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Bem-Vindos ao Clube da Sedução

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.

Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:

Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada

Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo. 

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!

Assista Agora

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.

Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:

Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada

Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo. 

"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!

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Better Things

Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

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Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!

'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):

Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.

Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!

Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.

"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.

Vai na fé que vale muito o seu play!

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Bohemian Rhapsody

É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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Brawn

"Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1", minissérie do Hulu, é realmente imperdível para qualquer amante do automobilismo - especialmente para aqueles que contam os dias para a chegada de uma nova temporada de "Formula 1: Dirigir paraViver".Aqui, a produção dirigida por Daryl Goodrich (de "Ferrari: Rumo à Imortalidade") e produzida pelo astro do cinema, Keanu Reeves, conta a surpreendente história real da equipe Brawn GP, que conquistou o Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores da Fórmula 1 na temporada de 2009, contra todas as probabilidades possíveis e imagináveis! Sério, para quem conhece os bastidores da F1, fica fácil afirmar que se trata de verdadeiro conto de fadas esportivo, com todos os ingredientes necessários para emocionar e inspirar a audiência como um bom drama de superação. Olha, "Brawn" é um ótimo exemplo do significado de ser resiliente. Vai por mim!

Quando a crise de 2008 chega na fórmula 1 e provoca a aquisição da Honda pelo então diretor técnico da equipe, Ross Brawn, a recém batizada Brawn GP precisa se virar com um orçamento limitado, um tempo curto para desenvolver um novo carro, arranjar patrocínios, um motor, e assim competir em todas as provas de 2009 - o que além de tudo garantiria o emprego de centenas de pessoas em pleno período de recessão. A grande verdade é que a Brawn precisaria mesmo era de um milagre para se mostrar competitiva... e esse milagre acontece quando um de seus engenheiros descobre uma brecha inesperada nas novas regras da modalidade e assim ajuda a transformar o BGP 001 em um dos carros mais inovadores da história. Confira o trailer (em inglês):

Se "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" não tem aquela narrativa dinâmica e aquele belíssimo conceito visual cinematográficos da série da Netflix, pode ter certeza que Goodrich se vale de outros elementos primordiais para nos envolver com essa história: um host e um protagonista carismático, no caso Keanu Reeves e Ross Brawn, respectivamente, além de uma dupla de pilotos que é quase uma unanimidade entre seus parceiros, Jenson Button e Rubens Barrichello. Claro que a premissa "David x Golias" é importante, que as cenas de arquivo e encenações estão ótimas, mas a forma como o diretor consegue criar um ritmo envolvente e emocionante, mesmo pontuando passagens complicadas dos bastidores da Fórmula 1, é impressionante - eu diria que ele foi capaz de criar uma trama que se apoia no fator humano da jornada, da criatividade, mas sem esquecer dos embates políticos e esportivos de uma das temporadas mais marcantes desse esporte.

2009 trouxe algumas subtramas para a temporada que ajudam a minissérie, isso é inegável. A perspectiva sobre o mundo da Fórmula 1, mostrando os bastidores da competição e as dificuldades que as equipes enfrentaram naquele ano para vencer o duplo difusor da Brawn é só o inicio da conversa. Foi em 2009 que a mola do carro do Rubinho quase matou Felipe Massa. Foi nesse ano também que a FIA quase viu todas as equipes criarem um campeonato independente graças a relação ditatorial que Bernie Ecclestone e Max Mosley tinham com a categoria. Enfim, além do conto de fadas da Brawn e da improvável briga pelo título de Button e Barrichello, todos esses fatos transformam a narrativa de Goodrich em algo ainda mais interessante.

A BrawnGP foi a primeira equipe a vencer o campeonato de construtores com um carro que não foi fabricado por uma das grandes montadoras. Tinha um carro que no começo da temporada nem motor possuía. Tinha pilotos contratados apenas até a quarta etapa. Um orçamento 90% menor que suas maiores concorrentes. Enfim, "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" pode e deve ser enxergada muito além do esporte - sem dúvida que você vai encontrar uma jornada inspiradora sobre determinação, superação e... trabalho, muito trabalho!

Vale muito o seu play

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"Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1", minissérie do Hulu, é realmente imperdível para qualquer amante do automobilismo - especialmente para aqueles que contam os dias para a chegada de uma nova temporada de "Formula 1: Dirigir paraViver".Aqui, a produção dirigida por Daryl Goodrich (de "Ferrari: Rumo à Imortalidade") e produzida pelo astro do cinema, Keanu Reeves, conta a surpreendente história real da equipe Brawn GP, que conquistou o Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores da Fórmula 1 na temporada de 2009, contra todas as probabilidades possíveis e imagináveis! Sério, para quem conhece os bastidores da F1, fica fácil afirmar que se trata de verdadeiro conto de fadas esportivo, com todos os ingredientes necessários para emocionar e inspirar a audiência como um bom drama de superação. Olha, "Brawn" é um ótimo exemplo do significado de ser resiliente. Vai por mim!

Quando a crise de 2008 chega na fórmula 1 e provoca a aquisição da Honda pelo então diretor técnico da equipe, Ross Brawn, a recém batizada Brawn GP precisa se virar com um orçamento limitado, um tempo curto para desenvolver um novo carro, arranjar patrocínios, um motor, e assim competir em todas as provas de 2009 - o que além de tudo garantiria o emprego de centenas de pessoas em pleno período de recessão. A grande verdade é que a Brawn precisaria mesmo era de um milagre para se mostrar competitiva... e esse milagre acontece quando um de seus engenheiros descobre uma brecha inesperada nas novas regras da modalidade e assim ajuda a transformar o BGP 001 em um dos carros mais inovadores da história. Confira o trailer (em inglês):

Se "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" não tem aquela narrativa dinâmica e aquele belíssimo conceito visual cinematográficos da série da Netflix, pode ter certeza que Goodrich se vale de outros elementos primordiais para nos envolver com essa história: um host e um protagonista carismático, no caso Keanu Reeves e Ross Brawn, respectivamente, além de uma dupla de pilotos que é quase uma unanimidade entre seus parceiros, Jenson Button e Rubens Barrichello. Claro que a premissa "David x Golias" é importante, que as cenas de arquivo e encenações estão ótimas, mas a forma como o diretor consegue criar um ritmo envolvente e emocionante, mesmo pontuando passagens complicadas dos bastidores da Fórmula 1, é impressionante - eu diria que ele foi capaz de criar uma trama que se apoia no fator humano da jornada, da criatividade, mas sem esquecer dos embates políticos e esportivos de uma das temporadas mais marcantes desse esporte.

2009 trouxe algumas subtramas para a temporada que ajudam a minissérie, isso é inegável. A perspectiva sobre o mundo da Fórmula 1, mostrando os bastidores da competição e as dificuldades que as equipes enfrentaram naquele ano para vencer o duplo difusor da Brawn é só o inicio da conversa. Foi em 2009 que a mola do carro do Rubinho quase matou Felipe Massa. Foi nesse ano também que a FIA quase viu todas as equipes criarem um campeonato independente graças a relação ditatorial que Bernie Ecclestone e Max Mosley tinham com a categoria. Enfim, além do conto de fadas da Brawn e da improvável briga pelo título de Button e Barrichello, todos esses fatos transformam a narrativa de Goodrich em algo ainda mais interessante.

A BrawnGP foi a primeira equipe a vencer o campeonato de construtores com um carro que não foi fabricado por uma das grandes montadoras. Tinha um carro que no começo da temporada nem motor possuía. Tinha pilotos contratados apenas até a quarta etapa. Um orçamento 90% menor que suas maiores concorrentes. Enfim, "Brawn: Uma História Incrível da Fórmula 1" pode e deve ser enxergada muito além do esporte - sem dúvida que você vai encontrar uma jornada inspiradora sobre determinação, superação e... trabalho, muito trabalho!

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Candy

Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Cisne Negro

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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Concorrência Oficial

Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

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Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

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Cruella

A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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Devs

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

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Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

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Dopesick

Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

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Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Muita gente criticou, mas eu me diverti muito assistindo "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" - mesmo entendendo a estratégia da Marvel como uma aposta complicada de realizar, já que a interdependência entre as produções vem se tornando cada vez mais latente. Por outro lado, o Estúdio vem dando uma liberdade (até surpreendente) para que os diretores imponham sua identidade ao ponto de transformar um gênero (bastante criticado por sua pasteurização) em algo cada vez mais autoral - e foi aí que Sam Raimi brilhou!

Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", após derrotar Dormammu e enfrentar Thanos nos eventos de "Vingadores: Ultimato", o Mago Supremo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), e seu parceiro Wong (Benedict Wong), continuam suas pesquisas sobre a Jóia do Tempo. Mas uma velha conhecida coloca um ponto final nos seus planos e faz com que Strange desencadeie um mal indescritível, o obrigando a enfrentar uma nova e poderosa ameaça. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso contextualizar onde estamos nessa complicada (e cheia de detalhes) linha temporal do MCU. Mas que fique claro, nossa função aqui não é fazer estudo aprofundado de caso e sim posicionar a audiência menos especializada em um ótimo cenário de entretenimento onde estão os filmes de heróis. Pois bem, em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", o Dr. Stephen Strange tenta ajudar Peter Parker, que teve sua identidade revelada em "Longe de Casa", com um feitiço que acaba dando errado, criando uma certa, digamos, confusão através de vários Universos. Mas não é só isso, toda uma preparação foi criada com as séries do Disney+, "WandaVision", "Loki" e, especialmente "What if...?", que se conectam diretamente com o filme, trazendo uma sensação de complementariedade para quem assistiu e de alguma confusão para quem não assistiu.

Em "What If…?", mais especificamente no 4º episódio (embora tenhamos outras referências da série no filme), há um Stephen Strange diferente que acaba enlouquecendo. Em “E se… O Doutor Estranho perdesse o coração em vez das mãos?”, uma realidade inteira é destruída após uma sequência desastrosa de atitudes precipitadas do personagem, após a morte do amor de sua vida, Christine Palmer (Rachel McAdams), em um acidente. Seguindo essa linha narrativa, o roteirista Michael Waldron (não por coincidência, o mesmo de "Loki") se esforça ao máximo para conectar as pontas sem a necessidade de explicações muito elaboradas e, na minha opinião, ele não é tão bem sucedido - não por culpa dele, mas pela aposta da Marvel de que todos que assistem seus filmes, também assistem suas séries e estão interessados em mergulhar muito fundo naquele universo que ela vem criando.

Isoladamente, o filme continua muito divertido, com excelentes sequências de ação e um toque magistral de Raimi que traz vários elementos de terror e suspense, variando a gramática cinematográfica entre diferentes subgêneros, que vai do slasher ao psicológico, pontuando a violência gráfica sem a necessidade de impactar com "sangue" - o que interferiria diretamente na classificação do filme. Elizabeth Olsen é outro grande destaque - ela transita brilhantemente entre a doçura de Wanda e a crueldade da Feiticeira Escarlate, enquanto Benedict Cumberbatch se afasta do piadista do primeiro filme e nos apresenta seu lado infeliz, amargurado, arrependido e, ao mesmo tempo, egoísta (muito do que vimos em "What If…?", inclusive)

Em um filme que se aproveita do equilíbrio conseguido em "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis", onde os ótimos efeitos em CGI estão completamente alinhados ao caráter mais místico das artes marciais, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", acaba sendo um delicioso espetáculo visual digno de um personagem que finalmente parece ter encontrado o seu tom e uma história consistente para contar. Palmas para Sam Raimi!

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Muita gente criticou, mas eu me diverti muito assistindo "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" - mesmo entendendo a estratégia da Marvel como uma aposta complicada de realizar, já que a interdependência entre as produções vem se tornando cada vez mais latente. Por outro lado, o Estúdio vem dando uma liberdade (até surpreendente) para que os diretores imponham sua identidade ao ponto de transformar um gênero (bastante criticado por sua pasteurização) em algo cada vez mais autoral - e foi aí que Sam Raimi brilhou!

Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", após derrotar Dormammu e enfrentar Thanos nos eventos de "Vingadores: Ultimato", o Mago Supremo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), e seu parceiro Wong (Benedict Wong), continuam suas pesquisas sobre a Jóia do Tempo. Mas uma velha conhecida coloca um ponto final nos seus planos e faz com que Strange desencadeie um mal indescritível, o obrigando a enfrentar uma nova e poderosa ameaça. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso contextualizar onde estamos nessa complicada (e cheia de detalhes) linha temporal do MCU. Mas que fique claro, nossa função aqui não é fazer estudo aprofundado de caso e sim posicionar a audiência menos especializada em um ótimo cenário de entretenimento onde estão os filmes de heróis. Pois bem, em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", o Dr. Stephen Strange tenta ajudar Peter Parker, que teve sua identidade revelada em "Longe de Casa", com um feitiço que acaba dando errado, criando uma certa, digamos, confusão através de vários Universos. Mas não é só isso, toda uma preparação foi criada com as séries do Disney+, "WandaVision", "Loki" e, especialmente "What if...?", que se conectam diretamente com o filme, trazendo uma sensação de complementariedade para quem assistiu e de alguma confusão para quem não assistiu.

Em "What If…?", mais especificamente no 4º episódio (embora tenhamos outras referências da série no filme), há um Stephen Strange diferente que acaba enlouquecendo. Em “E se… O Doutor Estranho perdesse o coração em vez das mãos?”, uma realidade inteira é destruída após uma sequência desastrosa de atitudes precipitadas do personagem, após a morte do amor de sua vida, Christine Palmer (Rachel McAdams), em um acidente. Seguindo essa linha narrativa, o roteirista Michael Waldron (não por coincidência, o mesmo de "Loki") se esforça ao máximo para conectar as pontas sem a necessidade de explicações muito elaboradas e, na minha opinião, ele não é tão bem sucedido - não por culpa dele, mas pela aposta da Marvel de que todos que assistem seus filmes, também assistem suas séries e estão interessados em mergulhar muito fundo naquele universo que ela vem criando.

Isoladamente, o filme continua muito divertido, com excelentes sequências de ação e um toque magistral de Raimi que traz vários elementos de terror e suspense, variando a gramática cinematográfica entre diferentes subgêneros, que vai do slasher ao psicológico, pontuando a violência gráfica sem a necessidade de impactar com "sangue" - o que interferiria diretamente na classificação do filme. Elizabeth Olsen é outro grande destaque - ela transita brilhantemente entre a doçura de Wanda e a crueldade da Feiticeira Escarlate, enquanto Benedict Cumberbatch se afasta do piadista do primeiro filme e nos apresenta seu lado infeliz, amargurado, arrependido e, ao mesmo tempo, egoísta (muito do que vimos em "What If…?", inclusive)

Em um filme que se aproveita do equilíbrio conseguido em "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis", onde os ótimos efeitos em CGI estão completamente alinhados ao caráter mais místico das artes marciais, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", acaba sendo um delicioso espetáculo visual digno de um personagem que finalmente parece ter encontrado o seu tom e uma história consistente para contar. Palmas para Sam Raimi!

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Dumbo

Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!

Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia! 

Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!! 

Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.

PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!! 

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Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!

Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia! 

Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!! 

Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.

PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!! 

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Elementos

Lindo e leve como uma animação da Pixar deve ser, mas é preciso que se diga: fica a impressão que faltou alguma coisa! Calma, esse "mas" não impacta em absolutamente nada nossa experiência como audiência se olharmos para o filme isoladamente - o grande problema é justamente quando olhamos para trás e o comparamos com "Divertidamente", por exemplo, já que o conceito narrativo dos dois filmes é muito próximo. De cara, é preciso elogiar a criação do universo de Element City e a forma como o diretor Peter Sohn (de "O Bom Dinossauro") transforma os elementos (fogo, água, terra, ar) em personagens tão simpáticos, no entanto, e tirando a relação entre os protagonistas Faísca (fogo) e Gota (água), parece que falta desenvolvimento para que todos tenham uma importância, de fato, essencial para a história - um detalhe que já pareceu ter sido mais bem cuidado pelo Estúdio.

Na cidade de "Elementos", todos vivem em harmonia desde que respeitem a regra de não se misturar. No entanto, há alguns anos, os pais de Faísca chegaram ao local, como imigrantes, lutando por uma vida melhor. Aos poucos, montaram uma loja e conseguiram sustentar a filha única, que agora deve seguir os passos do pai na administração do negócio de família, porém uma amizade improvável coloca todas as relações daquele universo em uma outra perspectiva. Confira o trailer:

É perceptível nos olhos atentos da audiência o quanto a premissa de "Elementos" soa original e criativa - funcionando como potencial gatilho para que as brechas do roteiro nem ao menos sejam percebidas. A ideia de explorar as relações entre os elementos que vivem em harmonia, mas soam preconceituosos entre eles, é fascinante e abre espaço para uma série de metáforas e reflexões das mais interessantes - ao assistirmos com nossos pequenos, a sensação de estarmos mostrando a realidade e como é importante transforma-la em algo melhor, é realmente potente.

A história escrita por 3 roteiristas (John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh) que nunca trabalharam antes com animações e que possuem uma carreira na televisão, em séries de comédia, ajuda a criar uma fluidez interessante para a narrativa - ela é bem contada e envolvente, com personagens carismáticos e um desenvolvimento emocional sincero, mas que não se apega a tantos detalhes. Veja, o ponto alto do filme parece ser uma linha temática que discute a imigração e as relações sociais entre indivíduos de diferentes raças. Essa abordagem ganha uma representação encantadora na forma gráfica de uma cidade, com bairros completamente diferentes e uma interação igualmente distinta entre os elementos e os espaços urbanos - algo como a mente da garotinha de onze anos, Riley, que ao ser guiada por suas Emoções (Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza) conectava elementos diferentes em um mesmo universo. A grande diferença, no entanto, é o valor dos detalhes que em  "Divertidamente" fazia muito mais sentido, tudo tinha uma razão de ser e o impacto nos personagens - isso, inclusive, criava uma "identificação" com um público maior.

Sinceramente acho que "Elementos" é o tipo da animação que vai agradar a todos, mas vai impactar mais alguns perfis de audiência. Como obra, tem uma história divertida e emocionante (especialmente se você já tiver filhos) que tem muito a dizer sobre aceitação e diversidade. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é brilhante, com músicas que sabem exatamente onde nos tocar, e o visual, olha, sensacional - quebrando aquele principio que soava como o maior desafio dos animadores: o de replicar a complexidade da água e do fogo em CGI sem parecer papel celofane se mexendo. Lindo de ver!

Vale seu play!

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Lindo e leve como uma animação da Pixar deve ser, mas é preciso que se diga: fica a impressão que faltou alguma coisa! Calma, esse "mas" não impacta em absolutamente nada nossa experiência como audiência se olharmos para o filme isoladamente - o grande problema é justamente quando olhamos para trás e o comparamos com "Divertidamente", por exemplo, já que o conceito narrativo dos dois filmes é muito próximo. De cara, é preciso elogiar a criação do universo de Element City e a forma como o diretor Peter Sohn (de "O Bom Dinossauro") transforma os elementos (fogo, água, terra, ar) em personagens tão simpáticos, no entanto, e tirando a relação entre os protagonistas Faísca (fogo) e Gota (água), parece que falta desenvolvimento para que todos tenham uma importância, de fato, essencial para a história - um detalhe que já pareceu ter sido mais bem cuidado pelo Estúdio.

Na cidade de "Elementos", todos vivem em harmonia desde que respeitem a regra de não se misturar. No entanto, há alguns anos, os pais de Faísca chegaram ao local, como imigrantes, lutando por uma vida melhor. Aos poucos, montaram uma loja e conseguiram sustentar a filha única, que agora deve seguir os passos do pai na administração do negócio de família, porém uma amizade improvável coloca todas as relações daquele universo em uma outra perspectiva. Confira o trailer:

É perceptível nos olhos atentos da audiência o quanto a premissa de "Elementos" soa original e criativa - funcionando como potencial gatilho para que as brechas do roteiro nem ao menos sejam percebidas. A ideia de explorar as relações entre os elementos que vivem em harmonia, mas soam preconceituosos entre eles, é fascinante e abre espaço para uma série de metáforas e reflexões das mais interessantes - ao assistirmos com nossos pequenos, a sensação de estarmos mostrando a realidade e como é importante transforma-la em algo melhor, é realmente potente.

A história escrita por 3 roteiristas (John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh) que nunca trabalharam antes com animações e que possuem uma carreira na televisão, em séries de comédia, ajuda a criar uma fluidez interessante para a narrativa - ela é bem contada e envolvente, com personagens carismáticos e um desenvolvimento emocional sincero, mas que não se apega a tantos detalhes. Veja, o ponto alto do filme parece ser uma linha temática que discute a imigração e as relações sociais entre indivíduos de diferentes raças. Essa abordagem ganha uma representação encantadora na forma gráfica de uma cidade, com bairros completamente diferentes e uma interação igualmente distinta entre os elementos e os espaços urbanos - algo como a mente da garotinha de onze anos, Riley, que ao ser guiada por suas Emoções (Alegria, Nojinho, Medo, Raiva e Tristeza) conectava elementos diferentes em um mesmo universo. A grande diferença, no entanto, é o valor dos detalhes que em  "Divertidamente" fazia muito mais sentido, tudo tinha uma razão de ser e o impacto nos personagens - isso, inclusive, criava uma "identificação" com um público maior.

Sinceramente acho que "Elementos" é o tipo da animação que vai agradar a todos, mas vai impactar mais alguns perfis de audiência. Como obra, tem uma história divertida e emocionante (especialmente se você já tiver filhos) que tem muito a dizer sobre aceitação e diversidade. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é brilhante, com músicas que sabem exatamente onde nos tocar, e o visual, olha, sensacional - quebrando aquele principio que soava como o maior desafio dos animadores: o de replicar a complexidade da água e do fogo em CGI sem parecer papel celofane se mexendo. Lindo de ver!

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Em Nome do Céu

"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.

Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):

Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?

"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.

Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".

Dito isso, é fácil imaginar que "Em Nome do Céu" não agradará a todos por sua "forma", mas também pelo seu "conteúdo"; por outro lado é impossível não elogiar a qualidade técnica e artística da produção, com uma edição muito criativa que realmente ajuda a trama sair do lugar comum.

Vale o seu play, mas não espere uma jornada simples e muito menos usual.

Assista Agora

"Em Nome do Céu" é uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+, porém, para quem gosta e acompanha séries de investigação, é impossível não associar essa minissérie ao grande sucesso que foi "True Detective" - especialmente na sua primeira temporada. A estrutura narrativa é bem similar, cadenciada e cheia de camadas da mesma forma, além, obviamente, de ter dois elementos que conectam diretamente as duas histórias: o fanatismo religioso e o confronto íntimo dos protagonistas.

Baseado no livro homônimo de Jon Krakauer e criado por Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por "Milk"), acompanhamos a história verídica de um crime macabro que ocorreu em uma comunidade mórmon em Utah, EUA, em 1984, onde uma mulher e sua filha foram brutalmente assassinadas dentro de casa, com a atrocidade tendo ligação com o fundamentalismo religioso e sua doutrina de “expiação por sangue”. O detetive Jeb Pyre (Andrew Garfield) investiga o caso ao mesmo tempo que precisa lidar com os reflexos de suas descobertas diante dos questionamentos de sua própria fé. Confira o trailer (em inglês):

Contextualizando o universo em que a história está inserida, por mais cruéis que sejam os detalhes do crime, mais assustador para cidadãos daquela comunidade é saber que um de seus membros (e não um forasteiro) foi o autor de tamanha atrocidade. Entre tantos homens e mulheres de fé que ali circulam, devotos de Joseph Smith e da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aceitar que existe um criminoso entre os seus, parece absurdo. Isso ganha ainda mais dramaticidade quando tudo leva a crer que foi uma interpretação extremista dos valores mórmons que motivou o assassinato de duas fiéis - e é aí que surge um gatilho narrativo que nos acompanha por toda a jornada e que nos provoca inúmeras reflexões: qual o verdadeiro poder da hipocrisia?

"Em Nome do Céu" até ensaia um mistério mais forense em seu início, porém não é esse o caminho que o roteiro de Black resolve seguir - aqui não se trata de quem matou, e sim por qual razão! Mas não é só isso, pois seguindo a obra original de Krakauer, a minissérie adiciona uma linha temporal para estabelecer paralelos entre o passado, com a origem da religião Mórmon de Smith e de seus dissidentes, e o presente (de 1984), com a investigação dos assassinatos. Além disso, existe uma supervalorização dos dogmas religiosos em boa parte dos diálogos, o que, para nós, dificulta a compreensão e atravanca a narrativa - muitos vão se incomodar com o conceito, porém depois que acostumados, é inegável que essa camada coloca a trama em outro patamar.

Depois de sete episódios, com performances que merecem elogios, principalmente de Andrew Garfield (indicado ao Emmy pelo personagem) e Wyatt Russell (como Dan Lafferty), a impressão que fica é que não era preciso ter ido tão longe na construção do mindset dos Lafferty para entender a razão do crime e muito menos por que os criminosos foram capazes de tamanha brutalidade - nesse ponto, faltou um pouco de coragem ao roteiro que facilmente poderia ter se tornado muito mais impactante e memorável - eu diria que tinha espaço para algo bem ao estilo de "Seven".

Dito isso, é fácil imaginar que "Em Nome do Céu" não agradará a todos por sua "forma", mas também pelo seu "conteúdo"; por outro lado é impossível não elogiar a qualidade técnica e artística da produção, com uma edição muito criativa que realmente ajuda a trama sair do lugar comum.

Vale o seu play, mas não espere uma jornada simples e muito menos usual.

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Estrada para a Glória

"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

Assista Agora

"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

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Estrangulador de Boston

O "Estrangulador de Boston" é um excelente filme para quem está com saudades de uma trama bem construída, inteligente e sensível, onde as motivações perante a investigação são até mais importantes do que o impacto visual ou a brutalidade dos crimes em si. E aqui existe um componente que impacta diretamente na nossa experiência como audiência, mas que de forma alguma nos distancia do estilo "true crime" que a ficção carrega em seu DNA: as protagonistas, jornalistas, tem uma segunda camada que acaba dando um certo charme para a narrativa, já que nos anos 60 as mulheres praticamente não tinham voz nas redações dos jornais e muito menos no universo policial.

O filme acompanha os reflexos sociais provocados por um misterioso assassino que fazia cada vez mais vítimas (todas mulheres) e por Loretta McLaughlin (Keira Knightley), que se tornou uma das primeiras jornalistas a conectar os crimes do estrangulador de Boston ao termo que nem existia ainda: serial killer. Todavia, quando Loretta passa a seguir sua investigação ao lado da colega Jean Cole (Carrie Coon), a dupla se vê prejudicada pelo implacável sexismo da época. Mesmo assim, elas seguem corajosamente, arriscando suas vidas em uma busca para descobrir a verdade antes que a próxima vítima seja encontrada. Confira o trailer:

Entender o que leva uma jornalista a tentar resolver um caso notadamente policial, onde outras mulheres são vitimas de um cruel assassino, é quase uma jornada íntima de auto-sobrevivência fantasiada de motivação profissional - basta lembrar do excelente (e imperdível) documentário da HBO, "Eu Terei Sumido na Escuridão". No caso da escritora Michelle McNamara estávamos de frente com uma narração em off que foi capaz de transmitir as angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem, as fragilidades de uma mulher que buscava, incansavelmente,  desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA. Com Loretta McLaughlin é a mesma coisa, porém aqui, enxergamos a personagem, seu drama se torna mais palpável e com isso nossa relação com a trama passa a ser outra já que nos identificamos com os anseios da jornalista antes mesmo de nos sentirmos impactados pelos crimes. Veja, em nenhum momento conseguimos dissociar sua busca por igualdade com a preocupação para com as próximas vítimas.

Essa conceito do diretor e roteirista Matt Ruskin (de "Crown Heights") cobra seu preço: em alguns momentos a narrativa fica cadenciada demais, perde um pouco da dinâmica investigativa/policial para focar nos reflexos das escolhas pessoais e profissionais das personagens. Keira Knightley e Carrie Coon sustentam o filme mesmo quando o conflito principal se dissipa e isso nos dá uma certa sensação de desequilíbrio - é como se "Estrangulador de Boston" se distanciasse do estilo "Zodíaco" de David Fincher e se aproximasse de "Ela Disse" de Maria Schrader. Por outro lado o filme ganha em humanidade, em sororidade - é impressionante como Ruskin pontua elementos biográficos como a "coragem" e a "resiliência" dessas mulheres, para retratar como elas precisaram deixar de lado uma parte importante de suas vidas, para que pudessem passar a ser reconhecidas como profissionais de respeito.

Dito isso, é possível afirmar que o maior triunfo de "O Estrangulador de Boston" não é o de contar uma angustiante e misteriosa história sobre cruéis assassinatos em série, muito menos de glamourizar esses crimes ou seus autores, naquela busca incansável por encontrar padrões e com isso construir um perfil psicológico que nos ajude a resolver o caso. Embora exista um pouco disso tudo, o foco aqui é até menos impactante, já que as histórias como a de McLaughlin e de Cole falam por si só e certamente nos ajudam a refletir sobre como o machismo estrutural pode nos atingir em diferentes esferas e como o jornalismo sério pode mudar o jogo com competência e liberdade.

Vale muito seu play!

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O "Estrangulador de Boston" é um excelente filme para quem está com saudades de uma trama bem construída, inteligente e sensível, onde as motivações perante a investigação são até mais importantes do que o impacto visual ou a brutalidade dos crimes em si. E aqui existe um componente que impacta diretamente na nossa experiência como audiência, mas que de forma alguma nos distancia do estilo "true crime" que a ficção carrega em seu DNA: as protagonistas, jornalistas, tem uma segunda camada que acaba dando um certo charme para a narrativa, já que nos anos 60 as mulheres praticamente não tinham voz nas redações dos jornais e muito menos no universo policial.

O filme acompanha os reflexos sociais provocados por um misterioso assassino que fazia cada vez mais vítimas (todas mulheres) e por Loretta McLaughlin (Keira Knightley), que se tornou uma das primeiras jornalistas a conectar os crimes do estrangulador de Boston ao termo que nem existia ainda: serial killer. Todavia, quando Loretta passa a seguir sua investigação ao lado da colega Jean Cole (Carrie Coon), a dupla se vê prejudicada pelo implacável sexismo da época. Mesmo assim, elas seguem corajosamente, arriscando suas vidas em uma busca para descobrir a verdade antes que a próxima vítima seja encontrada. Confira o trailer:

Entender o que leva uma jornalista a tentar resolver um caso notadamente policial, onde outras mulheres são vitimas de um cruel assassino, é quase uma jornada íntima de auto-sobrevivência fantasiada de motivação profissional - basta lembrar do excelente (e imperdível) documentário da HBO, "Eu Terei Sumido na Escuridão". No caso da escritora Michelle McNamara estávamos de frente com uma narração em off que foi capaz de transmitir as angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem, as fragilidades de uma mulher que buscava, incansavelmente,  desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA. Com Loretta McLaughlin é a mesma coisa, porém aqui, enxergamos a personagem, seu drama se torna mais palpável e com isso nossa relação com a trama passa a ser outra já que nos identificamos com os anseios da jornalista antes mesmo de nos sentirmos impactados pelos crimes. Veja, em nenhum momento conseguimos dissociar sua busca por igualdade com a preocupação para com as próximas vítimas.

Essa conceito do diretor e roteirista Matt Ruskin (de "Crown Heights") cobra seu preço: em alguns momentos a narrativa fica cadenciada demais, perde um pouco da dinâmica investigativa/policial para focar nos reflexos das escolhas pessoais e profissionais das personagens. Keira Knightley e Carrie Coon sustentam o filme mesmo quando o conflito principal se dissipa e isso nos dá uma certa sensação de desequilíbrio - é como se "Estrangulador de Boston" se distanciasse do estilo "Zodíaco" de David Fincher e se aproximasse de "Ela Disse" de Maria Schrader. Por outro lado o filme ganha em humanidade, em sororidade - é impressionante como Ruskin pontua elementos biográficos como a "coragem" e a "resiliência" dessas mulheres, para retratar como elas precisaram deixar de lado uma parte importante de suas vidas, para que pudessem passar a ser reconhecidas como profissionais de respeito.

Dito isso, é possível afirmar que o maior triunfo de "O Estrangulador de Boston" não é o de contar uma angustiante e misteriosa história sobre cruéis assassinatos em série, muito menos de glamourizar esses crimes ou seus autores, naquela busca incansável por encontrar padrões e com isso construir um perfil psicológico que nos ajude a resolver o caso. Embora exista um pouco disso tudo, o foco aqui é até menos impactante, já que as histórias como a de McLaughlin e de Cole falam por si só e certamente nos ajudam a refletir sobre como o machismo estrutural pode nos atingir em diferentes esferas e como o jornalismo sério pode mudar o jogo com competência e liberdade.

Vale muito seu play!

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Eternos

"Eternos" é mais um filme de heróis e absolutamente nada mais do que isso. É ruim? Não, longe disso - continua sendo um bom entretenimento, mas que não traz nenhum sopro de criatividade como as recentes séries exclusivas para o streaming vem fazendo, por exemplo. O que "Eternos" traz é uma tentativa de transformar um grupo desconhecido de heróis (e aqui não estou falando com especialistas do universo nerd) em importantes peças para a continuidade do MCU onde, lá na frente, tudo isso fará um sentido maior. Ah, e tem outro elemento que pode chamar atenção dos mais atentos: a tentativa de uma identidade mais autoral da diretora Chloé Zhao (vencedora do Oscar por seu belíssimo Nomadland), que infelizmente não encaixou tão bem na proposta dinâmica de um filme de herói - como fez, por exemplo, Zack Snyder em "O Homem de Aço" (de 2003).

No filme acompanhamos os Eternos, seres super poderosos com características como imortalidade e manipulação de energia cósmica, frutos de experiências de seu próprio criador, o Celestial Arishem, desde o surgimento da Terra há milhões de anos. Criados para a salvar o mundo dos Deviantes, os Eternos convivem com a humanidade através de séculos com esse único objetivo, sendo impedidos de interferir em qualquer outra situação que possa impedir a evolução dos humanos - mesmo que a duras penas. Depois de extinguir os Deviantes o grupo de heróis se separa, mas após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato (2019), eles precisam se reunir novamente para enfrentar uma nova ameaça. Muitos conflitos internos surgem, entre o amor que sentem pela Terra e a necessidade de protegê-la acima de tudo, e a fé naquilo que está acima deles. Confira o trailer:

De fato "Eternos" é grandioso, mas o impacto de uma marketing duvidoso em compara-lo com toda uma saga construída por anos como a dos "Vingadores" certamente jogou mais contra do que a favor - é até injusto, pois ainda não temos uma conexão profunda com os personagens, muitos menos com seu propósito heróico e sua importância para o planeta dentro daquele contexto. 

Além disso, existe uma reclamação quase repetitiva de que os recentes filmes (apenas filmes) da Marvel se encontram em uma espécie de estado de inércia. Suas produções vem se padronizando apenas como uma experiência de entretenimento dinâmico, com muitos (cada vez mais) alívios cômicos, mas pouco ou quase nada de profundidade emocional. Obviamente que isso não surpreende, da mesma forma que também não pode incomodar os amantes do MCU, afinal estamos falando de um "filme de herói". A grande questão, porém, é que o gênero deixou de surpreender com antes, mesmo continuando sendo muito divertido de assistir. "Eternos" tem tudo que a cartilha pede: ação, CGI, pancadaria, piadinhas, perigo de extinção da raça humana e final feliz - e até aí está tudo certo, mas essa situação começa a preocupar quando nem uma diretora como Zhao consegue entregar algo novo - e olha que ela tentou. Sim, ela traz alguns planos mais poéticos, enquadramentos mais reflexivos, com o sol de contra-luz e a câmera de baixo pra cima, além de algumas panorâmicas contemplativas; o que faltou mesmo foi mergulhar nas dores dos personagens, criar camadas, provocar suas fraquezas e ela tinha esse poder por ser também roteirista - Richard Donner fez isso com Super-Homem em 1978. 

A conclusão acaba sendo muito simples: "Eternos" não vai te surpreender, mas vai te divertir - se para você basta, dê o play sem medo porque serão mais de duas horas e meia de diversão; e mesmo com todas as alegorias religiosas e mitológicas que estão escondidas no roteiro de Zhao, você não vai encontrar uma história que vai além do que já estamos acostumados.

Dito isso, vale o play pelo entretenimento e pela expectativa de mordermos a língua quando o quebra-cabeça estiver completo "Deus lá sabe quando"!

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"Eternos" é mais um filme de heróis e absolutamente nada mais do que isso. É ruim? Não, longe disso - continua sendo um bom entretenimento, mas que não traz nenhum sopro de criatividade como as recentes séries exclusivas para o streaming vem fazendo, por exemplo. O que "Eternos" traz é uma tentativa de transformar um grupo desconhecido de heróis (e aqui não estou falando com especialistas do universo nerd) em importantes peças para a continuidade do MCU onde, lá na frente, tudo isso fará um sentido maior. Ah, e tem outro elemento que pode chamar atenção dos mais atentos: a tentativa de uma identidade mais autoral da diretora Chloé Zhao (vencedora do Oscar por seu belíssimo Nomadland), que infelizmente não encaixou tão bem na proposta dinâmica de um filme de herói - como fez, por exemplo, Zack Snyder em "O Homem de Aço" (de 2003).

No filme acompanhamos os Eternos, seres super poderosos com características como imortalidade e manipulação de energia cósmica, frutos de experiências de seu próprio criador, o Celestial Arishem, desde o surgimento da Terra há milhões de anos. Criados para a salvar o mundo dos Deviantes, os Eternos convivem com a humanidade através de séculos com esse único objetivo, sendo impedidos de interferir em qualquer outra situação que possa impedir a evolução dos humanos - mesmo que a duras penas. Depois de extinguir os Deviantes o grupo de heróis se separa, mas após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato (2019), eles precisam se reunir novamente para enfrentar uma nova ameaça. Muitos conflitos internos surgem, entre o amor que sentem pela Terra e a necessidade de protegê-la acima de tudo, e a fé naquilo que está acima deles. Confira o trailer:

De fato "Eternos" é grandioso, mas o impacto de uma marketing duvidoso em compara-lo com toda uma saga construída por anos como a dos "Vingadores" certamente jogou mais contra do que a favor - é até injusto, pois ainda não temos uma conexão profunda com os personagens, muitos menos com seu propósito heróico e sua importância para o planeta dentro daquele contexto. 

Além disso, existe uma reclamação quase repetitiva de que os recentes filmes (apenas filmes) da Marvel se encontram em uma espécie de estado de inércia. Suas produções vem se padronizando apenas como uma experiência de entretenimento dinâmico, com muitos (cada vez mais) alívios cômicos, mas pouco ou quase nada de profundidade emocional. Obviamente que isso não surpreende, da mesma forma que também não pode incomodar os amantes do MCU, afinal estamos falando de um "filme de herói". A grande questão, porém, é que o gênero deixou de surpreender com antes, mesmo continuando sendo muito divertido de assistir. "Eternos" tem tudo que a cartilha pede: ação, CGI, pancadaria, piadinhas, perigo de extinção da raça humana e final feliz - e até aí está tudo certo, mas essa situação começa a preocupar quando nem uma diretora como Zhao consegue entregar algo novo - e olha que ela tentou. Sim, ela traz alguns planos mais poéticos, enquadramentos mais reflexivos, com o sol de contra-luz e a câmera de baixo pra cima, além de algumas panorâmicas contemplativas; o que faltou mesmo foi mergulhar nas dores dos personagens, criar camadas, provocar suas fraquezas e ela tinha esse poder por ser também roteirista - Richard Donner fez isso com Super-Homem em 1978. 

A conclusão acaba sendo muito simples: "Eternos" não vai te surpreender, mas vai te divertir - se para você basta, dê o play sem medo porque serão mais de duas horas e meia de diversão; e mesmo com todas as alegorias religiosas e mitológicas que estão escondidas no roteiro de Zhao, você não vai encontrar uma história que vai além do que já estamos acostumados.

Dito isso, vale o play pelo entretenimento e pela expectativa de mordermos a língua quando o quebra-cabeça estiver completo "Deus lá sabe quando"!

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Falcão e o Soldado Invernal

Diferente de "WandaVision", "Falcão e o Soldado Invernal" não me pareceu uma série essencial para a nova fase que a Marvel está construindo, agora com o suporte do serviço de streaming da Disney; mas é! Claro que não falo isso como critica, ou diminuindo a qualidade da série, muito pelo contrário, achei a série divertida, bem produzida e, embora com algumas subtramas frágeis como a de Sharon Carter (Emily VanCamp), me satisfez como audiência que acompanha filmes de heróis.

E é isso: se você gosta de filmes de heróis, a série vai te agradar!

Sam Wilson (Anthony Mackie) desde os acontecimentos de "Ultimato" recebe o legado de ser o dono do escudo do Capitão América, pois Steve o escolhe ao invés de Bucky (Sebastian Stan). Entretanto, o Falcão abdica do símbolo, mas o governo dos Estados Unidos não vai ficar sem um Sentinela da Liberdade, sem uma peça de marketing tão potente em um momento onde o mundo está se reconstruindo. Enquanto isso, um grupo denominado Apátridas se forma para derrubar as fronteiras das nações, buscando unir o mundo e criar um só território, com igualdade e paz. 

Se em "WandaVision" tivemos uma trama que se apropriava com muita criatividade de um relato profundo de uma mulher em luto e perturbada pela solidão, em "Falcão e o Soldado Invernal" a questão é muito mais politica e filosófica, trazendo uma grande discussão sobre fronteiras, legados e símbolos. A partir dessa observação fica claro para quem acompanha o MCU que a série quer expandir alguns pontos pessoais dos personagens. Na série, enquanto o "Falcão" tenta se convencer que pode ser o novo Capitão América, o "Soldado Invernal" busca reparar o mal que causou em seus dias como assassino da HIDRA. 

O surgimento de um novo Capitão América na figura de John Walker (Wyatt Russell), os atentados dos Apátridas, e até o retorno de Batroc (Georges St-Pierre) contribuem de alguma forma para que a série discuta sobre conceitos de justiça que vão além do maniqueísmo simplista de “bem e mal”, além, obviamente, de proporcionar ótimas cenas de ação e de se estabelecer como um excelente entretenimento - as sequências com os heróis atuando são espetaculares. Acontece que o conceito inicial de expandir histórias, fica um pouco raso devido a quantidade de pontas que o roteiro abre e que rapidamente precisa fechar, nos dando a impressão de não nos levar a lugar algum. 

E é apenas uma impressão, já que no final da temporada é possível imaginar como a Marvel vai se aproveitar de toda essa jornada. Novos personagens são inseridos e outros foram bem recuperados, porém é preciso ser dito: faltou roteiro para segurar 6 horas de série - os episódios vacilaram muito. Olhando em retrospectiva isso não é um problema já que o Kevin Feige é mestre em usar uma passagem aparentemente sem importância para criar o link necessário para algo que realmente vai mover a história, eu só acho que, depois de "WandaVision", algo espetacular estava sendo construído e que "Falcão e o Soldado Invernal" nos entregaria mais que o Blip de Thanos nos entregou em "Vingadores: Ultimato".

"Falcão e o Soldado Invernal" vale a pena, é muito visual mas não tem uma história inesquecível... pelo menos até sabermos que sua continuidade não se dará na segunda temporada e sim em uma obra série ("Armor Wars") ou em um filme que será produzido em breve (Capitão América 4)!

Assista Agora

Diferente de "WandaVision", "Falcão e o Soldado Invernal" não me pareceu uma série essencial para a nova fase que a Marvel está construindo, agora com o suporte do serviço de streaming da Disney; mas é! Claro que não falo isso como critica, ou diminuindo a qualidade da série, muito pelo contrário, achei a série divertida, bem produzida e, embora com algumas subtramas frágeis como a de Sharon Carter (Emily VanCamp), me satisfez como audiência que acompanha filmes de heróis.

E é isso: se você gosta de filmes de heróis, a série vai te agradar!

Sam Wilson (Anthony Mackie) desde os acontecimentos de "Ultimato" recebe o legado de ser o dono do escudo do Capitão América, pois Steve o escolhe ao invés de Bucky (Sebastian Stan). Entretanto, o Falcão abdica do símbolo, mas o governo dos Estados Unidos não vai ficar sem um Sentinela da Liberdade, sem uma peça de marketing tão potente em um momento onde o mundo está se reconstruindo. Enquanto isso, um grupo denominado Apátridas se forma para derrubar as fronteiras das nações, buscando unir o mundo e criar um só território, com igualdade e paz. 

Se em "WandaVision" tivemos uma trama que se apropriava com muita criatividade de um relato profundo de uma mulher em luto e perturbada pela solidão, em "Falcão e o Soldado Invernal" a questão é muito mais politica e filosófica, trazendo uma grande discussão sobre fronteiras, legados e símbolos. A partir dessa observação fica claro para quem acompanha o MCU que a série quer expandir alguns pontos pessoais dos personagens. Na série, enquanto o "Falcão" tenta se convencer que pode ser o novo Capitão América, o "Soldado Invernal" busca reparar o mal que causou em seus dias como assassino da HIDRA. 

O surgimento de um novo Capitão América na figura de John Walker (Wyatt Russell), os atentados dos Apátridas, e até o retorno de Batroc (Georges St-Pierre) contribuem de alguma forma para que a série discuta sobre conceitos de justiça que vão além do maniqueísmo simplista de “bem e mal”, além, obviamente, de proporcionar ótimas cenas de ação e de se estabelecer como um excelente entretenimento - as sequências com os heróis atuando são espetaculares. Acontece que o conceito inicial de expandir histórias, fica um pouco raso devido a quantidade de pontas que o roteiro abre e que rapidamente precisa fechar, nos dando a impressão de não nos levar a lugar algum. 

E é apenas uma impressão, já que no final da temporada é possível imaginar como a Marvel vai se aproveitar de toda essa jornada. Novos personagens são inseridos e outros foram bem recuperados, porém é preciso ser dito: faltou roteiro para segurar 6 horas de série - os episódios vacilaram muito. Olhando em retrospectiva isso não é um problema já que o Kevin Feige é mestre em usar uma passagem aparentemente sem importância para criar o link necessário para algo que realmente vai mover a história, eu só acho que, depois de "WandaVision", algo espetacular estava sendo construído e que "Falcão e o Soldado Invernal" nos entregaria mais que o Blip de Thanos nos entregou em "Vingadores: Ultimato".

"Falcão e o Soldado Invernal" vale a pena, é muito visual mas não tem uma história inesquecível... pelo menos até sabermos que sua continuidade não se dará na segunda temporada e sim em uma obra série ("Armor Wars") ou em um filme que será produzido em breve (Capitão América 4)!

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Flamin Hot

De certa forma, a história de "Flamin' Hot" é melhor que o filme - e digo isso se comparamos com um filme de temática parecida como "Fome de Poder", por exemplo. Aqui o conceito narrativo escolhido pela "novata" na função de direção, Eva Longoria, se apropria de elementos que se apoiam, propositalmente, muito mais em clichês e que ajudam a contar a jornada de um herói improvável, misturando elementos dramáticos com (de certa forma) cômicos, com um tom mais agradável e uma dinâmica bastante coerente com o universo em que o próprio protagonista está inserido. Funciona, mas em um primeiro olhar pode afastar os mais exigentes - então te aconselho: dê uma chance ao filme.

"Flamin’ Hot" (que no Brasil ganhou o inspirado subtítulo "O Sabor que Mudou a História") conta a inspiradora jornada de Richard Montañez (Jesse Garcia), um zelador da Frito Lay que entendeu a importância de seu legado Mexicano-Americano e transformou o icônico salgadinho Cheetos Super Picante em um petisco que mudou a indústria alimentícia no inicio dos anos 90, tornando-se um fenômeno de vendas e um marco na relação multi-cultural entre o marketing e um público de nicho. Confira o trailer (em inglês):

É perceptível em "Flamin' Hot" que tudo foi muito bem pensado para que o filme passasse aquela mensagem que, com superação e determinação (ressaltando a importância do trabalho árduo e da crença em si mesmo), é possível alcançar nossos objetivos mais complicados. Seguindo esse propósito, Eva Longoria demonstra habilidade ao contar essa história real de uma forma bastante cativante. Ela utiliza uma narrativa que flui e que visualmente se torna atraente para audiência - ela se aproveita de uma variedade de técnicas visuais para nos colocar frente a frente com a vida de Richard Montañez. Repare como direção de Longoria está extremamente alinhada ao roteiro escrito pelo Lewis Colick e pela Linda Yvette Chávez (sob supervisão do próprio Montanez) que sabiamente explora toda dualidade entre o mundo corporativo e o principio da inovação, sob um olhar cultural (especificamente latino) trazendo à tona questões de identidade e pertencimento tão relevantes nos dias de hoje.

Embora o roteiro de "Flamin' Hot" seja bem construído, apresentando as dificuldades de Richard Montañez de forma coerente e envolvente, o recorte temporal me pareceu extenso demais: ao mostrar sua infância humilde e os desafios que enfrentou como imigrante nos Estados Unidos, até sua ascensão na Frito-Lay, o filme soa muito previsível. Por outro lado, é inegável que isso gera uma conexão imediata com o protagonista - aliás, Jesse Garcia consegue transmitir perfeitamente toda a determinação e a paixão pelo seu propósito ao mesmo tempo em que também expõe suas vulnerabilidades e dúvidas. Outro destaque positivo do elenco, sem dúvida, é Annie Gonzalez como Judy, a esposa e companheira fiel de Montañez.

"Flamin' Hot" é um filme que não apenas entretém, mas que também nos faz refletir sobre a importância da perseverança e do trabalho árduo na busca pelos nossos sonhos. São muitas lições empreendedoras que bem interpretadas podem nos trazer ótimos insights. Agora também é preciso dizer que a história de Richard Montañez tem uma levada "Sessão da Tarde" mesmo querendo ser um lembrete poderoso de que, independentemente de nossas origens ou circunstâncias, podemos alcançar grandes conquistas quando acreditamos em nós mesmos e nos esforçamos para transformar ideias em realidade - até quando insistem em nos dizer que aquilo não vai funcionar!

Vale muito seu play. Tipo de filme que ensina aquecendo o coração!

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De certa forma, a história de "Flamin' Hot" é melhor que o filme - e digo isso se comparamos com um filme de temática parecida como "Fome de Poder", por exemplo. Aqui o conceito narrativo escolhido pela "novata" na função de direção, Eva Longoria, se apropria de elementos que se apoiam, propositalmente, muito mais em clichês e que ajudam a contar a jornada de um herói improvável, misturando elementos dramáticos com (de certa forma) cômicos, com um tom mais agradável e uma dinâmica bastante coerente com o universo em que o próprio protagonista está inserido. Funciona, mas em um primeiro olhar pode afastar os mais exigentes - então te aconselho: dê uma chance ao filme.

"Flamin’ Hot" (que no Brasil ganhou o inspirado subtítulo "O Sabor que Mudou a História") conta a inspiradora jornada de Richard Montañez (Jesse Garcia), um zelador da Frito Lay que entendeu a importância de seu legado Mexicano-Americano e transformou o icônico salgadinho Cheetos Super Picante em um petisco que mudou a indústria alimentícia no inicio dos anos 90, tornando-se um fenômeno de vendas e um marco na relação multi-cultural entre o marketing e um público de nicho. Confira o trailer (em inglês):

É perceptível em "Flamin' Hot" que tudo foi muito bem pensado para que o filme passasse aquela mensagem que, com superação e determinação (ressaltando a importância do trabalho árduo e da crença em si mesmo), é possível alcançar nossos objetivos mais complicados. Seguindo esse propósito, Eva Longoria demonstra habilidade ao contar essa história real de uma forma bastante cativante. Ela utiliza uma narrativa que flui e que visualmente se torna atraente para audiência - ela se aproveita de uma variedade de técnicas visuais para nos colocar frente a frente com a vida de Richard Montañez. Repare como direção de Longoria está extremamente alinhada ao roteiro escrito pelo Lewis Colick e pela Linda Yvette Chávez (sob supervisão do próprio Montanez) que sabiamente explora toda dualidade entre o mundo corporativo e o principio da inovação, sob um olhar cultural (especificamente latino) trazendo à tona questões de identidade e pertencimento tão relevantes nos dias de hoje.

Embora o roteiro de "Flamin' Hot" seja bem construído, apresentando as dificuldades de Richard Montañez de forma coerente e envolvente, o recorte temporal me pareceu extenso demais: ao mostrar sua infância humilde e os desafios que enfrentou como imigrante nos Estados Unidos, até sua ascensão na Frito-Lay, o filme soa muito previsível. Por outro lado, é inegável que isso gera uma conexão imediata com o protagonista - aliás, Jesse Garcia consegue transmitir perfeitamente toda a determinação e a paixão pelo seu propósito ao mesmo tempo em que também expõe suas vulnerabilidades e dúvidas. Outro destaque positivo do elenco, sem dúvida, é Annie Gonzalez como Judy, a esposa e companheira fiel de Montañez.

"Flamin' Hot" é um filme que não apenas entretém, mas que também nos faz refletir sobre a importância da perseverança e do trabalho árduo na busca pelos nossos sonhos. São muitas lições empreendedoras que bem interpretadas podem nos trazer ótimos insights. Agora também é preciso dizer que a história de Richard Montañez tem uma levada "Sessão da Tarde" mesmo querendo ser um lembrete poderoso de que, independentemente de nossas origens ou circunstâncias, podemos alcançar grandes conquistas quando acreditamos em nós mesmos e nos esforçamos para transformar ideias em realidade - até quando insistem em nos dizer que aquilo não vai funcionar!

Vale muito seu play. Tipo de filme que ensina aquecendo o coração!

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Fonte da Vida

"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.

Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):

Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado). 

Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar. 

Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.

Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.

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"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.

Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):

Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado). 

Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar. 

Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.

Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.

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