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Osmosis

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

Assista Agora

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Otros Pecados

Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.

Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):

As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.

O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood.  É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.

O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!

Vale muito o seu play!

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Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.

Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):

As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.

O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood.  É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.

O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!

Vale muito o seu play!

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Outsider

Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

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Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

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Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez

"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:

É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.

Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.

Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!

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"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:

É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.

Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.

"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.

Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!

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Pagan Peak

Pagan Peak

Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

Vale muito (muito mesmo) o seu play!

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Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

Vale muito (muito mesmo) o seu play!

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Palmer

"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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Pássaro do Oriente

"Pássaro do Oriente" é mais um filme que trás muito da linguagem cinematográfica dos anos 80/90, porém me pareceu muito melhor construído que a recente "A Grande Mentira". Sua linha narrativa claramente se referencia em filmes de sucesso como "Atração Fatal" ou "Instinto Selvagem" ao mesmo tempo em que trás elementos psicológicos de "Cisne Negro" e de sua enorme complexidade no desenvolvimento de personagens, no caso a protagonista Lucy Fly (Alicia Vikander, vencedora do Oscar por "A Garota Dinamarquesa"). Fly é uma jovem sueca que resolve se mudar para o Japão a fim de esquecer um passado marcado por algumas coincidências. Embora ainda carregue esse peso, ela se esforça para levar uma vida normal até se apaixonar por Teiji (Naoki Kobayashi). Reservado e misterioso, Teiji possui uma espécie de fetiche: tirar fotos de mulheres em diferentes ângulos e situações - mesmo estando mortas. Quando Lily Bridges (Riley Keough), uma jovem americana recém chegada ao Japão desaparece, Lucy Fly passa a ser a principal suspeita; já que ela e Bridges criaram uma relação extremamente ambígua tendo Teiji como catalizador desses sentimentos. De fato o filme cria uma dinâmica interessante, pois ao mesmo tempo em que parece economizar na ação, o roteiro aproveita para mergulhar em diálogos inteligentes, trazendo uma certa complexidade - e aquela subjetividade que nos faz querer discutir sobre o filme quando ele termina! Olha, não é um filme inesquecível, muito menos fácil de entender, mas para quem gosta do gênero, posso dizer que é uma ótima opção de entretenimento e um bom exercício de interpretação! Vale o play!

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"Pássaro do Oriente" é mais um filme que trás muito da linguagem cinematográfica dos anos 80/90, porém me pareceu muito melhor construído que a recente "A Grande Mentira". Sua linha narrativa claramente se referencia em filmes de sucesso como "Atração Fatal" ou "Instinto Selvagem" ao mesmo tempo em que trás elementos psicológicos de "Cisne Negro" e de sua enorme complexidade no desenvolvimento de personagens, no caso a protagonista Lucy Fly (Alicia Vikander, vencedora do Oscar por "A Garota Dinamarquesa"). Fly é uma jovem sueca que resolve se mudar para o Japão a fim de esquecer um passado marcado por algumas coincidências. Embora ainda carregue esse peso, ela se esforça para levar uma vida normal até se apaixonar por Teiji (Naoki Kobayashi). Reservado e misterioso, Teiji possui uma espécie de fetiche: tirar fotos de mulheres em diferentes ângulos e situações - mesmo estando mortas. Quando Lily Bridges (Riley Keough), uma jovem americana recém chegada ao Japão desaparece, Lucy Fly passa a ser a principal suspeita; já que ela e Bridges criaram uma relação extremamente ambígua tendo Teiji como catalizador desses sentimentos. De fato o filme cria uma dinâmica interessante, pois ao mesmo tempo em que parece economizar na ação, o roteiro aproveita para mergulhar em diálogos inteligentes, trazendo uma certa complexidade - e aquela subjetividade que nos faz querer discutir sobre o filme quando ele termina! Olha, não é um filme inesquecível, muito menos fácil de entender, mas para quem gosta do gênero, posso dizer que é uma ótima opção de entretenimento e um bom exercício de interpretação! Vale o play!

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Pisque Duas Vezes

Surpreendente! Ao melhor estilo "Bela Vingança" com um toque de "O Menu" e "Nove Desconhecidos", "Pisque Duas Vezes" é uma estreia marcante para Zoë Kravitz na direção - que não apenas prova sua habilidade como cineasta, mas também entrega um suspense psicológico sofisticado e visualmente arrebatador com aquele ar de cinema independente. Misturando tensão, angustia, fortes comentários sociais e um olhar estético impecável, Kravitz constrói uma narrativa que nos prende desde os primeiros minutos, sempre naquela expectativa do "que m... é essa"! O filme utiliza de um cenário aparentemente idílico para explorar os limites da moralidade, do privilégio e do controle, tudo sob a perspectiva de uma protagonista que lentamente descobre as verdadeiras intenções daqueles ao seu redor.

A trama, basicamente, segue Frida (Naomi Ackie), uma garçonete (de certa forma misteriosa) que é convidada pelo bilionário Slater King (Channing Tatum) para passar férias em sua ilha particular. Acompanhada de sua melhor amiga, Jess (Alia Shawkat), Frida é rapidamente introduzida em um mundo de luxo, poder e ostentação, que logo se revela muito mais perturbador do que ela poderia imaginar. Entre modelos, empresários e artistas, o charme inicial da ilha se transforma em uma ameaça crescente, onde até os menores detalhes escondem segredos, de fato, inquietantes. Confira o trailer:

É impressionante como Zoë Kravitz conduz a narrativa com uma confiança notável, se apropriando de uma direção estilizada que combina composições simétricas, uma iluminação vibrante e contrastes marcantes, especialmente no uso da cor vermelha - uma escolha visual poderosa que a diretora fez ao lado do fotógrafo Adam Newport-Berra, que amplifica a tensão e simboliza a iminência de perigo, remetendo a obras onde a simbologia pauta a narrativa. A estética luxuosa da ilha, com seus cenários perfeitos e um design cuidadosamente planejado, contrasta de forma magistral com a sensação crescente de desconforto e ameaça, onde o roteiro, coescrito por Kravitz e E.T. Feigenbaum, equilibra comentários desconfortáveis com reviravoltas inesperadas. Questões raciais e de gênero são abordadas de maneira sutil, mas impactante, adicionando camadas em uma história que evita reduzir os personagens aos temas que ela discute.

Ainda na fotografia, Newport-Berra, mesmo sem muita bagagem, mas apoiado em um talento incrível, sabe o valor de explorar os contrastes entre a ganância da superfície e sua escuridão subjacente, dando elementos dramáticos para uma conexão imediata com uma Frida multifacetada. A protagonista, aliás, combina sua vulnerabilidade e insegurança com a determinação, mesmo em um ambiente que a desafia constantemente. A escolha de revelar os segredos da ilha aos poucos mantém a audiência intrigada, e o desfecho, embora divisivo, se conecta organicamente com os temas apresentados - na minha opinião, com muito louvor. Naomi Ackie domina a tela com uma atuação cheia de sensibilidade, transmitindo as emoções de Frida com intensidade e autenticidade. Alia Shawkat, como Jess, oferece uma combinação de humor e angustia que equilibra muito bem a narrativa. Já Channing Tatum, eu diria que até surpreende como Slater, entregando uma performance convincente que transita entre o carismático e o ameaçador.

Enquanto um design de som primoroso intensifica o desconforto com intervenções e silêncios estratégicos, a montagem entrega os momentos de tensão e revela a dualidade entre o que é mostrado e o que é sugerido. Dito isso, fica fácil atestar que "Pisque Duas Vezes"é uma estreia notável para Kravitz como diretora, marcando sua entrada no cinema com uma obra de suspense psicológico que impressiona tanto pela narrativa quanto pelo seu apuro estético - mesmo com escolhas pouco convencionais. Para quem aprecia thrillers que combinam tensão e mistério, essa é mesmo uma experiência imperdível!

Vale muito o seu play!

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Surpreendente! Ao melhor estilo "Bela Vingança" com um toque de "O Menu" e "Nove Desconhecidos", "Pisque Duas Vezes" é uma estreia marcante para Zoë Kravitz na direção - que não apenas prova sua habilidade como cineasta, mas também entrega um suspense psicológico sofisticado e visualmente arrebatador com aquele ar de cinema independente. Misturando tensão, angustia, fortes comentários sociais e um olhar estético impecável, Kravitz constrói uma narrativa que nos prende desde os primeiros minutos, sempre naquela expectativa do "que m... é essa"! O filme utiliza de um cenário aparentemente idílico para explorar os limites da moralidade, do privilégio e do controle, tudo sob a perspectiva de uma protagonista que lentamente descobre as verdadeiras intenções daqueles ao seu redor.

A trama, basicamente, segue Frida (Naomi Ackie), uma garçonete (de certa forma misteriosa) que é convidada pelo bilionário Slater King (Channing Tatum) para passar férias em sua ilha particular. Acompanhada de sua melhor amiga, Jess (Alia Shawkat), Frida é rapidamente introduzida em um mundo de luxo, poder e ostentação, que logo se revela muito mais perturbador do que ela poderia imaginar. Entre modelos, empresários e artistas, o charme inicial da ilha se transforma em uma ameaça crescente, onde até os menores detalhes escondem segredos, de fato, inquietantes. Confira o trailer:

É impressionante como Zoë Kravitz conduz a narrativa com uma confiança notável, se apropriando de uma direção estilizada que combina composições simétricas, uma iluminação vibrante e contrastes marcantes, especialmente no uso da cor vermelha - uma escolha visual poderosa que a diretora fez ao lado do fotógrafo Adam Newport-Berra, que amplifica a tensão e simboliza a iminência de perigo, remetendo a obras onde a simbologia pauta a narrativa. A estética luxuosa da ilha, com seus cenários perfeitos e um design cuidadosamente planejado, contrasta de forma magistral com a sensação crescente de desconforto e ameaça, onde o roteiro, coescrito por Kravitz e E.T. Feigenbaum, equilibra comentários desconfortáveis com reviravoltas inesperadas. Questões raciais e de gênero são abordadas de maneira sutil, mas impactante, adicionando camadas em uma história que evita reduzir os personagens aos temas que ela discute.

Ainda na fotografia, Newport-Berra, mesmo sem muita bagagem, mas apoiado em um talento incrível, sabe o valor de explorar os contrastes entre a ganância da superfície e sua escuridão subjacente, dando elementos dramáticos para uma conexão imediata com uma Frida multifacetada. A protagonista, aliás, combina sua vulnerabilidade e insegurança com a determinação, mesmo em um ambiente que a desafia constantemente. A escolha de revelar os segredos da ilha aos poucos mantém a audiência intrigada, e o desfecho, embora divisivo, se conecta organicamente com os temas apresentados - na minha opinião, com muito louvor. Naomi Ackie domina a tela com uma atuação cheia de sensibilidade, transmitindo as emoções de Frida com intensidade e autenticidade. Alia Shawkat, como Jess, oferece uma combinação de humor e angustia que equilibra muito bem a narrativa. Já Channing Tatum, eu diria que até surpreende como Slater, entregando uma performance convincente que transita entre o carismático e o ameaçador.

Enquanto um design de som primoroso intensifica o desconforto com intervenções e silêncios estratégicos, a montagem entrega os momentos de tensão e revela a dualidade entre o que é mostrado e o que é sugerido. Dito isso, fica fácil atestar que "Pisque Duas Vezes"é uma estreia notável para Kravitz como diretora, marcando sua entrada no cinema com uma obra de suspense psicológico que impressiona tanto pela narrativa quanto pelo seu apuro estético - mesmo com escolhas pouco convencionais. Para quem aprecia thrillers que combinam tensão e mistério, essa é mesmo uma experiência imperdível!

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Pistorius

Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.

Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.

Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum  julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).

O fato é que  "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!

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Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.

Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.

Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum  julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).

O fato é que  "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!

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Plantão Policial

Que série incrível - e realmente impactante! "Plantão Policial" me lembrou muito a dinamarquesa "Zona de Confronto"- pelo seu estilo quase documental e pela crueldade visceral de sua narrativa. O fato é que séries policiais sempre foram um dos pilares mais sólidos da TV americana, e "Plantão Policial" ou "On Call", no original, chega com uma proposta bastante provocativa ao mesclar um realismo absurdo, com muita intensidade e ótimas discussões sobre dilemas morais, diferenciando-se assim, das narrativas mais convencionais de investigação criminal. Criada por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção de Dick Wolf (de "Lei e Ordem"), essa produção da Prime Video mergulha no dia a dia de uma patrulha policial em Long Beach, Califórnia, acompanhando dois oficiais em um ambiente onde as linhas entre certo e errado são frequentemente desafiadas. Olha, para quem gosta da tensão e de uma abordagem realmente imersiva, essa nova aposta da Amazon Studios não vai decepcionar - ela entrega ação e drama na medida certa!

A trama, basicamente, segue o cotidiano da oficial Traci Harmon (Troian Bellisario), uma policial experiente e marcada pelo trauma da morte de sua última pupila, e Alex Diaz (Brandon Larracuente), um jovem oficial que ainda precisa aprender os limites entre empatia e impulsividade. A relação entre os dois funciona como o coração da série, adotando uma dinâmica de mentor e aprendiz, mas que se revela mais profunda conforme os episódios avançam. Harmon luta contra a culpa e tenta garantir que não repetirá os mesmos erros do passado, enquanto Diaz, lidando com problemas familiares e um irmão preso, busca se provar dentro da corporação. Confira o trailer e sinta o clima:

Uma das coisas que mais chamam a atenção de"PlantãoPolicialé sua coragem em meio aquela estética ultra-realista. É justamente por esse gatilho narrativo que a construção dos personagens e de seus conflitos internos se mostram como dois dos maiores acertos da série. Veja, o roteiro não apenas explora a rotina exaustiva das patrulhas, como também mergulha nos dilemas íntimos dos protagonistas, tornando-os figuras mais palpáveis, complexas e análogas. A head-writer Molly Manning (de"Hightown") acerta ao criar diálogos diretos e honestos entre Harmon e Diaz, fazendo com que as interações entre eles tenham, além de tudo, um peso emocional profundo - aqui não há espaço para heroísmo idealizado; cada decisão traz consequências, e a ética policial, em diversas camadas, é constantemente questionada.

A direção de Brenna Malloy (não por acaso de "Chicago P.D.") e de Eriq La Salle (da saudosa "Without a Trace") adiciona um ritmo dinâmico para a série, utilizando uma estética mais documental, realista e claustrofóbica que reforça a tensão das situações enfrentadas pelos personagens. O uso de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais é um dos acertos da série, trazendo uma perspectiva de fato imersiva e colocando a audiência dentro da ação. Repare como as cenas de"Plantão Policial" oscilam entre momentos de aparente rotina com situações de alta periculosidade, garantindo que cada episódio mantenha um nível constante de suspense e urgência - bem "a vida como ela é"! Agora é importante que se diga: a ação nunca é gratuita, mas sempre orgânica dentro de uma narrativa que surprendente pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo. 

Os episódios curtos, com cerca de 30 minutos cada, evitam enrolação e garantem que cada conflito tenha algum impacto, sem perder tempo com tramas secundárias irrelevantes. Aliás, se há um grande mérito em"PlantãoPolicial" é justamente sua capacidade de ser direta e com isso apresentar uma abordagem menos maniqueísta da justiça - a série reconhece que a aplicação da lei não é um jogo de mocinhos contra vilões, e que os próprios policiais, muitas vezes, precisam recorrer a decisões moralmente ambíguas para garantir a ordem (e a sobrevivência). Da mesma forma, os criminosos também não são retratados como figuras unidimensionais, mas como produtos de um ambiente e de um contexto que os moldam.

"PlantãoPolicialnão reinventa o gênero, mas traz frescor ao explorar a rotina policial com um olhar humano e sem romantizações, apostando no real e em ótimos gatilhos emocionais para criar uma experiência envolvente e reflexiva que vai fazer valer o seu play!

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Que série incrível - e realmente impactante! "Plantão Policial" me lembrou muito a dinamarquesa "Zona de Confronto"- pelo seu estilo quase documental e pela crueldade visceral de sua narrativa. O fato é que séries policiais sempre foram um dos pilares mais sólidos da TV americana, e "Plantão Policial" ou "On Call", no original, chega com uma proposta bastante provocativa ao mesclar um realismo absurdo, com muita intensidade e ótimas discussões sobre dilemas morais, diferenciando-se assim, das narrativas mais convencionais de investigação criminal. Criada por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção de Dick Wolf (de "Lei e Ordem"), essa produção da Prime Video mergulha no dia a dia de uma patrulha policial em Long Beach, Califórnia, acompanhando dois oficiais em um ambiente onde as linhas entre certo e errado são frequentemente desafiadas. Olha, para quem gosta da tensão e de uma abordagem realmente imersiva, essa nova aposta da Amazon Studios não vai decepcionar - ela entrega ação e drama na medida certa!

A trama, basicamente, segue o cotidiano da oficial Traci Harmon (Troian Bellisario), uma policial experiente e marcada pelo trauma da morte de sua última pupila, e Alex Diaz (Brandon Larracuente), um jovem oficial que ainda precisa aprender os limites entre empatia e impulsividade. A relação entre os dois funciona como o coração da série, adotando uma dinâmica de mentor e aprendiz, mas que se revela mais profunda conforme os episódios avançam. Harmon luta contra a culpa e tenta garantir que não repetirá os mesmos erros do passado, enquanto Diaz, lidando com problemas familiares e um irmão preso, busca se provar dentro da corporação. Confira o trailer e sinta o clima:

Uma das coisas que mais chamam a atenção de"PlantãoPolicialé sua coragem em meio aquela estética ultra-realista. É justamente por esse gatilho narrativo que a construção dos personagens e de seus conflitos internos se mostram como dois dos maiores acertos da série. Veja, o roteiro não apenas explora a rotina exaustiva das patrulhas, como também mergulha nos dilemas íntimos dos protagonistas, tornando-os figuras mais palpáveis, complexas e análogas. A head-writer Molly Manning (de"Hightown") acerta ao criar diálogos diretos e honestos entre Harmon e Diaz, fazendo com que as interações entre eles tenham, além de tudo, um peso emocional profundo - aqui não há espaço para heroísmo idealizado; cada decisão traz consequências, e a ética policial, em diversas camadas, é constantemente questionada.

A direção de Brenna Malloy (não por acaso de "Chicago P.D.") e de Eriq La Salle (da saudosa "Without a Trace") adiciona um ritmo dinâmico para a série, utilizando uma estética mais documental, realista e claustrofóbica que reforça a tensão das situações enfrentadas pelos personagens. O uso de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais é um dos acertos da série, trazendo uma perspectiva de fato imersiva e colocando a audiência dentro da ação. Repare como as cenas de"Plantão Policial" oscilam entre momentos de aparente rotina com situações de alta periculosidade, garantindo que cada episódio mantenha um nível constante de suspense e urgência - bem "a vida como ela é"! Agora é importante que se diga: a ação nunca é gratuita, mas sempre orgânica dentro de uma narrativa que surprendente pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo. 

Os episódios curtos, com cerca de 30 minutos cada, evitam enrolação e garantem que cada conflito tenha algum impacto, sem perder tempo com tramas secundárias irrelevantes. Aliás, se há um grande mérito em"PlantãoPolicial" é justamente sua capacidade de ser direta e com isso apresentar uma abordagem menos maniqueísta da justiça - a série reconhece que a aplicação da lei não é um jogo de mocinhos contra vilões, e que os próprios policiais, muitas vezes, precisam recorrer a decisões moralmente ambíguas para garantir a ordem (e a sobrevivência). Da mesma forma, os criminosos também não são retratados como figuras unidimensionais, mas como produtos de um ambiente e de um contexto que os moldam.

"PlantãoPolicialnão reinventa o gênero, mas traz frescor ao explorar a rotina policial com um olhar humano e sem romantizações, apostando no real e em ótimos gatilhos emocionais para criar uma experiência envolvente e reflexiva que vai fazer valer o seu play!

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Ponto Vermelho

"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!

David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):

Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.

Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão. 

Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom  suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.

Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!

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"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!

David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):

Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.

Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão. 

Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom  suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.

Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!

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Por trás dos seus olhos

Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!

Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:

É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!

Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista! 

Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).

"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!

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Antes de mais nada, eu preciso admitir que eu quase desisti de "Por trás dos seus olhos" algumas vezes e assim que terminou, senti aquela sensação de alívio por ter ido até o final! Veja, esse comentário em hipótese nenhuma deve te impedir de assistir a minissérie da Netflix, mas em vários momentos você vai achar algumas situações uma grande bobagem, ou algumas atuações completamente estereotipadas e acima do tom, mas acredite NADA que acontece durante os 5 primeiros episódios é por acaso e tudo vai ficar muito bem explicado no sexto e último ato! Pode confiar!

Baseado no livro de sucesso de Sarah Pinborough, a minissérie acompanha a história de Louise (Simona Brown), uma mãe recém divorciada que teve um affair casual com um homem casado e que descobre no dia seguinte ser seu novo chefe, o psiquiatra David (Tom Bateman). Porém tudo começa a mudar de rumo quando Louise, acidentalmente, conhece a esposa dele, Adele (Eve Hewson) e a partir daí passam a construir uma amizade repleta de confissões e segredos. Confira o trailer:

É de se elogiar a estratégia quase suicida da Netflix em não se aprofundar na sinopse e focar no marketing de "Por trás dos seus olhos" como um suspense psicológico cheio de romance, drama, mistérios e relações extraconjugais - apoiando-se, inclusive, em um conceito narrativo bem anos 90. Ao se apegar nessa premissa, já mergulhamos na história logo de cara e os quatro primeiros episódios, embora com algumas escorregadas conceituais (que depois descobrimos serem propositais), nos prendem e nos provocam uma enorme curiosidade! Aqui cabe um rápido disclaimer: não estamos falando de uma super produção, com um super orçamento, com rostos famosos e um diretor extremamente criativo; talvez por isso eu tenha ficado tão desconfiado ao perceber que a história vai se enrolando sozinha e encontrando atalhos não tão conectados com a realidade que estávamos acompanhando até ali - e isso fica muito claro a partir do quinto episódio! Mas não desista!

Ao nos aproximarmos do final, aquela trama, aparentemente bem construída, vai trazendo elementos de fantasia e nos afastando da realidade dramática que chega a desanimar - até pela forma pouco criativa que o diretor usou para contar uma ou outra passagem, digamos "extra-corporal". Tá, eu sei que o texto pode estar ficando confuso, mas eu estou tomando o máximo de cuidado para não te dar nenhum spoiler e ao mesmo tempo tentando te convencer a ir até o final, mesmo com um monte de "bobagens" que você vai encontrar nos episódios. Então vou te pedir novamente: não desista! 

Ao longo dos episódios, a série vai nos dando dicas que a história não se trata apenas de mais um dramalhão como "Não fale com estranhos", por exemplo. O fato é que o roteiro nos engana muito bem, pois a estrutura narrativa é muito realista, não envolvem situações fora do ceticismo e isso se subverte de tal maneira que nos surpreende demais, desde que você embarque na proposta e assuma uma certa suspensão da realidade - tipo "Sexto Sentido", sabe? Aliás, "Por trás dos seus olhos" traz uma referência muito inteligente e completamente coerente de um filme de 1998, chamado "Fallen" (deixe para pesquisar sobre esse filme depois que você assistir o último episódio).

"Por trás dos seus olhos" vale a pena, vai por mim!

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Precisamos falar sobre o Kevin

"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.

O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:

A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.

A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?

Vale muito a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.

O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:

A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.

A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?

Vale muito a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Prescrição Fatal

"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!

"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:

Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?

A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!

Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!

Assista Agora 

"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!

"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:

Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?

A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!

Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!

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Procurados - EUA: O.J. Simpson

Se você gostou de "O.J.: Made in America" e da primeira temporada de “American Crime Story”, pode ter certeza que você estará no lugar certo após clicar em "assista agora"! A Netflix retorna ao universo dos crimes reais com um surpreendente "Procurados - EUA: O.J. Simpson", uma segunda temporada da minissérie documental antológica que dessa vez revisita o caso de duplo homicídio de Nicole Brown Simpson e Ron Goldman, além do subsequente julgamento de O.J. Simpson - um dos eventos mais midiáticos da história dos Estados Unidos. Dirigida por Floyd Russ (também responsável pelo "Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston"), a produção busca reexaminar o caso a partir de novas entrevistas e importantes reflexões, lançando um olhar atualizado sobre um crime que, mesmo após 30 anos, continua despertando debates sobre justiça, racismo, violência doméstica e o impacto da mídia na percepção pública. Aqui, a série investiga as camadas do "Julgamento do Século", mas se diferencia ao focar em como a narrativa do caso foi construída e manipulada ao longo das décadas, apontando, inclusive, as falhas em todas as etapas da investigação - e olha, é de embrulhar o estômago!

Dividida em quatro episódios, "Procurados - EUA: O.J. Simpson" se destaca pelo acesso a entrevistas inéditas com figuras centrais do caso. Advogados de acusação e defesa, como Carl E. Douglas e Christopher Darden, relembram a intensidade do tribunal, enquanto os primeiros policiais que chegaram na cena do crime, Tom Lange e Mark Fuhrman, oferecem novas perspectivas sobre a investigação inicial. A irmã de Ron Goldman, Kim, traz um depoimento emocionalmente impactante - um dos momentos mais doloridos da produção, segundo o próprio diretor. Outros entrevistados incluem testemunhas que nunca foram ouvidas no tribunal, o ex-agente de Simpson, Mike Gilbert, além de uma jurada do julgamento, oferecendo um olhar mais profundo sobre as forças que moldaram a decisão final. Confira o trailer (em inglês):

O documentário não apenas revisita os fatos, mas os contextualiza dentro do cenário atual, conectando o caso de O.J. Simpson a movimentos como MeToo e Black Lives Matter - o que de fato nos proporciona uma outra visão sobre alguns detalhes absurdos de toda história, do crime ao veredito. . Russ reforça que, para além da culpa ou inocência do ex-jogador, a história continua relevante porque aborda temas que ainda dominam o discurso público: a relação entre raça e justiça, o poder da mídia na construção de narrativas sensacionalistas e a negligência histórica com vítimas de violência doméstica. O impacto psicológico nos envolvidos também ganha espaço aqui, revelando que quase todos os entrevistados falam sobre "arrependimento". A passagem mais comovente, de fato, é a entrevista com Kim Goldman, que revive, diante das câmeras, sua dor de perder o irmão naquelas condições. O relato é tão intenso que o diretor chegou a comentar em entrevista que os membros da equipe de filmagem não conseguiram conter as lágrimas - um reflexo do quão profundo é o caso para aqueles que viveram de perto.

Narrativamente, a série equilibra imagens de arquivos, algumas bem pesadas (é preciso ressaltar), reconstruções visuais e gráficas bastante explicativas, além dos depoimentos. A montagem merece destaque - adotando um ritmo intenso e com seus cortes rápidos, a narrativa mistura a tensão investigativa com um estudo mais amplo do fenômeno midiático criado ao redor do julgamento. "Procurados - EUA: O.J. Simpson" exige muita atenção, ao ponto de tirar o fôlego. A perseguição policial de O.J. Simpson a bordo da famosa Ford Bronco branca , por exemplo, recebe um foco especial, destacando como aquele momento se tornou um espetáculo de proporções nacionais, consolidando o julgamento como um dos primeiros grandes reality shows jurídicos da era moderna. 

Com bastante inteligência, mas com o propósito claro de dar sua opinião, o documentário também destaca a figura enigmática de O.J. Simpson - um homem atormentado que continuou a manipular sua imagem pública até sua morte, ocorrida enquanto a série estava em fase de finalização. Outro ponto que precisa ser destacado é a decisão de não incluir a promotora Marcia Clark entre os entrevistados - é a presença de seu co-promotor Christopher Darden que ajuda a preencher essa lacuna. Clark, segundo Russ, recusou-se a participar, alegando já ter dito tudo o que precisava sobre o caso. Agora, se há uma crítica a ser feita sobre a obra, é o fato dela pode não trazer novas grandes revelações, no entanto sua abordagem cuidadosa e sua reflexão sobre os desdobramentos culturais do caso justificam seu lugar entre os melhores documentários recentes da Netflix. Mais do que um simples relato do passado, a série funciona como um espelho das tensões raciais, sociais e midiáticas que ainda moldam a sociedade americana e mundial.

"American Manhunt: O.J. Simpson" não bate "O.J.: Made in America", mas mesmo assim vale demais o seu play!

Assista Agora

Se você gostou de "O.J.: Made in America" e da primeira temporada de “American Crime Story”, pode ter certeza que você estará no lugar certo após clicar em "assista agora"! A Netflix retorna ao universo dos crimes reais com um surpreendente "Procurados - EUA: O.J. Simpson", uma segunda temporada da minissérie documental antológica que dessa vez revisita o caso de duplo homicídio de Nicole Brown Simpson e Ron Goldman, além do subsequente julgamento de O.J. Simpson - um dos eventos mais midiáticos da história dos Estados Unidos. Dirigida por Floyd Russ (também responsável pelo "Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston"), a produção busca reexaminar o caso a partir de novas entrevistas e importantes reflexões, lançando um olhar atualizado sobre um crime que, mesmo após 30 anos, continua despertando debates sobre justiça, racismo, violência doméstica e o impacto da mídia na percepção pública. Aqui, a série investiga as camadas do "Julgamento do Século", mas se diferencia ao focar em como a narrativa do caso foi construída e manipulada ao longo das décadas, apontando, inclusive, as falhas em todas as etapas da investigação - e olha, é de embrulhar o estômago!

Dividida em quatro episódios, "Procurados - EUA: O.J. Simpson" se destaca pelo acesso a entrevistas inéditas com figuras centrais do caso. Advogados de acusação e defesa, como Carl E. Douglas e Christopher Darden, relembram a intensidade do tribunal, enquanto os primeiros policiais que chegaram na cena do crime, Tom Lange e Mark Fuhrman, oferecem novas perspectivas sobre a investigação inicial. A irmã de Ron Goldman, Kim, traz um depoimento emocionalmente impactante - um dos momentos mais doloridos da produção, segundo o próprio diretor. Outros entrevistados incluem testemunhas que nunca foram ouvidas no tribunal, o ex-agente de Simpson, Mike Gilbert, além de uma jurada do julgamento, oferecendo um olhar mais profundo sobre as forças que moldaram a decisão final. Confira o trailer (em inglês):

O documentário não apenas revisita os fatos, mas os contextualiza dentro do cenário atual, conectando o caso de O.J. Simpson a movimentos como MeToo e Black Lives Matter - o que de fato nos proporciona uma outra visão sobre alguns detalhes absurdos de toda história, do crime ao veredito. . Russ reforça que, para além da culpa ou inocência do ex-jogador, a história continua relevante porque aborda temas que ainda dominam o discurso público: a relação entre raça e justiça, o poder da mídia na construção de narrativas sensacionalistas e a negligência histórica com vítimas de violência doméstica. O impacto psicológico nos envolvidos também ganha espaço aqui, revelando que quase todos os entrevistados falam sobre "arrependimento". A passagem mais comovente, de fato, é a entrevista com Kim Goldman, que revive, diante das câmeras, sua dor de perder o irmão naquelas condições. O relato é tão intenso que o diretor chegou a comentar em entrevista que os membros da equipe de filmagem não conseguiram conter as lágrimas - um reflexo do quão profundo é o caso para aqueles que viveram de perto.

Narrativamente, a série equilibra imagens de arquivos, algumas bem pesadas (é preciso ressaltar), reconstruções visuais e gráficas bastante explicativas, além dos depoimentos. A montagem merece destaque - adotando um ritmo intenso e com seus cortes rápidos, a narrativa mistura a tensão investigativa com um estudo mais amplo do fenômeno midiático criado ao redor do julgamento. "Procurados - EUA: O.J. Simpson" exige muita atenção, ao ponto de tirar o fôlego. A perseguição policial de O.J. Simpson a bordo da famosa Ford Bronco branca , por exemplo, recebe um foco especial, destacando como aquele momento se tornou um espetáculo de proporções nacionais, consolidando o julgamento como um dos primeiros grandes reality shows jurídicos da era moderna. 

Com bastante inteligência, mas com o propósito claro de dar sua opinião, o documentário também destaca a figura enigmática de O.J. Simpson - um homem atormentado que continuou a manipular sua imagem pública até sua morte, ocorrida enquanto a série estava em fase de finalização. Outro ponto que precisa ser destacado é a decisão de não incluir a promotora Marcia Clark entre os entrevistados - é a presença de seu co-promotor Christopher Darden que ajuda a preencher essa lacuna. Clark, segundo Russ, recusou-se a participar, alegando já ter dito tudo o que precisava sobre o caso. Agora, se há uma crítica a ser feita sobre a obra, é o fato dela pode não trazer novas grandes revelações, no entanto sua abordagem cuidadosa e sua reflexão sobre os desdobramentos culturais do caso justificam seu lugar entre os melhores documentários recentes da Netflix. Mais do que um simples relato do passado, a série funciona como um espelho das tensões raciais, sociais e midiáticas que ainda moldam a sociedade americana e mundial.

"American Manhunt: O.J. Simpson" não bate "O.J.: Made in America", mas mesmo assim vale demais o seu play!

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Proibido por Deus

"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.

"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):

Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.

Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.

Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!

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"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.

"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):

Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.

Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.

Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!

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Projeto Gemini

"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.

Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan.  Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:

Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:

Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).

Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).

De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!

Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)

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"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.

Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan.  Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:

Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:

Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).

Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).

De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!

Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)

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Quarto 2806

De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!

A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:

Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!

A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.

O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca! 

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De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!

A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:

Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!

A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.

O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca! 

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Quem com ferro fere

Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:

O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não! 

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Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:

O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não! 

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Rainhas do Crime

A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

Assista Agora

A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

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