"O Relatório" é um dos melhores filmes de 2019 sem a menor dúvida e muito me impressiona o fato de ter sido praticamente descartado na temporada de prêmios do ano passado!
Uma co-produção original da Amazon em parceria com a Vice, baseado em fatos reais, "O Relatório" acompanha uma delicada investigação comandada por Daniel Jones (Adam Driver), um funcionário da senadora norte-americana Dianne Feinstein (Annette Bening), sobre um sigiloso programa de "Detenção e Interrogatório" desenvolvido pela CIA (sempre ela), logo após os ataques de 11 de Setembro. Jones acaba descobrindo que a metodologia usada contra os presos, conhecida como “técnicas de interrogatório avançadas”, nada mais era do que várias formas de tortura e, pior, muitos dos 119 detidos eram civis sem nenhuma ligação com a Al Qaeda. Essas práticas autorizadas pelo alto escalão da CIA, resultaram na morte de vários inocentes e de suspeitos pouco relevantes na prevenção de ataques terroristas, sendo considerada um fracasso em sua execução, além de infringir a legislação norte-americana e o Direitos Humanos. Confira o trailer (em inglês):
"O Relatório" é quase uma continuação dos fatos retratados em outra produção que está disponível na Prime Vídeo chamada "The Looming Tower" (da Hulu) - inclusive vários personagens são facilmente reconhecidos. Se em "The Looming Tower" a CIA demostrava sua total incompetência para impedir um ataque terrorista ao guardar para si informações importantes, graças a uma rixa política dom o FBI, em "O Relatório" é apenas a comprovação do seu despreparo para lidar com suas próprias falhas. É mais uma história de embrulhar o estômago, cercada de burocratas egocêntricos, que é muito bem contada por um diretor quase estreante, Scott Z. Burns - o roteirista que já nos entregou dois ótimos thrillers: "Terapia de Risco" e "Contágio"!
Olha, o filme vale muito a pena, mas se você assina Amazon Prime eu sugiro que você assista os dez episódios de "The Looming Tower" e logo depois "O Relatório" - pode se preparar para uma experiência incrível com dramas políticos (reais) de primeiríssima qualidade!
Um dos elementos que mais me impressionou no filme foi seu roteiro. Ele comprime cerca de dez anos de história em "apenas" duas horas, com muita maestria - não entendo como esse roteiro não concorreu ao Oscar! São várias cenas de interrogatórios com prisioneiros, filmadas quase documentalmente de uma maneira muito parecida ao premiado "A Hora Mais Escura", enquanto as cenas de investigação segue muito o conceito visual do cultuado "Spotlight" - eu diria que "O Relatório" é uma junção dessas duas referências. Imagine que o relatório oficial dessa investigação era composta por sete mil páginas e sua versão publicada, 400. Tendo em mente que o roteiro não tem mais que 200 páginas, imagine o trabalho que foi equilibrar os fatos reais com a dinâmica cinematográfica de uma história que precisaria ser assimilada pelo público e ainda sem uma denotação de superficial!
A senadora vivida por Annette Bening, responsável pelo comitê que ordena a investigação, é outro elemento que merece destaque. Ela funciona como o ponto de equilíbrio para o personagem de Adam Driver, já que ambos parecem comprometidos com a investigação, mas com preocupações completamente diferentes - o que ajuda a criar um ponto de tensão muito interessante para a história. Reparem quando ela questiona Dan: "Você trabalha para mim ou para o relatório?" E completa logo em seguida: "Cuidado com sua resposta!" - tecnicamente ela é a força racional enquanto ele é a emocional! Um verdadeiro convite ao nosso julgamento, posso concluir!
Sem dúvida que o trabalho do diretor Scott Z. Burns diminui a impressão que "O Relatório" poderia gerar ao assumir que está usando a linguagem cinematográfica como meio para tornar acessível uma informação relevante para a sociedade americana (e mundial) - e isso teria muito do envolvimento do grupo Vice na produção, mas também não dá para esquecer que o filme é uma espécie de aula sobre politica com toques de drama, com um texto denso e bastante difícil de se localizar para quem desconhece completamente o caso (ou a linha temporal que culminou na investigação).
Olha, eu gostei demais - em todos os aspectos: dos cinematográficos ao histórico! Vale muito a pena, mesmo!
"O Relatório" é um dos melhores filmes de 2019 sem a menor dúvida e muito me impressiona o fato de ter sido praticamente descartado na temporada de prêmios do ano passado!
Uma co-produção original da Amazon em parceria com a Vice, baseado em fatos reais, "O Relatório" acompanha uma delicada investigação comandada por Daniel Jones (Adam Driver), um funcionário da senadora norte-americana Dianne Feinstein (Annette Bening), sobre um sigiloso programa de "Detenção e Interrogatório" desenvolvido pela CIA (sempre ela), logo após os ataques de 11 de Setembro. Jones acaba descobrindo que a metodologia usada contra os presos, conhecida como “técnicas de interrogatório avançadas”, nada mais era do que várias formas de tortura e, pior, muitos dos 119 detidos eram civis sem nenhuma ligação com a Al Qaeda. Essas práticas autorizadas pelo alto escalão da CIA, resultaram na morte de vários inocentes e de suspeitos pouco relevantes na prevenção de ataques terroristas, sendo considerada um fracasso em sua execução, além de infringir a legislação norte-americana e o Direitos Humanos. Confira o trailer (em inglês):
"O Relatório" é quase uma continuação dos fatos retratados em outra produção que está disponível na Prime Vídeo chamada "The Looming Tower" (da Hulu) - inclusive vários personagens são facilmente reconhecidos. Se em "The Looming Tower" a CIA demostrava sua total incompetência para impedir um ataque terrorista ao guardar para si informações importantes, graças a uma rixa política dom o FBI, em "O Relatório" é apenas a comprovação do seu despreparo para lidar com suas próprias falhas. É mais uma história de embrulhar o estômago, cercada de burocratas egocêntricos, que é muito bem contada por um diretor quase estreante, Scott Z. Burns - o roteirista que já nos entregou dois ótimos thrillers: "Terapia de Risco" e "Contágio"!
Olha, o filme vale muito a pena, mas se você assina Amazon Prime eu sugiro que você assista os dez episódios de "The Looming Tower" e logo depois "O Relatório" - pode se preparar para uma experiência incrível com dramas políticos (reais) de primeiríssima qualidade!
Um dos elementos que mais me impressionou no filme foi seu roteiro. Ele comprime cerca de dez anos de história em "apenas" duas horas, com muita maestria - não entendo como esse roteiro não concorreu ao Oscar! São várias cenas de interrogatórios com prisioneiros, filmadas quase documentalmente de uma maneira muito parecida ao premiado "A Hora Mais Escura", enquanto as cenas de investigação segue muito o conceito visual do cultuado "Spotlight" - eu diria que "O Relatório" é uma junção dessas duas referências. Imagine que o relatório oficial dessa investigação era composta por sete mil páginas e sua versão publicada, 400. Tendo em mente que o roteiro não tem mais que 200 páginas, imagine o trabalho que foi equilibrar os fatos reais com a dinâmica cinematográfica de uma história que precisaria ser assimilada pelo público e ainda sem uma denotação de superficial!
A senadora vivida por Annette Bening, responsável pelo comitê que ordena a investigação, é outro elemento que merece destaque. Ela funciona como o ponto de equilíbrio para o personagem de Adam Driver, já que ambos parecem comprometidos com a investigação, mas com preocupações completamente diferentes - o que ajuda a criar um ponto de tensão muito interessante para a história. Reparem quando ela questiona Dan: "Você trabalha para mim ou para o relatório?" E completa logo em seguida: "Cuidado com sua resposta!" - tecnicamente ela é a força racional enquanto ele é a emocional! Um verdadeiro convite ao nosso julgamento, posso concluir!
Sem dúvida que o trabalho do diretor Scott Z. Burns diminui a impressão que "O Relatório" poderia gerar ao assumir que está usando a linguagem cinematográfica como meio para tornar acessível uma informação relevante para a sociedade americana (e mundial) - e isso teria muito do envolvimento do grupo Vice na produção, mas também não dá para esquecer que o filme é uma espécie de aula sobre politica com toques de drama, com um texto denso e bastante difícil de se localizar para quem desconhece completamente o caso (ou a linha temporal que culminou na investigação).
Olha, eu gostei demais - em todos os aspectos: dos cinematográficos ao histórico! Vale muito a pena, mesmo!
"O Sabor da Vida" é um típico drama francês - na sua essência e na sua cadência. O curioso, no entanto, é que o filme foi dirigido pelo Anh Hung Tran, de "O Cheiro do Papaia Verde" e de "As Luzes de um Verão" - todos reverenciados em Cannes. Esse imigrante vietnamita que desde os anos 90 se posicionou no cinema europeu como um contador de histórias sensíveis sobre as relações, sempre inseridas em um contexto poético, outra uma vez entrega um obra para, mais do que assistir, admirar! "La Passion de Dodin Bouffant" (no original) não é um filme tradicional, ele é mais uma poesia, cheia de simbolismos (claro), que explora a conexão íntima entre a gastronomia e as emoções humanas. Baseado na obra de Marcel Rouff, o filme retrata a relação complexa e profunda entre o renomado chef Dodin Bouffant e sua cozinheira Eugénie, em uma história que se desenrola na França de 1885. Com uma abordagem intimista e muito sensível, "O Sabor da Vida"evoca o universo sensorial da culinária como expressão de amor, desejo, dedicação e arte - uma espécie de "Chef's Table" do século XIX"!
A narrativa gira em torno da paixão que une Dodin (Benoît Magimel) e Eugénie (Juliette Binoche), tanto na cozinha quanto fora dela. Em meio à preparação de pratos elaborados e cenas de refinada técnica culinária, o relacionamento dos dois é revelado com muita sutileza. Dodin deseja que Eugénie se case com ele, mas ela hesita em aceitar, já que é uma mulher de princípios independentes e dedicada a sua arte - para ela, o amor entre os dois está na relação profissional. Acontece que a dualidade entre o desejo de liberdade de Eugénie e a conexão emocional que a gastronomia proporciona para ambos, reflete as nuances de uma relação que transcende as palavras até que Dodin, finalmente, resolve cozinhar para ela. Confira o trailer:
Até pela proposta narrativa de "O Sabor da Vida", imediatamente já entendemos o quanto a direção de Anh Hung Tran prioriza o sutil e o contemplativa. Capturando cada detalhe com precisão e profundidade, o diretor faz uso de uma cinematografia rica e texturizada, onde cada prato preparado se torna uma verdadeira obra de arte. A fotografia de Jonathan Ricquebourg volta sua câmera para as sensações e texturas daquele mundo cheio de cores e sabores - os pratos e ingredientes são filmados com um olhar cuidadoso, quase reverencial, evocando o fascínio e o respeito pela culinária francesa tradicional. Alinhado com o estilo de Hung Tran, Ricquebourg utiliza planos fechados que intensificam a experiência sensorial, permitindo que a audiência praticamente "sinta" o aroma e o gosto das preparações - um conselho: não assista esse filme com fome!
Benoît Magimel e Juliette Binoche, ambos com atuações sublimes, capturam a complexidade de seus personagens com uma química magnética (eles já foram um casal na vida real). Magimel traz a Dodin uma camada de profundidade que vai além do mero papel de um chef; ele é um homem apaixonado pela comida e pelas experiências que o sabor pode proporcionar, mas também é uma figura vulnerável e de certa forma inseguro perante seu amor por Eugénie. Binoche, por sua vez, oferece uma interpretação rica e contida, expressando uma força interior e uma independência que são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa. A dinâmica entre os dois é carregada de desejo e respeito mútuo, se comunicando mais pelos gestos e olhares do que com palavras, em um retrato delicado do amor e do companheirismo verdadeiro.
Veja, o filme se concentra nos momentos de convivência silenciosa, nas delicadezas que revelam as profundezas emocionais dos protagonistas, ou seja, você está realmente diante de um drama de relações nada convencional, mas belíssimo de assistir. "O Sabor da Vida" poderia até ter, mas evita cenas dramáticas intensas para construir uma jornada onde os pequenos detalhes, como a preparação de uma refeição ou o ajuste cuidadoso de um prato, se tornam veículos de expressão muito mais potentes e representativos de um sentimento mais íntimo. Indicado ao Oscar de Filme Internacional pela França e premiado em festivais importantes em 2023, "O Sabor da Vida" é belo e reflexivo, moldado para aqueles que apreciam o cinema sensorial e o valor de uma boa gastronomia.
Vale muito o seu play!
"O Sabor da Vida" é um típico drama francês - na sua essência e na sua cadência. O curioso, no entanto, é que o filme foi dirigido pelo Anh Hung Tran, de "O Cheiro do Papaia Verde" e de "As Luzes de um Verão" - todos reverenciados em Cannes. Esse imigrante vietnamita que desde os anos 90 se posicionou no cinema europeu como um contador de histórias sensíveis sobre as relações, sempre inseridas em um contexto poético, outra uma vez entrega um obra para, mais do que assistir, admirar! "La Passion de Dodin Bouffant" (no original) não é um filme tradicional, ele é mais uma poesia, cheia de simbolismos (claro), que explora a conexão íntima entre a gastronomia e as emoções humanas. Baseado na obra de Marcel Rouff, o filme retrata a relação complexa e profunda entre o renomado chef Dodin Bouffant e sua cozinheira Eugénie, em uma história que se desenrola na França de 1885. Com uma abordagem intimista e muito sensível, "O Sabor da Vida"evoca o universo sensorial da culinária como expressão de amor, desejo, dedicação e arte - uma espécie de "Chef's Table" do século XIX"!
A narrativa gira em torno da paixão que une Dodin (Benoît Magimel) e Eugénie (Juliette Binoche), tanto na cozinha quanto fora dela. Em meio à preparação de pratos elaborados e cenas de refinada técnica culinária, o relacionamento dos dois é revelado com muita sutileza. Dodin deseja que Eugénie se case com ele, mas ela hesita em aceitar, já que é uma mulher de princípios independentes e dedicada a sua arte - para ela, o amor entre os dois está na relação profissional. Acontece que a dualidade entre o desejo de liberdade de Eugénie e a conexão emocional que a gastronomia proporciona para ambos, reflete as nuances de uma relação que transcende as palavras até que Dodin, finalmente, resolve cozinhar para ela. Confira o trailer:
Até pela proposta narrativa de "O Sabor da Vida", imediatamente já entendemos o quanto a direção de Anh Hung Tran prioriza o sutil e o contemplativa. Capturando cada detalhe com precisão e profundidade, o diretor faz uso de uma cinematografia rica e texturizada, onde cada prato preparado se torna uma verdadeira obra de arte. A fotografia de Jonathan Ricquebourg volta sua câmera para as sensações e texturas daquele mundo cheio de cores e sabores - os pratos e ingredientes são filmados com um olhar cuidadoso, quase reverencial, evocando o fascínio e o respeito pela culinária francesa tradicional. Alinhado com o estilo de Hung Tran, Ricquebourg utiliza planos fechados que intensificam a experiência sensorial, permitindo que a audiência praticamente "sinta" o aroma e o gosto das preparações - um conselho: não assista esse filme com fome!
Benoît Magimel e Juliette Binoche, ambos com atuações sublimes, capturam a complexidade de seus personagens com uma química magnética (eles já foram um casal na vida real). Magimel traz a Dodin uma camada de profundidade que vai além do mero papel de um chef; ele é um homem apaixonado pela comida e pelas experiências que o sabor pode proporcionar, mas também é uma figura vulnerável e de certa forma inseguro perante seu amor por Eugénie. Binoche, por sua vez, oferece uma interpretação rica e contida, expressando uma força interior e uma independência que são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa. A dinâmica entre os dois é carregada de desejo e respeito mútuo, se comunicando mais pelos gestos e olhares do que com palavras, em um retrato delicado do amor e do companheirismo verdadeiro.
Veja, o filme se concentra nos momentos de convivência silenciosa, nas delicadezas que revelam as profundezas emocionais dos protagonistas, ou seja, você está realmente diante de um drama de relações nada convencional, mas belíssimo de assistir. "O Sabor da Vida" poderia até ter, mas evita cenas dramáticas intensas para construir uma jornada onde os pequenos detalhes, como a preparação de uma refeição ou o ajuste cuidadoso de um prato, se tornam veículos de expressão muito mais potentes e representativos de um sentimento mais íntimo. Indicado ao Oscar de Filme Internacional pela França e premiado em festivais importantes em 2023, "O Sabor da Vida" é belo e reflexivo, moldado para aqueles que apreciam o cinema sensorial e o valor de uma boa gastronomia.
Vale muito o seu play!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
"O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella é o filme argentino que venceu o Oscar em 2010 o que nos faz partir do princípio que é um filme bom - e te garanto: o filme é simplesmente sensacional! É muito original e tecnicamente perfeito!
Após trabalhar a vida inteira em num Tribunal, Benjamín (Ricardo Darín) resolve se aposentar e aproveitar o seu tempo livre para escrever um romance baseado num acontecimento que ele mesmo vivenciou alguns anos atrás: em 1974, ele foi encarregado de investigar um violento assassinato. Ao encarar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe Irene (Soledad Villamil), assim como decisões e equívocos que tomou no passado. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida e os reflexos de suas descobertas podem ser devastadores. Confira o trailer:
"O segredo dos seus olhos" equilibra perfeitamente os elementos de suspense com o drama, mas sem esquecer de vários momentos onde o alivio cômico dá o tom irônico que ajuda a construir a personalidade de Benjamín. O roteiro nos entrega uma trama nada previsível, muito envolvente e que consegue nos deixar tenso sempre que necessário. A capacidade que Darín tem como ator é muito bem aproveitado no filme, sua composição externa é tão bem construída quando seu trabalho íntimo. Tudo acaba se tornando bastante orgânico - do roteiro ao produto final que vemos na tela. Aliás é impossível não citar o "plano sequência" que busca Benjamín no meio de um Estádio de Futebol lotado. Reparem. A edição também merece destaque, pois o conceito narrativo imposta pelo roteiro sugere várias quebras na linha do tempo e a montagem do próprio Campanella resolve esse desafio de uma maneira muito criativa e uniforme - está realmente linda!
De fato é um grande trabalho do cinema argentino, sem dúvida um dos melhores da sua história e a vitória no Oscar 2010 só serviu para coroar um grande sucesso nas bilheterias - o filme custou 2 milhões de dólares e rendeu mais de 42 milhões no mundo inteiro!
Vale muito a pena e se prepare: o final é surpreendente!
"O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella é o filme argentino que venceu o Oscar em 2010 o que nos faz partir do princípio que é um filme bom - e te garanto: o filme é simplesmente sensacional! É muito original e tecnicamente perfeito!
Após trabalhar a vida inteira em num Tribunal, Benjamín (Ricardo Darín) resolve se aposentar e aproveitar o seu tempo livre para escrever um romance baseado num acontecimento que ele mesmo vivenciou alguns anos atrás: em 1974, ele foi encarregado de investigar um violento assassinato. Ao encarar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe Irene (Soledad Villamil), assim como decisões e equívocos que tomou no passado. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida e os reflexos de suas descobertas podem ser devastadores. Confira o trailer:
"O segredo dos seus olhos" equilibra perfeitamente os elementos de suspense com o drama, mas sem esquecer de vários momentos onde o alivio cômico dá o tom irônico que ajuda a construir a personalidade de Benjamín. O roteiro nos entrega uma trama nada previsível, muito envolvente e que consegue nos deixar tenso sempre que necessário. A capacidade que Darín tem como ator é muito bem aproveitado no filme, sua composição externa é tão bem construída quando seu trabalho íntimo. Tudo acaba se tornando bastante orgânico - do roteiro ao produto final que vemos na tela. Aliás é impossível não citar o "plano sequência" que busca Benjamín no meio de um Estádio de Futebol lotado. Reparem. A edição também merece destaque, pois o conceito narrativo imposta pelo roteiro sugere várias quebras na linha do tempo e a montagem do próprio Campanella resolve esse desafio de uma maneira muito criativa e uniforme - está realmente linda!
De fato é um grande trabalho do cinema argentino, sem dúvida um dos melhores da sua história e a vitória no Oscar 2010 só serviu para coroar um grande sucesso nas bilheterias - o filme custou 2 milhões de dólares e rendeu mais de 42 milhões no mundo inteiro!
Vale muito a pena e se prepare: o final é surpreendente!
Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.
Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:
Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.
Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.
Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "
Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.
Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:
Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.
Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.
Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "
"O som do silêncio" é um filme difícil, daqueles que doem na alma! Ele, basicamente, fala sobre a necessidade de aceitar as mudanças que a vida nos apresenta e da importância de entender que olhar para frente é a melhor escolha, mesmo sabendo que o que ficou para trás foi importante (mas passou)!
A história acompanha Ruben Stone (Riz Ahmed) um o baterista de uma banda de heavy metal que está em turnê pelos Estados Unidos. Ele namora com a vocalista, Lou (Olivia Cooke) há quatro anos, mesmo período em que ele está longe das drogas e ela, longe da automutilação. Eles parecem viver em um relacionamento verdadeiro, felizes dentro daquele universo que escolheram - tudo, de fato, está dando certo na vida do casal até que Ruben passa a sofrer com uma perda brusca de audição. Incapaz de ouvir como antes, de se expor ao barulho de sua profissão e sem dinheiro para um procedimento médico que talvez pudesse recuperá-lo, ele é obrigado a buscar ajuda em um centro de apoio para surdos, sozinho! Confira o trailer:
"O som do silêncio" é um filme cadenciado, o que pode gerar alguma resistência, principalmente durante o segundo ato. Ao mesmo tempo ele muito bem dirigido pelo estreante Darius Marder e com a ajuda de um desenho de som simplesmente magnifico, "O som do silêncio" é um mergulho nos medos mais profundos de um ser humano através da ausência do som! Com uma interpretação digna de prêmios de Riz Ahmed ("The Night Of"), "Sound of Metal" (título original) é uma agradável surpresa no catálogo da Prime Vídeo e chega com chancela do talentoso Derek Cianfrance ("Namorados para Sempre") que divide o roteiro com Abraham Marder (irmão do diretor).
Como já conhecemos o trabalho de Cianfrance, esse filme não foge a regra: é uma história composta por várias camadas, que usa do silêncio (literalmente) para nos criar sensações que vão da angústia ao sofrimento sem pedir muita licença e tudo pelos olhos de um grande ator e de uma atriz, Olivia Cooke, que mesmo sem muito tempo de tela, é capaz de nos tocar a cada cena! Temos um lindo e profundo filme para quem gosta de uma narrativa mais intimista e reflexiva! Vale muito seu play!
"O som do silêncio" é um filme difícil, daqueles que doem na alma! Ele, basicamente, fala sobre a necessidade de aceitar as mudanças que a vida nos apresenta e da importância de entender que olhar para frente é a melhor escolha, mesmo sabendo que o que ficou para trás foi importante (mas passou)!
A história acompanha Ruben Stone (Riz Ahmed) um o baterista de uma banda de heavy metal que está em turnê pelos Estados Unidos. Ele namora com a vocalista, Lou (Olivia Cooke) há quatro anos, mesmo período em que ele está longe das drogas e ela, longe da automutilação. Eles parecem viver em um relacionamento verdadeiro, felizes dentro daquele universo que escolheram - tudo, de fato, está dando certo na vida do casal até que Ruben passa a sofrer com uma perda brusca de audição. Incapaz de ouvir como antes, de se expor ao barulho de sua profissão e sem dinheiro para um procedimento médico que talvez pudesse recuperá-lo, ele é obrigado a buscar ajuda em um centro de apoio para surdos, sozinho! Confira o trailer:
"O som do silêncio" é um filme cadenciado, o que pode gerar alguma resistência, principalmente durante o segundo ato. Ao mesmo tempo ele muito bem dirigido pelo estreante Darius Marder e com a ajuda de um desenho de som simplesmente magnifico, "O som do silêncio" é um mergulho nos medos mais profundos de um ser humano através da ausência do som! Com uma interpretação digna de prêmios de Riz Ahmed ("The Night Of"), "Sound of Metal" (título original) é uma agradável surpresa no catálogo da Prime Vídeo e chega com chancela do talentoso Derek Cianfrance ("Namorados para Sempre") que divide o roteiro com Abraham Marder (irmão do diretor).
Como já conhecemos o trabalho de Cianfrance, esse filme não foge a regra: é uma história composta por várias camadas, que usa do silêncio (literalmente) para nos criar sensações que vão da angústia ao sofrimento sem pedir muita licença e tudo pelos olhos de um grande ator e de uma atriz, Olivia Cooke, que mesmo sem muito tempo de tela, é capaz de nos tocar a cada cena! Temos um lindo e profundo filme para quem gosta de uma narrativa mais intimista e reflexiva! Vale muito seu play!
"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?
A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:
Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!
A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).
Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!
Vale demais esse play!
"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?
A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:
Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!
A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).
Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!
Vale demais esse play!
"O Tigre Branco" é uma espécie de "Cidade de Deus" da Índia. Ok, talvez sem a mesma genialidade da direção do Fernando Meirelles ou até do roteiro do Bráulio Mantovani, mas é um fato que a produção da Netflix entrega uma jornada tão dinâmica e surpreendente quanto. Muito bem produzida e com um protagonista que dá uma aula de interpretação, Adarsh Gourav, o filme á uma agradável surpresa e merece muito nossa atenção!
O filme é uma adaptação de um livro de muito sucesso escrito por Aravind Adiga, e narra a trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu no meio da miséria em um vilarejo distante da capital e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim da sua vida com muita lealdade. Trabalhando como motorista para o filho de um magnata da região, Balram começa, aos poucos, sentir na pele a desigualdade entre a sua casta e a dos afortunados, e com isso entende o ritmo que dita os rumos do capitalismo em seu país. Quando se dá conta de que é só mais uma galinha dentro de um enorme galinheiro que sabe que será abatida e nem por isso tenta fugir (uma metáfora cruel que o acompanha durante sua saga), o jovem muda seus conceitos e atitudes para buscar o topo que lhe foi sempre renegado e assim se tornar um grande empresário do país. Confira o trailer:
Como em "Cidade de Deus", a história não respeita a linha temporal convencional e é narrada por Balram a partir do seu ponto de vista, enquanto escreve um email para o primeiro-ministro chinês que estará de passagem pela Índia para reuniões com empresários locais. Além de um texto crítico, mas muito bem equilibrado com um humor ácido e inteligente, o premiado diretor americano Ramin Bahrani (de Fahrenheit 451) entrega com a mesma competência a construção de um conto de fadas moderno bem leve na primeira metade com a desconstrução de um mito carregado de drama e angústia na segunda. A fotografia de Paolo Carnera (de Suburra), além de posicionar a narrativa na linha do tempo, com as cenas no presente em cores mais frias e no passado com cores mais quentes, ele também capta maravilhosamente bem os contrastes sociais da Índia e como os personagens se relacionam de formas completamente diferentes com esse abismo - lembrou muito o trabalho do Kyung-pyo Hong em "Parasita", se não na simbologia, pelo menos na intenção!
"O Tigre Branco" tenta nos mostrar que os fins justificam os meios, desde que feito com o coração e sirva de transformação para quem será capaz de olhar para o outro com mais humanidade. Mesmo apoiado na figura do anti-herói, é fácil compreender suas motivações e entender que tudo não passa de uma reação perante um mundo cruel e inegavelmente real! Como em "Cidade Deus", o certo é relativo, mas o errado é uma certeza tão sistemática que uma história que tinha tudo para ser uma jornada de superação e resiliência se torna uma desconfortável, e nada sutil, versão da realidade! Vale muito a pena!
"O Tigre Branco" é uma espécie de "Cidade de Deus" da Índia. Ok, talvez sem a mesma genialidade da direção do Fernando Meirelles ou até do roteiro do Bráulio Mantovani, mas é um fato que a produção da Netflix entrega uma jornada tão dinâmica e surpreendente quanto. Muito bem produzida e com um protagonista que dá uma aula de interpretação, Adarsh Gourav, o filme á uma agradável surpresa e merece muito nossa atenção!
O filme é uma adaptação de um livro de muito sucesso escrito por Aravind Adiga, e narra a trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu no meio da miséria em um vilarejo distante da capital e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim da sua vida com muita lealdade. Trabalhando como motorista para o filho de um magnata da região, Balram começa, aos poucos, sentir na pele a desigualdade entre a sua casta e a dos afortunados, e com isso entende o ritmo que dita os rumos do capitalismo em seu país. Quando se dá conta de que é só mais uma galinha dentro de um enorme galinheiro que sabe que será abatida e nem por isso tenta fugir (uma metáfora cruel que o acompanha durante sua saga), o jovem muda seus conceitos e atitudes para buscar o topo que lhe foi sempre renegado e assim se tornar um grande empresário do país. Confira o trailer:
Como em "Cidade de Deus", a história não respeita a linha temporal convencional e é narrada por Balram a partir do seu ponto de vista, enquanto escreve um email para o primeiro-ministro chinês que estará de passagem pela Índia para reuniões com empresários locais. Além de um texto crítico, mas muito bem equilibrado com um humor ácido e inteligente, o premiado diretor americano Ramin Bahrani (de Fahrenheit 451) entrega com a mesma competência a construção de um conto de fadas moderno bem leve na primeira metade com a desconstrução de um mito carregado de drama e angústia na segunda. A fotografia de Paolo Carnera (de Suburra), além de posicionar a narrativa na linha do tempo, com as cenas no presente em cores mais frias e no passado com cores mais quentes, ele também capta maravilhosamente bem os contrastes sociais da Índia e como os personagens se relacionam de formas completamente diferentes com esse abismo - lembrou muito o trabalho do Kyung-pyo Hong em "Parasita", se não na simbologia, pelo menos na intenção!
"O Tigre Branco" tenta nos mostrar que os fins justificam os meios, desde que feito com o coração e sirva de transformação para quem será capaz de olhar para o outro com mais humanidade. Mesmo apoiado na figura do anti-herói, é fácil compreender suas motivações e entender que tudo não passa de uma reação perante um mundo cruel e inegavelmente real! Como em "Cidade Deus", o certo é relativo, mas o errado é uma certeza tão sistemática que uma história que tinha tudo para ser uma jornada de superação e resiliência se torna uma desconfortável, e nada sutil, versão da realidade! Vale muito a pena!
Finalista no Festival de Locarno em 2013, "O Último Amor de Mr. Morgan" é daqueles filmes que enchem nosso coração de felicidade - mesmo sendo completamente previsível e tendo uma história que parece que já vimos em algum lugar, sabe? No filme, Mr. Morgan (Michael Caine) acabou de perder a esposa (Jane Alexander) para o câncer. Embora americano, Mr. Morgan decide continuar em Paris onde mora, mesmo sem falar francês e vivendo praticamente sozinho, ele é tomado pela tristeza e pelas lembranças do grande amor da sua vida. Certo dia, ele conhece Pauline (Clémence Poésy), uma professora de dança que desperta uma nova motivação em sua rotina: a vontade de viver para poder estar ao lado dessa adorável jovem. Durante a história, ainda conhecemos a relação conturbada dele com os filhos Karen (Gillian Anderson) e Miles (Justin Kirk) e como isso impactou na sua forma de enxergar os laços familiares. Confira o trailer:
Um ano após o grande sucesso de Michael Haneke, "Amour" (Amor), "Last Love" (título original) fala sobre temas muito parecidos: os ciclos da vida, as relações familiares e, claro, sobre como a falta de comunicação pode nos afastar de um amor verdadeiro e nos encher de ressentimentos e arrependimentos. Embora não seja uma narrativa tão marcante, "O Último Amor de Mr. Morgan" é uma delicia de assistir e equilibra perfeitamente momentos leves e emotivos, com o drama e a profundidade de algumas marcas que a vida nos deixa.
Filme para curtir, em um lindo cenário, com uma trilha sonora maravilhosa que nos faz refletir em vários momentos e valorizar algumas coisas que teimamos em esquecer graças ao dia a dia corrido que vivemos!
A premiada diretora alemã, Sandra Nettelbeck (de "Bella Martha") é muito competente em criar uma atmosfera bastante nostálgica ao apresentar os conflitos de cada personagem. Com muita habilidade, ela trabalha enquadramentos que misturam realidade com imaginação que, muito mais que uma habilidade técnica, é capaz que nos proporcionar sensações bastante especiais. Reparem como Mr. Morgan se relaciona com a esposa morta com uma delicadeza impressionante!
Como roteirista, Nettelbeck, é muito inteligente em dividir muito bem a história - uma adaptação da obra de Françoise Dorner. No primeiro ato, o foco está na relação de Mr. Morgan e Pauline - uma jovem de certa forma misteriosa que apareceu na vida do protagonista em um momento de fragilidade e tristeza, com sua doçura e projetando nele uma figura paterna - aqui existe um jogo interessante proposto pelo texto: como sabemos pouco de Pauline e entendemos o momento de Morgan, é inevitável não se questionar se esse encantamento entre os dois pode ir além de uma inocente amizade, mas, sinceramente, os diálogos são tão bem escritos que até isso pouco importa diante do que ambos estão vivendo.
Pois bem, no segundo ato acompanhamos a entrada dos filhos de Mr. Morgan na história. Se no início acompanhamos o luto do protagonista e a esperança do recomeço ao conhecer Pauline, agora somos provocados a nos questionar perante o relacionamento familiar e a verdade que Morgan pode esconder através da sua personalidade - e aproveito para citar o excelente trabalho do ator Michael Caine. É no desenrolar desse ato que o roteiro de Nettelbeck acerta e erra ao mesmo tempo: se ela vai nos contando sobre a vida dos personagens nos momentos certos, ela vacila ao deixar claro por quem Pauline vai, de fato, se apaixonar - e fique tranquilo, isso não está nem perto de ser um spoiler de tão óbvio que é desde o primeiro momento!
Para finalizar, temos um terceiro ato onde sua relação com Pauline se mistura com os conflitos familiares em busca de uma solução - eu diria até, em busca de uma redenção e o texto não decepciona. Os diálogos são cirúrgicos ao não cair no piegas e Nettelbeck entrega, nos detalhes, um filme com alma! Daqueles que sentimos na pele ao assistir e que nos trazem coisas boas, mesmo quando algo ruim pode acontecer na tela. Emoção no ponto certo e aqui vai meu segundo destaque do elenco: Clémency Poésy é doce, talentosa e linda!
Ao som de uma trilha sonora de Hans Zimmer que conta com Norah Jones e uma belíssima versão de "Not to Late", “O Último Amor de Mr. Morgan” é um ótimo filme para assistir, sentir e se divertir! Vale muito a pena com aquele aperto no coração da saudade!
Finalista no Festival de Locarno em 2013, "O Último Amor de Mr. Morgan" é daqueles filmes que enchem nosso coração de felicidade - mesmo sendo completamente previsível e tendo uma história que parece que já vimos em algum lugar, sabe? No filme, Mr. Morgan (Michael Caine) acabou de perder a esposa (Jane Alexander) para o câncer. Embora americano, Mr. Morgan decide continuar em Paris onde mora, mesmo sem falar francês e vivendo praticamente sozinho, ele é tomado pela tristeza e pelas lembranças do grande amor da sua vida. Certo dia, ele conhece Pauline (Clémence Poésy), uma professora de dança que desperta uma nova motivação em sua rotina: a vontade de viver para poder estar ao lado dessa adorável jovem. Durante a história, ainda conhecemos a relação conturbada dele com os filhos Karen (Gillian Anderson) e Miles (Justin Kirk) e como isso impactou na sua forma de enxergar os laços familiares. Confira o trailer:
Um ano após o grande sucesso de Michael Haneke, "Amour" (Amor), "Last Love" (título original) fala sobre temas muito parecidos: os ciclos da vida, as relações familiares e, claro, sobre como a falta de comunicação pode nos afastar de um amor verdadeiro e nos encher de ressentimentos e arrependimentos. Embora não seja uma narrativa tão marcante, "O Último Amor de Mr. Morgan" é uma delicia de assistir e equilibra perfeitamente momentos leves e emotivos, com o drama e a profundidade de algumas marcas que a vida nos deixa.
Filme para curtir, em um lindo cenário, com uma trilha sonora maravilhosa que nos faz refletir em vários momentos e valorizar algumas coisas que teimamos em esquecer graças ao dia a dia corrido que vivemos!
A premiada diretora alemã, Sandra Nettelbeck (de "Bella Martha") é muito competente em criar uma atmosfera bastante nostálgica ao apresentar os conflitos de cada personagem. Com muita habilidade, ela trabalha enquadramentos que misturam realidade com imaginação que, muito mais que uma habilidade técnica, é capaz que nos proporcionar sensações bastante especiais. Reparem como Mr. Morgan se relaciona com a esposa morta com uma delicadeza impressionante!
Como roteirista, Nettelbeck, é muito inteligente em dividir muito bem a história - uma adaptação da obra de Françoise Dorner. No primeiro ato, o foco está na relação de Mr. Morgan e Pauline - uma jovem de certa forma misteriosa que apareceu na vida do protagonista em um momento de fragilidade e tristeza, com sua doçura e projetando nele uma figura paterna - aqui existe um jogo interessante proposto pelo texto: como sabemos pouco de Pauline e entendemos o momento de Morgan, é inevitável não se questionar se esse encantamento entre os dois pode ir além de uma inocente amizade, mas, sinceramente, os diálogos são tão bem escritos que até isso pouco importa diante do que ambos estão vivendo.
Pois bem, no segundo ato acompanhamos a entrada dos filhos de Mr. Morgan na história. Se no início acompanhamos o luto do protagonista e a esperança do recomeço ao conhecer Pauline, agora somos provocados a nos questionar perante o relacionamento familiar e a verdade que Morgan pode esconder através da sua personalidade - e aproveito para citar o excelente trabalho do ator Michael Caine. É no desenrolar desse ato que o roteiro de Nettelbeck acerta e erra ao mesmo tempo: se ela vai nos contando sobre a vida dos personagens nos momentos certos, ela vacila ao deixar claro por quem Pauline vai, de fato, se apaixonar - e fique tranquilo, isso não está nem perto de ser um spoiler de tão óbvio que é desde o primeiro momento!
Para finalizar, temos um terceiro ato onde sua relação com Pauline se mistura com os conflitos familiares em busca de uma solução - eu diria até, em busca de uma redenção e o texto não decepciona. Os diálogos são cirúrgicos ao não cair no piegas e Nettelbeck entrega, nos detalhes, um filme com alma! Daqueles que sentimos na pele ao assistir e que nos trazem coisas boas, mesmo quando algo ruim pode acontecer na tela. Emoção no ponto certo e aqui vai meu segundo destaque do elenco: Clémency Poésy é doce, talentosa e linda!
Ao som de uma trilha sonora de Hans Zimmer que conta com Norah Jones e uma belíssima versão de "Not to Late", “O Último Amor de Mr. Morgan” é um ótimo filme para assistir, sentir e se divertir! Vale muito a pena com aquele aperto no coração da saudade!
Em um primeiro olhar você até pode imaginar que a série "The Bear" (no original) é mais uma comédia que tem a gastronomia como pano de fundo como em "Chef" (por exemplo), porém bastam alguns minutos para entender que se trata mesmo é de um drama dos mais profundos, com personagens únicos, bem desenvolvidos, cheio de camadas - daqueles que costumamos a ver (e amar) nas séries de Vince Gilligan (de "Breaking Bad").
Aqui conhecemos o chef Carmy (Jeremy Allen White) que, após a morte do irmão mais velho, herda a lanchonete “The Original Beef de Chicago”. Carmy tem muito a oferecer, sua experiência em restaurantes renomados de NY contribui para seu novo objetivo: fazer o empreendimento do irmão prosperar. No entanto, tudo está do avesso, o lugar é caçado pela vigilância sanitária, as dívidas são enormes e a equipe é caótica, mal treinada e não leva a sério nada do que o próprio Carmy diz ou faz. Confira o trailer (em inglês):
O caos em uma cozinha obviamente rende ótimas histórias, mas em "O Urso" essa característica é só parte da dicotomia que são seus personagens: todos eles são solitários em suas dores mais profundas. É a partir desse choque de realidades que o diretor Christopher Storer (de "Ramy") constrói uma narrativa extremamente dinâmica que se aproveita de um universo muito envolvente para discutir temas diversos que vão do luto ao empreendedorismo em apenas um corte. Aliás, a montagem da série é um espetáculo a parte, com cortes rápidos e muitas vezes sem conexão entre eles, misturados com ótimos planos-sequência e inserts da cidade de Chicago ou de frames com pratos da alta gastronomia, Stores alinha seu conceito de extremos "do luxo ao lixo", tanto na "forma" quanto no "conteúdo".
É preciso dizer, no entanto, que a paixão pela série não é imediata - como em "Breaking Bad", é preciso entender a proposta conceitual do diretor e mergulhar naquela atmosfera aproveitando as atitudes e características muito peculiares dos próprios personagens para se conectar com a história. Veja, além do talento de Carmy naquele pequeno recorte de cenário (a cozinha da lanchonete onde 90% da série acontece) existem pelo menos mais quatro personagens riquíssimos a ser explorados - sem dúvida que nessa primeira temporada, o escolhido para dividir os holofotes com Jeremy Allen White foi o explosivo Richie ( com um Ebon Moss-Bachrach que dá um show), mas o roteiro é tão rico que é impossível não perceber o potencial da jovem e talentosa Sydney (Ayo Edebiri), ou do esforçado e resiliente Marcus (Lionel Boyce) e até da insegura e mal-humorada Tina (Liza Colón-Zayas).
O fato é que "O Urso" chega como uma das mais agradáveis surpresas de 2022 e postulante aos inúmeros troféus nas próximas temporadas de premiações, graças a sua impressionante força narrativa e uma enorme qualidade técnica e artística que se encaixaram de uma maneira raríssima. Imperdível!
Em um primeiro olhar você até pode imaginar que a série "The Bear" (no original) é mais uma comédia que tem a gastronomia como pano de fundo como em "Chef" (por exemplo), porém bastam alguns minutos para entender que se trata mesmo é de um drama dos mais profundos, com personagens únicos, bem desenvolvidos, cheio de camadas - daqueles que costumamos a ver (e amar) nas séries de Vince Gilligan (de "Breaking Bad").
Aqui conhecemos o chef Carmy (Jeremy Allen White) que, após a morte do irmão mais velho, herda a lanchonete “The Original Beef de Chicago”. Carmy tem muito a oferecer, sua experiência em restaurantes renomados de NY contribui para seu novo objetivo: fazer o empreendimento do irmão prosperar. No entanto, tudo está do avesso, o lugar é caçado pela vigilância sanitária, as dívidas são enormes e a equipe é caótica, mal treinada e não leva a sério nada do que o próprio Carmy diz ou faz. Confira o trailer (em inglês):
O caos em uma cozinha obviamente rende ótimas histórias, mas em "O Urso" essa característica é só parte da dicotomia que são seus personagens: todos eles são solitários em suas dores mais profundas. É a partir desse choque de realidades que o diretor Christopher Storer (de "Ramy") constrói uma narrativa extremamente dinâmica que se aproveita de um universo muito envolvente para discutir temas diversos que vão do luto ao empreendedorismo em apenas um corte. Aliás, a montagem da série é um espetáculo a parte, com cortes rápidos e muitas vezes sem conexão entre eles, misturados com ótimos planos-sequência e inserts da cidade de Chicago ou de frames com pratos da alta gastronomia, Stores alinha seu conceito de extremos "do luxo ao lixo", tanto na "forma" quanto no "conteúdo".
É preciso dizer, no entanto, que a paixão pela série não é imediata - como em "Breaking Bad", é preciso entender a proposta conceitual do diretor e mergulhar naquela atmosfera aproveitando as atitudes e características muito peculiares dos próprios personagens para se conectar com a história. Veja, além do talento de Carmy naquele pequeno recorte de cenário (a cozinha da lanchonete onde 90% da série acontece) existem pelo menos mais quatro personagens riquíssimos a ser explorados - sem dúvida que nessa primeira temporada, o escolhido para dividir os holofotes com Jeremy Allen White foi o explosivo Richie ( com um Ebon Moss-Bachrach que dá um show), mas o roteiro é tão rico que é impossível não perceber o potencial da jovem e talentosa Sydney (Ayo Edebiri), ou do esforçado e resiliente Marcus (Lionel Boyce) e até da insegura e mal-humorada Tina (Liza Colón-Zayas).
O fato é que "O Urso" chega como uma das mais agradáveis surpresas de 2022 e postulante aos inúmeros troféus nas próximas temporadas de premiações, graças a sua impressionante força narrativa e uma enorme qualidade técnica e artística que se encaixaram de uma maneira raríssima. Imperdível!
O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!
Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):
Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.
Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.
Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?
Vale o seu play, mas por conta e risco!
O espanhol "O Vazio do Domingo" é um filme daqueles "não assista com sono", mas não por ele ser ruim ou monótono demais, mas sim por ele ser muito cadenciado, com planos longos, um silêncio ensurdecedor e diálogos que não necessariamente expõem os sentimentos dos personagens (e muito menos suas intenções). Eu diria que esse é realmente um filme difícil, com uma pegada autoral bastante presente - o que certamente vai afastar muita gente do play, mas também é preciso dizer que para aqueles dispostos a embarcar na sensibilidade de um drama de relações denso e cheio de simbolismo como esse, ter a referência de "Sob a Pele do Lobo" pode ser um bom começo para não se decepcionar depois, porque o filme é realmente uma pancada!
Aqui conhecemos Anabel (Susi Sanchez), uma mulher de idade e bem sucedida que é surpreendida por Chiara (Bárbara Lennie), sua filha abandonada desde criança, que ressurge e a convida para passar dez dias em uma convivência bastante particular, sob causas e termos desconhecidos. Algumas experiências da relação entre as duas são colocadas à prova, juntamente com as surpresas impostas pela distância entre um passado marcante e um presente de ajuste de contas ainda duvidoso. Confira o trailer (em espanhol):
Vencedor de diversos prêmios, incluindo reconhecimento em festivais de prestígio, como o Festival de Cinema de San Sebastián e o de Tribeca, além do prêmio Goya de "Melhor Atriz" para Sanchez, "La Enfermedad del domingo" (no original) se destaca por uma narrativa extremamente contemplativa, envolvente visualmente e que provoca sensações marcantes em quem assiste com performances excepcionais da dupla de atrizes. Dirigido e escrito pelo Ramón Salazar (de "Vis a Vis") o filme explora com maestria (e certa poesia) a complexidade das relações humanas, com uma profundidade emocional impressionante e muito dura.
Um elemento que chama a nossa atenção é a fotografia do Ricardo de Gracia (de "Fariña") - ele é constrói uma atmosfera de melancolia intensa, como se fosse um retrato visualmente deslumbrante do campo, mas que captura na palheta mais gélida, toda a solidão de Chiara e o vazio Anabel. Veja, as composições são cuidadosamente planejadas, muitas vezes com a ação acontecendo em segundo plano, por isso você terá a sensação de distanciamento dos fatos e ao mesmo tempo a angustia de quem assiste uma cena sem a menor possibilidade de fazer algo para ajudar. Gracia te coloca lá dentro, mas deixa claro que nada mudaria aquilo que estamos testemunhando.
Em um filme onde o diretor não poupa alegorias para abordar, com muita originalidade, os conflitos geracionais que não necessariamente dizem respeito apenas a mãe e filha, "O Vazio do Domingo" vai muito além, com discussões potentes sobre abandono, solidão, maternidade, arrependimentos, finitude e redenção. No entanto, vale ressaltar que Salazar também descarta com elegância o final mais fácil e previsível, colocando uma pulga atrás da nossa orelha sobre os verdadeiros motivos que fizeram Anabel deixar Chiara ainda criança - as teorias sobre o passado sombrio da mãe parecem pertinentes, apenas não espere as respostas que "talvez" nem a própria filha teve, ou será que ela teve?
Vale o seu play, mas por conta e risco!
"O Verão de Sangaile" é quase um filme conceitual. Seu caráter independente, extremamente autoral e preocupado com o impacto estético transforma sua narrativa, quase sem diálogos, em um filme que parece não decolar (desculpe o trocadilho). Apenas parece, pois essa premiada produção lituana é cercada de sensibilidade e traz discussões pertinentes ao universo das protagonistas - de uma forma bem particular, claro, mas não menos inteligente ou profunda que outros filmes com a mesma temática - como "Duck Butter", por exemplo.
A jovem Sangaile (Julija Steponaitytė), de 17 anos, é fascinada por aviões de acrobacia. Ela conhece Auste (Aistė Diržiūtė), uma garota de sua idade, durante um show de aeronáutica no verão. Sangaile permite que a nova amiga descubra seus mais íntimos segredos e no meio do caminho cresce um amor adolescente - é aí que Auste acaba se tornando a única pessoa que realmente incentiva Sangaile a enfrentar seus medos e dramas pessoais. Confira o trailer em inglês:
Embora tenha uma identidade pouco comercial, "O Verão de Sangaile" impressiona pela fotografia e genialidade de Dominique Colin (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) que aproveita dos belíssimos cenários e de uma direção de arte afinadíssima para potencializar o trabalho da diretora Alante Kavaite como realizadora - ela imprime uma dinâmica bastante sutil, apostando no excelente trabalho de Julija Steponaitytė e de Aistė Diržiūtė, com muita coragem já que assume o risco de trocar o que é falado pelo o que é sentido! Certamente essa escolha pode afastar quem busca uma narrativa mais convencional, mas o fato é que Kavaite aproveita de cenas plasticamente bem executadas para provocar sentimentos e sensações ora acolhedoras, ora desconfortáveis - e aqui cabe uma observação: mesmo partindo de um mesmo plot de "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), em nenhum momento nos sentimos incomodados ou chocados; todas as cenas são de muito bom gosto.
É interessante perceber que Sangailé, mesmo sofrendo por uma certa inadequação com o mundo em que vive, graças ao distanciamento quase mórbido que tem com sua família (especialmente com sua mãe) e sua solitária fascinação pelas apresentações de voos acrobáticos, é na vertigem que todos os pontos se unem - aquela expressa pela realidade cotidiana da adolescente e na metáfora que acompanha algumas passagens marcantes, como a necessidade de se auto-mutilar para se sentir viva. Reparem, são camadas sensíveis, mas muito bem desenvolvidas com uma relação artística interessante para aqueles dispostos a mergulhar na psiquê da protagonista.
"O Verão de Sangaile" fala sobre o vazio existencial, depressão, suicídio, amor, descobertas e sonhos, mas definitivamente de uma forma que apenas um público bem particular, alternativo e orientado para descobertas narrativas menos convencionais, vai gostar - é isso que o filme entrega e essa é a razão do seu sucesso nos vários festivais que participou pelo mundo. Vale dizer que Alante Kavaite venceu como melhor diretora em Sundance em 2015 e o filme foi indicado ao prêmio máximo do Festival.
Vale a pena, com certa identificação pela proposta artística!
"O Verão de Sangaile" é quase um filme conceitual. Seu caráter independente, extremamente autoral e preocupado com o impacto estético transforma sua narrativa, quase sem diálogos, em um filme que parece não decolar (desculpe o trocadilho). Apenas parece, pois essa premiada produção lituana é cercada de sensibilidade e traz discussões pertinentes ao universo das protagonistas - de uma forma bem particular, claro, mas não menos inteligente ou profunda que outros filmes com a mesma temática - como "Duck Butter", por exemplo.
A jovem Sangaile (Julija Steponaitytė), de 17 anos, é fascinada por aviões de acrobacia. Ela conhece Auste (Aistė Diržiūtė), uma garota de sua idade, durante um show de aeronáutica no verão. Sangaile permite que a nova amiga descubra seus mais íntimos segredos e no meio do caminho cresce um amor adolescente - é aí que Auste acaba se tornando a única pessoa que realmente incentiva Sangaile a enfrentar seus medos e dramas pessoais. Confira o trailer em inglês:
Embora tenha uma identidade pouco comercial, "O Verão de Sangaile" impressiona pela fotografia e genialidade de Dominique Colin (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) que aproveita dos belíssimos cenários e de uma direção de arte afinadíssima para potencializar o trabalho da diretora Alante Kavaite como realizadora - ela imprime uma dinâmica bastante sutil, apostando no excelente trabalho de Julija Steponaitytė e de Aistė Diržiūtė, com muita coragem já que assume o risco de trocar o que é falado pelo o que é sentido! Certamente essa escolha pode afastar quem busca uma narrativa mais convencional, mas o fato é que Kavaite aproveita de cenas plasticamente bem executadas para provocar sentimentos e sensações ora acolhedoras, ora desconfortáveis - e aqui cabe uma observação: mesmo partindo de um mesmo plot de "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), em nenhum momento nos sentimos incomodados ou chocados; todas as cenas são de muito bom gosto.
É interessante perceber que Sangailé, mesmo sofrendo por uma certa inadequação com o mundo em que vive, graças ao distanciamento quase mórbido que tem com sua família (especialmente com sua mãe) e sua solitária fascinação pelas apresentações de voos acrobáticos, é na vertigem que todos os pontos se unem - aquela expressa pela realidade cotidiana da adolescente e na metáfora que acompanha algumas passagens marcantes, como a necessidade de se auto-mutilar para se sentir viva. Reparem, são camadas sensíveis, mas muito bem desenvolvidas com uma relação artística interessante para aqueles dispostos a mergulhar na psiquê da protagonista.
"O Verão de Sangaile" fala sobre o vazio existencial, depressão, suicídio, amor, descobertas e sonhos, mas definitivamente de uma forma que apenas um público bem particular, alternativo e orientado para descobertas narrativas menos convencionais, vai gostar - é isso que o filme entrega e essa é a razão do seu sucesso nos vários festivais que participou pelo mundo. Vale dizer que Alante Kavaite venceu como melhor diretora em Sundance em 2015 e o filme foi indicado ao prêmio máximo do Festival.
Vale a pena, com certa identificação pela proposta artística!
Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha.
Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.
Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.
Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.
Vale muito o seu play!
Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha.
Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.
Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.
Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.
Vale muito o seu play!
"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!
A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.
A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.
A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!
"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!
A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.
A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.
A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!
Seguindo o padrão Globo, "Onde nascem os fortes" pode ser definida como uma história de amores impossíveis, ódio e perdão, que se passa no sertão do Nordeste, um território onde, às vezes, quem vence é o mais forte e não a lei.
A minissérie da Globo mostra o desespero de uma irmã em busca de respostas - Nonato (Marco Pigossi) desaparece sem deixar rastros após flertar justamente com a amante de Pedro (Alexandre Nero), a sedutora Joana (Maeve Jinkings). O suposto envolvimento de Pedro, o homem mais poderoso da cidade, no sumiço de Nonato é o estopim de uma batalha que interrompe de forma abrupta romances, altera o destino de uns e obriga outros a desenterrarem segredos de família.
Eu costumo dizer que trabalho de Diretor bom é simples e ao mesmo tempo elegante. Em todos os projetos do José Luiz Villamarim (e sua parceria com o fotógrafo e diretor Walter Carvalho) a câmera está sempre no lugar certo, mesmo que seja no lugar mais inusitado. Dessa vez ele não dirigiu de ponta a ponta como de costume, mas sua condução artística está impressa em cada detalhe: nada de muitos cortes (aquela coisa de plano, contra-plano e geral); "pra que?" se dá pra fazer em um plano único e fica lindo! Mais uma vez vemos uma bela fotografia, como sempre cinematográfica! Alice Wegmann já tinha me chamado muito a atenção em "Ligações Perigosas" e agora, certamente, sobe de patamar. Alexandre Nero e Henrique Dias, impecáveis - mas aí não é novidade!
Já o texto do George Moura, mesmo com a forte personalidade que lhe é característica, não é consistente o bastante para suportar tantos episódios: 53 no total! Se fossem 10, eu diria que a minissérie seria um enorme sucesso pois, de fato, é uma linda produção, com uma premissa muito interessante (mesmo não sendo das mais originais), uma atmosfera criada pelo Villamarim que trouxe a angustia suficiente para nos identificarmos com a protagonista e querer segui-la durante toda essa dolorosa jornada. Pena que o texto foi perdendo força com episódios completamente dispensáveis. Pena mesmo!
Vale o play, claro, mas só se você estiver disposto a assistir uma novela um pouco mais curta!
Seguindo o padrão Globo, "Onde nascem os fortes" pode ser definida como uma história de amores impossíveis, ódio e perdão, que se passa no sertão do Nordeste, um território onde, às vezes, quem vence é o mais forte e não a lei.
A minissérie da Globo mostra o desespero de uma irmã em busca de respostas - Nonato (Marco Pigossi) desaparece sem deixar rastros após flertar justamente com a amante de Pedro (Alexandre Nero), a sedutora Joana (Maeve Jinkings). O suposto envolvimento de Pedro, o homem mais poderoso da cidade, no sumiço de Nonato é o estopim de uma batalha que interrompe de forma abrupta romances, altera o destino de uns e obriga outros a desenterrarem segredos de família.
Eu costumo dizer que trabalho de Diretor bom é simples e ao mesmo tempo elegante. Em todos os projetos do José Luiz Villamarim (e sua parceria com o fotógrafo e diretor Walter Carvalho) a câmera está sempre no lugar certo, mesmo que seja no lugar mais inusitado. Dessa vez ele não dirigiu de ponta a ponta como de costume, mas sua condução artística está impressa em cada detalhe: nada de muitos cortes (aquela coisa de plano, contra-plano e geral); "pra que?" se dá pra fazer em um plano único e fica lindo! Mais uma vez vemos uma bela fotografia, como sempre cinematográfica! Alice Wegmann já tinha me chamado muito a atenção em "Ligações Perigosas" e agora, certamente, sobe de patamar. Alexandre Nero e Henrique Dias, impecáveis - mas aí não é novidade!
Já o texto do George Moura, mesmo com a forte personalidade que lhe é característica, não é consistente o bastante para suportar tantos episódios: 53 no total! Se fossem 10, eu diria que a minissérie seria um enorme sucesso pois, de fato, é uma linda produção, com uma premissa muito interessante (mesmo não sendo das mais originais), uma atmosfera criada pelo Villamarim que trouxe a angustia suficiente para nos identificarmos com a protagonista e querer segui-la durante toda essa dolorosa jornada. Pena que o texto foi perdendo força com episódios completamente dispensáveis. Pena mesmo!
Vale o play, claro, mas só se você estiver disposto a assistir uma novela um pouco mais curta!
Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.
A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):
"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').
Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.
"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!
Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.
A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):
"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').
Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.
"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!
"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!
O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:
Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado.
Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.
Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta.
Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!
"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!
O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:
Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado.
Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.
Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta.
Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!
"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.
Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:
Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".
Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin" está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).
Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas.
Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!
"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.
Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:
Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".
Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin" está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).
Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas.
Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!
Para o amante da sétima arte, é impossível não ser impactado por um filme que antes do seu início tem a ilustre presença do diretor Steven Spielberg olhando no fundo dos seus olhos e agradecendo por você estar ali para acompanhar duas horas e meia de suas memórias. Como o próprio Spielberg diz, não se trata de uma metáfora, mas sim de uma jornada de descobertas e, essencialmente, uma declaração de amor - mesmo que assumidamente dividida entre suas duas paixões!
O filme é um retrato profundamente pessoal da vida de um dos maiores cineastas de todos os tempos, o diretor Steven Spielberg. "Os Fabelmans", escrito e dirigido pelo próprio Spielberg, narra a história de um jovem, Sammy (Gabriel LaBelle/Mateo Zoryan), que descobre um segredo familiar devastador e que aprende o poder dos filmes para ajudar a enxergar a verdade sobre os outros e sobre si mesmo. Confira o trailer:
Daqui a alguns anos, talvez, "Os Fabelmans" tenha a mesma representatividade para algumas gerações que "Cinema Paradiso", do grande Giuseppe Tornatore, representou para outras. Escrevo isso sem o menor receio de estar exagerando, pois a forma como o roteirista Tony Kushner estrutura as memórias de Spielberg para dar sentido a uma vida aparentemente feliz e tranquila, mas que vai se quebrando sem que o protagonista possa controlar, é sensacional. São tantas nuances e simbologias que citá-las provavelmente influenciaria demais na sua experiência, então eu apenas aconselho: preste atenção em cada detalhe, nos diálogos, nas construções de cada quadro, de cada plano, de como o jovem Sam se relaciona com o mundo e em como as referências de sua vida foram fielmente reproduzidas em seus filmes.
Veja, a linha entre o que é de fato real e o que é pura interpretação é propositalmente confusa, porque Spielberg faz questão de deixar claro que: “é assim que eu me vejo” - você pode até achar que a iluminação recortada pelas árvores em um bosque soa artificial, mas era dessa forma quase poética que Sam se relacionava com seus sentimentos e sentidos. Repare! Também não serão poucas as vezes que você terá a sensação de "eu já vi isso antes" - a genialidade de Kushner e o perfeccionismo de Spielberg entregam dentro de um outro contexto, exatamente as mesmas cenas que um dia vieram a fazer sucesso em sua carreira como diretor. Rapidamente conseguimos identificar as inspirações de enquadramentos de "E.T."., "Tubarão", Contatos Imediatos do Terceiro Grau", "Lista de Schindler", "Cor Púrpura", "Indiana Jones", "Império do Sol", "O Resgate do Soldado Ryan" e até de "Encurralado" - encontrar esses easter eggsé tão divertido quanto nostálgico!
"Os Fabelmans" ainda encontra tempo para discutir sobre as relações familiares. Brilhantemente conduzido por Michelle Williams (como a mãe, Mitzi Fabelman), Paul Dano (como o pai, Burt Fabelman), Seth Rogen(como o melhor amigo da família, Bennie Loewy), além de uma participação tão especial quanto de gala de Judd Hirsch (o tio Boris - para mim o personagem fundamental para o que Spielberg se tornou), os assuntos são espinhosos, marcantes e delicados, mas o que não falta, claro, é sensibilidade para o diretor pontuar algumas passagens que mudaram a sua vida.
Para finalizar, é preciso dizer que a audiência familiarizada com a carreira do Diretor e com as particularidades da profissão de cineasta, deve até se divertir mais que, digamos, o público em geral - não foram poucas as vezes que me vi rindo sozinho de uma piada que ninguém entendeu. Saber a diferença entre uma câmera Bolex 8mm e uma Arriflex 16mm, de fato, não é usual, porém existe um cuidado em explorar as fragilidades do protagonista e até em como ele foi percebendo sua capacidade de manipular imagens para alcançar diferentes emoções, que transformam a história de "Os Fabelmans" em algo realmente universal e apaixonante!
Simplesmente imperdível!
Antes do play, não deixe de assistir o documentário da HBO Max "Spielberg".
Para o amante da sétima arte, é impossível não ser impactado por um filme que antes do seu início tem a ilustre presença do diretor Steven Spielberg olhando no fundo dos seus olhos e agradecendo por você estar ali para acompanhar duas horas e meia de suas memórias. Como o próprio Spielberg diz, não se trata de uma metáfora, mas sim de uma jornada de descobertas e, essencialmente, uma declaração de amor - mesmo que assumidamente dividida entre suas duas paixões!
O filme é um retrato profundamente pessoal da vida de um dos maiores cineastas de todos os tempos, o diretor Steven Spielberg. "Os Fabelmans", escrito e dirigido pelo próprio Spielberg, narra a história de um jovem, Sammy (Gabriel LaBelle/Mateo Zoryan), que descobre um segredo familiar devastador e que aprende o poder dos filmes para ajudar a enxergar a verdade sobre os outros e sobre si mesmo. Confira o trailer:
Daqui a alguns anos, talvez, "Os Fabelmans" tenha a mesma representatividade para algumas gerações que "Cinema Paradiso", do grande Giuseppe Tornatore, representou para outras. Escrevo isso sem o menor receio de estar exagerando, pois a forma como o roteirista Tony Kushner estrutura as memórias de Spielberg para dar sentido a uma vida aparentemente feliz e tranquila, mas que vai se quebrando sem que o protagonista possa controlar, é sensacional. São tantas nuances e simbologias que citá-las provavelmente influenciaria demais na sua experiência, então eu apenas aconselho: preste atenção em cada detalhe, nos diálogos, nas construções de cada quadro, de cada plano, de como o jovem Sam se relaciona com o mundo e em como as referências de sua vida foram fielmente reproduzidas em seus filmes.
Veja, a linha entre o que é de fato real e o que é pura interpretação é propositalmente confusa, porque Spielberg faz questão de deixar claro que: “é assim que eu me vejo” - você pode até achar que a iluminação recortada pelas árvores em um bosque soa artificial, mas era dessa forma quase poética que Sam se relacionava com seus sentimentos e sentidos. Repare! Também não serão poucas as vezes que você terá a sensação de "eu já vi isso antes" - a genialidade de Kushner e o perfeccionismo de Spielberg entregam dentro de um outro contexto, exatamente as mesmas cenas que um dia vieram a fazer sucesso em sua carreira como diretor. Rapidamente conseguimos identificar as inspirações de enquadramentos de "E.T."., "Tubarão", Contatos Imediatos do Terceiro Grau", "Lista de Schindler", "Cor Púrpura", "Indiana Jones", "Império do Sol", "O Resgate do Soldado Ryan" e até de "Encurralado" - encontrar esses easter eggsé tão divertido quanto nostálgico!
"Os Fabelmans" ainda encontra tempo para discutir sobre as relações familiares. Brilhantemente conduzido por Michelle Williams (como a mãe, Mitzi Fabelman), Paul Dano (como o pai, Burt Fabelman), Seth Rogen(como o melhor amigo da família, Bennie Loewy), além de uma participação tão especial quanto de gala de Judd Hirsch (o tio Boris - para mim o personagem fundamental para o que Spielberg se tornou), os assuntos são espinhosos, marcantes e delicados, mas o que não falta, claro, é sensibilidade para o diretor pontuar algumas passagens que mudaram a sua vida.
Para finalizar, é preciso dizer que a audiência familiarizada com a carreira do Diretor e com as particularidades da profissão de cineasta, deve até se divertir mais que, digamos, o público em geral - não foram poucas as vezes que me vi rindo sozinho de uma piada que ninguém entendeu. Saber a diferença entre uma câmera Bolex 8mm e uma Arriflex 16mm, de fato, não é usual, porém existe um cuidado em explorar as fragilidades do protagonista e até em como ele foi percebendo sua capacidade de manipular imagens para alcançar diferentes emoções, que transformam a história de "Os Fabelmans" em algo realmente universal e apaixonante!
Simplesmente imperdível!
Antes do play, não deixe de assistir o documentário da HBO Max "Spielberg".
Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:
Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.
A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!
O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.
Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!
Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:
Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.
A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!
O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.
Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!