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O Dia do Chacal

Viciante e muito envolvente - não existe outra forma de definir a série produzida pela Sky em parceria com o Peacock e aqui distribuída pela Disney+. "O Dia do Chacal", criada pelo showrunner irlandês Ronan Bennett (de "Top Boy") e baseada no clássico de espionagem de Frederick Forsyth, oferece uma releitura moderna e sofisticada da história que se tornou um marco do gênero. Ao mesmo tempo em que permanece fiel à essência do romance original, a série expande suas temáticas e personagens, atualizando o contexto para ressoar com questões mais contemporâneas misturando intrigas políticas, uma ação meticulosa e um suspense psicológico dos mais provocadores. Na linha de "Anna" e de "O Assassino", "The Day of the Jackal" (no original) acerta demais ao explorar os bastidores sombrios de missões clandestinas altamente perigosas e das complexidades morais de ser um assassino de aluguel.

Aqui, a trama gira em torno de um assassino misterioso, conhecido como "O Chacal" (Eddie Redmayne), que acabara de realizar um atentado contra um líder político alemão, mas que agora precisa realizar a missão de eliminar o bilionário Ulle Dag Charles (Khalid Abdalla), conhecido pela sigla UDC, que planeja lançar um produto digital batizado de River - cujo objetivo é tornar transparentes todas as operações financeiras de bilionários como ele. Enquanto o assassino usa de sua inteligência, precisão e habilidades excepcionais para planejar o ataque, forças policiais e de inteligência, liderada pela agente do MI-6, Bianca (Lashana Lynch), correm contra o tempo para impedir o que parece ser uma operação definitiva para o criminoso. Confira o trailer:

O confronto entre o "caçador" e aqueles que o perseguem forma o núcleo principal dessa narrativa que nos impede de parar de assistir. É impressionante como Bennett constrói uma narrativa que alterna momentos de uma tensão realmente palpável com reflexões mais profundas sobre lealdade, ideologia e o impacto da violência na vida da sociedade - sem falar em todas as reviravoltas e traições, além do olhar detalhado sobre os sistemas de poder no mundo da espionagem. O roteiro traz com muita sabedoria toda a atmosfera e o conceito mais misterioso do romance original, porém com um desenvolvimento mais robusto dos personagens, dando maior profundidade tanto para o Chacal quanto para aqueles que tentam detê-lo. Essa abordagem moderna do texto de Forsyth humaniza os personagens sem perder aquela frieza e o rigor técnico que ajudou a obra definir o gênero "thriller".

A direção estabelecida pelo talentoso Brian Kirk (de "Game of Thrones") e pelo Paul Wilmshurst (de "The Last Kingdom) destaca a sensação constante de paranoia e perigo, utilizando inúmeras locações internacionais que reforçam a escala e a urgência de uma missão global que não permite erro. Repare como a fotografia explora a claustrofobia do universo da espionagem mesmo enquadrando os vastos cenários urbanos e rurais que abrigam as operações do Chacal - é o contraste entre os espaços íntimos e públicos que enfatiza a vulnerabilidade dos personagens e a capacidade quase mística do assassino operar nas sombras. Aliás, Redmayne entrega uma performance fantástica, capturando a frieza e a astúcia calculada do seu personagem, com a mesma habilidade com que insinua nuances de motivação e moralidade perfeitamente discutíveis. Outro destaque do elenco que vale o registro é Lashana Lynch - ela é o equilíbrio entre a determinação implacável e o desgaste emocional causado por ter que se dividir entre uma missão ultra-secreta e sua família - sim, eu sei que a premissa é batida, mas não pra negar que ela funciona, né?

Apesar de sua qualidade absurda, é verdade que "O Dia do Chacal" pode enfrentar algumas críticas pela familiaridade de sua história (especialmente para aqueles que já conhecem o romance ou a adaptação cinematográfica de 1973). No entanto, a atualização de contexto proposta por Ronan Bennettjustifica sua existência e oferece uma visão renovada que alinha aos desafios e complexidades do mundo contemporâneo, ou seja, esteja preparado para uma experiência rica e instigante, que reafirma a atemporalidade e a universalidade das questões abordadas por Forsyth em seu romance.

"O Dia do Chacal"captura tanto o coração da história original quanto o espírito de nossa era. Então, pode dar o play sem medo de errar que seu entretenimento está garantido!

Assista Agora

Viciante e muito envolvente - não existe outra forma de definir a série produzida pela Sky em parceria com o Peacock e aqui distribuída pela Disney+. "O Dia do Chacal", criada pelo showrunner irlandês Ronan Bennett (de "Top Boy") e baseada no clássico de espionagem de Frederick Forsyth, oferece uma releitura moderna e sofisticada da história que se tornou um marco do gênero. Ao mesmo tempo em que permanece fiel à essência do romance original, a série expande suas temáticas e personagens, atualizando o contexto para ressoar com questões mais contemporâneas misturando intrigas políticas, uma ação meticulosa e um suspense psicológico dos mais provocadores. Na linha de "Anna" e de "O Assassino", "The Day of the Jackal" (no original) acerta demais ao explorar os bastidores sombrios de missões clandestinas altamente perigosas e das complexidades morais de ser um assassino de aluguel.

Aqui, a trama gira em torno de um assassino misterioso, conhecido como "O Chacal" (Eddie Redmayne), que acabara de realizar um atentado contra um líder político alemão, mas que agora precisa realizar a missão de eliminar o bilionário Ulle Dag Charles (Khalid Abdalla), conhecido pela sigla UDC, que planeja lançar um produto digital batizado de River - cujo objetivo é tornar transparentes todas as operações financeiras de bilionários como ele. Enquanto o assassino usa de sua inteligência, precisão e habilidades excepcionais para planejar o ataque, forças policiais e de inteligência, liderada pela agente do MI-6, Bianca (Lashana Lynch), correm contra o tempo para impedir o que parece ser uma operação definitiva para o criminoso. Confira o trailer:

O confronto entre o "caçador" e aqueles que o perseguem forma o núcleo principal dessa narrativa que nos impede de parar de assistir. É impressionante como Bennett constrói uma narrativa que alterna momentos de uma tensão realmente palpável com reflexões mais profundas sobre lealdade, ideologia e o impacto da violência na vida da sociedade - sem falar em todas as reviravoltas e traições, além do olhar detalhado sobre os sistemas de poder no mundo da espionagem. O roteiro traz com muita sabedoria toda a atmosfera e o conceito mais misterioso do romance original, porém com um desenvolvimento mais robusto dos personagens, dando maior profundidade tanto para o Chacal quanto para aqueles que tentam detê-lo. Essa abordagem moderna do texto de Forsyth humaniza os personagens sem perder aquela frieza e o rigor técnico que ajudou a obra definir o gênero "thriller".

A direção estabelecida pelo talentoso Brian Kirk (de "Game of Thrones") e pelo Paul Wilmshurst (de "The Last Kingdom) destaca a sensação constante de paranoia e perigo, utilizando inúmeras locações internacionais que reforçam a escala e a urgência de uma missão global que não permite erro. Repare como a fotografia explora a claustrofobia do universo da espionagem mesmo enquadrando os vastos cenários urbanos e rurais que abrigam as operações do Chacal - é o contraste entre os espaços íntimos e públicos que enfatiza a vulnerabilidade dos personagens e a capacidade quase mística do assassino operar nas sombras. Aliás, Redmayne entrega uma performance fantástica, capturando a frieza e a astúcia calculada do seu personagem, com a mesma habilidade com que insinua nuances de motivação e moralidade perfeitamente discutíveis. Outro destaque do elenco que vale o registro é Lashana Lynch - ela é o equilíbrio entre a determinação implacável e o desgaste emocional causado por ter que se dividir entre uma missão ultra-secreta e sua família - sim, eu sei que a premissa é batida, mas não pra negar que ela funciona, né?

Apesar de sua qualidade absurda, é verdade que "O Dia do Chacal" pode enfrentar algumas críticas pela familiaridade de sua história (especialmente para aqueles que já conhecem o romance ou a adaptação cinematográfica de 1973). No entanto, a atualização de contexto proposta por Ronan Bennettjustifica sua existência e oferece uma visão renovada que alinha aos desafios e complexidades do mundo contemporâneo, ou seja, esteja preparado para uma experiência rica e instigante, que reafirma a atemporalidade e a universalidade das questões abordadas por Forsyth em seu romance.

"O Dia do Chacal"captura tanto o coração da história original quanto o espírito de nossa era. Então, pode dar o play sem medo de errar que seu entretenimento está garantido!

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O Escândalo de Randall Emmett

No universo dos documentários que revelam os bastidores da indústria do entretenimento como "Showbiz Kids" e até o polêmico "Deixando Neverland", "O Escândalo de Randall Emmett" surge como uma peça intrigante que expõe os segredos por trás de um dos mais notórios e recentes escândalos de Hollywood - se nem tanto aqui no Brasil, sem sombra de dúvidas nos EUA, por ter seus dois protagonistas entre as estrelas do famoso reality da Bravo,"Vanderpump Rules". Produzido pela ABC News Studios e pelo LA Times para o Hulu, o filme captura a essência do escândalo a partir de uma construção bastante consistente do perfil de Emmett, um famoso produtor de filmes B, e da forma como ele se relacionava com as pessoas que o rodeavam.

Baseado no artigo intitulado "The Man Who Played Hollywood: Inside Randall Emmett’s Crumbling Empire" do L.A. Times, o documentário faz um recorte muito interessante da investigação sobre muitas das acusações chocantes contra Randall Emmett, que incluem alegações de discriminação racial, abusos psicológicos e comportamentos questionáveis no set (um deles, inclusive, contra o ator Bruce Willis já doente). Também são apresentadas entrevistas com Lala Kent, celebridade "Vanderpump" e ex-noiva do produtor. Ela fala sobre seu tumultuado relacionamento e como soube das acusações e supostas traições de Emmett ainda com uma filha recém-nascida. Confira o trailer (em inglês): 

Apenas para contextualizar, "Vanderpump Rules" é um famoso spin-off de "The Real Housewives of Beverly Hills", onde uma de suas protagonistas, Lisa Vanderpump, mentora talentos que buscam conquistar e construir suas carreiras no mundo da gastronomia. Bem ao estilo "real-life", o reality-show revela os bastidores do restaurante SUR, em West Hollywood: o dia-a-dia e os dramas dos jovens e belos funcionários de Lisa - entre eles, a bela Lala Kent. No entanto, "O Escândalo de Randall Emmett" vai um pouco além, já que o roteiro pontua a jornada de sucesso de Emmett, um dos produtores de "O Irlandês" da Netflix, em meio a muitas denúncias de abuso moral, até sua derrocada quando seu ego ajudou a destruir uma carreira sólida ao aceitar participar do mesmo reality que sua noiva.

A narrativa do documentário é, de fato, muito bem orquestrada até para quem não está familiarizado com essa doentia indústria das celebridades nos EUA. O que para aquela audiência pode parecer uma extensão curiosa do reality-show, para nós é mais um ótimo raio-x dos bastidores do cinema de Hollywood. A partir dos relatos da Amy Kaufman e da Meg James, autoras do artigo do Times, vamos conhecendo os detalhes da história de Emmett de forma meticulosa - são entrevistas com pessoas-chave do escândalo, entre elas Lisa e Easton Burningham, mãe e irmão de Lala, além de pelo menos três assistentes do produtor que até hoje sofrem de ansiedade crônica graças a forma como eram tratados. Imagens de arquivo e algumas reconstituições, dão o exato tom do terror que era estar próximo de Emmet - reparem como a trama tem um ar de suspense e como a estrutura cronológica contribui muito para mergulharmos nessa obscura atmosfera.

Ao adentrar nos aspectos emocionais da história, o documentário não se limita em relatar os acontecimentos, mas também explora as consequências pessoais e profissionais dos fatos - a empatia gerada por essas histórias, sem dúvida, humaniza a narrativa e a torna parte vital da nossa experiência como audiência. Talvez seja isso, inclusive, que faz com que "O Escândalo de Randall Emmett" transcenda seu propósito de documentar um evento isolado, abrindo espaço para uma discussão mais ampla sobre ética na indústria do entretenimento. Não tenha dúvidas que mais uma vez, você vai questionar o sistema desse mercado tão pautado no ego e no poder, que possibilitam escândalos como esse, e a refletir sobre as implicações sociais e culturais do caso.

Vale muito o seu play!

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No universo dos documentários que revelam os bastidores da indústria do entretenimento como "Showbiz Kids" e até o polêmico "Deixando Neverland", "O Escândalo de Randall Emmett" surge como uma peça intrigante que expõe os segredos por trás de um dos mais notórios e recentes escândalos de Hollywood - se nem tanto aqui no Brasil, sem sombra de dúvidas nos EUA, por ter seus dois protagonistas entre as estrelas do famoso reality da Bravo,"Vanderpump Rules". Produzido pela ABC News Studios e pelo LA Times para o Hulu, o filme captura a essência do escândalo a partir de uma construção bastante consistente do perfil de Emmett, um famoso produtor de filmes B, e da forma como ele se relacionava com as pessoas que o rodeavam.

Baseado no artigo intitulado "The Man Who Played Hollywood: Inside Randall Emmett’s Crumbling Empire" do L.A. Times, o documentário faz um recorte muito interessante da investigação sobre muitas das acusações chocantes contra Randall Emmett, que incluem alegações de discriminação racial, abusos psicológicos e comportamentos questionáveis no set (um deles, inclusive, contra o ator Bruce Willis já doente). Também são apresentadas entrevistas com Lala Kent, celebridade "Vanderpump" e ex-noiva do produtor. Ela fala sobre seu tumultuado relacionamento e como soube das acusações e supostas traições de Emmett ainda com uma filha recém-nascida. Confira o trailer (em inglês): 

Apenas para contextualizar, "Vanderpump Rules" é um famoso spin-off de "The Real Housewives of Beverly Hills", onde uma de suas protagonistas, Lisa Vanderpump, mentora talentos que buscam conquistar e construir suas carreiras no mundo da gastronomia. Bem ao estilo "real-life", o reality-show revela os bastidores do restaurante SUR, em West Hollywood: o dia-a-dia e os dramas dos jovens e belos funcionários de Lisa - entre eles, a bela Lala Kent. No entanto, "O Escândalo de Randall Emmett" vai um pouco além, já que o roteiro pontua a jornada de sucesso de Emmett, um dos produtores de "O Irlandês" da Netflix, em meio a muitas denúncias de abuso moral, até sua derrocada quando seu ego ajudou a destruir uma carreira sólida ao aceitar participar do mesmo reality que sua noiva.

A narrativa do documentário é, de fato, muito bem orquestrada até para quem não está familiarizado com essa doentia indústria das celebridades nos EUA. O que para aquela audiência pode parecer uma extensão curiosa do reality-show, para nós é mais um ótimo raio-x dos bastidores do cinema de Hollywood. A partir dos relatos da Amy Kaufman e da Meg James, autoras do artigo do Times, vamos conhecendo os detalhes da história de Emmett de forma meticulosa - são entrevistas com pessoas-chave do escândalo, entre elas Lisa e Easton Burningham, mãe e irmão de Lala, além de pelo menos três assistentes do produtor que até hoje sofrem de ansiedade crônica graças a forma como eram tratados. Imagens de arquivo e algumas reconstituições, dão o exato tom do terror que era estar próximo de Emmet - reparem como a trama tem um ar de suspense e como a estrutura cronológica contribui muito para mergulharmos nessa obscura atmosfera.

Ao adentrar nos aspectos emocionais da história, o documentário não se limita em relatar os acontecimentos, mas também explora as consequências pessoais e profissionais dos fatos - a empatia gerada por essas histórias, sem dúvida, humaniza a narrativa e a torna parte vital da nossa experiência como audiência. Talvez seja isso, inclusive, que faz com que "O Escândalo de Randall Emmett" transcenda seu propósito de documentar um evento isolado, abrindo espaço para uma discussão mais ampla sobre ética na indústria do entretenimento. Não tenha dúvidas que mais uma vez, você vai questionar o sistema desse mercado tão pautado no ego e no poder, que possibilitam escândalos como esse, e a refletir sobre as implicações sociais e culturais do caso.

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O Faz Nada

Impossível não olhar Buenos Aires com um certo ar de romantismo e desejo depois de assistir aos cinco episódios dessa excelente (e despretensiosa) minissérie do Star+, "O Faz Nada". Ao melhor estilo Woody Allen de construir uma narrativa cinematográfica se apropriando de fortes elementos da crônica, com personagens complexos (e por isso charmosos), um cenário deslumbrante e um tema que normalmente se mistura entre o cotidiano e o imaginário, essa obra dos geniais Gastón Duprat e Mariano Cohn, ambos de "Cidadão Ilustre" e não por acaso sua maior referência conceitual, é uma divertida e sensível jornada pela gastronomia portenha pela perspectiva de quem é apaixonado pelos detalhes - para o bem e para o mal!

Na história, o bon vivant e icônico crítico gastronômico, Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni), mal tem recursos para manter seu estilo de vida abastado, mas nem por isso deixa de se aproveitar do respeito que adquiriu nos tempos áureos para viver e comer muito bem. Mal humorado e patologicamente sincero, Prats se vê em uma situação inédita quando precisa contratar uma jovem paraguaia, Antonia (Majo Cabrera), para substituir Celsa (María Rosa Fugazot) - uma antiga empregada que cuidou dele por mais de 40 anos, mas que "do nada" acaba de morrer. Confira o trailer (em espanhol):

Logo de cara, a presença de Robert De Niro já coloca nossa expectava em outro patamar. De Niro, com um certo ar "proposital" de superioridade, é basicamente o narrador dessa história que não sabemos exatamente onde vai nos levar. Suas aparições são cirurgias, misteriosas e cheias de elegância - como se estivesse nos preparando para uma epifania dramática matadora. De fato é isso que acontece, talvez sem tanto impacto narrativo, mas sem dúvida repleto de sentimento - e é ai que as conexões fazem sentido, já que a minissérie fala de arte de cultura, de gastronomia, mas são as relações de amizade que realmente tocam nossa alma.

O roteiro de Duprat e Cohn, ao lado do talentoso Emanuel Diez (de "A Extorsão"), sabe exatamente como equilibrar o drama com o cômico, ao mesmo tempo que se mostra extremamente capaz de discutir as nuances das relações humanas com muita honestidade (que personificado por Prats, soa até exagerado) e sensibilidade, sem nunca esquecer da ironia e do humor inteligente. A direção sabe que essa sagacidade e acidez criam laços improváveis entre a audiência e o protagonista - eles fizeram exatamente isso no premiado "Cidadão Ilustre", Marc Forster repetiu a fórmula em "O Pior Vizinho do Mundo" eChuck Lorre fechou com chave de ouro em "O Método Kominsky". Mas para tudo funcionar como se deve, esse protagonista tem que roubar a cena e é justamente o que Brandoni faz - não à toa, o seu Manuel Tamayo Prats sempre tem uma resposta na ponta da língua que contraria, provoca ou simplesmente debocha de alguém, com inteligência e crueldade (nunca uma sem a outra), nos causando até uma certa "inveja".

"Nada" (no original) sabe nos conquistar ao retratar a forma única de levar a vida de um senhor que já não espera muito da vida, mas que teima em não deixar de aproveita-la. As insinuações são excelentes (especialmente quando se trata da relação homem e mulher), mas é na qualidade do texto e na construção de uma atmosfera que celebra o amor de seus criadores pela cidade, pela gastronomia e pela ironia bem colocada, que a minissérie realmente decola. Como não poderia deixar de ser, essa brincadeira cosmopolita meio "woodyallenana" de Duprat e Cohn, é tão apaixonante e cheia de camadas que se dá o direito de trocar o tango pelo jazz, que mesmo mais casual traz leveza para as cenas, e até colocar no mesmo nível de importância o famoso bife de chorizo a cavalo com o conceito da gastronomia chinesa do Wen, Zhao e Wogh. Interessante, não? 

Pois é! Eu diria, imperdível!

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Impossível não olhar Buenos Aires com um certo ar de romantismo e desejo depois de assistir aos cinco episódios dessa excelente (e despretensiosa) minissérie do Star+, "O Faz Nada". Ao melhor estilo Woody Allen de construir uma narrativa cinematográfica se apropriando de fortes elementos da crônica, com personagens complexos (e por isso charmosos), um cenário deslumbrante e um tema que normalmente se mistura entre o cotidiano e o imaginário, essa obra dos geniais Gastón Duprat e Mariano Cohn, ambos de "Cidadão Ilustre" e não por acaso sua maior referência conceitual, é uma divertida e sensível jornada pela gastronomia portenha pela perspectiva de quem é apaixonado pelos detalhes - para o bem e para o mal!

Na história, o bon vivant e icônico crítico gastronômico, Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni), mal tem recursos para manter seu estilo de vida abastado, mas nem por isso deixa de se aproveitar do respeito que adquiriu nos tempos áureos para viver e comer muito bem. Mal humorado e patologicamente sincero, Prats se vê em uma situação inédita quando precisa contratar uma jovem paraguaia, Antonia (Majo Cabrera), para substituir Celsa (María Rosa Fugazot) - uma antiga empregada que cuidou dele por mais de 40 anos, mas que "do nada" acaba de morrer. Confira o trailer (em espanhol):

Logo de cara, a presença de Robert De Niro já coloca nossa expectava em outro patamar. De Niro, com um certo ar "proposital" de superioridade, é basicamente o narrador dessa história que não sabemos exatamente onde vai nos levar. Suas aparições são cirurgias, misteriosas e cheias de elegância - como se estivesse nos preparando para uma epifania dramática matadora. De fato é isso que acontece, talvez sem tanto impacto narrativo, mas sem dúvida repleto de sentimento - e é ai que as conexões fazem sentido, já que a minissérie fala de arte de cultura, de gastronomia, mas são as relações de amizade que realmente tocam nossa alma.

O roteiro de Duprat e Cohn, ao lado do talentoso Emanuel Diez (de "A Extorsão"), sabe exatamente como equilibrar o drama com o cômico, ao mesmo tempo que se mostra extremamente capaz de discutir as nuances das relações humanas com muita honestidade (que personificado por Prats, soa até exagerado) e sensibilidade, sem nunca esquecer da ironia e do humor inteligente. A direção sabe que essa sagacidade e acidez criam laços improváveis entre a audiência e o protagonista - eles fizeram exatamente isso no premiado "Cidadão Ilustre", Marc Forster repetiu a fórmula em "O Pior Vizinho do Mundo" eChuck Lorre fechou com chave de ouro em "O Método Kominsky". Mas para tudo funcionar como se deve, esse protagonista tem que roubar a cena e é justamente o que Brandoni faz - não à toa, o seu Manuel Tamayo Prats sempre tem uma resposta na ponta da língua que contraria, provoca ou simplesmente debocha de alguém, com inteligência e crueldade (nunca uma sem a outra), nos causando até uma certa "inveja".

"Nada" (no original) sabe nos conquistar ao retratar a forma única de levar a vida de um senhor que já não espera muito da vida, mas que teima em não deixar de aproveita-la. As insinuações são excelentes (especialmente quando se trata da relação homem e mulher), mas é na qualidade do texto e na construção de uma atmosfera que celebra o amor de seus criadores pela cidade, pela gastronomia e pela ironia bem colocada, que a minissérie realmente decola. Como não poderia deixar de ser, essa brincadeira cosmopolita meio "woodyallenana" de Duprat e Cohn, é tão apaixonante e cheia de camadas que se dá o direito de trocar o tango pelo jazz, que mesmo mais casual traz leveza para as cenas, e até colocar no mesmo nível de importância o famoso bife de chorizo a cavalo com o conceito da gastronomia chinesa do Wen, Zhao e Wogh. Interessante, não? 

Pois é! Eu diria, imperdível!

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O Livro de Boba Fett

"O Livro de Boba Fett" talvez seja o maior exemplo (até aqui) da infinidade de possibilidades que um serviço de streaming proporciona para a construção (e recuperação) de uma narrativa que vai funcionar como uma importante peça de um enorme quebra-cabeça. Seguindo a cartilha de desenvolvimento de personagens e histórias secundárias, mas relevantes como arco maior, de um Universo repleto de fãs (bem ao estilo Marvel), a série da Disney+ usa seus 7 episódios para contar uma jornada (não revelada e que não mudaria o rumo dos acontecimentos da franquia) de Boba Fett dentro da linha temporal de Star Wars e, mais do que isso, que fortalece a sua relação com o fenômeno "The Mandalorian" abrindo caminho para outros cross-overs.

O foco da série está em acompanhar a ascensão de Boba Fett (Temuera Morrison) ao posto de chefe do crime em Tatooine (continuando de onde parou na segunda temporada de “The Mandalorian"). Após a morte de Jabba "the Hutt" em “O Retorno de Jedi”, a principal família criminosa do planeta ficou sem líder, com o Twi’Lek Bib Fortuna (Matthew Wood) assumindo sem inspirar muita confiança. Fett depõe o antigo mordomo com a brutalidade que lhe é peculiar, mas ele não é um senhor do crime - ele é um caçador de recompensas e com isso ele tem que provar que pode governar o local, ser mais diplomático, enfrentar alguma milícias e ainda manter a ordem e a paz para todos os habitantes do planeta. Confira o trailer:

É difícil não gostar de "O Livro de Boba Fett" depois de duas temporadas de "The Mandalorian" e do gancho deixado para que o personagem, definitivamente, brilhasse em uma jornada solo, porém é preciso que se diga: a construção narrativa de série, obedecendo duas linhas temporais (com o passado e o presente de Fett), não se sustenta - isso é tão claro que a duração dos episódios até a chegada de Mando na trama é de no máximo 30 minutos e depois praticamente dobra. Veja, o roteiro tenta priorizar o ecossistema conflituoso de Tatooine e relaciona-lo ao passado do protagonista, adicionando personagens como os Mods (um grupo de criminosos cyberpunks adolescentes) e até proporcionando o retorno de Cobb Vanth (Timothy Olyphant) e Cad Bane (Corey Burton), mas o fôlego só é recuperado de verdade quando o showrunner Robert Rodriguez transforma "O Livro de Boba Fett" em uma espécie de “Star Wars: a Série”!

Eu explico: o mood do que já deu certo anteriormente é praticamente "copiado e colado". Personagens como o Mandaloriano (Pedro Pascal), Luke Skywalker (Mark Hamill), Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e Grogu vão ganhando tempo de tela e deixando o próprio Boba Fett em segundo plano - sem falar que praticamente esquece Fennec Shand (Ming-Na Wen). Por outro lado a dinâmica narrativa da série melhora, ganha mais ação, mais embates, tiroteios, perseguições, etc - só não segue a unidade e, muito menos, o conceito apresentado no primeiro episódio.

Dito isso, é possível que você estranhe essa quebra brusca de conceito (lá pelo quinto episódio). O ritmo muda e o foco também! A história de tudo que aconteceu entre "O Retorno de Jedi" (1983) até o retorno misterioso de Fett em "The Mandalorian", e a trama dele tentando se transformar no novo Daimiô de Tatooine, praticamente deixa de existir e o universo que nos fez reviver os bons tempos de Star Wars passa a ser melhor explorado - até Cad Bane, um dos personagens favoritos dos fãs das animações, surge em live action. O fato é que mesmo inconstante "O Livro de Boba Fett" é bom, cumpre seu papel e se torna uma série imperdível, mas deixa muito claro quem será o personagem-chave dessa nova fase da franquia (agora no streaming).

Vale o play se você for fã! 

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"O Livro de Boba Fett" talvez seja o maior exemplo (até aqui) da infinidade de possibilidades que um serviço de streaming proporciona para a construção (e recuperação) de uma narrativa que vai funcionar como uma importante peça de um enorme quebra-cabeça. Seguindo a cartilha de desenvolvimento de personagens e histórias secundárias, mas relevantes como arco maior, de um Universo repleto de fãs (bem ao estilo Marvel), a série da Disney+ usa seus 7 episódios para contar uma jornada (não revelada e que não mudaria o rumo dos acontecimentos da franquia) de Boba Fett dentro da linha temporal de Star Wars e, mais do que isso, que fortalece a sua relação com o fenômeno "The Mandalorian" abrindo caminho para outros cross-overs.

O foco da série está em acompanhar a ascensão de Boba Fett (Temuera Morrison) ao posto de chefe do crime em Tatooine (continuando de onde parou na segunda temporada de “The Mandalorian"). Após a morte de Jabba "the Hutt" em “O Retorno de Jedi”, a principal família criminosa do planeta ficou sem líder, com o Twi’Lek Bib Fortuna (Matthew Wood) assumindo sem inspirar muita confiança. Fett depõe o antigo mordomo com a brutalidade que lhe é peculiar, mas ele não é um senhor do crime - ele é um caçador de recompensas e com isso ele tem que provar que pode governar o local, ser mais diplomático, enfrentar alguma milícias e ainda manter a ordem e a paz para todos os habitantes do planeta. Confira o trailer:

É difícil não gostar de "O Livro de Boba Fett" depois de duas temporadas de "The Mandalorian" e do gancho deixado para que o personagem, definitivamente, brilhasse em uma jornada solo, porém é preciso que se diga: a construção narrativa de série, obedecendo duas linhas temporais (com o passado e o presente de Fett), não se sustenta - isso é tão claro que a duração dos episódios até a chegada de Mando na trama é de no máximo 30 minutos e depois praticamente dobra. Veja, o roteiro tenta priorizar o ecossistema conflituoso de Tatooine e relaciona-lo ao passado do protagonista, adicionando personagens como os Mods (um grupo de criminosos cyberpunks adolescentes) e até proporcionando o retorno de Cobb Vanth (Timothy Olyphant) e Cad Bane (Corey Burton), mas o fôlego só é recuperado de verdade quando o showrunner Robert Rodriguez transforma "O Livro de Boba Fett" em uma espécie de “Star Wars: a Série”!

Eu explico: o mood do que já deu certo anteriormente é praticamente "copiado e colado". Personagens como o Mandaloriano (Pedro Pascal), Luke Skywalker (Mark Hamill), Ahsoka Tano (Rosario Dawson) e Grogu vão ganhando tempo de tela e deixando o próprio Boba Fett em segundo plano - sem falar que praticamente esquece Fennec Shand (Ming-Na Wen). Por outro lado a dinâmica narrativa da série melhora, ganha mais ação, mais embates, tiroteios, perseguições, etc - só não segue a unidade e, muito menos, o conceito apresentado no primeiro episódio.

Dito isso, é possível que você estranhe essa quebra brusca de conceito (lá pelo quinto episódio). O ritmo muda e o foco também! A história de tudo que aconteceu entre "O Retorno de Jedi" (1983) até o retorno misterioso de Fett em "The Mandalorian", e a trama dele tentando se transformar no novo Daimiô de Tatooine, praticamente deixa de existir e o universo que nos fez reviver os bons tempos de Star Wars passa a ser melhor explorado - até Cad Bane, um dos personagens favoritos dos fãs das animações, surge em live action. O fato é que mesmo inconstante "O Livro de Boba Fett" é bom, cumpre seu papel e se torna uma série imperdível, mas deixa muito claro quem será o personagem-chave dessa nova fase da franquia (agora no streaming).

Vale o play se você for fã! 

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O Melhor Infarto da Minha Vida

O Melhor Infarto da Minha Vida

Como normalmente acontece com a dramaturgia argentina, especialmente nas comédias, nem todos vão amar essa minissérie de seis episódios que está no Disney+. No entanto, para aqueles dispostos a embarcar em uma jornada envolvente e cheia de ironias, especialmente por sua abordagem mais humana e muito sincera sobre as pequenas tragédias do cotidiano, eu diria que "O Melhor Infarto da Minha Vida" é um tiro mais do que certeiro - pode apostar que será uma agradável surpresa! Antes do play, saiba que Hernán Casciari é um nome conhecido na literatura daquele país por sua escrita bem-humorada e quase sempre autobiográfica - foi a partir do material original de Casciari que o roteirista Lucas Figueroa (de "Viral") captura sua essência para adaptar uma inusitada experiência de quase-morte do escritor e assim entregar uma comédia com um olhar afiado sobre a vida, sobre o destino e sobre uma segunda chance. Na linha de obras como "After Life" de Ricky Gervais ou até da inesquecível "O Método Kominsky", ambas séries que misturam humor com muita reflexão, Figueroa desenvolve uma narrativa tão divertida quanto melancólica, mas sempre apaixonante.

Na trama acompanhamos Ariel (Alan Sabbagh), um "escritor fantasma" que leva um estilo de vida caótico e sem grandes perspectivas, até que um certo dia ele sofre um infarto fulminante. É justamente esse episódio que obriga Ariel a encarar sua própria mortalidade e a repensar a maneira como tem levado sua vida nos últimos anos. Enquanto se recupera, ele passa a ver o mundo de uma forma diferente e que, inevitavelmente, acaba transformando aqueles ao seu redor. Confia o trailer (em espanhol):

A diretora Mariana Wainstein até que acerta ao manter o tom agridoce que marca os textos de Casciari, equilibrando os momentos mais cômicos com uma sensibilidade emocional dos subtextos que dá uma interessante profundidade para a narrativa. Sua direção se destaca pelo uso inteligente de planos fechados que enfatizam os momentos de vulnerabilidade de Ariel, contrastando com uma paleta de cores mais acolhedora, que reforça o lado esperançoso da história - essa dicotomia visual, muito usada na cinematografia argentina, sem a menor sobra de dúvida, traz um charme extra para a minissérie. Nesse sentido, o roteiro, escrito por Figueroa em colaboração com Maria Zanetti e com a própria Wainstein, trabalha bem o conceito de renascimento pessoal, explorando como um evento traumático pode redefinir nossas prioridades, com leveza e uma certa despretensão.

Ao olhar para o elenco, encontramos Alan Sabbagh - o ator carrega a minissérie com uma atuação carismática, transitando com naturalidade entre o sarcasmo e a fragilidade de seu personagem, sem nunca escolher os caminhos mais fáceis. Sabbagh tem uma boa dinâmica com Olivia Molina, que interpreta Concha, e com Rogelio Gracia, que vive Javier - figuras essenciais na jornada do protagonista ao ponto de criar um retrato sincero de um homem em busca de um novo sentido para sua existência.

"O Melhor Infarto da Minha Vida" é, de fato, uma experiência enxuta e bem estruturada - daquelas que matamos em uma tarde, sem tempo para enrolações. A minissérie consegue ser leve e impactante com muita elegância, convidando a audiência a rir das ironias da vida enquanto reflete sobre a importância de estar presente no "agora". Aqui, não temos um drama convencional e tampouco uma história que se propõe a trazer grandes respostas filosóficas, muito pelo contrário, "O Melhor Infarto da Minha Vida" acerta mesmo ao construir um protagonista realista e falho enquanto torna sua jornada de redescoberta uma experiência realmente autêntica e marcante - para todos.

Se você gosta de narrativas que exploram o humor dentro de um contexto de tragédia, vale muito a pena dar uma chance para "O Melhor Infarto da Minha Vida"!

Assista Agora

Como normalmente acontece com a dramaturgia argentina, especialmente nas comédias, nem todos vão amar essa minissérie de seis episódios que está no Disney+. No entanto, para aqueles dispostos a embarcar em uma jornada envolvente e cheia de ironias, especialmente por sua abordagem mais humana e muito sincera sobre as pequenas tragédias do cotidiano, eu diria que "O Melhor Infarto da Minha Vida" é um tiro mais do que certeiro - pode apostar que será uma agradável surpresa! Antes do play, saiba que Hernán Casciari é um nome conhecido na literatura daquele país por sua escrita bem-humorada e quase sempre autobiográfica - foi a partir do material original de Casciari que o roteirista Lucas Figueroa (de "Viral") captura sua essência para adaptar uma inusitada experiência de quase-morte do escritor e assim entregar uma comédia com um olhar afiado sobre a vida, sobre o destino e sobre uma segunda chance. Na linha de obras como "After Life" de Ricky Gervais ou até da inesquecível "O Método Kominsky", ambas séries que misturam humor com muita reflexão, Figueroa desenvolve uma narrativa tão divertida quanto melancólica, mas sempre apaixonante.

Na trama acompanhamos Ariel (Alan Sabbagh), um "escritor fantasma" que leva um estilo de vida caótico e sem grandes perspectivas, até que um certo dia ele sofre um infarto fulminante. É justamente esse episódio que obriga Ariel a encarar sua própria mortalidade e a repensar a maneira como tem levado sua vida nos últimos anos. Enquanto se recupera, ele passa a ver o mundo de uma forma diferente e que, inevitavelmente, acaba transformando aqueles ao seu redor. Confia o trailer (em espanhol):

A diretora Mariana Wainstein até que acerta ao manter o tom agridoce que marca os textos de Casciari, equilibrando os momentos mais cômicos com uma sensibilidade emocional dos subtextos que dá uma interessante profundidade para a narrativa. Sua direção se destaca pelo uso inteligente de planos fechados que enfatizam os momentos de vulnerabilidade de Ariel, contrastando com uma paleta de cores mais acolhedora, que reforça o lado esperançoso da história - essa dicotomia visual, muito usada na cinematografia argentina, sem a menor sobra de dúvida, traz um charme extra para a minissérie. Nesse sentido, o roteiro, escrito por Figueroa em colaboração com Maria Zanetti e com a própria Wainstein, trabalha bem o conceito de renascimento pessoal, explorando como um evento traumático pode redefinir nossas prioridades, com leveza e uma certa despretensão.

Ao olhar para o elenco, encontramos Alan Sabbagh - o ator carrega a minissérie com uma atuação carismática, transitando com naturalidade entre o sarcasmo e a fragilidade de seu personagem, sem nunca escolher os caminhos mais fáceis. Sabbagh tem uma boa dinâmica com Olivia Molina, que interpreta Concha, e com Rogelio Gracia, que vive Javier - figuras essenciais na jornada do protagonista ao ponto de criar um retrato sincero de um homem em busca de um novo sentido para sua existência.

"O Melhor Infarto da Minha Vida" é, de fato, uma experiência enxuta e bem estruturada - daquelas que matamos em uma tarde, sem tempo para enrolações. A minissérie consegue ser leve e impactante com muita elegância, convidando a audiência a rir das ironias da vida enquanto reflete sobre a importância de estar presente no "agora". Aqui, não temos um drama convencional e tampouco uma história que se propõe a trazer grandes respostas filosóficas, muito pelo contrário, "O Melhor Infarto da Minha Vida" acerta mesmo ao construir um protagonista realista e falho enquanto torna sua jornada de redescoberta uma experiência realmente autêntica e marcante - para todos.

Se você gosta de narrativas que exploram o humor dentro de um contexto de tragédia, vale muito a pena dar uma chance para "O Melhor Infarto da Minha Vida"!

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O Menu

Se John Doe (de "Se7en - os sete pecados capitais") fosse um renomado chef de cozinha, certamente ele seria bem parecido com o chef Slowik (Ralph Fiennes) de "O Menu" - mas calma, as comparações devem parar por aí já que o filme de Mark Mylod (reconhecido diretor de séries como "Game of Thrones" e "Succession") está longe de ser uma unanimidade como o thriller policial de David Fincher, porém é de se elogiar a criatividade, originalidade e dinâmica narrativa que ele foi capaz de imprimir para entregar um suspense psicológico com certo toque de sadismo capaz de nos entreter do início ao fim da jornada!

A jovem Margot (Anya Taylor-Joy) é convidada por Tyler (Nicholas Hoult) para viver uma experiência inesquecível em um dos restaurantes mais conhecidos e exclusivos do mundo. Localizado em uma ilha, a cozinha do Hawthorne é liderada pelo famoso chef Slowik (Ralph Fiennes) que além de seus ingredientes frescos e exóticos pretende oferecer uma noite única para um pequeno grupo de clientes que vai de um decadente astro de cinema à uma ressentida crítica gastronômica. O que deveria ser apenas a degustação de uma comida para lá de especial, se torna um verdadeiro pesadelo para os convidados, com um cardápio farto, porém cheio de surpresas desagradáveis. Confira o trailer:

Embora a atmosfera de "O Menu" crie uma deliciosa (sem trocadilhos) conexão com a audiência logo de cara, é inegável que o tom crítico que preenche os diálogos mais afiados vai muito além do desenvolvimento de alguns dos doze personagens que na minha opinião tinham muito mais a dizer - fosse uma série contada em flashbacks, teríamos um profundo e divertido estudo de personas que naturalmente subverteriam a sátira do filme em algo muito mais profundo. Que fique claro que isso não é um problema, apenas um olhar diferente da decisão narrativa que se limitar a alfinetar o "universo gastronômico popstar" enquanto nos envolve em um inteligente clima de mistério.

Conceitualmente, Mark Mylo mistura a arte quase poética de "Chef's Table" com uma dinâmica empolgante de necessária suspensão da realidade, como vimos em "Fresh", porém trabalhando uma certa ambiguidade com muito mais sutileza e talvez por isso menos visceral que no filme de Mimi Cave. Veja, o roteiro do Seth Reiss (acostumado em escrever para os "Late Nights" americanos) e do Will Tracy (de "Succession") se apoia nas falhas de caráter dos personagens (algo como vimos em "Lost"), mas não nos deixa odiá-los, muito pelo contrário, ao mesmo tempo que torcemos pelo infortúnio dos convidados, nos empatizamos com eles ao ponto de sentir certo amargor pelo destino de cada um - algumas cenas são impactantes também, mas a força da história está na angústia do que pode vir pela frente e isso, dependendo da expectativa criada, pode decepcionar alguns.

Seja um artista que acelera seu processo criativo pensando em conquistar o mundo ou alguns críticos gastronômicos que inventam significados completamente aleatórios para definir o que consomem com o intuito de soar mais inteligentes e até aquele fã de um renomado chef que não entende exatamente a experiência do que lhe é oferecido, mas faz questão de se gabar por poder pagar por ela, "O Menu" é um prato cheio de simbolismos, metáforas e semiótica, além de um ótimo suspense psicológico com leves toques de humor ácido que vai agradar o "paladar" (trocadilho liberado) de muitas pessoas e envergonhar tantas outras (se a carapuça servir)!

Vale muito o seu play!

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Se John Doe (de "Se7en - os sete pecados capitais") fosse um renomado chef de cozinha, certamente ele seria bem parecido com o chef Slowik (Ralph Fiennes) de "O Menu" - mas calma, as comparações devem parar por aí já que o filme de Mark Mylod (reconhecido diretor de séries como "Game of Thrones" e "Succession") está longe de ser uma unanimidade como o thriller policial de David Fincher, porém é de se elogiar a criatividade, originalidade e dinâmica narrativa que ele foi capaz de imprimir para entregar um suspense psicológico com certo toque de sadismo capaz de nos entreter do início ao fim da jornada!

A jovem Margot (Anya Taylor-Joy) é convidada por Tyler (Nicholas Hoult) para viver uma experiência inesquecível em um dos restaurantes mais conhecidos e exclusivos do mundo. Localizado em uma ilha, a cozinha do Hawthorne é liderada pelo famoso chef Slowik (Ralph Fiennes) que além de seus ingredientes frescos e exóticos pretende oferecer uma noite única para um pequeno grupo de clientes que vai de um decadente astro de cinema à uma ressentida crítica gastronômica. O que deveria ser apenas a degustação de uma comida para lá de especial, se torna um verdadeiro pesadelo para os convidados, com um cardápio farto, porém cheio de surpresas desagradáveis. Confira o trailer:

Embora a atmosfera de "O Menu" crie uma deliciosa (sem trocadilhos) conexão com a audiência logo de cara, é inegável que o tom crítico que preenche os diálogos mais afiados vai muito além do desenvolvimento de alguns dos doze personagens que na minha opinião tinham muito mais a dizer - fosse uma série contada em flashbacks, teríamos um profundo e divertido estudo de personas que naturalmente subverteriam a sátira do filme em algo muito mais profundo. Que fique claro que isso não é um problema, apenas um olhar diferente da decisão narrativa que se limitar a alfinetar o "universo gastronômico popstar" enquanto nos envolve em um inteligente clima de mistério.

Conceitualmente, Mark Mylo mistura a arte quase poética de "Chef's Table" com uma dinâmica empolgante de necessária suspensão da realidade, como vimos em "Fresh", porém trabalhando uma certa ambiguidade com muito mais sutileza e talvez por isso menos visceral que no filme de Mimi Cave. Veja, o roteiro do Seth Reiss (acostumado em escrever para os "Late Nights" americanos) e do Will Tracy (de "Succession") se apoia nas falhas de caráter dos personagens (algo como vimos em "Lost"), mas não nos deixa odiá-los, muito pelo contrário, ao mesmo tempo que torcemos pelo infortúnio dos convidados, nos empatizamos com eles ao ponto de sentir certo amargor pelo destino de cada um - algumas cenas são impactantes também, mas a força da história está na angústia do que pode vir pela frente e isso, dependendo da expectativa criada, pode decepcionar alguns.

Seja um artista que acelera seu processo criativo pensando em conquistar o mundo ou alguns críticos gastronômicos que inventam significados completamente aleatórios para definir o que consomem com o intuito de soar mais inteligentes e até aquele fã de um renomado chef que não entende exatamente a experiência do que lhe é oferecido, mas faz questão de se gabar por poder pagar por ela, "O Menu" é um prato cheio de simbolismos, metáforas e semiótica, além de um ótimo suspense psicológico com leves toques de humor ácido que vai agradar o "paladar" (trocadilho liberado) de muitas pessoas e envergonhar tantas outras (se a carapuça servir)!

Vale muito o seu play!

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O Museu

Esse é mais um projeto dos criativos Mariano Cohn, Andrés Duprat e Gastón Duprat - e se você não sabe de quem eu estou falando, volte três casas e assista os imperdíveis: "O Cidadão Ilustre", "Meu Querido Zelador" e "O Faz Nada"! Olha, é impressionante como esse trio (um dos mais criativos do cinema argentino em muito tempo) tem uma capacidade absurda de criar personagens complexos e ao mesmo tempo apaixonantes - em todos os seus projetos, nada é o que parece e nem por isso o roteiro se apoia em esteriótipos para soar engraçado. Na verdade, e me contradizendo, os estereótipos até estão lá, mas mais humanizados, cheios de camadas, na linha tênue entre o ame ou odeie ou entre o mocinho e o bandido - simplesmente genial! Em "O Museu", mais uma vez, seu protagonista, o impagável Antonio Dumas (brilhantemente interpretado pelo Oscar Martínez), brilha e traz consigo a interessante premissa de discutir (e criticar) o papel da arte na superficial sociedade contemporânea.

Basicamente, "Bellas Artes" (no original) acompanha o dia a dia de Antonio Dumas, um renomado e cínico curador, que acaba de assumir a direção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri. A partir dessa premissa aparentemente simples, essa série de seis episódios tece uma narrativa inteligente e multifacetada, explorando temas sensíveis como a mercantilização da arte, a superficialidade da elite cultural, a banalização da cultura woke e a busca por um significado em um mundo cada vez mais caótico. Confira o trailer:

Pautada pelo humor ácido e cirúrgico,"O Museu" nos apresenta a um universo peculiar, onde obras de arte desafiam as convenções e provocam questionamentos sobre o que realmente é arte - obviamente que sempre carregada de muita crítica e alguns apontamentos bem politicamente incorretos (ainda bem). É através do olhar aguçado de Antonio Dumas que somos confrontados com algumas das instalações mais bizarras, performances excêntricas e conceitos pseudo-abstratos que desafiam nossa percepção do belo. Com uma dinâmica narrativa das mais agradáveis, a série nos leva além das aparências ao buscar um significado mais profundo nas obras, questionando os valores e as crenças que permeiam o mundo na atualidade, sem perder a classe, o respeito ou a piada - não necessariamente nessa ordem.

Oscar Martínez (o protagonista de "O Cidadão Ilustre"), mais uma vez entrega uma performance magistral como Antonio Dumas, capturando com perfeição toda a arrogância, o egocentrismo, o cinismo e até um descompasso geracional do seu personagem com muita verdade. Veja, aqui não se trata de levantar bandeiras ou de diminuir algumas lutas, mas de discutir todas essas agendas por outras perspectivas ao ponto de refletirmos sobre algumas "verdades absolutas" que não se sustentam (ou pelo menos, não deveriam). Ao lado de Martínez, encontramos um elenco talentoso, incluindo um impagável Fernando Albizu e uma divertida Aixa Villagrán - mesmo sem tanto tempo de tela, eles a ajudam a construir um Antonio Duma bem mais palpável. Aqui a direção dos Duprat e de Cohn ganha força - utilizando de uma gramática cinematográfica já conhecida desde seus outros projetos, o trio basicamente recria a mesma atmosfera divertida e constrangedora que já virou uma identidade e que nos coloca na frente da tela com a certeza de que vamos encontrar um ótimo entretenimento.

A verdade é que "O Museu" é uma obra de arte em si mesma, desde que você se conecte com o humor mais ácido e provocador de seus criadores. Eu diria até que a série é um convite para uma jornada intelectual única que vai te fazer pensar ao mesmo tempo em que vai te desafiar a rever suas percepções sobre a arte em um mundo transformado, conectado e superficial, mas com um toque de cinismo divertidíssimo!

Vale muito o seu play!

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Esse é mais um projeto dos criativos Mariano Cohn, Andrés Duprat e Gastón Duprat - e se você não sabe de quem eu estou falando, volte três casas e assista os imperdíveis: "O Cidadão Ilustre", "Meu Querido Zelador" e "O Faz Nada"! Olha, é impressionante como esse trio (um dos mais criativos do cinema argentino em muito tempo) tem uma capacidade absurda de criar personagens complexos e ao mesmo tempo apaixonantes - em todos os seus projetos, nada é o que parece e nem por isso o roteiro se apoia em esteriótipos para soar engraçado. Na verdade, e me contradizendo, os estereótipos até estão lá, mas mais humanizados, cheios de camadas, na linha tênue entre o ame ou odeie ou entre o mocinho e o bandido - simplesmente genial! Em "O Museu", mais uma vez, seu protagonista, o impagável Antonio Dumas (brilhantemente interpretado pelo Oscar Martínez), brilha e traz consigo a interessante premissa de discutir (e criticar) o papel da arte na superficial sociedade contemporânea.

Basicamente, "Bellas Artes" (no original) acompanha o dia a dia de Antonio Dumas, um renomado e cínico curador, que acaba de assumir a direção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri. A partir dessa premissa aparentemente simples, essa série de seis episódios tece uma narrativa inteligente e multifacetada, explorando temas sensíveis como a mercantilização da arte, a superficialidade da elite cultural, a banalização da cultura woke e a busca por um significado em um mundo cada vez mais caótico. Confira o trailer:

Pautada pelo humor ácido e cirúrgico,"O Museu" nos apresenta a um universo peculiar, onde obras de arte desafiam as convenções e provocam questionamentos sobre o que realmente é arte - obviamente que sempre carregada de muita crítica e alguns apontamentos bem politicamente incorretos (ainda bem). É através do olhar aguçado de Antonio Dumas que somos confrontados com algumas das instalações mais bizarras, performances excêntricas e conceitos pseudo-abstratos que desafiam nossa percepção do belo. Com uma dinâmica narrativa das mais agradáveis, a série nos leva além das aparências ao buscar um significado mais profundo nas obras, questionando os valores e as crenças que permeiam o mundo na atualidade, sem perder a classe, o respeito ou a piada - não necessariamente nessa ordem.

Oscar Martínez (o protagonista de "O Cidadão Ilustre"), mais uma vez entrega uma performance magistral como Antonio Dumas, capturando com perfeição toda a arrogância, o egocentrismo, o cinismo e até um descompasso geracional do seu personagem com muita verdade. Veja, aqui não se trata de levantar bandeiras ou de diminuir algumas lutas, mas de discutir todas essas agendas por outras perspectivas ao ponto de refletirmos sobre algumas "verdades absolutas" que não se sustentam (ou pelo menos, não deveriam). Ao lado de Martínez, encontramos um elenco talentoso, incluindo um impagável Fernando Albizu e uma divertida Aixa Villagrán - mesmo sem tanto tempo de tela, eles a ajudam a construir um Antonio Duma bem mais palpável. Aqui a direção dos Duprat e de Cohn ganha força - utilizando de uma gramática cinematográfica já conhecida desde seus outros projetos, o trio basicamente recria a mesma atmosfera divertida e constrangedora que já virou uma identidade e que nos coloca na frente da tela com a certeza de que vamos encontrar um ótimo entretenimento.

A verdade é que "O Museu" é uma obra de arte em si mesma, desde que você se conecte com o humor mais ácido e provocador de seus criadores. Eu diria até que a série é um convite para uma jornada intelectual única que vai te fazer pensar ao mesmo tempo em que vai te desafiar a rever suas percepções sobre a arte em um mundo transformado, conectado e superficial, mas com um toque de cinismo divertidíssimo!

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O Paciente

Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!

"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!

Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.

Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!

Vale muito o seu play! Só vai!

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Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!

"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!

Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.

Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!

Vale muito o seu play! Só vai!

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O Predador: A Caçada

Entretenimento puro, despretensioso e com um toque de nostalgia! Não existe maneira melhor de definir "O Predador: A Caçada", vendido como um filme de origem, quando na verdade é mais um prequel com uma boa chance de se tornar um reboot graças a quantidade de elogios que o filme vem recebendo desde sua estreia.

Ambientado no mundo da Nação Comanche no início de 1700; munida com armas primitivas, Naru (Amber Midthunder) persegue e finalmente confronta seu pior inimigo: um predador alienígena altamente evoluído, com um arsenal tecnologicamente avançado, resultando em um confronto brutal e aterrorizante. Protegendo seu povo do Predador que caça humanos por esporte, lutando contra a natureza, colonizadores perigosos, entre outros desafios, a jovem corajosa precisa provar que possui a força para enfrentar o que for necessário para manter seu povo seguro. Confira o trailer:

É inegável o valor que o primeiro filme da franquia teve para toda uma geração - basta dizer que em 1987, Arnold Schwarzenegger estava no auge e filmes que equilibravam muita ação com elementos de ficção científica eram, sem a menor dúvida, o gênero que mais provocava o interesse da audiência (mainstream) na época. Pois bem, de lá para cá pouco se aproveitou de uma franquia que poderia tranquilamente se estabelecer como uma grande mina de ouro - muito do que foi lançado nos últimos 35 anos não merece nem ser mencionado aqui para não descaracterizar as recomendações de qualidade que nos propomos a fazer. Até que surge o diretor Dan Trachtenberg, em apenas o seu segundo filme, mas chancelado pela critica e pelo público depois do seu longa-metragem de estreia: "Rua Cloverfield, 10".

Estabelecida sua capacidade de construir narrativas envolventes com poucos recursos de orçamento, mas com uma gramática cinematográfica precisa para nos prender à trama mesmo com a clara intenção de apenas entreter, Trachtenberg, outra vez, entrega mais do que o esperado. "O Predador: A Caçada" é uma evolução do filme de 1987 ao mesmo tempo em que recupera sua essência - não existe aqui uma necessidade de aprofundamento nas motivações dos personagens ou de maiores explicações sobre a criatura que simplesmente surge no planeta para "se divertir". O Predador é um colecionador, mata por prazer, em busca de troféus e ponto final! Já Naru usa sua jornada contra o alienígena apenas como gatilho para se provar (e, claro, sobreviver) - e é isso! Com um subtexto relevante para os dias de hoje, afinal a protagonista foi treinada a vida inteira para ser uma curandeira, mas na verdade o que ela deseja mesmo é ser uma caçadora (função costumeiramente reservada aos homens de sua tribo), o filme cria uma camada inteligente que nos conecta imediatamente com a personagem e nos faz torcer pelo seu sucesso - só não espere uma discussão muito além disso.

O roteiro de estreia de Patrick Aison (de "Jack Ryan" e "Wayward Pines") sofre um pouco com a necessidade de explicar em diálogos muito do que poderia ser simplesmente resolvido com imagens - o filme de 1987 tinha isso, aliás. Veja, sendo Naru uma heroína clássica de filmes de ação em seu processo de amadurecimento e transformação, o embate com um inimigo maligno e muito mais poderoso já seria suficiente para dinâmica na história - não que os "papos cabeça" entre ela e o irmão sejam ruins, mas servem mais como alívios narrativos do que como elementos que possam fazer diferença no resultado final. Os efeitos visuais, com algumas escorregadas (principalmente no sangue), também são competentes e quando Trachtenberg entende suas limitações técnicas, tudo se encaixa ainda melhor - ele resolve com os enquadramentos e com os movimentos de câmera, situações que um diretor menos talentoso sofreria para entregar.

Dito isso, "Prey" (no original) é mais uma agradável surpresa no catálogo do streaming. Não será um filme inesquecível, mas certamente vai agradar quem busca um entretenimento de qualidade que certamente terá continuações - reparem como as “ilustrações” dos créditos nos indicam esse caminho.

Vale seu play!

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Entretenimento puro, despretensioso e com um toque de nostalgia! Não existe maneira melhor de definir "O Predador: A Caçada", vendido como um filme de origem, quando na verdade é mais um prequel com uma boa chance de se tornar um reboot graças a quantidade de elogios que o filme vem recebendo desde sua estreia.

Ambientado no mundo da Nação Comanche no início de 1700; munida com armas primitivas, Naru (Amber Midthunder) persegue e finalmente confronta seu pior inimigo: um predador alienígena altamente evoluído, com um arsenal tecnologicamente avançado, resultando em um confronto brutal e aterrorizante. Protegendo seu povo do Predador que caça humanos por esporte, lutando contra a natureza, colonizadores perigosos, entre outros desafios, a jovem corajosa precisa provar que possui a força para enfrentar o que for necessário para manter seu povo seguro. Confira o trailer:

É inegável o valor que o primeiro filme da franquia teve para toda uma geração - basta dizer que em 1987, Arnold Schwarzenegger estava no auge e filmes que equilibravam muita ação com elementos de ficção científica eram, sem a menor dúvida, o gênero que mais provocava o interesse da audiência (mainstream) na época. Pois bem, de lá para cá pouco se aproveitou de uma franquia que poderia tranquilamente se estabelecer como uma grande mina de ouro - muito do que foi lançado nos últimos 35 anos não merece nem ser mencionado aqui para não descaracterizar as recomendações de qualidade que nos propomos a fazer. Até que surge o diretor Dan Trachtenberg, em apenas o seu segundo filme, mas chancelado pela critica e pelo público depois do seu longa-metragem de estreia: "Rua Cloverfield, 10".

Estabelecida sua capacidade de construir narrativas envolventes com poucos recursos de orçamento, mas com uma gramática cinematográfica precisa para nos prender à trama mesmo com a clara intenção de apenas entreter, Trachtenberg, outra vez, entrega mais do que o esperado. "O Predador: A Caçada" é uma evolução do filme de 1987 ao mesmo tempo em que recupera sua essência - não existe aqui uma necessidade de aprofundamento nas motivações dos personagens ou de maiores explicações sobre a criatura que simplesmente surge no planeta para "se divertir". O Predador é um colecionador, mata por prazer, em busca de troféus e ponto final! Já Naru usa sua jornada contra o alienígena apenas como gatilho para se provar (e, claro, sobreviver) - e é isso! Com um subtexto relevante para os dias de hoje, afinal a protagonista foi treinada a vida inteira para ser uma curandeira, mas na verdade o que ela deseja mesmo é ser uma caçadora (função costumeiramente reservada aos homens de sua tribo), o filme cria uma camada inteligente que nos conecta imediatamente com a personagem e nos faz torcer pelo seu sucesso - só não espere uma discussão muito além disso.

O roteiro de estreia de Patrick Aison (de "Jack Ryan" e "Wayward Pines") sofre um pouco com a necessidade de explicar em diálogos muito do que poderia ser simplesmente resolvido com imagens - o filme de 1987 tinha isso, aliás. Veja, sendo Naru uma heroína clássica de filmes de ação em seu processo de amadurecimento e transformação, o embate com um inimigo maligno e muito mais poderoso já seria suficiente para dinâmica na história - não que os "papos cabeça" entre ela e o irmão sejam ruins, mas servem mais como alívios narrativos do que como elementos que possam fazer diferença no resultado final. Os efeitos visuais, com algumas escorregadas (principalmente no sangue), também são competentes e quando Trachtenberg entende suas limitações técnicas, tudo se encaixa ainda melhor - ele resolve com os enquadramentos e com os movimentos de câmera, situações que um diretor menos talentoso sofreria para entregar.

Dito isso, "Prey" (no original) é mais uma agradável surpresa no catálogo do streaming. Não será um filme inesquecível, mas certamente vai agradar quem busca um entretenimento de qualidade que certamente terá continuações - reparem como as “ilustrações” dos créditos nos indicam esse caminho.

Vale seu play!

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O Rei da TV

É preciso ter muito cuidado ao analisar o "O Rei da TV", pois existe uma série de escolhas criativas e artísticas bastante duvidosas e que expõem a fragilidade do roteiro e a limitação da direção - que basicamente segue a cartilha dos anos 90 e reproduz com algum surto de criatividade algumas adaptações estéticas que, aí sim, dão o exato tom do valor histórico do projeto. Por outro lado a história do Silvo Santos é, de fato, sensacional  e merecia ser contada - até porquê ela se mistura com a história da televisão brasileira e mostra de uma forma bem humorada algumas curiosidades de bastidores que jamais poderíamos imaginar e que olhando em retrospectiva, faz total sentido. Talvez os mais exigentes não vão se conectar com essa produção nacional do Star+ (e é compreensível), mas eu, na posição de quem gosta do assunto, diria: dê uma chance!

"O Rei da TV" acompanha a vida e a carreira do apresentador e empresário Silvio Santos - um dos maiores ícones da televisão brasileira de todos os tempos. A produção retrata a vida de Sílvio desde sua infância no Rio de Janeiro até sua ascensão e fama como um dos maiores comunicadores do Brasil. Comerciante de rua na juventude, o apresentador sempre demonstrou talento para se comunicar com o público (e vender), engajando e divertindo as pessoas. Ele passou a participar de espetáculos circenses e rapidamente chamou atenção. Logo, Sílvio foi conquistando seu espaço na indústria do entretenimento até que resolve criar o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), sua grande paixão. Confira o trailer:

Embora o roteiro seja o "calcanhar de Aquiles" da série, é inegável que a escolha de cobrir um grande recorte da vida de Silvio Santosse apoiando na construção de duas linhas temporais paralelas, uma no inicio de sua carreira (com Mariano Mattos como protagonista) e outra já reconhecido como o grande comunicador que é (com José Rubens Chachá), foi um grande acerto - o vai e vem da história cria uma dinâmica narrativa das mais interessantes e fica muito fácil para a audiência entender algumas nuances e passagens que fatalmente seriam esquecidas fosse linear a estratégia do criador do projeto, André Barcinski (de "Zé do Caixão").

Como em "Eike""O Rei da TV" também usa de cenários farsescos ou delírios psicológicos para cortar um caminho narrativo que resulta em um certo constrangimento visual - a bizarra recriação das pragas bíblicas do Egito, olha, é de doer. Menos realista que "Tudo ou Nada" e muito mais caricata do que outros dramas que tinham celebridades da TV como protagonistas, é o caso de "Hebe"(por exemplo), a série ganha uma certa leveza com esse tom menos pretensioso, transformando toda jornada em um grande entretenimento que acaba encontrando um certo equilíbrio com a seriedade imposta por alguns personagens como os ótimos Stanislaw (de Emílio de Mello) e Rossi (de João Campos). A direção de arte também merece elogios, pois recria de forma nostálgica e com muita eficiência estética diferentes décadas, cenários históricos da TV e figuras populares inesquecíveis, em um alinhamento conceitual primoroso de som, de fotografia e de performances (com um ou outro escorregão apenas). 

É difícil construir um retrato tão marcante, cativante e divertido da cultura pop nacional sem perder o foco em uma figura por si só estereotipada como Silvio Santos, porém, nesse sentido, "O Rei da TV" não se leva tão a sério e permite que essa viagem no tempo seja marcada por um "conteúdo" rico, mas com uma "forma" que não deve agradar muita gente e que mesmo assim, ainda vai querer acompanhar a trama até o fim - principalmente se essa audiência for maior que 40 anos. 

Vale o play com todas essas ressalvas!

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É preciso ter muito cuidado ao analisar o "O Rei da TV", pois existe uma série de escolhas criativas e artísticas bastante duvidosas e que expõem a fragilidade do roteiro e a limitação da direção - que basicamente segue a cartilha dos anos 90 e reproduz com algum surto de criatividade algumas adaptações estéticas que, aí sim, dão o exato tom do valor histórico do projeto. Por outro lado a história do Silvo Santos é, de fato, sensacional  e merecia ser contada - até porquê ela se mistura com a história da televisão brasileira e mostra de uma forma bem humorada algumas curiosidades de bastidores que jamais poderíamos imaginar e que olhando em retrospectiva, faz total sentido. Talvez os mais exigentes não vão se conectar com essa produção nacional do Star+ (e é compreensível), mas eu, na posição de quem gosta do assunto, diria: dê uma chance!

"O Rei da TV" acompanha a vida e a carreira do apresentador e empresário Silvio Santos - um dos maiores ícones da televisão brasileira de todos os tempos. A produção retrata a vida de Sílvio desde sua infância no Rio de Janeiro até sua ascensão e fama como um dos maiores comunicadores do Brasil. Comerciante de rua na juventude, o apresentador sempre demonstrou talento para se comunicar com o público (e vender), engajando e divertindo as pessoas. Ele passou a participar de espetáculos circenses e rapidamente chamou atenção. Logo, Sílvio foi conquistando seu espaço na indústria do entretenimento até que resolve criar o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), sua grande paixão. Confira o trailer:

Embora o roteiro seja o "calcanhar de Aquiles" da série, é inegável que a escolha de cobrir um grande recorte da vida de Silvio Santosse apoiando na construção de duas linhas temporais paralelas, uma no inicio de sua carreira (com Mariano Mattos como protagonista) e outra já reconhecido como o grande comunicador que é (com José Rubens Chachá), foi um grande acerto - o vai e vem da história cria uma dinâmica narrativa das mais interessantes e fica muito fácil para a audiência entender algumas nuances e passagens que fatalmente seriam esquecidas fosse linear a estratégia do criador do projeto, André Barcinski (de "Zé do Caixão").

Como em "Eike""O Rei da TV" também usa de cenários farsescos ou delírios psicológicos para cortar um caminho narrativo que resulta em um certo constrangimento visual - a bizarra recriação das pragas bíblicas do Egito, olha, é de doer. Menos realista que "Tudo ou Nada" e muito mais caricata do que outros dramas que tinham celebridades da TV como protagonistas, é o caso de "Hebe"(por exemplo), a série ganha uma certa leveza com esse tom menos pretensioso, transformando toda jornada em um grande entretenimento que acaba encontrando um certo equilíbrio com a seriedade imposta por alguns personagens como os ótimos Stanislaw (de Emílio de Mello) e Rossi (de João Campos). A direção de arte também merece elogios, pois recria de forma nostálgica e com muita eficiência estética diferentes décadas, cenários históricos da TV e figuras populares inesquecíveis, em um alinhamento conceitual primoroso de som, de fotografia e de performances (com um ou outro escorregão apenas). 

É difícil construir um retrato tão marcante, cativante e divertido da cultura pop nacional sem perder o foco em uma figura por si só estereotipada como Silvio Santos, porém, nesse sentido, "O Rei da TV" não se leva tão a sério e permite que essa viagem no tempo seja marcada por um "conteúdo" rico, mas com uma "forma" que não deve agradar muita gente e que mesmo assim, ainda vai querer acompanhar a trama até o fim - principalmente se essa audiência for maior que 40 anos. 

Vale o play com todas essas ressalvas!

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O Rei Leão

É inegável a qualidade da história, agora em "live action", de "O Rei Leão", mas o filme é muito mais que isso - a releitura da animação de 1994 tem o que de melhor podemos encontrar em CG atualmente. Falo isso com a maior tranquilidade: se você assistiu "Dumbo" e se impressionou com a qualidade da textura da pele do elefantinho e com a aplicação dos outros animais em um cenário selvagem na última cena do filme, já te aviso: aquilo não passou de uma versão "beta" do que você vai assistir em "O Rei Leão".

Tudo está fantástico visualmente: a água, o fogo, os pêlos, a luz, a composição é extremamente orgânica... porém é preciso admitir (por mais que possa nos doer): a experiência de assistir novamente uma história que foi tão marcante em um momento das nossas vidas, não é tão sensacional como imaginaria que pudesse ser (ou como foi em 1994) - mas vou explicar melhor para não parecer que não gostei do filme. O filme é muito bom, merece ser visto, é divertido da mesma forma, só que se você assistiu a animação, provavelmente não vai se emocionar pela história.... vai se emocionar pela nostalgia! Confira o trailer:

A história é exatamente a mesma: vemos a jornada do jovem Simba que, após o assassinato de seu pai, o rei Mufasa, precisa fugir já que seu tio Star o culpa pela morte. Com a ajuda dos seus dois novos amigos, Timon e Pumbba, Simba cresce e descobre um outro propósito de vida, mas que é interrompido no encontro com sua melhor amiga de infância Nala. Sabendo por ela que seu tio está destruindo o Reino, Simba resolve retornar para reivindicar sua posição de herdeiro do rei e trazer novamente paz para o Reino. Embora essa nova versão tenha 30 minutos a mais que a animação original,  90% das cenas são iguais. O fato é que na nova versão ganhamos com a tecnologia, com planos muito bem filmados, movimentos de câmera muito inventivos e composições quase perfeitas. Ganhamos com o visual, com a perfeição dos animais, com o lindo cenário que parece ter sido tirado de um documentário da National Geographic.

O filme é lindo e espero que a nova geração se relacione com a história da mesma forma com que fizemos em 94. Para nós, maiores de 30 anos, o novo "Rei Leão" é um convite à nostalgia, à memória emotiva, ao saudosismo... Para os mais novos, a oportunidade de experienciar uma bela narrativa, com animais incrivelmente "reais" e lindas mensagens que podem trazer algum sentimento e aprendizado. A verdade é que são outros tempos e seria até injusto querer comparar as duas obras. Para mim, foi divertido, mas faltou aquele "algo mais"; para quem está assistindo pela primeira vez, provavelmente, terá mais valor!

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É inegável a qualidade da história, agora em "live action", de "O Rei Leão", mas o filme é muito mais que isso - a releitura da animação de 1994 tem o que de melhor podemos encontrar em CG atualmente. Falo isso com a maior tranquilidade: se você assistiu "Dumbo" e se impressionou com a qualidade da textura da pele do elefantinho e com a aplicação dos outros animais em um cenário selvagem na última cena do filme, já te aviso: aquilo não passou de uma versão "beta" do que você vai assistir em "O Rei Leão".

Tudo está fantástico visualmente: a água, o fogo, os pêlos, a luz, a composição é extremamente orgânica... porém é preciso admitir (por mais que possa nos doer): a experiência de assistir novamente uma história que foi tão marcante em um momento das nossas vidas, não é tão sensacional como imaginaria que pudesse ser (ou como foi em 1994) - mas vou explicar melhor para não parecer que não gostei do filme. O filme é muito bom, merece ser visto, é divertido da mesma forma, só que se você assistiu a animação, provavelmente não vai se emocionar pela história.... vai se emocionar pela nostalgia! Confira o trailer:

A história é exatamente a mesma: vemos a jornada do jovem Simba que, após o assassinato de seu pai, o rei Mufasa, precisa fugir já que seu tio Star o culpa pela morte. Com a ajuda dos seus dois novos amigos, Timon e Pumbba, Simba cresce e descobre um outro propósito de vida, mas que é interrompido no encontro com sua melhor amiga de infância Nala. Sabendo por ela que seu tio está destruindo o Reino, Simba resolve retornar para reivindicar sua posição de herdeiro do rei e trazer novamente paz para o Reino. Embora essa nova versão tenha 30 minutos a mais que a animação original,  90% das cenas são iguais. O fato é que na nova versão ganhamos com a tecnologia, com planos muito bem filmados, movimentos de câmera muito inventivos e composições quase perfeitas. Ganhamos com o visual, com a perfeição dos animais, com o lindo cenário que parece ter sido tirado de um documentário da National Geographic.

O filme é lindo e espero que a nova geração se relacione com a história da mesma forma com que fizemos em 94. Para nós, maiores de 30 anos, o novo "Rei Leão" é um convite à nostalgia, à memória emotiva, ao saudosismo... Para os mais novos, a oportunidade de experienciar uma bela narrativa, com animais incrivelmente "reais" e lindas mensagens que podem trazer algum sentimento e aprendizado. A verdade é que são outros tempos e seria até injusto querer comparar as duas obras. Para mim, foi divertido, mas faltou aquele "algo mais"; para quem está assistindo pela primeira vez, provavelmente, terá mais valor!

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O Sequestro do Voo 375

Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.

Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:

Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.

Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.

Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros" de Ivan Sant'Anna.

Vale seu play!

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Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.

Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:

Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.

Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.

Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros" de Ivan Sant'Anna.

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O Urso

Em um primeiro olhar você até pode imaginar que a série "The Bear" (no original) é mais uma comédia que tem a gastronomia como pano de fundo como em "Chef" (por exemplo), porém bastam alguns minutos para entender que se trata mesmo é de um drama dos mais profundos, com personagens únicos, bem desenvolvidos, cheio de camadas - daqueles que costumamos a ver (e amar) nas séries de Vince Gilligan (de "Breaking Bad").

Aqui conhecemos o chef Carmy (Jeremy Allen White) que, após a morte do irmão mais velho, herda a lanchonete “The Original Beef de Chicago”. Carmy tem muito a oferecer, sua experiência em restaurantes renomados de NY contribui para seu novo objetivo: fazer o empreendimento do irmão prosperar. No entanto, tudo está do avesso, o lugar é caçado pela vigilância sanitária, as dívidas são enormes e a equipe é caótica, mal treinada e não leva a sério nada do que o próprio Carmy diz ou faz. Confira o trailer (em inglês):

O caos em uma cozinha obviamente rende ótimas histórias, mas em "O Urso" essa característica é só parte da dicotomia que são seus personagens: todos eles são solitários em suas dores mais profundas. É a partir desse choque de realidades que o diretor Christopher Storer (de "Ramy") constrói uma narrativa extremamente dinâmica que se aproveita de um universo muito envolvente para discutir temas diversos que vão do luto ao empreendedorismo em apenas um corte. Aliás, a montagem da série é um espetáculo a parte, com cortes rápidos e muitas vezes sem conexão entre eles, misturados com ótimos planos-sequência e inserts da cidade de Chicago ou de frames com pratos da alta gastronomia, Stores alinha seu conceito de extremos "do luxo ao lixo", tanto na "forma" quanto no "conteúdo".

É preciso dizer, no entanto, que a paixão pela série não é imediata - como em "Breaking Bad", é preciso entender a proposta conceitual do diretor e mergulhar naquela atmosfera aproveitando as atitudes e características muito peculiares dos próprios personagens para se conectar com a história. Veja, além do talento de Carmy naquele pequeno recorte de cenário (a cozinha da lanchonete onde 90% da série acontece) existem pelo menos mais quatro personagens riquíssimos a ser explorados - sem dúvida que nessa primeira temporada, o escolhido para dividir os holofotes com Jeremy Allen White foi o explosivo Richie ( com um Ebon Moss-Bachrach que dá um show), mas o roteiro é tão rico que é impossível não perceber o potencial da jovem e talentosa Sydney (Ayo Edebiri), ou do esforçado e resiliente Marcus (Lionel Boyce) e até da insegura e mal-humorada Tina (Liza Colón-Zayas).

O fato é que "O Urso" chega como uma das mais agradáveis surpresas de 2022 e postulante aos inúmeros troféus nas próximas temporadas de premiações, graças a sua impressionante força narrativa e uma enorme qualidade técnica e artística que se encaixaram de uma maneira raríssima. Imperdível!

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Em um primeiro olhar você até pode imaginar que a série "The Bear" (no original) é mais uma comédia que tem a gastronomia como pano de fundo como em "Chef" (por exemplo), porém bastam alguns minutos para entender que se trata mesmo é de um drama dos mais profundos, com personagens únicos, bem desenvolvidos, cheio de camadas - daqueles que costumamos a ver (e amar) nas séries de Vince Gilligan (de "Breaking Bad").

Aqui conhecemos o chef Carmy (Jeremy Allen White) que, após a morte do irmão mais velho, herda a lanchonete “The Original Beef de Chicago”. Carmy tem muito a oferecer, sua experiência em restaurantes renomados de NY contribui para seu novo objetivo: fazer o empreendimento do irmão prosperar. No entanto, tudo está do avesso, o lugar é caçado pela vigilância sanitária, as dívidas são enormes e a equipe é caótica, mal treinada e não leva a sério nada do que o próprio Carmy diz ou faz. Confira o trailer (em inglês):

O caos em uma cozinha obviamente rende ótimas histórias, mas em "O Urso" essa característica é só parte da dicotomia que são seus personagens: todos eles são solitários em suas dores mais profundas. É a partir desse choque de realidades que o diretor Christopher Storer (de "Ramy") constrói uma narrativa extremamente dinâmica que se aproveita de um universo muito envolvente para discutir temas diversos que vão do luto ao empreendedorismo em apenas um corte. Aliás, a montagem da série é um espetáculo a parte, com cortes rápidos e muitas vezes sem conexão entre eles, misturados com ótimos planos-sequência e inserts da cidade de Chicago ou de frames com pratos da alta gastronomia, Stores alinha seu conceito de extremos "do luxo ao lixo", tanto na "forma" quanto no "conteúdo".

É preciso dizer, no entanto, que a paixão pela série não é imediata - como em "Breaking Bad", é preciso entender a proposta conceitual do diretor e mergulhar naquela atmosfera aproveitando as atitudes e características muito peculiares dos próprios personagens para se conectar com a história. Veja, além do talento de Carmy naquele pequeno recorte de cenário (a cozinha da lanchonete onde 90% da série acontece) existem pelo menos mais quatro personagens riquíssimos a ser explorados - sem dúvida que nessa primeira temporada, o escolhido para dividir os holofotes com Jeremy Allen White foi o explosivo Richie ( com um Ebon Moss-Bachrach que dá um show), mas o roteiro é tão rico que é impossível não perceber o potencial da jovem e talentosa Sydney (Ayo Edebiri), ou do esforçado e resiliente Marcus (Lionel Boyce) e até da insegura e mal-humorada Tina (Liza Colón-Zayas).

O fato é que "O Urso" chega como uma das mais agradáveis surpresas de 2022 e postulante aos inúmeros troféus nas próximas temporadas de premiações, graças a sua impressionante força narrativa e uma enorme qualidade técnica e artística que se encaixaram de uma maneira raríssima. Imperdível!

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O.J.: Made in America

Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.

Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):

Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.

Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de  O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.

"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!

Vale muito o seu play!

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Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.

Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):

Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.

Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de  O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.

"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!

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Obrigado por Fumar

Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha. 

Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.

Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.

Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.

Vale muito o seu play!

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Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha. 

Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.

Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.

Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.

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Only Murders in the Building

"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

Vale muito o seu play!

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"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

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Os Banshees de Inisherin

"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.

Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:

Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela  sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".

Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin"  está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).

Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas. 

Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!

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"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.

Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:

Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela  sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".

Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin"  está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).

Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas. 

Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!

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Os olhos de Tammy Faye

"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!

O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:

Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.

Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".

Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.

Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!

Assista Agora

"Os olhos de Tammy Faye" merecia mais - merecia uma minissérie! Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário, achei muito bom (não genial), mas a história, essa sim, é impressionante! Obviamente que o limite de 120 minutos prejudica a experiência, os saltos temporais são inevitáveis quando você quer cobrir um recorte muito maior do que um roteiro de longa-metragem permite e é aí que o filme perde força. Passagens muito interessantes e curiosas da jornada de Tammy Faye e de seu marido, Jim Bakker, precisaram ficar de fora da montagem final e a sensação de urgência para que os pontos-chaves sejam expostos e a história faça sentido, atrapalha muito - uma pena!

O filme é baseado na história da maior apresentadora gospel da TV norte-americana de todos os tempos, a lendária Tammy Faye Bakker (Jessica Chastain). "Os olhos de Tammy Faye" acompanha a ascensão e queda da televangelista e de seu marido, Jim Bakker (Andrew Garfield) nas décadas de 1970 e 1980. Os dois vieram de origens humildes e conseguiram criar a maior rede de radiodifusão religiosa do mundo, alcançando respeito e reverência por sua mensagem de amor, aceitação e prosperidade. Tammy Faye era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos e maquiagem bem marcados, sua forma singular de cantar e seu jeito empático com as pessoas. No entanto, os escândalos e seus rivais procuraram alguma forma de derrubar seu império... e conseguiram! Confira o trailer:

Em um primeiro momento, "Os olhos de Tammy Faye" me lembrou "Joy", quando na verdade o filme dirigido pelo Michael Showalter (de "The Dropout") é muito mais parecido (dadas suas devidas diferenças históricas) com o excelente documentário da Prime Vídeo "As Faces da Marca". Quando o roteiro escrito pelo trio improvável, mas de certa forma até coerente para o projeto, formado pelos multi-premiados Fenton Bailey e Randy Barbato da franquia "Drag RuPaul's" (e que já haviam escrito um documentário sobre a personagem) e Abe Sylvia de "The Affair", prioriza a estrutura "origem-ascensão-declínio-ressurgimento" temos a exata impressão que a preocupação do filme está muito mais em atenuar a parte problemática da protagonista e evidenciar as suas virtudes do que expor uma realidade (seja ela qual for) que condene suas falhas de caráter.

Obviamente que nos conectamos com Tammy Fay imediatamente, e eu diria que até certo ponto, com Jim Bakker também - e por isso a comparação com DeAnne Brady e Mark Stidham da LuLaRoe. Jessica Chastain e Andrew Garfield têm muitos méritos nisso e mesmo com toda inconsistência do roteiro, conseguem construir uma ligação emocional interessante para a narrativa, que nos ajuda a projetar certa verossimilhança - apesar dos personagens, principalmente Fay, serem extremamente caricatos. O fato é que assim que os crédito sobem temos duas certezas: Chastain mereceu o Oscar de melhor atriz pelo papel e Garfield provavelmente também seria indicado, não fosse sua incrível performance em "Tick, Tick... Boom!".

Embora me incomode que a transição daquele pequeno sucesso em uma TV local que se transforma em um verdadeiro império aconteça repentinamente (e sem parecer custar qualquer esforço), fica muito difícil não considerar que o problema está mais no formato do que no roteiro. Saiba que depois do play, você estará de frente com uma história poderosa e com uma personagem única, que está apoiada em uma narrativa apenas superficial, mas que nos momentos em que se permite ir além, é possível entender o tamanho do potencial do filme. Por isso "Os olhos de Tammy Faye" pode soar mais como um entretenimento do que como um convite para a reflexão ou até para julgamentos que gerem alguma discussão sobre moralidade, hipocrisia, identidade e até sobre o papel da religião como negócio, mas tudo está ali, mesmo que escondido.

Vale o seu play? Claro, mas vai ficar um gostinho de "quero mais"!

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Pam & Tommy

"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

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"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

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Pantera Negra

"Pantera Negra" é um filme divertido, um bom filme de super-heróis e só!!! Definitivamente ele não é, nem de longe, o melhor filme do gênero já feito! São 7 indicações para o Oscar 2019, inclusive de Melhor Filme!!! Acho que forçaram um pouco a barra!!! O filme tem uma história interessante, é dinâmico, mas não me surpreendeu como obra! Agora, o fato de trazer um personagem que sempre foi secundário para um protagonismo importante que vai além das telas, tem seu valor, sua importância e ajudou muito na valorização do filme. Eu sempre gostei de quadrinhos, mas nunca havia lido uma história exclusiva do personagem, por exemplo - e certamente não sou o único! 

O filme acompanha T’Challa (Chadwick Boseman) que após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, volta para casa - uma isolada e tecnologicamente avançada nação africana - para a suceder ao trono e ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho inimigo, Erik Killmonger (Michael B. Jordan), o valor de T’Challa como rei (e como Pantera Negra) é testado, colocando o destino de Wakanda, e do mundo todo, em risco!

Tecnicamente o filme é muito interessante, os efeitos especiais são realmente incríveis, muito bem integrados a história - principalmente nos planos de transformação do traje do personagem (funcionou de uma maneira orgânica até melhor que a armadura do Homem de Ferro - por ser quase uma segunda pele, a dificuldade na composição é muito maior e mereceu a indicação para o Oscar). Já o departamento de Arte do filme também merece um destaque. Os Figurinos, Cenários e Objetos de Cena (Desenho de Produção) estão lindos - trouxe uma veracidade muito interessante e criativa para aquele mundo fictício que mistura tradição com tecnologia. Das indicações ao Oscar, desenho de som e mixagem também são bacanas e me chamaram atenção - se leva a estatueta, aí eu já acho que a coisa fica mais complicada, mas tem chance! Música, esquece e trilha sonora, pode rolar!

O ponto alto do filme, uma das coisas que eu mais gostei, foi a criação da Mitologia de Wakanda e como isso pode ser explorado em toda a franquia da Marvel. A DC tinha sinalizado um pouco disso no filme do "Homem de Aço" com aqueles 30 minutos de Krypton, mas, como sempre, jogou o que tinha de melhor no lixo e não aproveitou nada daquilo nos filmes seguintes (pelo menos até agora)! O diretor de Pantera,  Ryan Coogler, também é um cara que temos que acompanhar de perto - ele sempre trás um ar de cinema independente para os seus filmes  - o que dá um certo charme para uma ou outra sequência. "Creed" (excelente filme aliás) foi um bom exemplo disso, e em Pantera Negra, nas cenas de diálogos, ele também soube conduzir de uma forma muito particular e funcionou muito bem contrastando com as cenas de ação e pancadaria. Nas atuações, tenho minhas ressalvas com o Chadwick Boseman, mas gostei muito do Michael B. Jordan e, claro, da Lupita Nyong'o - que atriz incrível!!!!

Enfim, "Pantera Negra" é bom, mas não tem nada de tão diferente de outros filmes de heróis. É um bom entretenimento e, definitivamente, foi indicado por outras questões que vão além das mais de duas horas de filme! Merece? Talvez... e isso já pode ser considerada uma vitória!!!!

Up-date: "Pantera Negra" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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"Pantera Negra" é um filme divertido, um bom filme de super-heróis e só!!! Definitivamente ele não é, nem de longe, o melhor filme do gênero já feito! São 7 indicações para o Oscar 2019, inclusive de Melhor Filme!!! Acho que forçaram um pouco a barra!!! O filme tem uma história interessante, é dinâmico, mas não me surpreendeu como obra! Agora, o fato de trazer um personagem que sempre foi secundário para um protagonismo importante que vai além das telas, tem seu valor, sua importância e ajudou muito na valorização do filme. Eu sempre gostei de quadrinhos, mas nunca havia lido uma história exclusiva do personagem, por exemplo - e certamente não sou o único! 

O filme acompanha T’Challa (Chadwick Boseman) que após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, volta para casa - uma isolada e tecnologicamente avançada nação africana - para a suceder ao trono e ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho inimigo, Erik Killmonger (Michael B. Jordan), o valor de T’Challa como rei (e como Pantera Negra) é testado, colocando o destino de Wakanda, e do mundo todo, em risco!

Tecnicamente o filme é muito interessante, os efeitos especiais são realmente incríveis, muito bem integrados a história - principalmente nos planos de transformação do traje do personagem (funcionou de uma maneira orgânica até melhor que a armadura do Homem de Ferro - por ser quase uma segunda pele, a dificuldade na composição é muito maior e mereceu a indicação para o Oscar). Já o departamento de Arte do filme também merece um destaque. Os Figurinos, Cenários e Objetos de Cena (Desenho de Produção) estão lindos - trouxe uma veracidade muito interessante e criativa para aquele mundo fictício que mistura tradição com tecnologia. Das indicações ao Oscar, desenho de som e mixagem também são bacanas e me chamaram atenção - se leva a estatueta, aí eu já acho que a coisa fica mais complicada, mas tem chance! Música, esquece e trilha sonora, pode rolar!

O ponto alto do filme, uma das coisas que eu mais gostei, foi a criação da Mitologia de Wakanda e como isso pode ser explorado em toda a franquia da Marvel. A DC tinha sinalizado um pouco disso no filme do "Homem de Aço" com aqueles 30 minutos de Krypton, mas, como sempre, jogou o que tinha de melhor no lixo e não aproveitou nada daquilo nos filmes seguintes (pelo menos até agora)! O diretor de Pantera,  Ryan Coogler, também é um cara que temos que acompanhar de perto - ele sempre trás um ar de cinema independente para os seus filmes  - o que dá um certo charme para uma ou outra sequência. "Creed" (excelente filme aliás) foi um bom exemplo disso, e em Pantera Negra, nas cenas de diálogos, ele também soube conduzir de uma forma muito particular e funcionou muito bem contrastando com as cenas de ação e pancadaria. Nas atuações, tenho minhas ressalvas com o Chadwick Boseman, mas gostei muito do Michael B. Jordan e, claro, da Lupita Nyong'o - que atriz incrível!!!!

Enfim, "Pantera Negra" é bom, mas não tem nada de tão diferente de outros filmes de heróis. É um bom entretenimento e, definitivamente, foi indicado por outras questões que vão além das mais de duas horas de filme! Merece? Talvez... e isso já pode ser considerada uma vitória!!!!

Up-date: "Pantera Negra" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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