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Milagre Azul

"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.

O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:

Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.

O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante  a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!

Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!

Assista Agora

"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.

O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:

Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.

O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante  a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!

Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!

Assista Agora

Minari

"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um  personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.

O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:

Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.

Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.

A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!

Vale a pena!

Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.

Assista Agora

"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um  personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.

O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:

Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.

Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.

A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!

Vale a pena!

Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.

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Minhas Mães e Meu Pai

A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro! 

Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:

"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".

Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.

"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!

Sensível e inteligente!!! Assista!!!

Assista Agora

A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro! 

Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:

"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".

Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.

"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!

Sensível e inteligente!!! Assista!!!

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Moonlight

"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:

Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!

Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!

A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!

Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!

Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!

Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!

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"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:

Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!

Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!

A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!

Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!

Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!

Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!

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Mytho

Mytho

Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido. 

Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!

Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade -  e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!

Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!

O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.

Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!

O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.

Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!

Assista Agora

Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido. 

Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!

Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade -  e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!

Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!

O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.

Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!

O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.

Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!

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Não Me Abandone Jamais

"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

Vale muito o seu play!

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"Não Me Abandone Jamais" vai te fazer se perguntar a razão pela qual você não assistiu esse filme antes! "Não Me Abandone Jamais" é lindo, bem estruturado, envolvente e, principalmente, cirúrgico ao capturar a essência da vulnerabilidade humana de maneira única e comovente. Dirigido por Mark Romanek (não por acaso diretor de "Tales from the Loop"), o  filme, de fato, tem uma capacidade ímpar de mesclar um cenário de ficção científica com um drama existencial dos mais profundos, criando uma experiência realmente intensa e inesquecível. Baseado no aclamado romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, "Never Let Me Go" (no original) é uma poesia visual, que se apoia nas mais honestas camadas emocionais para te provocar de uma forma avassaladora. Com uma recepção da crítica das mais positivas na época de seu lançamento, testemunho de sua inegável qualidade, e vários elogios direcionados à sua direção, performances e fotografia, eu diria que estamos diante de uma obra imperdível que, pode acreditar, irá além do entretenimento passageiro.

A trama acompanha três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), desde os primeiros tempos de escola até a juventude adulta, quando descobrem uma verdade sombria sobre suas existências. Criados em um internato aparentemente idílico chamado Hailsham, eles percebem que nada é exatamente como eles imaginavam e é aí que eles passam a confrontar, cada um de sua forma, o amor, a perda e a inevitabilidade de seu destino. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "Não Me Abandone Jamais" é uma  espécie de meditação sobre o que significa ser humano e o valor da vida - temas universais que ressoam profundamente, mas que também nos tiram da zona de conforto e nos fazem refletir. Baseado em construções alegóricas, Romanek sabe exatamente o valor do roteiro de Alex Garland (de "Devs") ao explorar, por meio de um cenário utópico/distópico, as relações humanas pela perspectiva de sua condição de finitude. Tecnicamente perfeito, o filme traz para a tela uma paleta de cores fria e austera que reflete perfeitamente o clima melancólico que a história se propõe a desenvolver. Veja, cada quadro é meticulosamente composto, contribuindo para a sensação de opressão e de desesperança que a própria fotografia do genial Adam Kimmel (de "Capote") destaca. Repare como as paisagens bucólicas contrastam com a crueza da trama - aqui, a escolha de filmar em locações, ao invés de sets com fundo verde, adiciona uma camada extra de autenticidade que só intensifica o impacto emocional.

A performance do elenco é outro ponto alto do filme. Carey Mulligan entrega uma atuação sutil e profundamente comovente como Kathy, transmitindo uma gama complexa de emoções com uma quietude impressionante. Andrew Garfield e Keira Knightley também brilham em seus papéis, trazendo vulnerabilidade e intensidade para seus personagens; no entanto é a química entre os três protagonistas que faz a diferença - tudo é palpável, o que torna suas jornadas individuais e coletivas ainda mais tocantes e viscerais. A trilha sonora, composta por Rachel Portman (vencedora do Oscar por "Emma") também merece destaque: ela é delicada e etérea, complementando perfeitamente esse conceito narrativo imposto por Romanek, Garland e Kimmel. As composições de Portman adicionam uma camada de emoção, guiando a audiência através dos altos e baixos da jornada dos personagens com uma sensibilidade, olha, impressionante - o que eu quero dizer é que a música nunca é intrusiva, mas sim uma presença constante que realça os momentos mais impactantes do filme.

"Não Me Abandone Jamais" é uma obra que nos desafia a confrontar questões mais desconfortáveis sobre a vida e a morte. É um filme para ser sentido, mais do que apenas assistido, e graças a sua narrativa poética e visualmente deslumbrante, para ser apreciado! Se você procura dramas existenciais e/ou ficções científicas com uma carga emocional realmente intensa, este filme é uma escolha imperdível - uma verdadeira joia que estava escondida no catálogo do streaming.

Vale muito o seu play!

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Não me diga adeus

Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.

"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):

Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"

Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!

Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.

"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento! 

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No Ritmo do Coração

"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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"CODA", que no Brasil ganhou o sugestivo título "No Ritmo do Coração", é uma graça - uma mistura de "Nasce uma Estrela" com "Juno" ou "Lady Bird". O fato é que o filme da diretora Sian Heder é uma delicia de assistir, equilibrando perfeitamente o drama da protagonista com todo aquele universo que ela está inserida - o que me deixa muito tranquilo em afirmar que "CODA" é mesmo um filme sobre "empatia"!

Nele acompanhamos a história de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los na pescaria do dia - o que já seria uma grande responsabilidade não fosse um agravante - ela é a única pessoa da família que não é surda. Dividida entre sua paixão, a música, e a necessidade de ajudar sua família a se comunicar com o mundo, Ruby precisa decidir quais os caminhos deve seguir assim que acabar o seu último ano do Ensino Médio. Confira o trailer:

CODA significa "children of deaf adults" ou "filha de adultos surdos" em uma tradução livre - é esse "detalhe" que transforma a premissa simples daquela clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos, em um um filme único e muito sensível.

Também roteirizado por Sian Heder (que se baseou no filme francês "A Família Bélier", de 2014), "No Ritmo do Coração" usa de uma narrativa bastante leve para discutir a importância da inclusão e a relação que os surdos tem com o mundo - e aqui cabe um comentário: a dinâmica familiar entre Ruby, seu pai Frank, seu irmão Leo e sua mãe Jackie (Marlee Matlin) é muito divertida, o que nos ajuda a criar uma conexão imediata com todos e a entender os limites e dificuldades de se comunicar quando o outro, muitas vezes, não está disposto a lidar com as diferenças.

Embora o filme não tenha nenhuma inovação narrativa ou visual tão impactante, mesmo se apropriando do silêncio e das legendas para facilitar o entendimento quando a linguagem de sinais é a única ferramenta de comunicação, a cena em que Ruby se apresenta no coral da escola é simplesmente fantástica - é nela que temos a exata sensação do problema que o filme se propõe a discutir! O elenco é um show à parte: Emilia Jones, mostra todo o seu carisma e talento ao criar uma adolescente apaixonante, mas que sobe de patamar ao assumir toda a potência vocal que personagem pede - eu diria que é nível indicação para o Oscar de "Melhor Atriz". Já Kotsur, Matlin e Durant, todos surdos na vida real, entregam atuações cheias de detalhes e simpatia - e mesmo em cenas que exigem mais do drama, funcionam cirurgicamente como alívios cômicos com todo respeito que lhes são de direito, mostrando assim várias camadas de seus personagem. Te desafio a não se emocionar com eles - Kotsur ou (e) Matlin mereceriam uma indicação de ator/atriz coadjuvante tranquilamente.

"CODA - No Ritmo do Coração" é um filme levemente açucarado e previsível - feito para nos fazer rir e chorar, além de aquecer nossa alma e nosso coração, e tudo bem, porque falo isso sem demérito algum, já que traz uma honestidade para sua trama que o coloca naquela prateleira de um dos melhores filmes do ano de 2021.

Vale muito a pena! 

Up-date: "CODA - No Ritmo do Coração" ganhou em três categorias no Oscar 2022: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Filme!

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Nomadland

"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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"Nomadland" é um filme sobre a solidão - então saiba que aquele aperto no peito quase insuportável vai te acompanhar por quase duas horas!

Ok, mas existe beleza na solidão? A diretora Chloé Zhao, ao lado do jovem fotógrafo Joshua James Richards, tenta mostrar que sim - mesmo apoiada em um drama extremamente denso e introspectivo que além de nos provocar inúmeras reflexões sobre as nossas escolhas ao longo da vida, ainda nos conduz para discussões pertinentes sobre o luto, sobre a saudade e, principalmente, sobre a fragilidade dos relacionamentos (seja entre casais ou com a família) em uma sociedade americana extremamente capitalista que nos inunda de expectativas.

Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, em 2011, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Confira o trailer:

A experiência de assistir "Nomadland" é incrivelmente sensorial. A capacidade de Zhao em construir uma narrativa tão profunda, se aproveitando do silêncio, da natureza e da incrível performance de Frances McDormand para conectar visualmente as dores da personagem em passagens muito bem pontuadas com uma trilha sonora maravilhosa, olha, é de tirar o chapéu! Veja, não se trata um filme sobre uma jornada de auto-conhecimento ou superação, se trata de um recorte bastante realista sobre o dia a dia de uma pessoa que "escolheu" estar/ficar sozinha, uma pessoa que perdeu a vontade de se relacionar intimamente e que, para mim, abriu mão da felicidade.

O roteiro da própria Zhao, baseado no livro "Nomadland: Sobrevivendo aos Estados Unidos no século XXI" da autora Jessica Bruder, traz muito do que experienciamos em "Na Natureza Selvagem" (2007) com o mérito de adicionar uma certa dualidade para a discussão. A montagem, também de Zhao (sim, ela fez quase tudo pelo filme e por isso seu Oscar é muito mais do que merecido) sugere uma quebra de linearidade tão orgânica que estabelecer tempo e espaço fica praticamente impossível. O interessante que esse conceito de "simplesmente ver o tempo passar" é justamente o gatilho para refletirmos sobre as escolhas da personagem - o que seria melhor: viver livre e viver mal, entre o trabalho braçal e o ócio criativo, entre o tédio da rotina e o maravilhamento com a natureza, ou simplesmente seguir a cartilha que a sociedade nos impõe mesmo que isso nos sufoque? - o comentário sobre o "barco no quintal" é cirúrgico para fomentar essa discussão. Reparem. 

"Nomadland" é duro, difícil e pode parecer muito cadenciado para a maior parte da audiência - mas é viceral! Sua narrativa foi arriscada, com um toque autoral e independente que normalmente gera alguma repulsa no circuito comercial - mas não foi o caso aqui já que o filme custou certa de 5 milhões de dólares e faturou próximo de 8 vezes esse valor. Felizmente, o "singelo" que vemos na tela é tão profundo que nos toca a alma - a sensibilidade de Zhao em nenhum momento ignora a frieza da realidade, mas ao mesmo tempo também se esforça para nos mostrar a magia da escolha de Fern e, de alguma forma, cumpre muito bem esse papel.

Vale muito o seu play.

Up-date: "Nomadland" ganhou em três categorias no Oscar 2021 das seis indicações que recebeu, inclusive como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz! Aliás, o filme de Zhao ganhou mais de 250 prêmios e recebeu mais de 150 indicações nos mais renomados festivais do mundo.

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Notas de Rebeldia

A melhor forma de definir "Notas de Rebeldia" está justamente na relação do contraste cultural e na dualidade narrativa de outras duas séries que transitam pelo mesmo universo: "O Urso" e "Gotas Divinas". Se no primeiro existe um elemento mais underground do restaurante de bairro com uma forte conexão afetiva, aqui representada pelo brisket, pelas ribs e pelo pulled pork; o segundo naturalmente se apoia na tradição e na elegância do vinho, dos seus vinhedos e, pela perspectiva do desafio, da sua química - seja pelo aroma ou pelo sabor de um Chardonnay, de um Pinot Noir e até de um Merlot. Se você sabe exatamente do que eu estou falando, pode dar o play tranquilamente que sua diversão está garantida pelas próximas duas horas.

O filme do diretor Prentice Penny (indicado ao Emmy por "Insecure") acompanha a história de Elijah (Mamoudou Athie), um jovem afro-americano que vive entre o sonho de se tornar um grande sommelier e a obrigação de acompanhar o pai, Louis (Courtney B. Vance), na batalha diária que é manter uma churrascaria tradicional de Memphis e ainda se preparar para assumir o negócio da família quando chegar o momento. Confira o trailer:

O roteiro de "Uncorked" (no original), embora não seja um primor técnico, é muito inteligente e consistente ao abordar temas universais de aspirações pessoais, de tradições familiares e de autodescoberta, mas sem pender para nenhum dos lados da história afim de induzir a audiência. Naturalmente que a cisão cultural pela qual o protagonista precisa lidar não tem a profundidade e o número de camadas que encontramos em "O Urso", no entanto, o processo de transformação soa bastante honesto e nos cativa desde o primeiro ato. Os diálogos são bons, existem boas sacadas - o jogo de palavras que a família de Elijah faz quando ele diz que quer ser sommelier, é impagável. Minha única crítica, é que em certos momentos, o ritmo me parece diminuir demais e algumas subtramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas para adicionar um pouco mais de profundidade - mas ok, essa é a proposta e o resultado final é muito bom.

A direção de Penny, também é muito boa - ele tem uma enorme capacidade de trabalhar com atores (vimos isso em "Insecure") e aqui não é diferente. Existe uma certa sensibilidade para focar na jornada emocional do protagonista sem parecer força a barra. Penny consegue criar uma atmosfera íntima, permitindo que a audiência mergulhe na vida de Elijah e nas questões que ele enfrenta ao tentar equilibrar as expectativas do pai e seus próprios sonhos. Embora em alguns momentos a direção possa parecer um tanto convencional, e de fato é, a abordagem mais sensível contribui demais para a autenticidade do filme e para a performance de Mamoudou Athie (esse ator é muito carismático, olho nele).

Capturando tanto a vibração da cidade de Memphis quanto a atmosfera clássica de Paris e dos vinhedos franceses, eu diria que "Notas de Rebeldia" é um filme que oferece uma jornada saborosa pela cultura gastronômica pelo viés da enologia. Enquanto humaniza a jornada conflitante entre tradição e ambição, o roteiro habilmente mistura o drama com leves toques de humor,  proporcionando um ótimo e despretensioso entretenimento que certamente vai mexer com seu paladar.

Vale muito o play!

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A melhor forma de definir "Notas de Rebeldia" está justamente na relação do contraste cultural e na dualidade narrativa de outras duas séries que transitam pelo mesmo universo: "O Urso" e "Gotas Divinas". Se no primeiro existe um elemento mais underground do restaurante de bairro com uma forte conexão afetiva, aqui representada pelo brisket, pelas ribs e pelo pulled pork; o segundo naturalmente se apoia na tradição e na elegância do vinho, dos seus vinhedos e, pela perspectiva do desafio, da sua química - seja pelo aroma ou pelo sabor de um Chardonnay, de um Pinot Noir e até de um Merlot. Se você sabe exatamente do que eu estou falando, pode dar o play tranquilamente que sua diversão está garantida pelas próximas duas horas.

O filme do diretor Prentice Penny (indicado ao Emmy por "Insecure") acompanha a história de Elijah (Mamoudou Athie), um jovem afro-americano que vive entre o sonho de se tornar um grande sommelier e a obrigação de acompanhar o pai, Louis (Courtney B. Vance), na batalha diária que é manter uma churrascaria tradicional de Memphis e ainda se preparar para assumir o negócio da família quando chegar o momento. Confira o trailer:

O roteiro de "Uncorked" (no original), embora não seja um primor técnico, é muito inteligente e consistente ao abordar temas universais de aspirações pessoais, de tradições familiares e de autodescoberta, mas sem pender para nenhum dos lados da história afim de induzir a audiência. Naturalmente que a cisão cultural pela qual o protagonista precisa lidar não tem a profundidade e o número de camadas que encontramos em "O Urso", no entanto, o processo de transformação soa bastante honesto e nos cativa desde o primeiro ato. Os diálogos são bons, existem boas sacadas - o jogo de palavras que a família de Elijah faz quando ele diz que quer ser sommelier, é impagável. Minha única crítica, é que em certos momentos, o ritmo me parece diminuir demais e algumas subtramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas para adicionar um pouco mais de profundidade - mas ok, essa é a proposta e o resultado final é muito bom.

A direção de Penny, também é muito boa - ele tem uma enorme capacidade de trabalhar com atores (vimos isso em "Insecure") e aqui não é diferente. Existe uma certa sensibilidade para focar na jornada emocional do protagonista sem parecer força a barra. Penny consegue criar uma atmosfera íntima, permitindo que a audiência mergulhe na vida de Elijah e nas questões que ele enfrenta ao tentar equilibrar as expectativas do pai e seus próprios sonhos. Embora em alguns momentos a direção possa parecer um tanto convencional, e de fato é, a abordagem mais sensível contribui demais para a autenticidade do filme e para a performance de Mamoudou Athie (esse ator é muito carismático, olho nele).

Capturando tanto a vibração da cidade de Memphis quanto a atmosfera clássica de Paris e dos vinhedos franceses, eu diria que "Notas de Rebeldia" é um filme que oferece uma jornada saborosa pela cultura gastronômica pelo viés da enologia. Enquanto humaniza a jornada conflitante entre tradição e ambição, o roteiro habilmente mistura o drama com leves toques de humor,  proporcionando um ótimo e despretensioso entretenimento que certamente vai mexer com seu paladar.

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Nyad

Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!

"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):

Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.  

A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances  emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência. 

"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!

Vale seu play! 

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Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!

"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):

Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.  

A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances  emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência. 

"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!

Vale seu play! 

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O Caminho de Volta

"O Caminho de Volta" não é sobre basquete ou como o esporte pode mudar a vida das pessoas. O filme dirigido pelo Gavin O'Connor (uma das mentes criativas por trás do sucesso que foi "Mare of Easttown") vai muito além, pois ele desconstrói, justamente, essa premissa; mostrando a realidade da luta diária que é combater o vício e, olhem só, mais do que isso, ele procura explorar os motivos que levam uma pessoa ao fundo poço. Eu diria que o filme é uma dura jornada sobre o divórcio, o luto, a saudade, a solidão e a dor de ter que conviver com tudo isso e não conseguir seguir em frente.

O ex-atleta e considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial, Jack Cunningham (Ben Affleck) luta contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que encara as dificuldades de um emprego monótono. Ele então recebe a oportunidade de treinar um time de basquete e recomeçar. Na medida em que o time começa a vencer, a sua vida melhora, mas as vitórias não parecem suficientes ao ponto de salvá-lo. Confira o trailer:

Muitos críticos consideram esse trabalho de Affleck como a atuação mais sincera de toda sua carreira - e isso pode não ser por acaso dado os problemas que o ator sofreu graças ao alcoolismo. O próprio ator comentou sobre a necessidade que uma pessoa tem de entender o vício, de procurar se recompor, aprender com ele, e depois aprender um pouco mais, para aí sim tentar seguir em frente. "O Caminho de Volta" discute o assunto de uma forma muito honesta e é até surpreendente o pouco destaque que o filme teve no circuito comercial. A escolha de O'Connor para comandar o projeto imprime o que o diretor tem de melhor: sua enorme capacidade de desvendar as camadas mais intimas de um personagem e explora-las sem sensacionalismo ou necessidade de chocar a audiência visualmente ("Mare of Easttown" foi assim).

Aqui, a qualidade técnica soa invejável para um filme (de orçamento) considerado tão pequeno, quase independente. Existe de fato um cuidado estético que tanto O'Connor quanto o fotógrafo Eduard Grau (do também excelente "Meu nome é Magic Johnson") insistem em preservar. Se o roteiro de Brad Ingelsby (de “The Friend”) sugere apresentar aquela fórmula clássica de filmes esportivos, onde um time fracassado e cheio de problemas de relacionamento muda de comportamento e começa a ganhar, rapidamente entendemos que o foco gira mesmo em torno do drama que é o simples ato de ir em bar e como isso ganha outra proporção quando o protagonista é um alcoólatra. Se a decisão conceitual de paralisar a imagem no inicio de quase todos os jogos do time e imediatamente mostrar seu placar final, parece ter sido acertada, ela ganha ainda mais mérito por estabelecer que nem tudo precisa ser mostrado, discutido ou exposto - quando o diálogo não é necessário, o impacto visual ganha muito mais potência. A cena de Jack no hospital assistindo seus amigos recebendo o resultado de um exame do filho, é um ótimo exemplo que fala por si só!

“O Caminho de Volta” é sensível e dolorido, não tem receio algum de provocar muitos momentos de emoção ao som de uma trilha sonora fabulosa composta pelo Rob Simonsen ( de “Tully”). Um filme com uma direção minimalista, impecável ao meu ver, com um ótimo roteiro e uma montagem primorosa, que utiliza o esporte como pano de fundo, mas que subverte a fórmula do caminho para a redenção. Como disse: não será um jornada das mais tranquilas, mas certamente vai te surpreender.

Vale muito seu play!

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"O Caminho de Volta" não é sobre basquete ou como o esporte pode mudar a vida das pessoas. O filme dirigido pelo Gavin O'Connor (uma das mentes criativas por trás do sucesso que foi "Mare of Easttown") vai muito além, pois ele desconstrói, justamente, essa premissa; mostrando a realidade da luta diária que é combater o vício e, olhem só, mais do que isso, ele procura explorar os motivos que levam uma pessoa ao fundo poço. Eu diria que o filme é uma dura jornada sobre o divórcio, o luto, a saudade, a solidão e a dor de ter que conviver com tudo isso e não conseguir seguir em frente.

O ex-atleta e considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial, Jack Cunningham (Ben Affleck) luta contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que encara as dificuldades de um emprego monótono. Ele então recebe a oportunidade de treinar um time de basquete e recomeçar. Na medida em que o time começa a vencer, a sua vida melhora, mas as vitórias não parecem suficientes ao ponto de salvá-lo. Confira o trailer:

Muitos críticos consideram esse trabalho de Affleck como a atuação mais sincera de toda sua carreira - e isso pode não ser por acaso dado os problemas que o ator sofreu graças ao alcoolismo. O próprio ator comentou sobre a necessidade que uma pessoa tem de entender o vício, de procurar se recompor, aprender com ele, e depois aprender um pouco mais, para aí sim tentar seguir em frente. "O Caminho de Volta" discute o assunto de uma forma muito honesta e é até surpreendente o pouco destaque que o filme teve no circuito comercial. A escolha de O'Connor para comandar o projeto imprime o que o diretor tem de melhor: sua enorme capacidade de desvendar as camadas mais intimas de um personagem e explora-las sem sensacionalismo ou necessidade de chocar a audiência visualmente ("Mare of Easttown" foi assim).

Aqui, a qualidade técnica soa invejável para um filme (de orçamento) considerado tão pequeno, quase independente. Existe de fato um cuidado estético que tanto O'Connor quanto o fotógrafo Eduard Grau (do também excelente "Meu nome é Magic Johnson") insistem em preservar. Se o roteiro de Brad Ingelsby (de “The Friend”) sugere apresentar aquela fórmula clássica de filmes esportivos, onde um time fracassado e cheio de problemas de relacionamento muda de comportamento e começa a ganhar, rapidamente entendemos que o foco gira mesmo em torno do drama que é o simples ato de ir em bar e como isso ganha outra proporção quando o protagonista é um alcoólatra. Se a decisão conceitual de paralisar a imagem no inicio de quase todos os jogos do time e imediatamente mostrar seu placar final, parece ter sido acertada, ela ganha ainda mais mérito por estabelecer que nem tudo precisa ser mostrado, discutido ou exposto - quando o diálogo não é necessário, o impacto visual ganha muito mais potência. A cena de Jack no hospital assistindo seus amigos recebendo o resultado de um exame do filho, é um ótimo exemplo que fala por si só!

“O Caminho de Volta” é sensível e dolorido, não tem receio algum de provocar muitos momentos de emoção ao som de uma trilha sonora fabulosa composta pelo Rob Simonsen ( de “Tully”). Um filme com uma direção minimalista, impecável ao meu ver, com um ótimo roteiro e uma montagem primorosa, que utiliza o esporte como pano de fundo, mas que subverte a fórmula do caminho para a redenção. Como disse: não será um jornada das mais tranquilas, mas certamente vai te surpreender.

Vale muito seu play!

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O Castelo de Vidro

"O Castelo de Vidro" é excelente, mas, admito, achei pesado! 

Baseado no livro autobiográfico da jornalistaJeannette Walls, o filme não foca na sua carreira profissional, e sim na sua vida em família desde a infância. É uma história (real) difícil, mas muito bem resolvida no roteiro, sobre uma jovem menina que atinge a maioridade em uma família nômade completamente desestruturada, com uma mãe excêntrica e um pai alcoólatra, e que tenta despertar a imaginação dos irmãos com a esperança que elas se abstraiam da pobreza em que vivem.

Muito bem filmado pelo Destin Daniel Cretton, outro jovem diretor que, de um curta, fez um outro filme de grande sucesso em festivais - chegando a ganhar Locarno em 2013 com seu "Short Term 12" (Temporário 12). Em "The Glass Castle" (título original), ele repete a parceria com a ótima Brie Larson, mas quem rouba a cena é o Woody Harrelson. Embora possa parecer um pouco fora do tom, apoiado em esteriótipos locais, ele traz a dor de quem vive uma dependência, mas acredita que pode compensar sua fraqueza com uma máscara de inabalável. Impressionante como ele trabalha essa dualidade e influencia nosso julgamento a cada cena. Naomi Watts também se desconstruiu para sua personagem e foi muito bem - ambos mereceram todos os elogios, porém foram completamente esquecidos no Oscar 2018!

"The Glass Castle" é um filme tecnicamente muito bem realizado, muito honesto na sua proposta e com uma história difícil de digerir pela sua complexidade moral. Vale muito a pena!!!

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"O Castelo de Vidro" é excelente, mas, admito, achei pesado! 

Baseado no livro autobiográfico da jornalistaJeannette Walls, o filme não foca na sua carreira profissional, e sim na sua vida em família desde a infância. É uma história (real) difícil, mas muito bem resolvida no roteiro, sobre uma jovem menina que atinge a maioridade em uma família nômade completamente desestruturada, com uma mãe excêntrica e um pai alcoólatra, e que tenta despertar a imaginação dos irmãos com a esperança que elas se abstraiam da pobreza em que vivem.

Muito bem filmado pelo Destin Daniel Cretton, outro jovem diretor que, de um curta, fez um outro filme de grande sucesso em festivais - chegando a ganhar Locarno em 2013 com seu "Short Term 12" (Temporário 12). Em "The Glass Castle" (título original), ele repete a parceria com a ótima Brie Larson, mas quem rouba a cena é o Woody Harrelson. Embora possa parecer um pouco fora do tom, apoiado em esteriótipos locais, ele traz a dor de quem vive uma dependência, mas acredita que pode compensar sua fraqueza com uma máscara de inabalável. Impressionante como ele trabalha essa dualidade e influencia nosso julgamento a cada cena. Naomi Watts também se desconstruiu para sua personagem e foi muito bem - ambos mereceram todos os elogios, porém foram completamente esquecidos no Oscar 2018!

"The Glass Castle" é um filme tecnicamente muito bem realizado, muito honesto na sua proposta e com uma história difícil de digerir pela sua complexidade moral. Vale muito a pena!!!

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O Céu da Meia-Noite

"O Céu da Meia-Noite" é uma difícil adaptação do livro "Good Morning, Midnight " da norte-americana Lily Brooks-Dalton, que trás elementos narrativos similares a filmes como, por exemplo, "Interestelar" (2014), para compor uma história de Ficção Científica, mas que fala mesmo é sobre "solidão" (e, talvez, sobre a necessidade de se perdoar como ser humano e como humanidade) - isso vai ficar muito claro no terceiro ato do filme!

Dirigido e protagonizado pelo George Clooney, o filme acompanha Augustine, um solitário cientista que precisa se comunicar com uma equipe de astronautas que estão em uma missão no espaço e assim impedir que eles retornem para a Terra em meio a uma misteriosa catástrofe ambiental que praticamente dizimou a humanidade. Confira o trailer:

"O Céu da Meia-Noite" é um ótimo entretenimento, mas certamente vai dividir opiniões. Veja, o filme tem cenas de ação que criam aquele senso de urgência, mas também se apoia muito no sentimentalismo e na necessidade de passar uma mensagem de esperança, que, na minha opinião, pareceu sem tanta profundidade e o propósito (até filosófico) de "Interestelar". O que eu quero dizer é que a própria dinâmica narrativa impediu um aprofundamento maior nos dramas de vários personagens (e muitos deles são completamente dispensáveis), já que a história é contada a partir de dois grandes arcos principais: o de Augustine na Terra e o de Sully (Felicity Jones), junto com os astronautas, no espaço - é muita coisa para apenas duas horas de filme! Embora o roteiro use alguns atalhos para minimizar esse problema e nos provocar uma certa empatia com os personagens (alguns vão chamar de "clichês"), faltou tempo de tela para que essa identificação justificasse nossa paixão, nossa torcida.

Tecnicamente o filme tem grandes momentos, conceitos visuais muito bacanas (e outros nem tanto). A ótima trilha sonora ajuda a pontuar nossas emoções que vão nos acompanhar durante todo filme e que, facilmente, nos ajuda encontrar seu ápice no final - o que é ótimo, mas nos dá até a sensação de que o filme é muito melhor do que ele realmente é! Mas é inegável: nos emocionamos sim e ficamos satisfeitos com o filme! É isso que importa!

Vale seu play, mas não espere todas as repostas, o "caos" que acompanhamos é apenas o pano de fundo para refletirmos sobre algumas escolhas e suas consequências!

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"O Céu da Meia-Noite" é uma difícil adaptação do livro "Good Morning, Midnight " da norte-americana Lily Brooks-Dalton, que trás elementos narrativos similares a filmes como, por exemplo, "Interestelar" (2014), para compor uma história de Ficção Científica, mas que fala mesmo é sobre "solidão" (e, talvez, sobre a necessidade de se perdoar como ser humano e como humanidade) - isso vai ficar muito claro no terceiro ato do filme!

Dirigido e protagonizado pelo George Clooney, o filme acompanha Augustine, um solitário cientista que precisa se comunicar com uma equipe de astronautas que estão em uma missão no espaço e assim impedir que eles retornem para a Terra em meio a uma misteriosa catástrofe ambiental que praticamente dizimou a humanidade. Confira o trailer:

"O Céu da Meia-Noite" é um ótimo entretenimento, mas certamente vai dividir opiniões. Veja, o filme tem cenas de ação que criam aquele senso de urgência, mas também se apoia muito no sentimentalismo e na necessidade de passar uma mensagem de esperança, que, na minha opinião, pareceu sem tanta profundidade e o propósito (até filosófico) de "Interestelar". O que eu quero dizer é que a própria dinâmica narrativa impediu um aprofundamento maior nos dramas de vários personagens (e muitos deles são completamente dispensáveis), já que a história é contada a partir de dois grandes arcos principais: o de Augustine na Terra e o de Sully (Felicity Jones), junto com os astronautas, no espaço - é muita coisa para apenas duas horas de filme! Embora o roteiro use alguns atalhos para minimizar esse problema e nos provocar uma certa empatia com os personagens (alguns vão chamar de "clichês"), faltou tempo de tela para que essa identificação justificasse nossa paixão, nossa torcida.

Tecnicamente o filme tem grandes momentos, conceitos visuais muito bacanas (e outros nem tanto). A ótima trilha sonora ajuda a pontuar nossas emoções que vão nos acompanhar durante todo filme e que, facilmente, nos ajuda encontrar seu ápice no final - o que é ótimo, mas nos dá até a sensação de que o filme é muito melhor do que ele realmente é! Mas é inegável: nos emocionamos sim e ficamos satisfeitos com o filme! É isso que importa!

Vale seu play, mas não espere todas as repostas, o "caos" que acompanhamos é apenas o pano de fundo para refletirmos sobre algumas escolhas e suas consequências!

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O céu está em todo lugar

"O céu está em todo lugar" é um graça, embora discuta um tema extremamente delicado e que vai exigir certa sensibilidade para entender o conceito por trás da narrativa lúdica que simboliza o "luto na adolescência". Veja, o que você vai encontrar nesse filme dirigido pela Josephine Decker (de "Shirley") é um drama jovem, com toque de comédia romântica, alguns clichês, mas muita honestidade - é como se assistíssemos um mix de "No Ritmo do Coração" com o "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".

"O céu está em todo lugar" segue Lennie (Grace Kaufman), uma jovem de 17 anos, após a morte da irmã mais velha e melhor amiga, Bailey (Havana Rose Liu). Ela se vê dividida entre Toby (Pico Alexander), o namorado de Bailey que na visão dela é o único que compartilha sua dor, e Joe (Jacques Colimon), o novo garoto da cidade que explode de vida. Cada um oferece a Lennie algo que ela precisa desesperadamente para superar seu luto. Através das experiências do primeiro relacionamento e da reflexão sobre as escolhas para o seu futuro, Lennie precisa encarar a vida real, mesmo que essa fique entre a linha tênue do sonho de um amor verdadeiro e o pesadelo da perda de alguém tão especial. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no best-seller de Jandy Nelson, "O céu está em todo lugar" se beneficia da inteligência e criatividade de Josephine Decker que respeitou o "espirito" da história contada no livro, ao criar uma narrativa completamente lúdica que transformou uma premissa densa, onde uma família que não sabe lidar com a dor da perda e uma adolescente que tinha todos os motivos para viver em um mundo de lamentações, em uma jornada de aceitação e auto-descoberta através da arte - e aqui não falo apenas do amor de Lennie e Joe pela música, mas sim pelas representações cênicas que Decker utilizou para expressar alguns dos sentimentos e sensações dos personagens.

Obviamente que ter Jandy Nelson como roteirista ajudou nesse processo, mas de fato o filme transita muito bem entre a dura realidade do luto e a fantasia do recomeço, sem deixar de tocar nas feridas de uma forma muito dura até: quando Lennie pergunta para sua vó, Fiona, a incrível Cherry Jones, se o luto vai durar para sempre, a resposta é de cortar o coração, pela sinceridade e delicadeza da conversa. Aliás essa não é a única cena em que as duas juntas brilham: reparem na cena em que Fiona confronta Lennie sobre o egoísmo dela e expõe pela primeira vez seus sentimentos em relação a morte da neta - é lindo, mas toca fundo!

"The Sky is Everywherer" (no original) vai se conectar com os mais jovens pelas indagações e pela beleza da descoberta do amor; e com os mais velhos (como esse que vos escreve) pela capacidade que o roteiro tem de criar inúmeras camadas, em vários personagens, saindo completamente da superfície para discutir o luto como um sentimento muito particular, com visões, percepções e atitudes diferentes, mas não menos importante ou difícil de lidar, não importa para quem seja.

Vale seu play.

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"O céu está em todo lugar" é um graça, embora discuta um tema extremamente delicado e que vai exigir certa sensibilidade para entender o conceito por trás da narrativa lúdica que simboliza o "luto na adolescência". Veja, o que você vai encontrar nesse filme dirigido pela Josephine Decker (de "Shirley") é um drama jovem, com toque de comédia romântica, alguns clichês, mas muita honestidade - é como se assistíssemos um mix de "No Ritmo do Coração" com o "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".

"O céu está em todo lugar" segue Lennie (Grace Kaufman), uma jovem de 17 anos, após a morte da irmã mais velha e melhor amiga, Bailey (Havana Rose Liu). Ela se vê dividida entre Toby (Pico Alexander), o namorado de Bailey que na visão dela é o único que compartilha sua dor, e Joe (Jacques Colimon), o novo garoto da cidade que explode de vida. Cada um oferece a Lennie algo que ela precisa desesperadamente para superar seu luto. Através das experiências do primeiro relacionamento e da reflexão sobre as escolhas para o seu futuro, Lennie precisa encarar a vida real, mesmo que essa fique entre a linha tênue do sonho de um amor verdadeiro e o pesadelo da perda de alguém tão especial. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no best-seller de Jandy Nelson, "O céu está em todo lugar" se beneficia da inteligência e criatividade de Josephine Decker que respeitou o "espirito" da história contada no livro, ao criar uma narrativa completamente lúdica que transformou uma premissa densa, onde uma família que não sabe lidar com a dor da perda e uma adolescente que tinha todos os motivos para viver em um mundo de lamentações, em uma jornada de aceitação e auto-descoberta através da arte - e aqui não falo apenas do amor de Lennie e Joe pela música, mas sim pelas representações cênicas que Decker utilizou para expressar alguns dos sentimentos e sensações dos personagens.

Obviamente que ter Jandy Nelson como roteirista ajudou nesse processo, mas de fato o filme transita muito bem entre a dura realidade do luto e a fantasia do recomeço, sem deixar de tocar nas feridas de uma forma muito dura até: quando Lennie pergunta para sua vó, Fiona, a incrível Cherry Jones, se o luto vai durar para sempre, a resposta é de cortar o coração, pela sinceridade e delicadeza da conversa. Aliás essa não é a única cena em que as duas juntas brilham: reparem na cena em que Fiona confronta Lennie sobre o egoísmo dela e expõe pela primeira vez seus sentimentos em relação a morte da neta - é lindo, mas toca fundo!

"The Sky is Everywherer" (no original) vai se conectar com os mais jovens pelas indagações e pela beleza da descoberta do amor; e com os mais velhos (como esse que vos escreve) pela capacidade que o roteiro tem de criar inúmeras camadas, em vários personagens, saindo completamente da superfície para discutir o luto como um sentimento muito particular, com visões, percepções e atitudes diferentes, mas não menos importante ou difícil de lidar, não importa para quem seja.

Vale seu play.

Assista Agora

O Conde

"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

Imperdível!

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"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

Imperdível!

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O Farol das Orcas

Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!

O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):

Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola. 

Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.

É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.

Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!

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Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!

O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):

Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola. 

Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.

É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.

Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!

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O Filho de Saul

O cinema de horror ou de sobrevivência em contextos extremos raramente oferece uma experiência tão visceral e imersiva quanto "O Filho de Saul". Dirigido pelo László Nemes (de "Entardecer"), essa produção húngara foi aclamada com o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2015 e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 - sem falar no BAFTA e no Goya de 2017, e no Critics Choice, no Cézar Awards e no Globo de Ouro também em 2016. Na verdade, esse filme é um testemunho impactante da brutalidade do Holocausto, contudo ao invés de se concentrar na vastidão do terror nazista, o roteiro opta por fazer um retrato íntimo, quase claustrofóbico, acompanhando cada passo de seu protagonista em uma narrativa que é tanto um ato de resistência quanto um grito silencioso de desespero. "O Filho de Saul" não só desafia as convenções do cinema atual sobre o Holocausto, como também redefine o próprio gênero com uma abordagem técnica inovadora e uma profundidade emocional sem paralelo - eu diria até comparável em seu impacto a "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg, a "A Vida é Bela" de Roberto Benigni ou até o "Zona de Interesse" de Jonathan Glazer, mas com um realismo e uma intensidade que são inigualáveis.

A história segue Saul Ausländer (Géza Röhrig), um judeu-húngaro prisioneiro em um campo de concentração que trabalha como membro do Sonderkommando - esse era o tipo de prisioneiro que era forçado a ajudar na execução e cremação dos judeus. Em meio a uma dessas "missões", Saul encontra o corpo de uma criança que ele acredita poder ser seu filho. Em um gesto de profunda humanidade (e resistência), ele decide arriscar sua vida para dar aquela criança um enterro adequado, enfrentando obstáculos quase insuperáveis para encontrar um rabino que possa conduzir uma proibida cerimônia religiosa. Confira o trailer:

Partindo de premissa dessa missão desesperada e solitária de Saul que define o arco dramático do filme e traz à tona questões éticas e morais que transcendem o contexto histórico, o que encontramos na tela é um verdadeiro soco no estômago onde tudo, absolutamente tudo, é construído para nos tirar da zona de conforto. Certamente o diferencial técnico mais notável em "O Filho de Saul" seja o uso de uma cinematografia singular. Rodado em 35mm e com uma razão de aspecto de 1.37:1, o diretor de fotografia Mátyás Erdély (de "O Refúgio") captura a experiência do protagonista em closes extremos e com planos longos, o que mantêm o foco restrito no personagem central, enquanto o horror do campo de concentração permanece desfocado e praticamente indefinível no fundo. Essa escolha conceitual não apenas reforça a percepção de confinamento e opressão, mas também faz com que a audiência viva a jornada de Saul de forma quase que em primeira pessoa. Veja, a câmera se torna uma extensão da própria visão do protagonista, nos conduzindo pelos corredores e câmaras de gás de Auschwitz com uma proximidade sufocante e imersiva, que traduz a desumanização e o caos de forma brutalmente eficaz.

É inegável que a atuação contida de Géza Röhrig é fundamental para o sucesso deste experimento narrativo. Seu desempenho contrasta com a agonia e a urgência de sua missão. Röhrig infunde Saul com uma dignidade teimosa e uma dor interna que raramente se expressa através de palavras, mas que transborda a cada gesto e olhar - é um lindo trabalho de ator. O elenco de apoio, incluindo Levente Molnár como Abraham e Urs Rechn como Biedermann também merecem elogios ao complementar essa intensidade, oferecendo performances que, mesmo em papéis menores, contribuem demais para a atmosfera sufocante e tensa. Outros aspectos que merecem sua atenção é a trilha sonora (ou em muitos momentos, a falta dela) e o design de som - essa combinação amplifica nossa experiência de uma forma tão visceral que beira o insuportável. Saiba que em "O Filho de Saul", o silêncio é frequentemente interrompido apenas pelo som ambiente do campo - como em "Zona de Interesse", só ouvimos os gritos, ordens em alemão, tiros, sofrimento e dor. E tem mais: aqui ainda percebemos essa composição se entrelaçando com a respiração e com os passos de Saul, criando uma abordagem sonora minimalista que reforça a autenticidade da experiência e que evita qualquer sensação de sentimentalismo barato, permitindo que a brutalidade daquele cenário fale por si só.

Concluindo, "O Filho de Saul" é uma obra que transcende a mera representação do Holocausto para se tornar um estudo profundo sobre a resistência da humanidade em face da absoluta falta de amor e respeito. Esse é um filme difícil, cheio de identidade, que desafia a audiência a confrontar a brutalidade do passado pela perspectiva perturbadora da realidade, sem oferecer o consolo de uma narrativa mais tradicional. Nemes cria uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo devastadora e necessária - um testamento à força de vontade e à luta incessante pela dignidade. Um filme que vai além do óbvio e que oferece uma visão angustiante, mas essencial, de uma história que não podemos esquecer.

Imperdível!

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O cinema de horror ou de sobrevivência em contextos extremos raramente oferece uma experiência tão visceral e imersiva quanto "O Filho de Saul". Dirigido pelo László Nemes (de "Entardecer"), essa produção húngara foi aclamada com o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2015 e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 - sem falar no BAFTA e no Goya de 2017, e no Critics Choice, no Cézar Awards e no Globo de Ouro também em 2016. Na verdade, esse filme é um testemunho impactante da brutalidade do Holocausto, contudo ao invés de se concentrar na vastidão do terror nazista, o roteiro opta por fazer um retrato íntimo, quase claustrofóbico, acompanhando cada passo de seu protagonista em uma narrativa que é tanto um ato de resistência quanto um grito silencioso de desespero. "O Filho de Saul" não só desafia as convenções do cinema atual sobre o Holocausto, como também redefine o próprio gênero com uma abordagem técnica inovadora e uma profundidade emocional sem paralelo - eu diria até comparável em seu impacto a "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg, a "A Vida é Bela" de Roberto Benigni ou até o "Zona de Interesse" de Jonathan Glazer, mas com um realismo e uma intensidade que são inigualáveis.

A história segue Saul Ausländer (Géza Röhrig), um judeu-húngaro prisioneiro em um campo de concentração que trabalha como membro do Sonderkommando - esse era o tipo de prisioneiro que era forçado a ajudar na execução e cremação dos judeus. Em meio a uma dessas "missões", Saul encontra o corpo de uma criança que ele acredita poder ser seu filho. Em um gesto de profunda humanidade (e resistência), ele decide arriscar sua vida para dar aquela criança um enterro adequado, enfrentando obstáculos quase insuperáveis para encontrar um rabino que possa conduzir uma proibida cerimônia religiosa. Confira o trailer:

Partindo de premissa dessa missão desesperada e solitária de Saul que define o arco dramático do filme e traz à tona questões éticas e morais que transcendem o contexto histórico, o que encontramos na tela é um verdadeiro soco no estômago onde tudo, absolutamente tudo, é construído para nos tirar da zona de conforto. Certamente o diferencial técnico mais notável em "O Filho de Saul" seja o uso de uma cinematografia singular. Rodado em 35mm e com uma razão de aspecto de 1.37:1, o diretor de fotografia Mátyás Erdély (de "O Refúgio") captura a experiência do protagonista em closes extremos e com planos longos, o que mantêm o foco restrito no personagem central, enquanto o horror do campo de concentração permanece desfocado e praticamente indefinível no fundo. Essa escolha conceitual não apenas reforça a percepção de confinamento e opressão, mas também faz com que a audiência viva a jornada de Saul de forma quase que em primeira pessoa. Veja, a câmera se torna uma extensão da própria visão do protagonista, nos conduzindo pelos corredores e câmaras de gás de Auschwitz com uma proximidade sufocante e imersiva, que traduz a desumanização e o caos de forma brutalmente eficaz.

É inegável que a atuação contida de Géza Röhrig é fundamental para o sucesso deste experimento narrativo. Seu desempenho contrasta com a agonia e a urgência de sua missão. Röhrig infunde Saul com uma dignidade teimosa e uma dor interna que raramente se expressa através de palavras, mas que transborda a cada gesto e olhar - é um lindo trabalho de ator. O elenco de apoio, incluindo Levente Molnár como Abraham e Urs Rechn como Biedermann também merecem elogios ao complementar essa intensidade, oferecendo performances que, mesmo em papéis menores, contribuem demais para a atmosfera sufocante e tensa. Outros aspectos que merecem sua atenção é a trilha sonora (ou em muitos momentos, a falta dela) e o design de som - essa combinação amplifica nossa experiência de uma forma tão visceral que beira o insuportável. Saiba que em "O Filho de Saul", o silêncio é frequentemente interrompido apenas pelo som ambiente do campo - como em "Zona de Interesse", só ouvimos os gritos, ordens em alemão, tiros, sofrimento e dor. E tem mais: aqui ainda percebemos essa composição se entrelaçando com a respiração e com os passos de Saul, criando uma abordagem sonora minimalista que reforça a autenticidade da experiência e que evita qualquer sensação de sentimentalismo barato, permitindo que a brutalidade daquele cenário fale por si só.

Concluindo, "O Filho de Saul" é uma obra que transcende a mera representação do Holocausto para se tornar um estudo profundo sobre a resistência da humanidade em face da absoluta falta de amor e respeito. Esse é um filme difícil, cheio de identidade, que desafia a audiência a confrontar a brutalidade do passado pela perspectiva perturbadora da realidade, sem oferecer o consolo de uma narrativa mais tradicional. Nemes cria uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo devastadora e necessária - um testamento à força de vontade e à luta incessante pela dignidade. Um filme que vai além do óbvio e que oferece uma visão angustiante, mas essencial, de uma história que não podemos esquecer.

Imperdível!

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O Juíz

Assista esse filme -  especialmente se você se identifica com tramas que transitam entre a força de um drama de tribunal e a sensibilidade de um drama de relações, nesse caso, familiar, com aquele toque de humor, ironia e acidez quase uma comédia britânica. Diante de uma trama que tenta (e evidentemente consegue) se levar a sério, o filme do diretor David Dobkin, que fez carreira entre os vídeos musicais de bandas como Maroon 5 e as comédias despretensiosas como "Penetras Bons de Bico", "O Juiz" apresenta um excelente resultado no que tange aos aspectos narrativos, mesmo que a obra em si não seja algo, digamos, tão inovador. Não é à toa que o filme recebeu diversas indicações em importantes premiações, incluindo uma nomeação ao Oscar de 2015 pela performance magistral de Robert Duvall como ator coadjuvante.

Na trama, um advogado de sucesso, Hank Palmer (Robert Downey Jr.), precisa retornar para a pacata cidadezinha onde nasceu assim que recebe a notícia da morte de sua mãe. Lá, no entanto, ele reencontra seu pai, Joseph Palmer (Duvall), o juiz da cidade e uma espécie de bastião moral perante a comunidade, depois de décadas de um difícil rompimento familiar. Tudo muda de figura quando Hank se vê em uma situação inusitada: seu pai é acusado de um assassinato e ele é a única opção para livrá-lo da prisão. Confira o trailer:

Só pelo trailer você já consegue sentir o moodque vai te acompanhar por mais de duas horas de uma emocionante jornada e acredite, você vai se surpreender ainda mais! Partindo de um princípio básico: "o reencontro forçado entre pai e filho que vai revelando segredos do passado e que desencadeiam uma narrativa intensa, onde a busca pela verdade colide com as emoções profundas de uma família dividida", "O Juiz" não só te prende como te provoca inúmeras reflexões, especialmente se alguma relação familiar anda estremecida.

O conceito narrativo de Dobkin que praticamente nos força olhar para o passado, está incrivelmente alinhada com a fotografia de Janusz Kaminski, vencedor do Oscar "só" por "A Lista de Schindler" e "O Resgate do Soldado Ryan" - ele captura a essência da cidade pequena de Carlinville de maneira sublime, transmitindo visualmente a tensão e a nostalgia que permeiam o retorno de Hank. A escolha assertiva de planos e enquadramentos contribui para a construção de uma atmosfera tão imersiva que intensifica nossa conexão emocional com os personagens e a história em si, como poucas vezes você vai encontrar no gênero. Sem exageros.

Já o desempenho do elenco é outro elemento que coloca "O Juiz" em um patamar superior - certamente construído para chegar ao Oscar. Robert Downey Jr. entrega uma atuação excepcional, transcendendo as expectativas ao retratar a complexidade e a vulnerabilidade de Hank Palmer. A química entre Downey Jr. com seu parceiro Robert Duvall é palpável, proporcionando momentos de pura intensidade emocional - chega ser um absurdo ele também não ter recebido sua indicação em 2015. 

Se Dobkin conduz a história com tanta maestria, equilibrando habilmente os aspectos jurídicos com as complexidades familiares em uma jornada emocional cheia de camadas, posso garantir que é na narrativa intrincada, que oferece reflexões profundas sobre a natureza humana, que está o maior desafio - é impressionante como ela nos faz questionar nossas próprias convicções e preconceitos sem pedir licença. Dito isso, é quase impossível não recomendar "O Juiz" de olhos fechados por essa experiência que vai além das barreiras didáticas de uma disputa de tribunal e que mergulha no cerne da condição humana nos presenteando com um entretenimento de primeiríssima qualidade!

Imperdível!

Assista Agora

Assista esse filme -  especialmente se você se identifica com tramas que transitam entre a força de um drama de tribunal e a sensibilidade de um drama de relações, nesse caso, familiar, com aquele toque de humor, ironia e acidez quase uma comédia britânica. Diante de uma trama que tenta (e evidentemente consegue) se levar a sério, o filme do diretor David Dobkin, que fez carreira entre os vídeos musicais de bandas como Maroon 5 e as comédias despretensiosas como "Penetras Bons de Bico", "O Juiz" apresenta um excelente resultado no que tange aos aspectos narrativos, mesmo que a obra em si não seja algo, digamos, tão inovador. Não é à toa que o filme recebeu diversas indicações em importantes premiações, incluindo uma nomeação ao Oscar de 2015 pela performance magistral de Robert Duvall como ator coadjuvante.

Na trama, um advogado de sucesso, Hank Palmer (Robert Downey Jr.), precisa retornar para a pacata cidadezinha onde nasceu assim que recebe a notícia da morte de sua mãe. Lá, no entanto, ele reencontra seu pai, Joseph Palmer (Duvall), o juiz da cidade e uma espécie de bastião moral perante a comunidade, depois de décadas de um difícil rompimento familiar. Tudo muda de figura quando Hank se vê em uma situação inusitada: seu pai é acusado de um assassinato e ele é a única opção para livrá-lo da prisão. Confira o trailer:

Só pelo trailer você já consegue sentir o moodque vai te acompanhar por mais de duas horas de uma emocionante jornada e acredite, você vai se surpreender ainda mais! Partindo de um princípio básico: "o reencontro forçado entre pai e filho que vai revelando segredos do passado e que desencadeiam uma narrativa intensa, onde a busca pela verdade colide com as emoções profundas de uma família dividida", "O Juiz" não só te prende como te provoca inúmeras reflexões, especialmente se alguma relação familiar anda estremecida.

O conceito narrativo de Dobkin que praticamente nos força olhar para o passado, está incrivelmente alinhada com a fotografia de Janusz Kaminski, vencedor do Oscar "só" por "A Lista de Schindler" e "O Resgate do Soldado Ryan" - ele captura a essência da cidade pequena de Carlinville de maneira sublime, transmitindo visualmente a tensão e a nostalgia que permeiam o retorno de Hank. A escolha assertiva de planos e enquadramentos contribui para a construção de uma atmosfera tão imersiva que intensifica nossa conexão emocional com os personagens e a história em si, como poucas vezes você vai encontrar no gênero. Sem exageros.

Já o desempenho do elenco é outro elemento que coloca "O Juiz" em um patamar superior - certamente construído para chegar ao Oscar. Robert Downey Jr. entrega uma atuação excepcional, transcendendo as expectativas ao retratar a complexidade e a vulnerabilidade de Hank Palmer. A química entre Downey Jr. com seu parceiro Robert Duvall é palpável, proporcionando momentos de pura intensidade emocional - chega ser um absurdo ele também não ter recebido sua indicação em 2015. 

Se Dobkin conduz a história com tanta maestria, equilibrando habilmente os aspectos jurídicos com as complexidades familiares em uma jornada emocional cheia de camadas, posso garantir que é na narrativa intrincada, que oferece reflexões profundas sobre a natureza humana, que está o maior desafio - é impressionante como ela nos faz questionar nossas próprias convicções e preconceitos sem pedir licença. Dito isso, é quase impossível não recomendar "O Juiz" de olhos fechados por essa experiência que vai além das barreiras didáticas de uma disputa de tribunal e que mergulha no cerne da condição humana nos presenteando com um entretenimento de primeiríssima qualidade!

Imperdível!

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O Julgamento de Paris

No vasto cenário da sétima arte, poucas temáticas têm o poder de cativar a imaginação e o paladar do público como o universo dos vinhos. Nesse contexto, o filme 'O Julgamento de Paris' se ergue como um verdadeiro 'achado' dentro dos infindáveis catálogos dos serviços de streaming atualmente. Mesmo que, à primeira vista, o filme dirigido por Randall Miller (da série 'Jack & Jill') soe datado, e até superficial, é impressionante como a narrativa sutilmente complexa é capaz de entrelaçar a cultura do vinho com a busca pelo reconhecimento e superação pessoal - algo similar ao que vimos em "Notas de Rebeldia". 

"O Julgamento de Paris" é baseado em fatos reais, e retrata os primeiros tempos da indústria do vinho em Napa Valley nos anos 70, e que culminou com a participação das vinícola californiana Chateau Montelena na competição internacional de melhor vinho em 1976, em Paris - evento que acabou colocando a região no mapa dos melhores produtores de vinho do planeta. Confira o trailer:

Lançado em 2008, "O Julgamento de Paris" trouxe para o grande público uma história das mais interessantes, mas que poucas pessoas conheciam. O evento que eternizou a degustação cega que redefiniu a hierarquia dos vinhos e desafiou as convenções estabelecidas pela França é, de fato, algo muito marcante; no entanto alguns outros temas discutidos no roteiro nos remetem aos desafios de empreender, de inovar e de ter resiliência. É claro que o universo onde a história acontece está longe das jornadas disruptivas e tecnológicas de séries como "Som na Faixa" ou  "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", mas eu diria que o DNA, o conceito básico, estão ali e vale a pena um olhar mais critico sobre esse aspecto.

O ponto alto está na história, muito bem contada, inclusive; mas é inegável que seus personagens, em alguns momentos até estereotipados para dar um tom mais leve no que poderia ser uma drama muito mais impactante, são cruciais para nosso envolvimento - o que poderia ser uma trama apenas para os apreciadores e conhecedores de vinho, se transforma em algo mais universal, onde encontramos muito mais camadas que vão dos desejos e ambições até os anseios e arrependimentos de uma forma muito humana. Reparem como o roteiro explora as relações interpessoais ao mesmo tempo que viajamos pelas deslumbrantes paisagens das vinhas de Napa, com muita naturalidade.

A fotografia do Mike Ozier (de "Tudo por um Sonho") é realmente um espetáculo por si só. Com um conceito visual que nos remete ao cinema dos anos 70, com o aspecto mais granulado da imagem e uma saturação bem proeminente, ele é capaz de capturar a elegância das vinhas banhadas pelo sol, as cores ricas das adegas e a intensidade das expressões dos personagens, com a mesma maestria - cada cena parece meticulosamente pensada por Ozier e Miller para destacar tanto as interações humanas quanto os elementos sensoriais associados ao vinho.

Resumindo, "Bottle Shock" (no original) é uma celebração da paixão e do poder transformador que o cinema pode exercer sobre sua audiência ao retratar a convergência entre o vinho e uma boa história. A obra tem uma capacidade muito interessante de nos transportar para um universo repleto de sabores, aromas e aspirações, tornando a experiência de assistir o filme em algo único e, obviamente, enriquecedora. Se você acha que estou exagerando, assim que subirem os créditos, eu duvido que você não vá até o google para pesquisar o preço de um Chateau Montelena Chardonnay!

Vale muito o seu play!

PS: Apenas uma observação, a versão disponível na Prime Vídeo, infelizmente, não tem a opção de som original com legendas - apenas dublado.

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No vasto cenário da sétima arte, poucas temáticas têm o poder de cativar a imaginação e o paladar do público como o universo dos vinhos. Nesse contexto, o filme 'O Julgamento de Paris' se ergue como um verdadeiro 'achado' dentro dos infindáveis catálogos dos serviços de streaming atualmente. Mesmo que, à primeira vista, o filme dirigido por Randall Miller (da série 'Jack & Jill') soe datado, e até superficial, é impressionante como a narrativa sutilmente complexa é capaz de entrelaçar a cultura do vinho com a busca pelo reconhecimento e superação pessoal - algo similar ao que vimos em "Notas de Rebeldia". 

"O Julgamento de Paris" é baseado em fatos reais, e retrata os primeiros tempos da indústria do vinho em Napa Valley nos anos 70, e que culminou com a participação das vinícola californiana Chateau Montelena na competição internacional de melhor vinho em 1976, em Paris - evento que acabou colocando a região no mapa dos melhores produtores de vinho do planeta. Confira o trailer:

Lançado em 2008, "O Julgamento de Paris" trouxe para o grande público uma história das mais interessantes, mas que poucas pessoas conheciam. O evento que eternizou a degustação cega que redefiniu a hierarquia dos vinhos e desafiou as convenções estabelecidas pela França é, de fato, algo muito marcante; no entanto alguns outros temas discutidos no roteiro nos remetem aos desafios de empreender, de inovar e de ter resiliência. É claro que o universo onde a história acontece está longe das jornadas disruptivas e tecnológicas de séries como "Som na Faixa" ou  "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", mas eu diria que o DNA, o conceito básico, estão ali e vale a pena um olhar mais critico sobre esse aspecto.

O ponto alto está na história, muito bem contada, inclusive; mas é inegável que seus personagens, em alguns momentos até estereotipados para dar um tom mais leve no que poderia ser uma drama muito mais impactante, são cruciais para nosso envolvimento - o que poderia ser uma trama apenas para os apreciadores e conhecedores de vinho, se transforma em algo mais universal, onde encontramos muito mais camadas que vão dos desejos e ambições até os anseios e arrependimentos de uma forma muito humana. Reparem como o roteiro explora as relações interpessoais ao mesmo tempo que viajamos pelas deslumbrantes paisagens das vinhas de Napa, com muita naturalidade.

A fotografia do Mike Ozier (de "Tudo por um Sonho") é realmente um espetáculo por si só. Com um conceito visual que nos remete ao cinema dos anos 70, com o aspecto mais granulado da imagem e uma saturação bem proeminente, ele é capaz de capturar a elegância das vinhas banhadas pelo sol, as cores ricas das adegas e a intensidade das expressões dos personagens, com a mesma maestria - cada cena parece meticulosamente pensada por Ozier e Miller para destacar tanto as interações humanas quanto os elementos sensoriais associados ao vinho.

Resumindo, "Bottle Shock" (no original) é uma celebração da paixão e do poder transformador que o cinema pode exercer sobre sua audiência ao retratar a convergência entre o vinho e uma boa história. A obra tem uma capacidade muito interessante de nos transportar para um universo repleto de sabores, aromas e aspirações, tornando a experiência de assistir o filme em algo único e, obviamente, enriquecedora. Se você acha que estou exagerando, assim que subirem os créditos, eu duvido que você não vá até o google para pesquisar o preço de um Chateau Montelena Chardonnay!

Vale muito o seu play!

PS: Apenas uma observação, a versão disponível na Prime Vídeo, infelizmente, não tem a opção de som original com legendas - apenas dublado.

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