforça para esconder uma grave travessura, a mais velha vive a dor e a delícia de uma intensa paixão de verão. No mês seguinte, elas vão visitar o pai em outra região da França e os problemas mudam de figura: enquanto Josephine lida com as consequências inimagináveis de seu romance, Luna se afasta a cada dia da infância em busca de respostas para suas próprias convicções. Confira o trailer:
Veja, "Juillet août" (no original) constrói uma narrativa interessante, mesmo que em alguns momentos pareça se perder na proposta - digo isso pelos caminhos que o roteiro escolhe para criar os conflitos e justificar a relação, essa sim muito mais interessante, entre as irmãs Laura e Josephine com seus pais que não estão mais juntos, mas fazem questão de se mostrar amorosos com elas e respeitosos entre si. Aqui, é bacana relatar que em nenhum momento (ou quase nenhum, graças a personalidade forte de Laura) o embate tem um tom dramático, pelo contrário, Diastème provoca a audiência muito mais por priorizar o diálogo do que por criar cenas impactantes - isso humaniza a relação familiar de tal maneira que fica impossível não nos colocarmos (como pais) nas situações vividas pelos personagens. Não existe a dicotomia usual dos filmes americanos do bom e do mal, ou do certo e do errado - como na vida real, são pontos de vista para uma mesma situação, e a partir daí as demonstrações de carinho, mesmo quando a bronca é necessária, são construídas com o intuito de educar e de encontrar as melhores soluções.
"Julho Agosto" tem o mérito de falar sobre o amadurecimento pelo olhar das jovens protagonistas - e como todos sabem, amadurecer não é um jornada das mais fáceis. O filme é realmente muito feliz ao discutir uma dinâmica de comunicação moderna observando uma nova estrutura familiar, com suas dores, mas também com seus pontos positivos: o papel do padrasto das meninas, é um bom exemplo, já que da sua forma mais simples, ele tenta passar ensinamentos e ainda deixa claro que está sempre disposto a ajudar no que elas precisarem; enquanto, ao mesmo tempo, Laura sente um enorme ciúme do pai e de forma honesta com seu sentimento tenta se colocar entre ele e sua pretendente. Entendem a complexidade das relações, mas com que delicadeza que esse filme trata do tema?
O filme é uma graça, muito mérito do seu roteiro. É incrível como a audiência se sente bem ao lado dos personagens e como eles são carismáticos - não é por acaso que nos interessamos por suas jornadas, entendemos suas motivações e principalmente torcemos para que tudo dê certo em nome da paz para aquela família. A mensagem é das melhores, mesmo que a vida teime em desafiar todos eles.
Vale muito a pena!
"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.
A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:
Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.
O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.
"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.
Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.
"Julieta" é um filme de Pedro Almodóvar e isso, por si só, já nos prepara pelo que vem pela frente. Porém, Almodóvar vem surpreendendo - se não pela forma, pelo conteúdo. É impressionante como sua identidade como diretor está em cada frame, mas cada vez mais com um certo tom inventivo, agora carregando no drama e na densidade, saindo completamente da sua zona de conforto como roteirista - e vem funcionando.
A premissa é incrivelmente simples, já que o filme acompanha Julieta (Adriana Ugarte e depois Emma Suárez) que, ao longo de três décadas, tenta descobrir por que Antía (Priscilla Delgado e depois Blanca Parés), sua única filha, se afastou dela inesperadamente. Quando Julieta estava prestes a se mudar de Madrid para Portugal, um encontro inesperado a fez mudar de ideia e reviver sua relação como mãe. Ainda na Espanha, ela então começa a escrever uma carta para Antía, contando sua história e como se deu o relacionamento com os homens de sua vida. Confira o trailer:
Baseado em três contos do livro "Fugitiva", da vencedora do Prêmio Nobel Alice Munro, Almodóvar entrega seu talento na construção de uma personagem complexa, cheia de camadas e brilhantemente interpretado pela Emma Suárez - trabalho que lhe garantiu o prêmio Goya (o Oscar Espanhol em 2017). O interessante da performance de Suárez é que sua essência vai muito de encontro ao trabalho que Antônio Banderas teve em "Dor e Glória", onde ambosdesconstroem o personagem para encontrar no passado um sentido para lidar com o presente. Esse mergulho nostálgico, mas doloroso, está em cada detalhe - inclusive na escolha narrativa e na transição lírica que o diretor faz, aproximando o amargo da vida e suas profundas marcas de expressão já nascendo em um rosto jovem e se apoderando da sua versão mais madura.
O roteiro é, de fato, muito inteligente ao juntar as pontas soltas de uma história de vida com uma elegância impressionante. A quebra da linha temporal cria uma dinâmica interessante, conceitualmente pontuada por uma trilha sonora sombria (até over) - quase que antecipando os acontecimentos, mas adicionando sensações e sentimentos que vão da angústia até a culpa, do mistério ao óbvio, mesmo antes de entendermos exatamente o que está acontecendo e para onde a história vai nos guiar - é incrível como Almodóvar tem a capacidade de entregar as situações sem aquela pressa usual e ao mesmo tempo nos provocar curiosidade sem que percamos a paciência.
"Julieta" é na sua essência um filme de relações familiares. Um recorte de sentimentos (bons e ruins) que precisam ser revisitados para que a vida siga seu caminho natural. É um processo de amadurecimento do diretor que troca a ousadia de antes por uma serenidade profunda - sem perder o elemento provocativo das composições visuais e de suas mensagens mais poéticas e abstratas. É um "Almodóvar" - do tipo que o filme poderia ser uma pintura, mas que nos toca profundamente e que encontra na genialidade do diretor uma razão coerente para sua filmografia cada vez mais interiorizada, seja na figura de Julieta, da sua filha ou até do seu pai que repete justamente o mesmo ciclo que ela viveu.
Vale a pena para quem acompanha a carreira do diretor e para quem gosta da profundidade das relações e de como elas nos impactam.
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
Um pouquinho de "Succession", um pouquinho de "Yellowstone" - é assim que você vai olhar para "Landman" e colocá-la naquela prateleira que só as "muito boas" têm a honra de estar! Taylor Sheridan, mais uma vez, reafirma sua posição como um dos grandes mestres da TV contemporânea com a sua mais nova produção para o Paramount+. Co-criada com Christian Wallace e baseada no podcast "Boomtown", a série segue a fórmula que consagrou Sheridan, misturando dramas familiares, tensões sociais e intrigas corporativas - agora ambientada no universo das petroleiras americanas. Após o sucesso estrondoso de "Yellowstone" e seus spin-offs, Sheridan expande seu alcance ao focar em um protagonista muito bem desenvolvido, cheio de camadas, que se encontra no centro da exploração econômica e ambiental do Texas, entregando uma narrativa que, mesmo soando familiar, encontra várias formas de cativar a audiência como raramente vemos.
A série segue Tommy Norris (Billy Bob Thornton), um gerente de campo implacável de uma poderosa petroleira. Enquanto "Yellowstone" apresentava a luta da família Dutton para proteger seu rancho de grandes corporações, "Landman" inverte a perspectiva, colocando Tommy como o representante das forças que transformam o mundo em nome do progresso. Tommy é um personagem complexo, moldado por ambição, ironia e uma certa dose de pragmatismo moral, que faz de tudo para atingir seus objetivos, seja enfrentando traficantes que contestam os terrenos arrendados, seja lidando com crises internas, como os acidentes catastróficos nas operações da empresa. Confira o trailer (dublado):
Você não vai precisar mais do que 5 minutos para entender o que "Landman" representa como força narrativa - é impressionante como a série apresenta, em tão pouco tempo, o universo tenso e dinâmico que vamos encontrar em todos os episódios dessa primeira temporada. Veja, Tommy não apenas enfrenta ameaças inerentes ao seu cargo, como também carrega o peso de manter a coesão de sua família disfuncional. Seus filhos, Ainsley (Michelle Randolph), uma jovem prestes a ingressar na faculdade, e Cooper (Jacob Lofland), enviado pelo pai para trabalhar na extração de petróleo, têm suas próprias trajetórias que ecoam o mesmo estilo de drama familiar explorado em "Succession" e em "Yellowstone". Repare como funciona a relação entre Tommy e seus filhos, oferecendo momentos de certa vulnerabilidade que contrastam com o ritmo intenso das operações corporativas e com os desafios impostos pelo terreno hostil do Texas.
O roteiro de "Landman", aliás, mantém o tom característico das produções de seu criador com diálogos afiados, um ritmo frenético e uma constante exploração de temas morais e éticos humanizados por seus personagens - aqui nada é tão simples quanto parece e essa sensação de urgência e insegurança constante, soa genial durante a narrativa. Se a trama aborda questões contemporâneas, como a exploração de recursos naturais e seus impactos sociais e ambientais, é no drama familiar que nos conectamos com os personagens e aí a direção de Stephen Kay (de "Friday Night Lights") ganha destaque. Assim como nas obras anteriores de Sheridan, as paisagens desempenham um papel fundamental na narrativa, mas é a relação dos protagonistas com esse universo tão particular que nos impacta como audiência. O Texas é capturado com planos exuberantes, seus terrenos acidentados, iluminados pelo nascer e pelo pôr do sol, sempre acompanhados por uma trilha sonora country que reforça o senso de identidade regional da série. Essa atenção aos detalhes visuais mais uma vez demonstra a habilidade de Sheridan em transformar o cenário em um personagem tão ativo na trama quanto seus protagonistas.
O elenco, liderado por Billy Bob Thornton, é um dos grandes trunfos da série - e pode anotar aí que vai ganhar muitos prêmios daqui para frente. Thornton traz carisma e certa intensidade para Tommy, ajustando uma postura muitas vezes fria de um empresário com as nuances de um pai que tenta preservar sua família em meio ao caos que é viver em Odessa, Texas. Michelle Randolph e Jacob Lofland trazem o frescor e a humanidade que comentei acima, enquanto Jon Hamm e Demi Moore trazem um sopro de tensão e intriga à narrativa. O fato é que "Landman" tem tudo que precisa para se estabelecer como uma obra única, cheia de identidade, mesmo referenciada por outros sucessos, criando um universo distinto e dando um foco mais incisivo para as consequências corporativas da exploração petrolífera. Espere um ritmo intenso e conflitos bem estruturados e não se irrite se, mais uma vez, você se vir mergulhado nas intrigas de uma boa história de família.
Vale muito o seu play! Realmente imperdível!
Um pouquinho de "Succession", um pouquinho de "Yellowstone" - é assim que você vai olhar para "Landman" e colocá-la naquela prateleira que só as "muito boas" têm a honra de estar! Taylor Sheridan, mais uma vez, reafirma sua posição como um dos grandes mestres da TV contemporânea com a sua mais nova produção para o Paramount+. Co-criada com Christian Wallace e baseada no podcast "Boomtown", a série segue a fórmula que consagrou Sheridan, misturando dramas familiares, tensões sociais e intrigas corporativas - agora ambientada no universo das petroleiras americanas. Após o sucesso estrondoso de "Yellowstone" e seus spin-offs, Sheridan expande seu alcance ao focar em um protagonista muito bem desenvolvido, cheio de camadas, que se encontra no centro da exploração econômica e ambiental do Texas, entregando uma narrativa que, mesmo soando familiar, encontra várias formas de cativar a audiência como raramente vemos.
A série segue Tommy Norris (Billy Bob Thornton), um gerente de campo implacável de uma poderosa petroleira. Enquanto "Yellowstone" apresentava a luta da família Dutton para proteger seu rancho de grandes corporações, "Landman" inverte a perspectiva, colocando Tommy como o representante das forças que transformam o mundo em nome do progresso. Tommy é um personagem complexo, moldado por ambição, ironia e uma certa dose de pragmatismo moral, que faz de tudo para atingir seus objetivos, seja enfrentando traficantes que contestam os terrenos arrendados, seja lidando com crises internas, como os acidentes catastróficos nas operações da empresa. Confira o trailer (dublado):
Você não vai precisar mais do que 5 minutos para entender o que "Landman" representa como força narrativa - é impressionante como a série apresenta, em tão pouco tempo, o universo tenso e dinâmico que vamos encontrar em todos os episódios dessa primeira temporada. Veja, Tommy não apenas enfrenta ameaças inerentes ao seu cargo, como também carrega o peso de manter a coesão de sua família disfuncional. Seus filhos, Ainsley (Michelle Randolph), uma jovem prestes a ingressar na faculdade, e Cooper (Jacob Lofland), enviado pelo pai para trabalhar na extração de petróleo, têm suas próprias trajetórias que ecoam o mesmo estilo de drama familiar explorado em "Succession" e em "Yellowstone". Repare como funciona a relação entre Tommy e seus filhos, oferecendo momentos de certa vulnerabilidade que contrastam com o ritmo intenso das operações corporativas e com os desafios impostos pelo terreno hostil do Texas.
O roteiro de "Landman", aliás, mantém o tom característico das produções de seu criador com diálogos afiados, um ritmo frenético e uma constante exploração de temas morais e éticos humanizados por seus personagens - aqui nada é tão simples quanto parece e essa sensação de urgência e insegurança constante, soa genial durante a narrativa. Se a trama aborda questões contemporâneas, como a exploração de recursos naturais e seus impactos sociais e ambientais, é no drama familiar que nos conectamos com os personagens e aí a direção de Stephen Kay (de "Friday Night Lights") ganha destaque. Assim como nas obras anteriores de Sheridan, as paisagens desempenham um papel fundamental na narrativa, mas é a relação dos protagonistas com esse universo tão particular que nos impacta como audiência. O Texas é capturado com planos exuberantes, seus terrenos acidentados, iluminados pelo nascer e pelo pôr do sol, sempre acompanhados por uma trilha sonora country que reforça o senso de identidade regional da série. Essa atenção aos detalhes visuais mais uma vez demonstra a habilidade de Sheridan em transformar o cenário em um personagem tão ativo na trama quanto seus protagonistas.
O elenco, liderado por Billy Bob Thornton, é um dos grandes trunfos da série - e pode anotar aí que vai ganhar muitos prêmios daqui para frente. Thornton traz carisma e certa intensidade para Tommy, ajustando uma postura muitas vezes fria de um empresário com as nuances de um pai que tenta preservar sua família em meio ao caos que é viver em Odessa, Texas. Michelle Randolph e Jacob Lofland trazem o frescor e a humanidade que comentei acima, enquanto Jon Hamm e Demi Moore trazem um sopro de tensão e intriga à narrativa. O fato é que "Landman" tem tudo que precisa para se estabelecer como uma obra única, cheia de identidade, mesmo referenciada por outros sucessos, criando um universo distinto e dando um foco mais incisivo para as consequências corporativas da exploração petrolífera. Espere um ritmo intenso e conflitos bem estruturados e não se irrite se, mais uma vez, você se vir mergulhado nas intrigas de uma boa história de família.
Vale muito o seu play! Realmente imperdível!
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.
Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).
A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.
Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".
Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
"Lightyear" é um ótimo entretenimento, divertido, dinâmico e tecnicamente impressionante, mas... parece não ter a "alma" da Pixar - pelo menos aquela que nos faz ficar sentados alguns segundos, refletindo ou retomando o ar, assim que os créditos começam a subir. Por outro lado, talvez seja o filme com mais cenas de ação que o Estúdio já produziu - e olha que estamos falando do mesmo universo de Toy Story.
"Lightyear" é uma aventura de ação com toques de ficção científica que apresenta a história de origem de Buzz Lightyear - o herói "real" que inspirou o brinquedo que ganhou fama em Toy Story (1995). O filme segue o lendário Patrulheiro Espacial em uma missão de reconhecimento em um planeta hostil e que, por uma avaliação errada, deixa ele e sua equipe presos e completamente abandonados a 4,2 milhões de anos-luz da Terra. Enquanto Buzz tenta encontrar uma forma de se redimir e voltar para casa através do espaço e do tempo, ele percebe que a cada tentativa que duram horas para ele, representam anos para quem fica no planeta. Para complicar ainda mais a situação, conhecemos Zurg, uma presença alienígena imponente com um exército de robôs implacáveis. Confira o trailer:
“Em 1995, Andy ganhou um brinquedo. O brinquedo era de seu filme favorito. Esse era o filme” - é assim que "Lightyear" nos é apresentado e imediatamente já entendemos exatamente onde o filme quer nos levar (ou pelo menos quais os laços emocionais ele quer estabelecer). Pela primeira vez, a franquia nos coloca na posição do personagemAndy para entender o que ele viveu e não, como de costume, nos provocar na criação de paralelos com nossa própria infância - não que isso não aconteça, mas a dinâmica frenética do filme não nos permite esse exercício (é nesse sentido que comento sobre a "alma" da Pixar). No roteiro não existe tempo para alívios emocionais, é conflito a todo momento. Porém, é inegável que ao terminar o filme, entendemos perfeitamente porquê Andy deixou de lado seu Woody para brincar com seu novo brinquedo, o patrulheiro espacial Buzz Lightyear.
O que eu quero dizer é que, como construção de um universo particular e mesmo depois da conclusão gloriosa de "Toy Story 4", "Lightyear" funciona muito bem como aquela peça que faltava em um enorme quebra-cabeça, porém a grande pergunta que fica é: precisávamos mesmo dessa peça? Muitos vão dizer que não, outros vão afirmar que esse prequel é essencial, mas aquela unanimidade que estamos acostumados a encontrar em cada lançamento de uma animação da Pixar, de fato, não vai existir.
Do ponto de vista técnico, o filme é excepcionalmente bem feito: as texturas são impressionantes e o uso marcante das sombras desperta sensações profundas como se estivéssemos assistindo um live-action. Em muitos momentos você vai colocar em dúvida que se trata de um animação mesmo - apenas para exemplificar, mesmo que pouco relevante para a história, reparem no take onde vemos as engrenagens da nave de "Lightyear" se liberarem para o lançamento. É impressionante a qualidade da animação!
A conclusão é a seguinte: se você estiver procurando por um filme que evoca a imaginação e a memória mais emotiva da mesma forma que Toy Story fez em quatro filmes, você ficará desapontado - "Lightyear" não é e nem se propõe a ser um filme inesquecível. Sua escolha narrativa é quase uma homenagem aos clássicos de ficção científica, com uma dinâmica muito envolvente e com o foco simplesmente na ação e no entretenimento.
Vale muito pela diversão!
"Lightyear" é um ótimo entretenimento, divertido, dinâmico e tecnicamente impressionante, mas... parece não ter a "alma" da Pixar - pelo menos aquela que nos faz ficar sentados alguns segundos, refletindo ou retomando o ar, assim que os créditos começam a subir. Por outro lado, talvez seja o filme com mais cenas de ação que o Estúdio já produziu - e olha que estamos falando do mesmo universo de Toy Story.
"Lightyear" é uma aventura de ação com toques de ficção científica que apresenta a história de origem de Buzz Lightyear - o herói "real" que inspirou o brinquedo que ganhou fama em Toy Story (1995). O filme segue o lendário Patrulheiro Espacial em uma missão de reconhecimento em um planeta hostil e que, por uma avaliação errada, deixa ele e sua equipe presos e completamente abandonados a 4,2 milhões de anos-luz da Terra. Enquanto Buzz tenta encontrar uma forma de se redimir e voltar para casa através do espaço e do tempo, ele percebe que a cada tentativa que duram horas para ele, representam anos para quem fica no planeta. Para complicar ainda mais a situação, conhecemos Zurg, uma presença alienígena imponente com um exército de robôs implacáveis. Confira o trailer:
“Em 1995, Andy ganhou um brinquedo. O brinquedo era de seu filme favorito. Esse era o filme” - é assim que "Lightyear" nos é apresentado e imediatamente já entendemos exatamente onde o filme quer nos levar (ou pelo menos quais os laços emocionais ele quer estabelecer). Pela primeira vez, a franquia nos coloca na posição do personagemAndy para entender o que ele viveu e não, como de costume, nos provocar na criação de paralelos com nossa própria infância - não que isso não aconteça, mas a dinâmica frenética do filme não nos permite esse exercício (é nesse sentido que comento sobre a "alma" da Pixar). No roteiro não existe tempo para alívios emocionais, é conflito a todo momento. Porém, é inegável que ao terminar o filme, entendemos perfeitamente porquê Andy deixou de lado seu Woody para brincar com seu novo brinquedo, o patrulheiro espacial Buzz Lightyear.
O que eu quero dizer é que, como construção de um universo particular e mesmo depois da conclusão gloriosa de "Toy Story 4", "Lightyear" funciona muito bem como aquela peça que faltava em um enorme quebra-cabeça, porém a grande pergunta que fica é: precisávamos mesmo dessa peça? Muitos vão dizer que não, outros vão afirmar que esse prequel é essencial, mas aquela unanimidade que estamos acostumados a encontrar em cada lançamento de uma animação da Pixar, de fato, não vai existir.
Do ponto de vista técnico, o filme é excepcionalmente bem feito: as texturas são impressionantes e o uso marcante das sombras desperta sensações profundas como se estivéssemos assistindo um live-action. Em muitos momentos você vai colocar em dúvida que se trata de um animação mesmo - apenas para exemplificar, mesmo que pouco relevante para a história, reparem no take onde vemos as engrenagens da nave de "Lightyear" se liberarem para o lançamento. É impressionante a qualidade da animação!
A conclusão é a seguinte: se você estiver procurando por um filme que evoca a imaginação e a memória mais emotiva da mesma forma que Toy Story fez em quatro filmes, você ficará desapontado - "Lightyear" não é e nem se propõe a ser um filme inesquecível. Sua escolha narrativa é quase uma homenagem aos clássicos de ficção científica, com uma dinâmica muito envolvente e com o foco simplesmente na ação e no entretenimento.
Vale muito pela diversão!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
Não foram poucas as criticas que "Mães Paralelas" recebeu, principalmente do público - muitas, inclusive, classificando o filme como o mais fraco da história recente de Pedro Almodóvar. Eu discordo, embora entenda algumas delas. A conexão entre o drama da protagonista e sua filha e a questão politica que o diretor levanta é definida através de um único elemento: o "tempo"! Não importa nossa percepção de que a vida passa rápido (e o filme faz questão de explorar esses saltos temporais) e que isso ajuda a curar nossas dores, o que o roteiro deixa claro é que as nossas marcas profundas (mesmo que geracionais) não se apagam, apenas aprendemos a lidar com elas.
Duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem o quarto de hospital onde vão dar à luz. As duas são solteiras e ficaram grávidas acidentalmente. Janis, de meia-idade, não se arrepende, enquanto Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta animá-la enquanto passeiam pelo corredor do hospital. As poucas palavras que trocam nessas horas criam um vínculo muito profundo entre as duas, porém o destino se encarrega de desenvolver e complicar de forma tão retumbante a vida de ambas para sempre. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso entender que em um filme do Almodóvar nada está em cena por acaso. Cada linha escrita no roteiro está completamente alinhada com aquele universo que o diretor constrói visualmente - gostem ou não do seu estilo, suas personagens (preferencialmente femininas) possuem tantas camadas que, muitas vezes, até nos perdemos dentro de sua própria profundidade. Em "Mães Paralelas" não é diferente - começando pelo título que vai promover um debate interessante: o foco está em Janis e Ana, ou em todas as mães que perderam seus filhos durante o período da revolução facista na Espanha?
A magia da filmografia de Almodóvar está no detalhe e aqui vou citar um para você reparar e ampliar seu entendimento sobre a história. É um detalhe, mas faz toda a diferença: um dos momentos mais importantes da relação entre Janis e Ana acontece diante de uma parede completamente decorada com fotos de todas as mulheres da família de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas - o interessante é que em um determinado momento, Janis sugere como o passado sempre será carregado para o futuro. O exemplo dos ciclos familiares de Janis ganha ainda mais força quando ela percebe que dificilmente conseguirá quebra-lo e o homem que impede isso é justamente quem poderia liberta-la - entende a conceito de "paralelo" do filme?
Ao lado do Diretor de Fotografia José Luis Alcaine e do diretor de arte Antxón Gómez, seus parceiros de longa data, Almodóvar não se preocupa em teatralizar seus planos e muito menos em limitar a performance de suas atrizes. Penélope sabe disso e aproveita dessa liberdade para brilhar (mesmo que a indicação ao Oscar tenha parecido exagerada). Smit é mais contida, e acaba sofrendo um pouco com a necessidade de exposição do diretor e aqui cabe outro comentário pertinente: expor o óbvio pode ser um tiro no pé, mas nesse caso faz parte de uma dinâmica narrativa que usa dessas obviedades como gatilhos de aceitação e transformação dos personagens (principalmente no segundo ato).
Por mais que esteja escondido em uma trama que soa novelesca, “Mães Paralelas” é na verdade um filme político e suas marcas - e de como isso pode ser decodificado em outras gerações (a cena em que Janis cobra essa consciência histórica de Ana é genial). Poderia haver mais elementos que remetessem à critica política, para dialogar com sua premissa de uma forma tão expositiva quanto em sua subtrama sobre maternidade? Sim, acho que sim e é onde entendo algumas críticas - mas se isso acontecesse, não seria um "Almodóvar", certo?
Vale muito seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
Olha, "Maid" é excelente, mas preciso te avisar: não será uma jornada das mais tranquilas! Essa minissérie da Netflix, criada pela Molly Smith Metzler (também responsável por "Shameless") e dirigida pelo incrível John Wells (26 vezes indicado ao Emmy e vencedor por "ER" e "West Wing"), é baseada no livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive" de Stephanie Land. Sua trama oferece uma exploração íntima e comovente das dificuldades enfrentadas por uma jovem mãe solteira enquanto luta para construir uma vida digna para ela e para sua filha, em meio a uma realidade dolorosa e a um sistema que muitas vezes parece estar contra quem mais precisa. Com uma narrativa emocionalmente delicada e performances realmente excepcionais, "Maid" merece demais sua atenção - certamente uma das produções mais impactantes de 2021.
A história segue Alex Russel (Margaret Qualley), uma jovem que resolve deixar de lado um relacionamento abusivo com seu namorado Sean (Nick Robinson). Sem nenhum apoio financeiro ou familiar, Alex começa a trabalhar como empregada doméstica para sustentar sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet). "Maid" documenta as lutas de Alex para encontrar estabilidade perante todas as complicações de ser mãe solteira, enquanto tenta navegar pelas dificuldades emocionais e psicológicas que surgem ao longo de sua jornada. Confira o trailer (em inglês):
Só pelo trailer é possível ter uma ideia da potência narrativa e visual de "Maid". Molly Smith Metzler, criadora e roteirista da minissérie, demonstra uma habilidade impressionante ao construir essa narrativa que é ao mesmo tempo dolorosamente realista e profundamente humana. Metzler tenta equilibrar com alguma sensibilidade o impacto dos temas que a história de Alex aborda, mas chega ser viceral como as discussões que ela levanta nos provoca. Falar sobre abuso doméstico, sobre as dores da falta de recursos mínimos, sobre saúde mental e, especialmente, sobre as falhas do sistema que deveria dar toda assistência que a mulher precisa, da fato, é indigesto. A partir de uma análise social interessante, Metzler evita o sensacionalismo e se concentra em pontuar as pequenas vitórias e, claro, a resiliência do espírito humano, oferecendo uma representação autêntica e dura das dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres na vida real.
A direção de John Wells é fundamental - o tom cinematográfico escolhido por ele é a melhor representação da força dessa minissérie. Wells captura as lutas de Alex com intimidade, em uma direção que é ao mesmo tempo crua e compassiva. A fotografia de Guy Godfree (de "Maudie: Sua Vida e Sua Arte") é igualmente eficaz, utilizando uma paleta de cores que reflete perfeitamente as emoções e o estado mental de Alex - ele usa e abusa dos planos fechados e da câmera "mais nervosa" para assinalar o desespero e os momentos de esperança da protagonista sem fugir da realidade. Repare como as escolhas de enquadramento muitas vezes enfatizam a sensação de isolamento e claustrofobia que Alex sente durante sua luta para escapar de seu passado e assim tentar construir um futuro melhor - essa escolha conceitual reflete demais nas nossas sensações ao ponto de doer na alma!
Margaret Qualley encontra a força e a vulnerabilidade de uma personagem cheia de camadas com uma autenticidade cativante e comovente. Sua performance é o coração pulsante da minissérie, transmitindo a determinação silenciosa de uma jovem mãe que fará qualquer coisa para garantir o melhor para sua filha. Rylea Nevaeh Whittet, como Maddy, traz uma doçura e uma inocência que contrastam com a dureza da vida que Alex enfrenta, reforçando o vínculo profundo entre mãe e filha de uma maneira que fica impossível não se apaixonar por elas. Mas atenção: o ritmo da narrativa, que se concentra intensamente nos detalhes do cotidiano de Alex, pode soar lento em certos momentos. Além disso, a repetição dos desafios enfrentados por ela pode parecer cansativo para alguns, mas é justamente essas características que sublinham a realidade exaustiva, menos favorecida e angustiante de uma luta pela sobrevivência que parece injusta aos olhos da empatia. "Maid" é uma obra poderosa que destaca o poder do espírito humano em meio a adversidades imensas, eu diria até que é um retrato incisivo e comovente das dificuldades enfrentadas por aqueles que estão presos em um ciclo de pobreza e abuso, mas que mesmo assim tenta oferecer uma mensagem de esperança e resiliência.
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!