Talvez uma das experiências mais marcantes e sensacionais na vida de uma uma mulher (e de um homem) seja se tornar mãe (e pai) - a grande questão é que essa jornada não tem nada de romântica e é justamente isso que "Tully", com muita sensibilidade e uma boa dose de verdade, discute!
Marlo (Charlize Theron) é uma mãe de três filhos – um deles recém-nascido – que vive uma vida muito atarefada e exaustiva. Certo dia, seu irmão oferece para ela, como presente, a ajuda de uma babá para cuidar das crianças durante o período da noite, Tully (Mackenzie Davis). Mesmo hesitante, ela acaba se surpreendendo com a jovem e criando um laço emocional capaz de mudar sua vida. Confira o trailer:
Se em "Namorados Para Sempre"(“Blue Valentine”), o diretor Derek Cianfrance expõe as incertezas e inseguranças de um jovem casal que passa por uma profunda crise em seu casamento, "Tully" transporta essa dura realidade para a maternidade. Talvez o filme dirigido pelo sempre excelente Jason Reitman em mais uma parceria com a roteirista Diablo Cody (os mesmos de "Juno" e "Jovens Adultos") suavize na "forma", mas sem dúvida alguma continua respeitando a força e o impacto do "conteúdo". Veja, se em "Juno" a dupla discutiu a gravidez na adolescência e as implicações de uma adoção, agora eles retratam os meses seguintes ao nascimento de um terceiro filho e o que isso representa para uma mulher na casa dos 30 anos - sem esconder nenhum detalhe, aliás.
Alguns pontos chamam muito atenção em "Tully": o primeiro é que o filme é muito bem dirigido - ratificando o talento de Reitman no trabalho com os atores. A química entre Charlize Theron e Mackenzie Davis impressiona. O subtexto é tão bem trabalhado que somos capazes de imaginar exatamente o que as personagens estão vivendo internamente e como isso está refletindo na relação entre elas. É isso que nos leva ao segundo destaque: Charlize Theron está fantástica como Marlo - uma atriz belíssima (e aqui falo do seu talento e da sua beleza física) que já provou ser capaz de se desconstruir em pró da composição dramática de suas personagens, mais uma vez dá uma aula com sua performance. E por, fim, não menos importante, é o roteiro Cody: os diálogos são tão afiados, irônicos e incrivelmente sensíveis que é impossível qualquer mulher (mãe) não se conectar com a história - para os homens, pais, que muitas vezes são incapazes de ler com exatidão o que acontece com uma mulher após o nascimento de um filho, também vale o comentário.
"Tully" é um filme com alma, tecnicamente representada por uma edição capaz de potencializar e dar o tom exato de um excelente roteiro e uma direção muito competente. Lembrando que estamos falando das imperfeições da maternidade, que quebram velhas concepções de como uma família deve funcionar e que metaforicamente expõe as dores íntimas das mulheres com muita inteligência, sem a necessidade de uma exposição exagerada e muito menos de entregar todas as respostas - afinal, cada um é cada um!
Val muito o seu play!
Talvez uma das experiências mais marcantes e sensacionais na vida de uma uma mulher (e de um homem) seja se tornar mãe (e pai) - a grande questão é que essa jornada não tem nada de romântica e é justamente isso que "Tully", com muita sensibilidade e uma boa dose de verdade, discute!
Marlo (Charlize Theron) é uma mãe de três filhos – um deles recém-nascido – que vive uma vida muito atarefada e exaustiva. Certo dia, seu irmão oferece para ela, como presente, a ajuda de uma babá para cuidar das crianças durante o período da noite, Tully (Mackenzie Davis). Mesmo hesitante, ela acaba se surpreendendo com a jovem e criando um laço emocional capaz de mudar sua vida. Confira o trailer:
Se em "Namorados Para Sempre"(“Blue Valentine”), o diretor Derek Cianfrance expõe as incertezas e inseguranças de um jovem casal que passa por uma profunda crise em seu casamento, "Tully" transporta essa dura realidade para a maternidade. Talvez o filme dirigido pelo sempre excelente Jason Reitman em mais uma parceria com a roteirista Diablo Cody (os mesmos de "Juno" e "Jovens Adultos") suavize na "forma", mas sem dúvida alguma continua respeitando a força e o impacto do "conteúdo". Veja, se em "Juno" a dupla discutiu a gravidez na adolescência e as implicações de uma adoção, agora eles retratam os meses seguintes ao nascimento de um terceiro filho e o que isso representa para uma mulher na casa dos 30 anos - sem esconder nenhum detalhe, aliás.
Alguns pontos chamam muito atenção em "Tully": o primeiro é que o filme é muito bem dirigido - ratificando o talento de Reitman no trabalho com os atores. A química entre Charlize Theron e Mackenzie Davis impressiona. O subtexto é tão bem trabalhado que somos capazes de imaginar exatamente o que as personagens estão vivendo internamente e como isso está refletindo na relação entre elas. É isso que nos leva ao segundo destaque: Charlize Theron está fantástica como Marlo - uma atriz belíssima (e aqui falo do seu talento e da sua beleza física) que já provou ser capaz de se desconstruir em pró da composição dramática de suas personagens, mais uma vez dá uma aula com sua performance. E por, fim, não menos importante, é o roteiro Cody: os diálogos são tão afiados, irônicos e incrivelmente sensíveis que é impossível qualquer mulher (mãe) não se conectar com a história - para os homens, pais, que muitas vezes são incapazes de ler com exatidão o que acontece com uma mulher após o nascimento de um filho, também vale o comentário.
"Tully" é um filme com alma, tecnicamente representada por uma edição capaz de potencializar e dar o tom exato de um excelente roteiro e uma direção muito competente. Lembrando que estamos falando das imperfeições da maternidade, que quebram velhas concepções de como uma família deve funcionar e que metaforicamente expõe as dores íntimas das mulheres com muita inteligência, sem a necessidade de uma exposição exagerada e muito menos de entregar todas as respostas - afinal, cada um é cada um!
Val muito o seu play!
Você vai se apaixonar por essa minissérie - especialmente se você mergulhar na perspectiva sócio-politica que a trama propõe de maneira criativa e singular! Narrativas sobre personagens confinados costumam oferecer um vasto território emocional e filosófico a ser explorado, e "Um Cavalheiro em Moscou" abraça essa premissa com elegância e com uma profundidade impressionante. Baseada no best-seller de Amor Towles e adaptada por Ben Vanstone (de "The English Game"), essa belíssima minissérie do Paramount+ entrega um drama altamente sofisticado e intimista, porém nem tão fácil assim, conduzido por uma atuação magistral de Ewan McGregor no papel do carismático Conde Alexander Rostov.
Publicado em 2016, o romance que deu origem a minissérie conta a história fictícia de Rostov, um Conde russo condenado por um tribunal bolchevique à prisão domiciliar no luxuoso Hotel Metropol, em Moscou, após a Revolução Russa de 1917. Privado de deixar o hotel, Rostov testemunha décadas de transformações na Rússia, enquanto desenvolve profundos laços com funcionários e hóspedes. Confira o trailer (dublado):
A ambientação de "Um Cavalheiro em Moscou" é um espetáculo à parte. O Hotel Metropol, com sua opulênciaart nouveau e corredores cheios de histórias, torna-se praticamente um personagem na narrativa. O contraste entre a grandiosidade do local e a realidade claustrofóbica do Conde reforça os temas centrais da minissérie como as dores da perda da liberdade, a necessidade de uma adaptação forçada e, especialmente, a resiliência humana diante de uma adversidade cruel. Reparem como a fotografia detalhista do Adam Gillham (de "Anne") e a direção primorosa de Sam Miller e de Sarah O'Gorman capturam com precisão tanto a nostalgia da era pré-revolucionária quanto a severidade e a hipocrisia do novo regime soviético, utilizando uma iluminação cheia de contraste e composições visuais cirúrgicas que refletem o estado emocional do protagonista com muita propriedade. As sensações e sentimentos que os episódios provocam, de fato, nos tiram da zona de conforto - algo muito parecido com o que encontramos no filme "Conclave".
McGregor entrega uma performance marcante, equilibrando o charme aristocrático do Conde com uma melancolia subjacente que toca a alma. Seu personagem, que no início encara sua nova realidade com uma resignação irônica, vai gradualmente descobrindo novas formas de encontrar algum significado dentro de sua "prisão dourada". Mary Elizabeth Winstead traz uma complexidade das mais interessantes para sua personagem Anna Urbanova - ela é uma atriz enigmática e parte fundamental da jornada do Conde. Outro ponto que merece destaque é a relação do Conde com Nina (Alexa Goodall e, posteriormente, Leah Harvey). Ela é uma jovem hóspede curiosa que se torna sua maior confidente, adicionando uma camada emocional tão genuína que praticamente funciona como um fio condutor do desenvolvimento do protagonista.
Agora é preciso que se diga, "Um Cavalheiro em Moscou" tem um ritmo de narrativa que, por vezes, adota um tom mais contemplativo - o que pode não agradar a todos. Propositalmente, a minissérie não se apoia em grandes reviravoltas ou sequências de ação, mas sim na riqueza dos diálogos e na construção minuciosa dos personagens. Ainda assim, claro, os momentos de tensão são habilmente construídos à medida que a vigilância do regime soviético se intensifica, colocando o Conde em situações que testam sua lealdade e seus valores. Em linhas gerais, a adaptação de Ben Vanstone mantém a essência do romance original, preservando sua qualidade literária, mas com os ajustes necessários para traduzir a introspecção do livro para a linguagem audiovisual. O resultado é uma obra que captura a beleza e a melancolia da história, sem perder a sensibilidade e a delicadeza do material de origem.
Saiba que "A Gentleman in Moscow" (no original) não é apenas uma minissérie sobre um homem forçado ao exílio dentro de um hotel, mas sim uma reflexão sobre o tempo, sobre a identidade e sobre a arte de encontrar significado nos pequenos momentos da vida. Eu diria que é uma experiência das mais envolventes, requintada e, acima de tudo, profundamente humana.
Em tempo, uma curiosidade: inicialmente, quem iria interpretar o Conde seria Kenneth Branagh, mas com a pandemia as coisas se desalinharam e o projeto acabou caindo nas mãos de Ewan McGregor - indicado ao Critics Choice Award e ao Globo de Ouro de 2025 pelo papel.
Você vai se apaixonar por essa minissérie - especialmente se você mergulhar na perspectiva sócio-politica que a trama propõe de maneira criativa e singular! Narrativas sobre personagens confinados costumam oferecer um vasto território emocional e filosófico a ser explorado, e "Um Cavalheiro em Moscou" abraça essa premissa com elegância e com uma profundidade impressionante. Baseada no best-seller de Amor Towles e adaptada por Ben Vanstone (de "The English Game"), essa belíssima minissérie do Paramount+ entrega um drama altamente sofisticado e intimista, porém nem tão fácil assim, conduzido por uma atuação magistral de Ewan McGregor no papel do carismático Conde Alexander Rostov.
Publicado em 2016, o romance que deu origem a minissérie conta a história fictícia de Rostov, um Conde russo condenado por um tribunal bolchevique à prisão domiciliar no luxuoso Hotel Metropol, em Moscou, após a Revolução Russa de 1917. Privado de deixar o hotel, Rostov testemunha décadas de transformações na Rússia, enquanto desenvolve profundos laços com funcionários e hóspedes. Confira o trailer (dublado):
A ambientação de "Um Cavalheiro em Moscou" é um espetáculo à parte. O Hotel Metropol, com sua opulênciaart nouveau e corredores cheios de histórias, torna-se praticamente um personagem na narrativa. O contraste entre a grandiosidade do local e a realidade claustrofóbica do Conde reforça os temas centrais da minissérie como as dores da perda da liberdade, a necessidade de uma adaptação forçada e, especialmente, a resiliência humana diante de uma adversidade cruel. Reparem como a fotografia detalhista do Adam Gillham (de "Anne") e a direção primorosa de Sam Miller e de Sarah O'Gorman capturam com precisão tanto a nostalgia da era pré-revolucionária quanto a severidade e a hipocrisia do novo regime soviético, utilizando uma iluminação cheia de contraste e composições visuais cirúrgicas que refletem o estado emocional do protagonista com muita propriedade. As sensações e sentimentos que os episódios provocam, de fato, nos tiram da zona de conforto - algo muito parecido com o que encontramos no filme "Conclave".
McGregor entrega uma performance marcante, equilibrando o charme aristocrático do Conde com uma melancolia subjacente que toca a alma. Seu personagem, que no início encara sua nova realidade com uma resignação irônica, vai gradualmente descobrindo novas formas de encontrar algum significado dentro de sua "prisão dourada". Mary Elizabeth Winstead traz uma complexidade das mais interessantes para sua personagem Anna Urbanova - ela é uma atriz enigmática e parte fundamental da jornada do Conde. Outro ponto que merece destaque é a relação do Conde com Nina (Alexa Goodall e, posteriormente, Leah Harvey). Ela é uma jovem hóspede curiosa que se torna sua maior confidente, adicionando uma camada emocional tão genuína que praticamente funciona como um fio condutor do desenvolvimento do protagonista.
Agora é preciso que se diga, "Um Cavalheiro em Moscou" tem um ritmo de narrativa que, por vezes, adota um tom mais contemplativo - o que pode não agradar a todos. Propositalmente, a minissérie não se apoia em grandes reviravoltas ou sequências de ação, mas sim na riqueza dos diálogos e na construção minuciosa dos personagens. Ainda assim, claro, os momentos de tensão são habilmente construídos à medida que a vigilância do regime soviético se intensifica, colocando o Conde em situações que testam sua lealdade e seus valores. Em linhas gerais, a adaptação de Ben Vanstone mantém a essência do romance original, preservando sua qualidade literária, mas com os ajustes necessários para traduzir a introspecção do livro para a linguagem audiovisual. O resultado é uma obra que captura a beleza e a melancolia da história, sem perder a sensibilidade e a delicadeza do material de origem.
Saiba que "A Gentleman in Moscow" (no original) não é apenas uma minissérie sobre um homem forçado ao exílio dentro de um hotel, mas sim uma reflexão sobre o tempo, sobre a identidade e sobre a arte de encontrar significado nos pequenos momentos da vida. Eu diria que é uma experiência das mais envolventes, requintada e, acima de tudo, profundamente humana.
Em tempo, uma curiosidade: inicialmente, quem iria interpretar o Conde seria Kenneth Branagh, mas com a pandemia as coisas se desalinharam e o projeto acabou caindo nas mãos de Ewan McGregor - indicado ao Critics Choice Award e ao Globo de Ouro de 2025 pelo papel.
Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.
A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:
Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.
Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.
Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana.
Vale muito a pena!
Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!
Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.
A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:
Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.
Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.
Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana.
Vale muito a pena!
Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!
"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.
A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:
"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!
Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.
Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais! Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!
Vale cada segundo do seu play!
PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.
"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.
A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:
"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!
Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.
Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais! Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!
Vale cada segundo do seu play!
PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.
O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade.
Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:
Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.
De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.
"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.
Vale su play!
O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade.
Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:
Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.
De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.
"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.
Vale su play!
"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.
Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:
Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio.
Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.
Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!
Vale muito!
"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.
Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:
Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio.
Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.
Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!
Vale muito!
Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".
A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:
Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!
E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação.
Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.
"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar".
Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!
Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".
A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:
Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!
E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação.
Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.
"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar".
Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!
Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.
Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:
Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?
“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.
Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.
"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!
Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!
Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.
Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:
Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?
“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.
Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.
"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!
Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!
Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!
Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:
Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.
Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!
"Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!
Vale seu play!
Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!
Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:
Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.
Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!
"Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!
Vale seu play!
"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.
Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:
Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.
Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".
"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!
"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.
Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:
Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.
Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".
"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!
"Um Motivo para Lutar" realmente pode te surpreender! O filme dirigido por Romain Cogitore é uma mistura equilibrada de drama e romance, que se apoia em uma narrativa emocionalmente intensa e cheia de contrastes bem ao estilo "Mil Vezes Boa Noite". Essa produção francesa da Disney, explora a interseção delicada entre a ideologia e as relações humanas, oferecendo uma reflexão profunda sobre o impacto das convicções em momentos de conflito. O filme se destaca ao discutir como o ativismo social e ambiental moldam as escolhas e as dinâmicas entre os personagens, criando dilemas complexos que desafiam os limites entre o dever e o afeto.
A trama segue Stella (Lyna Khoudri), uma jovem ativista engajada na resistência contra um projeto de construção em uma área ambientalmente protegida conhecida como "ZAD" (Zone à Défendre). No meio desse conflito, ela se envolve com Alexandre (François Civil), um policial infiltrado na comunidade de ativistas. À medida que o relacionamento entre eles se desenvolve, os dilemas éticos e emocionais emergem, colocando em risco tanto suas convicções quanto seus sentimentos. Confira o trailer (em francês):
Cogitore dirige o filme com uma sensibilidade impressionante, especialmente ao tratar da intimidade inserida dentro de um contexto de tensão política. Sua direção evita simplificações, focando justamente na ambiguidade moral que permeia a relação entre os protagonistas e a própria causa que eles defendem. A construção narrativa é tão cuidadosa que faz com que a tensão emocional entre Stella e Alexandre se desenvolva de um forma gradual, mantendo a audiência intrigada e entretida até o final. O roteiro escrito por Cogitore em parceria com Thomas Bidegain (de "Ferrugem e Osso") e Catherine Paillé (de "O Segredo da Câmara Escura") equilibra bem essa relação mais pessoal sem nunca abrir mão do pano de fundo político. A forma como "Um Motivo para Lutar"aborda a linha tênue entre o idealismo e o extremismo é notável, evitando juízos fáceis e oferecendo uma visão humana tanto dos ativistas quanto das forças de repressão.
A performance do elenco encabeçado por Lyna Khoudri e François Civil, sem dúvida, é um dos pontos altos do filme. Khoudri entrega uma personagem autêntica e visceral, revelando a sua intensidade e a sua vulnerabilidade diante dos dilemas afetivos e sociais que permeiam a narrativa. Civil também brilha ao interpretar Alexandre, um homem dividido entre sua missão profissional e o envolvimento emocional que nasce dentro da comunidade - a química entre os dois é palpável, e suas interações refletem a tensão entre "dever e desejo" a cada cena. Outro fator que ajuda a construir essa atmosfera de dualidade é a fotografia de Julien Hirsch (de "Lady Chatterley") - ao capturar as paisagens naturais da "ZAD", ele reforça tanto a beleza quanto a fragilidade do local. Os ambientes densos e isolados simbolizam a resistência dos ativistas e a pressão crescente que eles enfrentam, enquanto a escolha de cores mais naturalistas e uma iluminação suave complementam o tom intimista da narrativa. Repare como essa estética acentua os momentos de silêncio e reflexão, intensificando o impacto da história.
O foco na construção emocional e nas nuances dos personagens é um ponto relevante do trabalho de Cogitore, por outro lado essa identidade mais autoral impacta no ritmo e isso pode desgarrar alguns - e também pode dar a sensação de que a trama se alonga desnecessariamente em alguns momentos. No entanto, "Une Zone à Défendre" (no original), posso garantir, é uma experiência bastante envolvente especialmente por explorar a dinâmica entre Stella e Alexandre, respeitando a complexidade dos vínculos formados em contextos de conflito e a dificuldade de conciliar afetos com convicções. Realmente um convite para a reflexão sobre a natureza do compromisso e as fronteiras entre o amor e a lealdade por um ideal.
Vale muito o seu play!
"Um Motivo para Lutar" realmente pode te surpreender! O filme dirigido por Romain Cogitore é uma mistura equilibrada de drama e romance, que se apoia em uma narrativa emocionalmente intensa e cheia de contrastes bem ao estilo "Mil Vezes Boa Noite". Essa produção francesa da Disney, explora a interseção delicada entre a ideologia e as relações humanas, oferecendo uma reflexão profunda sobre o impacto das convicções em momentos de conflito. O filme se destaca ao discutir como o ativismo social e ambiental moldam as escolhas e as dinâmicas entre os personagens, criando dilemas complexos que desafiam os limites entre o dever e o afeto.
A trama segue Stella (Lyna Khoudri), uma jovem ativista engajada na resistência contra um projeto de construção em uma área ambientalmente protegida conhecida como "ZAD" (Zone à Défendre). No meio desse conflito, ela se envolve com Alexandre (François Civil), um policial infiltrado na comunidade de ativistas. À medida que o relacionamento entre eles se desenvolve, os dilemas éticos e emocionais emergem, colocando em risco tanto suas convicções quanto seus sentimentos. Confira o trailer (em francês):
Cogitore dirige o filme com uma sensibilidade impressionante, especialmente ao tratar da intimidade inserida dentro de um contexto de tensão política. Sua direção evita simplificações, focando justamente na ambiguidade moral que permeia a relação entre os protagonistas e a própria causa que eles defendem. A construção narrativa é tão cuidadosa que faz com que a tensão emocional entre Stella e Alexandre se desenvolva de um forma gradual, mantendo a audiência intrigada e entretida até o final. O roteiro escrito por Cogitore em parceria com Thomas Bidegain (de "Ferrugem e Osso") e Catherine Paillé (de "O Segredo da Câmara Escura") equilibra bem essa relação mais pessoal sem nunca abrir mão do pano de fundo político. A forma como "Um Motivo para Lutar"aborda a linha tênue entre o idealismo e o extremismo é notável, evitando juízos fáceis e oferecendo uma visão humana tanto dos ativistas quanto das forças de repressão.
A performance do elenco encabeçado por Lyna Khoudri e François Civil, sem dúvida, é um dos pontos altos do filme. Khoudri entrega uma personagem autêntica e visceral, revelando a sua intensidade e a sua vulnerabilidade diante dos dilemas afetivos e sociais que permeiam a narrativa. Civil também brilha ao interpretar Alexandre, um homem dividido entre sua missão profissional e o envolvimento emocional que nasce dentro da comunidade - a química entre os dois é palpável, e suas interações refletem a tensão entre "dever e desejo" a cada cena. Outro fator que ajuda a construir essa atmosfera de dualidade é a fotografia de Julien Hirsch (de "Lady Chatterley") - ao capturar as paisagens naturais da "ZAD", ele reforça tanto a beleza quanto a fragilidade do local. Os ambientes densos e isolados simbolizam a resistência dos ativistas e a pressão crescente que eles enfrentam, enquanto a escolha de cores mais naturalistas e uma iluminação suave complementam o tom intimista da narrativa. Repare como essa estética acentua os momentos de silêncio e reflexão, intensificando o impacto da história.
O foco na construção emocional e nas nuances dos personagens é um ponto relevante do trabalho de Cogitore, por outro lado essa identidade mais autoral impacta no ritmo e isso pode desgarrar alguns - e também pode dar a sensação de que a trama se alonga desnecessariamente em alguns momentos. No entanto, "Une Zone à Défendre" (no original), posso garantir, é uma experiência bastante envolvente especialmente por explorar a dinâmica entre Stella e Alexandre, respeitando a complexidade dos vínculos formados em contextos de conflito e a dificuldade de conciliar afetos com convicções. Realmente um convite para a reflexão sobre a natureza do compromisso e as fronteiras entre o amor e a lealdade por um ideal.
Vale muito o seu play!
Um filme sobre a vida como ela é - linda, mas cheia de pancadas!
Talvez não tenha maneira mais direta de definir "Uma Bela Manhã", filme dirigido por uma das mais respeitadas cineastas francesas em atividade, Mia Hansen-Løve (de "O Que Está Por Vir"). Seguindo muito seu conceito cinematográfico de retratar a vida cotidiana e suas relações mais particulares, Mia, mais uma vez, lança um olhar dos mais interessantes sobre seus personagens ao mesmo tempo em que se revela disposta a confrontá-los com situações complexas, mas de fácil identificação. Veja, se você está a procura do embate natural das relações ou uma história que segue aquela estrutura mais tradicional, certamente esse filme não é para você. Por outro lado, se estiver disposto a mergulhar em uma narrativa profundamente intima, de uma personagem que tenta encontrar a alegria nas pequenas coisas e na esperança de que tudo vai se encaixar em algum momento, mesmo que para isso tenha que lidar com os tombos da vida e com o tempo que faz questão de mostrar a sua crueldade, você está no lugar certo - mas não será uma jornada fácil (e dependendo do momento em que está passando, será uma jornada dificílima)!
Sandra (Léa Seydoux) é uma jovem viúva que trabalha como tradutora e que cria sozinha sua filha de 8 anos, tendo que lidar com os desafios da maternidade ao mesmo tempo em que cuida de seu pai, Georg Kinsler (Pascal Greggory), um professor de Filosofia aposentado e que já não pode mais se esquivar de uma morte lenta diante de uma doença degenerativa. Enquanto ela embarca com sua família por obstáculos em hospitais e lares de idosos para instalar Georg em um lugar seguro, Sandra se envolve com Clément (Melvil Poupaud), um homem casado e amigo do seu falecido marido. Confira o trailer:
É impossível não olhar para "Un Beau Matin" (no original) e não ficar absolutamente boquiaberto com a performance de Léa Seydoux (de "Azul é a Cor Mais Quente"). Dentro daquela atmosfera tão deprimente quanto humana, Seydoux entrega no olhar, a sua dor - e saiba que o "deprimente" que cito não se vale do estereótipo ou do convencional, mas sim da sensibilidade de entender que longe da fantasia, existe uma batalha diária para lidar com sua própria cruz. E aqui, também é preciso que se diga, o roteiro da própria Mia enaltece essa perspectiva mais introspectiva em um confronto quase visceral entre o que se sente e o que se mostra! É impressionante como essa dualidade alcança tons tão marcantes na maneira como experienciamos o filme - é de sentir uma dor no peito, pelo outro, ou por nós mesmos.
A diretora sabe do tamanho de sua responsabilidade ao basear uma história de quase duas horas apenas na psicologia de seus personagens. Reparem como até mesmo um pedido aparentemente simples de uma ex-aluna de seu pai como “você poderia me passar o e-mail dele?”, é capaz de levar Sandra às lágrimas. Sim, é um pedido cotidiano, mas o impacto do "comum" é o que move Mia na exploração magistral da condição humana como ninguém. Ela usa gatilhos narrativos perfeitos para discutir a complexidade dos relacionamentos (a dúvida natural de Clément sobre seu casamento, é um ótimo ponto) e das mudanças ao longo do tempo (a relação com sua mãe e sua irmã, e depois com seu pai, exemplificam bem essa provocação).
A direção de arte de Mila Preli (de "História de um Olhar") é fantástica - reparem como os cenários ajudam a construir a personalidade dos personagens. Já a fotografia do Denis Lenoir (de "Irma Vep") ao mesmo tempo que cria um ambiente sutil e palpável, carrega uma densidade impressionante. O fato é que tecnicamente o filme é tão bom quanto artisticamente, mesmo com seu ar mais independente. "Uma Bela Manhã" tem mesmo esse olhar sensível sobre a vida, sobre o tempo e sobre os relacionamentos amorosos e familiares, oferecendo uma experiência que certamente irá ressoar muito depois dos créditos finais - principalmente se você for uma pessoa que sofre, que luta, que chora e que se recompõe, que é forte quando necessário, mas frágil quando lhe permitem.
Filmaço!
Um filme sobre a vida como ela é - linda, mas cheia de pancadas!
Talvez não tenha maneira mais direta de definir "Uma Bela Manhã", filme dirigido por uma das mais respeitadas cineastas francesas em atividade, Mia Hansen-Løve (de "O Que Está Por Vir"). Seguindo muito seu conceito cinematográfico de retratar a vida cotidiana e suas relações mais particulares, Mia, mais uma vez, lança um olhar dos mais interessantes sobre seus personagens ao mesmo tempo em que se revela disposta a confrontá-los com situações complexas, mas de fácil identificação. Veja, se você está a procura do embate natural das relações ou uma história que segue aquela estrutura mais tradicional, certamente esse filme não é para você. Por outro lado, se estiver disposto a mergulhar em uma narrativa profundamente intima, de uma personagem que tenta encontrar a alegria nas pequenas coisas e na esperança de que tudo vai se encaixar em algum momento, mesmo que para isso tenha que lidar com os tombos da vida e com o tempo que faz questão de mostrar a sua crueldade, você está no lugar certo - mas não será uma jornada fácil (e dependendo do momento em que está passando, será uma jornada dificílima)!
Sandra (Léa Seydoux) é uma jovem viúva que trabalha como tradutora e que cria sozinha sua filha de 8 anos, tendo que lidar com os desafios da maternidade ao mesmo tempo em que cuida de seu pai, Georg Kinsler (Pascal Greggory), um professor de Filosofia aposentado e que já não pode mais se esquivar de uma morte lenta diante de uma doença degenerativa. Enquanto ela embarca com sua família por obstáculos em hospitais e lares de idosos para instalar Georg em um lugar seguro, Sandra se envolve com Clément (Melvil Poupaud), um homem casado e amigo do seu falecido marido. Confira o trailer:
É impossível não olhar para "Un Beau Matin" (no original) e não ficar absolutamente boquiaberto com a performance de Léa Seydoux (de "Azul é a Cor Mais Quente"). Dentro daquela atmosfera tão deprimente quanto humana, Seydoux entrega no olhar, a sua dor - e saiba que o "deprimente" que cito não se vale do estereótipo ou do convencional, mas sim da sensibilidade de entender que longe da fantasia, existe uma batalha diária para lidar com sua própria cruz. E aqui, também é preciso que se diga, o roteiro da própria Mia enaltece essa perspectiva mais introspectiva em um confronto quase visceral entre o que se sente e o que se mostra! É impressionante como essa dualidade alcança tons tão marcantes na maneira como experienciamos o filme - é de sentir uma dor no peito, pelo outro, ou por nós mesmos.
A diretora sabe do tamanho de sua responsabilidade ao basear uma história de quase duas horas apenas na psicologia de seus personagens. Reparem como até mesmo um pedido aparentemente simples de uma ex-aluna de seu pai como “você poderia me passar o e-mail dele?”, é capaz de levar Sandra às lágrimas. Sim, é um pedido cotidiano, mas o impacto do "comum" é o que move Mia na exploração magistral da condição humana como ninguém. Ela usa gatilhos narrativos perfeitos para discutir a complexidade dos relacionamentos (a dúvida natural de Clément sobre seu casamento, é um ótimo ponto) e das mudanças ao longo do tempo (a relação com sua mãe e sua irmã, e depois com seu pai, exemplificam bem essa provocação).
A direção de arte de Mila Preli (de "História de um Olhar") é fantástica - reparem como os cenários ajudam a construir a personalidade dos personagens. Já a fotografia do Denis Lenoir (de "Irma Vep") ao mesmo tempo que cria um ambiente sutil e palpável, carrega uma densidade impressionante. O fato é que tecnicamente o filme é tão bom quanto artisticamente, mesmo com seu ar mais independente. "Uma Bela Manhã" tem mesmo esse olhar sensível sobre a vida, sobre o tempo e sobre os relacionamentos amorosos e familiares, oferecendo uma experiência que certamente irá ressoar muito depois dos créditos finais - principalmente se você for uma pessoa que sofre, que luta, que chora e que se recompõe, que é forte quando necessário, mas frágil quando lhe permitem.
Filmaço!
Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.
Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:
“Uma Família Quase Perfeita” tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.
Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.
Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar. Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".
“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!
Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.
Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:
“Uma Família Quase Perfeita” tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.
Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.
Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar. Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".
“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!
"Uma noite em Miami..." tem um roteiro extremamente original, criativo, inteligente; é muito bem dirigido pela estreante Regina King, fotografado pelo Tami Reiker; e o elenco é simplesmente incrível - mas o filme não será uma unanimidade! Na nossa opinião, o filme é excelente, mas é difícil, pois exige uma certa visão de mundo que aproxima a história muito mais dos americanos do que de outras platéias. Embora seja uma ficção, o roteiro usa de muitas referências reais, detalhes históricos que poucos conhecem e que será de difícil identificação - mais ou menos como aconteceu com "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino.
O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do dramaturgo Kemp Powers. Ele coloca o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), o “rei do soul” Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o pugilista Muhammed Ali (Eli Goree) e o ator/jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge) juntos em um quarto de hotel, numa noite de 1964 em que celebravam o título mundial de Cassius Clay. É ali que essas importantes personalidades confrontam seus próprios papéis perante a sociedade, sobretudo em relação ao racismo estrutural que imperava naquele momento. Confira o trailer:
Olha que genial: embora contemporâneos, amigos e militantes do movimento por direitos civis dos negros na década de 1960, essa noite que vemos no filme, nunca existiu na realidade, apenas na cabeça de Powers que foi capaz de criar uma atmosfera que transforma um inesperado bate-papo em um momento cheio de reflexões importantes para a sociedade (atual). Como em "Os 7 de Chicago", "One Night in Miami" (título original) faz uma poderosa introdução apresentando os quatro protagonistas individualmente, usando de um conceito narrativo criativo para expor exatamente suas respectivas personalidades e pontuando suas opiniões (e postura) em relação ao segregacionismo da época.
Além de tecnicamente perfeito e de entrar definitivamente em uma corrida por muitas indicações ao Oscar, “Uma Noite em Miami…” é muito inteligente ao evitar polemizar os momentos de racismo e violência contra negros como vemos em outras obras com essa temática. Muito pelo contrário, a obra foca no que é dito nas entrelinhas e na amplitude que essa reflexão ganha na voz de personagens tão marcantes para o movimento - mesmo sendo uma ficção, é de uma força impressionante! O filme é intenso, cadenciado, praticamente construído em diálogos profundos, mas que nos provoca muitas (e muitas) reflexões.
Vale muito a pena e reparem no incrível trabalho de Kingsley Ben-Adir como Malcolm X - é de aplaudir de pé!
"Uma noite em Miami..." tem um roteiro extremamente original, criativo, inteligente; é muito bem dirigido pela estreante Regina King, fotografado pelo Tami Reiker; e o elenco é simplesmente incrível - mas o filme não será uma unanimidade! Na nossa opinião, o filme é excelente, mas é difícil, pois exige uma certa visão de mundo que aproxima a história muito mais dos americanos do que de outras platéias. Embora seja uma ficção, o roteiro usa de muitas referências reais, detalhes históricos que poucos conhecem e que será de difícil identificação - mais ou menos como aconteceu com "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino.
O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do dramaturgo Kemp Powers. Ele coloca o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), o “rei do soul” Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o pugilista Muhammed Ali (Eli Goree) e o ator/jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge) juntos em um quarto de hotel, numa noite de 1964 em que celebravam o título mundial de Cassius Clay. É ali que essas importantes personalidades confrontam seus próprios papéis perante a sociedade, sobretudo em relação ao racismo estrutural que imperava naquele momento. Confira o trailer:
Olha que genial: embora contemporâneos, amigos e militantes do movimento por direitos civis dos negros na década de 1960, essa noite que vemos no filme, nunca existiu na realidade, apenas na cabeça de Powers que foi capaz de criar uma atmosfera que transforma um inesperado bate-papo em um momento cheio de reflexões importantes para a sociedade (atual). Como em "Os 7 de Chicago", "One Night in Miami" (título original) faz uma poderosa introdução apresentando os quatro protagonistas individualmente, usando de um conceito narrativo criativo para expor exatamente suas respectivas personalidades e pontuando suas opiniões (e postura) em relação ao segregacionismo da época.
Além de tecnicamente perfeito e de entrar definitivamente em uma corrida por muitas indicações ao Oscar, “Uma Noite em Miami…” é muito inteligente ao evitar polemizar os momentos de racismo e violência contra negros como vemos em outras obras com essa temática. Muito pelo contrário, a obra foca no que é dito nas entrelinhas e na amplitude que essa reflexão ganha na voz de personagens tão marcantes para o movimento - mesmo sendo uma ficção, é de uma força impressionante! O filme é intenso, cadenciado, praticamente construído em diálogos profundos, mas que nos provoca muitas (e muitas) reflexões.
Vale muito a pena e reparem no incrível trabalho de Kingsley Ben-Adir como Malcolm X - é de aplaudir de pé!
Até onde pode ir o amor de uma mãe?
Sem a menor dúvida, "Uma Prova de Amor" vai, no mínimo, te fazer refletir sobre essa questão - e não será muito fácil tirar uma conclusão. Como um bom drama deve ser, essa produção de 2009 segue a cartilha do gênero ao pé da letra, ou seja, em uma jornada nada tranquila, você vai rir, se apaixonar, se irritar, se emocionar e ainda assim vai demorar alguns segundos para se levantar depois que o créditos começarem a subir.
Anna Fitzgerald (Abigail Breslin - a simpática garotinha de "Little Miss Sunshine") foi concebida com o único intuito de ajudar a salvar sua irmã doente, Kate (Sofia Vassilieva). Em pouco tempo, Anna foi submetida a muitas doações, procedimentos extremamente invasivos, cirurgias, enfim, tudo para ajudar sua irmã. Cansada e disposta a ter uma vida normal, ela resolve levar seus pais para o tribunal afim de evitar uma doação de rim e assim conseguir o que seu advogado, Campbell Alexander (Alec Baldwin), definiu como "emancipação médica". Confira o trailer:
Embora a sinopse dê a entender que estamos diante de uma história onde o conflito principal seria decidido em um tribunal, posso garantir que "Uma Prova de Amor" vai muito além do sensacionalismo que o roteiro poderia criar em cima dessa premissa - mesmo tendo todos os elementos para fazer de "This is Us" um episódio da "Galinha Pintadinha". O diretor Nick Cassavetes (o mesmo de "Diário de uma Paixão") foi muito inteligente em construir uma dinâmica narrativa não-linear para a trama, fazendo com que toda questão judicial ficasse em segundo plano, priorizando assim a história de Kate e como sua condição impactou sua família em vários momentos - e aqui completo: inclusive nos momentos bons.
Veja, mesmo trazendo para discussão assuntos delicados e que exigem uma certa coragem para expo-los, Cassavetes não se aprofunda em nenhum deles com uma força desproporcional e impactante como no caso de "Alabama Monroe", por exemplo. Essa visão propositalmente superficial dá um tom fragmentado como se estivéssemos revisitando nossa memória, mas ao mesmo tempo suaviza o impacto emocional da trama - não que ele não exista, mas pelo menos temos tempo de nos recuperar entre um golpe e outro.
Abigail Breslin e Sofia Vassilieva criam uma relação incrível pela idade das duas atrizes - maduras, elas se comunicam com os olhos e isso é lindo. Cameron Diaz também vai muito bem e conduz perfeitamente o propósito do roteiro de coloca-la como antagonista, mesmo sendo a peça-chave da família e de toda aquela sensação que mistura nostalgia com dor - muito bem explorada pelo diretor de fotografia Caleb Deschanel (indicado a 6 Oscars, o último por "Nunca Deixe de Lembrar" em 2019). É como se estivéssemos assistindo uma espécie de "álbum de família" com direito a cenas felizes feitas em câmera lenta com uma música sentimental ao fundo.
Baseado no romance de Jodi Picoult, "Uma Prova de Amor" é um filme lindo em todos os aspectos - que será inesquecível para alguns, e apenas um bom entretenimento para outros, porém para ambos, ficará a certeza de que uma boa história, mesmo difícil de se adaptar, pode trazer uma narrativa cheia de sensibilidade e emoção sem se tornar, em nenhum momento, apelativa ou expositiva demais!
Vale seu play!
Até onde pode ir o amor de uma mãe?
Sem a menor dúvida, "Uma Prova de Amor" vai, no mínimo, te fazer refletir sobre essa questão - e não será muito fácil tirar uma conclusão. Como um bom drama deve ser, essa produção de 2009 segue a cartilha do gênero ao pé da letra, ou seja, em uma jornada nada tranquila, você vai rir, se apaixonar, se irritar, se emocionar e ainda assim vai demorar alguns segundos para se levantar depois que o créditos começarem a subir.
Anna Fitzgerald (Abigail Breslin - a simpática garotinha de "Little Miss Sunshine") foi concebida com o único intuito de ajudar a salvar sua irmã doente, Kate (Sofia Vassilieva). Em pouco tempo, Anna foi submetida a muitas doações, procedimentos extremamente invasivos, cirurgias, enfim, tudo para ajudar sua irmã. Cansada e disposta a ter uma vida normal, ela resolve levar seus pais para o tribunal afim de evitar uma doação de rim e assim conseguir o que seu advogado, Campbell Alexander (Alec Baldwin), definiu como "emancipação médica". Confira o trailer:
Embora a sinopse dê a entender que estamos diante de uma história onde o conflito principal seria decidido em um tribunal, posso garantir que "Uma Prova de Amor" vai muito além do sensacionalismo que o roteiro poderia criar em cima dessa premissa - mesmo tendo todos os elementos para fazer de "This is Us" um episódio da "Galinha Pintadinha". O diretor Nick Cassavetes (o mesmo de "Diário de uma Paixão") foi muito inteligente em construir uma dinâmica narrativa não-linear para a trama, fazendo com que toda questão judicial ficasse em segundo plano, priorizando assim a história de Kate e como sua condição impactou sua família em vários momentos - e aqui completo: inclusive nos momentos bons.
Veja, mesmo trazendo para discussão assuntos delicados e que exigem uma certa coragem para expo-los, Cassavetes não se aprofunda em nenhum deles com uma força desproporcional e impactante como no caso de "Alabama Monroe", por exemplo. Essa visão propositalmente superficial dá um tom fragmentado como se estivéssemos revisitando nossa memória, mas ao mesmo tempo suaviza o impacto emocional da trama - não que ele não exista, mas pelo menos temos tempo de nos recuperar entre um golpe e outro.
Abigail Breslin e Sofia Vassilieva criam uma relação incrível pela idade das duas atrizes - maduras, elas se comunicam com os olhos e isso é lindo. Cameron Diaz também vai muito bem e conduz perfeitamente o propósito do roteiro de coloca-la como antagonista, mesmo sendo a peça-chave da família e de toda aquela sensação que mistura nostalgia com dor - muito bem explorada pelo diretor de fotografia Caleb Deschanel (indicado a 6 Oscars, o último por "Nunca Deixe de Lembrar" em 2019). É como se estivéssemos assistindo uma espécie de "álbum de família" com direito a cenas felizes feitas em câmera lenta com uma música sentimental ao fundo.
Baseado no romance de Jodi Picoult, "Uma Prova de Amor" é um filme lindo em todos os aspectos - que será inesquecível para alguns, e apenas um bom entretenimento para outros, porém para ambos, ficará a certeza de que uma boa história, mesmo difícil de se adaptar, pode trazer uma narrativa cheia de sensibilidade e emoção sem se tornar, em nenhum momento, apelativa ou expositiva demais!
Vale seu play!
"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!
"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:
Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.
A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.
Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!
"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!
"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:
Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.
A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.
Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!
Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.
O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!
"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!
O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!
O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!
Vale como entretenimento!
Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.
O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!
"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!
O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!
O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!
Vale como entretenimento!
Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.
"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):
É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.
O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".
"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.
Vale muito o seu play!
Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.
"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):
É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.
O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".
"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.
Vale muito o seu play!
"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.
Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:
O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!
"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!
PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.
"Utøya 22.juli" (título original) é simplesmente perturbador! Filme norueguês, dirigido pelo Erik Poppe, que conta a história real de um ataque terrorista em uma ilha da Noruega em 2011, onde um grupo de jovens participavam de uma espécie de acampamento de verão.
Na verdade, eu estava muito curioso desde que o filme foi apresentado no Festival de Berlin de 2018, por duas razões: a primeira, se tratava de um filme em "real time", ou seja, os 71 minutos de terror que esses jovens passaram estão no filme pelo ponto de vista de uma das personagens - a câmera acompanha essa personagem 100% do tempo com uma sensibilidade impressionante. Em segundo, porque esses 71 minutos são um plano sequência de cair o queixo! Tudo funciona tão perfeitamente que você chega a duvidar se é possível rodar um filme assim - é uma dinâmica narrativa que te coloca no meio do inferno sem pedir licença. Confira o trailer:
O Diretor é um ex-fotografo de guerra e ele, magistralmente, conseguiu reproduzir com sua lente todo o medo, ansiedade, tensão e desespero que se imagina em uma situação de terror como essa, somente pelo olhar da protagonista (a incrível Andrea Berntzen). Não saber de onde vem perigo e poder sentir essa angustia assistindo o filme, sem dúvida, foi uma experiência genial - mérito do diretor, do fotógrafo e digno de muitos prêmios, inclusive! O filme é, de fato, uma experiência sensorial impressionante; é como se aquela famosa cena inicial do "Resgate do Soldado Ryan" durasse mais de uma hora!!!! Angustiante!!!
"Utoya 22 de Julho" não levou o Urso de Ouro em Berlin, mas tem muito potencial para ter uma carreira internacional de muito sucesso e para quem gosta de uma imersão cinematográfica com um nível de qualidade acima da média (e que certamente vai mexer com você), o filme é imperdível!!!! Um soco na boca do estômago em 24 frames por segundo!!!! Vale muito mais o play!!!!
PS: O assunto é tão marcante que rendeu mais duas produções: uma delas com o diretor Paul Greengrass (de Capitão Phillips e Vôo United 93) e produzido pela Netflix, chamado "22 July"! A outra, uma co-produção da Noruega, Suécia e Dinamarca que vai contar a história pelo ponto de vista de 4 sobreviventes do massacre.
"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!
O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:
O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.
Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".
Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!
Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida!
"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!
O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:
O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.
Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".
Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!
Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida!