indika.tv - Drama

Os Miseráveis

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

Assista Agora

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Os olhos de Tammy Faye

"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!

O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:

Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.

Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".

Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.

Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!

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"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!

O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:

Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.

Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".

Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.

Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!

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Os Segredos que Guardamos

Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Os Suspeitos

Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final. 

A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:

"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).

A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.

"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!

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Oslo

Oslo

Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

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Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

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Ozark

Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Quando "Ozark" estreou em 2017, rapidamente ela foi definida como o "Breaking Bad da Netflix" ou até mesmo o "Novo Breaking Bad". Claro que as duas séries tem alguns elementos em comum, pontos que convergem narrativamente inclusive, mas o fato é que são séries completamente diferentes e talvez por isso, muita gente não deu o valor que "Ozark" merecia! Se como fã de "Breaking Bad" eu assisto os primeiros episódios de "Ozark", minha expectativa certamente sai abalada, pois esperar que a série da Netflix traga o mood e a cadência que Vince Gilligan imprimiu com maestria, é um erro! "Ozark" não tem elementos visuais (sequer) parecidos, o tom é completamente diferente e a velocidade como a trama é contada é quase oposta - por isso tenho a impressão que essa estratégia de marketing jogou mais contra do que a favor!

Dito isso, eu posso te afirmar sem receio algum: "Ozark" é tão espetacular quanto "Breaking Bad" e o tempo está ajudando a provar essa tese - mas olha, são séries diferentes, repito! Marty Byrde (Jason Bateman), um consultor financeiro honesto e cheio de princípios, acaba se envolvendo em um grande esquema de lavagem de dinheiro depois de descobrir um rombo nas contas de um potencial cliente que a principio dizia vender cerâmicas. A "pedido" desse mesmo cliente, mas já sabendo onde estava se metendo, Marty transforma sua empresa na fachada ideal para realizar os serviços que o narcotraficante Del (Esai Morales) precisava para manter seu dinheiro girando. Porém, o sócio de firma e melhor amigo, Bruce Liddell (Josh Randall), tenta roubar Del, mas acaba sendo descoberto e é cruelmente executado. Marty, mesmo muito abalado, consegue salvar a própria vida, prometendo para Del pagar a dívida do amigo e ainda dizendo que será capaz de lavar muito mais dinheiro se puder mudar com a família para o lago de Ozark, lugar que atrai diversos turistas no verão. Ao lado da esposa Wendy (Laura Linney) e dos filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner), Marty chega em Ozark e não demora para perceber que, naquele lugar, sua missão não será tão fácil como imaginava. Confira o trailer:

Eu achei a primeira temporada quase perfeita e digo "quase" porque em dois momentos-chaves, "Ozark" não teve a coragem de bancar um caminho menos óbvio que ela mesmo estava insinuando ser o correto e que, tranquilamente, nos apunhalaria o coração sem dó, mas também nos tiraria completamente da zona de conforto e colocaria "Ozark" num patamar que poucas séries alcançaram - são cenas angustiantes, isso de fato não se perdeu, mas por alguns segundos foi possível imaginar que poderíamos estar diante de algo tão improvável como "Game of Thrones", por exemplo! Pois bem, fora essas duas escolhas duvidosas e uma ou outra distração (principalmente envolvendo a filha adolescente do casal), a série entrega um excelente entretenimento, focado em personagens incríveis e com roteiros primorosos (mas sobre isso comentarei mais abaixo). O fato é que "Ozark" é, sim, imperdível e se você, como eu, deixou para depois, largue tudo, pois a jornada de Marty Byrde é tão tensa quanto a de Walter White, porém com menos alegorias visuais e muito mais sombria, próxima de uma realidade (mesmo que absurda) como na primeira temporada de "Bloodline"!

Saber que o protagonista é um homem bom, mas que acaba comprometido em situações cada vez mais complicadas envolvendo drogas, poder e dinheiro, parece ser a receita ideal para que uma série nos prenda durante 10 episódios de uma hora por temporada - e "Ozark" terá apenas 4, informação já confirmada pela própria Netflix. Estamos diante de um estudo sobre a índole humana em diversos níveis - sem dúvida essa é uma ótima definição para a série. Esse impacto do "meio" em que os  personagens estão inseridos e como isso reflete em suas ações, nos passa a impressão que estamos sempre por um fio de presenciar uma verdadeira catástrofe e os criadores de "Ozark", Bill Dubuque e Mark Williams, parecem se divertir com isso.

A questão é que não só Marty Byrde parece estar cada vez mais enrolado, como todos que o rodeiam também estão. Ruth Langmore (a premiada Julia Garner) é um ótimo exemplo: mesmo focada em se dar bem na vida, ela é uma personagem completamente perdida, sem base alguma para se apoiar ou buscar orientações, e isso é tão bem escrito e interpretado que a todo momento duvidamos do que ela seria capaz de fazer, não pela falta de caráter, mas pela necessidade de esconder sua fragilidade e ter que provar para o pai (que está preso) que é tão forte quanto ele. As cenas em que ela se relaciona com a família de Byrde é de cortar o coração - reparem como esse contraponto mexe com todos!

Aquela dinâmica social de Florida Keys que vimos em "Bloodline" é praticamente a mesma em "Ozark", mas com o agravante "caipira" da região -  e quando esse agravante é confrontado, os resultados são surpreendentes (lembrem disso no último episódio da primeira temporada). Os personagens Jacob Snell (Peter Mullan) e, principalmente, sua mulher Darlene Snell (Lisa Emery) são muito bem construídos, mas representam um lado quase macabro da impulsividade! Buddy Dieker (Harris Yulin) e Russ Langmore (Marc Menchaca) são outros dois grandes personagens que merecem destaque - o primeiro, inclusive, deve ter ainda mais força na segunda temporada!

Olha, "Ozark" tem um roteiro excelente, uma direção bastante competente e um elenco acima da média! É violenta, nos provoca em cada episódio uma certa discussão sobre moralidade sem nos influenciar ou deixar claro o que é certo e o que é errado - e isso é viciante! Sério, não deixem de assistir a série, vale muito a pena mesmo!!!

Ah, reparem nos símbolos que aparecem dentro do "O" (de Ozark) no início de cada episódio - são representações gráficas dos rumos que a história vai tomar a partir dali! Instiga logo de cara e de uma maneira muito inteligente!

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Pachinko

"Pachinko" não é uma série fácil e muito menos daquelas que entregam respostas rápidas - e isso vai exigir uma certa paciência, mas que será recompensada com uma belíssima poesia visual e narrativa que se pauta no melodrama de uma história de vida através das gerações. Lançada em 2022 para o Apple TV+, essa série criada pela Soo Hugh ("The Killing"), é uma verdadeira jornada épica que narra a saga de uma família coreana ao longo de quatro gerações, explorando temas como identidade, resiliência e até como o impacto da colonização reflete na sociedade até hoje. Baseada no aclamado romance homônimo de Min Jin Lee, "Pachinko" é uma obra emocionalmente rica, que abrange décadas de histórias, oferecendo uma visão íntima da diáspora coreana no Japão. Com uma narrativa realmente cativante, em muitos momentos até flertando com novelesco, "Pachinko" inegavelmente se destaca como uma das séries mais ambiciosas e envolventes de 2022. Para os fãs de dramas históricos e narrativas intergeracionais que transitam entre um "The Crown" e um"This Is Us" , mas com um toque de "Minari", "Pachinko" oferece uma experiência igualmente emocionante e por si só, bastante profunda.

A trama de "Pachinko" começa no início do século 20, durante o período da ocupação japonesa na Coreia, e se estende até o final do século, traçando a jornada de Sunja, uma jovem coreana cuja vida é irrevogavelmente alterada por um romance proibido e uma série de escolhas difíceis. A história se desdobra em múltiplas linhas do tempo, acompanhando a vida de Sunja desde sua juventude até a velhice, bem como as experiências de seus descendentes, que lutam para encontrar seu lugar em um mundo que muitas vezes os rejeita. Confira o trailer (em inglês):

Soo Hugh adapta o romance de Min Jin Lee com uma sensibilidade que respeita tanto a riqueza histórica quanto a profundidade emocional do material original. A série é estruturada de forma não linear, saltando entre diferentes períodos e perspectivas, o que permite uma exploração mais rica e complexa dos temas propostos pelo roteiro, mas que também exige uma atenção maior da audiência. Essa estrutura narrativa reflete a natureza multifacetada da gênese coreana, onde o passado e o presente se entrelaçam constantemente para discutir as marcas profundas de sua colonização. A direção de  "Pachinko", conduzida por nomes como Kogonada (de "After Yang") e Justin Chon (de "Blue Bayou"), ambos premiados em Cannes com o "Un Certain Regard Award", é notável por sua beleza visual e sua atenção meticulosa aos detalhes históricos e culturais. Kogonada, conhecido por seu estilo visual elegante e contemplativo em filmes como "Columbus", traz uma sensibilidade estética que eleva cada cena, transformando a série em uma obra de arte visual. Justin Chon, por sua vez, traz uma crueza emocional e uma autenticidade aos personagens, especialmente nas cenas que lidam com o racismo, a pobreza e a luta por dignidade em um ambiente hostil.

A Fotografia de Florian Hoffmeister (de "Tár") e de Ante Cheng (de "Blue Bayou"), de fato é um espetáculo à parte! Deslumbrante, capturando a rica diversidade de paisagens e ambientes que vão desde as aldeias costeiras da Coreia até as ruas densamente povoadas e industriais de Osaka. O uso de iluminação natural e enquadramentos cuidadosamente compostos contribui para a atmosfera imersiva da série, transportando a audiência para cada momento e lugar com uma autenticidade impressionante. Alinhado com um Desenho de Produção digno de muito prêmios, as mudanças da fotografia refletem o mood de cada época com perfeição - com tons mais suaves e nostálgicos para os flashbacks e uma abordagem mais sombria e gritante para o presente. Já o elenco de "Pachinko", o que dizer? É um dos maiores trunfos da série sem a menor dúvida. Minha Kim, como a jovem Sunja, entrega uma performance de partir o coração, capturando a inocência e a determinação de uma mulher jovem que se recusa a ser definida por suas circunstâncias. Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar por "Minari", é igualmente impressionante como a versão mais velha da personagem - ela traz uma profundidade emocional impressionante, que reflete as muitas décadas de dor, perda e resistência de Sunja. Lee Min-ho, como Hansu, é simultaneamente charmoso e moralmente ambíguo - um personagem que personifica muitas das contradições e desafios enfrentados pelos coreanos que tentavam se integrar em uma sociedade que os marginalizava. Jin Ha, interpretando Solomon, neto de Sunja, é uma adição poderosa ao elenco, representando a geração mais jovem que luta para reconciliar seu patrimônio cultural com seu desejo de sucesso e pertencimento em um mundo globalizado.

"Pachinko" discute a importância de uma identidade cultural sólida. A série não apenas narra os desafios enfrentados pelos coreanos que migraram para o Japão, mas também examina como essas experiências moldaram as gerações futuras. É realmente uma exploração sensível de como a história, a cultura e as escolhas pessoais se entrelaçam para definir a individualidade perante sua comunidade. É importante pontuar que o roteiro ainda destaca as desigualdades e as injustiças sistêmicas que os personagens enfrentam, oferecendo uma crítica incisiva da xenofobia e do colonialismo. Veja, a decisão de intercalar múltiplas gerações permite uma discussão mais rica e matizada sobre como o legado, seja de um trauma ou de sua resistência, é transmitido e transformado ao longo do tempo. Aclamada por sua narrativa ambiciosa e produção de altíssima qualidade, "Pachinko" é um testemunho da resiliência humana e da complexidade da experiência migratória - uma visão ampla que é tanto educativa quanto emocionalmente ressonante.

Imperdível!

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"Pachinko" não é uma série fácil e muito menos daquelas que entregam respostas rápidas - e isso vai exigir uma certa paciência, mas que será recompensada com uma belíssima poesia visual e narrativa que se pauta no melodrama de uma história de vida através das gerações. Lançada em 2022 para o Apple TV+, essa série criada pela Soo Hugh ("The Killing"), é uma verdadeira jornada épica que narra a saga de uma família coreana ao longo de quatro gerações, explorando temas como identidade, resiliência e até como o impacto da colonização reflete na sociedade até hoje. Baseada no aclamado romance homônimo de Min Jin Lee, "Pachinko" é uma obra emocionalmente rica, que abrange décadas de histórias, oferecendo uma visão íntima da diáspora coreana no Japão. Com uma narrativa realmente cativante, em muitos momentos até flertando com novelesco, "Pachinko" inegavelmente se destaca como uma das séries mais ambiciosas e envolventes de 2022. Para os fãs de dramas históricos e narrativas intergeracionais que transitam entre um "The Crown" e um"This Is Us" , mas com um toque de "Minari", "Pachinko" oferece uma experiência igualmente emocionante e por si só, bastante profunda.

A trama de "Pachinko" começa no início do século 20, durante o período da ocupação japonesa na Coreia, e se estende até o final do século, traçando a jornada de Sunja, uma jovem coreana cuja vida é irrevogavelmente alterada por um romance proibido e uma série de escolhas difíceis. A história se desdobra em múltiplas linhas do tempo, acompanhando a vida de Sunja desde sua juventude até a velhice, bem como as experiências de seus descendentes, que lutam para encontrar seu lugar em um mundo que muitas vezes os rejeita. Confira o trailer (em inglês):

Soo Hugh adapta o romance de Min Jin Lee com uma sensibilidade que respeita tanto a riqueza histórica quanto a profundidade emocional do material original. A série é estruturada de forma não linear, saltando entre diferentes períodos e perspectivas, o que permite uma exploração mais rica e complexa dos temas propostos pelo roteiro, mas que também exige uma atenção maior da audiência. Essa estrutura narrativa reflete a natureza multifacetada da gênese coreana, onde o passado e o presente se entrelaçam constantemente para discutir as marcas profundas de sua colonização. A direção de  "Pachinko", conduzida por nomes como Kogonada (de "After Yang") e Justin Chon (de "Blue Bayou"), ambos premiados em Cannes com o "Un Certain Regard Award", é notável por sua beleza visual e sua atenção meticulosa aos detalhes históricos e culturais. Kogonada, conhecido por seu estilo visual elegante e contemplativo em filmes como "Columbus", traz uma sensibilidade estética que eleva cada cena, transformando a série em uma obra de arte visual. Justin Chon, por sua vez, traz uma crueza emocional e uma autenticidade aos personagens, especialmente nas cenas que lidam com o racismo, a pobreza e a luta por dignidade em um ambiente hostil.

A Fotografia de Florian Hoffmeister (de "Tár") e de Ante Cheng (de "Blue Bayou"), de fato é um espetáculo à parte! Deslumbrante, capturando a rica diversidade de paisagens e ambientes que vão desde as aldeias costeiras da Coreia até as ruas densamente povoadas e industriais de Osaka. O uso de iluminação natural e enquadramentos cuidadosamente compostos contribui para a atmosfera imersiva da série, transportando a audiência para cada momento e lugar com uma autenticidade impressionante. Alinhado com um Desenho de Produção digno de muito prêmios, as mudanças da fotografia refletem o mood de cada época com perfeição - com tons mais suaves e nostálgicos para os flashbacks e uma abordagem mais sombria e gritante para o presente. Já o elenco de "Pachinko", o que dizer? É um dos maiores trunfos da série sem a menor dúvida. Minha Kim, como a jovem Sunja, entrega uma performance de partir o coração, capturando a inocência e a determinação de uma mulher jovem que se recusa a ser definida por suas circunstâncias. Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar por "Minari", é igualmente impressionante como a versão mais velha da personagem - ela traz uma profundidade emocional impressionante, que reflete as muitas décadas de dor, perda e resistência de Sunja. Lee Min-ho, como Hansu, é simultaneamente charmoso e moralmente ambíguo - um personagem que personifica muitas das contradições e desafios enfrentados pelos coreanos que tentavam se integrar em uma sociedade que os marginalizava. Jin Ha, interpretando Solomon, neto de Sunja, é uma adição poderosa ao elenco, representando a geração mais jovem que luta para reconciliar seu patrimônio cultural com seu desejo de sucesso e pertencimento em um mundo globalizado.

"Pachinko" discute a importância de uma identidade cultural sólida. A série não apenas narra os desafios enfrentados pelos coreanos que migraram para o Japão, mas também examina como essas experiências moldaram as gerações futuras. É realmente uma exploração sensível de como a história, a cultura e as escolhas pessoais se entrelaçam para definir a individualidade perante sua comunidade. É importante pontuar que o roteiro ainda destaca as desigualdades e as injustiças sistêmicas que os personagens enfrentam, oferecendo uma crítica incisiva da xenofobia e do colonialismo. Veja, a decisão de intercalar múltiplas gerações permite uma discussão mais rica e matizada sobre como o legado, seja de um trauma ou de sua resistência, é transmitido e transformado ao longo do tempo. Aclamada por sua narrativa ambiciosa e produção de altíssima qualidade, "Pachinko" é um testemunho da resiliência humana e da complexidade da experiência migratória - uma visão ampla que é tanto educativa quanto emocionalmente ressonante.

Imperdível!

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Padre Stu

"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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Pagan Peak

Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

Vale muito (muito mesmo) o seu play!

Assista Agora

Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.

A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).

O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.

Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.

Vale muito (muito mesmo) o seu play!

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Palmer

"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!

Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:

Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.

Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.

O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.

"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!

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Pam & Tommy

"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

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"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

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Parasita

Não é por acaso que "Parasita" é considerado um dos melhores filmes de 2019! Embora seja uma produção sul-coreana, que para muitos pode causar um certo estranhamento devido ao idioma, o filme de Bong Joon Ho (Okja) tem elementos narrativos (e até conceituais) que nos lembram "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino e "Nós" de Jordan Peele. É preciso deixar claro que "Parasita" é um filme de metáforas e faz do seu roteiro uma das coisas mais bacanas que assisti recentemente. Então vamos partir do principio: parasita é um organismo que vive às custas de outro organismo, obtendo dele alimento e causando danos - agora aplique isso em uma crítica muito bem embasada sobre a sociedade moderna e a diferenciação de classes. Importante: a genialidade do filme está em tocar em assuntos extremamente delicados sem precisar impor qualquer tipo de discussão filosófica ou política (por mais que ele saiba perfeitamente onde quer chegar)! 

"Parasita" conta a história de como duas famílias completamente distintas socialmente que acabam se relacionando: Os "Kim", representam uma família mais pobre, que sobrevive dobrando caixas de papelão. Eles vivem em uma espécie de sótão, bem na periferia, e que mal conseguem dinheiro para comer. Os "Park", já representam um família mais rica, com um homem bem sucedido no comando e uma mulher que cuida da casa cercada de empregados e cheia de neuroses sobre a educação dos filhos. Eles vivem em uma casa maravilhosa, com muito conforto e espaço! O mundo dessas duas famílias se encontram quando, depois de uma indicação, o jovem Ki-woo (Woo-sik Choi), da família "Kin", se torna tutor de inglês da filha mais velha dos "Park", Da-hye (Ji-so Jung). Ki-woo, ao perceber que se trata de uma família bastante ingênua e completamente fora da realidade, vê a oportunidade de colocar os outros membros da família para também trabalhar com os "Park" - mesmo que para isso seja necessário trapacear e tirar quem já trabalhava lá. O interessante é que essa dinâmica dos "Kin" não carrega o peso da desonestidade e isso é discutido durante o filme sem a obrigação de se fazer julgamentos, afinal, eles "só" queriam ganhar mais dinheiro e viver com mais dignidade, embora, como parasitas, para se obter o alimento, certamente, algum dano precisaria ser causado!

Um dos elementos que mais me impressionou enquanto assistia "Parasita" foi a facilidade de como o roteiro (do próprio Bong Joon Ho e do novato Jin Won Han) traduzia cada um dos extremos sociais dessa história sem efetivamente transformar nenhum dos lados em um vilão, mesmo que apontando seus defeitos e fraquezas. O roteiro deixa muito fácil de se entender que não se tratam de pessoas más, mas de pessoas aprisionadas em mundos completamente opostos e que por isso pagam o preço das oportunidades.

Reparem como o diretor enquadra a janela principal da casa dos "Kin" - é como se eles estivem dentro de um bueiro e depois insiste em mostrar a importância (e a imponência) das escadas na casa dos "Park". Ou quando Ki-woo diz que não estava enganando ninguém ao falsificar um diploma para conseguir o emprego, apenas imprimiu ele antes de fazer a faculdade! E quando Park comenta com a esposa sobre o cheiro dos empregados e que isso lembrava muito o cheiro do metro. Ela logo responde que fazia anos que não andava de metro e mesmo assim Park retruca dizendo que as pessoas no metro tinham um cheiro bem peculiar! - é muito interessante não enxergar a maldade que os diálogos sugerem, graças a uma apresentação de personagens incrível! Outro detalhe bem interessante é a forma como os atores se movimentam em cena: os "Kin" são como baratas, esperam o momento certo para ir de um lado para o outro, enquanto os "Park" não olham para baixo em momento algum, sendo assim não percebem nem os "insetos" que os rodeiam! O filme é cheio dessas metáforas. São só exemplos e acreditem: existe muito mais profundidade nos diálogos que podemos imaginar!

A fotografia é algo interessante também, além dos já citados enquadramentos e movimentos de câmera, Kyung-pyo Hong faz um trabalho incrível ao lado do departamento de arte: a casa dos "Kim", por exemplo, é apertada, com muita coisa amontoada, sem padrão de cor para criar a sensação de caos, mas com uma certa escuridão - chega a ser angustiante, sujo. Já na casa dos "Park" vemos um estilo totalmente "clean" com tudo hermeticamente organizado ao mesmo tempo que o tom mais "pastel" e a iluminação amarelada traduz um certo aconchego. Já caminhando para o final, tem uma sequência linda, onde chove muito e sentimos exatamente o que representa as dores de tanta diferença social - o diálogo de Park Yeon-kyo no dia seguinte, só fortalece a maneira como essas realidades lidam com cada detalhe da história - é muito bom!!! Vale ressaltar que o Desenho de Produção de "Parasita" foi indicado ao Oscar 2020 e não vou me surpreender se levar! Reparem em cada detalhe, porque é muito fácil perceber a mensagem que Bong Joon Ho quer passar. O elenco está incrível: todos, sem exceção! Me surpreende nenhum dos atores ter sido indicado ao Oscar, mas a recente vitória no SAG Awards, o prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood, corrige esse conservadorismo da Academia - e vale ressaltar que o elenco do filme coreano foi aplaudido de pé durante a premiação!

Com um orçamento de US$ 11 milhões, "Parasita" arrecadou mais que dez vezes esse valor pelo mundo inteiro, chegando a US$ 140 milhões. Ganhou mais de 150 prêmios em Festivais Internacionais (inclusive Cannes) e foi indicado para outros 150. Teve papel importante em premiações de peso como Globo de Ouro e SAG Awards. É o grande favorito (eu diria que barbada) para levar o Oscar de Filme Estrangeiro e deve beliscar pelo menos mais uma ou duas categorias das seis em que foi indicado. "Parasita" é um fenômeno do mesmo nível (ou maior) que "A vida é bela" - acredito, inclusive, que se o filme fosse americano, seria o vencedor do ano! É fato que a Academia reconhece a obra, claro, mas não sei se teria coragem de coloca-la na frente de nomes como Tarantino ou Scorsese e de filmes como 1917 ou Coringa - por merecimento, seria o campeão da noite; por intuição o páreo ainda está aberto! Não deixe de assistir!

Up-date: "Parasita" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!

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Não é por acaso que "Parasita" é considerado um dos melhores filmes de 2019! Embora seja uma produção sul-coreana, que para muitos pode causar um certo estranhamento devido ao idioma, o filme de Bong Joon Ho (Okja) tem elementos narrativos (e até conceituais) que nos lembram "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino e "Nós" de Jordan Peele. É preciso deixar claro que "Parasita" é um filme de metáforas e faz do seu roteiro uma das coisas mais bacanas que assisti recentemente. Então vamos partir do principio: parasita é um organismo que vive às custas de outro organismo, obtendo dele alimento e causando danos - agora aplique isso em uma crítica muito bem embasada sobre a sociedade moderna e a diferenciação de classes. Importante: a genialidade do filme está em tocar em assuntos extremamente delicados sem precisar impor qualquer tipo de discussão filosófica ou política (por mais que ele saiba perfeitamente onde quer chegar)! 

"Parasita" conta a história de como duas famílias completamente distintas socialmente que acabam se relacionando: Os "Kim", representam uma família mais pobre, que sobrevive dobrando caixas de papelão. Eles vivem em uma espécie de sótão, bem na periferia, e que mal conseguem dinheiro para comer. Os "Park", já representam um família mais rica, com um homem bem sucedido no comando e uma mulher que cuida da casa cercada de empregados e cheia de neuroses sobre a educação dos filhos. Eles vivem em uma casa maravilhosa, com muito conforto e espaço! O mundo dessas duas famílias se encontram quando, depois de uma indicação, o jovem Ki-woo (Woo-sik Choi), da família "Kin", se torna tutor de inglês da filha mais velha dos "Park", Da-hye (Ji-so Jung). Ki-woo, ao perceber que se trata de uma família bastante ingênua e completamente fora da realidade, vê a oportunidade de colocar os outros membros da família para também trabalhar com os "Park" - mesmo que para isso seja necessário trapacear e tirar quem já trabalhava lá. O interessante é que essa dinâmica dos "Kin" não carrega o peso da desonestidade e isso é discutido durante o filme sem a obrigação de se fazer julgamentos, afinal, eles "só" queriam ganhar mais dinheiro e viver com mais dignidade, embora, como parasitas, para se obter o alimento, certamente, algum dano precisaria ser causado!

Um dos elementos que mais me impressionou enquanto assistia "Parasita" foi a facilidade de como o roteiro (do próprio Bong Joon Ho e do novato Jin Won Han) traduzia cada um dos extremos sociais dessa história sem efetivamente transformar nenhum dos lados em um vilão, mesmo que apontando seus defeitos e fraquezas. O roteiro deixa muito fácil de se entender que não se tratam de pessoas más, mas de pessoas aprisionadas em mundos completamente opostos e que por isso pagam o preço das oportunidades.

Reparem como o diretor enquadra a janela principal da casa dos "Kin" - é como se eles estivem dentro de um bueiro e depois insiste em mostrar a importância (e a imponência) das escadas na casa dos "Park". Ou quando Ki-woo diz que não estava enganando ninguém ao falsificar um diploma para conseguir o emprego, apenas imprimiu ele antes de fazer a faculdade! E quando Park comenta com a esposa sobre o cheiro dos empregados e que isso lembrava muito o cheiro do metro. Ela logo responde que fazia anos que não andava de metro e mesmo assim Park retruca dizendo que as pessoas no metro tinham um cheiro bem peculiar! - é muito interessante não enxergar a maldade que os diálogos sugerem, graças a uma apresentação de personagens incrível! Outro detalhe bem interessante é a forma como os atores se movimentam em cena: os "Kin" são como baratas, esperam o momento certo para ir de um lado para o outro, enquanto os "Park" não olham para baixo em momento algum, sendo assim não percebem nem os "insetos" que os rodeiam! O filme é cheio dessas metáforas. São só exemplos e acreditem: existe muito mais profundidade nos diálogos que podemos imaginar!

A fotografia é algo interessante também, além dos já citados enquadramentos e movimentos de câmera, Kyung-pyo Hong faz um trabalho incrível ao lado do departamento de arte: a casa dos "Kim", por exemplo, é apertada, com muita coisa amontoada, sem padrão de cor para criar a sensação de caos, mas com uma certa escuridão - chega a ser angustiante, sujo. Já na casa dos "Park" vemos um estilo totalmente "clean" com tudo hermeticamente organizado ao mesmo tempo que o tom mais "pastel" e a iluminação amarelada traduz um certo aconchego. Já caminhando para o final, tem uma sequência linda, onde chove muito e sentimos exatamente o que representa as dores de tanta diferença social - o diálogo de Park Yeon-kyo no dia seguinte, só fortalece a maneira como essas realidades lidam com cada detalhe da história - é muito bom!!! Vale ressaltar que o Desenho de Produção de "Parasita" foi indicado ao Oscar 2020 e não vou me surpreender se levar! Reparem em cada detalhe, porque é muito fácil perceber a mensagem que Bong Joon Ho quer passar. O elenco está incrível: todos, sem exceção! Me surpreende nenhum dos atores ter sido indicado ao Oscar, mas a recente vitória no SAG Awards, o prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood, corrige esse conservadorismo da Academia - e vale ressaltar que o elenco do filme coreano foi aplaudido de pé durante a premiação!

Com um orçamento de US$ 11 milhões, "Parasita" arrecadou mais que dez vezes esse valor pelo mundo inteiro, chegando a US$ 140 milhões. Ganhou mais de 150 prêmios em Festivais Internacionais (inclusive Cannes) e foi indicado para outros 150. Teve papel importante em premiações de peso como Globo de Ouro e SAG Awards. É o grande favorito (eu diria que barbada) para levar o Oscar de Filme Estrangeiro e deve beliscar pelo menos mais uma ou duas categorias das seis em que foi indicado. "Parasita" é um fenômeno do mesmo nível (ou maior) que "A vida é bela" - acredito, inclusive, que se o filme fosse americano, seria o vencedor do ano! É fato que a Academia reconhece a obra, claro, mas não sei se teria coragem de coloca-la na frente de nomes como Tarantino ou Scorsese e de filmes como 1917 ou Coringa - por merecimento, seria o campeão da noite; por intuição o páreo ainda está aberto! Não deixe de assistir!

Up-date: "Parasita" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!

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Passagem

"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.

A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):

"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.

A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.

Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.

Vale seu play!

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"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.

A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):

"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.

A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.

Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.

Vale seu play!

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Paterson

"Paterson" é um reflexo poético da monotonia do cotidiano pelos olhos do veterano diretor, e especialista em captar as diversas camadas de um personagem, Jim Jarmusch -  e nem por isso deixa de ser um ótimo e sensível filme, que fique claro!

Na história acompanhamos o dia a dia de Paterson (Adam Driver), um motorista de ônibus cujo seu nome, ele compartilha com uma cidadezinha de Nova Jersey. Ali, ele vive com sua namorada, a inquieta, Laura (Golshifteh Farahani). Durante 7 dias, assistimos a rotina de Paterson e sua enorme paixão pela poesia. Confira o trailer: 

Sem dúvida que o maior mérito de "Paterson" está na ideia de que a beleza da vida está no detalhe! Sim, eu sei que pode parecer poético demais e que a cadência repetitiva do cotidiano de um único personagem pode dar sono - e de fato esse elemento vai polarizar muitas opiniões sobre o filme, mas te garanto: não tem nada de chato se colocar na posição de só observar! Temos a impressão que "Paterson" não nos leva a lugar algum e talvez essa percepção seja até adequada perante o conceito narrativo que Jarmusch quis imprimir no filme, porém é preciso dizer que existem nuances tão interessantes que impactam diretamente na nossa experiência - veja, existe uma pré-disposição a esperarmos que algo diferente aconteça na nossa vida e muitas vezes esse "algo" nunca acontece - a vida é assim e o filme também! Essa certa tensão da "espera" nos acompanha durante todo filme, nos causando uma certa ansiedade, mas quando entendemos a razão de tudo aquilo, simplesmente relaxamos e nos permitimos acompanhar a busca pelo entendimento de que a felicidade está na tranquilidade de saber quais os próximos passos temos que dar!

Prepare-se para um filme que te vai te provocar uma auto-reflexão, que teve uma carreira respeitada em festivais importantes por todo planeta e que retrata a monotonia da vida comum como poucas vezes assistimos! Vale muito o seu play, mas só se você estiver disposto a embarcar na proposta pouco usual do diretor!

“Todo dia é um novo dia”, já dizia o poema de Carlos Williams Carlos, um dos ídolos de Paterson - e é assim que o personagem vive: ele acorda nos braços da namorada, vai para o trabalho, conversa com seu supervisor pessimista, dirige seu ônibus, escuta uma ou outra conversa dos passageiros, almoça, escreve um pouco de poesia, chega em casa, janta e termina a noite com uma cerveja, num bar, depois de caminhar com o cachorro da namorada! Pronto, entra com um fade to black que determina o final do dia e tudo se repete com uma ou outra diferença que serve para nos encher de expectativas, até que...

Um dos elementos que merece elogios é a montagem inteligente que o brasileiro Affonso Gonçalves criou - o pace é tão constante que até as elipses que determinam algumas repetições diárias de eventos e que, eventualmente, pulam uma determinada ordem, nos divertem sem sabermos exatamente a razão! Reparem na cena que explica como a caixa de correio sempre fica torta ou em como Gonçalves procura sempre posicionar algum take do cachorro, como mero espectador (mal-humorado), reagindo a uma situação! Esse humor sutil, quase irônico, faz toda a diferença em vários momentos do filme - o que acaba deixando a experiência bastante agradável, quase como uma suspensão daquela realidade tão monótona!

Jarmusch sabe como ninguém sobre a importância de ter um bom ator que possa dar vida a um roteiro tão particular que ele mesmo escreve. Adam Driver se apoia em um tom bastante dócil e muito (mas, muito) contido, enquanto sua namorada Laura exala energia, em busca de algo que a tire da monotonia - ela faz questão de sempre mudar algo em sua casa, aprender alguma coisa diferente ou até de criar novas receitas para sair da mesmice. É tão bacana perceber como toda essa diferença entre eles os completam tão bem, que sempre estamos esperando um ou o outro vacilar só para provar que toda aquela cumplicidade nunca existiu de verdade!

"Paterson" não é um filme fácil, mas é um filme delicado e que exalta as pequenas coisas. Saber olhar e enxergar a beleza do cotidiano é para poucos e é exatamente isso que o diretor Jim Jarmusch quer: nos provocar a entender que a felicidade está nas pequenas coisas, mesmo que seja na risada incontrolável ao ver uma pessoa reclamando de um término de relação ou na alegria da companheira em poder te convidar para assistir um filme no cinema no sábado a noite!

Simples e lindo!

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"Paterson" é um reflexo poético da monotonia do cotidiano pelos olhos do veterano diretor, e especialista em captar as diversas camadas de um personagem, Jim Jarmusch -  e nem por isso deixa de ser um ótimo e sensível filme, que fique claro!

Na história acompanhamos o dia a dia de Paterson (Adam Driver), um motorista de ônibus cujo seu nome, ele compartilha com uma cidadezinha de Nova Jersey. Ali, ele vive com sua namorada, a inquieta, Laura (Golshifteh Farahani). Durante 7 dias, assistimos a rotina de Paterson e sua enorme paixão pela poesia. Confira o trailer: 

Sem dúvida que o maior mérito de "Paterson" está na ideia de que a beleza da vida está no detalhe! Sim, eu sei que pode parecer poético demais e que a cadência repetitiva do cotidiano de um único personagem pode dar sono - e de fato esse elemento vai polarizar muitas opiniões sobre o filme, mas te garanto: não tem nada de chato se colocar na posição de só observar! Temos a impressão que "Paterson" não nos leva a lugar algum e talvez essa percepção seja até adequada perante o conceito narrativo que Jarmusch quis imprimir no filme, porém é preciso dizer que existem nuances tão interessantes que impactam diretamente na nossa experiência - veja, existe uma pré-disposição a esperarmos que algo diferente aconteça na nossa vida e muitas vezes esse "algo" nunca acontece - a vida é assim e o filme também! Essa certa tensão da "espera" nos acompanha durante todo filme, nos causando uma certa ansiedade, mas quando entendemos a razão de tudo aquilo, simplesmente relaxamos e nos permitimos acompanhar a busca pelo entendimento de que a felicidade está na tranquilidade de saber quais os próximos passos temos que dar!

Prepare-se para um filme que te vai te provocar uma auto-reflexão, que teve uma carreira respeitada em festivais importantes por todo planeta e que retrata a monotonia da vida comum como poucas vezes assistimos! Vale muito o seu play, mas só se você estiver disposto a embarcar na proposta pouco usual do diretor!

“Todo dia é um novo dia”, já dizia o poema de Carlos Williams Carlos, um dos ídolos de Paterson - e é assim que o personagem vive: ele acorda nos braços da namorada, vai para o trabalho, conversa com seu supervisor pessimista, dirige seu ônibus, escuta uma ou outra conversa dos passageiros, almoça, escreve um pouco de poesia, chega em casa, janta e termina a noite com uma cerveja, num bar, depois de caminhar com o cachorro da namorada! Pronto, entra com um fade to black que determina o final do dia e tudo se repete com uma ou outra diferença que serve para nos encher de expectativas, até que...

Um dos elementos que merece elogios é a montagem inteligente que o brasileiro Affonso Gonçalves criou - o pace é tão constante que até as elipses que determinam algumas repetições diárias de eventos e que, eventualmente, pulam uma determinada ordem, nos divertem sem sabermos exatamente a razão! Reparem na cena que explica como a caixa de correio sempre fica torta ou em como Gonçalves procura sempre posicionar algum take do cachorro, como mero espectador (mal-humorado), reagindo a uma situação! Esse humor sutil, quase irônico, faz toda a diferença em vários momentos do filme - o que acaba deixando a experiência bastante agradável, quase como uma suspensão daquela realidade tão monótona!

Jarmusch sabe como ninguém sobre a importância de ter um bom ator que possa dar vida a um roteiro tão particular que ele mesmo escreve. Adam Driver se apoia em um tom bastante dócil e muito (mas, muito) contido, enquanto sua namorada Laura exala energia, em busca de algo que a tire da monotonia - ela faz questão de sempre mudar algo em sua casa, aprender alguma coisa diferente ou até de criar novas receitas para sair da mesmice. É tão bacana perceber como toda essa diferença entre eles os completam tão bem, que sempre estamos esperando um ou o outro vacilar só para provar que toda aquela cumplicidade nunca existiu de verdade!

"Paterson" não é um filme fácil, mas é um filme delicado e que exalta as pequenas coisas. Saber olhar e enxergar a beleza do cotidiano é para poucos e é exatamente isso que o diretor Jim Jarmusch quer: nos provocar a entender que a felicidade está nas pequenas coisas, mesmo que seja na risada incontrolável ao ver uma pessoa reclamando de um término de relação ou na alegria da companheira em poder te convidar para assistir um filme no cinema no sábado a noite!

Simples e lindo!

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Pecados Íntimos

"Pecados Íntimos" parece um filme simples ao se propor fazer um recorte bastante peculiar do cotidiano de dois personagens normais, que vivem a monotonia de uma vida normal, em um bairro de classe média no subúrbio de Massachusetts. Sim, esse é mais um daqueles filmes em que sua história não é construída tendo como base um formato clássico de um roteiro com todos os elementos da jornada do herói, onde o protagonista tem um objetivo, passa por dificuldades, mas encontra seu propósito ao vencer seus desafios; muito pelo contrário, "Pecados Íntimos" é um ensaio da vida real, quase uma crônica ao estilo "Beleza Americana", que mesmo sendo uma ficção, poderia ser um documentário, e não fosse a criatividade do diretor Todd Field, talvez nem daríamos tanta importância para aquele universo, digamos, tão pacato.

Na história acompanhamos em primeiro plano a vida de dois personagens em casamentos distintos, mas igualmente sem brilho e sem paixão. Um pouco mais distante, um criminoso sexual acaba de ser solto, criando um certo clima de tensão no mesmo bairro. Temos também um ex-policial com um passado violento e que vive para esconder o seu fracasso. Mas o que esses quatro personagens tão distintos tem em comum? Simples, eles lutam para lidar com suas escolhas no passado, resistir as tentações do presente e assim tentar encontrar um caminho de felicidade para o futuro, mesmo que isso pareça impossível.. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no livro "Little Children" (algo como "Criancinhas" - que também é o título original do filme) de Tom Perrotta, "Pecados Íntimos" é um primor de roteiro - tanto que foi indicado ao Oscar de 2007 na categoria "Roteiro Adaptado". O que vemos na tela é o resultado de uma construção narrativa extremamente intrigante que brinca a cada nova cena com a dubiedade das situações. Veja, se Sarah (Kate Winslet) é uma dona de casa que sofre com a mediocridade de sua vida e ainda por cima tem que lidar com um marido omisso, viciado em pornografia pela Internet, por que não buscar em Brad (Patrick Wilson) uma relação de cumplicidade que possa reacender seus desejos mais íntimos? - afinal, ele também vive uma situação similar no casamento, é ofuscado pelo sucesso da sua linda mulher que está sempre ocupada e que vive cobrando dele uma urgência na ascensão profissional.

Por outro lado, temos Ronnie (Jackie Earle Haley), um homem atormentado por seus distúrbios sexuais, mas que é amado por sua mãe e odiado por todas as pessoas do bairro, inclusive por Larry (Noah Emmerich), o ex-policial, estereótipo do pai de família ideal, representante dos bons costumes que, vejam só, não é amado por ninguém. O encontro dessa dualidade, muito bem costurada por uma narração que soa como um leitor daqueles livros oitentistas de romance barato, dá um charme todo especial ao filme que usa de alegorias cotidianas para provocar nosso julgamento.Se a adaptação do título nacional para "Pecados Íntimos" faz referência as atividades "secretas" dos personagens, no original "Little Children" vai além ao brincar, mais uma vez, com a interpretação dúbia do texto ao relacionar as ações dos protagonistas com as crianças, que acabam funcionando como um elemento desencadeador de conflitos, fortalecendo a alusão sobre a intensidade dos desejos e a inconsequência dos atos que já não são mais tão inocentes como no passado.

"Pecados Íntimos" vai sempre além do que assistimos na tela - ele é mais profundo, basta "cavucar". É um filme disposto a mostrar o outro lado das histórias dos personagens, deixando o poder do julgamento para quem assiste sem a menor intenção de esconder alguma peça do tabuleiro para nos confundir. É uma história que foge dos padrões mais convencionais (o que pode afastar algumas pessoas) e ao mesmo tempo inteligente em nos tirar da zona de conforto para que façamos o exercício de perceber que, muitas vezes, tomamos decisões por impulso e isso pode até gerar algum prazer momentâneo, mas que logo pode se transformar em arrependimento, dor e culpa ou em uma enorme dor de cabeça!

Vale muito a pena!

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"Pecados Íntimos" parece um filme simples ao se propor fazer um recorte bastante peculiar do cotidiano de dois personagens normais, que vivem a monotonia de uma vida normal, em um bairro de classe média no subúrbio de Massachusetts. Sim, esse é mais um daqueles filmes em que sua história não é construída tendo como base um formato clássico de um roteiro com todos os elementos da jornada do herói, onde o protagonista tem um objetivo, passa por dificuldades, mas encontra seu propósito ao vencer seus desafios; muito pelo contrário, "Pecados Íntimos" é um ensaio da vida real, quase uma crônica ao estilo "Beleza Americana", que mesmo sendo uma ficção, poderia ser um documentário, e não fosse a criatividade do diretor Todd Field, talvez nem daríamos tanta importância para aquele universo, digamos, tão pacato.

Na história acompanhamos em primeiro plano a vida de dois personagens em casamentos distintos, mas igualmente sem brilho e sem paixão. Um pouco mais distante, um criminoso sexual acaba de ser solto, criando um certo clima de tensão no mesmo bairro. Temos também um ex-policial com um passado violento e que vive para esconder o seu fracasso. Mas o que esses quatro personagens tão distintos tem em comum? Simples, eles lutam para lidar com suas escolhas no passado, resistir as tentações do presente e assim tentar encontrar um caminho de felicidade para o futuro, mesmo que isso pareça impossível.. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no livro "Little Children" (algo como "Criancinhas" - que também é o título original do filme) de Tom Perrotta, "Pecados Íntimos" é um primor de roteiro - tanto que foi indicado ao Oscar de 2007 na categoria "Roteiro Adaptado". O que vemos na tela é o resultado de uma construção narrativa extremamente intrigante que brinca a cada nova cena com a dubiedade das situações. Veja, se Sarah (Kate Winslet) é uma dona de casa que sofre com a mediocridade de sua vida e ainda por cima tem que lidar com um marido omisso, viciado em pornografia pela Internet, por que não buscar em Brad (Patrick Wilson) uma relação de cumplicidade que possa reacender seus desejos mais íntimos? - afinal, ele também vive uma situação similar no casamento, é ofuscado pelo sucesso da sua linda mulher que está sempre ocupada e que vive cobrando dele uma urgência na ascensão profissional.

Por outro lado, temos Ronnie (Jackie Earle Haley), um homem atormentado por seus distúrbios sexuais, mas que é amado por sua mãe e odiado por todas as pessoas do bairro, inclusive por Larry (Noah Emmerich), o ex-policial, estereótipo do pai de família ideal, representante dos bons costumes que, vejam só, não é amado por ninguém. O encontro dessa dualidade, muito bem costurada por uma narração que soa como um leitor daqueles livros oitentistas de romance barato, dá um charme todo especial ao filme que usa de alegorias cotidianas para provocar nosso julgamento.Se a adaptação do título nacional para "Pecados Íntimos" faz referência as atividades "secretas" dos personagens, no original "Little Children" vai além ao brincar, mais uma vez, com a interpretação dúbia do texto ao relacionar as ações dos protagonistas com as crianças, que acabam funcionando como um elemento desencadeador de conflitos, fortalecendo a alusão sobre a intensidade dos desejos e a inconsequência dos atos que já não são mais tão inocentes como no passado.

"Pecados Íntimos" vai sempre além do que assistimos na tela - ele é mais profundo, basta "cavucar". É um filme disposto a mostrar o outro lado das histórias dos personagens, deixando o poder do julgamento para quem assiste sem a menor intenção de esconder alguma peça do tabuleiro para nos confundir. É uma história que foge dos padrões mais convencionais (o que pode afastar algumas pessoas) e ao mesmo tempo inteligente em nos tirar da zona de conforto para que façamos o exercício de perceber que, muitas vezes, tomamos decisões por impulso e isso pode até gerar algum prazer momentâneo, mas que logo pode se transformar em arrependimento, dor e culpa ou em uma enorme dor de cabeça!

Vale muito a pena!

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Pegando Fogo

Se você gostou da série sensação de 2022, "O Urso"ou do sempre simpático "Chef", certamente você vai gostar desse drama estrelado pelo Bradley Cooper, chamado "Pegando Fogo". Embora o titulo esteja muito aquém do que a trama nos propõe, o filme talvez seja o exato "meio do caminho" entre as duas referências citadas, ou seja, ele não é nem uma comédia "deliciosa" ao melhor estilo "Sessão da Tarde", nem um drama denso e muito profundo que exija muitas reflexões ou nos impacte emocionalmente - eu diria que "Burnt" (no original) é um excelente entretenimento para quem gosta dos bastidores da gastronomia sem perder o charme de uma boa jornada de redenção! 

O chefe de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper) já foi um dos mais respeitados em Paris, mas o envolvimento com álcool, mulheres e drogas fizeram com que sua carreira fosse ladeira abaixo. Após um período de isolamento em Nova Orleans, ele parte para Londres disposto a recomeçar e conquistar a tão sonhada terceira estrela Michelin. Para tanto ele conta com Tony (Daniel Brühl), que gerencia um restaurante na capital britânica, e com uma equipe de velhos conhecidos que podem ajudá-lo a vencer seus fantasmas e a provar que ainda é um grande chef. Confira o trailer:

Dirigido pelo competente John Wells (de "Maid") e com um elenco repleto de estrelas que vai do já citado Brühl, passando por Sienna Miller (como "Helena") e Omar Sy (como "Michel"), além de participações para lá de especiais de Emma Thompson, Uma Thurman e Alicia Vikander; "Pegando Fogo" é aquele tipo de filme que é muito difícil não gostar - todos os elementos dramáticos que o roteiro do Steven Knight (de "Coisas Belas e Sujas"e "Spencer") apresenta, imediatamente nos conectam com os personagens e com suas histórias. Obviamente que essas histórias estão carregadas de clichês, mas é justamente por isso um filme despretensioso se torna tão divertido.

Wells se aproveita de uma montagem extremamente ágil, mérito do Nick Moore (de "Rei dos Ladrões"), para nos transportar até aquela loucura que é uma cozinha de um grande restaurante ao mesmo tempo em que deixa Cooper fazer o que ele faz de melhor: ser um charmoso personagem cheio de marcas do passado que está em busca da felicidade - não por acaso as semelhanças entre o chef Adam Jones e o astro country, Jack, de "Nasce uma Estrela", são imensas. Se o roteiro de "Pegando Fogo" não tem a potência de "Nasce uma Estrela" (e de fato não tem), as sensações que as histórias geram são muito semelhantes, o que praticamente nos impede de não torcer para que tudo dê certo e que todos os personagens sejam felizes para sempre.

"Pegando Fogo" tem sim um arco dramático bastante familiar, embora com algumas boas surpresas no final do segundo ato. As subtramas não decolam como o esperado e por isso soam até dispensáveis. Por outro lado, é importante dizer: quando a trama está focada no seu eixo principal, tudo funciona perfeitamente - "forma" e "conteúdo" estão 100% alinhados à uma trilha sonora suave e sensível (do Rob Simonsen de "O Caminho de Volta") que vale o elogio. Agora, sem a pretensão de ser um filme inesquecível, mas cumprindo o seu papel como entretenimento, "Pegando Fogo" vale o seu play tranquilamente - tenho certeza que você vai gostar!

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Se você gostou da série sensação de 2022, "O Urso"ou do sempre simpático "Chef", certamente você vai gostar desse drama estrelado pelo Bradley Cooper, chamado "Pegando Fogo". Embora o titulo esteja muito aquém do que a trama nos propõe, o filme talvez seja o exato "meio do caminho" entre as duas referências citadas, ou seja, ele não é nem uma comédia "deliciosa" ao melhor estilo "Sessão da Tarde", nem um drama denso e muito profundo que exija muitas reflexões ou nos impacte emocionalmente - eu diria que "Burnt" (no original) é um excelente entretenimento para quem gosta dos bastidores da gastronomia sem perder o charme de uma boa jornada de redenção! 

O chefe de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper) já foi um dos mais respeitados em Paris, mas o envolvimento com álcool, mulheres e drogas fizeram com que sua carreira fosse ladeira abaixo. Após um período de isolamento em Nova Orleans, ele parte para Londres disposto a recomeçar e conquistar a tão sonhada terceira estrela Michelin. Para tanto ele conta com Tony (Daniel Brühl), que gerencia um restaurante na capital britânica, e com uma equipe de velhos conhecidos que podem ajudá-lo a vencer seus fantasmas e a provar que ainda é um grande chef. Confira o trailer:

Dirigido pelo competente John Wells (de "Maid") e com um elenco repleto de estrelas que vai do já citado Brühl, passando por Sienna Miller (como "Helena") e Omar Sy (como "Michel"), além de participações para lá de especiais de Emma Thompson, Uma Thurman e Alicia Vikander; "Pegando Fogo" é aquele tipo de filme que é muito difícil não gostar - todos os elementos dramáticos que o roteiro do Steven Knight (de "Coisas Belas e Sujas"e "Spencer") apresenta, imediatamente nos conectam com os personagens e com suas histórias. Obviamente que essas histórias estão carregadas de clichês, mas é justamente por isso um filme despretensioso se torna tão divertido.

Wells se aproveita de uma montagem extremamente ágil, mérito do Nick Moore (de "Rei dos Ladrões"), para nos transportar até aquela loucura que é uma cozinha de um grande restaurante ao mesmo tempo em que deixa Cooper fazer o que ele faz de melhor: ser um charmoso personagem cheio de marcas do passado que está em busca da felicidade - não por acaso as semelhanças entre o chef Adam Jones e o astro country, Jack, de "Nasce uma Estrela", são imensas. Se o roteiro de "Pegando Fogo" não tem a potência de "Nasce uma Estrela" (e de fato não tem), as sensações que as histórias geram são muito semelhantes, o que praticamente nos impede de não torcer para que tudo dê certo e que todos os personagens sejam felizes para sempre.

"Pegando Fogo" tem sim um arco dramático bastante familiar, embora com algumas boas surpresas no final do segundo ato. As subtramas não decolam como o esperado e por isso soam até dispensáveis. Por outro lado, é importante dizer: quando a trama está focada no seu eixo principal, tudo funciona perfeitamente - "forma" e "conteúdo" estão 100% alinhados à uma trilha sonora suave e sensível (do Rob Simonsen de "O Caminho de Volta") que vale o elogio. Agora, sem a pretensão de ser um filme inesquecível, mas cumprindo o seu papel como entretenimento, "Pegando Fogo" vale o seu play tranquilamente - tenho certeza que você vai gostar!

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Pelas ruas de Paris

Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.

Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente! 

"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!

Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.

"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!

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Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.

Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente! 

"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!

Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.

"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!

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Pequena Mamãe

"Pequena Mamãe" é um filme incrível, de uma sensibilidade única, delicado, profundo, envolvente e muito sincero - mas vai agradar apenas um público bem específico! Se partirmos do principio que os filmes da premiada diretora e roteirista francesa, Céline Sciamma (do excelente "Retrato de uma Jovem em Chamas") giram sempre em torno de protagonistas cheias de camadas, que dialogam com o olhar, com o sentimento e com alma, fica claro que esse filme vai nos tocar.

O filme conta a história de Nelly (Joséphine Sanz), uma menina de 8 anos que acabou de perder a avó. Enquanto ajuda seus pais a esvaziar a casa em que sua mãe cresceu, Nelly conhece outra menina da sua idade, Marion (Gabrielle Sanz) e, com a conexão imediata entre as duas, começa uma bela amizade. Entre brincadeiras e confidências, elas descobrem um segredo fascinante que vai ajuda-las no entendimento do que acontecerá em suas vidas dali para frente. Confira o trailer:

Não existe outra maneira de começar essa análise sem citar a aula de roteiro que é o prólogo de "Pequena Mamãe". Assim que termina de jogar palavras cruzadas com uma senhora, Nelly passeia de quarto em quarto, despedindo-se de mais duas ou três idosas com o seu simpático "au revoir",até chegar em um quarto recém esvaziado. Ela então pergunta para uma mulher que está de costas: “Posso ficar com a bengala dela?”  “Sim”, responde em tom melancólico essa mulher. Foram três linhas de diálogos que ratificam o poder que Sciamma tem de criar uma atmosfera completamente sensorial sem ao menos precisar se apoiar em uma trilha sentimentalista ou em estratégias didáticas como um personagem emocionado olhando uma foto de toda família reunida em um momento de alegria e saudade! Não, "Pequena Mamãe" não é esse filme, então tenha em mente que você não terá todas as respostas e muito menos explicações para cada atitude das protagonistas, mas não se preocupe: tudo fará sentido, desde que você se permita olhar para dentro e refletir sobre suas vivências e memórias.

Em pouco mais de 70 minutos, com apenas dois personagens em cena (e mais três adultos transitando por aquele universo dramático), poucos cenários e diálogo curtos, Sciamma cria uma espécie de fábula para discutir temas como o luto, arrependimentos, ciclos familiares e, principalmente, o entendimento de algumas escolhas - e aqui falo tanto das escolhas de vida quanto daquelas que fazemos internamente, sozinhos. O filme tem um ar bastante comovente, mas não derruba uma lágrima sequer e se você já tiver um(a) filho(a), a conexão será imediata - reparem na cena, também no prólogo, onde mãe e filha fazem uma pequena troca de carinhos dentro do carro. Embora apenas o rosto da mãe esteja no enquadramento, as ações justificam a intimidade, o cuidado e também a tristeza daquele momento. Lindo de ver!

"Pequena Mamãe" é uma história de auto-conhecimento e contato com os sentimentos mais profundos a partir do olhar inocente de uma criança - e o caminho encontrado para isso é o caráter mágico do encontro entre Nelly e Marion. Embora use de uma simbologia completamente fantasiosa, a conexão é tão generosa quanto verossímil para as duas. Além do primor da direção e roteiro, o elenco está incrível (com maior destaque para a cumplicidade natural entre Joséphine e Gabrielle), a fotografia da talentosa Claire Mathon (de "Spencer", "Atlantique" e também de "Retrato de uma Jovem em Chamas") é outro espetáculo e a montagem de Julien Lacheray (de "A Jornada"), a cereja do bolo!

Antes de finalizar, por favor, reparem na cena em que Nelly e Marion encenam uma história como se fosse uma peça de teatro e veja como roteiro trabalha tão bem as metáforas para explicar a relação entre as escolhas, despedidas e o amor entre mãe e filha. 

Bom, acho que depois de tudo não preciso nem dizer que vale muito a pena, né?

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"Pequena Mamãe" é um filme incrível, de uma sensibilidade única, delicado, profundo, envolvente e muito sincero - mas vai agradar apenas um público bem específico! Se partirmos do principio que os filmes da premiada diretora e roteirista francesa, Céline Sciamma (do excelente "Retrato de uma Jovem em Chamas") giram sempre em torno de protagonistas cheias de camadas, que dialogam com o olhar, com o sentimento e com alma, fica claro que esse filme vai nos tocar.

O filme conta a história de Nelly (Joséphine Sanz), uma menina de 8 anos que acabou de perder a avó. Enquanto ajuda seus pais a esvaziar a casa em que sua mãe cresceu, Nelly conhece outra menina da sua idade, Marion (Gabrielle Sanz) e, com a conexão imediata entre as duas, começa uma bela amizade. Entre brincadeiras e confidências, elas descobrem um segredo fascinante que vai ajuda-las no entendimento do que acontecerá em suas vidas dali para frente. Confira o trailer:

Não existe outra maneira de começar essa análise sem citar a aula de roteiro que é o prólogo de "Pequena Mamãe". Assim que termina de jogar palavras cruzadas com uma senhora, Nelly passeia de quarto em quarto, despedindo-se de mais duas ou três idosas com o seu simpático "au revoir",até chegar em um quarto recém esvaziado. Ela então pergunta para uma mulher que está de costas: “Posso ficar com a bengala dela?”  “Sim”, responde em tom melancólico essa mulher. Foram três linhas de diálogos que ratificam o poder que Sciamma tem de criar uma atmosfera completamente sensorial sem ao menos precisar se apoiar em uma trilha sentimentalista ou em estratégias didáticas como um personagem emocionado olhando uma foto de toda família reunida em um momento de alegria e saudade! Não, "Pequena Mamãe" não é esse filme, então tenha em mente que você não terá todas as respostas e muito menos explicações para cada atitude das protagonistas, mas não se preocupe: tudo fará sentido, desde que você se permita olhar para dentro e refletir sobre suas vivências e memórias.

Em pouco mais de 70 minutos, com apenas dois personagens em cena (e mais três adultos transitando por aquele universo dramático), poucos cenários e diálogo curtos, Sciamma cria uma espécie de fábula para discutir temas como o luto, arrependimentos, ciclos familiares e, principalmente, o entendimento de algumas escolhas - e aqui falo tanto das escolhas de vida quanto daquelas que fazemos internamente, sozinhos. O filme tem um ar bastante comovente, mas não derruba uma lágrima sequer e se você já tiver um(a) filho(a), a conexão será imediata - reparem na cena, também no prólogo, onde mãe e filha fazem uma pequena troca de carinhos dentro do carro. Embora apenas o rosto da mãe esteja no enquadramento, as ações justificam a intimidade, o cuidado e também a tristeza daquele momento. Lindo de ver!

"Pequena Mamãe" é uma história de auto-conhecimento e contato com os sentimentos mais profundos a partir do olhar inocente de uma criança - e o caminho encontrado para isso é o caráter mágico do encontro entre Nelly e Marion. Embora use de uma simbologia completamente fantasiosa, a conexão é tão generosa quanto verossímil para as duas. Além do primor da direção e roteiro, o elenco está incrível (com maior destaque para a cumplicidade natural entre Joséphine e Gabrielle), a fotografia da talentosa Claire Mathon (de "Spencer", "Atlantique" e também de "Retrato de uma Jovem em Chamas") é outro espetáculo e a montagem de Julien Lacheray (de "A Jornada"), a cereja do bolo!

Antes de finalizar, por favor, reparem na cena em que Nelly e Marion encenam uma história como se fosse uma peça de teatro e veja como roteiro trabalha tão bem as metáforas para explicar a relação entre as escolhas, despedidas e o amor entre mãe e filha. 

Bom, acho que depois de tudo não preciso nem dizer que vale muito a pena, né?

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Pieces of a Woman

“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!

O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:

Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!

A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!

Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!

Observações:

1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!

2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!

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“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!

O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:

Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!

A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!

Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!

Observações:

1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!

2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!

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Pobres Criaturas

"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.

Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:

Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.

Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!

"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.

Vale muito o seu play!

Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!

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"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.

Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:

Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.

Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!

"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.

Vale muito o seu play!

Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!

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