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Sergio

Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.

Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:

De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!

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Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.

Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:

De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!

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Seven Seconds

Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".

A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:

Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.

O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!

"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.

Vale muito!

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Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".

A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:

Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.

O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!

"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.

Vale muito!

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Shame

"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca  pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de 

Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:

Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.

É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.

O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!

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"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca  pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de 

Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:

Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.

É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.

O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!

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Sharp Objects

Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!

"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.

A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido.  Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!

Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.

PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!! 

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Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!

"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.

A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido.  Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!

Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.

PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!! 

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Sharper

Sharper

"Sharper" (que no Brasil chegou acompanhado do redundante subtítulo "Uma Vida de Trapaças") é um excelente entretenimento - daqueles que nem pensar muito é preciso! Divertido e envolvente, o filme do diretor Benjamin Caron (da série "Sherlock") usa e abusa dos "plot twists"(ou das reviravoltas, como preferir) para contar histórias de golpistas e, claro, dos seus golpes, pautado em fortes elementos dramáticos com um leve toque de suspense policial - e é justamente isso que o distancia do premiado "Trapaça" do David O. Russell e o aproxima de "A Grande Mentira" do Bill Condon.

Dividido em capítulos, onde um personagem está sempre em evidência, mas onde ninguém é quem diz ser, "Sharper: Uma Vida de Trapaças" pode ser definido como thriller neo-noir sobre os segredos e as mentiras de golpistas profissionais que transitam entre os apartamentos mais luxuosos e os bares mais decadentes da cidade de Nova York, disputando as maiores riquezas e o poder de controlar jogos de alto risco de ambição, ganância, luxúria e inveja. Assista o trailer (em inglês):

Muito bem montado pelo Yan Miles (vencedor de dois Emmys por "The Crown" e por "Sherlock"), eu diria que um dos maiores acertos do roteiro do Brian Gatewood e do Alessandro Tanaka é o de estabelecer seu propósito logo de cara: todos são suspeitos até que se prove o contrário. O interessante, no entanto, é que a trama não precisa se apoiar em um evento especifico (um grande assalto, por exemplo) para nos fisgar, já que são os personagens que vão se conectando com a história de acordo com as experiências que eles mesmos estão vivendo em determinado momento de suas vidas - essa estratégia narrativa é empolgante, pois nos faz sempre buscar um ponto de conexão para que tudo venha fazer sentido, mesmo que inicialmente pareça difícil de perceber que isso seja possível. A forma como as pistas são entregues, em doses bem homeopáticas e fantasiadas de relações humanas, ajuda muito na nossa experiência como audiência.

O elenco de peso que conta com Sebastian Stan, Justice Smith, Briana Middleton, Julianne Moore e até com uma participação muito especial de John Lithgow, só valoriza a dinâmica impressa pelo Benjamin Caron - reparem como tudo vai fazendo sentido, como os nós vão sendo desatados e como as performances dos atores nos conquistam, fazendo com que, mesmo quando o óbvio entra em cena, ainda assim tudo seja muito intrigante.

É fato que em "Sharper: Uma Vida de Trapaças" encontramos algumas passagens, digamos, não tão originais assim - como se ler um livro de mistério barato depois de devorar um clássico de Agatha Christie soe familiar demais! Mas te garanto: essa sensação não vai te impedir de curtir as inúmeras reviravoltas que a história oferece, muito menos diminuir sua ansiedade de chegar ao final e assim entender onde tudo isso começou - e aqui fica minha única critica ao roteiro: se ele terminasse 10 minutos antes, provavelmente, seria muito mais provocativo (e, obviamente, menos expositivo) do que pareceu.

Vale muito o seu play! Diversão (despretensiosa) garantida!

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"Sharper" (que no Brasil chegou acompanhado do redundante subtítulo "Uma Vida de Trapaças") é um excelente entretenimento - daqueles que nem pensar muito é preciso! Divertido e envolvente, o filme do diretor Benjamin Caron (da série "Sherlock") usa e abusa dos "plot twists"(ou das reviravoltas, como preferir) para contar histórias de golpistas e, claro, dos seus golpes, pautado em fortes elementos dramáticos com um leve toque de suspense policial - e é justamente isso que o distancia do premiado "Trapaça" do David O. Russell e o aproxima de "A Grande Mentira" do Bill Condon.

Dividido em capítulos, onde um personagem está sempre em evidência, mas onde ninguém é quem diz ser, "Sharper: Uma Vida de Trapaças" pode ser definido como thriller neo-noir sobre os segredos e as mentiras de golpistas profissionais que transitam entre os apartamentos mais luxuosos e os bares mais decadentes da cidade de Nova York, disputando as maiores riquezas e o poder de controlar jogos de alto risco de ambição, ganância, luxúria e inveja. Assista o trailer (em inglês):

Muito bem montado pelo Yan Miles (vencedor de dois Emmys por "The Crown" e por "Sherlock"), eu diria que um dos maiores acertos do roteiro do Brian Gatewood e do Alessandro Tanaka é o de estabelecer seu propósito logo de cara: todos são suspeitos até que se prove o contrário. O interessante, no entanto, é que a trama não precisa se apoiar em um evento especifico (um grande assalto, por exemplo) para nos fisgar, já que são os personagens que vão se conectando com a história de acordo com as experiências que eles mesmos estão vivendo em determinado momento de suas vidas - essa estratégia narrativa é empolgante, pois nos faz sempre buscar um ponto de conexão para que tudo venha fazer sentido, mesmo que inicialmente pareça difícil de perceber que isso seja possível. A forma como as pistas são entregues, em doses bem homeopáticas e fantasiadas de relações humanas, ajuda muito na nossa experiência como audiência.

O elenco de peso que conta com Sebastian Stan, Justice Smith, Briana Middleton, Julianne Moore e até com uma participação muito especial de John Lithgow, só valoriza a dinâmica impressa pelo Benjamin Caron - reparem como tudo vai fazendo sentido, como os nós vão sendo desatados e como as performances dos atores nos conquistam, fazendo com que, mesmo quando o óbvio entra em cena, ainda assim tudo seja muito intrigante.

É fato que em "Sharper: Uma Vida de Trapaças" encontramos algumas passagens, digamos, não tão originais assim - como se ler um livro de mistério barato depois de devorar um clássico de Agatha Christie soe familiar demais! Mas te garanto: essa sensação não vai te impedir de curtir as inúmeras reviravoltas que a história oferece, muito menos diminuir sua ansiedade de chegar ao final e assim entender onde tudo isso começou - e aqui fica minha única critica ao roteiro: se ele terminasse 10 minutos antes, provavelmente, seria muito mais provocativo (e, obviamente, menos expositivo) do que pareceu.

Vale muito o seu play! Diversão (despretensiosa) garantida!

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Shirley

"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.

Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):

Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.

Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.

O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!

A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.

Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.

Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".

Assista Agora

"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.

Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):

Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.

Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.

O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!

A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.

Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.

Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".

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Sicilian Ghost Story

Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.

A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.

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Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.

A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.

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Slow Horses

Imagine se o Dr. House tivesse a missão de recuperar agentes do MI5 a partir de uma estrutura precária, mas repleta de talentos incompreendidos! É mais ou menos isso que você vai encontrar em "Slow Horses" e com o bônus desse "Dr. House" ser um Gary Oldman no melhor da sua forma! Lançada em 2022 pela Apple TV+, aqui temos uma série de espionagem que mistura tensão e drama com uma boa dose do humor negro inglês. Baseada no romance de Mick Herron, "Slow Horses" oferece uma visão diferenciada do contra-terrorismo, focando em um grupo de agentes que trabalham nessa divisão, digamos, menos glamourosa do Serviço Secreto Britânico. Com uma narrativa realmente cativante, a série se apropria de toda aquela atmosfera angustiante e de urgência de "The Night Manager" com aquele tom menos realista de "Killing Eve", para oferecer uma experiência igualmente envolvente e cheia de reviravoltas muito divertidas para quem gosta do gênero. Um ótimo entretenimento!

A trama, basicamente, segue Jackson Lamb (Gary Oldman), um espião veterano, cínico e desiludido, que lidera uma divisão do MI5, a Slough House, onde são enviados os agentes que cometeram erros embaraçosos para a instituição. Esta equipe é composta por agentes que, por diferentes razões, foram relegados a tarefas tediosas e aparentemente sem importância. No entanto, quando um jovem é sequestrado e uma conspiração maior começa a se desdobrar, Lamb e sua equipe têm a chance de provar seu valor para então redimir suas carreiras. Confira o trailer:

Após o play você vai encontrar uma mistura de tensão e humor, equilibrando habilmente os elementos de suspense e drama com ótimos momentos de alívios cômicos. Essa dinâmica demora um certo tempo para fazer sentido já que a série parece não se levar muito a sério - o que, vamos admitir, é um refresco para um gênero de espionagem desgastado e que frequentemente prefere o sombrio e o intenso para contar a "mesma história". Desculpe a redundância, mas é como se comparássemos "Greys Anatomy" ou "E.R." com "House" ou "The Good Doctor". O roteiro, claro, é um dos pontos fortes de "Slow Horses" - adaptado de uma série de livros de espionagem altamente aclamados, a escrita é afiada, os diálogos inteligentes e as tramas muito bem construídos - a ideia é que cada temporada cubra algum volume da versão literária. Temas como redenção e lealdade nos proporcionam uma reflexão mais profunda sobre os sacrifícios e as desilusões desses agentes desde "Missão Impossível" ou "007", mas aqui, com sua narrativa melhor estruturada, ficamos engajados mesmo entendendo que os mistérios que se desenrolam gradualmente (e de maneira satisfatória) soem um pouco absurdos demais (embora nesse mundo que vivemos, nada tão absurdo surpreende mais).

A direção de James Hawes (de "Uma Vida") e de Jeremy Lovering (de "Sherlock"), na primeira temporada, dão o tom do que se segue nas demais. Ela é precisa, utilizando uma fotografia de uma Londres cinzenta e chuvosa, que captura toda a atmosfera opressiva e às vezes deprimente do Slough House. Os cenários são cuidadosamente escolhidos para refletir toda decadência e a marginalização dos personagens - e isso é muito bacana, basta imaginar um agente do MI5 revirando um saco de lixo de um um suspeito, dentro de um escritório que mais parece uma casa abandonada. Gary Oldman, é peça chave nessa conexão entre o real e o absurdo - ele está simplesmente magistral. Ele traz uma profundidade e complexidade ao personagem, equilibrando seu cinismo mordaz com momentos de vulnerabilidade impressionantes. Oldman é capaz de transmitir o peso do passado de Lamb e sua desilusão com a espionagem, ao mesmo tempo em que infunde o personagem com um humor ácido cativante. O elenco de apoio também é excepcional, especialmente com Jack Lowden como o ambicioso e determinado River Cartwright, e com Kristin Scott Thomas como a impassível e poderosa Diana Taverner.

"Slow Horses" pode até parecer ter um ritmo mais lento em certos momentos, especialmente nas subtramas que exploram a vida pessoal dos personagens, mas é justamente essa natureza cínica e desencantada, personificada fortemente por Lamb, que transforma um dos aspectos mais distintos e interessantes da série, em uma jornada de entretenimento realmente deliciosa. "Slow Horses", com sua abordagem diferente sobre temas relevantes como corrupção e política, mostra ser mais inteligente e perspicaz do que muitas produções que foram se perdendo ao longo dos anos dentro de sua própria pretensão de ser realista demais!

Vale muito o seu play!

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Imagine se o Dr. House tivesse a missão de recuperar agentes do MI5 a partir de uma estrutura precária, mas repleta de talentos incompreendidos! É mais ou menos isso que você vai encontrar em "Slow Horses" e com o bônus desse "Dr. House" ser um Gary Oldman no melhor da sua forma! Lançada em 2022 pela Apple TV+, aqui temos uma série de espionagem que mistura tensão e drama com uma boa dose do humor negro inglês. Baseada no romance de Mick Herron, "Slow Horses" oferece uma visão diferenciada do contra-terrorismo, focando em um grupo de agentes que trabalham nessa divisão, digamos, menos glamourosa do Serviço Secreto Britânico. Com uma narrativa realmente cativante, a série se apropria de toda aquela atmosfera angustiante e de urgência de "The Night Manager" com aquele tom menos realista de "Killing Eve", para oferecer uma experiência igualmente envolvente e cheia de reviravoltas muito divertidas para quem gosta do gênero. Um ótimo entretenimento!

A trama, basicamente, segue Jackson Lamb (Gary Oldman), um espião veterano, cínico e desiludido, que lidera uma divisão do MI5, a Slough House, onde são enviados os agentes que cometeram erros embaraçosos para a instituição. Esta equipe é composta por agentes que, por diferentes razões, foram relegados a tarefas tediosas e aparentemente sem importância. No entanto, quando um jovem é sequestrado e uma conspiração maior começa a se desdobrar, Lamb e sua equipe têm a chance de provar seu valor para então redimir suas carreiras. Confira o trailer:

Após o play você vai encontrar uma mistura de tensão e humor, equilibrando habilmente os elementos de suspense e drama com ótimos momentos de alívios cômicos. Essa dinâmica demora um certo tempo para fazer sentido já que a série parece não se levar muito a sério - o que, vamos admitir, é um refresco para um gênero de espionagem desgastado e que frequentemente prefere o sombrio e o intenso para contar a "mesma história". Desculpe a redundância, mas é como se comparássemos "Greys Anatomy" ou "E.R." com "House" ou "The Good Doctor". O roteiro, claro, é um dos pontos fortes de "Slow Horses" - adaptado de uma série de livros de espionagem altamente aclamados, a escrita é afiada, os diálogos inteligentes e as tramas muito bem construídos - a ideia é que cada temporada cubra algum volume da versão literária. Temas como redenção e lealdade nos proporcionam uma reflexão mais profunda sobre os sacrifícios e as desilusões desses agentes desde "Missão Impossível" ou "007", mas aqui, com sua narrativa melhor estruturada, ficamos engajados mesmo entendendo que os mistérios que se desenrolam gradualmente (e de maneira satisfatória) soem um pouco absurdos demais (embora nesse mundo que vivemos, nada tão absurdo surpreende mais).

A direção de James Hawes (de "Uma Vida") e de Jeremy Lovering (de "Sherlock"), na primeira temporada, dão o tom do que se segue nas demais. Ela é precisa, utilizando uma fotografia de uma Londres cinzenta e chuvosa, que captura toda a atmosfera opressiva e às vezes deprimente do Slough House. Os cenários são cuidadosamente escolhidos para refletir toda decadência e a marginalização dos personagens - e isso é muito bacana, basta imaginar um agente do MI5 revirando um saco de lixo de um um suspeito, dentro de um escritório que mais parece uma casa abandonada. Gary Oldman, é peça chave nessa conexão entre o real e o absurdo - ele está simplesmente magistral. Ele traz uma profundidade e complexidade ao personagem, equilibrando seu cinismo mordaz com momentos de vulnerabilidade impressionantes. Oldman é capaz de transmitir o peso do passado de Lamb e sua desilusão com a espionagem, ao mesmo tempo em que infunde o personagem com um humor ácido cativante. O elenco de apoio também é excepcional, especialmente com Jack Lowden como o ambicioso e determinado River Cartwright, e com Kristin Scott Thomas como a impassível e poderosa Diana Taverner.

"Slow Horses" pode até parecer ter um ritmo mais lento em certos momentos, especialmente nas subtramas que exploram a vida pessoal dos personagens, mas é justamente essa natureza cínica e desencantada, personificada fortemente por Lamb, que transforma um dos aspectos mais distintos e interessantes da série, em uma jornada de entretenimento realmente deliciosa. "Slow Horses", com sua abordagem diferente sobre temas relevantes como corrupção e política, mostra ser mais inteligente e perspicaz do que muitas produções que foram se perdendo ao longo dos anos dentro de sua própria pretensão de ser realista demais!

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Sob a Pele do Lobo

Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!

Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!

Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor. 

Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola. 

Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!

Indico, mas por sua conta e risco...

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Minha primeira observação: não assista se estiver com sono. "Sob a Pele do Lobo" quase não tem diálogos, então tem que estar muito disposto, porque é realmente um filme difícil, reflexivo, profundo - e é justamente por isso é o tipo de filme que não vai agradar a todos!

Martinón (Mario Casas) é o último habitante de Auzal, uma vila nas montanhas onde vive completamente isolado, sem comunicação, apenas com a natureza. Ele só desce aos vales habitados duas vezes por ano para negociar e comprar algumas provisões. Porém, certo dia, ele se convence que precisa se casar - uma decisão que visa suavizar sua alma insensível, se afastar da solidão, mas que de certa forma vai transformar a sua vida para sempre!

Esse filme espanhol produzido pela Netflix, não é ruim, muito pelo contrário, é bom (eu diria até, muito bom); mas é lento! Seus planos são longos, repetitivos, quase sempre o mesmo movimento de câmera, a fotografia é fria, a locação é gelada (o que cria uma sensação incômoda), perde o ritmo em todo momento e com isso vai minando nossa empolgação como audiência. O forte da narrativa, sem a menor dúvida, está na interpretação dos atores, na imersão das emoções silenciosas de cada um deles - e nesse ponto tudo é bastante intenso! Eu assumo que tive dificuldades como os primeiros 30 minutos, mas depois que você se acostuma com o conceito proposto pelo diretor Samu Fuentes (de "Los últimos pastores"), o filme flui melhor. 

Aqui, aliás, é o primeiro trabalho de Fuentes e isso é muito perceptivo nas suas escolhas e na tentativa de mostrar que sabe muito bem o que está fazendo - talvez aí esteja a grande fragilidade narrativa do filme: como o ritmo varia muito, a história em si não equilibra com esses deslizes, mesmo com a belíssima fotografia do Aitor Mantxola. 

Resumindo: gostei muito da fotografia, da direção dos atores e da interpretação do (sempre muito bom) Mario Casas e da (irreconhecível) Irene Escolar, de resto é preciso estar disposto a enfrentar uma experiência diferente, mas não por isso ruim!

Indico, mas por sua conta e risco...

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Sobreviventes

"Sobreviventes" (que por aqui ainda ganhou o complemento de "Depois do Terremoto"), por incrível que pareça, não é um "filme-catátrofe" - pelo menos não em sua essência. O que quero dizer é que essa produção coreana dirigida pelo talentoso Tae-hwa Eom (de "Desaparecimento: O Garoto que Retornou") está mais para um drama social ao melhor estilo "Parasita" do que para um thriller de ação e efeitos especiais como "Terremoto: A Falha de San Andreas". Aliás, essa confusão conceitual muito se dá pelo fato de não se ter mantido o título original do filme aqui no Brasil, algo como "Concreto Utópico", em tradução livre - que certamente se conecta muito melhor com o que assistimos na tela! Veja, aqui não se trata de "por que" toda a cidade de Seul foi destruída por um terremoto de proporções inimagináveis, mas sim "como" os seres humanos que sobreviveram, diante desse cenário apocalíptico, se comportam intimamente e perante o seu semelhante!

A trama, basicamente, acompanha os moradores de um prédio de apartamentos que, milagrosamente, permaneceu intacto após o cataclisma. Com o passar do tempo, refugiados em busca de abrigo devido ao frio glacial que assola Seul e sem qualquer tipo de alimentação, começam a invadir o local, obrigando os moradores a tomarem medidas drásticas para garantir sua sobrevivência. Essa dinâmica segregadora, gera um conflito crescente, expondo os lados mais sombrios e altruístas da alma humana em uma luta moral que vai além da sobrevivência. Confira o trailer (dublado):

"Sobreviventes - Depois do Terremoto" de fato se diferencia por sua capacidade imersiva em um ambiente extremamente claustrofóbico e realista, onde cada metro quadrado se torna palco de tensões e conflitos além do óbvio. Se em um primeiro momento nossa preocupação como audiência é entender a razão pela qual apenas um prédio se manteve em pé após a catástrofe, rapidamente percebemos que o evento em si é apenas o pano de fundo para discussões infinitamente mais profundas. É preciso pontuar que o filme ainda sim tem excelentes sequências que mostram o terremoto acontecendo, no entanto é no cenário caótico posterior que o drama realmente ganha força.

O que vale são os conflitos de relacionamento entre os personagens em uma "nova" dinâmica de poder e influência - mais uma vez o cinema coreano mostra, com muita simbologia, como o ser humano pode ser brutal. A direção de Tae-hwa Eom é precisa e visceral nesse sentido já que ele conduz a trama com um ritmo frenético e um suspense constante sem perder aquela atmosfera de tensão permanente. A câmera de Eom explora com maestria os corredores apertados do prédio, os apartamentos precários e os rostos angustiados dos personagens, criando uma sensação sufocante - a montagem equilibra os cortes rápidos com planos bem estruturados dos embates entres os personagens, o que pontua o tom mais melancólico do filme com as complexas emoções daqueles personagens. Olha, é praticamente impossível não se colocar dentro daquela dinâmica social sem refletir sobre qual seria o melhor caminho para sobreviver!

"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um filme imperdível que obviamente te fará questionar seus próprios limites e que vai te provocar discussões interessantes como a própria fragilidade da civilização diante de eventos catastróficos. Com atuações realmente impecáveis, especialmente de Min-sung (o Park Seo-joon, de "Parasita:), uma direção precisa de Eom e uma história instigante e inteligente ao mesmo tempo, eu te garanto que, embarcando na proposta crítica do diretor, você estará diante de muito mais que um simples entretenimento.

Prepare-se para uma jornada perturbadora que te mostrará o lado mais sombrio e por consequência, o mais resiliente, da humanidade em situações impensáveis. Vale seu play!

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"Sobreviventes" (que por aqui ainda ganhou o complemento de "Depois do Terremoto"), por incrível que pareça, não é um "filme-catátrofe" - pelo menos não em sua essência. O que quero dizer é que essa produção coreana dirigida pelo talentoso Tae-hwa Eom (de "Desaparecimento: O Garoto que Retornou") está mais para um drama social ao melhor estilo "Parasita" do que para um thriller de ação e efeitos especiais como "Terremoto: A Falha de San Andreas". Aliás, essa confusão conceitual muito se dá pelo fato de não se ter mantido o título original do filme aqui no Brasil, algo como "Concreto Utópico", em tradução livre - que certamente se conecta muito melhor com o que assistimos na tela! Veja, aqui não se trata de "por que" toda a cidade de Seul foi destruída por um terremoto de proporções inimagináveis, mas sim "como" os seres humanos que sobreviveram, diante desse cenário apocalíptico, se comportam intimamente e perante o seu semelhante!

A trama, basicamente, acompanha os moradores de um prédio de apartamentos que, milagrosamente, permaneceu intacto após o cataclisma. Com o passar do tempo, refugiados em busca de abrigo devido ao frio glacial que assola Seul e sem qualquer tipo de alimentação, começam a invadir o local, obrigando os moradores a tomarem medidas drásticas para garantir sua sobrevivência. Essa dinâmica segregadora, gera um conflito crescente, expondo os lados mais sombrios e altruístas da alma humana em uma luta moral que vai além da sobrevivência. Confira o trailer (dublado):

"Sobreviventes - Depois do Terremoto" de fato se diferencia por sua capacidade imersiva em um ambiente extremamente claustrofóbico e realista, onde cada metro quadrado se torna palco de tensões e conflitos além do óbvio. Se em um primeiro momento nossa preocupação como audiência é entender a razão pela qual apenas um prédio se manteve em pé após a catástrofe, rapidamente percebemos que o evento em si é apenas o pano de fundo para discussões infinitamente mais profundas. É preciso pontuar que o filme ainda sim tem excelentes sequências que mostram o terremoto acontecendo, no entanto é no cenário caótico posterior que o drama realmente ganha força.

O que vale são os conflitos de relacionamento entre os personagens em uma "nova" dinâmica de poder e influência - mais uma vez o cinema coreano mostra, com muita simbologia, como o ser humano pode ser brutal. A direção de Tae-hwa Eom é precisa e visceral nesse sentido já que ele conduz a trama com um ritmo frenético e um suspense constante sem perder aquela atmosfera de tensão permanente. A câmera de Eom explora com maestria os corredores apertados do prédio, os apartamentos precários e os rostos angustiados dos personagens, criando uma sensação sufocante - a montagem equilibra os cortes rápidos com planos bem estruturados dos embates entres os personagens, o que pontua o tom mais melancólico do filme com as complexas emoções daqueles personagens. Olha, é praticamente impossível não se colocar dentro daquela dinâmica social sem refletir sobre qual seria o melhor caminho para sobreviver!

"Sobreviventes - Depois do Terremoto" é um filme imperdível que obviamente te fará questionar seus próprios limites e que vai te provocar discussões interessantes como a própria fragilidade da civilização diante de eventos catastróficos. Com atuações realmente impecáveis, especialmente de Min-sung (o Park Seo-joon, de "Parasita:), uma direção precisa de Eom e uma história instigante e inteligente ao mesmo tempo, eu te garanto que, embarcando na proposta crítica do diretor, você estará diante de muito mais que um simples entretenimento.

Prepare-se para uma jornada perturbadora que te mostrará o lado mais sombrio e por consequência, o mais resiliente, da humanidade em situações impensáveis. Vale seu play!

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Som da Liberdade

"As crianças de Deus não estão a venda!" - é com essa frase de impacto e emocionalmente difícil de digerir, já sabendo da realidade que "Som da Liberdade" retrata, que te garanto: esse filme é imperdível! Dirigido pelo talentoso Alejandro Monteverde (de "Little Boy - Além do Impossível"), o filme é muito mais do que um simples relato de eventos reais; é uma jornada emocional que transcende as telas, deixando uma marca profunda em quem a assiste (especialmente para quem tem filhos), mesmo que o roteiro, em vários momentos, pese um pouco na mão ao colocar seu protagonista na condição divina de "grande salvador". Na realidade essa escolha narrativa do roteirista Rod Barr (do premiado "Is That You?") e do próprio Monteverde, nem seria um problema se o foco fosse a ação, mas por se tratar de um drama tão impactante fica difícil acreditar que tudo ocorreu exatamente daquela maneira. Isso impacta na sua experiência? De forma alguma, eu diria que pelo contrário, já que mesmo se tratando de um assunto tão sério, o entretenimento também existe ali, especialmente após o meio do segundo ato.

"Sound of Freedom" conta a história real de Tim Ballard (Jim Caviezel), um ex-agente do governo americano responsável por uma missão de resgate de dezenas de crianças vítimas do tráfico sexual na Colômbia. Na trama, depois de recuperar Miguel (Lucás Ávila) um garoto hondurenho que estava nas mãos de uma rede de pedofilia, Ballard descobre que a irmã do menino, Roccio (Cristal Aparicio) também está sendo mantida como refém. Ele decide, então, dar início a uma perigosa, porém nobre, jornada para salvá-la, mesmo que para isso precise enfrentar a violência do exército rebelde colombiano. Confira o trailer:

Produzido em 2018 com um orçamento modesto de US$14 milhões, "Som da Liberdade" arrecadou mais de US$250 milhões mundialmente, só nas bilheterias - números realmente impressionantes para um filme que ficou na gaveta por muitos anos mesmo depois de finalizado, já que a Disney, quando comprou a Fox, se recusou a lançá-lo comercialmente até que um de seus produtores, Eduardo Verástegui, conseguiu readquirir os direitos e o ofereceu à Angel Studios, pequena distribuidora de produções cristãs, como "The Chosen", que o aceitou o desafio e o risco - e que acabou se dando muito bem.

No coração do sucesso de "O Som da Liberdade", sem dúvida, está a habilidade de Monteverde em transmitir a verdadeira essência do protagonista equilibrando o drama com a ação - não se surpreenda se os olhos marejarem e o coração apertar na primeira metade do filme e se um misto de ansiedade e torcida emergirem na segunda metade com a mesma facilidade. A fotografia de Gorka Gómez Andreu (de "Uma Janela para o Mar") captura de maneira impressionante as nuances emocionais dos personagens com igual capacidade com que recorta uma atmosfera tensa e inóspita da geografia colombiana - algo como vimos em "Narcos", por exemplo. Ao mergulhar a audiência nos bastidores das missões de Ballard, as lentes de Andreu deixa claro o que, de fato, representa o terror desprezível do turismo sexual na Colômbia bem como as profundezas daquela selva opressora, um "lugar de ninguém", berço da produção de cocaína do país e do mundo.

Antes de finalizar quero destacar mais dois elementos: o primeiro é a  trilha sonora do Javier Navarrete - poética na medida certa e extremamente alinhada com o belíssimo conceito visual do filme, as músicas são um fator crucial que intensifica a nossa experiência, criando uma atmosfera emotiva que permanece mesmo após o término do filme. Já o segundo merece um aplauso de pé: Bill Camp como "Vampiro" dá uma aula - ao ponto de, para mim, merecer até uma indicação ao Oscar (que infelizmente esqueceu de "Som da Liberdade" em muitos aspectos). Um filme que aborda temas sensíveis e urgentes, que não apenas destaca a brutalidade do tráfico humano, mas também oferece uma visão esperançosa e, mesmo acompanhada da crítica dos chatos de plantão, inspiradora.

Um filme imperdível em todos os seus méritos e que vale muito o seu play!

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"As crianças de Deus não estão a venda!" - é com essa frase de impacto e emocionalmente difícil de digerir, já sabendo da realidade que "Som da Liberdade" retrata, que te garanto: esse filme é imperdível! Dirigido pelo talentoso Alejandro Monteverde (de "Little Boy - Além do Impossível"), o filme é muito mais do que um simples relato de eventos reais; é uma jornada emocional que transcende as telas, deixando uma marca profunda em quem a assiste (especialmente para quem tem filhos), mesmo que o roteiro, em vários momentos, pese um pouco na mão ao colocar seu protagonista na condição divina de "grande salvador". Na realidade essa escolha narrativa do roteirista Rod Barr (do premiado "Is That You?") e do próprio Monteverde, nem seria um problema se o foco fosse a ação, mas por se tratar de um drama tão impactante fica difícil acreditar que tudo ocorreu exatamente daquela maneira. Isso impacta na sua experiência? De forma alguma, eu diria que pelo contrário, já que mesmo se tratando de um assunto tão sério, o entretenimento também existe ali, especialmente após o meio do segundo ato.

"Sound of Freedom" conta a história real de Tim Ballard (Jim Caviezel), um ex-agente do governo americano responsável por uma missão de resgate de dezenas de crianças vítimas do tráfico sexual na Colômbia. Na trama, depois de recuperar Miguel (Lucás Ávila) um garoto hondurenho que estava nas mãos de uma rede de pedofilia, Ballard descobre que a irmã do menino, Roccio (Cristal Aparicio) também está sendo mantida como refém. Ele decide, então, dar início a uma perigosa, porém nobre, jornada para salvá-la, mesmo que para isso precise enfrentar a violência do exército rebelde colombiano. Confira o trailer:

Produzido em 2018 com um orçamento modesto de US$14 milhões, "Som da Liberdade" arrecadou mais de US$250 milhões mundialmente, só nas bilheterias - números realmente impressionantes para um filme que ficou na gaveta por muitos anos mesmo depois de finalizado, já que a Disney, quando comprou a Fox, se recusou a lançá-lo comercialmente até que um de seus produtores, Eduardo Verástegui, conseguiu readquirir os direitos e o ofereceu à Angel Studios, pequena distribuidora de produções cristãs, como "The Chosen", que o aceitou o desafio e o risco - e que acabou se dando muito bem.

No coração do sucesso de "O Som da Liberdade", sem dúvida, está a habilidade de Monteverde em transmitir a verdadeira essência do protagonista equilibrando o drama com a ação - não se surpreenda se os olhos marejarem e o coração apertar na primeira metade do filme e se um misto de ansiedade e torcida emergirem na segunda metade com a mesma facilidade. A fotografia de Gorka Gómez Andreu (de "Uma Janela para o Mar") captura de maneira impressionante as nuances emocionais dos personagens com igual capacidade com que recorta uma atmosfera tensa e inóspita da geografia colombiana - algo como vimos em "Narcos", por exemplo. Ao mergulhar a audiência nos bastidores das missões de Ballard, as lentes de Andreu deixa claro o que, de fato, representa o terror desprezível do turismo sexual na Colômbia bem como as profundezas daquela selva opressora, um "lugar de ninguém", berço da produção de cocaína do país e do mundo.

Antes de finalizar quero destacar mais dois elementos: o primeiro é a  trilha sonora do Javier Navarrete - poética na medida certa e extremamente alinhada com o belíssimo conceito visual do filme, as músicas são um fator crucial que intensifica a nossa experiência, criando uma atmosfera emotiva que permanece mesmo após o término do filme. Já o segundo merece um aplauso de pé: Bill Camp como "Vampiro" dá uma aula - ao ponto de, para mim, merecer até uma indicação ao Oscar (que infelizmente esqueceu de "Som da Liberdade" em muitos aspectos). Um filme que aborda temas sensíveis e urgentes, que não apenas destaca a brutalidade do tráfico humano, mas também oferece uma visão esperançosa e, mesmo acompanhada da crítica dos chatos de plantão, inspiradora.

Um filme imperdível em todos os seus méritos e que vale muito o seu play!

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Som na Faixa

Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed""The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.

A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível  montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:

Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.

Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon -  Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).

"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.

O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!

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Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed""The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.

A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível  montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:

Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.

Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon -  Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).

"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.

O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!

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Sombras da Vida

É para um domingo chuvoso: "A Ghost Story" (título original) e já completo: muito, muito bom! Com uma pegada mais experimental, o filme conta a história de um homem que acabou de morrer (Casey Affleck), mas retorna como fantasma para sua casa no subúrbio com a intenção de consolar sua esposa (Rooney Mara). Em sua nova forma espiritual, invisível para os mortais, ele percebe que não é afetado pelo tempo, sendo condenado a ser um mero espectador da vida que antes lhe pertencia, ao lado da mulher que amava. O fantasma inicia uma jornada pelas memórias e histórias, enfrentando perguntas eternas sobre a vida e a sua existência. Confira o trailer:

"Sombras da Vida" é muito bem construído, foge do óbvio e trabalha muito bem com as nossas sensações desde a primeira cena - até os planos longos demais (se prepare) do início, nos incomodam propositalmente. O filme foi a menina dos olhos dos críticos em 2017, custou cerca de $100.000 e faturou quase 20 vezes mais!

Muito bem dirigido pelo David Lowery - considerado um dos diretores mais promissores da sua geração! Com planos extremamente bem construídos, uma fotografia belíssima (rodado em uma janela 1.33) pelo diretor Andrew Droz Palermo, o filme é muito feliz ao nos remeter a uma espécie de sensação atemporal completamente alinhada ao roteiro do próprio Lowery. É fato que o filme não agradará todos - será preciso uma dose de sensibilidade e boa vontade para compreender a dinâmica do narrativa, mas uma história que fala tão bem sobre solidão e sobre nossas perdas, ganha uma força absurda através do silêncio e isso "Sombras da Vida" tem de sobra!

Daqueles filmes que se esperava ir além dos Festivais Independentes e aí que o sabor amargou um pouco, pois, embora cercado de muitos elogios, o filme foi muito bem com o publico, mas não alcançou uma indicação ao Oscar 2018 - mesmo sendo considerado um dos 10 melhores filmes daquela temporada no Festival de Boston!

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É para um domingo chuvoso: "A Ghost Story" (título original) e já completo: muito, muito bom! Com uma pegada mais experimental, o filme conta a história de um homem que acabou de morrer (Casey Affleck), mas retorna como fantasma para sua casa no subúrbio com a intenção de consolar sua esposa (Rooney Mara). Em sua nova forma espiritual, invisível para os mortais, ele percebe que não é afetado pelo tempo, sendo condenado a ser um mero espectador da vida que antes lhe pertencia, ao lado da mulher que amava. O fantasma inicia uma jornada pelas memórias e histórias, enfrentando perguntas eternas sobre a vida e a sua existência. Confira o trailer:

"Sombras da Vida" é muito bem construído, foge do óbvio e trabalha muito bem com as nossas sensações desde a primeira cena - até os planos longos demais (se prepare) do início, nos incomodam propositalmente. O filme foi a menina dos olhos dos críticos em 2017, custou cerca de $100.000 e faturou quase 20 vezes mais!

Muito bem dirigido pelo David Lowery - considerado um dos diretores mais promissores da sua geração! Com planos extremamente bem construídos, uma fotografia belíssima (rodado em uma janela 1.33) pelo diretor Andrew Droz Palermo, o filme é muito feliz ao nos remeter a uma espécie de sensação atemporal completamente alinhada ao roteiro do próprio Lowery. É fato que o filme não agradará todos - será preciso uma dose de sensibilidade e boa vontade para compreender a dinâmica do narrativa, mas uma história que fala tão bem sobre solidão e sobre nossas perdas, ganha uma força absurda através do silêncio e isso "Sombras da Vida" tem de sobra!

Daqueles filmes que se esperava ir além dos Festivais Independentes e aí que o sabor amargou um pouco, pois, embora cercado de muitos elogios, o filme foi muito bem com o publico, mas não alcançou uma indicação ao Oscar 2018 - mesmo sendo considerado um dos 10 melhores filmes daquela temporada no Festival de Boston!

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Somos os que Tiveram Sorte

Esteja preparado para uma jornada que vai mexer com suas emoções - do inicio ao fim e sem pedir muita licença! "Somos os que Tiveram Sorte", minissérie criada por Erica Lipez (de "The Morning Show"), é baseada no aclamado romance homônimo de Georgia Hunter e retrata a emocionante e angustiante história de uma família judia polonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma estrutura narrativa que abrange vários países e linhas temporais diferentes, "Somos os que Tiveram Sorte" pode ser considerada uma verdadeira saga épica sobre resiliência, sobrevivência e amor, sempre pela perspectiva dos inabaláveis laços familiares. Para os fãs de dramas históricos sobre o Holocausto, esta minissérie oferece uma experiência, de fato, envolvente, difícil, profunda e emocionalmente poderosa.

A trama segue a família Kurc, começando na cidade de Radom, na Polônia, um ano antes da invasão nazista em 1939. À medida que a guerra se aproxima e vai se espalhando pela Europa, os Kurc são forçados a se separar e seguir diferentes caminhos, cada um enfrentando desafios devastadores em sua luta pela sobrevivência. A minissérie explora justamente as jornadas dos irmãos Kurc — incluindo uma fuga perigosa para a Rússia, as dores e dificuldades nos campos de trabalho forçado, a busca desesperada por entes queridos desaparecidos e a resistência corajosa em face da ocupação nazista. Confira o trailer:

Como é possível perceber por esse belíssimo trailer, a narrativa não apenas ilumina as histórias individuais de coragem e sacrifício dos Kurc, como também destaca a força coletiva da família e sua determinação de se reunir novamente após o terror da guerra. Nesse sentido, Erica Lipez adapta o romance de Georgia Hunter com uma fidelidade impressionante ao mesmo tempo em que cria uma dinâmica cinematográfica visualmente deslumbrante e emocionalmente envolvente. A minissérie é estruturada de uma maneira não linear, saltando entre diferentes linhas temporais (e geográficas), o que permite uma exploração mais profunda dos personagens e de suas experiências únicas diante do medo em várias esferas. Essa estrutura, aliás, é ponto fundamental para refletir, com muita veracidade, o caos e a fragmentação causados pela guerra, entrelaçando as histórias da família de maneira a nos manter envolvidos e emocionalmente provocados.

A direção de "Somos os que Tiveram Sorte", realizada pelo talentoso trio Thomas Kail (de "Hamilton"), Amit Gupta (de "His Dark Materials") e Neasa Hardiman (de "Happy Valley"), consegue capturar tanto a grandiosidade dos eventos históricos quanto a intimidade das experiências mais pessoais dos personagens, proporcionando uma imersão brutal em um período que transformou a vida das pessoas e deixou marcas difíceis de curar. Aqui preciso citar dois pontos: primeiro a fotografia de Tim Ives (indicado a três Emmys e responsável pelo conceito visual de "Stranger Things") - seu trabalho é notável ao partir de uma paleta desbotada que reflete o ambiente sombrio e opressor da guerra, enquanto nas cenas de flashback ele se apropria de cores mais quentes e vibrantes, para destacar o contraste entre os tempos de paz e os horrores da guerra. Repare como essa escolha visual impacta diretamente na nossa relação emocional com a história. Depois, a trilha sonora, composta por Jon Ehrlich (de "House") e Rachel Portman (vencedora do Oscar por Emma") - é impressionante como as composições melancólicas (e muitas vezes evocativas) intensificam as cenas mais dramáticas e oferecem um contraponto potente aos momentos de silêncio e de reflexão, ajudando a criar uma atmosfera não só de tristeza, mas também de esperança e perseverança.

"Somos os que Tiveram Sorte" é dura! Parte da audiência pode achar que a minissérie é cadenciada demais e até um pouco confusa de acompanhar. É verdade, no entanto é preciso que se diga que a natureza mais abrangente da narrativa ajuda demais nessa conexão mais empática com os personagens e, de maneira comovente, nos oferece uma exploração rica e complexa de um dos períodos mais sombrios da história moderna.

Uma pancada, mas que vale cada segundo do seu play!

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Esteja preparado para uma jornada que vai mexer com suas emoções - do inicio ao fim e sem pedir muita licença! "Somos os que Tiveram Sorte", minissérie criada por Erica Lipez (de "The Morning Show"), é baseada no aclamado romance homônimo de Georgia Hunter e retrata a emocionante e angustiante história de uma família judia polonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma estrutura narrativa que abrange vários países e linhas temporais diferentes, "Somos os que Tiveram Sorte" pode ser considerada uma verdadeira saga épica sobre resiliência, sobrevivência e amor, sempre pela perspectiva dos inabaláveis laços familiares. Para os fãs de dramas históricos sobre o Holocausto, esta minissérie oferece uma experiência, de fato, envolvente, difícil, profunda e emocionalmente poderosa.

A trama segue a família Kurc, começando na cidade de Radom, na Polônia, um ano antes da invasão nazista em 1939. À medida que a guerra se aproxima e vai se espalhando pela Europa, os Kurc são forçados a se separar e seguir diferentes caminhos, cada um enfrentando desafios devastadores em sua luta pela sobrevivência. A minissérie explora justamente as jornadas dos irmãos Kurc — incluindo uma fuga perigosa para a Rússia, as dores e dificuldades nos campos de trabalho forçado, a busca desesperada por entes queridos desaparecidos e a resistência corajosa em face da ocupação nazista. Confira o trailer:

Como é possível perceber por esse belíssimo trailer, a narrativa não apenas ilumina as histórias individuais de coragem e sacrifício dos Kurc, como também destaca a força coletiva da família e sua determinação de se reunir novamente após o terror da guerra. Nesse sentido, Erica Lipez adapta o romance de Georgia Hunter com uma fidelidade impressionante ao mesmo tempo em que cria uma dinâmica cinematográfica visualmente deslumbrante e emocionalmente envolvente. A minissérie é estruturada de uma maneira não linear, saltando entre diferentes linhas temporais (e geográficas), o que permite uma exploração mais profunda dos personagens e de suas experiências únicas diante do medo em várias esferas. Essa estrutura, aliás, é ponto fundamental para refletir, com muita veracidade, o caos e a fragmentação causados pela guerra, entrelaçando as histórias da família de maneira a nos manter envolvidos e emocionalmente provocados.

A direção de "Somos os que Tiveram Sorte", realizada pelo talentoso trio Thomas Kail (de "Hamilton"), Amit Gupta (de "His Dark Materials") e Neasa Hardiman (de "Happy Valley"), consegue capturar tanto a grandiosidade dos eventos históricos quanto a intimidade das experiências mais pessoais dos personagens, proporcionando uma imersão brutal em um período que transformou a vida das pessoas e deixou marcas difíceis de curar. Aqui preciso citar dois pontos: primeiro a fotografia de Tim Ives (indicado a três Emmys e responsável pelo conceito visual de "Stranger Things") - seu trabalho é notável ao partir de uma paleta desbotada que reflete o ambiente sombrio e opressor da guerra, enquanto nas cenas de flashback ele se apropria de cores mais quentes e vibrantes, para destacar o contraste entre os tempos de paz e os horrores da guerra. Repare como essa escolha visual impacta diretamente na nossa relação emocional com a história. Depois, a trilha sonora, composta por Jon Ehrlich (de "House") e Rachel Portman (vencedora do Oscar por Emma") - é impressionante como as composições melancólicas (e muitas vezes evocativas) intensificam as cenas mais dramáticas e oferecem um contraponto potente aos momentos de silêncio e de reflexão, ajudando a criar uma atmosfera não só de tristeza, mas também de esperança e perseverança.

"Somos os que Tiveram Sorte" é dura! Parte da audiência pode achar que a minissérie é cadenciada demais e até um pouco confusa de acompanhar. É verdade, no entanto é preciso que se diga que a natureza mais abrangente da narrativa ajuda demais nessa conexão mais empática com os personagens e, de maneira comovente, nos oferece uma exploração rica e complexa de um dos períodos mais sombrios da história moderna.

Uma pancada, mas que vale cada segundo do seu play!

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Somos Todos Iguais

"Somos Todos Iguais" é um filme muito bonito! Daqueles com uma mensagem que mexe com a gente e que, mesmo na dor, nos faz olhar o mundo e a vida de uma forma diferente! Ele é baseado numa história real descrita no livro de Denver Moore, Ron Hall, Lynn Vincent, "Some Kind of Differente as Me", e que toca com muita sensibilidade e delicadeza em assuntos muito sensíveis como a fé, a importância da caridade e ensinamentos cristãos baseados no amor. Não se trata de um filme religioso, mas eu diria sim, que ele é muito espiritualista - principalmente por nos convidar a refletir sobre nossa missão perante os desafios que a vida vai nos impondo, que a sociedade nos apresenta e na maneira como reagimos às adversidades, mas sob o olhar de diferentes personagens e crenças.

Deborah Hall (Renee Zellweger) é uma mulher religiosa que é casada com Ron (Greg Kinnear), um negociante de arte reconhecido internacionalmente. O casamento entre eles não vai bem, até que Ron é obrigado a contar para Debbie sobre uma traição. Arrependido, Ron busca uma nova chance quando sua mulher apresenta para ele um trabalho voluntário em que atua para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. É nesse contexto que ela insiste para que o marido se aproxime de Denver (Djimon Hounsou), um violento mendigo que carrega com ele as marcas de um passado de sofrimento e exploração. Para salvar seu casamento, Ron tenta fazer amizade com Denver, mas os sonhos escondidos de Deborah podem leva-los em uma direção completamente diferente do que Ron imagina. Confira o trailer (em inglês):

"Somos Todos Iguais" não traz nenhum elemento técnico ou artístico que faça o filme se tornar inesquecível, por outro lado ele se apoia em uma história muito bem contada, com boas performances de todo elenco e uma direção muito segura do estreante Michael Carney. Talvez até, o mérito do filme seja justamente esse: não parecer aquilo que ele não teria condições de ser! O roteiro é simples, mas bem escrito. O prólogo e o epílogo são fracos, mas não prejudicam a jornada - e essa sim é muito bacana! Renée Zellweger, mesmo irreconhecível, é uma atriz muito talentosa e entrega verdade como Deborah. Greg Kinnear talvez não tenha o mesmo talento, mas sempre entrega bons personagens. Djimon Hounsou, esse decolou! Seu "Denver" é um ótimo trabalho!

É preciso que se diga que "Somos Todos Iguais" mesmo discutindo assuntos como racismo e desigualdade social não se propõe a levantar alguma bandeira ou se tornar impositivo em suas convicções. Ele é muito honesto em sua proposta, o que o transforma o filme em um ótimo entretenimento, com momentos emocionantes e que vão nos trazer reflexões importantes, mas sem aquela necessidade de uma narrativa pesada. Resumindo, esse filme é para você que gostou de  "O Segredo - Ouse Sonhar" ou "Milagre Azul".

Vale o seu play!

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"Somos Todos Iguais" é um filme muito bonito! Daqueles com uma mensagem que mexe com a gente e que, mesmo na dor, nos faz olhar o mundo e a vida de uma forma diferente! Ele é baseado numa história real descrita no livro de Denver Moore, Ron Hall, Lynn Vincent, "Some Kind of Differente as Me", e que toca com muita sensibilidade e delicadeza em assuntos muito sensíveis como a fé, a importância da caridade e ensinamentos cristãos baseados no amor. Não se trata de um filme religioso, mas eu diria sim, que ele é muito espiritualista - principalmente por nos convidar a refletir sobre nossa missão perante os desafios que a vida vai nos impondo, que a sociedade nos apresenta e na maneira como reagimos às adversidades, mas sob o olhar de diferentes personagens e crenças.

Deborah Hall (Renee Zellweger) é uma mulher religiosa que é casada com Ron (Greg Kinnear), um negociante de arte reconhecido internacionalmente. O casamento entre eles não vai bem, até que Ron é obrigado a contar para Debbie sobre uma traição. Arrependido, Ron busca uma nova chance quando sua mulher apresenta para ele um trabalho voluntário em que atua para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. É nesse contexto que ela insiste para que o marido se aproxime de Denver (Djimon Hounsou), um violento mendigo que carrega com ele as marcas de um passado de sofrimento e exploração. Para salvar seu casamento, Ron tenta fazer amizade com Denver, mas os sonhos escondidos de Deborah podem leva-los em uma direção completamente diferente do que Ron imagina. Confira o trailer (em inglês):

"Somos Todos Iguais" não traz nenhum elemento técnico ou artístico que faça o filme se tornar inesquecível, por outro lado ele se apoia em uma história muito bem contada, com boas performances de todo elenco e uma direção muito segura do estreante Michael Carney. Talvez até, o mérito do filme seja justamente esse: não parecer aquilo que ele não teria condições de ser! O roteiro é simples, mas bem escrito. O prólogo e o epílogo são fracos, mas não prejudicam a jornada - e essa sim é muito bacana! Renée Zellweger, mesmo irreconhecível, é uma atriz muito talentosa e entrega verdade como Deborah. Greg Kinnear talvez não tenha o mesmo talento, mas sempre entrega bons personagens. Djimon Hounsou, esse decolou! Seu "Denver" é um ótimo trabalho!

É preciso que se diga que "Somos Todos Iguais" mesmo discutindo assuntos como racismo e desigualdade social não se propõe a levantar alguma bandeira ou se tornar impositivo em suas convicções. Ele é muito honesto em sua proposta, o que o transforma o filme em um ótimo entretenimento, com momentos emocionantes e que vão nos trazer reflexões importantes, mas sem aquela necessidade de uma narrativa pesada. Resumindo, esse filme é para você que gostou de  "O Segredo - Ouse Sonhar" ou "Milagre Azul".

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Sonhos de uma vida

"Sonhos de uma vida" é um filme muito difícil em sua forma e em seu conteúdo. Em sua forma pelo fato de ter uma narrativa bastante cadenciada, lenta até, extremamente autoral - o que permite algumas escolhas que vão contra o entendimento de um público que busca mais entretenimento. E em seu conteúdo por falar essencialmente sobre o "arrependimento" em uma camada mais superficial e sobre a "dor" se você se permitir uma imersão mais profunda na história.

O filme acompanha um dia na vida de um pai, Leo (Javier Bardem) e de sua filha, Molly (Elle Fanning). Ele está claramente debilitado, mesmo que a história não se preocupe em explicar o motivo de seu estado de saúde. Por outro lado, Molly se dedica a cuidar do pai e, apesar de estar em um momento de ascensão profissional (que exige também a sua atenção), ela escolhe deixar o trabalho de lado para estar com ele e tentar entender como seu esforço pode, de fato, melhorar sua qualidade de vida. Confira o trailer:

Sally Potter é uma diretora (e roteirista) premiada em praticamente todos os filmes em que esteve envolvida. Quando "The Roads Not Taken"(título original) chegou em Berlin em 2020, imediatamente ele foi chancelado como um dos favoritos para levar o Urso de Ouro no Festival - apenas com essa informação já é possível se ter uma ideia da qualidade técnica e artística do filme, e isso vai se comprovar imediatamente após o play. Porém, o contexto em que o filme é exibido hoje pode provocar um certo distanciamento do público acostumado com uma narrativa mais linear e uma trama mais, digamos, mastigada. "Sonhos de uma vida" não vai entregar essa experiência, muito pelo contrário, entender a dinâmica que a diretora escolheu como forma de contar sua história impacta diretamente na maneira como nos relacionamos com ela - e aqui é preciso elogiar o trabalho de Potter também como roteirista, já que ela é capaz de nos surpreender quando nossa descrença começa a incomodar e ao mesmo tempo nos "decepcionar" quando finalmente achamos que encontramos o caminho mais confortável de onde a história vai nos levar. Veja, como na relação entre Leo e Molly, vai ser muito difícil termos a certeza de que fomos capazes de assimilar todos os sentimentos que Potter nos propõe.

Contada em três linhas temporais diferentes que se misturam em um montagem perfeita (mérito de Emilie Orsini, Jason Rayton e da própria Sally Potter), a história vai construindo a personalidade do protagonista ao mesmo tempo que vai nos apresentando suas cicatrizes - Javier Bardem que tem uma performance discutível como o Leo do presente, é praticamente perfeito com o personagem no passado! Dos diálogos às ações, Bardem se coloca em uma posição de muita vulnerabilidade, que se encaixe perfeitamente nos momentos de vida de Leo. Já Elle Fanning dá outra aula - sou um fã e o fato de considerar ela uma das melhores atrizes de sua geração não vem de hoje. Esse seu trabalho é maduro, consistente - uma pena que o caráter independente tenha afastado Fanning das premiações até aqui.

Talvez o maior problema de "Sonhos de uma vida" tenha sido acreditar que sua complexidade pudesse fornecer alguns ensinamentos sobre a essência humana, em momentos de muita sensibilidade, enquanto na verdade sua maior força é justamente provocar a reflexão sobre o que é "certo" e o que é "errado" - a última cena do filme talvez descreva exatamente essa dualidade das escolhas que fazemos durante a vida. A grande questão para você que lê esse review até aqui é se, após o play, você estará disposto a olhar para dentro e se questionar sobre as decisões tomadas no passado e se elas impactaram de uma forma diferente do que você mesmo imaginou no seu presente - e se isso acontecer, o filme terá cumprido o seu papel.

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"Sonhos de uma vida" é um filme muito difícil em sua forma e em seu conteúdo. Em sua forma pelo fato de ter uma narrativa bastante cadenciada, lenta até, extremamente autoral - o que permite algumas escolhas que vão contra o entendimento de um público que busca mais entretenimento. E em seu conteúdo por falar essencialmente sobre o "arrependimento" em uma camada mais superficial e sobre a "dor" se você se permitir uma imersão mais profunda na história.

O filme acompanha um dia na vida de um pai, Leo (Javier Bardem) e de sua filha, Molly (Elle Fanning). Ele está claramente debilitado, mesmo que a história não se preocupe em explicar o motivo de seu estado de saúde. Por outro lado, Molly se dedica a cuidar do pai e, apesar de estar em um momento de ascensão profissional (que exige também a sua atenção), ela escolhe deixar o trabalho de lado para estar com ele e tentar entender como seu esforço pode, de fato, melhorar sua qualidade de vida. Confira o trailer:

Sally Potter é uma diretora (e roteirista) premiada em praticamente todos os filmes em que esteve envolvida. Quando "The Roads Not Taken"(título original) chegou em Berlin em 2020, imediatamente ele foi chancelado como um dos favoritos para levar o Urso de Ouro no Festival - apenas com essa informação já é possível se ter uma ideia da qualidade técnica e artística do filme, e isso vai se comprovar imediatamente após o play. Porém, o contexto em que o filme é exibido hoje pode provocar um certo distanciamento do público acostumado com uma narrativa mais linear e uma trama mais, digamos, mastigada. "Sonhos de uma vida" não vai entregar essa experiência, muito pelo contrário, entender a dinâmica que a diretora escolheu como forma de contar sua história impacta diretamente na maneira como nos relacionamos com ela - e aqui é preciso elogiar o trabalho de Potter também como roteirista, já que ela é capaz de nos surpreender quando nossa descrença começa a incomodar e ao mesmo tempo nos "decepcionar" quando finalmente achamos que encontramos o caminho mais confortável de onde a história vai nos levar. Veja, como na relação entre Leo e Molly, vai ser muito difícil termos a certeza de que fomos capazes de assimilar todos os sentimentos que Potter nos propõe.

Contada em três linhas temporais diferentes que se misturam em um montagem perfeita (mérito de Emilie Orsini, Jason Rayton e da própria Sally Potter), a história vai construindo a personalidade do protagonista ao mesmo tempo que vai nos apresentando suas cicatrizes - Javier Bardem que tem uma performance discutível como o Leo do presente, é praticamente perfeito com o personagem no passado! Dos diálogos às ações, Bardem se coloca em uma posição de muita vulnerabilidade, que se encaixe perfeitamente nos momentos de vida de Leo. Já Elle Fanning dá outra aula - sou um fã e o fato de considerar ela uma das melhores atrizes de sua geração não vem de hoje. Esse seu trabalho é maduro, consistente - uma pena que o caráter independente tenha afastado Fanning das premiações até aqui.

Talvez o maior problema de "Sonhos de uma vida" tenha sido acreditar que sua complexidade pudesse fornecer alguns ensinamentos sobre a essência humana, em momentos de muita sensibilidade, enquanto na verdade sua maior força é justamente provocar a reflexão sobre o que é "certo" e o que é "errado" - a última cena do filme talvez descreva exatamente essa dualidade das escolhas que fazemos durante a vida. A grande questão para você que lê esse review até aqui é se, após o play, você estará disposto a olhar para dentro e se questionar sobre as decisões tomadas no passado e se elas impactaram de uma forma diferente do que você mesmo imaginou no seu presente - e se isso acontecer, o filme terá cumprido o seu papel.

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Spencer

“Spencer” é um ótimo drama baseado em uma história real. Com roteiro de Steven Knight (também roteirista da série “Peaky Blinders”).

O filme mostra o que aconteceu nos últimos dias do casamento da princesa Diana (Kristen Stewart) com o príncipe Charles (Jack Farthing), que andava frio já fazia um bom tempo. E embora houvesse muitos rumores de casos e até de um possível divórcio, a paz foi ordenada para as festividades de Natal, na casa de campo da Família Real. Diana, mesmo estando em um ambiente de luxo, poder e fama, conhecia as regras do jogo de aparências e cada vez mais se via infeliz e totalmente deslocada nesse ambiente. Confira o trailer:

A direção feita com maestria por Pablo Larrain (do excelente "O Clube"), transmite toda a sensação de desconforto da personagem. É claustrofóbico, angustiante e desesperador. Kristen Stewart está no melhor papel de sua carreira, que inclusive rendeu uma indicação ao Oscar 2022 - eu vi algumas cenas reais da princesa Diana, e com isso só tive mais certeza do talento dessa atriz que já foi muito subestimada anteriormente por ter iniciado sua carreira em “Crepúsculo”. A trilha sonora é do ótimo Jonny Greenwood, que recentemente trabalhou em “Ataque de Cães” - pesquise por esse nome e veja para quantos filmes ele já compôs, tenho certeza de que não restarão dúvidas que sua colaboração nesse drama também foi outro grande acerto de sua carreira.

“Spencer” é mais um filme que não deve agradar o público geral, mas para quem conhece um pouco da história real ou aprecia os trabalhos da atriz Kristen Stewart ou até do diretor Pablo Larrain (como “Jackie” ou "Neruda", só para citar as biografias), certamente vai ter uma experiência surpreendente.

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Spencer” é um ótimo drama baseado em uma história real. Com roteiro de Steven Knight (também roteirista da série “Peaky Blinders”).

O filme mostra o que aconteceu nos últimos dias do casamento da princesa Diana (Kristen Stewart) com o príncipe Charles (Jack Farthing), que andava frio já fazia um bom tempo. E embora houvesse muitos rumores de casos e até de um possível divórcio, a paz foi ordenada para as festividades de Natal, na casa de campo da Família Real. Diana, mesmo estando em um ambiente de luxo, poder e fama, conhecia as regras do jogo de aparências e cada vez mais se via infeliz e totalmente deslocada nesse ambiente. Confira o trailer:

A direção feita com maestria por Pablo Larrain (do excelente "O Clube"), transmite toda a sensação de desconforto da personagem. É claustrofóbico, angustiante e desesperador. Kristen Stewart está no melhor papel de sua carreira, que inclusive rendeu uma indicação ao Oscar 2022 - eu vi algumas cenas reais da princesa Diana, e com isso só tive mais certeza do talento dessa atriz que já foi muito subestimada anteriormente por ter iniciado sua carreira em “Crepúsculo”. A trilha sonora é do ótimo Jonny Greenwood, que recentemente trabalhou em “Ataque de Cães” - pesquise por esse nome e veja para quantos filmes ele já compôs, tenho certeza de que não restarão dúvidas que sua colaboração nesse drama também foi outro grande acerto de sua carreira.

“Spencer” é mais um filme que não deve agradar o público geral, mas para quem conhece um pouco da história real ou aprecia os trabalhos da atriz Kristen Stewart ou até do diretor Pablo Larrain (como “Jackie” ou "Neruda", só para citar as biografias), certamente vai ter uma experiência surpreendente.

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Spotlight

"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

Vale muito o seu play!

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"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

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Steve Jobs

Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!

O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:

Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.

Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.

"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!

Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!

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Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!

O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:

Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.

Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.

"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!

Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!

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Stillwater

"Stillwater" poderia, tranquilamente, ser mais uma série de true crime que tanto nos acostumamos assistir. No entanto, o filme dirigido pelo brilhante Tom McCarthy (de "Spotlight: Segredos Revelados"), vai além daquela premissa envolvente onde a busca pela verdade vai ao encontro da inocência depois de um crime cruel - aqui o filme, mesmo que em muitos momentos soe cadenciado demais, é muito mais provocativo e sabe exatamente como nos tocar a alma com uma atmosfera de melancolia como se fosse a fusão perfeita de "Nomadland"com "Making a Murderer". Sim, aquela desconfortante sensação de perda, de deslocamento e de uma eterna finitude que anuncia sua chegada apenas com o vazio, vai te acompanhar por toda jornada.

A história do filme gira em torno de Bill Baker (Matt Damon), um trabalhador da construção civil de Oklahoma que viaja até Marselha, na França, para visitar sua filha Allison (Abigail Breslin), que está cumprindo pena por um crime que ela alega não ter cometido. Quando novas provas parecem surgir e que poderiam inocentar sua filha, Bill inicia uma cruzada pessoal ao lado da francesa Virginie (Camille Cottin) para reabrir o caso e finalmente encontrar o suposto assassino depois de cinco anos. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que o trailer e a sinopse de "Stillwater" deixem a entender que o roteiro está mais preocupado em acompanhar Bill tentando provar a inocência da filha, posso te garantir que existem camadas emocionais ainda mais profundas ao também retratar a jornada de redenção do personagem. A trama, de fato, se aproveita desses dois gatilhos narrativos e é habilmente construída, alternando momentos de drama, tensão, angustia e até de reflexão, para explorar temas que vão ganhando força, como justiça, família e a difícil jornada de um pai em busca de uma reconciliação com seu passado - a relação de Bill com Virginie e com a filha dela, Maya (Lilou Siauvaud), serve justamente como ponto de equilíbrio entre seus fantasmas do passado e a dura realidade que parece não dar um chance de felicidade para ele.

O roteiro de McCarthy, de Marcus Hinchey ("A Caminho da Fé"), de Thomas Bidegain ("Ferrugem e Osso") e de Noé Debré ("Reputação") é genial - se não na sua estrutura, certamente nos detalhes. Reparem na cena em que Virginie ensaia sua peça de teatro sob os olhos atentos de Bill - em um close-up belíssimo ela diz: “Não há verdade. Apenas histórias para contar”. Uma passagem que pode parecer inofensiva, na verdade serve de gatilho para a transformação que vem a seguir em muitas esferas: da relação entre ela e Bill ao entendimento do crime que colocou Allison na cadeia. Aliás, aqui cabe um comentário pertinente: o elenco é outro ponto forte do filme - Matt Damon entrega uma performance excepcional. Sua interpretação transmite a angústia e a determinação do personagem de forma visceral, enquanto Abigail Breslin se destaca pela complexidade entre a sua vulnerabilidade e o contraste da carga cármica que ela carrega com ódio e repulsa, mesmo que em silêncio.

“Stillwater" (que o Brasil ganhou o didático subtítulo de "Em Busca da Verdade”) pode até parecer ter um grave problema de ritmo, dando a impressão de durar bem mais do que as duas horas e vinte que de fato tem, mas eu diria que o resultado final pode, tranquilamente, ser classificado como um ótimo entretenimento - com uma história que transcende os limites do gênero investigativo para oferecer uma experiência emocionalmente muito mais poderosa e reflexiva do que poderíamos imaginar.

Vale muito o seu play!

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"Stillwater" poderia, tranquilamente, ser mais uma série de true crime que tanto nos acostumamos assistir. No entanto, o filme dirigido pelo brilhante Tom McCarthy (de "Spotlight: Segredos Revelados"), vai além daquela premissa envolvente onde a busca pela verdade vai ao encontro da inocência depois de um crime cruel - aqui o filme, mesmo que em muitos momentos soe cadenciado demais, é muito mais provocativo e sabe exatamente como nos tocar a alma com uma atmosfera de melancolia como se fosse a fusão perfeita de "Nomadland"com "Making a Murderer". Sim, aquela desconfortante sensação de perda, de deslocamento e de uma eterna finitude que anuncia sua chegada apenas com o vazio, vai te acompanhar por toda jornada.

A história do filme gira em torno de Bill Baker (Matt Damon), um trabalhador da construção civil de Oklahoma que viaja até Marselha, na França, para visitar sua filha Allison (Abigail Breslin), que está cumprindo pena por um crime que ela alega não ter cometido. Quando novas provas parecem surgir e que poderiam inocentar sua filha, Bill inicia uma cruzada pessoal ao lado da francesa Virginie (Camille Cottin) para reabrir o caso e finalmente encontrar o suposto assassino depois de cinco anos. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que o trailer e a sinopse de "Stillwater" deixem a entender que o roteiro está mais preocupado em acompanhar Bill tentando provar a inocência da filha, posso te garantir que existem camadas emocionais ainda mais profundas ao também retratar a jornada de redenção do personagem. A trama, de fato, se aproveita desses dois gatilhos narrativos e é habilmente construída, alternando momentos de drama, tensão, angustia e até de reflexão, para explorar temas que vão ganhando força, como justiça, família e a difícil jornada de um pai em busca de uma reconciliação com seu passado - a relação de Bill com Virginie e com a filha dela, Maya (Lilou Siauvaud), serve justamente como ponto de equilíbrio entre seus fantasmas do passado e a dura realidade que parece não dar um chance de felicidade para ele.

O roteiro de McCarthy, de Marcus Hinchey ("A Caminho da Fé"), de Thomas Bidegain ("Ferrugem e Osso") e de Noé Debré ("Reputação") é genial - se não na sua estrutura, certamente nos detalhes. Reparem na cena em que Virginie ensaia sua peça de teatro sob os olhos atentos de Bill - em um close-up belíssimo ela diz: “Não há verdade. Apenas histórias para contar”. Uma passagem que pode parecer inofensiva, na verdade serve de gatilho para a transformação que vem a seguir em muitas esferas: da relação entre ela e Bill ao entendimento do crime que colocou Allison na cadeia. Aliás, aqui cabe um comentário pertinente: o elenco é outro ponto forte do filme - Matt Damon entrega uma performance excepcional. Sua interpretação transmite a angústia e a determinação do personagem de forma visceral, enquanto Abigail Breslin se destaca pela complexidade entre a sua vulnerabilidade e o contraste da carga cármica que ela carrega com ódio e repulsa, mesmo que em silêncio.

“Stillwater" (que o Brasil ganhou o didático subtítulo de "Em Busca da Verdade”) pode até parecer ter um grave problema de ritmo, dando a impressão de durar bem mais do que as duas horas e vinte que de fato tem, mas eu diria que o resultado final pode, tranquilamente, ser classificado como um ótimo entretenimento - com uma história que transcende os limites do gênero investigativo para oferecer uma experiência emocionalmente muito mais poderosa e reflexiva do que poderíamos imaginar.

Vale muito o seu play!

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