“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”) A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).
Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:
Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.
A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.
A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.
“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.
PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”) A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).
Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:
Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.
A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.
A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.
“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.
PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.
"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):
Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").
E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment" - ela dá um verdadeiro show!
"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.
Vale seu play!
"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!
Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:
Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!
Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!
O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!
Vale muito seu play!
Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!
"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!
Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:
Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!
Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!
O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!
Vale muito seu play!
Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!
Não existe outra forma de iniciar essa análise que não seja afirmando que se você gostou de "This is Us", você também vai gostar de "As Pequenas Coisas da Vida". Talvez inicialmente você perceba que alguns alívios cômicos podem diminuir o valor da comparação com a série da NBC, principalmente pela performance propositalmente descontrolada de Kathryn Hahn; mas não se engane, a forma como essa adaptação da obra homônima da autora Cheryl Strayed vai se ajustando para retratar os dramas das relações de um casal em crise e de uma mãe com sua filha pouco amorosa, é genial. Inegavelmente muito sensível, o roteiro sabe tocar em elementos dramáticos que vão te tirar da zona de conforto - pode apostar!
A série conta a história de Clare (Hahn), uma mulher que passa por um momento complicado da sua vida - no lado profissional, sua carreira como escritora praticamente não existe mais; já pelo lado pessoal, o casamento com Danny (Quentin Plair) está em ruínas e a relação com sua filha adolescente, Rae (Tanzyn Crawford), um verdadeiro caos. Quando Clare assume uma coluna virtual de conselhos "auto-ajuda" chamado "Dear Sugar", ela vê sua vida desdobrar-se em uma complexa teia de memórias e solidão. Confira o trailer:
Com uma proposta narrativa que contempla duas linhas temporais que conceitualmente vão se cruzando, dando a exata sensação de que a protagonista precisa revisitar seu passado para poder lidar com os problemas do presente, "As Pequenas Coisas da Vida" mais acerta do que erra. Tentando equilibrar os rápidos episódios de meia hora para que tenhamos fôlego para suportar o drama até o final da temporada, e bem como "This is Us", a série que tem Reese Witherspoon e Laura Dern como produtoras executivas, vai conectando os pontos de forma bem homeopática, o que gera um certo desconforto inicialmente, mas que com o passar dos episódios vai fazendo sentido - a história do primeiro casamento de Claire é um bom exemplo dessa estratégia que brinca com nossa curiosidade.
Sob a supervisão da competente Liz Tigelaar (de "Little Fires Everywhere"), "As Pequenas Coisas da Vida" surpreende demais por quebrar nossa expectativa a cada episódio sem parecer estar perdendo o rumo. Veja, se inicialmente os conselhos de "Dear Sugar" podem parecer o elo entre a vida de Claire, do passado com o presente, é na dor da protagonista ao longo desse recorte temporal, nas suas imperfeições como ser humano e como tudo isso impactou em sua vida, que é onde a história ganha em profundidade. É claro que o conceito da narração em off ajuda a pontuar a trama quase como uma crônica, mas é lindo como a direção se aproveita do lúdico para dar sentido a tudo que é falado.
Com um elenco de peso que ainda conta com Merritt Wever como Frankie, a mãe de Clare, essa série original do Hulu vai mexer com suas emoções ao trazer temas que vão do amor incondicional à perda irreparável, passando pelos traumas familiares que exploram as complexidades e contradições da vida e das relações humanas em diversas camadas. Sim, “As Pequenas Coisas da Vida” é uma jornada de fato inspiradora, que mostra a importância de conexões autênticas e do amor verdadeiro para superar as adversidades e encontrar a felicidade, seja lá onde ela estiver - mas aviso: não será simples!
Vale muito o seu play!
Não existe outra forma de iniciar essa análise que não seja afirmando que se você gostou de "This is Us", você também vai gostar de "As Pequenas Coisas da Vida". Talvez inicialmente você perceba que alguns alívios cômicos podem diminuir o valor da comparação com a série da NBC, principalmente pela performance propositalmente descontrolada de Kathryn Hahn; mas não se engane, a forma como essa adaptação da obra homônima da autora Cheryl Strayed vai se ajustando para retratar os dramas das relações de um casal em crise e de uma mãe com sua filha pouco amorosa, é genial. Inegavelmente muito sensível, o roteiro sabe tocar em elementos dramáticos que vão te tirar da zona de conforto - pode apostar!
A série conta a história de Clare (Hahn), uma mulher que passa por um momento complicado da sua vida - no lado profissional, sua carreira como escritora praticamente não existe mais; já pelo lado pessoal, o casamento com Danny (Quentin Plair) está em ruínas e a relação com sua filha adolescente, Rae (Tanzyn Crawford), um verdadeiro caos. Quando Clare assume uma coluna virtual de conselhos "auto-ajuda" chamado "Dear Sugar", ela vê sua vida desdobrar-se em uma complexa teia de memórias e solidão. Confira o trailer:
Com uma proposta narrativa que contempla duas linhas temporais que conceitualmente vão se cruzando, dando a exata sensação de que a protagonista precisa revisitar seu passado para poder lidar com os problemas do presente, "As Pequenas Coisas da Vida" mais acerta do que erra. Tentando equilibrar os rápidos episódios de meia hora para que tenhamos fôlego para suportar o drama até o final da temporada, e bem como "This is Us", a série que tem Reese Witherspoon e Laura Dern como produtoras executivas, vai conectando os pontos de forma bem homeopática, o que gera um certo desconforto inicialmente, mas que com o passar dos episódios vai fazendo sentido - a história do primeiro casamento de Claire é um bom exemplo dessa estratégia que brinca com nossa curiosidade.
Sob a supervisão da competente Liz Tigelaar (de "Little Fires Everywhere"), "As Pequenas Coisas da Vida" surpreende demais por quebrar nossa expectativa a cada episódio sem parecer estar perdendo o rumo. Veja, se inicialmente os conselhos de "Dear Sugar" podem parecer o elo entre a vida de Claire, do passado com o presente, é na dor da protagonista ao longo desse recorte temporal, nas suas imperfeições como ser humano e como tudo isso impactou em sua vida, que é onde a história ganha em profundidade. É claro que o conceito da narração em off ajuda a pontuar a trama quase como uma crônica, mas é lindo como a direção se aproveita do lúdico para dar sentido a tudo que é falado.
Com um elenco de peso que ainda conta com Merritt Wever como Frankie, a mãe de Clare, essa série original do Hulu vai mexer com suas emoções ao trazer temas que vão do amor incondicional à perda irreparável, passando pelos traumas familiares que exploram as complexidades e contradições da vida e das relações humanas em diversas camadas. Sim, “As Pequenas Coisas da Vida” é uma jornada de fato inspiradora, que mostra a importância de conexões autênticas e do amor verdadeiro para superar as adversidades e encontrar a felicidade, seja lá onde ela estiver - mas aviso: não será simples!
Vale muito o seu play!
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.
Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:
Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada
Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo.
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.
Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:
Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada
Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo.
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!
Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!
'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):
Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.
Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!
Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.
"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.
Vai na fé que vale muito o seu play!
Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!
'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):
Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.
Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!
Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.
"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.
Vai na fé que vale muito o seu play!
É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen!
"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!
De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando. O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!
Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos.
O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!
Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!
É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen!
"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!
De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando. O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!
Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos.
O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!
Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!
"Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1", minissérie do Hulu, é realmente imperdível para qualquer amante do automobilismo - especialmente para aqueles que contam os dias para a chegada de uma nova temporada de "Formula 1: Dirigir paraViver".Aqui, a produção dirigida por Daryl Goodrich (de "Ferrari: Rumo à Imortalidade") e produzida pelo astro do cinema, Keanu Reeves, conta a surpreendente história real da equipe Brawn GP, que conquistou o Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores da Fórmula 1 na temporada de 2009, contra todas as probabilidades possíveis e imagináveis! Sério, para quem conhece os bastidores da F1, fica fácil afirmar que se trata de verdadeiro conto de fadas esportivo, com todos os ingredientes necessários para emocionar e inspirar a audiência como um bom drama de superação. Olha, "Brawn" é um ótimo exemplo do significado de ser resiliente. Vai por mim!
Quando a crise de 2008 chega na fórmula 1 e provoca a aquisição da Honda pelo então diretor técnico da equipe, Ross Brawn, a recém batizada Brawn GP precisa se virar com um orçamento limitado, um tempo curto para desenvolver um novo carro, arranjar patrocínios, um motor, e assim competir em todas as provas de 2009 - o que além de tudo garantiria o emprego de centenas de pessoas em pleno período de recessão. A grande verdade é que a Brawn precisaria mesmo era de um milagre para se mostrar competitiva... e esse milagre acontece quando um de seus engenheiros descobre uma brecha inesperada nas novas regras da modalidade e assim ajuda a transformar o BGP 001 em um dos carros mais inovadores da história. Confira o trailer (em inglês):
Se "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" não tem aquela narrativa dinâmica e aquele belíssimo conceito visual cinematográficos da série da Netflix, pode ter certeza que Goodrich se vale de outros elementos primordiais para nos envolver com essa história: um host e um protagonista carismático, no caso Keanu Reeves e Ross Brawn, respectivamente, além de uma dupla de pilotos que é quase uma unanimidade entre seus parceiros, Jenson Button e Rubens Barrichello. Claro que a premissa "David x Golias" é importante, que as cenas de arquivo e encenações estão ótimas, mas a forma como o diretor consegue criar um ritmo envolvente e emocionante, mesmo pontuando passagens complicadas dos bastidores da Fórmula 1, é impressionante - eu diria que ele foi capaz de criar uma trama que se apoia no fator humano da jornada, da criatividade, mas sem esquecer dos embates políticos e esportivos de uma das temporadas mais marcantes desse esporte.
2009 trouxe algumas subtramas para a temporada que ajudam a minissérie, isso é inegável. A perspectiva sobre o mundo da Fórmula 1, mostrando os bastidores da competição e as dificuldades que as equipes enfrentaram naquele ano para vencer o duplo difusor da Brawn é só o inicio da conversa. Foi em 2009 que a mola do carro do Rubinho quase matou Felipe Massa. Foi nesse ano também que a FIA quase viu todas as equipes criarem um campeonato independente graças a relação ditatorial que Bernie Ecclestone e Max Mosley tinham com a categoria. Enfim, além do conto de fadas da Brawn e da improvável briga pelo título de Button e Barrichello, todos esses fatos transformam a narrativa de Goodrich em algo ainda mais interessante.
A BrawnGP foi a primeira equipe a vencer o campeonato de construtores com um carro que não foi fabricado por uma das grandes montadoras. Tinha um carro que no começo da temporada nem motor possuía. Tinha pilotos contratados apenas até a quarta etapa. Um orçamento 90% menor que suas maiores concorrentes. Enfim, "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" pode e deve ser enxergada muito além do esporte - sem dúvida que você vai encontrar uma jornada inspiradora sobre determinação, superação e... trabalho, muito trabalho!
Vale muito o seu play
"Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1", minissérie do Hulu, é realmente imperdível para qualquer amante do automobilismo - especialmente para aqueles que contam os dias para a chegada de uma nova temporada de "Formula 1: Dirigir paraViver".Aqui, a produção dirigida por Daryl Goodrich (de "Ferrari: Rumo à Imortalidade") e produzida pelo astro do cinema, Keanu Reeves, conta a surpreendente história real da equipe Brawn GP, que conquistou o Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores da Fórmula 1 na temporada de 2009, contra todas as probabilidades possíveis e imagináveis! Sério, para quem conhece os bastidores da F1, fica fácil afirmar que se trata de verdadeiro conto de fadas esportivo, com todos os ingredientes necessários para emocionar e inspirar a audiência como um bom drama de superação. Olha, "Brawn" é um ótimo exemplo do significado de ser resiliente. Vai por mim!
Quando a crise de 2008 chega na fórmula 1 e provoca a aquisição da Honda pelo então diretor técnico da equipe, Ross Brawn, a recém batizada Brawn GP precisa se virar com um orçamento limitado, um tempo curto para desenvolver um novo carro, arranjar patrocínios, um motor, e assim competir em todas as provas de 2009 - o que além de tudo garantiria o emprego de centenas de pessoas em pleno período de recessão. A grande verdade é que a Brawn precisaria mesmo era de um milagre para se mostrar competitiva... e esse milagre acontece quando um de seus engenheiros descobre uma brecha inesperada nas novas regras da modalidade e assim ajuda a transformar o BGP 001 em um dos carros mais inovadores da história. Confira o trailer (em inglês):
Se "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" não tem aquela narrativa dinâmica e aquele belíssimo conceito visual cinematográficos da série da Netflix, pode ter certeza que Goodrich se vale de outros elementos primordiais para nos envolver com essa história: um host e um protagonista carismático, no caso Keanu Reeves e Ross Brawn, respectivamente, além de uma dupla de pilotos que é quase uma unanimidade entre seus parceiros, Jenson Button e Rubens Barrichello. Claro que a premissa "David x Golias" é importante, que as cenas de arquivo e encenações estão ótimas, mas a forma como o diretor consegue criar um ritmo envolvente e emocionante, mesmo pontuando passagens complicadas dos bastidores da Fórmula 1, é impressionante - eu diria que ele foi capaz de criar uma trama que se apoia no fator humano da jornada, da criatividade, mas sem esquecer dos embates políticos e esportivos de uma das temporadas mais marcantes desse esporte.
2009 trouxe algumas subtramas para a temporada que ajudam a minissérie, isso é inegável. A perspectiva sobre o mundo da Fórmula 1, mostrando os bastidores da competição e as dificuldades que as equipes enfrentaram naquele ano para vencer o duplo difusor da Brawn é só o inicio da conversa. Foi em 2009 que a mola do carro do Rubinho quase matou Felipe Massa. Foi nesse ano também que a FIA quase viu todas as equipes criarem um campeonato independente graças a relação ditatorial que Bernie Ecclestone e Max Mosley tinham com a categoria. Enfim, além do conto de fadas da Brawn e da improvável briga pelo título de Button e Barrichello, todos esses fatos transformam a narrativa de Goodrich em algo ainda mais interessante.
A BrawnGP foi a primeira equipe a vencer o campeonato de construtores com um carro que não foi fabricado por uma das grandes montadoras. Tinha um carro que no começo da temporada nem motor possuía. Tinha pilotos contratados apenas até a quarta etapa. Um orçamento 90% menor que suas maiores concorrentes. Enfim, "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" pode e deve ser enxergada muito além do esporte - sem dúvida que você vai encontrar uma jornada inspiradora sobre determinação, superação e... trabalho, muito trabalho!
Vale muito o seu play
Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.
Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:
Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.
Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.
Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.
Vale muito a pena!
PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death" também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter.
Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.
Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:
Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.
Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.
Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.
Vale muito a pena!
PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death" também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter.
"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.
A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):
"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.
A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.
É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem.
Vale muito a pena!
Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!
"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.
A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):
"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.
A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.
É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem.
Vale muito a pena!
Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!
Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.
Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:
"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.
Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.
Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).
"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.
Vale muito a pena!
Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.
Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:
"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.
Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.
Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).
"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.
Vale muito a pena!
A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".
Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:
Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").
O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.
Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!
Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.
A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".
Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:
Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").
O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.
Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!
Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.
Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!
Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:
A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez) uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.
A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.
O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.
Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.
Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!
Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!
Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:
A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez) uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.
A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.
O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.
Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.
Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!
Poucos Estúdios tem a capacidade de gerar sequências tão boas ou melhores que o filme original quanto a Pixar/Disney - e por isso merece muitos elogios! "Divertidamente 2" é um filme para assistir sorrindo, até quando a emoção pede licença e toma conta da nossa alma por saber exatamente onde tocar - é lindo, de verdade! Essa aguardada sequência da aclamada animação de 2015 é dirigida por Kelsey Mann (de "O Bom Dinossauro") e mais uma vez explora as emoções humanas de um forma realmente encantadora e, claro, tocante. Nessa nova jornada, a história continua a acompanhar Riley, agora uma adolescente, e as mudanças emocionais e desafios que vêm com essa fase de transição - os simbolismos do roteiro, olha, são tão especiais quanto do primeiro filme, com o adicional de retratar uma fase que carrega a complexidade que é amadurecer.
Riley está entrando na adolescência, uma fase marcada por novas emoções e mudanças de perspectiva. Os personagens que representam as emoções (Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho) continuam a acompanhá-la, mas agora são introduzidas novas possibilidades com a Inveja, a Vergonha, o Tédio e a Ansiedade, refletindo a turbulência interna da adolescência. Essas emoções extras criam conflitos e dinâmicas inéditas, com as emoções antigas tentando entender e aceitar suas novas "colegas" no painel de controle da mente de Riley. Confira o trailer:
Kelsey Mann, que assume a direção deixada pelo lendário Pete Docter, mantém a essência do primeiro filme ao mesmo tempo em que expande o universo emocional de Riley. Mann trabalha com sutileza para que a história mantenha o equilíbrio entre a comédia e o drama, capturando os desafios e os momentos de descoberta típicos da adolescência. Ele consegue transmitir de forma inteligente como as emoções se tornam mais complexas e, em muitos momentos, contraditórias, explorando de maneira divertida como a mente precisa se adaptar (e rápido) às mudanças - bem ao estilo "a vida como ela é". O roteiro, assinado por Meg LeFauve (co-autora do primeiro filme), oferece uma narrativa que mistura tanto aventura quanto reflexão - repare como a introdução das novas emoções traz situações inesperadas e com muita semiótica, discute a necessidade de integração para assim lidar com a fase da adolescência. As interações entre as emoções são marcadas por momentos de humor e profundidade, criando uma conexão forte com a audiência, que se vê refletida nas inseguranças e nos desafios enfrentados por Riley - chega a dar um aperto no peito!
O design visual da mente de Riley é outro ponto alto da produção. As novas representações emocionais são visualmente criativas e refletem tanto a estética familiar do primeiro filme quanto um toque inovador que acompanha o amadurecimento da protagonista. A paleta de cores agora está mais rica e variada para refletir essa enxurrada de descobertas, mas sem esquecer de um tom levemente sombrio que surge com as cobranças sociais e intimas desse amadurecimento - aliás, esse contraste conceitual é tão bem desenvolvido e cheio de detalhes que vale a pena até assistir de novo para captar tantas nuances. A trilha sonora, responsabilidade de Andrea Datzman, também merece destaque - ela complementa a jornada emocional de forma muito eficaz, com melodias que variam entre leves e introspectivas, refletindo as flutuações de humor e as incertezas da adolescência. Veja, a música não apenas acompanha a ação, mas intensifica os momentos emocionais, oferecendo uma imersão ainda maior à experiência que é assistir "Divertidamente 2".
Aqui temos um filme que não hesita em explorar a complexidade que é crescer e como essas mudanças afetam a construção da identidade de Riley. Temas sensíveis e que merecem discussões mais profundas como insegurança, aceitação e a necessidade de equilibrar emoções conflitantes, são abordados de forma acessível e envolvente, tanto para a criançada quanto para os adultos - eu diria até que, como o primeiro, esse filme é mais para os pais do que para os filhos. "Divertidamente 2" mostra que, assim como na vida real, a mente é um espaço de adaptação constante, onde as emoções aprendem a conviver e a se ajustar para lidar com novos desafios. O fato é que essa continuação honra, e ainda expande, o legado de seu antecessor, oferecendo uma visão profunda e empática sobre as mudanças que todos nós enfrentamos ao longo da nossa jornada.
Lindo de ver e de viver - e se prepare, vem mais por aí! Imperdível!
Poucos Estúdios tem a capacidade de gerar sequências tão boas ou melhores que o filme original quanto a Pixar/Disney - e por isso merece muitos elogios! "Divertidamente 2" é um filme para assistir sorrindo, até quando a emoção pede licença e toma conta da nossa alma por saber exatamente onde tocar - é lindo, de verdade! Essa aguardada sequência da aclamada animação de 2015 é dirigida por Kelsey Mann (de "O Bom Dinossauro") e mais uma vez explora as emoções humanas de um forma realmente encantadora e, claro, tocante. Nessa nova jornada, a história continua a acompanhar Riley, agora uma adolescente, e as mudanças emocionais e desafios que vêm com essa fase de transição - os simbolismos do roteiro, olha, são tão especiais quanto do primeiro filme, com o adicional de retratar uma fase que carrega a complexidade que é amadurecer.
Riley está entrando na adolescência, uma fase marcada por novas emoções e mudanças de perspectiva. Os personagens que representam as emoções (Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho) continuam a acompanhá-la, mas agora são introduzidas novas possibilidades com a Inveja, a Vergonha, o Tédio e a Ansiedade, refletindo a turbulência interna da adolescência. Essas emoções extras criam conflitos e dinâmicas inéditas, com as emoções antigas tentando entender e aceitar suas novas "colegas" no painel de controle da mente de Riley. Confira o trailer:
Kelsey Mann, que assume a direção deixada pelo lendário Pete Docter, mantém a essência do primeiro filme ao mesmo tempo em que expande o universo emocional de Riley. Mann trabalha com sutileza para que a história mantenha o equilíbrio entre a comédia e o drama, capturando os desafios e os momentos de descoberta típicos da adolescência. Ele consegue transmitir de forma inteligente como as emoções se tornam mais complexas e, em muitos momentos, contraditórias, explorando de maneira divertida como a mente precisa se adaptar (e rápido) às mudanças - bem ao estilo "a vida como ela é". O roteiro, assinado por Meg LeFauve (co-autora do primeiro filme), oferece uma narrativa que mistura tanto aventura quanto reflexão - repare como a introdução das novas emoções traz situações inesperadas e com muita semiótica, discute a necessidade de integração para assim lidar com a fase da adolescência. As interações entre as emoções são marcadas por momentos de humor e profundidade, criando uma conexão forte com a audiência, que se vê refletida nas inseguranças e nos desafios enfrentados por Riley - chega a dar um aperto no peito!
O design visual da mente de Riley é outro ponto alto da produção. As novas representações emocionais são visualmente criativas e refletem tanto a estética familiar do primeiro filme quanto um toque inovador que acompanha o amadurecimento da protagonista. A paleta de cores agora está mais rica e variada para refletir essa enxurrada de descobertas, mas sem esquecer de um tom levemente sombrio que surge com as cobranças sociais e intimas desse amadurecimento - aliás, esse contraste conceitual é tão bem desenvolvido e cheio de detalhes que vale a pena até assistir de novo para captar tantas nuances. A trilha sonora, responsabilidade de Andrea Datzman, também merece destaque - ela complementa a jornada emocional de forma muito eficaz, com melodias que variam entre leves e introspectivas, refletindo as flutuações de humor e as incertezas da adolescência. Veja, a música não apenas acompanha a ação, mas intensifica os momentos emocionais, oferecendo uma imersão ainda maior à experiência que é assistir "Divertidamente 2".
Aqui temos um filme que não hesita em explorar a complexidade que é crescer e como essas mudanças afetam a construção da identidade de Riley. Temas sensíveis e que merecem discussões mais profundas como insegurança, aceitação e a necessidade de equilibrar emoções conflitantes, são abordados de forma acessível e envolvente, tanto para a criançada quanto para os adultos - eu diria até que, como o primeiro, esse filme é mais para os pais do que para os filhos. "Divertidamente 2" mostra que, assim como na vida real, a mente é um espaço de adaptação constante, onde as emoções aprendem a conviver e a se ajustar para lidar com novos desafios. O fato é que essa continuação honra, e ainda expande, o legado de seu antecessor, oferecendo uma visão profunda e empática sobre as mudanças que todos nós enfrentamos ao longo da nossa jornada.
Lindo de ver e de viver - e se prepare, vem mais por aí! Imperdível!
Essa minissérie vai mexer com suas emoções!
"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.
Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.
O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.
Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.
Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".
“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).
Vale muito o seu play!
Essa minissérie vai mexer com suas emoções!
"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.
Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.
O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.
Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.
Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".
“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).
Vale muito o seu play!
Muita gente criticou, mas eu me diverti muito assistindo "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" - mesmo entendendo a estratégia da Marvel como uma aposta complicada de realizar, já que a interdependência entre as produções vem se tornando cada vez mais latente. Por outro lado, o Estúdio vem dando uma liberdade (até surpreendente) para que os diretores imponham sua identidade ao ponto de transformar um gênero (bastante criticado por sua pasteurização) em algo cada vez mais autoral - e foi aí que Sam Raimi brilhou!
Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", após derrotar Dormammu e enfrentar Thanos nos eventos de "Vingadores: Ultimato", o Mago Supremo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), e seu parceiro Wong (Benedict Wong), continuam suas pesquisas sobre a Jóia do Tempo. Mas uma velha conhecida coloca um ponto final nos seus planos e faz com que Strange desencadeie um mal indescritível, o obrigando a enfrentar uma nova e poderosa ameaça. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar onde estamos nessa complicada (e cheia de detalhes) linha temporal do MCU. Mas que fique claro, nossa função aqui não é fazer estudo aprofundado de caso e sim posicionar a audiência menos especializada em um ótimo cenário de entretenimento onde estão os filmes de heróis. Pois bem, em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", o Dr. Stephen Strange tenta ajudar Peter Parker, que teve sua identidade revelada em "Longe de Casa", com um feitiço que acaba dando errado, criando uma certa, digamos, confusão através de vários Universos. Mas não é só isso, toda uma preparação foi criada com as séries do Disney+, "WandaVision", "Loki" e, especialmente "What if...?", que se conectam diretamente com o filme, trazendo uma sensação de complementariedade para quem assistiu e de alguma confusão para quem não assistiu.
Em "What If…?", mais especificamente no 4º episódio (embora tenhamos outras referências da série no filme), há um Stephen Strange diferente que acaba enlouquecendo. Em “E se… O Doutor Estranho perdesse o coração em vez das mãos?”, uma realidade inteira é destruída após uma sequência desastrosa de atitudes precipitadas do personagem, após a morte do amor de sua vida, Christine Palmer (Rachel McAdams), em um acidente. Seguindo essa linha narrativa, o roteirista Michael Waldron (não por coincidência, o mesmo de "Loki") se esforça ao máximo para conectar as pontas sem a necessidade de explicações muito elaboradas e, na minha opinião, ele não é tão bem sucedido - não por culpa dele, mas pela aposta da Marvel de que todos que assistem seus filmes, também assistem suas séries e estão interessados em mergulhar muito fundo naquele universo que ela vem criando.
Isoladamente, o filme continua muito divertido, com excelentes sequências de ação e um toque magistral de Raimi que traz vários elementos de terror e suspense, variando a gramática cinematográfica entre diferentes subgêneros, que vai do slasher ao psicológico, pontuando a violência gráfica sem a necessidade de impactar com "sangue" - o que interferiria diretamente na classificação do filme. Elizabeth Olsen é outro grande destaque - ela transita brilhantemente entre a doçura de Wanda e a crueldade da Feiticeira Escarlate, enquanto Benedict Cumberbatch se afasta do piadista do primeiro filme e nos apresenta seu lado infeliz, amargurado, arrependido e, ao mesmo tempo, egoísta (muito do que vimos em "What If…?", inclusive)
Em um filme que se aproveita do equilíbrio conseguido em "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis", onde os ótimos efeitos em CGI estão completamente alinhados ao caráter mais místico das artes marciais, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", acaba sendo um delicioso espetáculo visual digno de um personagem que finalmente parece ter encontrado o seu tom e uma história consistente para contar. Palmas para Sam Raimi!
Muita gente criticou, mas eu me diverti muito assistindo "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" - mesmo entendendo a estratégia da Marvel como uma aposta complicada de realizar, já que a interdependência entre as produções vem se tornando cada vez mais latente. Por outro lado, o Estúdio vem dando uma liberdade (até surpreendente) para que os diretores imponham sua identidade ao ponto de transformar um gênero (bastante criticado por sua pasteurização) em algo cada vez mais autoral - e foi aí que Sam Raimi brilhou!
Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", após derrotar Dormammu e enfrentar Thanos nos eventos de "Vingadores: Ultimato", o Mago Supremo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), e seu parceiro Wong (Benedict Wong), continuam suas pesquisas sobre a Jóia do Tempo. Mas uma velha conhecida coloca um ponto final nos seus planos e faz com que Strange desencadeie um mal indescritível, o obrigando a enfrentar uma nova e poderosa ameaça. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar onde estamos nessa complicada (e cheia de detalhes) linha temporal do MCU. Mas que fique claro, nossa função aqui não é fazer estudo aprofundado de caso e sim posicionar a audiência menos especializada em um ótimo cenário de entretenimento onde estão os filmes de heróis. Pois bem, em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", o Dr. Stephen Strange tenta ajudar Peter Parker, que teve sua identidade revelada em "Longe de Casa", com um feitiço que acaba dando errado, criando uma certa, digamos, confusão através de vários Universos. Mas não é só isso, toda uma preparação foi criada com as séries do Disney+, "WandaVision", "Loki" e, especialmente "What if...?", que se conectam diretamente com o filme, trazendo uma sensação de complementariedade para quem assistiu e de alguma confusão para quem não assistiu.
Em "What If…?", mais especificamente no 4º episódio (embora tenhamos outras referências da série no filme), há um Stephen Strange diferente que acaba enlouquecendo. Em “E se… O Doutor Estranho perdesse o coração em vez das mãos?”, uma realidade inteira é destruída após uma sequência desastrosa de atitudes precipitadas do personagem, após a morte do amor de sua vida, Christine Palmer (Rachel McAdams), em um acidente. Seguindo essa linha narrativa, o roteirista Michael Waldron (não por coincidência, o mesmo de "Loki") se esforça ao máximo para conectar as pontas sem a necessidade de explicações muito elaboradas e, na minha opinião, ele não é tão bem sucedido - não por culpa dele, mas pela aposta da Marvel de que todos que assistem seus filmes, também assistem suas séries e estão interessados em mergulhar muito fundo naquele universo que ela vem criando.
Isoladamente, o filme continua muito divertido, com excelentes sequências de ação e um toque magistral de Raimi que traz vários elementos de terror e suspense, variando a gramática cinematográfica entre diferentes subgêneros, que vai do slasher ao psicológico, pontuando a violência gráfica sem a necessidade de impactar com "sangue" - o que interferiria diretamente na classificação do filme. Elizabeth Olsen é outro grande destaque - ela transita brilhantemente entre a doçura de Wanda e a crueldade da Feiticeira Escarlate, enquanto Benedict Cumberbatch se afasta do piadista do primeiro filme e nos apresenta seu lado infeliz, amargurado, arrependido e, ao mesmo tempo, egoísta (muito do que vimos em "What If…?", inclusive)
Em um filme que se aproveita do equilíbrio conseguido em "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis", onde os ótimos efeitos em CGI estão completamente alinhados ao caráter mais místico das artes marciais, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", acaba sendo um delicioso espetáculo visual digno de um personagem que finalmente parece ter encontrado o seu tom e uma história consistente para contar. Palmas para Sam Raimi!
Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!
Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia!
Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!!
Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.
PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!!
Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!
Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia!
Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!!
Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.
PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!!
Lindo e leve como uma animação da Pixar deve ser, mas é preciso que se diga: fica a impressão que faltou alguma coisa! Calma, esse "mas" não impacta em absolutamente nada nossa experiência como audiência se olharmos para o filme isoladamente - o grande problema é justamente quando olhamos para trás e o comparamos com "Divertidamente", por exemplo, já que o conceito narrativo dos dois filmes é muito próximo. De cara, é preciso elogiar a criação do universo de Element City e a forma como o diretor Peter Sohn (de "O Bom Dinossauro") transforma os elementos (fogo, água, terra, ar) em personagens tão simpáticos, no entanto, e tirando a relação entre os protagonistas Faísca (fogo) e Gota (água), parece que falta desenvolvimento para que todos tenham uma importância, de fato, essencial para a história - um detalhe que já pareceu ter sido mais bem cuidado pelo Estúdio.
Na cidade de "Elementos", todos vivem em harmonia desde que respeitem a regra de não se misturar. No entanto, há alguns anos, os pais de Faísca chegaram ao local, como imigrantes, lutando por uma vida melhor. Aos poucos, montaram uma loja e conseguiram sustentar a filha única, que agora deve seguir os passos do pai na administração do negócio de família, porém uma amizade improvável coloca todas as relações daquele universo em uma outra perspectiva. Confira o trailer:
É perceptível nos olhos atentos da audiência o quanto a premissa de "Elementos" soa original e criativa - funcionando como potencial gatilho para que as brechas do roteiro nem ao menos sejam percebidas. A ideia de explorar as relações entre os elementos que vivem em harmonia, mas soam preconceituosos entre eles, é fascinante e abre espaço para uma série de metáforas e reflexões das mais interessantes - ao assistirmos com nossos pequenos, a sensação de estarmos mostrando a realidade e como é importante transforma-la em algo melhor, é realmente potente.
A história escrita por 3 roteiristas (John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh) que nunca trabalharam antes com animações e que possuem uma carreira na televisão, em séries de comédia, ajuda a criar uma fluidez interessante para a narrativa - ela é bem contada e envolvente, com personagens carismáticos e um desenvolvimento emocional sincero, mas que não se apega a tantos detalhes. Veja, o ponto alto do filme parece ser uma linha temática que discute a imigração e as relações sociais entre indivíduos de diferentes raças. Essa abordagem ganha uma representação encantadora na forma gráfica de uma cidade, com bairros completamente diferentes e uma interação igualmente distinta entre os elementos e os espaços urbanos - algo como a mente da garotinha de onze anos, Riley, que ao ser guiada por suas Emoções (Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza) conectava elementos diferentes em um mesmo universo. A grande diferença, no entanto, é o valor dos detalhes que em "Divertidamente" fazia muito mais sentido, tudo tinha uma razão de ser e o impacto nos personagens - isso, inclusive, criava uma "identificação" com um público maior.
Sinceramente acho que "Elementos" é o tipo da animação que vai agradar a todos, mas vai impactar mais alguns perfis de audiência. Como obra, tem uma história divertida e emocionante (especialmente se você já tiver filhos) que tem muito a dizer sobre aceitação e diversidade. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é brilhante, com músicas que sabem exatamente onde nos tocar, e o visual, olha, sensacional - quebrando aquele principio que soava como o maior desafio dos animadores: o de replicar a complexidade da água e do fogo em CGI sem parecer papel celofane se mexendo. Lindo de ver!
Vale seu play!
Lindo e leve como uma animação da Pixar deve ser, mas é preciso que se diga: fica a impressão que faltou alguma coisa! Calma, esse "mas" não impacta em absolutamente nada nossa experiência como audiência se olharmos para o filme isoladamente - o grande problema é justamente quando olhamos para trás e o comparamos com "Divertidamente", por exemplo, já que o conceito narrativo dos dois filmes é muito próximo. De cara, é preciso elogiar a criação do universo de Element City e a forma como o diretor Peter Sohn (de "O Bom Dinossauro") transforma os elementos (fogo, água, terra, ar) em personagens tão simpáticos, no entanto, e tirando a relação entre os protagonistas Faísca (fogo) e Gota (água), parece que falta desenvolvimento para que todos tenham uma importância, de fato, essencial para a história - um detalhe que já pareceu ter sido mais bem cuidado pelo Estúdio.
Na cidade de "Elementos", todos vivem em harmonia desde que respeitem a regra de não se misturar. No entanto, há alguns anos, os pais de Faísca chegaram ao local, como imigrantes, lutando por uma vida melhor. Aos poucos, montaram uma loja e conseguiram sustentar a filha única, que agora deve seguir os passos do pai na administração do negócio de família, porém uma amizade improvável coloca todas as relações daquele universo em uma outra perspectiva. Confira o trailer:
É perceptível nos olhos atentos da audiência o quanto a premissa de "Elementos" soa original e criativa - funcionando como potencial gatilho para que as brechas do roteiro nem ao menos sejam percebidas. A ideia de explorar as relações entre os elementos que vivem em harmonia, mas soam preconceituosos entre eles, é fascinante e abre espaço para uma série de metáforas e reflexões das mais interessantes - ao assistirmos com nossos pequenos, a sensação de estarmos mostrando a realidade e como é importante transforma-la em algo melhor, é realmente potente.
A história escrita por 3 roteiristas (John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh) que nunca trabalharam antes com animações e que possuem uma carreira na televisão, em séries de comédia, ajuda a criar uma fluidez interessante para a narrativa - ela é bem contada e envolvente, com personagens carismáticos e um desenvolvimento emocional sincero, mas que não se apega a tantos detalhes. Veja, o ponto alto do filme parece ser uma linha temática que discute a imigração e as relações sociais entre indivíduos de diferentes raças. Essa abordagem ganha uma representação encantadora na forma gráfica de uma cidade, com bairros completamente diferentes e uma interação igualmente distinta entre os elementos e os espaços urbanos - algo como a mente da garotinha de onze anos, Riley, que ao ser guiada por suas Emoções (Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza) conectava elementos diferentes em um mesmo universo. A grande diferença, no entanto, é o valor dos detalhes que em "Divertidamente" fazia muito mais sentido, tudo tinha uma razão de ser e o impacto nos personagens - isso, inclusive, criava uma "identificação" com um público maior.
Sinceramente acho que "Elementos" é o tipo da animação que vai agradar a todos, mas vai impactar mais alguns perfis de audiência. Como obra, tem uma história divertida e emocionante (especialmente se você já tiver filhos) que tem muito a dizer sobre aceitação e diversidade. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é brilhante, com músicas que sabem exatamente onde nos tocar, e o visual, olha, sensacional - quebrando aquele principio que soava como o maior desafio dos animadores: o de replicar a complexidade da água e do fogo em CGI sem parecer papel celofane se mexendo. Lindo de ver!
Vale seu play!
"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.
Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):
Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?
"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.
Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".
Dito isso, é fácil imaginar que "Em Nome do Céu" não agradará a todos por sua "forma", mas também pelo seu "conteúdo"; por outro lado é impossível não elogiar a qualidade técnica e artística da produção, com uma edição muito criativa que realmente ajuda a trama sair do lugar comum.
Vale o seu play, mas não espere uma jornada simples e muito menos usual.
"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.
Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):
Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?
"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.
Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".
Dito isso, é fácil imaginar que "Em Nome do Céu" não agradará a todos por sua "forma", mas também pelo seu "conteúdo"; por outro lado é impossível não elogiar a qualidade técnica e artística da produção, com uma edição muito criativa que realmente ajuda a trama sair do lugar comum.
Vale o seu play, mas não espere uma jornada simples e muito menos usual.
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!