Agosto será um mês decisivo para a assimetria regulatória entre serviços tradicionais de TV por assinatura e os serviços via streaming. A Anatel tem a missão de ajustar os ponteiros em questões delicadas e urgentes, além de criar um ambiente juridicamente seguro para a concorrência, mantendo o estímulo à produção nacional e ampliando as ofertas de distribuição dos serviços e produtos linear em um espaço digital. É nesse clima que mais um poderoso do entretenimento anuncia seus planos para aterrissar em solo brasileiro: a Disney Plus.
Pouco tempo após o comunicado ter sido oficializado, a operadora Claro recorreu à Justiça com o objetivo de embargar o lançamento da plataforma americana, prevista para novembro de 2020. O argumento utilizado foi a ausência de um número mínimo de produções nacionais no catálogo do Disney Plus, fato que fere a Lei da TV Paga e incitaria uma eventual concorrência desleal.
O imbróglio é um dos muitos que está nas mãos dos conselheiros da Anatel. O cenário brasileiro caminha para a expansão da concorrência no ambiente digital, migrando da distribuição tradicional “operadora > cliente” para uma relação mais direta “produtora/distribuidora > cliente”. O ambiente regulatório do meio digital ainda é um campo minado que precisa ser organizado para que a batalha seja justa e saudável.
A Disney Plus é parte do conglomerado The Walt Disney Company e agrega programas, filmes e séries de franquias como Star Wars, Marvel e Pixar, longas-metragens da própria Disney, além de lançamentos originais e programação adquirida via aquisição da Fox.
O avanço da plataforma surpreendeu até os mais otimistas. A Disney+ alcançou a marca de 54,5 milhões de assinantes no início de maio/2020 e no início de agosto/2020 ultrapassou os 60 milhões de usuários ao redor do mundo. Inicialmente, tal número estava previsto para ser atingido após cerca de cinco anos. A previsão da empresa foi encurtada para seis meses, com uma expansão global ainda conservadora.
Atualmente, a Disney Plus está presente nos Estados Unidos, Canadá, Holanda, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Itália, Espanha, Áustria, Suíça, França, Mônaco e Japão. O próximo grande passo será a chegada na América Latina, incluindo o Brasil, em novembro, território com audiência altamente consumidora de audiovisual.
Os valores ainda não foram divulgados oficialmente, mas a imprensa especula que haverá uma assinatura mensal fixa por R$ 28,99 e uma opção anual com desconto, por R$ 289,99.
E sobre conteúdo, a Disney Plus se apoia maciçamente em seu muito conhecido e cultuado portfólio de princesas, super-heróis e personagens fofos. Volume ainda não é o forte da empresa, que perde ao comparar seu catálogo com os de concorrentes como Netflix e Amazon. Porém, a recente indicação de “The Mandalorian” ao Emmy 2020 na categoria melhor série dramática pode catapultar o Disney+ para outro patamar. No Brasil, há boatos (ainda não confirmados pela empresa) de que Xuxa trabalha em um seriado exclusivo para o Disney Plus.
O cenário turbulento parece perfeito para redesenhar as linhas que delimitam onde e como a disputa pelo mercado nacional será travada. O aumento da concorrência e a transformação dos negócios dos players tradicionais fornecem impulso suficiente para discutirmos as bases do futuro do entretenimento no Brasil.