"Rocketman" é mais um filme biográfico de um astro da música com vários elementos dramáticos de "Bohemian Rhapsody" e "Judy", para citar apenas duas recentes produções! Porém, o conceito narrativo de "Rocketman" é diferente: ele traz para dentro do roteiro performances extremamente alinhadas com a história, que explicam determinadas passagens da vida do protagonista ao som de suas próprias músicas. Com isso, eu diria que o filme se torna um híbrido entre um drama biográfico e um musical da Broadway!
"Rocketman" acompanha a jornada do Elton John desde sua infância até sua transformação em um astro pop! Para contar essa história, porém, o roteirista Lee Hall colocou o protagonista em uma espécie de reunião dos Alcóolicos Anônimos para criar um mecanismo onde Elton John se mostrasse mais vulnerável e, de alguma forma, defendesse apenas seu ponto de vista, mesmo que a sua versão não fosse exatamente um reflexo da realidade, e sim a forma como ele enxergava essa "realidade"! Confira o trailer e sinta o clima que te espera:
O que mais me chamou a atenção é que "Rocketman" não estrutura sua história tendo o sucesso de Elton John como foco, mas sim a sua trajetória de fracasso. Rocketman, além do apelido famoso, tem outro significado: o do artista que alcançou um sucesso tão meteórico que mal conseguiu prever o tombo gigantesco que levaria da vida e é isso que humaniza o personagem, que deixa sua história menos romântica, se mostrando mais pessoal e sincera. Talvez "Judy" tenha um pouco disso também, mas nesse caso, o fato do próprio Elton John e do seu marido, David Furnish (que, inclusive, já fez um documentário sobre a vida do artista) terem participado da produção, fez toda a diferença! Olha, não é uma jornada das mais tranquilas, algumas cenas podem incomodar por diversos fatores, mas posso garantir que é um grande filme - certamente um dos mais injustiçados no Oscar 2020 ao lado de "Jóias Brutas" e "A Despedida"!
“Oi, meu nome é Elton Hercules John. Eu sou viciado em álcool, drogas em geral, cocaína, maconha, sou bulímico, tenho acessos de raiva e sou víciado em sexo” - esse é o cartão de visitas de um roteiro muito bem escrito pelo já citado Lee Hal (de "Billy Elliot" - filme que lhe garantiu uma indicação ao Oscar). Sua capacidade de condensar um história tão poderosa em tão pouco tempo merece elogios - mesmo que alguns possam reclamar que faltou profundidade em determinadas passagens! Eu discordaria, pois Hal foi cirúrgico em mostrar como o "caos" ajudou a construir o personagem que se transformou em Elton John!
O roteiro se mostra mais inteligente ainda em seus alívios dramáticos, sem perder a linha biográfica, quando, ao invés de focar em como o protagonista criou cada uma de suas composições, as músicas são inseridas para ressaltar o sentimento dos personagens, criando um clima de fantasia em uma história verdadeiramente real - mesmo que pelos olhos do próprio Elton! É lindo - mas será preciso gostar daquele estilo musical mais clássico do cinema antigo, embora modernizado por lindos movimentos de câmera e um aspecto gráfico belíssimo! Reparem na paleta de cores levemente desbotada da primeira intervenção musical do filme: ela serve para mostrar a difícil e pobre infância do garoto em contraponto com o colorido e exuberância do que ele gostaria de se tornar (e fazia questão de explorar em seus figurinos)!
A direção de Dexter Fletcher - que também trabalhou em "Bohemian Rhapsody", mas que não ganhou seus créditos pela assistência na direção; é exemplar! Ele explora a construção da personalidade de Elton John sem remediar nenhum dos seus excessos, com isso ele fortalece o drama pessoal do personagem, dando o tempo para que o grande Taron Egerton (vencedor do Globo de Ouro e, incrivelmente, nem indicado ao Oscar) encontre o sentimento de vazio que permeia a história de vida do astro - essa vida sem amor construiu uma pessoa cheia de buracos que só foi preenchida com a música e isso está no filme, com trocas de estilos narrativos tão orgânicas que muitas vezes nem nos damos conta! Ainda no elenco, destaco a química impressionante entre o Taron Egerton e Jamie Bell que interpreta o parceiro profissional de uma vida, Bernie Taupin - desde as primeiras cenas juntos, eles se completam. Reparem na cena em que surge a música "Your Song˜. Richard Madden como o empresário John Reid também merece seu destaque!
"Rocketman" segue a linha do gênero, mas é diferente por não cair no clichê da volta por cima a qualquer custo sem mostrar as marcas de quando se esteve por baixo - a última cena é um lindo e poético fechamento para essa jornada quase conceitual! Elton John descobriu que o pior do inferno não está na postura dos outros e sim que a responsabilidade de seus atos são exclusivamente dele, o que desperta um nível de honestidade absurdo - e como em uma reunião dos Alcóolicos Anônimos, esse é o primeiro passo para a redenção e as legendas finais comprovam a tese!
Dê o play!
"Rocketman" é mais um filme biográfico de um astro da música com vários elementos dramáticos de "Bohemian Rhapsody" e "Judy", para citar apenas duas recentes produções! Porém, o conceito narrativo de "Rocketman" é diferente: ele traz para dentro do roteiro performances extremamente alinhadas com a história, que explicam determinadas passagens da vida do protagonista ao som de suas próprias músicas. Com isso, eu diria que o filme se torna um híbrido entre um drama biográfico e um musical da Broadway!
"Rocketman" acompanha a jornada do Elton John desde sua infância até sua transformação em um astro pop! Para contar essa história, porém, o roteirista Lee Hall colocou o protagonista em uma espécie de reunião dos Alcóolicos Anônimos para criar um mecanismo onde Elton John se mostrasse mais vulnerável e, de alguma forma, defendesse apenas seu ponto de vista, mesmo que a sua versão não fosse exatamente um reflexo da realidade, e sim a forma como ele enxergava essa "realidade"! Confira o trailer e sinta o clima que te espera:
O que mais me chamou a atenção é que "Rocketman" não estrutura sua história tendo o sucesso de Elton John como foco, mas sim a sua trajetória de fracasso. Rocketman, além do apelido famoso, tem outro significado: o do artista que alcançou um sucesso tão meteórico que mal conseguiu prever o tombo gigantesco que levaria da vida e é isso que humaniza o personagem, que deixa sua história menos romântica, se mostrando mais pessoal e sincera. Talvez "Judy" tenha um pouco disso também, mas nesse caso, o fato do próprio Elton John e do seu marido, David Furnish (que, inclusive, já fez um documentário sobre a vida do artista) terem participado da produção, fez toda a diferença! Olha, não é uma jornada das mais tranquilas, algumas cenas podem incomodar por diversos fatores, mas posso garantir que é um grande filme - certamente um dos mais injustiçados no Oscar 2020 ao lado de "Jóias Brutas" e "A Despedida"!
“Oi, meu nome é Elton Hercules John. Eu sou viciado em álcool, drogas em geral, cocaína, maconha, sou bulímico, tenho acessos de raiva e sou víciado em sexo” - esse é o cartão de visitas de um roteiro muito bem escrito pelo já citado Lee Hal (de "Billy Elliot" - filme que lhe garantiu uma indicação ao Oscar). Sua capacidade de condensar um história tão poderosa em tão pouco tempo merece elogios - mesmo que alguns possam reclamar que faltou profundidade em determinadas passagens! Eu discordaria, pois Hal foi cirúrgico em mostrar como o "caos" ajudou a construir o personagem que se transformou em Elton John!
O roteiro se mostra mais inteligente ainda em seus alívios dramáticos, sem perder a linha biográfica, quando, ao invés de focar em como o protagonista criou cada uma de suas composições, as músicas são inseridas para ressaltar o sentimento dos personagens, criando um clima de fantasia em uma história verdadeiramente real - mesmo que pelos olhos do próprio Elton! É lindo - mas será preciso gostar daquele estilo musical mais clássico do cinema antigo, embora modernizado por lindos movimentos de câmera e um aspecto gráfico belíssimo! Reparem na paleta de cores levemente desbotada da primeira intervenção musical do filme: ela serve para mostrar a difícil e pobre infância do garoto em contraponto com o colorido e exuberância do que ele gostaria de se tornar (e fazia questão de explorar em seus figurinos)!
A direção de Dexter Fletcher - que também trabalhou em "Bohemian Rhapsody", mas que não ganhou seus créditos pela assistência na direção; é exemplar! Ele explora a construção da personalidade de Elton John sem remediar nenhum dos seus excessos, com isso ele fortalece o drama pessoal do personagem, dando o tempo para que o grande Taron Egerton (vencedor do Globo de Ouro e, incrivelmente, nem indicado ao Oscar) encontre o sentimento de vazio que permeia a história de vida do astro - essa vida sem amor construiu uma pessoa cheia de buracos que só foi preenchida com a música e isso está no filme, com trocas de estilos narrativos tão orgânicas que muitas vezes nem nos damos conta! Ainda no elenco, destaco a química impressionante entre o Taron Egerton e Jamie Bell que interpreta o parceiro profissional de uma vida, Bernie Taupin - desde as primeiras cenas juntos, eles se completam. Reparem na cena em que surge a música "Your Song˜. Richard Madden como o empresário John Reid também merece seu destaque!
"Rocketman" segue a linha do gênero, mas é diferente por não cair no clichê da volta por cima a qualquer custo sem mostrar as marcas de quando se esteve por baixo - a última cena é um lindo e poético fechamento para essa jornada quase conceitual! Elton John descobriu que o pior do inferno não está na postura dos outros e sim que a responsabilidade de seus atos são exclusivamente dele, o que desperta um nível de honestidade absurdo - e como em uma reunião dos Alcóolicos Anônimos, esse é o primeiro passo para a redenção e as legendas finais comprovam a tese!
Dê o play!
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
"Rocky", sem dúvida alguma, é um dos filmes mais icônicos da história. Um filme que além de ser muito bem construído narrativamente, ainda consolidou Sylvester Stallone como uma estrela mundial e criou uma franquia que redefiniu o gênero de esportes no cinema. Com um roteiro eficaz, escrito pelo próprio Stallone, "Rocky" vai além de uma história de boxe, oferecendo um retrato profundamente humano de perseverança, de superação e de luta pela dignidade pela perspectiva mais intima de seu protagonista. O filme é realmente surpreendente nesse sentido - hoje fica ainda mais claro entender a razão de ter conquistado o coração de milhões de pessoas e ainda ter levado para casa três Oscars (depois de 10 indicações), incluindo o de "Melhor Filme" e de "Melhor Diretor", tornando-se um marco da cultura pop.
A história gira em torno de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um lutador amador de boxe da Filadélfia que trabalha como cobrador de dívidas para a máfia local. Sua vida é marcada por frustrações, falta de oportunidades e uma carreira no boxe que nunca decolou. No entanto, sua sorte muda quando o campeão mundial de pesos pesados, Apollo Creed (Carl Weathers), decide lhe dar uma chance de lutar pelo título como uma jogada de marketing para manter a atenção do público. O que começa como uma manobra publicitária acaba se tornando um conto inspirador sobre perseverança e espírito de luta, à medida que Rocky se prepara para o maior combate de sua vida. Confira o trailer e segura esse coração:
Lançado em 1976 e dirigido pelo John G. Avildsen (de "Karatê Kid - A Hora da Verdade"), "Rocky", é preciso dizer, tem uma narrativa que é movida por uma simplicidade que acerta na mosca ao capturar o espírito do “sonho americano” de uma maneira sincera e autêntica. A história não é sobre a vitória, mas sobre a luta. Rocky Balboasabe que não tem chance de vencer Apollo, um boxeador altamente talentoso e arrogante, mas ele decide lutar para provar para si mesmo que pode durar pelo menos os 15 rounds, mostrando que a verdadeira vitória está em dar o melhor de si. Essa simplicidade de propósito, que hoje pode parecer até piegas, combinada com a força emocional de um personagem complexo, ressoa com a audiência e dá ao filme sua força que depois virou receita de sucesso para filmes, digamos, menos inspirados.
A direção de John G. Avildsen é muito eficaz, focada em criar um realismo em torno da vida de Rocky e da Filadélfia, uma cidade que funciona perfeitamente como cenário nesse processo de superação - repare como ela ganha vida e importância metafórica durante a jornada do protagonista (Filadélfia não é Nova York e muito menos Los Angeles. Até ali, Filadélfia era só a Filadélfia). Repare como a câmera segue Rocky pelas ruas geladas, pelos becos sombrios e pelos ambientes modestos, o que contribui para a sensação de autenticidade e proximidade com o público. O treinamento de Rocky, especialmente na famosa sequência da subida das escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, tornou-se um momento icônico, simbolizando o espírito de luta e a determinação que um atleta precisa para vencer. Sylvester Stallone, em um papel que ele próprio escreveu e para qual lutou muito até ser escalado, dá vida a Rocky Balboa com uma honestidade crua e cativante. Stallone evita o clichê do herói invencível, retratando Rocky como um homem simples, com sonhos pequenos, mas com um coração gigante. Sua vulnerabilidade e humildade tornam o personagem incrivelmente inspirador. Além de Stallone, Talia Shire, como Adrian, o interesse amoroso de Rocky, traz uma atuação delicada e sensível. A relação entre Rocky e Adrian, construída com ternura e timidez, é um dos pilares emocionais do filme. Burt Young, como Paulie, e Burgess Meredith, como Mickey, também merecem destaque por suas performances memoráveis.
Dois pontos precisam ser citados antes de concluirmos: o primeiro é sobre o confronto final entre Rocky e Creed - a coreografia da luta é realista ao ponto de sentirmos os golpes pesados e os momentos de exaustão física que refletem a brutalidade do boxe profissional. E o segundo, é a inesquecível trilha sonora composta por Bill Conti - a música-tema "Gonna Fly Now", que acompanha a sequência de treinamento, tornou-se um dos temas mais reconhecidos e inspiradores da história do cinema - e é essa trilha sonora que reforça a atmosfera emocional e heróica do filme, elevando momentos chave da narrativa a um patamar invejável de empolgação! Ah, mas alguns podem argumentar que o filme, em seu desejo de ser inspirador, recorre a alguns clichês de histórias de superação e tal! Ok, essas pessoas estão certas, mas estamos falando de um filme onde, em sua essência, um homem que foi deixado para trás pela sociedade, sem muitas opções de futuro, consegue ascender na vida e assim refletir a esperança universal de que qualquer um, se tiver a oportunidade certa, pode alcançar algo maior. Funciona!
"Rocky" transcende qualquer discurso motivacional para se tornar um marco que fará você sorrir enquanto os créditos sobem!
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
"Rocky", sem dúvida alguma, é um dos filmes mais icônicos da história. Um filme que além de ser muito bem construído narrativamente, ainda consolidou Sylvester Stallone como uma estrela mundial e criou uma franquia que redefiniu o gênero de esportes no cinema. Com um roteiro eficaz, escrito pelo próprio Stallone, "Rocky" vai além de uma história de boxe, oferecendo um retrato profundamente humano de perseverança, de superação e de luta pela dignidade pela perspectiva mais intima de seu protagonista. O filme é realmente surpreendente nesse sentido - hoje fica ainda mais claro entender a razão de ter conquistado o coração de milhões de pessoas e ainda ter levado para casa três Oscars (depois de 10 indicações), incluindo o de "Melhor Filme" e de "Melhor Diretor", tornando-se um marco da cultura pop.
A história gira em torno de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um lutador amador de boxe da Filadélfia que trabalha como cobrador de dívidas para a máfia local. Sua vida é marcada por frustrações, falta de oportunidades e uma carreira no boxe que nunca decolou. No entanto, sua sorte muda quando o campeão mundial de pesos pesados, Apollo Creed (Carl Weathers), decide lhe dar uma chance de lutar pelo título como uma jogada de marketing para manter a atenção do público. O que começa como uma manobra publicitária acaba se tornando um conto inspirador sobre perseverança e espírito de luta, à medida que Rocky se prepara para o maior combate de sua vida. Confira o trailer e segura esse coração:
Lançado em 1976 e dirigido pelo John G. Avildsen (de "Karatê Kid - A Hora da Verdade"), "Rocky", é preciso dizer, tem uma narrativa que é movida por uma simplicidade que acerta na mosca ao capturar o espírito do “sonho americano” de uma maneira sincera e autêntica. A história não é sobre a vitória, mas sobre a luta. Rocky Balboasabe que não tem chance de vencer Apollo, um boxeador altamente talentoso e arrogante, mas ele decide lutar para provar para si mesmo que pode durar pelo menos os 15 rounds, mostrando que a verdadeira vitória está em dar o melhor de si. Essa simplicidade de propósito, que hoje pode parecer até piegas, combinada com a força emocional de um personagem complexo, ressoa com a audiência e dá ao filme sua força que depois virou receita de sucesso para filmes, digamos, menos inspirados.
A direção de John G. Avildsen é muito eficaz, focada em criar um realismo em torno da vida de Rocky e da Filadélfia, uma cidade que funciona perfeitamente como cenário nesse processo de superação - repare como ela ganha vida e importância metafórica durante a jornada do protagonista (Filadélfia não é Nova York e muito menos Los Angeles. Até ali, Filadélfia era só a Filadélfia). Repare como a câmera segue Rocky pelas ruas geladas, pelos becos sombrios e pelos ambientes modestos, o que contribui para a sensação de autenticidade e proximidade com o público. O treinamento de Rocky, especialmente na famosa sequência da subida das escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, tornou-se um momento icônico, simbolizando o espírito de luta e a determinação que um atleta precisa para vencer. Sylvester Stallone, em um papel que ele próprio escreveu e para qual lutou muito até ser escalado, dá vida a Rocky Balboa com uma honestidade crua e cativante. Stallone evita o clichê do herói invencível, retratando Rocky como um homem simples, com sonhos pequenos, mas com um coração gigante. Sua vulnerabilidade e humildade tornam o personagem incrivelmente inspirador. Além de Stallone, Talia Shire, como Adrian, o interesse amoroso de Rocky, traz uma atuação delicada e sensível. A relação entre Rocky e Adrian, construída com ternura e timidez, é um dos pilares emocionais do filme. Burt Young, como Paulie, e Burgess Meredith, como Mickey, também merecem destaque por suas performances memoráveis.
Dois pontos precisam ser citados antes de concluirmos: o primeiro é sobre o confronto final entre Rocky e Creed - a coreografia da luta é realista ao ponto de sentirmos os golpes pesados e os momentos de exaustão física que refletem a brutalidade do boxe profissional. E o segundo, é a inesquecível trilha sonora composta por Bill Conti - a música-tema "Gonna Fly Now", que acompanha a sequência de treinamento, tornou-se um dos temas mais reconhecidos e inspiradores da história do cinema - e é essa trilha sonora que reforça a atmosfera emocional e heróica do filme, elevando momentos chave da narrativa a um patamar invejável de empolgação! Ah, mas alguns podem argumentar que o filme, em seu desejo de ser inspirador, recorre a alguns clichês de histórias de superação e tal! Ok, essas pessoas estão certas, mas estamos falando de um filme onde, em sua essência, um homem que foi deixado para trás pela sociedade, sem muitas opções de futuro, consegue ascender na vida e assim refletir a esperança universal de que qualquer um, se tiver a oportunidade certa, pode alcançar algo maior. Funciona!
"Rocky" transcende qualquer discurso motivacional para se tornar um marco que fará você sorrir enquanto os créditos sobem!
"Roma" é sensacional!!!! Talvez o melhor trabalho da carreira do Alfonso Cuarón!!! Dito isso, você precisa saber que se trata de um filme longo, P&B (preto e branco), bem lento e que fala de relações humanas!!! Mas você precisa saber também que esse filme já ganhou 83 prêmios em Festivais pelo mundo - e isso não é nada fácil - inclusive o Leão de Ouro em Veneza!!!
Certamente a pergunta que fica é: como um filme p&b, lento, longo e sem uma história tão marcante ganha tantos prêmios? Simples - "Roma" é uma aula de Cinema. Todos, eu disse todos, os planos são muito bem pensados, coreografadas e cirurgicamente bem realizados com enquadramentos que parecem muito mais uma pintura. Movimentos de câmera inovadores (como ele mesmo fez em Gravidade)? Que nada, cinema raiz (rs) - um ou outro travelling nas externas (muito bem feitos, com uma composição de centenas de figurantes e uma direção de arte que poucas vezes vi de tão orgânica), além de muitas, muitas, panorâmicas!!! Panorâmicas bem feitas, que criam a sensação de amplitude, de um vazio dos personagens dentro daquela casa repleta de histórias que ninguém teria coragem de contar porque são simples histórias do dia a dia, de todos nós, de uma ou outra família, mas que o Cuarón transformou em uma obra prima."Roma" é o retrato de um ano tumultuado na vida de uma família de classe média da Cidade do México no início dos anos 70, como vemos no trailer a seguir:
Os sentimentos estavam lá, no silêncio, no diálogo baixinho, quase inseguro; ou no desenho de som perturbador que transformava o vazio daquele ambiente (como a cena do carro raspando na garagem ou nas crianças brigando na sala). Meu amigo, isso é cinema com alma, maravilhosamente bem captado em aspecto "2.35" (mais largado), com grande angulares, e muito mais espaço para compor aqueles planos... lindo de ver!!! É um filme simples, com uma das cenas mais impactantes que eu já assisti (do parto da protagonista), onde o Cuarón não faz nenhum movimento com a câmera, não inventa, só deixa esse maravilhoso instrumento contar aquela dolorida história - sem cortes!!!! Ou a cena na loja de móveis, com um show de atuação da Yaritza Aparicio e do Jorge Antonio Guerrero - sem nenhuma palavra, só no olhar!!!
Cuarón é um cineasta incrível, versátil, mas é humano, gente como a gente - tive a honra de assistir a palestra que ele fez em 2017 durante o Festival de Cannes e posso afirmar com todas as letras: um ser humano talentoso que aceita suas fraquezas, mas que trabalha muito para transforma-las em sua maior virtude!!! Ele escreveu, dirigiu e fotografou (sim, Alfonso Cuarón dá uma aula de fotografia no primeiro longa que ele fotografa e se ele não for, no mínimo, indicado ao Oscar, será uma das maiores injustiças dos últimos tempos). "Roma" não vai agradar a todos, não está bombando nas redes sociais como "Bohemian Rhapsody" ou "Infiltrado na Klan" (que são ótimos diga-se de passagem), mas posso te garantir que esse filme vai te fazer pensar e trazer sentimentos e sensações como nenhum outro, em muito tempo. Eu diria que é outro patamar de cinematografia!!!
Obrigado Netflix pelo presente de Natal. Obrigado Alfonso Cuarón por nos permitir conhecer sua história. É só dar o play e separar a estatueta!!!!
Up-date: "Roma" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia e Melhor Diretor!
"Roma" é sensacional!!!! Talvez o melhor trabalho da carreira do Alfonso Cuarón!!! Dito isso, você precisa saber que se trata de um filme longo, P&B (preto e branco), bem lento e que fala de relações humanas!!! Mas você precisa saber também que esse filme já ganhou 83 prêmios em Festivais pelo mundo - e isso não é nada fácil - inclusive o Leão de Ouro em Veneza!!!
Certamente a pergunta que fica é: como um filme p&b, lento, longo e sem uma história tão marcante ganha tantos prêmios? Simples - "Roma" é uma aula de Cinema. Todos, eu disse todos, os planos são muito bem pensados, coreografadas e cirurgicamente bem realizados com enquadramentos que parecem muito mais uma pintura. Movimentos de câmera inovadores (como ele mesmo fez em Gravidade)? Que nada, cinema raiz (rs) - um ou outro travelling nas externas (muito bem feitos, com uma composição de centenas de figurantes e uma direção de arte que poucas vezes vi de tão orgânica), além de muitas, muitas, panorâmicas!!! Panorâmicas bem feitas, que criam a sensação de amplitude, de um vazio dos personagens dentro daquela casa repleta de histórias que ninguém teria coragem de contar porque são simples histórias do dia a dia, de todos nós, de uma ou outra família, mas que o Cuarón transformou em uma obra prima."Roma" é o retrato de um ano tumultuado na vida de uma família de classe média da Cidade do México no início dos anos 70, como vemos no trailer a seguir:
Os sentimentos estavam lá, no silêncio, no diálogo baixinho, quase inseguro; ou no desenho de som perturbador que transformava o vazio daquele ambiente (como a cena do carro raspando na garagem ou nas crianças brigando na sala). Meu amigo, isso é cinema com alma, maravilhosamente bem captado em aspecto "2.35" (mais largado), com grande angulares, e muito mais espaço para compor aqueles planos... lindo de ver!!! É um filme simples, com uma das cenas mais impactantes que eu já assisti (do parto da protagonista), onde o Cuarón não faz nenhum movimento com a câmera, não inventa, só deixa esse maravilhoso instrumento contar aquela dolorida história - sem cortes!!!! Ou a cena na loja de móveis, com um show de atuação da Yaritza Aparicio e do Jorge Antonio Guerrero - sem nenhuma palavra, só no olhar!!!
Cuarón é um cineasta incrível, versátil, mas é humano, gente como a gente - tive a honra de assistir a palestra que ele fez em 2017 durante o Festival de Cannes e posso afirmar com todas as letras: um ser humano talentoso que aceita suas fraquezas, mas que trabalha muito para transforma-las em sua maior virtude!!! Ele escreveu, dirigiu e fotografou (sim, Alfonso Cuarón dá uma aula de fotografia no primeiro longa que ele fotografa e se ele não for, no mínimo, indicado ao Oscar, será uma das maiores injustiças dos últimos tempos). "Roma" não vai agradar a todos, não está bombando nas redes sociais como "Bohemian Rhapsody" ou "Infiltrado na Klan" (que são ótimos diga-se de passagem), mas posso te garantir que esse filme vai te fazer pensar e trazer sentimentos e sensações como nenhum outro, em muito tempo. Eu diria que é outro patamar de cinematografia!!!
Obrigado Netflix pelo presente de Natal. Obrigado Alfonso Cuarón por nos permitir conhecer sua história. É só dar o play e separar a estatueta!!!!
Up-date: "Roma" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia e Melhor Diretor!
Um advogado com princípios muito enraizados que, por uma circunstância de vida, faz uma escolha errada. Não é uma história tão original, mas te prende do começo ao fim!
Roman J. Israel (Denzel Washington) é um inteligente advogado que trabalha há muito tempo em uma firma de advocacia que ajudava pessoas de baixa renda. Roman era uma espécie de coadjuvante, não ia aos tribunais, conhecia todos os casos e ajudava na sua resolução, mas sempre atuando nos bastidores. Quando, inesperadamente, seu sócio morre, o protagonista acaba se envolvendo na situação da empresa e acaba tendo que começar a aparecer mais, porém com a projeção vem a responsabilidade e é aí que Roman J. Israel começa a se perder entre seu idealismo e a necessidade de se transformar em algo maior!
"Roman J. Israel" já se define pelo título - É um filme de personagem e embora eu ache o Denzel Washington um péssimo "perdedor" (vide a cara feia no Oscar 2017), ele está impecável no papel. Foi realmente merecida sua indicação como "Melhor Ator" em 2018. Já o filme, olha, é bom, mas tem um "problema" de roteiro que pode incomodar os mais exigentes - o primeiro ato é muito longo, com isso o clímax e o desfecho são pouco desenvolvidos. Quando a história pega, faltam só 40 minutos para acabar o filme e dá a impressão que tudo acaba sendo resolvido com muita pressa. Tinha um potencial de exploração muito maior (e aí não sei se foi o Estúdio que mandou cortar) porque a trama é bem amarradinha no segundo ato, criando uma sensação de angústia muito grande em quem assiste, mas, infelizmente, acaba rápido demais! O ritmo muda tão drasticamente que no final surge aquele: "Já?"!!!
O diretor é o Dan Gilroy, o mesmo do excelente "Nightcrawler" (O Abutre). Ele constrói muito bem essa atmosfera de tensão (inclusive porque é ele que escreve os roteiros que filma), mas em "Roman J. Israel, Esq.", embora competente demais na direção, seguro e sem querer aparecer muito, achei que acabou derrapando no roteiro pelo elementos que citei acima!
Resumindo: é um filme bom; com uma história realmente boa, mas tinha potencial pra ser um filme muito melhor! Vale o play, será um ótimo entretenimento, mas não é um filme inesquecível!
Um advogado com princípios muito enraizados que, por uma circunstância de vida, faz uma escolha errada. Não é uma história tão original, mas te prende do começo ao fim!
Roman J. Israel (Denzel Washington) é um inteligente advogado que trabalha há muito tempo em uma firma de advocacia que ajudava pessoas de baixa renda. Roman era uma espécie de coadjuvante, não ia aos tribunais, conhecia todos os casos e ajudava na sua resolução, mas sempre atuando nos bastidores. Quando, inesperadamente, seu sócio morre, o protagonista acaba se envolvendo na situação da empresa e acaba tendo que começar a aparecer mais, porém com a projeção vem a responsabilidade e é aí que Roman J. Israel começa a se perder entre seu idealismo e a necessidade de se transformar em algo maior!
"Roman J. Israel" já se define pelo título - É um filme de personagem e embora eu ache o Denzel Washington um péssimo "perdedor" (vide a cara feia no Oscar 2017), ele está impecável no papel. Foi realmente merecida sua indicação como "Melhor Ator" em 2018. Já o filme, olha, é bom, mas tem um "problema" de roteiro que pode incomodar os mais exigentes - o primeiro ato é muito longo, com isso o clímax e o desfecho são pouco desenvolvidos. Quando a história pega, faltam só 40 minutos para acabar o filme e dá a impressão que tudo acaba sendo resolvido com muita pressa. Tinha um potencial de exploração muito maior (e aí não sei se foi o Estúdio que mandou cortar) porque a trama é bem amarradinha no segundo ato, criando uma sensação de angústia muito grande em quem assiste, mas, infelizmente, acaba rápido demais! O ritmo muda tão drasticamente que no final surge aquele: "Já?"!!!
O diretor é o Dan Gilroy, o mesmo do excelente "Nightcrawler" (O Abutre). Ele constrói muito bem essa atmosfera de tensão (inclusive porque é ele que escreve os roteiros que filma), mas em "Roman J. Israel, Esq.", embora competente demais na direção, seguro e sem querer aparecer muito, achei que acabou derrapando no roteiro pelo elementos que citei acima!
Resumindo: é um filme bom; com uma história realmente boa, mas tinha potencial pra ser um filme muito melhor! Vale o play, será um ótimo entretenimento, mas não é um filme inesquecível!
"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.
Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:
"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).
Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.
Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!
"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.
Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:
"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).
Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.
Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!
"Safety" é muito bacana (muito "mesmo"!) - daqueles filmes emocionantes que nos fazem sorrir com o coração e com a alma! Safety para quem está pouco familiarizado com o Futebol Americano é uma posição importante da linha de defesa de um time e que em uma tradução livre significa "segurança". Muito mais do que contar a história de um atleta que joga nessa posição, o título do filme pretende explorar o real significado da palavra dentro do âmbito familiar e é isso que transforma essa produção original da Disney em um filme simplesmente imperdível!
Essa é a história real de Ray McElrathbey (Jay Reeves), um jovem jogador de futebol americano recém chegado em uma das Universidades mais tradicionais dos EUA quando o assunto é o programa de bolsas para o esporte. A oportunidade de jogar nos "Tigers" de Clemson é tão relevante quanto ganhar uma bolsa integral da Universidade, porém McElrathbey precisa enfrentar uma série de desafiadores obstáculos na vida e lutar contra muitas adversidades para manter essa condição de estudante e atleta, ao mesmo tempo que precisa cuidar de seu irmão de 11 anos de idade enquanto sua mãe passa por um tratamento para se livrar das drogas. Confira o trailer:
Veja, mesmo com inúmeras referências ao esporte, inclusive com diálogos bastante complicados até para os mais familiarizados, "Safety" não é um filme de futebol americano na sua essência - são pouquíssimas cenas de jogos ou de citações sobre a necessidade de vencer o título da temporada. Obviamente que a atmosfera esportiva e a importância dos Tigers para a comunidade são claramente perceptíveis durante o desenrolar do filme, mas eu diria que a relação direta com o esporte em si para por aí. É inegável que a audiência acostumada com o futebol americano vai se relacionar de uma maneira muito mais profunda com a trama, mas o roteiro de Nick Santora (da série “Prison Break”) cumpre muito bem o papel didático para fisgar um público mais abrangente.
"Safety" é um excelente exemplo de história que daria um filme impactante se o conceito narrativo se apoiasse no realismo brutal do drama familiar como em "Florida Project"ou "Palmer", mas assim não seria um filme "Disney". A escolha (ou imposição) do diretor Reginald Hudlin (“O Pai da Black Music”) por um tom mais brando prejudica a experiência? Não, muito pelo contrário, mas não dá para negar que a busca pela solução do problema acaba ganhando uma importância narrativa muito maior do que o problema em si.
Tecnicamente o filme é muito bem realizado - dos planos abertos do campo de futebol americano para nos posicionar perante a grandiosidade do esporte e de sua tradição para a universidade de Clemson aos cortes bem executados entre uma câmera subjetiva ou um movimento de travelling para nos colocar no campo de jogo. Tudo isso, porém, são apenas elementos visualmente impactantes para emoldurar as mensagens inspiradoras e emocionantes, além de ótimos momentos que servem como alívios cômicos (principalmente com o ótimo Thaddeus J. Mixson - o irmão mais novo de Ray, Fahmarr).
"Safety" é repleto de clichês, mas que funciona perfeitamente para nos emocionar, além de trazer aquela sensação de bem-estar tão característico das produções da Disney que em nenhum momento perdem o seu brilho ou a simpatia dos personagens.
Vale muito a pena!
"Safety" é muito bacana (muito "mesmo"!) - daqueles filmes emocionantes que nos fazem sorrir com o coração e com a alma! Safety para quem está pouco familiarizado com o Futebol Americano é uma posição importante da linha de defesa de um time e que em uma tradução livre significa "segurança". Muito mais do que contar a história de um atleta que joga nessa posição, o título do filme pretende explorar o real significado da palavra dentro do âmbito familiar e é isso que transforma essa produção original da Disney em um filme simplesmente imperdível!
Essa é a história real de Ray McElrathbey (Jay Reeves), um jovem jogador de futebol americano recém chegado em uma das Universidades mais tradicionais dos EUA quando o assunto é o programa de bolsas para o esporte. A oportunidade de jogar nos "Tigers" de Clemson é tão relevante quanto ganhar uma bolsa integral da Universidade, porém McElrathbey precisa enfrentar uma série de desafiadores obstáculos na vida e lutar contra muitas adversidades para manter essa condição de estudante e atleta, ao mesmo tempo que precisa cuidar de seu irmão de 11 anos de idade enquanto sua mãe passa por um tratamento para se livrar das drogas. Confira o trailer:
Veja, mesmo com inúmeras referências ao esporte, inclusive com diálogos bastante complicados até para os mais familiarizados, "Safety" não é um filme de futebol americano na sua essência - são pouquíssimas cenas de jogos ou de citações sobre a necessidade de vencer o título da temporada. Obviamente que a atmosfera esportiva e a importância dos Tigers para a comunidade são claramente perceptíveis durante o desenrolar do filme, mas eu diria que a relação direta com o esporte em si para por aí. É inegável que a audiência acostumada com o futebol americano vai se relacionar de uma maneira muito mais profunda com a trama, mas o roteiro de Nick Santora (da série “Prison Break”) cumpre muito bem o papel didático para fisgar um público mais abrangente.
"Safety" é um excelente exemplo de história que daria um filme impactante se o conceito narrativo se apoiasse no realismo brutal do drama familiar como em "Florida Project"ou "Palmer", mas assim não seria um filme "Disney". A escolha (ou imposição) do diretor Reginald Hudlin (“O Pai da Black Music”) por um tom mais brando prejudica a experiência? Não, muito pelo contrário, mas não dá para negar que a busca pela solução do problema acaba ganhando uma importância narrativa muito maior do que o problema em si.
Tecnicamente o filme é muito bem realizado - dos planos abertos do campo de futebol americano para nos posicionar perante a grandiosidade do esporte e de sua tradição para a universidade de Clemson aos cortes bem executados entre uma câmera subjetiva ou um movimento de travelling para nos colocar no campo de jogo. Tudo isso, porém, são apenas elementos visualmente impactantes para emoldurar as mensagens inspiradoras e emocionantes, além de ótimos momentos que servem como alívios cômicos (principalmente com o ótimo Thaddeus J. Mixson - o irmão mais novo de Ray, Fahmarr).
"Safety" é repleto de clichês, mas que funciona perfeitamente para nos emocionar, além de trazer aquela sensação de bem-estar tão característico das produções da Disney que em nenhum momento perdem o seu brilho ou a simpatia dos personagens.
Vale muito a pena!
Antes de continuarmos eu preciso te passar duas informações importantes: só assista "Saída à Francesa" se você gostar de filmes "estilo Woody Allen" e também saiba que esse filme não se trata de uma comédia romântica, muito pelo contrário, para mim, a história se encaixa muito mais como um drama de relações e, aí sim, com bons elementos de comédia - a famosa "dramédia". Dito isso, fica muito simples de analisar o conceito narrativo do filme dirigido pelo Azazel Jacobs (de "The Lovers") já que mesmo com escolhas narrativas que soam próximas do absurdo, é possível se divertir e ainda refletir sobre toda aquela atmosfera introspectiva que envolve a protagonistaFrances Price (uma Michelle Pfeiffer impagável - inclusive indicada ao Globo de Ouro por essa performance em 2021).
Frances (Michelle Pfeiffer) é uma socialite viúva e sem dinheiro que mora em Manhattan, cujo marido morreu há quase duas décadas. Com sua herança evaporando, ela recolhe o último de seus bens e resolve viver seus dias de solidão anonimamente em um apartamento emprestado em Paris, acompanhada por seu filho Malcolm (Lucas Hedge) e de um gato de estimação. Confira o trailer:
Baseado no livro homônimo de Patrick DeWitt (que também escreve o roteiro), "Saída à Francesa" é basicamente um estudo de caso psicológico de uma mulher marcada pelo seu passado que é incapaz de se relacionar com um presente completamente diferente do que ela jamais sonhou. Embora o filme possua uma narrativa bastante peculiar, com um ritmo até mais cadenciado, é impressionante como a trama usa do "insano" para nos envolver emocionalmente e nos mostrar que mesmo a partir de uma personagem essencialmente egoísta e inconsequente, existe um ser humano sensível que, infelizmente, não soube lidar com a melancolia e com a dor de ter priorizado a superficialidade do material para preencher seu vazio existencial.
Francis tem uma aura lunática, fato - que por sinal gera bons momentos como a cena em que um garçom francês demora para trazer a conta. Mas, na minha opinião, esse não é o ponto forte do filme e sim o gatilho para que possamos entender a profundidade do texto de DeWitt. Veja, aqui temos uma personagem imponente que costuma intimidar as pessoas sem precisar falar nada, sendo apenas imprevisível, que busca se relacionar com um filho que se anula de diversas formas para tentar se moldar a algo que agrade o ego inflado de sua mãe - mesmo que soe estereotipado em um primeiro olhar, essa construção tem um sentido verdadeiro, uma marca intensa, difícil de lidar e que quando desvendada, conecta vários pontos e faz tudo ganhar outro sentido. Isso sem falar na coragem de Jacobs e de DeWitt em entregar um final digno de um bom premiado drama independente ao som de uma trilha sonora belíssima e tendo Paris como cenário.
“Saída à Francesa” não vai agradar grande parte daquela audiência que vai cair na péssima estratégia de marketing da Sony - o filme não é nada daquilo que está sendo vendido: do nome engraçadinho ao tom comercial do trailer. O filme é sim uma obra das mais competentes, que sabe perfeitamente equilibrar a loucura aparente com a dor mais introspectiva de Francis sem soar clichê. Você vai encontrar ao longo da trama momentos engraçados, outros tocantes e até alguns poucos mais angustiantes - talvez seja assim o melhor caminho para definir a sanidade de uma personagem que pouco sabe sobre companheirismo, mas que ao entender o significado de ser adulto, aprende o que realmente importa na vida.
Vale o seu play!
Antes de continuarmos eu preciso te passar duas informações importantes: só assista "Saída à Francesa" se você gostar de filmes "estilo Woody Allen" e também saiba que esse filme não se trata de uma comédia romântica, muito pelo contrário, para mim, a história se encaixa muito mais como um drama de relações e, aí sim, com bons elementos de comédia - a famosa "dramédia". Dito isso, fica muito simples de analisar o conceito narrativo do filme dirigido pelo Azazel Jacobs (de "The Lovers") já que mesmo com escolhas narrativas que soam próximas do absurdo, é possível se divertir e ainda refletir sobre toda aquela atmosfera introspectiva que envolve a protagonistaFrances Price (uma Michelle Pfeiffer impagável - inclusive indicada ao Globo de Ouro por essa performance em 2021).
Frances (Michelle Pfeiffer) é uma socialite viúva e sem dinheiro que mora em Manhattan, cujo marido morreu há quase duas décadas. Com sua herança evaporando, ela recolhe o último de seus bens e resolve viver seus dias de solidão anonimamente em um apartamento emprestado em Paris, acompanhada por seu filho Malcolm (Lucas Hedge) e de um gato de estimação. Confira o trailer:
Baseado no livro homônimo de Patrick DeWitt (que também escreve o roteiro), "Saída à Francesa" é basicamente um estudo de caso psicológico de uma mulher marcada pelo seu passado que é incapaz de se relacionar com um presente completamente diferente do que ela jamais sonhou. Embora o filme possua uma narrativa bastante peculiar, com um ritmo até mais cadenciado, é impressionante como a trama usa do "insano" para nos envolver emocionalmente e nos mostrar que mesmo a partir de uma personagem essencialmente egoísta e inconsequente, existe um ser humano sensível que, infelizmente, não soube lidar com a melancolia e com a dor de ter priorizado a superficialidade do material para preencher seu vazio existencial.
Francis tem uma aura lunática, fato - que por sinal gera bons momentos como a cena em que um garçom francês demora para trazer a conta. Mas, na minha opinião, esse não é o ponto forte do filme e sim o gatilho para que possamos entender a profundidade do texto de DeWitt. Veja, aqui temos uma personagem imponente que costuma intimidar as pessoas sem precisar falar nada, sendo apenas imprevisível, que busca se relacionar com um filho que se anula de diversas formas para tentar se moldar a algo que agrade o ego inflado de sua mãe - mesmo que soe estereotipado em um primeiro olhar, essa construção tem um sentido verdadeiro, uma marca intensa, difícil de lidar e que quando desvendada, conecta vários pontos e faz tudo ganhar outro sentido. Isso sem falar na coragem de Jacobs e de DeWitt em entregar um final digno de um bom premiado drama independente ao som de uma trilha sonora belíssima e tendo Paris como cenário.
“Saída à Francesa” não vai agradar grande parte daquela audiência que vai cair na péssima estratégia de marketing da Sony - o filme não é nada daquilo que está sendo vendido: do nome engraçadinho ao tom comercial do trailer. O filme é sim uma obra das mais competentes, que sabe perfeitamente equilibrar a loucura aparente com a dor mais introspectiva de Francis sem soar clichê. Você vai encontrar ao longo da trama momentos engraçados, outros tocantes e até alguns poucos mais angustiantes - talvez seja assim o melhor caminho para definir a sanidade de uma personagem que pouco sabe sobre companheirismo, mas que ao entender o significado de ser adulto, aprende o que realmente importa na vida.
Vale o seu play!
Se “Halston” é a versão biográfica hollywoodiana de um ícone da moda para o streaming, sem a menor dúvida que "Saint Laurent" cumpre o mesmo papel para o cinema independente - e essa analogia vai além do conteúdo, já que a forma com que o diretor francês Bertrand Bonello (de "Coma") cobre um recorte importante da carreira do estilista é pouco convencional e extremamente autoral. Certamente que as escolhas estéticas e narrativas do diretor vão afastar parte da audiência, porém, para o amante da moda, de cinebiografias e, principalmente, para quem gosta de filmes mais autorais, posso dizer que você está prestes a assistir um excelente filme!
O filme basicamente acompanha um recorte da vida de Yves Saint Laurent, especificamente entre os anos de 1967 e 1976, período em que, mesmo frágil emocionalmente, o famoso estilista estava no auge de sua carreira. confira o trailer:
Não por acaso "Saint Laurent" ostenta o selo de "Seleção Oficial" no Festival de Cannes 2014 e foi indicado pela França para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2015. O curioso, porém, é que essa não é a única obra sobre o estilista que foi produzida e reconhecida naquele ano de 2014 - enquanto "Saint Laurent", de Bonello, insiste em explorar os aspectos mais sombrios da personalidade do protagonista."Yves Saint Laurent", de Jalil Lespert, uma versão "autorizada" por Pierre Bergé, companheiro do estilista que faleceu em 2008, foca na vida do jovem que vai se transformando na velocidade de seu prestígio e através da tumultuada relação com o próprio Bergé.
Veja, aqui o roteiro se propõe a mostrar o reinado de Saint Laurent no mundo da alta costura francesa sem se aprofundar em como ele conquistou esse status. O valor da obra está no processo criativo, nos relacionamentos amorosos, nas dificuldades emocionais e nas polêmicas com o marido e empresário Pierre Berger, mas sem levantar nenhuma bandeira ou provocar grandes discussões sobre os caminhos que o estilista escolheu durante a carreira - o que acaba distanciando a narrativa de "Halston", por exemplo. Em compensação, o recorte do filme é verdadeiramente impactante visualmente - seja pela maneira como o protagonista criava ou pela sua postura íntima em relação aos seus parceiros e amigos.
Propositalmente cadenciado e sem respeitar a linearidade das passagens retratadas, "Saint Laurent" vai incomodar os menos dispostos a encarar uma narrativa quase experimental. O primeiro ato, de fato, é o menos chamativo, porém ao entender a proposta do diretor, tudo muda de figura e nos conectamos com o personagem maravilhosamente interpretado pelo Gaspard Ulliel (de "Era uma segunda vez") - performance que lhe rendeu inúmeros prêmios e indicações, inclusive para o "Oscar Francês", o César Awards. Dito isso, é preciso comentar que o filme cresce muito quando se apoia na ruína íntima de Yves Saint Laurent (é onde se aproxima de Halston - por isso a comparação inicial), principalmente nos instantes em que a notoriedade, o dinheiro, a bajulação e o reconhecimento, já não eram suficientes para torna-lo uma pessoa feliz e realizada - por incrível que pareça!
Vale seu play!
Se “Halston” é a versão biográfica hollywoodiana de um ícone da moda para o streaming, sem a menor dúvida que "Saint Laurent" cumpre o mesmo papel para o cinema independente - e essa analogia vai além do conteúdo, já que a forma com que o diretor francês Bertrand Bonello (de "Coma") cobre um recorte importante da carreira do estilista é pouco convencional e extremamente autoral. Certamente que as escolhas estéticas e narrativas do diretor vão afastar parte da audiência, porém, para o amante da moda, de cinebiografias e, principalmente, para quem gosta de filmes mais autorais, posso dizer que você está prestes a assistir um excelente filme!
O filme basicamente acompanha um recorte da vida de Yves Saint Laurent, especificamente entre os anos de 1967 e 1976, período em que, mesmo frágil emocionalmente, o famoso estilista estava no auge de sua carreira. confira o trailer:
Não por acaso "Saint Laurent" ostenta o selo de "Seleção Oficial" no Festival de Cannes 2014 e foi indicado pela França para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2015. O curioso, porém, é que essa não é a única obra sobre o estilista que foi produzida e reconhecida naquele ano de 2014 - enquanto "Saint Laurent", de Bonello, insiste em explorar os aspectos mais sombrios da personalidade do protagonista."Yves Saint Laurent", de Jalil Lespert, uma versão "autorizada" por Pierre Bergé, companheiro do estilista que faleceu em 2008, foca na vida do jovem que vai se transformando na velocidade de seu prestígio e através da tumultuada relação com o próprio Bergé.
Veja, aqui o roteiro se propõe a mostrar o reinado de Saint Laurent no mundo da alta costura francesa sem se aprofundar em como ele conquistou esse status. O valor da obra está no processo criativo, nos relacionamentos amorosos, nas dificuldades emocionais e nas polêmicas com o marido e empresário Pierre Berger, mas sem levantar nenhuma bandeira ou provocar grandes discussões sobre os caminhos que o estilista escolheu durante a carreira - o que acaba distanciando a narrativa de "Halston", por exemplo. Em compensação, o recorte do filme é verdadeiramente impactante visualmente - seja pela maneira como o protagonista criava ou pela sua postura íntima em relação aos seus parceiros e amigos.
Propositalmente cadenciado e sem respeitar a linearidade das passagens retratadas, "Saint Laurent" vai incomodar os menos dispostos a encarar uma narrativa quase experimental. O primeiro ato, de fato, é o menos chamativo, porém ao entender a proposta do diretor, tudo muda de figura e nos conectamos com o personagem maravilhosamente interpretado pelo Gaspard Ulliel (de "Era uma segunda vez") - performance que lhe rendeu inúmeros prêmios e indicações, inclusive para o "Oscar Francês", o César Awards. Dito isso, é preciso comentar que o filme cresce muito quando se apoia na ruína íntima de Yves Saint Laurent (é onde se aproxima de Halston - por isso a comparação inicial), principalmente nos instantes em que a notoriedade, o dinheiro, a bajulação e o reconhecimento, já não eram suficientes para torna-lo uma pessoa feliz e realizada - por incrível que pareça!
Vale seu play!
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.
Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:
O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!
O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!
Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!
"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.
Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:
O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!
O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!
Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!
Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.
Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:
Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.
Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.
Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.
Vale seu play!
Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.
Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:
Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.
Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.
Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.
Vale seu play!
Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.
Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:
Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.
A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade.
"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.
Vale seu play!
Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.
Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:
Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.
A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade.
"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.
Vale seu play!
"Segredos Oficiais" é um daqueles dramas políticos de revirar o estômago, ainda mais por se tratar de um história real e muito recente. Seguindo a história por trás do excelente "Vice", que mostra o lado americano, ou melhor: os bastidores da decisão que levaram o EUA atacar o Iraque pós 11 de setembro; esse filme do diretor sul-africano Gavin Hood (de X-Men Origens: Wolverine), acompanha a história de Katherine Gun (Keira Knightley), uma agente britânica da GCHQ (ou Government Communications Headquarters) que atuava, basicamente, coletando informações como tradutora de mandarim. Porém, em 2003, ela e seus colegas receberam ordens através de um e-mail para que buscassem informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque. Reconhecendo a ilegalidade daquela ordem e a maneira manipuladora como Tony Blair informava os cidadãos britânicos sobre sua relação com Bush, Katherine resolveu divulgar esse e-mail através do “The Observer”, quebrando assim o "Ato de Segredos Oficiais" - o que resultou em um processo que colocou em risco sua vida, sua carreira e seu casamento! Confira o trailer:
Talvez sem o peso de tantas informações bastante complexas ou até de uma cadeia de intrigas tão bem estruturadas como em "O Relatório", "Segredos Oficiais" entrega um filme interessante, dinâmico e muito bem realizado - uma excelente opção para quem gosta do gênero. Talvez o grande mérito do filme seja o de humanizar a protagonista, mostrando suas fraquezas e dúvidas, ao mesmo tempo em que age baseada em seus princípios e se enche de coragem para vazar o documento. Mesmo sem grandes inovações narrativas, temos um roteiro equilibrado e que não se preocupa com alegorias visuais e sim em traçar uma linha temporal coerente com os acontecimentos que marcaram a história e, principalmente, transformaram a vida de Katherine Gun durante pouco mais de um ano! Vale seu play, com a mais absoluta certeza!
Apesar de se tratar de um filme baseado em histórias reais e relativamente recente, "Segredos Oficiais" resiste ao impulso de idealizar seus heróis ou exacerbar um patriotismo unilateral pautado em uma bandeira pacifista. O fato de vermos Katherine insegura em diversos momentos ou de se arrepender de suas decisões, ao mesmo tempo em que acompanhamos as falhas de revisão do próprio “The Observer” ao publicar a matéria do jornalista Martin Bright (Matt Smith) que se delicia com o meteórico sucesso, mas logo depois é questionado sobre a veracidade da sua reportagem ou até quando Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado que se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de Gun na tentativa de desqualificar a procuradoria nos tribunais. Essa humanização dos personagens, mostrando suas falhas e egos ajuda demais na identificação com o público e cria uma tensão quase documental durante a apresentação dos fatos.
Gavin Hood faz o seu arroz com feijão de uma forma muito competente e acredito que sua familiaridade com a atuação tenha contribuído para o excelente trabalho que realizou com todo o elenco. Keira Knightley e Ralph Fiennes chamam atenção por uma performance sem nenhum exagero (acreditem se quiser). O conceito estético que Hood imprimiu também me agradou: misturar ficção com imagens de arquivo da época sempre funciona, mas a forma como ele integrou na narrativa ficou extremamente natural - até quando vem um tom mais crítico sobre meios de comunicação que colocam suas ideologias e interesses acima da própria notícia ou que mudam seus discursos de acordo com a quantidade de dinheiro e exposição que uma matéria pode gerar.
O filme chegou a concorrer ao prêmio de melhor filme no Festival de Hamburgo em 2019, o que chancela a qualidade de "Segredos Oficiais". Vale muito pela história, pela qualidade da produção e do elenco. Um ótimo entretenimento e um material quase complementar ao já citado "Vice" do Adam McKay.
"Segredos Oficiais" é um daqueles dramas políticos de revirar o estômago, ainda mais por se tratar de um história real e muito recente. Seguindo a história por trás do excelente "Vice", que mostra o lado americano, ou melhor: os bastidores da decisão que levaram o EUA atacar o Iraque pós 11 de setembro; esse filme do diretor sul-africano Gavin Hood (de X-Men Origens: Wolverine), acompanha a história de Katherine Gun (Keira Knightley), uma agente britânica da GCHQ (ou Government Communications Headquarters) que atuava, basicamente, coletando informações como tradutora de mandarim. Porém, em 2003, ela e seus colegas receberam ordens através de um e-mail para que buscassem informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque. Reconhecendo a ilegalidade daquela ordem e a maneira manipuladora como Tony Blair informava os cidadãos britânicos sobre sua relação com Bush, Katherine resolveu divulgar esse e-mail através do “The Observer”, quebrando assim o "Ato de Segredos Oficiais" - o que resultou em um processo que colocou em risco sua vida, sua carreira e seu casamento! Confira o trailer:
Talvez sem o peso de tantas informações bastante complexas ou até de uma cadeia de intrigas tão bem estruturadas como em "O Relatório", "Segredos Oficiais" entrega um filme interessante, dinâmico e muito bem realizado - uma excelente opção para quem gosta do gênero. Talvez o grande mérito do filme seja o de humanizar a protagonista, mostrando suas fraquezas e dúvidas, ao mesmo tempo em que age baseada em seus princípios e se enche de coragem para vazar o documento. Mesmo sem grandes inovações narrativas, temos um roteiro equilibrado e que não se preocupa com alegorias visuais e sim em traçar uma linha temporal coerente com os acontecimentos que marcaram a história e, principalmente, transformaram a vida de Katherine Gun durante pouco mais de um ano! Vale seu play, com a mais absoluta certeza!
Apesar de se tratar de um filme baseado em histórias reais e relativamente recente, "Segredos Oficiais" resiste ao impulso de idealizar seus heróis ou exacerbar um patriotismo unilateral pautado em uma bandeira pacifista. O fato de vermos Katherine insegura em diversos momentos ou de se arrepender de suas decisões, ao mesmo tempo em que acompanhamos as falhas de revisão do próprio “The Observer” ao publicar a matéria do jornalista Martin Bright (Matt Smith) que se delicia com o meteórico sucesso, mas logo depois é questionado sobre a veracidade da sua reportagem ou até quando Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado que se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de Gun na tentativa de desqualificar a procuradoria nos tribunais. Essa humanização dos personagens, mostrando suas falhas e egos ajuda demais na identificação com o público e cria uma tensão quase documental durante a apresentação dos fatos.
Gavin Hood faz o seu arroz com feijão de uma forma muito competente e acredito que sua familiaridade com a atuação tenha contribuído para o excelente trabalho que realizou com todo o elenco. Keira Knightley e Ralph Fiennes chamam atenção por uma performance sem nenhum exagero (acreditem se quiser). O conceito estético que Hood imprimiu também me agradou: misturar ficção com imagens de arquivo da época sempre funciona, mas a forma como ele integrou na narrativa ficou extremamente natural - até quando vem um tom mais crítico sobre meios de comunicação que colocam suas ideologias e interesses acima da própria notícia ou que mudam seus discursos de acordo com a quantidade de dinheiro e exposição que uma matéria pode gerar.
O filme chegou a concorrer ao prêmio de melhor filme no Festival de Hamburgo em 2019, o que chancela a qualidade de "Segredos Oficiais". Vale muito pela história, pela qualidade da produção e do elenco. Um ótimo entretenimento e um material quase complementar ao já citado "Vice" do Adam McKay.
Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!
O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:
Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.
O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.
"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!
Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!
O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:
Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.
O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.
"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:
Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.
Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!
Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!
"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:
Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.
Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!
Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!
Se "Malcolm e Marie", do diretor Sam Levinson, se apoia em uma narrativa extremamente realista para discutir as relações entre casais, "Sempre em Frente" usa do mesmo conceito para explorar as relações familiares, focando em uma dinâmica bastante curiosa entre um tio e seu sobrinho de 9 anos. Aqui o talentoso diretor Mike Mills (de "Mulheres do Século 20") usa de toda a sua sensibilidade para traçar alguns paralelos entre a literatura e a realidade, entre a vida adulta e a de uma criança, mas, principalmente, entre o passado (e suas memórias) com o futuro (e suas expectativas).
"C’mon C’mon" (no original) acompanha Johnny (Joaquin Phoenix), um jornalista de meia-idade, que quando tem de tomar conta de seu sobrinho, Jesse (Woody Norman), embarca em uma viagem através do país entrevistando crianças sobre o que elas acham de suas vidas e do mundo em que vivem. Confira o trailer:
Definitivamente "Sempre em Frente" não é um filme que vai agradar a todos. Sua narrativa é bastante cadenciada e que ao se apropriar de um conceito (inteligente) que mistura realidade com ficção, vai criando camadas que poucas pessoas estarão dispostas a explorar - digo isso, pois mesmo tendo o "direito de fala" como fio condutor da história, nem tudo é dito. Tanto a direção quanto o roteiro do próprio Mills respeitam o silêncio, os sentimentos e as inúmeras sensações como saudade, dor e solidão, para se conectar com a audiência. Se temos a impressão de estarmos presenciando uma espécie de ensaio sobre as memórias marcantes da nossa infância, isso não necessariamente nos vai garantir uma jornada tranquila como audiência.
Veja, no prólogo entendemos que Johnny tem uma relação marcada por discussões com a irmã, Viv (Gaby Hoffman) - com quem não falava desde a morte de sua mãe, uma ano antes. Já Viv deixa claro que a maternidade não é uma viagem das mais tranquilas para ela, que é cansativa, difícil e desafiadora - ainda mais com um marido com sérios problemas psiquiátricos e com as memórias de uma relação conturbada com a mãe. Pelo lado da criança o que vemos é uma certa confusão, uma percepção crua e dolorida das lembranças recentes, além de uma dependência afetiva enorme. Quando o diretor de fotografia, Robbie Ryan (de "A Favorita" e "História de um Casamento"), enquadra isso tudo de uma forma magistral, com planos belíssimos em preto e branco que nos remetem aos mais profundos sentimentos, temos, de fato, um filme que vai muito além do que vemos na tela.
O trio de atores, Joaquin Phoenix, Woody Norman e Gaby Hoffman, estão simplesmente impecáveis - nas suas dores e alegrias de continuar vivendo. E é esse o princípio que Mills fortalece na narrativa ao colocar na trama a voz de crianças reais que discursam sobre suas visões de mundo, de futuro. A sinceridade desses depoimentos, lindamente inseridos e conectados por uma montagem muito competente da Jennifer Vecchiarello, cria um o mood reflexivo sobre a relação honesta entre os personagens - que normalmente não encontramos em qualquer filme.
Sim, "Sempre em Frente" vai te causar um certo desconforto, vai te provocar muitas reflexões e, pode apostar, alguma nostalgia. Como o escritor Charles Dickens defendeu em alguns de seus contos, as grandes memórias não são criadas, necessariamente, por momentos de plena felicidade e é exatamente isso que a obra de Mike Mills tenta equilibrar ao defender que mesmo a partir dessas experiências, algo bom e relevante pode ser construído ou recuperado para que a vida, nem sempre fácil, continue fazendo algum sentido.
Vale o seu play, mas tenha em mente que não se trata de um filme fácil.
Ps: Mesmo o filme tendo uma carreira de sucesso nos festivais e premiações pelo mundo, é inegável uma certa decepção por não tem atingido um nível de Oscar ou por ter tido apenas uma indicação ao BAFTA (Melhor Ator Coadjuvante para Woody Norman).
Se "Malcolm e Marie", do diretor Sam Levinson, se apoia em uma narrativa extremamente realista para discutir as relações entre casais, "Sempre em Frente" usa do mesmo conceito para explorar as relações familiares, focando em uma dinâmica bastante curiosa entre um tio e seu sobrinho de 9 anos. Aqui o talentoso diretor Mike Mills (de "Mulheres do Século 20") usa de toda a sua sensibilidade para traçar alguns paralelos entre a literatura e a realidade, entre a vida adulta e a de uma criança, mas, principalmente, entre o passado (e suas memórias) com o futuro (e suas expectativas).
"C’mon C’mon" (no original) acompanha Johnny (Joaquin Phoenix), um jornalista de meia-idade, que quando tem de tomar conta de seu sobrinho, Jesse (Woody Norman), embarca em uma viagem através do país entrevistando crianças sobre o que elas acham de suas vidas e do mundo em que vivem. Confira o trailer:
Definitivamente "Sempre em Frente" não é um filme que vai agradar a todos. Sua narrativa é bastante cadenciada e que ao se apropriar de um conceito (inteligente) que mistura realidade com ficção, vai criando camadas que poucas pessoas estarão dispostas a explorar - digo isso, pois mesmo tendo o "direito de fala" como fio condutor da história, nem tudo é dito. Tanto a direção quanto o roteiro do próprio Mills respeitam o silêncio, os sentimentos e as inúmeras sensações como saudade, dor e solidão, para se conectar com a audiência. Se temos a impressão de estarmos presenciando uma espécie de ensaio sobre as memórias marcantes da nossa infância, isso não necessariamente nos vai garantir uma jornada tranquila como audiência.
Veja, no prólogo entendemos que Johnny tem uma relação marcada por discussões com a irmã, Viv (Gaby Hoffman) - com quem não falava desde a morte de sua mãe, uma ano antes. Já Viv deixa claro que a maternidade não é uma viagem das mais tranquilas para ela, que é cansativa, difícil e desafiadora - ainda mais com um marido com sérios problemas psiquiátricos e com as memórias de uma relação conturbada com a mãe. Pelo lado da criança o que vemos é uma certa confusão, uma percepção crua e dolorida das lembranças recentes, além de uma dependência afetiva enorme. Quando o diretor de fotografia, Robbie Ryan (de "A Favorita" e "História de um Casamento"), enquadra isso tudo de uma forma magistral, com planos belíssimos em preto e branco que nos remetem aos mais profundos sentimentos, temos, de fato, um filme que vai muito além do que vemos na tela.
O trio de atores, Joaquin Phoenix, Woody Norman e Gaby Hoffman, estão simplesmente impecáveis - nas suas dores e alegrias de continuar vivendo. E é esse o princípio que Mills fortalece na narrativa ao colocar na trama a voz de crianças reais que discursam sobre suas visões de mundo, de futuro. A sinceridade desses depoimentos, lindamente inseridos e conectados por uma montagem muito competente da Jennifer Vecchiarello, cria um o mood reflexivo sobre a relação honesta entre os personagens - que normalmente não encontramos em qualquer filme.
Sim, "Sempre em Frente" vai te causar um certo desconforto, vai te provocar muitas reflexões e, pode apostar, alguma nostalgia. Como o escritor Charles Dickens defendeu em alguns de seus contos, as grandes memórias não são criadas, necessariamente, por momentos de plena felicidade e é exatamente isso que a obra de Mike Mills tenta equilibrar ao defender que mesmo a partir dessas experiências, algo bom e relevante pode ser construído ou recuperado para que a vida, nem sempre fácil, continue fazendo algum sentido.
Vale o seu play, mas tenha em mente que não se trata de um filme fácil.
Ps: Mesmo o filme tendo uma carreira de sucesso nos festivais e premiações pelo mundo, é inegável uma certa decepção por não tem atingido um nível de Oscar ou por ter tido apenas uma indicação ao BAFTA (Melhor Ator Coadjuvante para Woody Norman).
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!