indika.tv - Drama

Perfume

"Perfume" é a comprovação que a produção da Alemanha, muito em breve, vai adquirir o respeito mundial das séries nórdicas - pode apostar!!! Depois de "Dark", "Parfum" (título original) dá uma aula de qualidade de produção, alinhando perfeitamente os aspectos técnicos e artísticos sem perder a sua identidade, o DNA do Cinema alemão! Na verdade "Perfume" parece ter saído da cena underground de Berlin Oriental do final dos anos 80, tamanha é a propriedade como o premiado diretor Philipp Kadelbach conduz a minissérie.

A história bebe na mesma fonte da versão cinematográfica de 2006 - o Romance do escritor Patrick Süskind. Mas as similaridades não vão muito além da idéia principal: a busca pelo perfume perfeito, mesmo que para isso seja necessário matar um ser humano para conseguir a matéria-prima! Na minissérie, que se passa nos dias atuais,  a busca pelo assassino começa quando uma desconhecida cantora é encontrada morta. As condições em que ela foi encontrada reascende uma série de dramas que cinco amigos da vítima viveram juntos durante a adolescência, em um orfanato na Alemanha. A partir daí, você vai encontrar uma trama extremamente inteligente, difícil e forte!!!

"Perfume" é um thriller realmente impactante, no seu conteúdo, na sua forma e no seu visual!!! Inicialmente, você se choca - é um fato!!! O Diretor não faz questão nenhuma de esconder nada e muito menos de deixar as coisas subentendidas. Ele mostra sem dó de quem está assistindo e o "look" da minissérie amplifica tudo isso - é um color grading extremamente contrastado, saturado e com uma predominância verde no presente, e granulado em um amarelo quase queimado no passado. É lindo, mas completamente distante da linha mais clean das séries atuais!!! A atuação também parece um pouco acima do tom, mas com o passar dos episódios, percebemos que ela também se adapta perfeitamente àquele clima sombrio. A fotografia, meu Deus, é maravilhosa. Os movimentos de câmera e a composição dos enquadramentos nas locações que eles filmaram é sensacional - sério, primeiro nível de produção!!!

O roteiro também é muito bom, achei que a trama e as sub tramas conversam perfeitamente do início ao fim; os flashbacks estão organicamente bem inseridos na montagem ajudando muito no entendimento dos fatos em duas linhas do tempos complementares. Eu assumo que percebi alguns furos ou algumas inconsistências de informações durante os episódios, mas em nada atrapalhou a minha experiência de acompanhar a investigação dos assassinatos em série. Aliás, outro grande mérito da série é a dinâmica narrativa muito bem equilibrada com a pegada mais poética do texto literário que te prende do começo ao fim. Tudo é muito bem envelopado e ajustado para termos as mesmas sensações que teríamos se estivéssemos lendo um livro de mistério - é genial!!!

São 6 episódios e uma hora em média e embora em alguns momentos o ritmo seja um pouco mais lento, "Perfume" comprova que uma boa história não precisa de enrolação; que a trama está sempre caminhando para a resolução sem muito rodeio: tudo está ali é só ir montando o quebra-cabeça junto com a policia. Meu único "porém": no sexto episódio somos apresentado a uma situação que poderia ter sido melhor desenvolvida durante a minissérie inteira, quase como se ela caísse de para-quedas - embora o roteiro não tivesse a intenção de me enganar, achei que faltaram algumas indicações mais contundentes de que aquilo pudesse realmente acontecer; mas meu amigo, isso é só um detalhe - não se apegue a ele e divirta-se porque a minissérie tem muita qualidade!!!

"Perfume" não é um Original Netflix, apenas os direitos de distribuição são - e tomara que em breve tenhamos mais produções alemãs desse mesmo nível!!!! Coisa linda de se ver e de se viver - vale o play agora!!!!!

Assista Agora

"Perfume" é a comprovação que a produção da Alemanha, muito em breve, vai adquirir o respeito mundial das séries nórdicas - pode apostar!!! Depois de "Dark", "Parfum" (título original) dá uma aula de qualidade de produção, alinhando perfeitamente os aspectos técnicos e artísticos sem perder a sua identidade, o DNA do Cinema alemão! Na verdade "Perfume" parece ter saído da cena underground de Berlin Oriental do final dos anos 80, tamanha é a propriedade como o premiado diretor Philipp Kadelbach conduz a minissérie.

A história bebe na mesma fonte da versão cinematográfica de 2006 - o Romance do escritor Patrick Süskind. Mas as similaridades não vão muito além da idéia principal: a busca pelo perfume perfeito, mesmo que para isso seja necessário matar um ser humano para conseguir a matéria-prima! Na minissérie, que se passa nos dias atuais,  a busca pelo assassino começa quando uma desconhecida cantora é encontrada morta. As condições em que ela foi encontrada reascende uma série de dramas que cinco amigos da vítima viveram juntos durante a adolescência, em um orfanato na Alemanha. A partir daí, você vai encontrar uma trama extremamente inteligente, difícil e forte!!!

"Perfume" é um thriller realmente impactante, no seu conteúdo, na sua forma e no seu visual!!! Inicialmente, você se choca - é um fato!!! O Diretor não faz questão nenhuma de esconder nada e muito menos de deixar as coisas subentendidas. Ele mostra sem dó de quem está assistindo e o "look" da minissérie amplifica tudo isso - é um color grading extremamente contrastado, saturado e com uma predominância verde no presente, e granulado em um amarelo quase queimado no passado. É lindo, mas completamente distante da linha mais clean das séries atuais!!! A atuação também parece um pouco acima do tom, mas com o passar dos episódios, percebemos que ela também se adapta perfeitamente àquele clima sombrio. A fotografia, meu Deus, é maravilhosa. Os movimentos de câmera e a composição dos enquadramentos nas locações que eles filmaram é sensacional - sério, primeiro nível de produção!!!

O roteiro também é muito bom, achei que a trama e as sub tramas conversam perfeitamente do início ao fim; os flashbacks estão organicamente bem inseridos na montagem ajudando muito no entendimento dos fatos em duas linhas do tempos complementares. Eu assumo que percebi alguns furos ou algumas inconsistências de informações durante os episódios, mas em nada atrapalhou a minha experiência de acompanhar a investigação dos assassinatos em série. Aliás, outro grande mérito da série é a dinâmica narrativa muito bem equilibrada com a pegada mais poética do texto literário que te prende do começo ao fim. Tudo é muito bem envelopado e ajustado para termos as mesmas sensações que teríamos se estivéssemos lendo um livro de mistério - é genial!!!

São 6 episódios e uma hora em média e embora em alguns momentos o ritmo seja um pouco mais lento, "Perfume" comprova que uma boa história não precisa de enrolação; que a trama está sempre caminhando para a resolução sem muito rodeio: tudo está ali é só ir montando o quebra-cabeça junto com a policia. Meu único "porém": no sexto episódio somos apresentado a uma situação que poderia ter sido melhor desenvolvida durante a minissérie inteira, quase como se ela caísse de para-quedas - embora o roteiro não tivesse a intenção de me enganar, achei que faltaram algumas indicações mais contundentes de que aquilo pudesse realmente acontecer; mas meu amigo, isso é só um detalhe - não se apegue a ele e divirta-se porque a minissérie tem muita qualidade!!!

"Perfume" não é um Original Netflix, apenas os direitos de distribuição são - e tomara que em breve tenhamos mais produções alemãs desse mesmo nível!!!! Coisa linda de se ver e de se viver - vale o play agora!!!!!

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Pieces of a Woman

“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!

O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:

Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!

A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!

Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!

Observações:

1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!

2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!

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“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!

O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:

Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!

A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!

Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!

Observações:

1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!

2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!

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Pobres Criaturas

"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.

Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:

Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.

Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!

"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.

Vale muito o seu play!

Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!

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"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.

Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:

Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.

Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!

"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.

Vale muito o seu play!

Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!

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Pose

Imagine-se diferente de todos ao seu redor. Imagine que resolva mostrar ao mundo quem você é, e não há preconceito, luta, injustiça e humilhação que o detenha de alcançar seu grande sonho... simplesmente ser quem você é! "Pose" é isso e muito mais!

A série se passa em meados dos anos 80/90, em Nova York, onde, para sobreviver e se proteger, os transexuais se reúnem em "famílias", sob as diretrizes das chamadas "Mães", que enxergam o melhor em cada um de seus "filhos", e se lançam nos badalados bailes LGBTQ, em busca de oportunidades para mostrar ao mundo toda a sua sensualidade, beleza e ousadia, através dos movimentos inusitados da Dança Vogue - leia-se a diva mor Madonna no hot parade. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que a trilha sonora é um elemento a parte - simplesmente incrível! Já o roteiro não suaviza ao expor o fantasma da AIDS e como a doença continuava causando medo e incerteza na comunidade, embora o tratamento já mostrasse alguns resultados importantes - bem diferente de “Halston”dos anos 70 e do mesmo Ryan Murphy (criador da série). Drogas, violência, conteúdo sexual e uma pegada de humor trágico, é um retrato do que enfrentavam os transsexuais, com muita pose, para serem aceitos e respeitados em suas diferenças - e há muita sensibilidade para dimensionar isso naquela sociedade.

Outro ponto que merece destaque, diz respeito ao maior elenco transexual reunido em uma única produção! Blanca (Mj Rodriguez), Elektra (Dominique Jackson), Angel (Indya Moore) e Candy (Angelica Ross) trazem para a tela, o que há por trás de todas as cores e brilhos daquele universo onde não se trata de escolha ou de opção, é simplesmente ser quem realmente é - e olha, não foi por acaso que "Pose" teve 10 indicações ao Emmy, inclusive como "Melhor Elenco em Série Dramática", além de mais de 70 indicações e 30 prêmios em vários festivais pelo mundo.

O fato é que "Pose" brilha dentro e fora de cada um dos personagens, sem perder de vista a elegância e a sutileza para tocar em temas muito desconfortáveis, mas essenciais na discussão sobre tolerância e respeito, onde a voz das minorias reverbera, humildemente, na evolução do ser humano pelos olhos da cultura pop. 

Vale o play!

Escrito por Willy Roosevelt com Edição de André Siqueira - uma parceria @tudocine1

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Imagine-se diferente de todos ao seu redor. Imagine que resolva mostrar ao mundo quem você é, e não há preconceito, luta, injustiça e humilhação que o detenha de alcançar seu grande sonho... simplesmente ser quem você é! "Pose" é isso e muito mais!

A série se passa em meados dos anos 80/90, em Nova York, onde, para sobreviver e se proteger, os transexuais se reúnem em "famílias", sob as diretrizes das chamadas "Mães", que enxergam o melhor em cada um de seus "filhos", e se lançam nos badalados bailes LGBTQ, em busca de oportunidades para mostrar ao mundo toda a sua sensualidade, beleza e ousadia, através dos movimentos inusitados da Dança Vogue - leia-se a diva mor Madonna no hot parade. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que a trilha sonora é um elemento a parte - simplesmente incrível! Já o roteiro não suaviza ao expor o fantasma da AIDS e como a doença continuava causando medo e incerteza na comunidade, embora o tratamento já mostrasse alguns resultados importantes - bem diferente de “Halston”dos anos 70 e do mesmo Ryan Murphy (criador da série). Drogas, violência, conteúdo sexual e uma pegada de humor trágico, é um retrato do que enfrentavam os transsexuais, com muita pose, para serem aceitos e respeitados em suas diferenças - e há muita sensibilidade para dimensionar isso naquela sociedade.

Outro ponto que merece destaque, diz respeito ao maior elenco transexual reunido em uma única produção! Blanca (Mj Rodriguez), Elektra (Dominique Jackson), Angel (Indya Moore) e Candy (Angelica Ross) trazem para a tela, o que há por trás de todas as cores e brilhos daquele universo onde não se trata de escolha ou de opção, é simplesmente ser quem realmente é - e olha, não foi por acaso que "Pose" teve 10 indicações ao Emmy, inclusive como "Melhor Elenco em Série Dramática", além de mais de 70 indicações e 30 prêmios em vários festivais pelo mundo.

O fato é que "Pose" brilha dentro e fora de cada um dos personagens, sem perder de vista a elegância e a sutileza para tocar em temas muito desconfortáveis, mas essenciais na discussão sobre tolerância e respeito, onde a voz das minorias reverbera, humildemente, na evolução do ser humano pelos olhos da cultura pop. 

Vale o play!

Escrito por Willy Roosevelt com Edição de André Siqueira - uma parceria @tudocine1

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Precisamos falar sobre o Kevin

Precisamos falar sobre o Kevin

"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.

O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:

A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.

A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?

Vale muito a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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"Precisamos falar sobre o Kevin", é basicamente sobre maternidade e sobre o show da atriz Tilda Swinton como Eva - que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de 2012.

O roteiro faz um caminho inverso ao do mais recente "O Quarto de Jack", que começa como um suspense e aos poucos se torna um drama. Aqui, temos um drama familiar que ganha cada vez mais tensão e caminha para um trágico terceiro ato. Eva (Swinton) é uma mulher bem casada e bem-sucedida no trabalho que acaba tendo uma gravidez indesejada e, mesmo após o nascimento de Kevin (Rock Duer - Jasper Newell - Ezra Miller), continua enxergando a maternidade como um fardo ao invés de recebê-la como graça.Por isso (ou não), Kevin se torna uma criança problemática e de difícil convivência, especialmente com a mãe. Após alguns anos, o casal tem outra filha: Celia (Ashley Gerasimovich), uma garotinha amável com todos - até com Kevin. Confira o trailer:

A narrativa acompanha diferentes linhas do tempo, intercalando passado e presente, o que funciona para alimentar o clima de mistério e estabelecer uma dinâmica bastante interessante. A Eva solitária e amaldiçoada pela vizinhança do presente contrasta com a mãe de família do passado. Sabemos que algo trágico aconteceu entre esses dois momentos e só há uma certeza: Kevin esteve envolvido. Mesmo assim, as revelações não deixam de ser perturbadoras e impactantes.

A última cena é sutil e ao mesmo tempo grandiosa, pois mostra as peças, mas deixa que o espectador monte seu próprio quebra-cabeça psicológico. Afinal, existem erros imperdoáveis? De quem é a culpa? O mal precisa de um motivo pra existir, ou simplesmente existe?

Vale muito a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Preso na Escuridão

"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista! 

A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.

É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.

O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!

"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena,  exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante. 

Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.

PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer 

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"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista! 

A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.

É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.

O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!

"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena,  exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante. 

Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.

PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer 

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Quanto Vale?

Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".

Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:

Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.

Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.

Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.

Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos. 

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Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".

Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:

Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.

Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.

Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.

Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos. 

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Quatro dias com ela

"Quatro dias com ela"Glenn Close e de uma irreconhecível, Mila Kunis. Na linha de "Querido Menino", o filme do diretor colombiano Rodrigo García (o mesmo de "Raymond e Ray") se apoia na jornada de sofrimento que é ter um filho drogado. Mesmo que o roteiro transite pelas perspectivas da mãe e da filha para um mesmo problema, sem dúvida que é no medo, na insegurança e no sentimento de culpa da mãe, que a trama alcança outro patamar. É como se a personagem de Close precisasse enfrentar seus próprios problemas antes mesmo de lidar com o problema de sua filha e ela faz isso não com os diálogos, mas sim com o olhar, com as pausas, com a respiração - tudo muito introspectivo. Lindo de ver!

A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):

Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.

Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.

Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Quatro dias com ela"Glenn Close e de uma irreconhecível, Mila Kunis. Na linha de "Querido Menino", o filme do diretor colombiano Rodrigo García (o mesmo de "Raymond e Ray") se apoia na jornada de sofrimento que é ter um filho drogado. Mesmo que o roteiro transite pelas perspectivas da mãe e da filha para um mesmo problema, sem dúvida que é no medo, na insegurança e no sentimento de culpa da mãe, que a trama alcança outro patamar. É como se a personagem de Close precisasse enfrentar seus próprios problemas antes mesmo de lidar com o problema de sua filha e ela faz isso não com os diálogos, mas sim com o olhar, com as pausas, com a respiração - tudo muito introspectivo. Lindo de ver!

A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):

Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.

Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.

Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.

Vale muito o seu play!

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Querida Alice

Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Querido Menino

"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!

O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:

"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?

O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen. 

Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!

"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.

Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!

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"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!

O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:

"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?

O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen. 

Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!

"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.

Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!

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Radioactive

Quem já nos conhece há algum tempo sabe que eu tenho uma tese de que biografias deveriam ser produzidas apenas como minisséries e não mais no formato de filmes. É um pecado que a história de uma vida tão genial tenha que ser contada apenas em 120 minutos! Com "Radioactive" não é diferente - Marie Curie é uma personagem incrível, cheia de camadas, que faz parte da história mundial por sua descoberta da radioatividade, vencedora de dois prêmios Nobel, cientista, física  química, mulher, imigrante, mãe de outra mulher incrível e, tudo isso, precisou ser contado sem nenhuma profundidade por causa da limitação de tempo. Não que o filme seja ruim, de fato ele não é e precisa ser assistido por sua importância histórica, inclusive; mas dava para ir além... muito além!

Devota da ciência, Marie (Rosamund Pike) sempre enfrentou dificuldades em conseguir apoio para suas experiências devido ao fato de ser uma mulher. Ao conhecer Pierre Curie (Sam Riley), ela logo se surpreende pelo fato dele conhecer seu trabalho, o que a deixa lisonjeada. Logo os dois estão trabalhando e, posteriormente, iniciam um relacionamento que resultou em duas filhas. Juntos, Marie e Pierre descobrem dois novos elementos químicos, o "radio" e o "polônio", que dão início ao uso da radioatividade. Confira o trailer (em inglês):

De cara, o que mais chama atenção em "Radioactive" é a direção de arte de Michael Carlin (“Enola Holmes”) e a fotografia do Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar por "Quem quer ser um Milionário"- a Paris do inicio do século XX está incrível! E, logo depois, nos deparamos com outro trabalho incrível de Rosamund Pike como Marie Curie e uma excelente participações de Anya Taylor-Joy como a filha mais velha de Curie, Irène. Embora o roteiro sofra com a necessidade de condensar anos de existência e de trabalho da personagem em apenas duas horas, como comentamos, é inegável que a diretora Marjane Satrapi consegue impor um bom ritmo para a história e ainda simplificar um assunto tão complicado com ótimas analogias que nos ajudam a entender o tamanho das descobertas de Curie - a analogia que ela faz com a uva é muito bacana, reparem! O que incomoda um pouco é a velocidade como tudo acontece e a falta de coerência na montagem - e aqui vale o registro: as soluções artísticas nas transições são bem criativas, o que atrapalha é que os flashfowards e os flashbacks ficaram tão perdidos dentro da linha temporal da narrativa quando as citações de uma relação cientifica e espiritual tão presentes em Paris naquela época - uma pena!

"Radioactive" serve muito bem como retrato de uma personalidade que pouca gente conhece e que merecia ter sua história contada pelo brilhantismo de suas descobertas. São muitas curiosidades para quem gosta de personalidades e muitas lições para quem gosta de empreendedorismo, bem na linha de "Self Made - A Vida e a História de Madam C.J. Walker", só que com menos tempo de tela. Se você procura por cinebiografias, essa é mais uma interessante para acompanhar - não será inesquecível, mas é um ótimo exemplo de como uma obra audiovisual pode ampliar nosso conhecimento história e nos apresentar personagens importantes (e interessantes) que pouco temos acesso!

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Quem já nos conhece há algum tempo sabe que eu tenho uma tese de que biografias deveriam ser produzidas apenas como minisséries e não mais no formato de filmes. É um pecado que a história de uma vida tão genial tenha que ser contada apenas em 120 minutos! Com "Radioactive" não é diferente - Marie Curie é uma personagem incrível, cheia de camadas, que faz parte da história mundial por sua descoberta da radioatividade, vencedora de dois prêmios Nobel, cientista, física  química, mulher, imigrante, mãe de outra mulher incrível e, tudo isso, precisou ser contado sem nenhuma profundidade por causa da limitação de tempo. Não que o filme seja ruim, de fato ele não é e precisa ser assistido por sua importância histórica, inclusive; mas dava para ir além... muito além!

Devota da ciência, Marie (Rosamund Pike) sempre enfrentou dificuldades em conseguir apoio para suas experiências devido ao fato de ser uma mulher. Ao conhecer Pierre Curie (Sam Riley), ela logo se surpreende pelo fato dele conhecer seu trabalho, o que a deixa lisonjeada. Logo os dois estão trabalhando e, posteriormente, iniciam um relacionamento que resultou em duas filhas. Juntos, Marie e Pierre descobrem dois novos elementos químicos, o "radio" e o "polônio", que dão início ao uso da radioatividade. Confira o trailer (em inglês):

De cara, o que mais chama atenção em "Radioactive" é a direção de arte de Michael Carlin (“Enola Holmes”) e a fotografia do Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar por "Quem quer ser um Milionário"- a Paris do inicio do século XX está incrível! E, logo depois, nos deparamos com outro trabalho incrível de Rosamund Pike como Marie Curie e uma excelente participações de Anya Taylor-Joy como a filha mais velha de Curie, Irène. Embora o roteiro sofra com a necessidade de condensar anos de existência e de trabalho da personagem em apenas duas horas, como comentamos, é inegável que a diretora Marjane Satrapi consegue impor um bom ritmo para a história e ainda simplificar um assunto tão complicado com ótimas analogias que nos ajudam a entender o tamanho das descobertas de Curie - a analogia que ela faz com a uva é muito bacana, reparem! O que incomoda um pouco é a velocidade como tudo acontece e a falta de coerência na montagem - e aqui vale o registro: as soluções artísticas nas transições são bem criativas, o que atrapalha é que os flashfowards e os flashbacks ficaram tão perdidos dentro da linha temporal da narrativa quando as citações de uma relação cientifica e espiritual tão presentes em Paris naquela época - uma pena!

"Radioactive" serve muito bem como retrato de uma personalidade que pouca gente conhece e que merecia ter sua história contada pelo brilhantismo de suas descobertas. São muitas curiosidades para quem gosta de personalidades e muitas lições para quem gosta de empreendedorismo, bem na linha de "Self Made - A Vida e a História de Madam C.J. Walker", só que com menos tempo de tela. Se você procura por cinebiografias, essa é mais uma interessante para acompanhar - não será inesquecível, mas é um ótimo exemplo de como uma obra audiovisual pode ampliar nosso conhecimento história e nos apresentar personagens importantes (e interessantes) que pouco temos acesso!

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Rainhas do Crime

A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

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A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

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Raymond e Ray

"Raymond e Ray" é ótimo, porém (e esse tipo de filme sempre tem um "porém") só um nicho muito específico vai se conectar com o drama que o diretor colombiano Rodrigo García (de "Santa Evita") apresenta. Digo isso pois a dinâmica narrativa é bastante cadenciado, focada em dois personagens-chave, que se alternam entre a dor da perda do pai e a raiva de carregar os fantasmas do passado durante toda a vida! Sim, o filme fala sobre o "luto", mas com camadas muito mais profundas que um simples ritual de despedida ou de entendimento do "fim" - e acredite: isso vai te tocar!

Dois meio-irmãos, Raymond (Ewan McGregor) e Ray (Ethan Hawke) se reencontram no funeral de seu pai, ambos lutando com o legado de seu relacionamento difícil com um pai exigente e pouco amoroso. De alguma forma, o funeral se torna uma chance para eles se reinventarem e entenderem que onde existe raiva, dor e loucura, também pode haver amor e uma pitada de senso de humor. Confira o trailer (em inglês):

"Raymond e Ray" pode ser considerado um equilibrado e bem desenvolvido "drama de relação" (nesse caso familiar e não de um casal), no entanto o roteiro escrito pelo próprio Garcia (que é filho do grande Gabriel Garcia Marquez) tem um pé no melodrama que deve afastar os mais céticos - não que isso seja ruim, mas é impossível não levar em consideração os reflexos na performance do elenco: as caras e bocas de McGregor e o esforço descomunal de Hawke para encontrar o tom do seu sofrimento, são dois bons exemplos. 

Ao se apoiar na premissa da "busca por um inevitável acerto de contas", o roteiro acaba caindo na natural armadilha de fazer com que tudo termine bem, porém é de se elogiar que o caminho escolhido para isso traga uma realidade pontualmente dolorosa para a história e mesmo que soe distante, nos conecte aos personagens. Rodrigo García dá espaço para que os personagens imponham suas inseguranças e mesmo com diálogos superficiais, é possível entender o quanto enterrar aquele pai é difícil - ao nos mostrar as falhas de caráter desse ser humano egoísta e amado ao mesmo tempo, entendemos nas atitudes de seus filhos, os reflexos de quem só experienciou um lado dessa moeda. Se você se permitir, não será uma vez que você se colocará no lugar de Raymond ou de Ray!

Muito bem fotografado pelo Igor Jadue-Lillo (de "Minhas Mães e Meu Pai"), "Raymond e Ray" é belíssimo visualmente e muito consistente como trama de transformação. Até em suas derrapadas (e elas existem), é possível perceber que a química entre os protagonistas funciona para mover o filme na direção correta. Ele é lento? Sim. Chato? Para alguns será. No entanto existe uma certa franqueza nessa jornada que gera identificação e por isso empatia - elementos narrativos essenciais para um drama como esse! Funcionou!

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"Raymond e Ray" é ótimo, porém (e esse tipo de filme sempre tem um "porém") só um nicho muito específico vai se conectar com o drama que o diretor colombiano Rodrigo García (de "Santa Evita") apresenta. Digo isso pois a dinâmica narrativa é bastante cadenciado, focada em dois personagens-chave, que se alternam entre a dor da perda do pai e a raiva de carregar os fantasmas do passado durante toda a vida! Sim, o filme fala sobre o "luto", mas com camadas muito mais profundas que um simples ritual de despedida ou de entendimento do "fim" - e acredite: isso vai te tocar!

Dois meio-irmãos, Raymond (Ewan McGregor) e Ray (Ethan Hawke) se reencontram no funeral de seu pai, ambos lutando com o legado de seu relacionamento difícil com um pai exigente e pouco amoroso. De alguma forma, o funeral se torna uma chance para eles se reinventarem e entenderem que onde existe raiva, dor e loucura, também pode haver amor e uma pitada de senso de humor. Confira o trailer (em inglês):

"Raymond e Ray" pode ser considerado um equilibrado e bem desenvolvido "drama de relação" (nesse caso familiar e não de um casal), no entanto o roteiro escrito pelo próprio Garcia (que é filho do grande Gabriel Garcia Marquez) tem um pé no melodrama que deve afastar os mais céticos - não que isso seja ruim, mas é impossível não levar em consideração os reflexos na performance do elenco: as caras e bocas de McGregor e o esforço descomunal de Hawke para encontrar o tom do seu sofrimento, são dois bons exemplos. 

Ao se apoiar na premissa da "busca por um inevitável acerto de contas", o roteiro acaba caindo na natural armadilha de fazer com que tudo termine bem, porém é de se elogiar que o caminho escolhido para isso traga uma realidade pontualmente dolorosa para a história e mesmo que soe distante, nos conecte aos personagens. Rodrigo García dá espaço para que os personagens imponham suas inseguranças e mesmo com diálogos superficiais, é possível entender o quanto enterrar aquele pai é difícil - ao nos mostrar as falhas de caráter desse ser humano egoísta e amado ao mesmo tempo, entendemos nas atitudes de seus filhos, os reflexos de quem só experienciou um lado dessa moeda. Se você se permitir, não será uma vez que você se colocará no lugar de Raymond ou de Ray!

Muito bem fotografado pelo Igor Jadue-Lillo (de "Minhas Mães e Meu Pai"), "Raymond e Ray" é belíssimo visualmente e muito consistente como trama de transformação. Até em suas derrapadas (e elas existem), é possível perceber que a química entre os protagonistas funciona para mover o filme na direção correta. Ele é lento? Sim. Chato? Para alguns será. No entanto existe uma certa franqueza nessa jornada que gera identificação e por isso empatia - elementos narrativos essenciais para um drama como esse! Funcionou!

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Recomeço

Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.

Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:

"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.

Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.

A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.

Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.

Imperdível!

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Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.

Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:

"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.

Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.

A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.

Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.

Imperdível!

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Rede de Ódio

"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).

Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):

"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!

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"Rede de Ódio" é um grande filme, com um roteiro excelente e uma direção impecável! Dito isso, fica muito fácil criar um paralelo desse filme polonês com uma produção sueca, dessa vez uma minissérie, chamada "Areia Movediça" - ambos mostram como é construída uma situação extrema de ódio, embora com objetivos diferentes, o foco não é ato em si, mas o que leva uma pessoa a cometer uma atrocidade dessas. É quase um estudo psicológico sobre os protagonistas, como se fosse peças de um quebra-cabeça que vão se juntando até alcançar o limite de uma ideologia - vale citar que o protagonista de "Rede de Ódio" dá um show (mas sobre isso vamos nos aprofundar mais a frente).

Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) é um jovem rapaz vindo do interior da Polônia cujos estudos na faculdade de Direito são pagos pela família de Robert (Jacek Koman) e Zofia Krasucka (Danuta Stenka). Tomasz nutre uma paixão quase platônica por Gabi (Vanessa Aleksander), filha mais nova do casal, mas, apesar do aparente respeito entre eles, Tomasz descobre que é motivo de chacota ao escutar uma conversa dos Krasucka - por sua forma de ser e pelo abismo social que os separam. Ao ser expulso da faculdade, por plagiar um trabalho, Tomasz começa um emprego numa agência de publicidade especializada em eliminar a reputação dos concorrentes de seus clientes através das redes sociais. Quando ele é escalado para destruir um dos candidatos à prefeitura de Varsóvia e esse mesmo candidato é apoiado pela família de Gabi, Tomasz se vê em uma enorme oportunidade de mostrar que, mesmo humilhado pela vida, ele pode dar a volta por cima e ainda provar que não existem limites para sua ambição e competência! Confira o trailer (em inglês):

"Rede de Ódio" é uma agradável surpresa, chancelada pelo prêmio de melhor Filme Internacional no Tribeca Film Festival de 2020. Novo filme do diretor de "Corpus Christi", indicado ao último Oscar de Filme Estrangeiro, "Rede de Ódio" é um drama psicológico muito, mas muito bom! A forma como a trama vai se construindo é tão fluida que nem nos damos conta de como tudo aquilo que vemos na tela é tão próximo de nós, mesmo sendo tão surreal - é como misturar o documentário "Privacidade Hackeada" com o filme "22 July", ambos da Netflix! Olha, vale muito a pena mesmo e pode acreditar: esse filme vai te fazer refletir sobre muito dos absurdos que vivemos hoje em dia no nosso país!

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Rei dos Stonks

Se você gostou de "WeCrashed""The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)

A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):

Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.

O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.

Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!

Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.

Vale seu play!

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Se você gostou de "WeCrashed""The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)

A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):

Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.

O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.

Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!

Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.

Vale seu play!

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Remando para o Ouro

Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

Vale seu play!

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Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

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Réquiem para um Sonho

Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.

"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.

O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão  emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.

"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável.  Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.

Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!

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Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.

"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.

O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão  emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.

"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável.  Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.

Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!

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Respire Fundo

"Respire Fundo" é um retrato silencioso sobre a depressão - ou seja, essa será uma jornada dolorosa, então se você for sensível ao assunto, definitivamente esse filme não é para você.

Bem na linha de "Tully", o filme de estreia da promissora diretora e roteirista Amy Koppelman, aborda um lado pouco discutido da maternidade e como o pós-parto pode potencializar alguns gatilhos bastante sensíveis para algumas mulheres. Ao romantizar a maternidade, deixa-se de lado uma nova realidade, difícil e solitária, mesmo que você tenha uma rede de apoio como a que personagem Julie (Amanda Seyfried) possui, com um marido presente como Ethan (Finn Witrock) e uma mãe dedicada como Bobbi (Amy Irving).

Julie Davis é uma famosa autora best-seller de livros infantis. Ela é carinhosa, gentil e amorosa com seu marido e com seu filho recém-nascido. Embora seus livros tratem de desvendar os medos da infância, ela não consegue lidar com um segredo que tem assombrado sua própria vida. Mas quando seu segundo filho nasce, alguns eventos trazem esse mistério à tona e com isso, Julie, inicia uma batalha esmagadora e poderosa pela sobrevivência. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no próprio livro de Koppelman, "A Mouthful of Air" (no original) merece muito cuidado em sua avaliação. Os elementos técnicos e artísticos são irretocáveis. Tanto a diretora quanto Seyfried são impecáveis ao explorar os dramas mais íntimos da personagem com muita sensibilidade e honestidade. Koppelman, aliás, evita a tentação de impactar visualmente, o que imprime uma certa sensação de angustia e ansiedade muito coerente com o que esta sendo discutido na tela. Os enquadramentos bem construídos pelo fotógrafo Frank G. DeMarco (de "Até o Fim") dão a exata noção da profundidade do problema sem ao menos mostrar suas consequências mais cruéis.

O roteiro transforma a experiência de assistir “Respire Fundo” em algo muito difícil ao mesmo tempo em que também traz um certo (e bem vindo) didatismo para o assunto. Ver alguém se desintegrando, apesar de ter um futuro lindo pela frente, e estar vivendo um dos momentos mais sublimes da vida de uma mulher, é de cortar o coração. Por outro lado, a dinâmica narrativa é muito inteligente ao buscar no passado algumas situações marcantes que, de alguma maneira, podem justificar o que está acontecendo no presente - e eu disse "podem", não que justifiquem. A reflexão sobre essas passagens bastante sutis dos flashbacks ajudam a construir um certo entendimento sobre a linha de conduta de Julie, mas em hipótese alguma devem servir como respostas - como a diretora sabe disso, ela se relaciona cinematograficamente com os fatos de uma maneira quase lúdica, colocando o filme em outro patamar: menos expositivo do que muitos poderiam esperar.

"Respire Fundo" é corajoso ao trazer um tom poético para uma realidade tão dura e de difícil aceitação. As escolhas conceituais da diretora dão a exata proporção de como a depressão é sorrateira sem precisar se apoiar em clichês. Eu diria que o filme é até mais importante do que inesquecível, mas seria injusto pela qualidade dramática que a história tem e pelas inúmeras sensações que a narrativa nos provoca!

Vale muito o seu play, mas esteja preparado!

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"Respire Fundo" é um retrato silencioso sobre a depressão - ou seja, essa será uma jornada dolorosa, então se você for sensível ao assunto, definitivamente esse filme não é para você.

Bem na linha de "Tully", o filme de estreia da promissora diretora e roteirista Amy Koppelman, aborda um lado pouco discutido da maternidade e como o pós-parto pode potencializar alguns gatilhos bastante sensíveis para algumas mulheres. Ao romantizar a maternidade, deixa-se de lado uma nova realidade, difícil e solitária, mesmo que você tenha uma rede de apoio como a que personagem Julie (Amanda Seyfried) possui, com um marido presente como Ethan (Finn Witrock) e uma mãe dedicada como Bobbi (Amy Irving).

Julie Davis é uma famosa autora best-seller de livros infantis. Ela é carinhosa, gentil e amorosa com seu marido e com seu filho recém-nascido. Embora seus livros tratem de desvendar os medos da infância, ela não consegue lidar com um segredo que tem assombrado sua própria vida. Mas quando seu segundo filho nasce, alguns eventos trazem esse mistério à tona e com isso, Julie, inicia uma batalha esmagadora e poderosa pela sobrevivência. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no próprio livro de Koppelman, "A Mouthful of Air" (no original) merece muito cuidado em sua avaliação. Os elementos técnicos e artísticos são irretocáveis. Tanto a diretora quanto Seyfried são impecáveis ao explorar os dramas mais íntimos da personagem com muita sensibilidade e honestidade. Koppelman, aliás, evita a tentação de impactar visualmente, o que imprime uma certa sensação de angustia e ansiedade muito coerente com o que esta sendo discutido na tela. Os enquadramentos bem construídos pelo fotógrafo Frank G. DeMarco (de "Até o Fim") dão a exata noção da profundidade do problema sem ao menos mostrar suas consequências mais cruéis.

O roteiro transforma a experiência de assistir “Respire Fundo” em algo muito difícil ao mesmo tempo em que também traz um certo (e bem vindo) didatismo para o assunto. Ver alguém se desintegrando, apesar de ter um futuro lindo pela frente, e estar vivendo um dos momentos mais sublimes da vida de uma mulher, é de cortar o coração. Por outro lado, a dinâmica narrativa é muito inteligente ao buscar no passado algumas situações marcantes que, de alguma maneira, podem justificar o que está acontecendo no presente - e eu disse "podem", não que justifiquem. A reflexão sobre essas passagens bastante sutis dos flashbacks ajudam a construir um certo entendimento sobre a linha de conduta de Julie, mas em hipótese alguma devem servir como respostas - como a diretora sabe disso, ela se relaciona cinematograficamente com os fatos de uma maneira quase lúdica, colocando o filme em outro patamar: menos expositivo do que muitos poderiam esperar.

"Respire Fundo" é corajoso ao trazer um tom poético para uma realidade tão dura e de difícil aceitação. As escolhas conceituais da diretora dão a exata proporção de como a depressão é sorrateira sem precisar se apoiar em clichês. Eu diria que o filme é até mais importante do que inesquecível, mas seria injusto pela qualidade dramática que a história tem e pelas inúmeras sensações que a narrativa nos provoca!

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Retorno a Ítaca

Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").

A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:

Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.

A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!

"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor. 

Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.

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Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").

A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:

Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.

A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!

"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor. 

Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.

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