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Synonymes

Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!

O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!

Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:

O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.

Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.

"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!

O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!

Assista Agora

Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!

O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!

Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:

O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.

Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.

"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!

O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!

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Talento e Fé

"Talento e Fé" é um amontoado de clichês, mas, sinceramente, pouco importa, o filme é muito bacana - principalmente por se tratar de uma história real e inspiradora onde o esporte é o pano de fundo, no caso o futebol americano. Talvez o que possa incomodar alguns é sua deliberada linha religiosa e aqui cabe um comentário de quem analisa um filme como obra artística e não como panfletagem: não atrapalha a experiência, mesmo que em alguns momentos o roteiro tenha pesado um pouco demais na mão, porém, também é preciso admitir que o filme tem uma mensagem muito honesta e nos provoca uma reflexão que vai além da crença de cada um.

O filme acompanha a história de Tony Nathan (Caleb Castille) um jovem negro, jogador de futebol americano, que representa uma escola de Birmingham, no Alabama, e que diariamente precisa lutar contra as pressões sociais e raciais para encontrar seu espaço na sociedade e no esporte, em um momento histórico dos EUA onde o racismo extrapola os discursos de políticos extremistas. Talentoso, mas considerado um perdedor, Tony sofre com a desunião do time até que o pregador Hank Erwin (Sean Astin, do inesquecível "Rudy") surge com uma mensagem de fé e assim consegue iniciar uma verdadeira transformação nos jogadores e em todos que os rodeiam. Confira o trailer:

Tecnicamente, os diretores Andrew Erwin e Jon Erwin souberam captar a atmosfera esportiva tão cultural da sociedade americana com a mesma capacidade em que criaram ótimas cenas de ação em campo - se não com a maestria de Oliver Stone em "Um Domingo Qualquer", pelo menos com sua competência. A montagem, inclusive, foi muito feliz em alternar cenas reais com reconstituições bastante fiéis, trazendo para o filme um conceito quase documental e que valida o maior objetivo do roteiro: mostrar que é possível fazer uma impensável revolução se nos apegarmos na fé (seja ela qual for). Vale dizer que os irmãos Erwin estão envolvidos no filme que vai contar a história do astro da NFL, Kurt Warner, e que terá Zachary Levi, Denis Quaid e Anna Paquin no elenco.

Já o roteiro de Jon Erwin, baseado no livro "Woodlawn" (que também é o título original do filme) de Todd Gerelds, acaba deixando a questão racial para o primeiro ato e passa a se apoiar no viés religioso da trama. Como disse, não é que atrapalhe a experiência, mas faltou sensibilidade para equilibrar com outros temas relevantes pela qual o personagem estava lutando - eu diria que se não fosse uma história real, certamente, teríamos a sensação de estarmos acompanhando uma certa espetacularização da fé. Agora, são passagens muito marcantes e a mensagem por trás de algumas cenas recheadas de clichês (da trilha sonora ao texto motivacional), nem de longe vão ofender quem não está alinhado ao tema. No final das contas o saldo é positivo, te garanto.

"Talento e Fé" não é um filme sobre futebol americano, mas conhecer o esporte e a dinâmica esportiva nos EUA vai melhorar a experiência. Também não é uma história de superação e luta racial, embora esses dois elementos narrativos estejam presentes na história. O título "Talento e Fé" talvez fosse melhor resolvido com "Talento, Trabalho e Fé" e assim direcionasse a história mais para Tony Nathan do que para Hank Erwin, aí teríamos uma impressão de obra mais isenta.

 "Woodlawn" é bom para aqueles dias que precisamos entender que existe algo que vai além do talento e do trabalho! É filme bom de assistir, pode ir sem receio!

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"Talento e Fé" é um amontoado de clichês, mas, sinceramente, pouco importa, o filme é muito bacana - principalmente por se tratar de uma história real e inspiradora onde o esporte é o pano de fundo, no caso o futebol americano. Talvez o que possa incomodar alguns é sua deliberada linha religiosa e aqui cabe um comentário de quem analisa um filme como obra artística e não como panfletagem: não atrapalha a experiência, mesmo que em alguns momentos o roteiro tenha pesado um pouco demais na mão, porém, também é preciso admitir que o filme tem uma mensagem muito honesta e nos provoca uma reflexão que vai além da crença de cada um.

O filme acompanha a história de Tony Nathan (Caleb Castille) um jovem negro, jogador de futebol americano, que representa uma escola de Birmingham, no Alabama, e que diariamente precisa lutar contra as pressões sociais e raciais para encontrar seu espaço na sociedade e no esporte, em um momento histórico dos EUA onde o racismo extrapola os discursos de políticos extremistas. Talentoso, mas considerado um perdedor, Tony sofre com a desunião do time até que o pregador Hank Erwin (Sean Astin, do inesquecível "Rudy") surge com uma mensagem de fé e assim consegue iniciar uma verdadeira transformação nos jogadores e em todos que os rodeiam. Confira o trailer:

Tecnicamente, os diretores Andrew Erwin e Jon Erwin souberam captar a atmosfera esportiva tão cultural da sociedade americana com a mesma capacidade em que criaram ótimas cenas de ação em campo - se não com a maestria de Oliver Stone em "Um Domingo Qualquer", pelo menos com sua competência. A montagem, inclusive, foi muito feliz em alternar cenas reais com reconstituições bastante fiéis, trazendo para o filme um conceito quase documental e que valida o maior objetivo do roteiro: mostrar que é possível fazer uma impensável revolução se nos apegarmos na fé (seja ela qual for). Vale dizer que os irmãos Erwin estão envolvidos no filme que vai contar a história do astro da NFL, Kurt Warner, e que terá Zachary Levi, Denis Quaid e Anna Paquin no elenco.

Já o roteiro de Jon Erwin, baseado no livro "Woodlawn" (que também é o título original do filme) de Todd Gerelds, acaba deixando a questão racial para o primeiro ato e passa a se apoiar no viés religioso da trama. Como disse, não é que atrapalhe a experiência, mas faltou sensibilidade para equilibrar com outros temas relevantes pela qual o personagem estava lutando - eu diria que se não fosse uma história real, certamente, teríamos a sensação de estarmos acompanhando uma certa espetacularização da fé. Agora, são passagens muito marcantes e a mensagem por trás de algumas cenas recheadas de clichês (da trilha sonora ao texto motivacional), nem de longe vão ofender quem não está alinhado ao tema. No final das contas o saldo é positivo, te garanto.

"Talento e Fé" não é um filme sobre futebol americano, mas conhecer o esporte e a dinâmica esportiva nos EUA vai melhorar a experiência. Também não é uma história de superação e luta racial, embora esses dois elementos narrativos estejam presentes na história. O título "Talento e Fé" talvez fosse melhor resolvido com "Talento, Trabalho e Fé" e assim direcionasse a história mais para Tony Nathan do que para Hank Erwin, aí teríamos uma impressão de obra mais isenta.

 "Woodlawn" é bom para aqueles dias que precisamos entender que existe algo que vai além do talento e do trabalho! É filme bom de assistir, pode ir sem receio!

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Tár

Nem de longe "Tár" é um filme fácil - e complemento: sua complexidade está em sua forma e em seu conteúdo. Dirigido brilhantemente por Todd Field (de "Pecados Íntimos"), o filme é uma uma espécie de drama psicológico, daqueles densos e envolventes, que explora as nuances do poder e da genialidade dentro de um contexto artístico muito particular. Assim como "Cisne Negro" de Darren Aronofsky ou "O Mestre" de Paul Thomas Anderson, "Tár" mergulha na psique de uma protagonista ambígua, revelando tanto seu talento quanto suas falhas mais palpáveis, através de uma narrativa que examina com muita inteligência a relação entre a arte e o ego, sempre questionando os limites da ambição em um universo onde a genialidade frequentemente é usada para justificar comportamentos tóxicos.

Lydia Tár (Cate Blanchett) é uma maestra renomada e diretora de uma importante orquestra sinfônica, cuja vida pessoal e carreira começam a se desintegrar em meio a acusações de abuso de poder e manipulação. A narrativa acompanha Lydia enquanto ela lida com a pressão de manter sua posição em um ambiente artístico altamente competitivo onde é lavada a enfrentar as consequências de suas próprias ações. A queda de Tár é retratada como uma exploração lenta e introspectiva dos reflexos psicológicos e sociais de seu comportamento, fazendo com que a audiência questione a linha tênue entre a genialidade e a tirania. Confira o belíssimo trailer aqui:

É impossível começar qualquer análise sobre "Tár" sem citar Cate Blanchett. É impressionante como ela é capaz de entregar uma atuação impecável atrás da outra - para mim, essa uma das mais marcantes da carreira, capturando com muita profundidade toda a complexidade de Lydia Tár através de uma performance poderosa e cheia de sensibilidade. Blanchett consegue transmitir tanto a genialidade quanto a arrogância da protagonista ao mesmo tempo que transita por uma área de vulnerabilidade oculta dificílima de alcançar como atriz. A forma como ela expressa o controle obsessivo de Tár sobre sua música, enquanto retrata a sua incapacidade de controlar sua vida pessoal, é hipnotizante. Sem dúvida que essa performance é essencial para a construção estética e narrativa do filme, já que o diretor se ancora, sem medo de errar, em uma personagem fascinante e imperfeita. A direção de Todd Field é precisa e contida nesse sentido, permitindo que a história se desenvolva de uma maneira deliberadamente imersiva. Obviamente que o filme evita julgamentos fáceis, optando por uma abordagem mais ambígua, que deixa espaço para diferentes interpretações sobre a protagonista e suas motivações. Repare como Field utiliza planos mais longos e uma estética bastante minimalista, capturando momentos de silêncio e criando uma tensão não-verbal para enriquecer o impacto emocional da trama. A atmosfera elegante e fria do filme reflete a sofisticação do mundo da música clássica, ao mesmo tempo que amplifica a sensação de isolamento que permeia a jornada de Tár.

A cinematografia do fotógrafo alemão Florian Hoffmeister (de "A Casa de Saddam") complementa a narrativa com uma estética extremamente precisa no sentido mais conceitual da palavra - ele pontua a cenas utilizando uma iluminação sutil com cores frias, para criar essa atmosfera opressiva e introspectiva proposta por Field. A câmera segue Tár em seus momentos mais íntimos, capturando a dualidade entre a figura pública brilhante e a mulher solitária e atormentada em sua vida pessoal. A escolha de filmar performances musicais em sequências mais longas e imersivas reflete tanto a beleza quanto o peso da criação artística - ao melhor estilo Darren Aronofsky (de "Cisne Negro"). Outro ponto que merece sua atenção é a montagem da indicada ao Oscar, Monika Willi (de "Amor") - seu trabalho intensifica a estrutura mais emocional do filme, refletindo a tensão crescente na vida de Tár como um elemento narrativo capaz de revelar os conflitos internos da protagonista a partir do ritmo, criando uma conexão contagiante com a música clássica. 

Ao explorar questões relevantes sobre poder e abuso, pela perspectiva critica da responsabilidade pessoal em um mundo que muitas vezes idolatra o talento em detrimento da ética, "Tár" levanta muito mais perguntas incômodas do que respostas superficiais, especialmente sobre as consequências de um comportamento arbitrário e da forma como a sociedade lida com figuras poderosas, especialmente nesse universo das artes. Dito isso, antecipo: não espere nada muito usual com esse filme, já que o objetivo aqui é provocar reflexões sobre a ambiguidade moral e as circunstâncias fascinantes do seu redor. 

Para aqueles que apreciam narrativas densas, "Tár" é de fato uma experiência cinematográfica que vale cada segundo.

Up-date: "Tár" recebeu seis indicações no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme.

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Nem de longe "Tár" é um filme fácil - e complemento: sua complexidade está em sua forma e em seu conteúdo. Dirigido brilhantemente por Todd Field (de "Pecados Íntimos"), o filme é uma uma espécie de drama psicológico, daqueles densos e envolventes, que explora as nuances do poder e da genialidade dentro de um contexto artístico muito particular. Assim como "Cisne Negro" de Darren Aronofsky ou "O Mestre" de Paul Thomas Anderson, "Tár" mergulha na psique de uma protagonista ambígua, revelando tanto seu talento quanto suas falhas mais palpáveis, através de uma narrativa que examina com muita inteligência a relação entre a arte e o ego, sempre questionando os limites da ambição em um universo onde a genialidade frequentemente é usada para justificar comportamentos tóxicos.

Lydia Tár (Cate Blanchett) é uma maestra renomada e diretora de uma importante orquestra sinfônica, cuja vida pessoal e carreira começam a se desintegrar em meio a acusações de abuso de poder e manipulação. A narrativa acompanha Lydia enquanto ela lida com a pressão de manter sua posição em um ambiente artístico altamente competitivo onde é lavada a enfrentar as consequências de suas próprias ações. A queda de Tár é retratada como uma exploração lenta e introspectiva dos reflexos psicológicos e sociais de seu comportamento, fazendo com que a audiência questione a linha tênue entre a genialidade e a tirania. Confira o belíssimo trailer aqui:

É impossível começar qualquer análise sobre "Tár" sem citar Cate Blanchett. É impressionante como ela é capaz de entregar uma atuação impecável atrás da outra - para mim, essa uma das mais marcantes da carreira, capturando com muita profundidade toda a complexidade de Lydia Tár através de uma performance poderosa e cheia de sensibilidade. Blanchett consegue transmitir tanto a genialidade quanto a arrogância da protagonista ao mesmo tempo que transita por uma área de vulnerabilidade oculta dificílima de alcançar como atriz. A forma como ela expressa o controle obsessivo de Tár sobre sua música, enquanto retrata a sua incapacidade de controlar sua vida pessoal, é hipnotizante. Sem dúvida que essa performance é essencial para a construção estética e narrativa do filme, já que o diretor se ancora, sem medo de errar, em uma personagem fascinante e imperfeita. A direção de Todd Field é precisa e contida nesse sentido, permitindo que a história se desenvolva de uma maneira deliberadamente imersiva. Obviamente que o filme evita julgamentos fáceis, optando por uma abordagem mais ambígua, que deixa espaço para diferentes interpretações sobre a protagonista e suas motivações. Repare como Field utiliza planos mais longos e uma estética bastante minimalista, capturando momentos de silêncio e criando uma tensão não-verbal para enriquecer o impacto emocional da trama. A atmosfera elegante e fria do filme reflete a sofisticação do mundo da música clássica, ao mesmo tempo que amplifica a sensação de isolamento que permeia a jornada de Tár.

A cinematografia do fotógrafo alemão Florian Hoffmeister (de "A Casa de Saddam") complementa a narrativa com uma estética extremamente precisa no sentido mais conceitual da palavra - ele pontua a cenas utilizando uma iluminação sutil com cores frias, para criar essa atmosfera opressiva e introspectiva proposta por Field. A câmera segue Tár em seus momentos mais íntimos, capturando a dualidade entre a figura pública brilhante e a mulher solitária e atormentada em sua vida pessoal. A escolha de filmar performances musicais em sequências mais longas e imersivas reflete tanto a beleza quanto o peso da criação artística - ao melhor estilo Darren Aronofsky (de "Cisne Negro"). Outro ponto que merece sua atenção é a montagem da indicada ao Oscar, Monika Willi (de "Amor") - seu trabalho intensifica a estrutura mais emocional do filme, refletindo a tensão crescente na vida de Tár como um elemento narrativo capaz de revelar os conflitos internos da protagonista a partir do ritmo, criando uma conexão contagiante com a música clássica. 

Ao explorar questões relevantes sobre poder e abuso, pela perspectiva critica da responsabilidade pessoal em um mundo que muitas vezes idolatra o talento em detrimento da ética, "Tár" levanta muito mais perguntas incômodas do que respostas superficiais, especialmente sobre as consequências de um comportamento arbitrário e da forma como a sociedade lida com figuras poderosas, especialmente nesse universo das artes. Dito isso, antecipo: não espere nada muito usual com esse filme, já que o objetivo aqui é provocar reflexões sobre a ambiguidade moral e as circunstâncias fascinantes do seu redor. 

Para aqueles que apreciam narrativas densas, "Tár" é de fato uma experiência cinematográfica que vale cada segundo.

Up-date: "Tár" recebeu seis indicações no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme.

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Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal

"Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal"  é um filme muito interessante! Embora seja um história já conhecida, essa adaptação do livro "The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy", surpreende pela originalidade. "A Irresistível Face do Mal" não é um filme sobre serial-killer ou um thriller policial como poderia se imaginar.. É um drama, e é aí que o filme ganha muitos pontos. Ao mostrar a visão de quem convivia com Ted Bundy, um charmoso e inteligente estudante de direito, o roteiro nos guia por um caminho cheio de incertezas: nos provocando, nos instigando e, principalmente, brincando com nossos julgamentos - aliás, esse tipo de ferramenta narrativa foi muito bem utilizada em projetos mais documentais como "Making a Murderer", por exemplo. O fato é que embarcamos nessa proposta e realmente ficamos em dúvida sobre sua inocência, mesmo sabendo de toda história... mas calma, será que a história que conhecemos é a verdadeira?

Ted Bundy foi considerado um dos serial killers mais perigosos dos anos 70 nos EUA - é o que dizia a mídia da época! Além de ser um assassino, era sequestrador, estuprador, ladrão e até necrófilo. Sua namorada, Elizabeth Kloepfer, tornou-se uma de suas defensoras mais leais, pois era difícil acreditar que seu companheiro, tão amoroso e dedicado, pudesse realmente ser o autor de crimes tão cruéis. Sabe-se que Ted foi acusado pelo assassinato de mais de 30 mulheres, mas especula-se que esse número seja bem maior. 

Após a estreia mundial no Festival de Sundance desse ano, o filme passou a ser muito comentado por três fatores: o primeiro já descrevemos acima, sua originalidade narrativa (acompanhar a história pelos olhos de Elizabeth é muito interessante... de verdade!). O segundo, pelo excelente trabalho do diretor Joe Berlinger (indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2011 por Paradise Lost 3: Purgatory) - ele inclusive ganhou o prêmio de melhor diretor no último Festival de Cinema de Atlanta. O terceiro fator, para mim o menos relevante, é a atuação de Zac Efron como Ted Bundy. Sem dúvida seu trabalho é infinitamente melhor do que o do Eric Bana em Dirty John, mas mesmo assim, minha impressão é que Efron foi encontrando o personagem apenas durante o filme -  primeira cena dele é de uma canastrice absurda... já a última, impressiona pela verdade sem dizer uma única palavra!

É um filme que merece ser assistido em algum momento. Tecnicamente muito bem realizado - mesmo sendo gravado com equipamento digital, a pós inseriu um grão que deu todo um charme para o filme - parece película inclusive. O roteiro é inteligente e as atuações também não comprometem. Eu diria que para um dia chuvoso, sem muita pretenção, é uma ótima sugestão. Vale a pena, mas se dormir, ok!

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"Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal"  é um filme muito interessante! Embora seja um história já conhecida, essa adaptação do livro "The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy", surpreende pela originalidade. "A Irresistível Face do Mal" não é um filme sobre serial-killer ou um thriller policial como poderia se imaginar.. É um drama, e é aí que o filme ganha muitos pontos. Ao mostrar a visão de quem convivia com Ted Bundy, um charmoso e inteligente estudante de direito, o roteiro nos guia por um caminho cheio de incertezas: nos provocando, nos instigando e, principalmente, brincando com nossos julgamentos - aliás, esse tipo de ferramenta narrativa foi muito bem utilizada em projetos mais documentais como "Making a Murderer", por exemplo. O fato é que embarcamos nessa proposta e realmente ficamos em dúvida sobre sua inocência, mesmo sabendo de toda história... mas calma, será que a história que conhecemos é a verdadeira?

Ted Bundy foi considerado um dos serial killers mais perigosos dos anos 70 nos EUA - é o que dizia a mídia da época! Além de ser um assassino, era sequestrador, estuprador, ladrão e até necrófilo. Sua namorada, Elizabeth Kloepfer, tornou-se uma de suas defensoras mais leais, pois era difícil acreditar que seu companheiro, tão amoroso e dedicado, pudesse realmente ser o autor de crimes tão cruéis. Sabe-se que Ted foi acusado pelo assassinato de mais de 30 mulheres, mas especula-se que esse número seja bem maior. 

Após a estreia mundial no Festival de Sundance desse ano, o filme passou a ser muito comentado por três fatores: o primeiro já descrevemos acima, sua originalidade narrativa (acompanhar a história pelos olhos de Elizabeth é muito interessante... de verdade!). O segundo, pelo excelente trabalho do diretor Joe Berlinger (indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2011 por Paradise Lost 3: Purgatory) - ele inclusive ganhou o prêmio de melhor diretor no último Festival de Cinema de Atlanta. O terceiro fator, para mim o menos relevante, é a atuação de Zac Efron como Ted Bundy. Sem dúvida seu trabalho é infinitamente melhor do que o do Eric Bana em Dirty John, mas mesmo assim, minha impressão é que Efron foi encontrando o personagem apenas durante o filme -  primeira cena dele é de uma canastrice absurda... já a última, impressiona pela verdade sem dizer uma única palavra!

É um filme que merece ser assistido em algum momento. Tecnicamente muito bem realizado - mesmo sendo gravado com equipamento digital, a pós inseriu um grão que deu todo um charme para o filme - parece película inclusive. O roteiro é inteligente e as atuações também não comprometem. Eu diria que para um dia chuvoso, sem muita pretenção, é uma ótima sugestão. Vale a pena, mas se dormir, ok!

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Tese sobre um Homicídio

Tese sobre um Homicídio

"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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Tetris

"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.

Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):

É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.

O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.

As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!

Vale muito o seu play!

PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".

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"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.

Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):

É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.

O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.

As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!

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PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".

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The Dropout

Antes de assistir "The Dropout" eu sugiro que você conheça a história da Theranos, especificamente de sua fundadora Elizabeth Holmes. Não que a minissérie do Hulu (aqui no Brasil distribuída pelo Disney+) baseada no podcast homônimo apresentado por Rebecca Jarvis e produzido pela ABC News, não seja suficiente o bastante para nos mostrar um recorte bem relevante do que foi a jornada dessa staturp que transformou seu valuation  de 10 bilhões em zero "da noite para o dia", mas te garanto: se você assistir o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", sua experiência será outra - muito mais completa (e curiosa)! 

Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried) é uma jovem empresária que afirmou ter criado uma forma revolucionária de analisar exames de sangue, utilizando apenas uma pequena gota tirada do dedo ela seria capaz de identificar 200 doenças com um custo de apenas dez dólares. Rapidamente, Holmes conquistou o desejo de investidores e se tornou uma das pessoas mais ricas e influentes do Vale do Silício, se apoiando na promessa de "disruptar" o mercado valioso de biotecnologia. A grande questão é que tudo ficou na promessa e mesmo com um propósito real, Elizabeth Holmes se tornou uma pária quando o mundo descobriu que tudo não passou de uma grande fraude. Confira o trailer (em inglês):

Antes de sucessos como "Inventando Anna" ou "Fyre Festival", era  difícil acreditar que uma jovem de 19 anos sem o que chamamos de track record (uma espécie de histórico de sucesso) no universo empreendedor, seria capaz de fazer com que investidores, cientistas e até políticos comprassem uma ideia que sequer havia sido testada e, pior, comprovada. Mas é exatamente o que Elizabeth Holmes, uma ex-aluna de Stanford, fez após largar a faculdade (por isso o nome "dropout" do título) em 2003.

Embora o roteiro da minissérie sofra para retratar todos os anos entre o desejo, a ideia, a construção e a derrocada da Theranos, deixando alguns personagens importantes completamente fora de contexto (e de continuidade) dentro da narrativa, é de se elogiar a forma como a linha temporal é construída. Divida em capítulos, respeitando a minutagem de cada episódio, "The Dropout" não se preocupa com os saltos temporais, nem com a consistência da história para criar um drama envolvente e cercado de muitas curiosidades. Ao estabelecer a relação entre Holmes e o co-CEO Sunny Balwani (Naveen Andrews), embarcamos na intimidade da personagem e como suas conquistas ajudaram a transformar sua personalidade perante todos que a rodeavam. A frase clássica já no último episódio define exatamente essa profundidade e complexidade que Amanda Seyfried conseguiu entregar - ela pergunta para a mãe: “Se você escolhe esquecer de algumas coisas, isso é o mesmo que mentir?”

O tom da minissérie deixa a veracidade das situações um pouco em segundo plano para priorizar conflitos encenados e carregar no drama - o trio de diretores, Michael Showalter (de "Os Olhos de Tammy Faye"), Francesa Gregorini (de "Killing Eve") e Erica Watson (de "Snowpiercer") são muito competentes em encontrar o cerne de tensão de cada cena, de cada interação da protagonista com seus investidores, colaboradores e familiares, sem carregar no didatismo. Com isso  "The Dropout" acaba equilibrando o elemento documental da história com o entretenimento dinâmico da proposta narrativa, impondo uma experiência das mais agradáveis, até para aqueles pouco envolvidos no universo de startups que anda tão em alta.

Vale muito o seu play!

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Antes de assistir "The Dropout" eu sugiro que você conheça a história da Theranos, especificamente de sua fundadora Elizabeth Holmes. Não que a minissérie do Hulu (aqui no Brasil distribuída pelo Disney+) baseada no podcast homônimo apresentado por Rebecca Jarvis e produzido pela ABC News, não seja suficiente o bastante para nos mostrar um recorte bem relevante do que foi a jornada dessa staturp que transformou seu valuation  de 10 bilhões em zero "da noite para o dia", mas te garanto: se você assistir o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", sua experiência será outra - muito mais completa (e curiosa)! 

Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried) é uma jovem empresária que afirmou ter criado uma forma revolucionária de analisar exames de sangue, utilizando apenas uma pequena gota tirada do dedo ela seria capaz de identificar 200 doenças com um custo de apenas dez dólares. Rapidamente, Holmes conquistou o desejo de investidores e se tornou uma das pessoas mais ricas e influentes do Vale do Silício, se apoiando na promessa de "disruptar" o mercado valioso de biotecnologia. A grande questão é que tudo ficou na promessa e mesmo com um propósito real, Elizabeth Holmes se tornou uma pária quando o mundo descobriu que tudo não passou de uma grande fraude. Confira o trailer (em inglês):

Antes de sucessos como "Inventando Anna" ou "Fyre Festival", era  difícil acreditar que uma jovem de 19 anos sem o que chamamos de track record (uma espécie de histórico de sucesso) no universo empreendedor, seria capaz de fazer com que investidores, cientistas e até políticos comprassem uma ideia que sequer havia sido testada e, pior, comprovada. Mas é exatamente o que Elizabeth Holmes, uma ex-aluna de Stanford, fez após largar a faculdade (por isso o nome "dropout" do título) em 2003.

Embora o roteiro da minissérie sofra para retratar todos os anos entre o desejo, a ideia, a construção e a derrocada da Theranos, deixando alguns personagens importantes completamente fora de contexto (e de continuidade) dentro da narrativa, é de se elogiar a forma como a linha temporal é construída. Divida em capítulos, respeitando a minutagem de cada episódio, "The Dropout" não se preocupa com os saltos temporais, nem com a consistência da história para criar um drama envolvente e cercado de muitas curiosidades. Ao estabelecer a relação entre Holmes e o co-CEO Sunny Balwani (Naveen Andrews), embarcamos na intimidade da personagem e como suas conquistas ajudaram a transformar sua personalidade perante todos que a rodeavam. A frase clássica já no último episódio define exatamente essa profundidade e complexidade que Amanda Seyfried conseguiu entregar - ela pergunta para a mãe: “Se você escolhe esquecer de algumas coisas, isso é o mesmo que mentir?”

O tom da minissérie deixa a veracidade das situações um pouco em segundo plano para priorizar conflitos encenados e carregar no drama - o trio de diretores, Michael Showalter (de "Os Olhos de Tammy Faye"), Francesa Gregorini (de "Killing Eve") e Erica Watson (de "Snowpiercer") são muito competentes em encontrar o cerne de tensão de cada cena, de cada interação da protagonista com seus investidores, colaboradores e familiares, sem carregar no didatismo. Com isso  "The Dropout" acaba equilibrando o elemento documental da história com o entretenimento dinâmico da proposta narrativa, impondo uma experiência das mais agradáveis, até para aqueles pouco envolvidos no universo de startups que anda tão em alta.

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The Good Doctor

Você vai precisar de muita suspensão da realidade para se conectar com "The Good Doctor" - é como se estivéssemos assistindo uma série do final dos anos 90, por outro lado é inegável a forma como ela cativa o público com sua abordagem única de um gênero que parece nunca sair de moda na televisão americana: o drama médico. Com uma premissa intrigante e personagens muito bem desenvolvidos, a série proporciona uma experiência emocional do início ao fim - e é isso que nos mantém envolvidos.

Criada pelo David Shore, a mesma mente por trás de "House", "The Good Doctor" vem conquistando o coração do mundo inteiro ao explorar não apenas a genialidade da investigação médica, mas também as emoções e desafios pessoais enfrentados pelos próprios personagens - é como se a humanização de seus dramas se conectassem imediatamente aos desafios profissionais.

"The Good Doctor", basicamente, acompanha a jornada de Shaun Murphy (Freddie Highmore), um brilhante jovem cirurgião com autismo e síndrome de Savant. Enfrentando desafios e preconceitos, Shaun usa suas habilidades extraordinárias para salvar vidas no Hospital San Jose St. Bonaventure, enquanto precisa lidar com seus próprias desafios pessoais e emocionais. Confira o trailer:

Sem dúvida que o ponto alto de "The Good Doctor" é o desempenho extraordinário de Highmore. É impressionante como ele mergulha profundamente na psique de seu personagem - em muitos momentos temos a exata sensação de que Highmore na verdade nem existe, o que vemos ali é só o Shaun Murphy mesmo. Sua performance é irretocável, capaz de transmitir a vulnerabilidade e a inteligência do personagem com uma precisão notável. Ele consegue capturar os maneirismos de Shaun de uma forma muito autêntica, orgânica até, proporcionando uma representação extremamente respeitosa e empática do autismo.

Além disso, o roteiro habilmente escrito de "The Good Doctor" apresenta casos médicos intrigantes e complexos, mas de fácil assimilação graças ao texto inteligente e as aplicações gráficas que acontecem durante os episódios. A série explora uma variedade de temas e aborda dilemas éticos - sem falar em nos gatilhos emocionais com as histórias de superação, perseverança  e compaixão, oferecendo assim uma visão inspiradora da profissão. Como em "House", essa diversidade de casos mantém a trama fresca e empolgante, nos permitindo assistir um episódio aqui e outro ali, sem a necessidade de uma imersão mais profunda.

Apesar de todos os aspectos positivos, como é de se esperar pelo estilo narrativo da série, "The Good Doctor" tem alguns momentos em que a trama pode ser previsível demais. Em certos, os desfechos dos casos seguem uma fórmula já conhecida das séries do gênero e isso impacta na nossa experiência, mas não nos impede de seguir adiante pois já que sabemos que o formato é esse e pronto. Eu diria que, no geral, "The Good Doctor" é um ótimo e despretensioso entretenimento.

Vale o play!

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Você vai precisar de muita suspensão da realidade para se conectar com "The Good Doctor" - é como se estivéssemos assistindo uma série do final dos anos 90, por outro lado é inegável a forma como ela cativa o público com sua abordagem única de um gênero que parece nunca sair de moda na televisão americana: o drama médico. Com uma premissa intrigante e personagens muito bem desenvolvidos, a série proporciona uma experiência emocional do início ao fim - e é isso que nos mantém envolvidos.

Criada pelo David Shore, a mesma mente por trás de "House", "The Good Doctor" vem conquistando o coração do mundo inteiro ao explorar não apenas a genialidade da investigação médica, mas também as emoções e desafios pessoais enfrentados pelos próprios personagens - é como se a humanização de seus dramas se conectassem imediatamente aos desafios profissionais.

"The Good Doctor", basicamente, acompanha a jornada de Shaun Murphy (Freddie Highmore), um brilhante jovem cirurgião com autismo e síndrome de Savant. Enfrentando desafios e preconceitos, Shaun usa suas habilidades extraordinárias para salvar vidas no Hospital San Jose St. Bonaventure, enquanto precisa lidar com seus próprias desafios pessoais e emocionais. Confira o trailer:

Sem dúvida que o ponto alto de "The Good Doctor" é o desempenho extraordinário de Highmore. É impressionante como ele mergulha profundamente na psique de seu personagem - em muitos momentos temos a exata sensação de que Highmore na verdade nem existe, o que vemos ali é só o Shaun Murphy mesmo. Sua performance é irretocável, capaz de transmitir a vulnerabilidade e a inteligência do personagem com uma precisão notável. Ele consegue capturar os maneirismos de Shaun de uma forma muito autêntica, orgânica até, proporcionando uma representação extremamente respeitosa e empática do autismo.

Além disso, o roteiro habilmente escrito de "The Good Doctor" apresenta casos médicos intrigantes e complexos, mas de fácil assimilação graças ao texto inteligente e as aplicações gráficas que acontecem durante os episódios. A série explora uma variedade de temas e aborda dilemas éticos - sem falar em nos gatilhos emocionais com as histórias de superação, perseverança  e compaixão, oferecendo assim uma visão inspiradora da profissão. Como em "House", essa diversidade de casos mantém a trama fresca e empolgante, nos permitindo assistir um episódio aqui e outro ali, sem a necessidade de uma imersão mais profunda.

Apesar de todos os aspectos positivos, como é de se esperar pelo estilo narrativo da série, "The Good Doctor" tem alguns momentos em que a trama pode ser previsível demais. Em certos, os desfechos dos casos seguem uma fórmula já conhecida das séries do gênero e isso impacta na nossa experiência, mas não nos impede de seguir adiante pois já que sabemos que o formato é esse e pronto. Eu diria que, no geral, "The Good Doctor" é um ótimo e despretensioso entretenimento.

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The Handmaid's Tale

"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!

Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:

Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.

Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?

O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.

Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!

E que vale muito o seu play!

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"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!

Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:

Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.

Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?

O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.

Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!

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The Idol

Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!

Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:

Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.

Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.

Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.

Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar. 

Assista Agora

Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!

Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:

Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.

Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.

Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.

Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar. 

Assista Agora

The Killing

"The Killing", para mim, é uma das melhores séries de drama policial já produzida - um dos raros casos que a versão americana é melhor ou, no mínimo, tão boa quanto a versão original! A série foi um verdadeiro sucesso em 2011, quando chegou a receber 6 indicações ao Emmy daquele ano. Com uma narrativa muito bem equilibrada e extremamente envolvente, a série mistura elementos de suspense e mistério capaz de prender a nossa atenção desde o primeiro até o último episódio, bem ao estilo das minisséries de crimes da HBO - aliás, talvez aqui caiba minha única crítica à produção, mesmo entendendo que eram outros tempos: ela poderia ter terminado no final da segunda temporada, mas o fato é que seu final só foi na quarta. Com uma trama meticulosamente elaborada e uma direção impecável, a série nos conduz por uma jornada intensa e repleta de reviravoltas que vai te surpreender.

Baseada na dinamarquesa "Forbrydelsen", "The Killing" se passa em Seattle e acompanha a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) e seu parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman) enquanto investigam o assassinato da adolescente Rosie Larsen. O que parece ser um caso isolado acaba se tornando uma teia complexa de mistérios e segredos, envolvendo políticos, famílias influentes e até a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Sem dúvida que o estilo de narrativa de "The Killing" é marcado por uma abordagem bastante cuidadosa, extremamente detalhada, para que as peças apresentadas, encaixadas ou não, nos deixem cheios de dúvidas. Cada episódio, de fato, é repleto de pistas e diálogos bem estruturados para que não tenhamos a sensação de estarmos sendo "enrolados". Soma-se a isso uma atmosfera sombria (brilhantemente fotografado, em sua maioria, pelo Gregory Middleton de "Game of Thrones" e "Watchmen") que contribui demais para a tensão crescente da trama. 

Os personagens também são muito bem construídos - não existe superficialidade. Todos são bem desenvolvidos ao longo das temporadas de forma a percebermos suas complexidades - seja no que existe de melhor e de pior no ser humano. Mireille Enos entrega uma performance cativante como a determinada detetive Linden, cuja dedicação à resolução do caso muitas vezes a coloca em conflito com sua própria vida pessoal. Joel Kinnaman também se destaca como o carismático e perspicaz Stephen Holder, trazendo um equilíbrio perfeito para a dupla de investigadores. Os dois dão um show - nos importamos com eles!

Assim como alguns filmes no estilo "Garota Exemplar" ou até séries como "Sharp Objects" ou "The Night Of""The Killing" desafia as convenções do gênero ao partir de um crime e sua investigação, para explorar temas ainda mais profundos sobre a natureza humana, as consequências de algumas escolhas e o preço da busca pela verdade. Eu diria que essa série é uma das experiências mais intensas e satisfatórias de uma era pré-streaming que vai prender os amantes de suspense e dramas policiais bem elaborados, como poucas - pode me cobrar depois!

Se prepare e dê o play sem medo!

Assista Agora

"The Killing", para mim, é uma das melhores séries de drama policial já produzida - um dos raros casos que a versão americana é melhor ou, no mínimo, tão boa quanto a versão original! A série foi um verdadeiro sucesso em 2011, quando chegou a receber 6 indicações ao Emmy daquele ano. Com uma narrativa muito bem equilibrada e extremamente envolvente, a série mistura elementos de suspense e mistério capaz de prender a nossa atenção desde o primeiro até o último episódio, bem ao estilo das minisséries de crimes da HBO - aliás, talvez aqui caiba minha única crítica à produção, mesmo entendendo que eram outros tempos: ela poderia ter terminado no final da segunda temporada, mas o fato é que seu final só foi na quarta. Com uma trama meticulosamente elaborada e uma direção impecável, a série nos conduz por uma jornada intensa e repleta de reviravoltas que vai te surpreender.

Baseada na dinamarquesa "Forbrydelsen", "The Killing" se passa em Seattle e acompanha a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) e seu parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman) enquanto investigam o assassinato da adolescente Rosie Larsen. O que parece ser um caso isolado acaba se tornando uma teia complexa de mistérios e segredos, envolvendo políticos, famílias influentes e até a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Sem dúvida que o estilo de narrativa de "The Killing" é marcado por uma abordagem bastante cuidadosa, extremamente detalhada, para que as peças apresentadas, encaixadas ou não, nos deixem cheios de dúvidas. Cada episódio, de fato, é repleto de pistas e diálogos bem estruturados para que não tenhamos a sensação de estarmos sendo "enrolados". Soma-se a isso uma atmosfera sombria (brilhantemente fotografado, em sua maioria, pelo Gregory Middleton de "Game of Thrones" e "Watchmen") que contribui demais para a tensão crescente da trama. 

Os personagens também são muito bem construídos - não existe superficialidade. Todos são bem desenvolvidos ao longo das temporadas de forma a percebermos suas complexidades - seja no que existe de melhor e de pior no ser humano. Mireille Enos entrega uma performance cativante como a determinada detetive Linden, cuja dedicação à resolução do caso muitas vezes a coloca em conflito com sua própria vida pessoal. Joel Kinnaman também se destaca como o carismático e perspicaz Stephen Holder, trazendo um equilíbrio perfeito para a dupla de investigadores. Os dois dão um show - nos importamos com eles!

Assim como alguns filmes no estilo "Garota Exemplar" ou até séries como "Sharp Objects" ou "The Night Of""The Killing" desafia as convenções do gênero ao partir de um crime e sua investigação, para explorar temas ainda mais profundos sobre a natureza humana, as consequências de algumas escolhas e o preço da busca pela verdade. Eu diria que essa série é uma das experiências mais intensas e satisfatórias de uma era pré-streaming que vai prender os amantes de suspense e dramas policiais bem elaborados, como poucas - pode me cobrar depois!

Se prepare e dê o play sem medo!

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The Looming Tower

"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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The Morning Show

Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!

Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!

Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.

Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!

Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!

A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente. 

Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!

Assista Agora

Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!

Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!

Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.

Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!

Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!

A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente. 

Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!

Assista Agora

The Newsroom

"The Newsroom" é daquelas pérolas que nem acreditamos que deixamos passar na época de seu lançamento - no caso, em 2012. Aqui temos um drama verdadeiramente imperdível, dinâmico, inteligente e viciante, que acompanha os bastidores de um telejornal americano, liderado pelo ácido e talentoso Will McAvoy (um Jeff Daniels no melhor de sua forma). Criada pelo premiado Aaron Sorkin (de "A Rede Social"), a série se destaca pelas tramas fluídas de seus episódios, com aqueles diálogos rápidos e envolventes (tão característicos de Sorkin), personagens extremamente complexos e temas bastante relevantes ainda hoje. Ao levantar discussões sobre a ética jornalística, o patriotismo como pauta e os desafios da mídia na era digital, "The Newsroom"pode até soar datado para alguns, mas ao olhar em retrospectiva, certamente será um entretenimento de altíssima qualidade que deixará saudades após sua terceira temporada - pode acreditar!

A trama em si gira em torno da equipe do "News Night", que busca apresentar notícias de qualidade em um mundo dominado pela busca por audiência. Will, um jornalista veterano e idealista, se choca com a nova produtora executiva, MacKenzie McHale (Emily Mortimer), sua ex-namorada, que deseja modernizar o programa. Juntos, eles e a equipe enfrentam dilemas éticos, conflitos pessoais e, claro, a pressão constante pela conquista do público. Confira o trailer:

"The Newsroom", pode acreditar, é mais do que um drama sobre jornalismo. A série é uma reflexão sobre o papel da mídia na sociedade americana e como os desafios da profissão em tempos de fake news são tão delicados. O roteiro de Sorkin é muito feliz ao apresentar um retrato idealizado do jornalismo, onde a verdade e a ética são prioridades absolutas, e apesar de algumas críticas por ser fantasioso demais, é impossível não reconhecer sua força como entretenimento. Veja, a série consegue ser emocionante e inspiradora, mostrando a importância de um jornalismo sério e comprometido com a verdade - e isso é de fato empolgante para quem gosta dos bastidores da TV.

Visualmente rica, a fotografia belíssima do Todd McMullen (de "The Leftovers") e a direção precisa de Alan Poul (de "Tokyo Vice) capturam todo aquele clima de tensão e ansiedade, além daquela energia tão particular de uma redação - sim, existe um certo tom de romance aqui, mas eu diria completamente perdoável dada a experiência maravilhosa que essa imersão proporciona. As performances, claro, são memoráveis - e como não poderia deixar de ser, o destaque fica para Jeff Daniels, que entrega um Will McAvoy complexo e convincente. Personagem esse que lhe rendeu um Emmy em 2013.  Emily Mortimer, John Gallagher Jr., Alison Pill e Sam Waterston, é preciso dizer, também brilham com seus personagens - aliás, o elenco secundário de "The Newsroom" é uma aula de casting bem produzido! .

"The Newsroom"é uma série que nos faz pensar sobre o papel da mídia na sociedade ao longo da história. É uma provocação das mais interessantes sobre a importância da verdade e os desafios do jornalismo no mundo atual.  Não por acaso que seu roteiro busca fazer uma espécie de raio-x sobre a produção de notícias no mundo contemporâneo e apesar do olhar americano, passagens como a reeleição de Barack Obama, o movimento Ocuppy Wall Street, a Primavera Árabe e o acidente nuclear de Fukushima, ganham outra dimensão, menos dramática talvez, mas certamente  muito divertida de assistir.

Imperdível!

Assista Agora

"The Newsroom" é daquelas pérolas que nem acreditamos que deixamos passar na época de seu lançamento - no caso, em 2012. Aqui temos um drama verdadeiramente imperdível, dinâmico, inteligente e viciante, que acompanha os bastidores de um telejornal americano, liderado pelo ácido e talentoso Will McAvoy (um Jeff Daniels no melhor de sua forma). Criada pelo premiado Aaron Sorkin (de "A Rede Social"), a série se destaca pelas tramas fluídas de seus episódios, com aqueles diálogos rápidos e envolventes (tão característicos de Sorkin), personagens extremamente complexos e temas bastante relevantes ainda hoje. Ao levantar discussões sobre a ética jornalística, o patriotismo como pauta e os desafios da mídia na era digital, "The Newsroom"pode até soar datado para alguns, mas ao olhar em retrospectiva, certamente será um entretenimento de altíssima qualidade que deixará saudades após sua terceira temporada - pode acreditar!

A trama em si gira em torno da equipe do "News Night", que busca apresentar notícias de qualidade em um mundo dominado pela busca por audiência. Will, um jornalista veterano e idealista, se choca com a nova produtora executiva, MacKenzie McHale (Emily Mortimer), sua ex-namorada, que deseja modernizar o programa. Juntos, eles e a equipe enfrentam dilemas éticos, conflitos pessoais e, claro, a pressão constante pela conquista do público. Confira o trailer:

"The Newsroom", pode acreditar, é mais do que um drama sobre jornalismo. A série é uma reflexão sobre o papel da mídia na sociedade americana e como os desafios da profissão em tempos de fake news são tão delicados. O roteiro de Sorkin é muito feliz ao apresentar um retrato idealizado do jornalismo, onde a verdade e a ética são prioridades absolutas, e apesar de algumas críticas por ser fantasioso demais, é impossível não reconhecer sua força como entretenimento. Veja, a série consegue ser emocionante e inspiradora, mostrando a importância de um jornalismo sério e comprometido com a verdade - e isso é de fato empolgante para quem gosta dos bastidores da TV.

Visualmente rica, a fotografia belíssima do Todd McMullen (de "The Leftovers") e a direção precisa de Alan Poul (de "Tokyo Vice) capturam todo aquele clima de tensão e ansiedade, além daquela energia tão particular de uma redação - sim, existe um certo tom de romance aqui, mas eu diria completamente perdoável dada a experiência maravilhosa que essa imersão proporciona. As performances, claro, são memoráveis - e como não poderia deixar de ser, o destaque fica para Jeff Daniels, que entrega um Will McAvoy complexo e convincente. Personagem esse que lhe rendeu um Emmy em 2013.  Emily Mortimer, John Gallagher Jr., Alison Pill e Sam Waterston, é preciso dizer, também brilham com seus personagens - aliás, o elenco secundário de "The Newsroom" é uma aula de casting bem produzido! .

"The Newsroom"é uma série que nos faz pensar sobre o papel da mídia na sociedade ao longo da história. É uma provocação das mais interessantes sobre a importância da verdade e os desafios do jornalismo no mundo atual.  Não por acaso que seu roteiro busca fazer uma espécie de raio-x sobre a produção de notícias no mundo contemporâneo e apesar do olhar americano, passagens como a reeleição de Barack Obama, o movimento Ocuppy Wall Street, a Primavera Árabe e o acidente nuclear de Fukushima, ganham outra dimensão, menos dramática talvez, mas certamente  muito divertida de assistir.

Imperdível!

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The Night Manager

Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

Olha, vale muito o seu play!

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Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

Olha, vale muito o seu play!

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The Night Of

"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente. 

Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):

Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem! 

O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.

Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.

Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil,  que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!

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"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente. 

Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):

Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem! 

O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.

Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.

Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil,  que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!

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The Offer

Essa minissérie é para você que tem uma relação muito particular com o cinema raiz americano em seus anos de ouro e, claro, com um dos melhores filmes de todos os tempos: o inigualável "O Poderoso Chefão". Criada por Leslie Greif (de "Brando") e Michael Tolkin (de "Escape at Dannemora"),"The Offer" mergulha com muita inteligência nos bastidores da produção de um dos filmes mais icônicos da história do cinema a partir de uma visão fascinante, e muitas vezes tumultuada, dos desafios enfrentados pela equipe de produção para trazer à vida a obra-prima de Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Com uma narrativa envolvente, cheia de referências divertidas e um elenco dos mais inspirados, "The Offer", eu diria, é uma celebração sobre o cinema ao mesmo tempo que desmistifica a indústria cinematográfica justamente por mostrar as complexidades que é produzir um filme. Imperdível!

A trama é centrada na figura de Albert S. Ruddy (Miles Teller), o produtor que, contra todas as probabilidades, conseguiu navegar pelos inúmeros obstáculos que surgiram durante a produção de "O Poderoso Chefão". A série detalha suas interações com figuras-chave como o chefe do estúdio Robert Evans (Matthew Goode), o autor Mario Puzo (Patrick Gallo), e o próprio Coppola (Dan Fogler). Ao longo dos 10 episódios, "The Offer" explora as batalhas criativas, políticas e pessoais que marcaram a realização do clássico de 1972. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que essa é uma minissérie para quem assistiu "O Poderoso Chefão" - o roteiro de "The Offer" é tão bem construído, que você não vai precisar mais que cinco minutos para entender a proposta de seus criadores. Oferecendo um equilíbrio perfeito entre os desafios práticos de uma produção cinematográfica (sem ser didática demais) e as dinâmicas pessoais entre os personagens icônicos que se envolveram com o projeto, Tolkin e Greif não hesitam em explorar as dificuldades reais enfrentadas pela equipe, desde a resistência inicial dos executivos do estúdio até as ameaças da máfia, que temiam a representação "estereotipada" dos ítalo-americanos no filme. O interessante dessa abordagem escolhida pelos roteiristas é que ela provoca uma certa sensação de autenticidade e urgência, destacando a determinação e a paixão dos envolvidos em fazer de "O Poderoso Chefão" uma realidade, ao melhor estilo "custe o que custar".

Miles Teller oferece uma performance cativante como Albert S. Ruddy, capturando a vontade e o carisma necessários para superar os desafios monumentais da produção. Teller traz uma energia dinâmica ao personagem, tornando convincente sua jornada desde um produtor iniciante até um dos nomes mais respeitados de Hollywood. Já Matthew Goode, como o lendário Robert Evans, brilha com uma atuação cheia de nuances, retratando o chefe do estúdio com uma mistura de charme e intensidade realmente apaixonante. Dan Fogler, como Francis Ford Coppola, e Patrick Gallo, como Mario Puzo, também se destacam, trazendo à vida as personalidades únicas dos criadores do filme em uma jornada repleta de curiosidades - aliás, a química entre esses personagens é tão palpável, e suas interações fornecem insights tão valiosos sobre o processo criativo (e as tensões que permeiam a indústria), que temos a exata sensação de que ambos saíram de um documentário.

A direção é eficaz em capturar a época e o ambiente de Hollywood nos anos 70. A recriação de cenários e a atenção aos detalhes de produção, de fato, nos transportam para aquele universo de uma maneira muito divertida - só não podemos esquecer que a minissérie, em sua tentativa de dramatizar alguns eventos, toma certas liberdades criativas que podem até distorcer a realidade dos acontecimentos em si, afinal estamos falando de entretenimento! No entanto, posso te garantir que "The Offer" é muito bem-sucedida em oferecer uma visão intrigante e cativante do making of de um dos maiores filmes de todos os tempos. Como parte das comemorações dos 50 anos de "O Poderoso Chefão", essa minissérie é sim uma carta de amor ao cinema e merece demais sua atenção!

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Essa minissérie é para você que tem uma relação muito particular com o cinema raiz americano em seus anos de ouro e, claro, com um dos melhores filmes de todos os tempos: o inigualável "O Poderoso Chefão". Criada por Leslie Greif (de "Brando") e Michael Tolkin (de "Escape at Dannemora"),"The Offer" mergulha com muita inteligência nos bastidores da produção de um dos filmes mais icônicos da história do cinema a partir de uma visão fascinante, e muitas vezes tumultuada, dos desafios enfrentados pela equipe de produção para trazer à vida a obra-prima de Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Com uma narrativa envolvente, cheia de referências divertidas e um elenco dos mais inspirados, "The Offer", eu diria, é uma celebração sobre o cinema ao mesmo tempo que desmistifica a indústria cinematográfica justamente por mostrar as complexidades que é produzir um filme. Imperdível!

A trama é centrada na figura de Albert S. Ruddy (Miles Teller), o produtor que, contra todas as probabilidades, conseguiu navegar pelos inúmeros obstáculos que surgiram durante a produção de "O Poderoso Chefão". A série detalha suas interações com figuras-chave como o chefe do estúdio Robert Evans (Matthew Goode), o autor Mario Puzo (Patrick Gallo), e o próprio Coppola (Dan Fogler). Ao longo dos 10 episódios, "The Offer" explora as batalhas criativas, políticas e pessoais que marcaram a realização do clássico de 1972. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que essa é uma minissérie para quem assistiu "O Poderoso Chefão" - o roteiro de "The Offer" é tão bem construído, que você não vai precisar mais que cinco minutos para entender a proposta de seus criadores. Oferecendo um equilíbrio perfeito entre os desafios práticos de uma produção cinematográfica (sem ser didática demais) e as dinâmicas pessoais entre os personagens icônicos que se envolveram com o projeto, Tolkin e Greif não hesitam em explorar as dificuldades reais enfrentadas pela equipe, desde a resistência inicial dos executivos do estúdio até as ameaças da máfia, que temiam a representação "estereotipada" dos ítalo-americanos no filme. O interessante dessa abordagem escolhida pelos roteiristas é que ela provoca uma certa sensação de autenticidade e urgência, destacando a determinação e a paixão dos envolvidos em fazer de "O Poderoso Chefão" uma realidade, ao melhor estilo "custe o que custar".

Miles Teller oferece uma performance cativante como Albert S. Ruddy, capturando a vontade e o carisma necessários para superar os desafios monumentais da produção. Teller traz uma energia dinâmica ao personagem, tornando convincente sua jornada desde um produtor iniciante até um dos nomes mais respeitados de Hollywood. Já Matthew Goode, como o lendário Robert Evans, brilha com uma atuação cheia de nuances, retratando o chefe do estúdio com uma mistura de charme e intensidade realmente apaixonante. Dan Fogler, como Francis Ford Coppola, e Patrick Gallo, como Mario Puzo, também se destacam, trazendo à vida as personalidades únicas dos criadores do filme em uma jornada repleta de curiosidades - aliás, a química entre esses personagens é tão palpável, e suas interações fornecem insights tão valiosos sobre o processo criativo (e as tensões que permeiam a indústria), que temos a exata sensação de que ambos saíram de um documentário.

A direção é eficaz em capturar a época e o ambiente de Hollywood nos anos 70. A recriação de cenários e a atenção aos detalhes de produção, de fato, nos transportam para aquele universo de uma maneira muito divertida - só não podemos esquecer que a minissérie, em sua tentativa de dramatizar alguns eventos, toma certas liberdades criativas que podem até distorcer a realidade dos acontecimentos em si, afinal estamos falando de entretenimento! No entanto, posso te garantir que "The Offer" é muito bem-sucedida em oferecer uma visão intrigante e cativante do making of de um dos maiores filmes de todos os tempos. Como parte das comemorações dos 50 anos de "O Poderoso Chefão", essa minissérie é sim uma carta de amor ao cinema e merece demais sua atenção!

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The Old Man

Muito criativa, "The Old Man" tem um pouquinho de "Slow Horses, de "Homeland" e até de "Jack Ryan", mas acredite, por incrível que pareça, essa série do Disney+ não é nada do que você já viu quando o assunto é espionagem! Lançada em 2022 e criada por Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, "The Old Man" é mais cadenciada do que o gênero pede, tem menos ação, mais drama e uma boa pitada de suspense. Por ser baseada no romance de Thomas Perry, a produção se apropria de uma narrativa sombria e complexa sobre segredos profundos em mundo que sempre viveu sob as sombras do terrorismo e onde algumas conexões do passado simplesmente perdem todo o sentindo quando as peças do tabuleiro se movimentam até o presente. A série co-estrelada por Jeff Bridges e John Lithgow, mergulha no mundo de um ex-agente da CIA que, após décadas de reclusão, se vê forçado a voltar à ação quando alguns segredos finalmente vêm à tona. Saiba que você está diante de uma das melhores séries daquele ano!

A trama segue Dan Chase (Jeff Bridges), um ex-agente que vive uma vida tranquila e isolada após desaparecer do radar da CIA por décadas. Contudo, sua vida pacífica é interrompida quando um assassino tenta eliminá-lo, forçando Chase a sair da aposentadoria e embarcar em uma luta pela sobrevivência. Ao longo da série, segredos antigos e ligações de Chase com o Oriente Médio são revelados, enquanto ele tenta proteger sua filha e desmantelar uma enorme conspiração. O FBI, liderado pelo agente Harold Harper (John Lithgow), também entra em cena tentando capturar Chase, enquanto ele próprio se questiona sobre sua lealdade e, principalmente, sobre sua moralidade. Confira o trailer:

Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, conhecidos por seu trabalho em "Black Sails", "See" e "Jericho",  entregam uma narrativa muito interessante a partir de uma proposta que mistura ação com uma profunda introspecção psicológica. "The Old Man" sabe equilibrar ótimas cenas de perseguição e combate com uma abordagem mais reflexiva sobre o envelhecimento, sobre a traição e sobre o peso de um passado violento que insiste em voltar para os holofotes - repare como as narrações em "off" se comunicam com a trama, trazendo um subtexto cheio de camadas, quase poético eu diria. O roteiro nesse sentido, é bem construído e mantém a audiência presa à trama com reviravoltas e flashbacks que revelam gradualmente os eventos que moldaram tanto Chase quanto Harper, criando um nível de complexidade que só enriquece ambos os personagens.

A direção de "The Old Man" foi orquestrada por nada menos que Jon Watts (da trilogia "Homem-Aranha"). Sua proposta, levada pelo resto da temporada por diretores do nível de Jet Wilkinson (de "Demolidor") e Greg Yaitanes (de "Manhunt"), é eficiente em capturar o tom sombrio e tenso da história, com uma gramática cinematográfica que utiliza planos mais fechados e cenas escuras para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza que a trama pede - o estado de espírito dos personagens e o isolamento emocional que os define, são bons exemplos de como a "forma" impacta o "conteúdo" por aqui. Aliás, é devido esse conceito que Jeff Bridges talvez entregue uma das suas melhores performances da sua carreira como Dan Chase - sua combinação de força física e vulnerabilidade emocional dá ao personagem uma sensação palpável de cansaço e desgaste, mas também de uma resiliência silenciosa que transita entre o desejo de escapar de sua antiga vida e a necessidade de lutar para proteger aqueles que fazem do presente uma luz de esperança. John Lithgow, como Harold Harper, é igualmente impressionante. Sua interpretação de um agente do FBI que se vê dividido entre lealdades pessoais e profissionais adiciona camadas de ambiguidade moral à série que traz ao personagem um toque de humanidade em um conflito interno permanente que contrasta demais com o pragmatismo implacável de Chase.

Como não poderia deixar de ser, as interações entre Bridges e Lithgow são um dos pontos altos de "The Old Man", criando uma dinâmica rica em tensão e respeito mútuo, enquanto cada um tenta superar o outro em uma espécie de jogo mental de "gato e rato". Mas não é só isso, a atmosfera tensa e a trama bem amarrada trazem para a série um senso de iminente perigo que permeia toda temporada, mesmo quando a narrativa desacelera - por isso tenha paciência que em algum momento ela vai te envolver como você nem imagina. "The Old Man" é um thriller imperdível por sua exploração fascinante das consequências de uma vida marcada por segredos e pela violência, com personagens que enfrentam dilemas morais e que lutam contra o peso de seu passado - prato cheio para que busca um ótimo drama politico!

Vale muito o seu play!

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Muito criativa, "The Old Man" tem um pouquinho de "Slow Horses, de "Homeland" e até de "Jack Ryan", mas acredite, por incrível que pareça, essa série do Disney+ não é nada do que você já viu quando o assunto é espionagem! Lançada em 2022 e criada por Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, "The Old Man" é mais cadenciada do que o gênero pede, tem menos ação, mais drama e uma boa pitada de suspense. Por ser baseada no romance de Thomas Perry, a produção se apropria de uma narrativa sombria e complexa sobre segredos profundos em mundo que sempre viveu sob as sombras do terrorismo e onde algumas conexões do passado simplesmente perdem todo o sentindo quando as peças do tabuleiro se movimentam até o presente. A série co-estrelada por Jeff Bridges e John Lithgow, mergulha no mundo de um ex-agente da CIA que, após décadas de reclusão, se vê forçado a voltar à ação quando alguns segredos finalmente vêm à tona. Saiba que você está diante de uma das melhores séries daquele ano!

A trama segue Dan Chase (Jeff Bridges), um ex-agente que vive uma vida tranquila e isolada após desaparecer do radar da CIA por décadas. Contudo, sua vida pacífica é interrompida quando um assassino tenta eliminá-lo, forçando Chase a sair da aposentadoria e embarcar em uma luta pela sobrevivência. Ao longo da série, segredos antigos e ligações de Chase com o Oriente Médio são revelados, enquanto ele tenta proteger sua filha e desmantelar uma enorme conspiração. O FBI, liderado pelo agente Harold Harper (John Lithgow), também entra em cena tentando capturar Chase, enquanto ele próprio se questiona sobre sua lealdade e, principalmente, sobre sua moralidade. Confira o trailer:

Jonathan E. Steinberg e Robert Levine, conhecidos por seu trabalho em "Black Sails", "See" e "Jericho",  entregam uma narrativa muito interessante a partir de uma proposta que mistura ação com uma profunda introspecção psicológica. "The Old Man" sabe equilibrar ótimas cenas de perseguição e combate com uma abordagem mais reflexiva sobre o envelhecimento, sobre a traição e sobre o peso de um passado violento que insiste em voltar para os holofotes - repare como as narrações em "off" se comunicam com a trama, trazendo um subtexto cheio de camadas, quase poético eu diria. O roteiro nesse sentido, é bem construído e mantém a audiência presa à trama com reviravoltas e flashbacks que revelam gradualmente os eventos que moldaram tanto Chase quanto Harper, criando um nível de complexidade que só enriquece ambos os personagens.

A direção de "The Old Man" foi orquestrada por nada menos que Jon Watts (da trilogia "Homem-Aranha"). Sua proposta, levada pelo resto da temporada por diretores do nível de Jet Wilkinson (de "Demolidor") e Greg Yaitanes (de "Manhunt"), é eficiente em capturar o tom sombrio e tenso da história, com uma gramática cinematográfica que utiliza planos mais fechados e cenas escuras para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza que a trama pede - o estado de espírito dos personagens e o isolamento emocional que os define, são bons exemplos de como a "forma" impacta o "conteúdo" por aqui. Aliás, é devido esse conceito que Jeff Bridges talvez entregue uma das suas melhores performances da sua carreira como Dan Chase - sua combinação de força física e vulnerabilidade emocional dá ao personagem uma sensação palpável de cansaço e desgaste, mas também de uma resiliência silenciosa que transita entre o desejo de escapar de sua antiga vida e a necessidade de lutar para proteger aqueles que fazem do presente uma luz de esperança. John Lithgow, como Harold Harper, é igualmente impressionante. Sua interpretação de um agente do FBI que se vê dividido entre lealdades pessoais e profissionais adiciona camadas de ambiguidade moral à série que traz ao personagem um toque de humanidade em um conflito interno permanente que contrasta demais com o pragmatismo implacável de Chase.

Como não poderia deixar de ser, as interações entre Bridges e Lithgow são um dos pontos altos de "The Old Man", criando uma dinâmica rica em tensão e respeito mútuo, enquanto cada um tenta superar o outro em uma espécie de jogo mental de "gato e rato". Mas não é só isso, a atmosfera tensa e a trama bem amarrada trazem para a série um senso de iminente perigo que permeia toda temporada, mesmo quando a narrativa desacelera - por isso tenha paciência que em algum momento ela vai te envolver como você nem imagina. "The Old Man" é um thriller imperdível por sua exploração fascinante das consequências de uma vida marcada por segredos e pela violência, com personagens que enfrentam dilemas morais e que lutam contra o peso de seu passado - prato cheio para que busca um ótimo drama politico!

Vale muito o seu play!

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The One

"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

Para quem gosta da receita, só dar o play!

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"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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