indika.tv - ml-crime

The Old Man

Muito criativa, "The Old Man" tem um pouquinho de "Slow Horses, de "Homeland" e até de "Jack Ryan", mas acredite, por incrível que pareça, essa série do Disney+ não é nada do que você já viu quando o assunto é espionagem! Lançada em 2022 e criada por Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, "The Old Man" é mais cadenciada do que o gênero pede, tem menos ação, mais drama e uma boa pitada de suspense. Por ser baseada no romance de Thomas Perry, a produção se apropria de uma narrativa sombria e complexa sobre segredos profundos em mundo que sempre viveu sob as sombras do terrorismo e onde algumas conexões do passado simplesmente perdem todo o sentindo quando as peças do tabuleiro se movimentam até o presente. A série co-estrelada por Jeff Bridges e John Lithgow, mergulha no mundo de um ex-agente da CIA que, após décadas de reclusão, se vê forçado a voltar à ação quando alguns segredos finalmente vêm à tona. Saiba que você está diante de uma das melhores séries daquele ano!

A trama segue Dan Chase (Jeff Bridges), um ex-agente que vive uma vida tranquila e isolada após desaparecer do radar da CIA por décadas. Contudo, sua vida pacífica é interrompida quando um assassino tenta eliminá-lo, forçando Chase a sair da aposentadoria e embarcar em uma luta pela sobrevivência. Ao longo da série, segredos antigos e ligações de Chase com o Oriente Médio são revelados, enquanto ele tenta proteger sua filha e desmantelar uma enorme conspiração. O FBI, liderado pelo agente Harold Harper (John Lithgow), também entra em cena tentando capturar Chase, enquanto ele próprio se questiona sobre sua lealdade e, principalmente, sobre sua moralidade. Confira o trailer:

Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, conhecidos por seu trabalho em "Black Sails", "See" e "Jericho",  entregam uma narrativa muito interessante a partir de uma proposta que mistura ação com uma profunda introspecção psicológica. "The Old Man" sabe equilibrar ótimas cenas de perseguição e combate com uma abordagem mais reflexiva sobre o envelhecimento, sobre a traição e sobre o peso de um passado violento que insiste em voltar para os holofotes - repare como as narrações em "off" se comunicam com a trama, trazendo um subtexto cheio de camadas, quase poético eu diria. O roteiro nesse sentido, é bem construído e mantém a audiência presa à trama com reviravoltas e flashbacks que revelam gradualmente os eventos que moldaram tanto Chase quanto Harper, criando um nível de complexidade que só enriquece ambos os personagens.

A direção de "The Old Man" foi orquestrada por nada menos que Jon Watts (da trilogia "Homem-Aranha"). Sua proposta, levada pelo resto da temporada por diretores do nível de Jet Wilkinson (de "Demolidor") e Greg Yaitanes (de "Manhunt"), é eficiente em capturar o tom sombrio e tenso da história, com uma gramática cinematográfica que utiliza planos mais fechados e cenas escuras para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza que a trama pede - o estado de espírito dos personagens e o isolamento emocional que os define, são bons exemplos de como a "forma" impacta o "conteúdo" por aqui. Aliás, é devido esse conceito que Jeff Bridges talvez entregue uma das suas melhores performances da sua carreira como Dan Chase - sua combinação de força física e vulnerabilidade emocional dá ao personagem uma sensação palpável de cansaço e desgaste, mas também de uma resiliência silenciosa que transita entre o desejo de escapar de sua antiga vida e a necessidade de lutar para proteger aqueles que fazem do presente uma luz de esperança. John Lithgow, como Harold Harper, é igualmente impressionante. Sua interpretação de um agente do FBI que se vê dividido entre lealdades pessoais e profissionais adiciona camadas de ambiguidade moral à série que traz ao personagem um toque de humanidade em um conflito interno permanente que contrasta demais com o pragmatismo implacável de Chase.

Como não poderia deixar de ser, as interações entre Bridges e Lithgow são um dos pontos altos de "The Old Man", criando uma dinâmica rica em tensão e respeito mútuo, enquanto cada um tenta superar o outro em uma espécie de jogo mental de "gato e rato". Mas não é só isso, a atmosfera tensa e a trama bem amarrada trazem para a série um senso de iminente perigo que permeia toda temporada, mesmo quando a narrativa desacelera - por isso tenha paciência que em algum momento ela vai te envolver como você nem imagina. "The Old Man" é um thriller imperdível por sua exploração fascinante das consequências de uma vida marcada por segredos e pela violência, com personagens que enfrentam dilemas morais e que lutam contra o peso de seu passado - prato cheio para que busca um ótimo drama politico!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Muito criativa, "The Old Man" tem um pouquinho de "Slow Horses, de "Homeland" e até de "Jack Ryan", mas acredite, por incrível que pareça, essa série do Disney+ não é nada do que você já viu quando o assunto é espionagem! Lançada em 2022 e criada por Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, "The Old Man" é mais cadenciada do que o gênero pede, tem menos ação, mais drama e uma boa pitada de suspense. Por ser baseada no romance de Thomas Perry, a produção se apropria de uma narrativa sombria e complexa sobre segredos profundos em mundo que sempre viveu sob as sombras do terrorismo e onde algumas conexões do passado simplesmente perdem todo o sentindo quando as peças do tabuleiro se movimentam até o presente. A série co-estrelada por Jeff Bridges e John Lithgow, mergulha no mundo de um ex-agente da CIA que, após décadas de reclusão, se vê forçado a voltar à ação quando alguns segredos finalmente vêm à tona. Saiba que você está diante de uma das melhores séries daquele ano!

A trama segue Dan Chase (Jeff Bridges), um ex-agente que vive uma vida tranquila e isolada após desaparecer do radar da CIA por décadas. Contudo, sua vida pacífica é interrompida quando um assassino tenta eliminá-lo, forçando Chase a sair da aposentadoria e embarcar em uma luta pela sobrevivência. Ao longo da série, segredos antigos e ligações de Chase com o Oriente Médio são revelados, enquanto ele tenta proteger sua filha e desmantelar uma enorme conspiração. O FBI, liderado pelo agente Harold Harper (John Lithgow), também entra em cena tentando capturar Chase, enquanto ele próprio se questiona sobre sua lealdade e, principalmente, sobre sua moralidade. Confira o trailer:

Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, conhecidos por seu trabalho em "Black Sails", "See" e "Jericho",  entregam uma narrativa muito interessante a partir de uma proposta que mistura ação com uma profunda introspecção psicológica. "The Old Man" sabe equilibrar ótimas cenas de perseguição e combate com uma abordagem mais reflexiva sobre o envelhecimento, sobre a traição e sobre o peso de um passado violento que insiste em voltar para os holofotes - repare como as narrações em "off" se comunicam com a trama, trazendo um subtexto cheio de camadas, quase poético eu diria. O roteiro nesse sentido, é bem construído e mantém a audiência presa à trama com reviravoltas e flashbacks que revelam gradualmente os eventos que moldaram tanto Chase quanto Harper, criando um nível de complexidade que só enriquece ambos os personagens.

A direção de "The Old Man" foi orquestrada por nada menos que Jon Watts (da trilogia "Homem-Aranha"). Sua proposta, levada pelo resto da temporada por diretores do nível de Jet Wilkinson (de "Demolidor") e Greg Yaitanes (de "Manhunt"), é eficiente em capturar o tom sombrio e tenso da história, com uma gramática cinematográfica que utiliza planos mais fechados e cenas escuras para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza que a trama pede - o estado de espírito dos personagens e o isolamento emocional que os define, são bons exemplos de como a "forma" impacta o "conteúdo" por aqui. Aliás, é devido esse conceito que Jeff Bridges talvez entregue uma das suas melhores performances da sua carreira como Dan Chase - sua combinação de força física e vulnerabilidade emocional dá ao personagem uma sensação palpável de cansaço e desgaste, mas também de uma resiliência silenciosa que transita entre o desejo de escapar de sua antiga vida e a necessidade de lutar para proteger aqueles que fazem do presente uma luz de esperança. John Lithgow, como Harold Harper, é igualmente impressionante. Sua interpretação de um agente do FBI que se vê dividido entre lealdades pessoais e profissionais adiciona camadas de ambiguidade moral à série que traz ao personagem um toque de humanidade em um conflito interno permanente que contrasta demais com o pragmatismo implacável de Chase.

Como não poderia deixar de ser, as interações entre Bridges e Lithgow são um dos pontos altos de "The Old Man", criando uma dinâmica rica em tensão e respeito mútuo, enquanto cada um tenta superar o outro em uma espécie de jogo mental de "gato e rato". Mas não é só isso, a atmosfera tensa e a trama bem amarrada trazem para a série um senso de iminente perigo que permeia toda temporada, mesmo quando a narrativa desacelera - por isso tenha paciência que em algum momento ela vai te envolver como você nem imagina. "The Old Man" é um thriller imperdível por sua exploração fascinante das consequências de uma vida marcada por segredos e pela violência, com personagens que enfrentam dilemas morais e que lutam contra o peso de seu passado - prato cheio para que busca um ótimo drama politico!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

The One

"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

Para quem gosta da receita, só dar o play!

Assista Agora

"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

Para quem gosta da receita, só dar o play!

Assista Agora

The Sinner - 1ª Temporada

"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!

Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.

"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).

"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!

Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!

"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!

Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!

Assista Agora

"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!

Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.

"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).

"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!

Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!

"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!

Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!

Assista Agora

The Sinner - 2ª Temporada

Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!

"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era  preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!

Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!

A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!! 

Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!

Assista Agora

Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!

"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era  preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!

Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!

A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!! 

Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!

Assista Agora

The Staircase

The Staircase

Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo. 

O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:

Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!

Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo. 

O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:

Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!

Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!

Assista Agora

The Tunnel

Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

Pode ir sem medo que a escolha é certeira!

Assista Agora

Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

Pode ir sem medo que a escolha é certeira!

Assista Agora

The Undoing

"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio. 

"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:

"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!

Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!

Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!

Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!

Dê o play e divirta-se!

Assista Agora

"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio. 

"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:

"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!

Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!

Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!

Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!

Dê o play e divirta-se!

Assista Agora

The Vow

Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

Dê o play sem o menor receio!

Assista Agora

Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

Dê o play sem o menor receio!

Assista Agora

The Voyeurs

Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

Assista Agora

Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

Assista Agora

Three Pines

"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

Assista Agora

"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

Assista Agora

Todos já sabem

"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

Dê essa chance que você não vai se arrepender.

Assista Agora

"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

Dê essa chance que você não vai se arrepender.

Assista Agora

Tokyo Vice

Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

Assista Agora

Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

Assista Agora

Top of The Lake

“Top of The Lake” é uma série de suspense criminal original BBC criada por Jane Campion (do premiado “Ataque de Cães”) e Gerard Lee que merece sua atenção! Mas é preciso que se diga: inicialmente a série foi exibida em Sundance e só por isso já dá para saber que se trata de uma obra bastante intimista e fora da curva, semelhante aos filmes que são exibidos pela organização do Festival.

Na trama, a detetive Robin Griffin (Elisabeth Moss) precisa descobrir o que aconteceu com Tui Mitcham (Jacqueline Joe) e está decidida a encontrar o narcotraficante Matt Mitcham (Peter Mullan), o pai da menina, para obter mais informações. Mas, no caminho, ela se depara com o líder espiritual GJ (Holly Hunter) e percebe que a cidade esconde mais segredos do que ela imaginava. Confira o trailer (em inglês):

“Top of The Lake” é uma produção semelhante as mais recentes “Mare of Easttown”e “Sharp Objects”. Embora a série não esteja à altura das minisséries citadas, o thriller é bastante competente e entrega um final satisfatório (da primeira temporada) que compensa todo o ritmo cadenciado. Diferente de outras séries do gênero que focam muito na investigação, o trabalho de Campion (que também dirige os 8 episódios) se concentra nas complexidades dos personagens e do ambiente que os cercam. 

A única resposta que se pode esperar envolve o crime central - que em sua conclusão final surpreende com uma revelação inusitada. Minutos antes do mistério ser desvendado, você consegue captar o que vem a seguir, mas até o episódio de encerramento tudo é desconhecido. Já os personagens nunca tem seus dramas devidamente explorados, as incertezas são o charme da série que sempre busca trazer questionamentos sobre essas pessoas que estão em um ambiente caótico e de desesperança. A presença de Elisabeth Moss como Griffin é forte, um dos pontos altos da série - assim como Petter Mullan, que interpreta um homem detestável.

“Top of The Lake” testa a paciência de quem não costuma acompanhar séries com ritmo lento, mas compensa para quem aprecia dramas mais contemplativos e que exploram diversos temas, mesmo que em sua superfície.

Pode dar o play tranquilamente!

PS: A segunda temporada também já está disponível e mantem a enorme qualidade de roteiro e produção da primeira.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

Assista Agora

“Top of The Lake” é uma série de suspense criminal original BBC criada por Jane Campion (do premiado “Ataque de Cães”) e Gerard Lee que merece sua atenção! Mas é preciso que se diga: inicialmente a série foi exibida em Sundance e só por isso já dá para saber que se trata de uma obra bastante intimista e fora da curva, semelhante aos filmes que são exibidos pela organização do Festival.

Na trama, a detetive Robin Griffin (Elisabeth Moss) precisa descobrir o que aconteceu com Tui Mitcham (Jacqueline Joe) e está decidida a encontrar o narcotraficante Matt Mitcham (Peter Mullan), o pai da menina, para obter mais informações. Mas, no caminho, ela se depara com o líder espiritual GJ (Holly Hunter) e percebe que a cidade esconde mais segredos do que ela imaginava. Confira o trailer (em inglês):

“Top of The Lake” é uma produção semelhante as mais recentes “Mare of Easttown”e “Sharp Objects”. Embora a série não esteja à altura das minisséries citadas, o thriller é bastante competente e entrega um final satisfatório (da primeira temporada) que compensa todo o ritmo cadenciado. Diferente de outras séries do gênero que focam muito na investigação, o trabalho de Campion (que também dirige os 8 episódios) se concentra nas complexidades dos personagens e do ambiente que os cercam. 

A única resposta que se pode esperar envolve o crime central - que em sua conclusão final surpreende com uma revelação inusitada. Minutos antes do mistério ser desvendado, você consegue captar o que vem a seguir, mas até o episódio de encerramento tudo é desconhecido. Já os personagens nunca tem seus dramas devidamente explorados, as incertezas são o charme da série que sempre busca trazer questionamentos sobre essas pessoas que estão em um ambiente caótico e de desesperança. A presença de Elisabeth Moss como Griffin é forte, um dos pontos altos da série - assim como Petter Mullan, que interpreta um homem detestável.

“Top of The Lake” testa a paciência de quem não costuma acompanhar séries com ritmo lento, mas compensa para quem aprecia dramas mais contemplativos e que exploram diversos temas, mesmo que em sua superfície.

Pode dar o play tranquilamente!

PS: A segunda temporada também já está disponível e mantem a enorme qualidade de roteiro e produção da primeira.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

Assista Agora

Trapaça

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

Assista Agora

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

Assista Agora

Três Anúncios para um Crime

Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

Assista Agora

Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

Assista Agora

Três Estranhos Idênticos

É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

Imperdível!

Assista Agora

É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

Imperdível!

Assista Agora

Tulsa King

Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

Vale seu play!

Assista Agora

Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

Vale seu play!

Assista Agora

Um Diabo na Família

Depois do imperdível "The Vow" ou do insano "As Faces da Marca", é impressionante a quantidade de documentários que fazem um recorte, cada vez mais doentio, da sociedade americana - e quando a gente acha que o limite chegou, surge outra produção que simplesmente destrói qualquer sinal de esperança perante o ser-humano nos dias "conectados" de hoje. Olha, é muito difícil terminar “Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” sem sentir um incômodo bastante profundo - especialmente se você já tiver filhos. A minissérie documental do Hulu, aqui no Disney+, é dirigida com sobriedade por Olly Lambert (vencedor do BAFTA por "Syria: Across the Lines") e mergulha nos bastidores de um dos casos mais chocantes da história recente da internet: a queda da influencer que colecionava milhões de visualizações no YouTube, Ruby Franke. Mas ao contrário do que se poderia esperar de uma produção sobre escândalos online, aqui não há pressa em apontar vilões ou simplificar dilemas - o que há é um trabalho de exposição cuidadoso, devastador e necessário.

Repare como a sinopse oficial já antecipa o desconforto que vem após o play: Por anos, Ruby Franke encantou o público americano com sua imagem de mãe exemplar no canal "8 Passengers". No entanto, por trás das câmeras, uma realidade sombria se desenrolava - após um dramático pedido de ajuda de seu caçula, na época com 12 anos, o mundo descobre os abusos sofridos pelos filhos de Ruby, culminando em sua prisão e uma condenação a 30 anos de reclusão. Ao longo de três episódios, a minissérie constrói com inteligência uma narrativa que não apenas documenta os fatos, mas os reposicionam dentro de um contexto maior - o da cultura da influência digital desmedida. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura dos episódios de "Devil in the Family: The Fall of Ruby Franke", no original, é bastante clara: começamos com o sucesso, seguimos para os sinais ignorados até chegar na revelação impactante dos abusos físicos, emocionais e psicológicos a que as crianças foram submetidas - e é pesado, viu?! O trabalho de Olly Lambert na direção é ao mesmo tempo econômico e eficiente: ele evita os truques visuais comuns do true crime para apostar em um mise-en-scène mais sóbrio, baseado em imagens de arquivo cedidos pela própria família e em depoimentos, de fato, estarrecedores. Tudo isso é feito para amplificar o horror das situações justamente por não precisar encená-las. Veja, o peso narrativo está todo em depoimentos atuais, no olhar em retrospectiva de algumas imagens que vão além do que um dia foi publicado no YouTube e, principalmente, nas lacunas que vamos preenchendo com a imaginação, afinal o sinais estão ali, basta se propor a olha-los com cuidado. 

Um dos acertos mais contundentes da minissérie está na forma como o roteiro conecta o caso Ruby Franke com a figura da conselheira Jodi Hildebrandt - uma figura misteriosa que se tornou uma espécie de mentora espiritual, pra variar, da influencer. Ao incorporar a fé mormon como ferramenta de controle e justificativa moral para práticas abusivas, Lambert vai criando paralelos de como os discursos religiosos podem ser instrumentalizados em contextos de poder, e como a lógica da “cura pelo sofrimento” pode desaguar em perversões ainda mais profundas. A manipulação emocional aqui, é um dos eixos centrais, e talvez dos mais indigestos, da minissérie - e é isso que torna tudo ainda mais incômodo, especialmente quando percebemos que parte do público estava aplaudindo, curtindo e compartilhando vídeos com conteúdos de gosto, no mínimo, duvidoso.

Do ponto de vista técnico, vale destacar o equilíbrio na montagem, que costura um belíssimo material de pesquisa com uma diversidade de vozes que ajuda a ampliar o olhar sobre o caso, evitando com que a audiência caia no erro de emitir conclusões precipitadas - em alguns momentos, inclusive, é possível até relativizar alguns comportamentos de Ruby e isso merece uma reflexão sem qualquer tipo de hipocrisia. Um ponto a se destacar é a sensível decisão de não expor as vítimas de forma tão direta - a ausência deliberada dos filhos mais novos da influencer em depoimentos atuais reforça a gravidade da situação e preserva a dignidade de quem mais sofreu com a situação. Agora saiba que “Um Diabo na Família” é menos sobre uma história de uma personagem de sucesso que acabou caindo em desgraça e mais sobre um retrato infeliz de uma sociedade que deixa de enxergar o óbvio apenas para construir pseudo-referências digitais. A linha entre entretenimento e crueldade, entre autoridade e violência, entre correção e abuso, é sempre tênue - e nos dias de hoje, se torna ainda mais difícil de identificar tais limites.

“Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” não é fácil de assistir, e nem deveria ser. Mas é necessária - principalmente num tempo em que curtidas ainda pesam mais que responsabilidade. Para quem busca alguma reflexão sobre os limites de uma exposição familiar, sobre o papel da fé na estrutura disciplinar das pessoas e sobre as consequências de transformar a infância em vitrine, essa é uma das obras mais relevantes que você vai encontrar no streaming! Vale demais o seu play!

Assista Agora

Depois do imperdível "The Vow" ou do insano "As Faces da Marca", é impressionante a quantidade de documentários que fazem um recorte, cada vez mais doentio, da sociedade americana - e quando a gente acha que o limite chegou, surge outra produção que simplesmente destrói qualquer sinal de esperança perante o ser-humano nos dias "conectados" de hoje. Olha, é muito difícil terminar “Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” sem sentir um incômodo bastante profundo - especialmente se você já tiver filhos. A minissérie documental do Hulu, aqui no Disney+, é dirigida com sobriedade por Olly Lambert (vencedor do BAFTA por "Syria: Across the Lines") e mergulha nos bastidores de um dos casos mais chocantes da história recente da internet: a queda da influencer que colecionava milhões de visualizações no YouTube, Ruby Franke. Mas ao contrário do que se poderia esperar de uma produção sobre escândalos online, aqui não há pressa em apontar vilões ou simplificar dilemas - o que há é um trabalho de exposição cuidadoso, devastador e necessário.

Repare como a sinopse oficial já antecipa o desconforto que vem após o play: Por anos, Ruby Franke encantou o público americano com sua imagem de mãe exemplar no canal "8 Passengers". No entanto, por trás das câmeras, uma realidade sombria se desenrolava - após um dramático pedido de ajuda de seu caçula, na época com 12 anos, o mundo descobre os abusos sofridos pelos filhos de Ruby, culminando em sua prisão e uma condenação a 30 anos de reclusão. Ao longo de três episódios, a minissérie constrói com inteligência uma narrativa que não apenas documenta os fatos, mas os reposicionam dentro de um contexto maior - o da cultura da influência digital desmedida. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura dos episódios de "Devil in the Family: The Fall of Ruby Franke", no original, é bastante clara: começamos com o sucesso, seguimos para os sinais ignorados até chegar na revelação impactante dos abusos físicos, emocionais e psicológicos a que as crianças foram submetidas - e é pesado, viu?! O trabalho de Olly Lambert na direção é ao mesmo tempo econômico e eficiente: ele evita os truques visuais comuns do true crime para apostar em um mise-en-scène mais sóbrio, baseado em imagens de arquivo cedidos pela própria família e em depoimentos, de fato, estarrecedores. Tudo isso é feito para amplificar o horror das situações justamente por não precisar encená-las. Veja, o peso narrativo está todo em depoimentos atuais, no olhar em retrospectiva de algumas imagens que vão além do que um dia foi publicado no YouTube e, principalmente, nas lacunas que vamos preenchendo com a imaginação, afinal o sinais estão ali, basta se propor a olha-los com cuidado. 

Um dos acertos mais contundentes da minissérie está na forma como o roteiro conecta o caso Ruby Franke com a figura da conselheira Jodi Hildebrandt - uma figura misteriosa que se tornou uma espécie de mentora espiritual, pra variar, da influencer. Ao incorporar a fé mormon como ferramenta de controle e justificativa moral para práticas abusivas, Lambert vai criando paralelos de como os discursos religiosos podem ser instrumentalizados em contextos de poder, e como a lógica da “cura pelo sofrimento” pode desaguar em perversões ainda mais profundas. A manipulação emocional aqui, é um dos eixos centrais, e talvez dos mais indigestos, da minissérie - e é isso que torna tudo ainda mais incômodo, especialmente quando percebemos que parte do público estava aplaudindo, curtindo e compartilhando vídeos com conteúdos de gosto, no mínimo, duvidoso.

Do ponto de vista técnico, vale destacar o equilíbrio na montagem, que costura um belíssimo material de pesquisa com uma diversidade de vozes que ajuda a ampliar o olhar sobre o caso, evitando com que a audiência caia no erro de emitir conclusões precipitadas - em alguns momentos, inclusive, é possível até relativizar alguns comportamentos de Ruby e isso merece uma reflexão sem qualquer tipo de hipocrisia. Um ponto a se destacar é a sensível decisão de não expor as vítimas de forma tão direta - a ausência deliberada dos filhos mais novos da influencer em depoimentos atuais reforça a gravidade da situação e preserva a dignidade de quem mais sofreu com a situação. Agora saiba que “Um Diabo na Família” é menos sobre uma história de uma personagem de sucesso que acabou caindo em desgraça e mais sobre um retrato infeliz de uma sociedade que deixa de enxergar o óbvio apenas para construir pseudo-referências digitais. A linha entre entretenimento e crueldade, entre autoridade e violência, entre correção e abuso, é sempre tênue - e nos dias de hoje, se torna ainda mais difícil de identificar tais limites.

“Um Diabo na Família: O Caso de Ruby Franke” não é fácil de assistir, e nem deveria ser. Mas é necessária - principalmente num tempo em que curtidas ainda pesam mais que responsabilidade. Para quem busca alguma reflexão sobre os limites de uma exposição familiar, sobre o papel da fé na estrutura disciplinar das pessoas e sobre as consequências de transformar a infância em vitrine, essa é uma das obras mais relevantes que você vai encontrar no streaming! Vale demais o seu play!

Assista Agora

Um Pesadelo Americano

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

Assista Agora

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

Assista Agora

Uma Família Quase Perfeita

Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

Assista Agora

Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

Assista Agora