indika.tv - Drama

The Sinner - 1ª Temporada

"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!

Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.

"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).

"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!

Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!

"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!

Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!

Assista Agora

"The Sinner" é o projeto mais "HBO" que estreiou na Netflix em 2017 - e isso é um baita elogio!

Baseada no livro de Petra Hammesfahr, a história acompanha uma jovem mãe, Cora Tannetti (Jessica Biel), que esfaqueou um estranho até à morte sem explicação aparente, enquanto o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta descobrir o mistério escondido por trás das memórias perdidas de Cora.

"The Night Of", "Big Little Lies" e até "The Killing" eram produções baseadas na mesma premissa: um crime aconteceu, ninguém entende muito bem a razão e sempre algum detetive cheio de problemas existenciais investiga ou tenta tenta descobrir a razão de todo esse mistério. Essencialmente, "The Sinner" não trás nada de novo, porém seu roteiro é extremamente interessante e nos prende até o final - mesmo encontrando algumas atalhos (erros que normalmente as séries da HBO não comentem).

"The Sinner" também seguiu a estratégia da concorrente "Big Little Lies" e inventou uma segunda temporada, transformando uma minissérie onde tudo já estava muito bem resolvido, em uma série, porém o "cliffhanger" que foi delicadamente inserido no episódio final deixou claro que não se trata de uma continuação e sim de uma antologia - a cada temporada um crime diferente! De fato estava em Ambrose, a única saída viável para que a produção sobrevivesse!

Vale ressaltar que projetos como "The Night Of" ou "Big Little Lies" (ambos da HBO) tendem a ser mais recorrentes na Netflix. "The Sinner" , mesmo não sendo uma produção original, recebeu o selo de Original graças a um acordo de distribuição internacional - resultado: o primeiro teste com um material mais bem acabado e no formato de minissérie, foi um sucesso!

"The Sinner" é uma minissérie muito bem construída, bastante intrigante (para assistir numa sentada) com 8 episódios de 42 minutos - tem começo, meio e fim; e vale muito a pena!

Um detalhe antes de finalizar: Jessica Biel e Bill Pullman dão um show!

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The Sinner - 2ª Temporada

Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!

"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era  preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!

Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!

A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!! 

Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!

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Se a segunda temporada de "The Sinner" não tem o impacto da primeira, certamente, tem uma trama tão bem construída quanto e se bobear, ainda melhor!!! Dito isso, quero fazer uma retrospectiva de quando escrevi o review da primeira temporada lá no final de 2017 (e também disponível aqui). Eu havia dito que a série era "a mais HBO" que a Netflix já havia produzido - mesmo não sendo, de fato, um projeto "Original"!

"The Sinner" leva o selo pela exclusividade na Distribuição Internacional e com isso a Netflix se apropria de um Formato muito inteligente que a concorrente HBO sabe explorar muito bem - alto nível de produção, um roteiro muito bem desenvolvido (muitas vezes até complexo demais) e um conceito estético mais cinematográfico que une os outros dois pilares sem a menor dificuldade. A questão é que esse Formato se encaixa perfeitamente nas minisséries, mas gera um certo ruído quando o canal deseja transformar em uma série - "True Detective" comprovou isso! É quase impossível manter o mesmo nível pelo tempo disponível de desenvolvimento entre uma temporada e outra!!! "The Sinner" nasceu para ser curta (e ganhar muitos prêmios...rs)! Seria um pecado continuar uma história que já estava muito bem resolvida (como no livro que serviu de base para o roteiro), mas ao mesmo tempo era  preciso aproveitar aquele sucesso, então por que não criar uma espécie de Antologia mantendo apenas um personagem central (Graças a Deus o escolhido foi o detetive Ambrose e não a Cora) para unir todo esse universo? Funcionou!!!!

Essa nova temporada mostra um pré-adolescente que assassina dois adultos sem o menor motivo aparente (e isso é um elemento de formato muito claro, que impactou como diferencial na primeira temporada e que sempre deve se repetir). Aliás, essa premissa é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito mais profunda e instigante que vai sendo desconstruída durante cada um dos 8 episódios. O mérito da série é justamente esse: repetir tudo que teve de melhor na primeira temporada e acrescentar elementos ainda mais complexos nessa segunda de uma forma muito orgânica e até delicada muitas vezes - o próprio drama de Ambrose em relacionar a dor com o prazer é retomada, mas dessa vez muito menos explicita, o que fortalece muito o desenvolvimento humano do personagem e seus fantasmas para as próximas temporadas! Alias, Bill Pullman e Carrie Coon (Vera) dão um show a parte - digno de Emmy!!! O jovem Elisha Henig também merece destaque!!! A direção é excelente, a fotografia extremamente bem trabalhada para trazer o clima mais sombrio, enfim, tecnicamente, é quase perfeita!!! Minha única crítica: The Sinner poderia ser um pouco mais dinâmica se tivesse dois episódios a menos e isso não interferiria em nada no desenrolar da história principal!

A verdade é que eu gostei muito; como disse, estava receoso por uma segunda temporada, achei a solução dos produtores inteligente e com isso conseguiram manter o nível da série! Embora a terceira temporada não esteja confirmada, sou capaz de apostar que se a USA Network não confirmar, a própria Netflix produzirá!!! 

Não é uma série fácil, mas pode dar o play tranquilamente!!!!

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The Square

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

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Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

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The Tunnel

Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

Pode ir sem medo que a escolha é certeira!

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Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

Pode ir sem medo que a escolha é certeira!

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The Undoing

The Undoing

"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio. 

"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:

"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!

Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!

Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!

Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!

Dê o play e divirta-se!

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"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio. 

"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:

"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!

Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!

Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!

Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!

Dê o play e divirta-se!

Assista Agora

This is Us

"This is Us" talvez tenha sido a melhor série da TV aberta americana (produzida e exibida pela NBC) dos últimos tempos - certamente de 2016 foi, tanto que foi a única série de TV aberta finalista do último Globo de Ouro. "This is Us" é excelente e se você ainda não assistiu, por favor, faça isso por você! Embora o marketing tenha focado na premissa dos personagens principais terem nascido no mesmo dia e isso não ter representado absolutamente nada no desenvolvimento narrativo das temporadas iniciais, sendo apenas o ponto de partida. "This is Us" vai muito além - é uma série sobre sensível sobre as relações familiares, sobre como o passado é importante na construção dos vínculos que temos com o presente, de como nossa personalidade amadurece (ou não) e de como cada fase da nossa vida é essencial para o nosso aprendizado e crescimento.

Criada por Dan Fogelman, a série acompanha o cotidiano da família Pearson durante várias linhas do tempo. Depois da morte de um dos seus trigêmeos no parte, o casal Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) decidem adotar um recém nascido que acabara de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os episódios, a série apresenta os problemas e dilemas dos Pearsons enquanto família e também tentando entender a vida particular de seus filhos depois de adultos: Randall (Sterling K. Brown) um advogado lidando com a volta de seu pai biológico, Kevin (Justin Hartley), um ator de televisão buscando novas oportunidades no teatro e Kate (Chrissy Metz), uma mulher tentando lidar com seu peso e superar traumas da infância. Confira o trailer:

O roteiro de "This is Us" trabalha muito bem a falta de linearidade das histórias - vamos do presente para o passado em um piscar de olhos e com isso nos surpreendemos com a forma como os arcos vão sendo desenvolvidos e encaixados! Esse conceito narrativo ajuda a construir a personalidade de cada um dos personagens como se estivéssemos abrindo um enorme álbum de fotos, sem seguir uma cronologia exata, mas sempre se apegando aos assuntos mais relevantes da vida de cada um - e é isso que nos prende aos episódios. O primeiro, que ainda pode ser chamado de piloto, já entrega a genialidade de Fogelman em nos surpreender pouco a pouco. Os atores estão muito bem, destaque para Brown (vencedor o Globo de Ouro), Jones e para Metz.

A verdade é que "This is Us"não traz nada de novo na forma ou no conteúdo, mas tem o mérito de aperfeiçoar a estrutura dramática de histórias pensadas para a TV aberta do começo dos anos 2000, sempre com uma bela trilha sonora de fundo e uma carga dramática bem potente - aquelas de desidratar de chorar, sabe? A série trouxe o melhor de "What about Brian" e de "Reunion" (séries que não funcionaram muito bem na época por estarem um pouco fora do Zeitgeist), mas que tinham qualidade e inovações interessantes e aqui melhor desenvolvidas e com um conceito mais claro para quem estava disposto esperar uma semana para o próximo episódios. 

Mesmo "This is Us" sendo uma obra-prima pré-streaming, pode encarar a jornada que você não vai se arrepender - e melhor: a série tem um final! Dito isso, vale o play com muita segurança, mas tenha sempre um lenço de papel do lado - você vai precisar!

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"This is Us" talvez tenha sido a melhor série da TV aberta americana (produzida e exibida pela NBC) dos últimos tempos - certamente de 2016 foi, tanto que foi a única série de TV aberta finalista do último Globo de Ouro. "This is Us" é excelente e se você ainda não assistiu, por favor, faça isso por você! Embora o marketing tenha focado na premissa dos personagens principais terem nascido no mesmo dia e isso não ter representado absolutamente nada no desenvolvimento narrativo das temporadas iniciais, sendo apenas o ponto de partida. "This is Us" vai muito além - é uma série sobre sensível sobre as relações familiares, sobre como o passado é importante na construção dos vínculos que temos com o presente, de como nossa personalidade amadurece (ou não) e de como cada fase da nossa vida é essencial para o nosso aprendizado e crescimento.

Criada por Dan Fogelman, a série acompanha o cotidiano da família Pearson durante várias linhas do tempo. Depois da morte de um dos seus trigêmeos no parte, o casal Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) decidem adotar um recém nascido que acabara de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os episódios, a série apresenta os problemas e dilemas dos Pearsons enquanto família e também tentando entender a vida particular de seus filhos depois de adultos: Randall (Sterling K. Brown) um advogado lidando com a volta de seu pai biológico, Kevin (Justin Hartley), um ator de televisão buscando novas oportunidades no teatro e Kate (Chrissy Metz), uma mulher tentando lidar com seu peso e superar traumas da infância. Confira o trailer:

O roteiro de "This is Us" trabalha muito bem a falta de linearidade das histórias - vamos do presente para o passado em um piscar de olhos e com isso nos surpreendemos com a forma como os arcos vão sendo desenvolvidos e encaixados! Esse conceito narrativo ajuda a construir a personalidade de cada um dos personagens como se estivéssemos abrindo um enorme álbum de fotos, sem seguir uma cronologia exata, mas sempre se apegando aos assuntos mais relevantes da vida de cada um - e é isso que nos prende aos episódios. O primeiro, que ainda pode ser chamado de piloto, já entrega a genialidade de Fogelman em nos surpreender pouco a pouco. Os atores estão muito bem, destaque para Brown (vencedor o Globo de Ouro), Jones e para Metz.

A verdade é que "This is Us"não traz nada de novo na forma ou no conteúdo, mas tem o mérito de aperfeiçoar a estrutura dramática de histórias pensadas para a TV aberta do começo dos anos 2000, sempre com uma bela trilha sonora de fundo e uma carga dramática bem potente - aquelas de desidratar de chorar, sabe? A série trouxe o melhor de "What about Brian" e de "Reunion" (séries que não funcionaram muito bem na época por estarem um pouco fora do Zeitgeist), mas que tinham qualidade e inovações interessantes e aqui melhor desenvolvidas e com um conceito mais claro para quem estava disposto esperar uma semana para o próximo episódios. 

Mesmo "This is Us" sendo uma obra-prima pré-streaming, pode encarar a jornada que você não vai se arrepender - e melhor: a série tem um final! Dito isso, vale o play com muita segurança, mas tenha sempre um lenço de papel do lado - você vai precisar!

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Three Pines

"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

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"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

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Tick, Tick... Boom!

Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"!  Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe. 

"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.

O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:

Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em  "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.

Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.

É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.

"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!

Assista Agora

Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"!  Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe. 

"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.

O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:

Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em  "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.

Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.

É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.

"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!

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Tio Frank

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

Assista Agora

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

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Toda Forma de Amor

"Toda Forma de Amor" (ou "Beginners") do diretor Mike Mills é um excelente filme! Na verdade é o típico filme que fala sobre relações de uma maneira muito delicada, sensível, onde o trabalho de direção se alinha com a história através de planos muito bem estudados, movimentos que acompanham uma narrativa leve, delicada, mesmo abordando assuntos tão pesados.

Aos 75 anos, o pai de Oliver (Ewan McGregor) se assume gay, diz que está com câncer terminal e por isso passou a ter uma vida mais ativa até a sua morte. Meses depois, Oliver conhece a imprevisível e irreverente Anna (Mélanie Laurent), o que faz com que ele se dedique a amá-la, lembrando-se de fatos e ensinamentos de seu saudoso pai, Hal (Christopher Plummer). Confira o trailer:

Mike Mills foi muito inteligente ao subverter o roteiro de "Toda Forma de Amor" iniciando uma jornada de (auto) conhecimento a partir da morte de Hal. Com uma história atemporal, as lembranças do protagonista se encaixam perfeitamente na maneira como ele enxerga a possibilidade de ser feliz ao lado de uma mulher que, olhem só, pode ama-lo de verdade! Essa dinâmica funciona como uma forma de Oliver tentar justificar sua dificuldade em corresponder Anna, o que transforma a história em um drama de relação leve, mas não por isso raso.

Christopher Plummer merece uma menção especial: seu trabalho mostrou exatamente a razão pela qual ganhou quase todos os principais prêmios da temporada, inclusive o Oscar e o Globo de Ouro de "Ator Coadjuvante" em 2012! Ele está irretocável - reparem! 

"Toda Forma de Amor" é daqueles filmes que chegam sem muito marketing, mas que nos conquistam, discretamente, e nos fazem ter aquela deliciosa sensação de ter assistido um belíssimo filme! Pode dar o play sem receio!

Assista Agora

 

"Toda Forma de Amor" (ou "Beginners") do diretor Mike Mills é um excelente filme! Na verdade é o típico filme que fala sobre relações de uma maneira muito delicada, sensível, onde o trabalho de direção se alinha com a história através de planos muito bem estudados, movimentos que acompanham uma narrativa leve, delicada, mesmo abordando assuntos tão pesados.

Aos 75 anos, o pai de Oliver (Ewan McGregor) se assume gay, diz que está com câncer terminal e por isso passou a ter uma vida mais ativa até a sua morte. Meses depois, Oliver conhece a imprevisível e irreverente Anna (Mélanie Laurent), o que faz com que ele se dedique a amá-la, lembrando-se de fatos e ensinamentos de seu saudoso pai, Hal (Christopher Plummer). Confira o trailer:

Mike Mills foi muito inteligente ao subverter o roteiro de "Toda Forma de Amor" iniciando uma jornada de (auto) conhecimento a partir da morte de Hal. Com uma história atemporal, as lembranças do protagonista se encaixam perfeitamente na maneira como ele enxerga a possibilidade de ser feliz ao lado de uma mulher que, olhem só, pode ama-lo de verdade! Essa dinâmica funciona como uma forma de Oliver tentar justificar sua dificuldade em corresponder Anna, o que transforma a história em um drama de relação leve, mas não por isso raso.

Christopher Plummer merece uma menção especial: seu trabalho mostrou exatamente a razão pela qual ganhou quase todos os principais prêmios da temporada, inclusive o Oscar e o Globo de Ouro de "Ator Coadjuvante" em 2012! Ele está irretocável - reparem! 

"Toda Forma de Amor" é daqueles filmes que chegam sem muito marketing, mas que nos conquistam, discretamente, e nos fazem ter aquela deliciosa sensação de ter assistido um belíssimo filme! Pode dar o play sem receio!

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Todo dia a mesma noite

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

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"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

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Todos já sabem

"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

Dê essa chance que você não vai se arrepender.

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"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

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Tokyo Vice

Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

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Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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Top of The Lake

“Top of The Lake” é uma série de suspense criminal original BBC criada por Jane Campion (do premiado “Ataque de Cães”) e Gerard Lee que merece sua atenção! Mas é preciso que se diga: inicialmente a série foi exibida em Sundance e só por isso já dá para saber que se trata de uma obra bastante intimista e fora da curva, semelhante aos filmes que são exibidos pela organização do Festival.

Na trama, a detetive Robin Griffin (Elisabeth Moss) precisa descobrir o que aconteceu com Tui Mitcham (Jacqueline Joe) e está decidida a encontrar o narcotraficante Matt Mitcham (Peter Mullan), o pai da menina, para obter mais informações. Mas, no caminho, ela se depara com o líder espiritual GJ (Holly Hunter) e percebe que a cidade esconde mais segredos do que ela imaginava. Confira o trailer (em inglês):

“Top of The Lake” é uma produção semelhante as mais recentes “Mare of Easttown”e “Sharp Objects”. Embora a série não esteja à altura das minisséries citadas, o thriller é bastante competente e entrega um final satisfatório (da primeira temporada) que compensa todo o ritmo cadenciado. Diferente de outras séries do gênero que focam muito na investigação, o trabalho de Campion (que também dirige os 8 episódios) se concentra nas complexidades dos personagens e do ambiente que os cercam. 

A única resposta que se pode esperar envolve o crime central - que em sua conclusão final surpreende com uma revelação inusitada. Minutos antes do mistério ser desvendado, você consegue captar o que vem a seguir, mas até o episódio de encerramento tudo é desconhecido. Já os personagens nunca tem seus dramas devidamente explorados, as incertezas são o charme da série que sempre busca trazer questionamentos sobre essas pessoas que estão em um ambiente caótico e de desesperança. A presença de Elisabeth Moss como Griffin é forte, um dos pontos altos da série - assim como Petter Mullan, que interpreta um homem detestável.

“Top of The Lake” testa a paciência de quem não costuma acompanhar séries com ritmo lento, mas compensa para quem aprecia dramas mais contemplativos e que exploram diversos temas, mesmo que em sua superfície.

Pode dar o play tranquilamente!

PS: A segunda temporada também já está disponível e mantem a enorme qualidade de roteiro e produção da primeira.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

Assista Agora

“Top of The Lake” é uma série de suspense criminal original BBC criada por Jane Campion (do premiado “Ataque de Cães”) e Gerard Lee que merece sua atenção! Mas é preciso que se diga: inicialmente a série foi exibida em Sundance e só por isso já dá para saber que se trata de uma obra bastante intimista e fora da curva, semelhante aos filmes que são exibidos pela organização do Festival.

Na trama, a detetive Robin Griffin (Elisabeth Moss) precisa descobrir o que aconteceu com Tui Mitcham (Jacqueline Joe) e está decidida a encontrar o narcotraficante Matt Mitcham (Peter Mullan), o pai da menina, para obter mais informações. Mas, no caminho, ela se depara com o líder espiritual GJ (Holly Hunter) e percebe que a cidade esconde mais segredos do que ela imaginava. Confira o trailer (em inglês):

“Top of The Lake” é uma produção semelhante as mais recentes “Mare of Easttown”e “Sharp Objects”. Embora a série não esteja à altura das minisséries citadas, o thriller é bastante competente e entrega um final satisfatório (da primeira temporada) que compensa todo o ritmo cadenciado. Diferente de outras séries do gênero que focam muito na investigação, o trabalho de Campion (que também dirige os 8 episódios) se concentra nas complexidades dos personagens e do ambiente que os cercam. 

A única resposta que se pode esperar envolve o crime central - que em sua conclusão final surpreende com uma revelação inusitada. Minutos antes do mistério ser desvendado, você consegue captar o que vem a seguir, mas até o episódio de encerramento tudo é desconhecido. Já os personagens nunca tem seus dramas devidamente explorados, as incertezas são o charme da série que sempre busca trazer questionamentos sobre essas pessoas que estão em um ambiente caótico e de desesperança. A presença de Elisabeth Moss como Griffin é forte, um dos pontos altos da série - assim como Petter Mullan, que interpreta um homem detestável.

“Top of The Lake” testa a paciência de quem não costuma acompanhar séries com ritmo lento, mas compensa para quem aprecia dramas mais contemplativos e que exploram diversos temas, mesmo que em sua superfície.

Pode dar o play tranquilamente!

PS: A segunda temporada também já está disponível e mantem a enorme qualidade de roteiro e produção da primeira.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Trapaça

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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Três Anúncios para um Crime

Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

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Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

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Treta

Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

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Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

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Treze Vidas

O senso de urgência que experienciamos ao assistir "Treze Vidas" é impressionante - muito similar ao "127 Horas", premiado filme de 2010 do diretor Danny Boyle, porém pelo prisma de quem está fora do problema em si. Essa excelente produção da Amazon tem alguns elementos que só potencializam o nosso envolvimento com a história: primeiro por ser um fato recente (que aconteceu em 2018) e segundo pelas vítimas serem crianças, o que mobilizou o mundo na busca por soluções que pudessem ajudar no sucesso do resgate - mais uma vez, nós queremos salvar, não sermos salvos! Olha, são duas horas e meia de filme onde você será incapaz de tirar os olhos da tela mesmo já sabendo o final.  

Baseado na história real que tocou o mundo, "Treze Vidas" é o relato emocionante do resgate de um time de futebol infantil da caverna Tham Luang, na Tailândia, onde doze crianças e seu treinador ficaram presos devido a um fenômeno meteorológico que antecipou as chuvas torrenciais na região, pegando o grupo de surpresa, impossibilitando qualquer tentativa de socorro graças a inundação do local. Confira o trailer:

Ron Howard (de "O Código Da Vinci") é um craque em criar narrativas que nos prendem à trama e nos fazem torcer pelos protagonistas desde o primeiro minuto. Dito isso, pode até parecer superficial sobre o que se esperar de "Thirteen Lives" (no original), mas não, Howard encontra o exato equilíbrio entre a potência de um drama real e a dinâmica de ação que a história pede. Ao lado do roteirista William Nicholson (de "Terra das Sombras") e baseado na história desenvolvida pelo Don MacPherson (de "Os Vingadores"), o diretor não perde tempo com apresentações de personagens ou se aprofunda nas motivações que fizeram os mergulhadores britânicos Rick Stanton (Viggo Mortensen) e John Volanthen (Colin Farrell) encararem esse desafio - eles criam mesmo é uma análise quase documental sobre os acontecimentos, não sobre os envolvidos.

A escolha de Howard em trabalhar boa parte do filme com tailandeses (muitos nem atores) em sua língua nativa, cria uma atmosfera de realidade muito interessante. Algumas das falas nem legendadas são e isso gera uma sensação de desconforto, de falta de informação, de angustia por noticias. Já em inglês, a relação dos mergulhadores com a marinha tailandesa funciona muito mais como um gatilho dramático do que como parte essencial da trama - a impressão que temos é que para existir um herói seria preciso criar um bandido e aqui não funcionou, pois o problema era muito maior e se sustentaria por si só.

"Treze Vidas" não se interessa em mostrar como a equipe de futebol ficou presa ou o que se passou com os jovens e seu treinador durante o período - o olhar do filme é o de quem ficou do lado de fora de Tham Luang e como o problema poderia ser resolvido. Ao mostrar todos os perigos que envolvem a missão de resgate, Howard deixa muito claro como a caverna alagada era perigosa, como aquele complexo labirinto claustrofóbico poderia ser fatal. Com o uso cirúrgico de uma inserção gráfica para ilustrar a caverna, temos a perfeita noção de como era complicado chegar aos jovens e pior, como era quase impossível tira-los de lá - afinal, um trajeto de mais de 6 horas embaixo da água, digamos que não é para qualquer um.

Obviamente que diversos momentos foram omitidos ou elipsados para que a história fosse mais objetiva - e funcionou. O desenho de produção e a fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (de "Me chame pelo seu nome") são invejáveis e ajudam a criar uma tensão quase insuportável para a audiência. O trabalho do elenco, embora não seja memorável, também não compromete - meu destaque, óbvio, fica com Mortensen. 

Resumindo, "Treze Vidas" é uma história sobre a sobrevivência humana contra todas as probabilidades de sucesso, que emociona na mesma dimensão que entretém! Vale muito o seu play!

PS: Para nós brasileiros um fato curioso: o roteiro usa a Copa do Mundo de 2018 como ferramenta para estabelecer a época que os eventos aconteceram e, infelizmente, a derrota do Brasil para a Bélgica aconteceu em um momento importante da história e por isso é citada algumas vezes! (rs)

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O senso de urgência que experienciamos ao assistir "Treze Vidas" é impressionante - muito similar ao "127 Horas", premiado filme de 2010 do diretor Danny Boyle, porém pelo prisma de quem está fora do problema em si. Essa excelente produção da Amazon tem alguns elementos que só potencializam o nosso envolvimento com a história: primeiro por ser um fato recente (que aconteceu em 2018) e segundo pelas vítimas serem crianças, o que mobilizou o mundo na busca por soluções que pudessem ajudar no sucesso do resgate - mais uma vez, nós queremos salvar, não sermos salvos! Olha, são duas horas e meia de filme onde você será incapaz de tirar os olhos da tela mesmo já sabendo o final.  

Baseado na história real que tocou o mundo, "Treze Vidas" é o relato emocionante do resgate de um time de futebol infantil da caverna Tham Luang, na Tailândia, onde doze crianças e seu treinador ficaram presos devido a um fenômeno meteorológico que antecipou as chuvas torrenciais na região, pegando o grupo de surpresa, impossibilitando qualquer tentativa de socorro graças a inundação do local. Confira o trailer:

Ron Howard (de "O Código Da Vinci") é um craque em criar narrativas que nos prendem à trama e nos fazem torcer pelos protagonistas desde o primeiro minuto. Dito isso, pode até parecer superficial sobre o que se esperar de "Thirteen Lives" (no original), mas não, Howard encontra o exato equilíbrio entre a potência de um drama real e a dinâmica de ação que a história pede. Ao lado do roteirista William Nicholson (de "Terra das Sombras") e baseado na história desenvolvida pelo Don MacPherson (de "Os Vingadores"), o diretor não perde tempo com apresentações de personagens ou se aprofunda nas motivações que fizeram os mergulhadores britânicos Rick Stanton (Viggo Mortensen) e John Volanthen (Colin Farrell) encararem esse desafio - eles criam mesmo é uma análise quase documental sobre os acontecimentos, não sobre os envolvidos.

A escolha de Howard em trabalhar boa parte do filme com tailandeses (muitos nem atores) em sua língua nativa, cria uma atmosfera de realidade muito interessante. Algumas das falas nem legendadas são e isso gera uma sensação de desconforto, de falta de informação, de angustia por noticias. Já em inglês, a relação dos mergulhadores com a marinha tailandesa funciona muito mais como um gatilho dramático do que como parte essencial da trama - a impressão que temos é que para existir um herói seria preciso criar um bandido e aqui não funcionou, pois o problema era muito maior e se sustentaria por si só.

"Treze Vidas" não se interessa em mostrar como a equipe de futebol ficou presa ou o que se passou com os jovens e seu treinador durante o período - o olhar do filme é o de quem ficou do lado de fora de Tham Luang e como o problema poderia ser resolvido. Ao mostrar todos os perigos que envolvem a missão de resgate, Howard deixa muito claro como a caverna alagada era perigosa, como aquele complexo labirinto claustrofóbico poderia ser fatal. Com o uso cirúrgico de uma inserção gráfica para ilustrar a caverna, temos a perfeita noção de como era complicado chegar aos jovens e pior, como era quase impossível tira-los de lá - afinal, um trajeto de mais de 6 horas embaixo da água, digamos que não é para qualquer um.

Obviamente que diversos momentos foram omitidos ou elipsados para que a história fosse mais objetiva - e funcionou. O desenho de produção e a fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (de "Me chame pelo seu nome") são invejáveis e ajudam a criar uma tensão quase insuportável para a audiência. O trabalho do elenco, embora não seja memorável, também não compromete - meu destaque, óbvio, fica com Mortensen. 

Resumindo, "Treze Vidas" é uma história sobre a sobrevivência humana contra todas as probabilidades de sucesso, que emociona na mesma dimensão que entretém! Vale muito o seu play!

PS: Para nós brasileiros um fato curioso: o roteiro usa a Copa do Mundo de 2018 como ferramenta para estabelecer a época que os eventos aconteceram e, infelizmente, a derrota do Brasil para a Bélgica aconteceu em um momento importante da história e por isso é citada algumas vezes! (rs)

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Truman

Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.

Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:

Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.

Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.  

"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia,  é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.

Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!

Vale muito seu play!

Assista Agora

Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.

Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:

Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.

Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.  

"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia,  é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.

Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!

Vale muito seu play!

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