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Thor: Amor e Trovão

Embora não seja minha preferência, eu definitivamente entendo as escolhas conceituais de "Thor: Amor e Trovão" e como a escolha do diretor Taika Waititi (de "Jojo Rabbit") potencializou uma construção de um sub-gênero dentro do MCU muito mais próximo do "pastelão" do que de um desenvolvimento de um realismo mais fantástico ou até mitológico dos personagens - não que isso não exista, mas é inegável que a aposta da Marvel em trazer um mood mais leve para alguns de seus heróis, agora ganhou status de "receita de bolo". Em outras palavras, "Thor: Amor e Trovão" é tão divertido quanto bobinho, bem na levada autoral que Waititi imprimiu em “Ragnarok”, de 2017, definido pelo próprio Estúdio como "uma aventura cósmica e cômica".

Aqui, o "Deus do Trovão" embarca em uma jornada diferente de tudo que já viveu: uma jornada de autoconhecimento. Contudo, sua busca é comprometida por um assassino galáctico conhecido como Gorr (Christian Bale), o Carniceiro dos Deuses, que deseja a extinção dessas figuras mitológicas. Para combater essa ameaça, Thor (Chris Hemsworth) pede a ajuda de Rei Valkiria (Tessa Thompson), Korg (Taika Waititi) e da ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman). Juntos, eles se lançam em uma terrível aventura cósmica para desvendar o mistério da vingança do Carniceiro dos Deuses e detê-lo antes que seja tarde demais. Confira o trailer:

Essa liberdade autoral que a Marvel vem imprimindo cada vez mais em seus títulos, sem dúvida alguma, traz algum frescor para os filmes de herói, mas ao mesmo tempo nos afasta daquela unidade dramática que o próprio Estúdio apresentou em suas primeiras fases (principalmente no inicio da jornada, nas fases 1 e 2). Na prática, os filmes perdem certa coerência e passam a servir muito mais de vitrine para que os diretores deixem sua marca, onde, normalmente, eles se sentem mais confortáveis, ao invés de trabalhar a favor do "todo". Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", por exemplo, Sam Raimi deu o seu tom e funcionou magistralmente; em "Eternos", Chloé Zhao impôs o seu ritmo com status de "super star" ganhadora do Oscar e já não conseguiu o mesmo sucesso, porém em ambos os casos era perceptível uma linha mais, digamos, adulta. 

Em "Thor: Amor e Trovão" pegue isso e jogue fora, pois existe uma certa infantilização da narrativa que vai dividir opiniões - mesmo quando o diretor traz o drama para os holofotes. Ok, mas o filme é ruim? Claro que não - a aventura é muito divertida, temos muitas cenas de ação bem construídas e até várias sacadas inteligentes do roteiro - mas a sensação que fica é que o filme é bobo! Talvez o Gorr de Christian Bale seja o único personagem que traz uma certa profundidade dramática - nem o fato das vitimas serem crianças nos fazem ter empatia pela jornada de Thor. Por outro lado a chegada da "Poderosa Thor" na história é impactante - lembra um pouco a chegada da Capitã Marvel em "Vingadores - Ultimato" e aí sim temos uma conexão mais forte com a personagem.

O fato é que essa produção da Marvel se encaixa muito mais naquela prateleira de "entretenimento despretensioso" do que na de um "grande filme do gênero" - eu diria que "Thor: Amor e Trovão" é o filme que mais se apoia na comédia de todo MCU até aqui. Eu, pessoalmente, não gosto - até porquê eu tenho a referência saudosista da animação clássica de 1966, que no Brasil teve sua exibição nas décadas de 70 e 80. Essa informalidade cinematográfica de Waititi rende sim algumas boas risadas, muita criatividade (destaco a trilha sonora e a homenagem ao "Guns N'Roses" que o diretor faz) e umas ótimas duas horas de diversão em meio a um visual deslumbrante (até quando o "preto e branco" ganha força em seu simbolismo); o que nos facilita muito no momento da indicação: se você gostou de “Thor: Ragnarok” vai gostar de "Thor: Amor e Trovão" (porém o inverso também será verdadeiro).

Assista Agora

Embora não seja minha preferência, eu definitivamente entendo as escolhas conceituais de "Thor: Amor e Trovão" e como a escolha do diretor Taika Waititi (de "Jojo Rabbit") potencializou uma construção de um sub-gênero dentro do MCU muito mais próximo do "pastelão" do que de um desenvolvimento de um realismo mais fantástico ou até mitológico dos personagens - não que isso não exista, mas é inegável que a aposta da Marvel em trazer um mood mais leve para alguns de seus heróis, agora ganhou status de "receita de bolo". Em outras palavras, "Thor: Amor e Trovão" é tão divertido quanto bobinho, bem na levada autoral que Waititi imprimiu em “Ragnarok”, de 2017, definido pelo próprio Estúdio como "uma aventura cósmica e cômica".

Aqui, o "Deus do Trovão" embarca em uma jornada diferente de tudo que já viveu: uma jornada de autoconhecimento. Contudo, sua busca é comprometida por um assassino galáctico conhecido como Gorr (Christian Bale), o Carniceiro dos Deuses, que deseja a extinção dessas figuras mitológicas. Para combater essa ameaça, Thor (Chris Hemsworth) pede a ajuda de Rei Valkiria (Tessa Thompson), Korg (Taika Waititi) e da ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman). Juntos, eles se lançam em uma terrível aventura cósmica para desvendar o mistério da vingança do Carniceiro dos Deuses e detê-lo antes que seja tarde demais. Confira o trailer:

Essa liberdade autoral que a Marvel vem imprimindo cada vez mais em seus títulos, sem dúvida alguma, traz algum frescor para os filmes de herói, mas ao mesmo tempo nos afasta daquela unidade dramática que o próprio Estúdio apresentou em suas primeiras fases (principalmente no inicio da jornada, nas fases 1 e 2). Na prática, os filmes perdem certa coerência e passam a servir muito mais de vitrine para que os diretores deixem sua marca, onde, normalmente, eles se sentem mais confortáveis, ao invés de trabalhar a favor do "todo". Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", por exemplo, Sam Raimi deu o seu tom e funcionou magistralmente; em "Eternos", Chloé Zhao impôs o seu ritmo com status de "super star" ganhadora do Oscar e já não conseguiu o mesmo sucesso, porém em ambos os casos era perceptível uma linha mais, digamos, adulta. 

Em "Thor: Amor e Trovão" pegue isso e jogue fora, pois existe uma certa infantilização da narrativa que vai dividir opiniões - mesmo quando o diretor traz o drama para os holofotes. Ok, mas o filme é ruim? Claro que não - a aventura é muito divertida, temos muitas cenas de ação bem construídas e até várias sacadas inteligentes do roteiro - mas a sensação que fica é que o filme é bobo! Talvez o Gorr de Christian Bale seja o único personagem que traz uma certa profundidade dramática - nem o fato das vitimas serem crianças nos fazem ter empatia pela jornada de Thor. Por outro lado a chegada da "Poderosa Thor" na história é impactante - lembra um pouco a chegada da Capitã Marvel em "Vingadores - Ultimato" e aí sim temos uma conexão mais forte com a personagem.

O fato é que essa produção da Marvel se encaixa muito mais naquela prateleira de "entretenimento despretensioso" do que na de um "grande filme do gênero" - eu diria que "Thor: Amor e Trovão" é o filme que mais se apoia na comédia de todo MCU até aqui. Eu, pessoalmente, não gosto - até porquê eu tenho a referência saudosista da animação clássica de 1966, que no Brasil teve sua exibição nas décadas de 70 e 80. Essa informalidade cinematográfica de Waititi rende sim algumas boas risadas, muita criatividade (destaco a trilha sonora e a homenagem ao "Guns N'Roses" que o diretor faz) e umas ótimas duas horas de diversão em meio a um visual deslumbrante (até quando o "preto e branco" ganha força em seu simbolismo); o que nos facilita muito no momento da indicação: se você gostou de “Thor: Ragnarok” vai gostar de "Thor: Amor e Trovão" (porém o inverso também será verdadeiro).

Assista Agora

Top Gun: Maverick

Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

Vale muito o seu play!

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Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

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Trapaça

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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Tulsa King

Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

Vale seu play!

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Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

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Victoria

Victoria

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

Assista Agora

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Vidro

Assisti "Vidro" (Glass), filme que "teoricamente" fecha a trilogia de "Corpo Fechado" e "Fragmentado", e "ok"! Na verdade talvez eu tenha me decepcionado mais do que não gostado o filme. Minha expectativa era alta, pois eu tinha a esperança que a trilogia havia sido planejada desde o começo e muito bem desenvolvida para ter um grande final ou até mesmo para fomentar o início de mais uma ótima franquia de heróis! Ilusão!!!!

Conhecendo o negócio, eu tenho absoluta certeza que o M. Night Shyamalan aproveitou a provocação de colocar o David Dunn em uma aparição rápida no filme anterior (e que funcionou para muita gente) para inventar essa trilogia! Eu digo isso tranquilamente porque "Vidro" comete um erro clássico de arco narrativo: tem uma quantidade absurda de diálogos explicativos - o que coloca o roteiro do filme em um nível muito medíocre (principalmente tendo um cara tão criativo como o Shyamalan no comando). Desde do inicio do filme a impressão que fica é a de uma necessidade enorme em unir a história dos outros dois filmes com a trama de "Vidro" - e não funciona, fica forçado, nada surpreende e, na boa, muito superficial!!!!

Eu sou um fã do M. Night Shyamalan, defendo o cara até quando o filme é ruim porque acho ele um excelente cineasta. Ele tem um domínio impressionante da gramatica cinematográfica, principalmente quando o assunto é criar tensão e por isso, me decepcionei. Ele estava irreconhecível, mesmo tendo escolhido a "ação" para vender seu filme e não o "suspense". Teve lapsos de genialidade, uma ou outra sequência bem filmada - como a cena em que a câmera está dentro do furgão enquanto Dunn e a Fera brigam do lado de fora - ali ele nos coloca dentro do filme de verdade, mas não durou muito!!! Ele abusou das câmeras em primeira pessoa e não ficou bacana. Eu sempre digo: se você não é o Spielberg, evite esse plano. Talvez em dois momentos tenha até funcionado, mas não mais que isso!

Outro momento de pouca inspiração foi na escolha de trabalhar com planos fechados demais, normalmente no rosto do ator, em algumas cenas de ação ou quando a câmera acompanhava os movimentos do ator por estar presa a ele - aqui cabe uma observação: juro que só vi essa técnica funcionar nas mãos do Vince Gilligan em Breaking Bad e porque tinha tudo a ver com a escolha conceitual da série. "Vidro" não tem unidade narrativa ou estética que lembre os outros filmes, da mesma forma como Fragmentado não tinha com o Corpo Fechado - são filmes tão diferentes que poderiam se completar tão genialmente, que chega a dar raiva esse terceiro ato!

Talvez quem leia esse Review tenha a certeza que eu odiei o filme. Não foi o caso, de verdade! Eu me diverti em alguns momentos. O filme tem sacadas excelentes como a do plano que antecede o prólogo de Corpo Fechado que o Shyamalan trouxe de volta ou até mesmo as cenas em que James McAvoy vai trocando de personalidade em  sequência - o cara realmente é muito bom! Em compensação a participação dos personagens Casey Cooke (Fragmentado), Joseph Dunn e da Mrs. Price (Corpo Fechado) chega a ser constrangedora!

O fato é que a tentativa de criar uma franquia de heróis não deu certo na minha opinião - a solução que ele encontrou para uma possível sequência lembra os piores anos de "Heroes" - que aliás era tão genial na primeira temporada que se tornou case de como destruir uma idéia com tanto potencial - e acho que "Vidro" deixa o mesmo gosto amargo!!! 

Shyamalan vinha bem, fez dois filmes ótimos, quando trouxe para tela o que mais domina - a tensão e o foco no diálogo! "Vidro" para mim, não funciona porque não tem nenhum desses pilares. A minha torcida é para que ele volte a fazer filme sem muito orçamento onde a sua criatividade realmente aparece e que, no gênero certo, faz toda a diferença! Já para "Vidro", eu sugiro: assista e depois me diga se eu fui duro demais; porque juro que eu queria mesmo era poder fazer um review mais bacana sobre o filme, mas não deu!!

Vale como entretenimento e só!

 Assista Agora

Assisti "Vidro" (Glass), filme que "teoricamente" fecha a trilogia de "Corpo Fechado" e "Fragmentado", e "ok"! Na verdade talvez eu tenha me decepcionado mais do que não gostado o filme. Minha expectativa era alta, pois eu tinha a esperança que a trilogia havia sido planejada desde o começo e muito bem desenvolvida para ter um grande final ou até mesmo para fomentar o início de mais uma ótima franquia de heróis! Ilusão!!!!

Conhecendo o negócio, eu tenho absoluta certeza que o M. Night Shyamalan aproveitou a provocação de colocar o David Dunn em uma aparição rápida no filme anterior (e que funcionou para muita gente) para inventar essa trilogia! Eu digo isso tranquilamente porque "Vidro" comete um erro clássico de arco narrativo: tem uma quantidade absurda de diálogos explicativos - o que coloca o roteiro do filme em um nível muito medíocre (principalmente tendo um cara tão criativo como o Shyamalan no comando). Desde do inicio do filme a impressão que fica é a de uma necessidade enorme em unir a história dos outros dois filmes com a trama de "Vidro" - e não funciona, fica forçado, nada surpreende e, na boa, muito superficial!!!!

Eu sou um fã do M. Night Shyamalan, defendo o cara até quando o filme é ruim porque acho ele um excelente cineasta. Ele tem um domínio impressionante da gramatica cinematográfica, principalmente quando o assunto é criar tensão e por isso, me decepcionei. Ele estava irreconhecível, mesmo tendo escolhido a "ação" para vender seu filme e não o "suspense". Teve lapsos de genialidade, uma ou outra sequência bem filmada - como a cena em que a câmera está dentro do furgão enquanto Dunn e a Fera brigam do lado de fora - ali ele nos coloca dentro do filme de verdade, mas não durou muito!!! Ele abusou das câmeras em primeira pessoa e não ficou bacana. Eu sempre digo: se você não é o Spielberg, evite esse plano. Talvez em dois momentos tenha até funcionado, mas não mais que isso!

Outro momento de pouca inspiração foi na escolha de trabalhar com planos fechados demais, normalmente no rosto do ator, em algumas cenas de ação ou quando a câmera acompanhava os movimentos do ator por estar presa a ele - aqui cabe uma observação: juro que só vi essa técnica funcionar nas mãos do Vince Gilligan em Breaking Bad e porque tinha tudo a ver com a escolha conceitual da série. "Vidro" não tem unidade narrativa ou estética que lembre os outros filmes, da mesma forma como Fragmentado não tinha com o Corpo Fechado - são filmes tão diferentes que poderiam se completar tão genialmente, que chega a dar raiva esse terceiro ato!

Talvez quem leia esse Review tenha a certeza que eu odiei o filme. Não foi o caso, de verdade! Eu me diverti em alguns momentos. O filme tem sacadas excelentes como a do plano que antecede o prólogo de Corpo Fechado que o Shyamalan trouxe de volta ou até mesmo as cenas em que James McAvoy vai trocando de personalidade em  sequência - o cara realmente é muito bom! Em compensação a participação dos personagens Casey Cooke (Fragmentado), Joseph Dunn e da Mrs. Price (Corpo Fechado) chega a ser constrangedora!

O fato é que a tentativa de criar uma franquia de heróis não deu certo na minha opinião - a solução que ele encontrou para uma possível sequência lembra os piores anos de "Heroes" - que aliás era tão genial na primeira temporada que se tornou case de como destruir uma idéia com tanto potencial - e acho que "Vidro" deixa o mesmo gosto amargo!!! 

Shyamalan vinha bem, fez dois filmes ótimos, quando trouxe para tela o que mais domina - a tensão e o foco no diálogo! "Vidro" para mim, não funciona porque não tem nenhum desses pilares. A minha torcida é para que ele volte a fazer filme sem muito orçamento onde a sua criatividade realmente aparece e que, no gênero certo, faz toda a diferença! Já para "Vidro", eu sugiro: assista e depois me diga se eu fui duro demais; porque juro que eu queria mesmo era poder fazer um review mais bacana sobre o filme, mas não deu!!

Vale como entretenimento e só!

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Vingadores - Ultimato

Olha, se você acompanhou pelo menos 70% desses 11 anos de filmes da Marvel, você PRECISA assistir "Vingadores - Ultimato" de preferência em uma tela enorme e com o melhor sistema de som que você encontrar!!! O filme é realmente grandioso em todos os elementos narrativos, estéticos, técnicos e de produção que você possa imaginar! Sério, é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti no cinema na minha vida!!! Aí você pode me perguntar: "Mas é um filme tão bom assim"? Sim e não! "Não????"....rs

Vamos lá, vou tentar explicar... O Filme tem o grande mérito de ter conseguido amarrar as histórias principais desses 11 anos de construção do Universo - coisa muito rara de acontecer, diga-se de passagem! Embora ele não tenha a dinâmica de "Guerra do Infinito", "Ultimato" trabalha tão bem cada um dos plots que você nem sente as 3 horas de filme passar. Ele resgata elementos de muito filmes anteriores e vai costurando de uma forma tão orgânica que dá a impressão que tudo foi minimamente planejado desde o primeiro "Homem de Ferro" - e não foi, ok? Mas parece! A maneira como eles introduziram a questão da viagem no tempo foi de uma sagacidade  impressionante, principalmente por se tratar de uma solução narrativa muito comum em produções recentes. "Ultimato" fez o que "Lost" tinha que ter feito e não fez - ou melhor, fez muito mal! Em "Utimato" essa escolha narrativa é tão explicita que os roteiristas fizeram questão de citar as referências que os levaram aquelas soluções e como o Universo da Marvel permite "alívios cômicos" como nenhum outro, essas citações se tornaram engraçadas e elegantes - o comunidade NERD deve ter pirado!!!!...rs.

É obvio que em um determinado momento se iniciou um planejamento para que as histórias se fechassem nesse filme e isso ficou claro em cada ação dos personagens. Filmes com personagens menos conhecidos como do "Homem-Formiga" ou da "Capitã Marvel" , por exemplo, acabaram se tornando essenciais para o entendimento, ou melhor, para uma total imersão em "Ultimato". O filme tem cenas espetaculares. A Batalha final é daquelas coisas que você não consegue tirar os olhos da tela! Um excelente exemplo de como os efeitos especiais devem ser usados à favor da história. Ficou lindo! Parecia tão real que comecei a achar que Game of Thrones deveria ter deixado para lançar a Temporada Final só depois que passasse o "hype" do filme! Acho que é a batalha mais intensa e bem feita que eu já assisti ou pelo menos no mesmo nível de "Senhor do Anéis" - desculpem os românticos, mas tenho a impressão que o filme é tão grandioso quanto o "Retorno do Rei"!!!

Por que então eu disse que o filme também não é tão bom?! - E aqui eu preciso deixar claro que é uma opinião muito pessoal: Tem muita piada fora de hora e alguns personagens foram infantilizados de uma forma ofensiva para quem gosta de filmes de herói. O Hulk, por exemplo, já tinha sido uma das minhas maiores críticas quando assisti "Thor: Ragnarok". Poxa, o Hulk é para se ter medo só de olhar!!! Mas entendo que a estratégia do Estúdio que precisava "humanizar" o personagem - tanto é que a aplicação gráfica das reações do Mark Ruffalo ficaram impressionantes nesse filme. Mas, desculpa, o Hulk é um animal incontrolável, não um personagem de roupa e óculos que tira self em restaurante!!!! Atrapalha a história? Não, pelo fato que você aceitar o tom sugerido, mas enfraquece o arco de um herói tão único que já foi muitas vezes classificado como "anti-herói". Agora, por outro lado, o roteiro tem várias sacadas, bem pontuais (e pertinentes), que um bom observador vai se divertir. São muitas referências e easter-eggs durante o filme todo que fica impossível não se envolver!

"Vingadores - Ultimato" foi feito para os fans e entregou um final de fase à altura das expectativas. Ponto para Marvel!!! Acabou??? Duvido!!! A Disney vai lançar seu serviço de streaming e certamente vai produzir histórias paralelas que vão ampliar ainda mais esse Universo. Reboot então? Acho que ainda não, mas uma sensível transformação virá naturalmente - eu não descartaria essa saga de jeito nenhum! Tem muita coisa boa (e algumas nem tanto - Homem de Ferro 3 confirma isso!). A Disney ainda comprou a FOX e com isso X-men, Quarteto Fantástico, Deadpool passam a fazer parte de um mesmo guarda-chuva e que, com inteligência, devem ser inseridos pouco a pouco nas histórias que vem pela frente. O fato é que "Vingadores - Ultimato" fez história e abriu novos caminhos, que, eu diria, são infinitos!!! Ainda bem que eles perceberam que as sagas de heróis poderiam ser bem sucedidos também no cinema, porque à longo prazo (entendeu DC?) se transformam em uma grande franquia, ou melhor, em uma máquina de fazer dinheiro sem fim.

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Olha, se você acompanhou pelo menos 70% desses 11 anos de filmes da Marvel, você PRECISA assistir "Vingadores - Ultimato" de preferência em uma tela enorme e com o melhor sistema de som que você encontrar!!! O filme é realmente grandioso em todos os elementos narrativos, estéticos, técnicos e de produção que você possa imaginar! Sério, é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti no cinema na minha vida!!! Aí você pode me perguntar: "Mas é um filme tão bom assim"? Sim e não! "Não????"....rs

Vamos lá, vou tentar explicar... O Filme tem o grande mérito de ter conseguido amarrar as histórias principais desses 11 anos de construção do Universo - coisa muito rara de acontecer, diga-se de passagem! Embora ele não tenha a dinâmica de "Guerra do Infinito", "Ultimato" trabalha tão bem cada um dos plots que você nem sente as 3 horas de filme passar. Ele resgata elementos de muito filmes anteriores e vai costurando de uma forma tão orgânica que dá a impressão que tudo foi minimamente planejado desde o primeiro "Homem de Ferro" - e não foi, ok? Mas parece! A maneira como eles introduziram a questão da viagem no tempo foi de uma sagacidade  impressionante, principalmente por se tratar de uma solução narrativa muito comum em produções recentes. "Ultimato" fez o que "Lost" tinha que ter feito e não fez - ou melhor, fez muito mal! Em "Utimato" essa escolha narrativa é tão explicita que os roteiristas fizeram questão de citar as referências que os levaram aquelas soluções e como o Universo da Marvel permite "alívios cômicos" como nenhum outro, essas citações se tornaram engraçadas e elegantes - o comunidade NERD deve ter pirado!!!!...rs.

É obvio que em um determinado momento se iniciou um planejamento para que as histórias se fechassem nesse filme e isso ficou claro em cada ação dos personagens. Filmes com personagens menos conhecidos como do "Homem-Formiga" ou da "Capitã Marvel" , por exemplo, acabaram se tornando essenciais para o entendimento, ou melhor, para uma total imersão em "Ultimato". O filme tem cenas espetaculares. A Batalha final é daquelas coisas que você não consegue tirar os olhos da tela! Um excelente exemplo de como os efeitos especiais devem ser usados à favor da história. Ficou lindo! Parecia tão real que comecei a achar que Game of Thrones deveria ter deixado para lançar a Temporada Final só depois que passasse o "hype" do filme! Acho que é a batalha mais intensa e bem feita que eu já assisti ou pelo menos no mesmo nível de "Senhor do Anéis" - desculpem os românticos, mas tenho a impressão que o filme é tão grandioso quanto o "Retorno do Rei"!!!

Por que então eu disse que o filme também não é tão bom?! - E aqui eu preciso deixar claro que é uma opinião muito pessoal: Tem muita piada fora de hora e alguns personagens foram infantilizados de uma forma ofensiva para quem gosta de filmes de herói. O Hulk, por exemplo, já tinha sido uma das minhas maiores críticas quando assisti "Thor: Ragnarok". Poxa, o Hulk é para se ter medo só de olhar!!! Mas entendo que a estratégia do Estúdio que precisava "humanizar" o personagem - tanto é que a aplicação gráfica das reações do Mark Ruffalo ficaram impressionantes nesse filme. Mas, desculpa, o Hulk é um animal incontrolável, não um personagem de roupa e óculos que tira self em restaurante!!!! Atrapalha a história? Não, pelo fato que você aceitar o tom sugerido, mas enfraquece o arco de um herói tão único que já foi muitas vezes classificado como "anti-herói". Agora, por outro lado, o roteiro tem várias sacadas, bem pontuais (e pertinentes), que um bom observador vai se divertir. São muitas referências e easter-eggs durante o filme todo que fica impossível não se envolver!

"Vingadores - Ultimato" foi feito para os fans e entregou um final de fase à altura das expectativas. Ponto para Marvel!!! Acabou??? Duvido!!! A Disney vai lançar seu serviço de streaming e certamente vai produzir histórias paralelas que vão ampliar ainda mais esse Universo. Reboot então? Acho que ainda não, mas uma sensível transformação virá naturalmente - eu não descartaria essa saga de jeito nenhum! Tem muita coisa boa (e algumas nem tanto - Homem de Ferro 3 confirma isso!). A Disney ainda comprou a FOX e com isso X-men, Quarteto Fantástico, Deadpool passam a fazer parte de um mesmo guarda-chuva e que, com inteligência, devem ser inseridos pouco a pouco nas histórias que vem pela frente. O fato é que "Vingadores - Ultimato" fez história e abriu novos caminhos, que, eu diria, são infinitos!!! Ainda bem que eles perceberam que as sagas de heróis poderiam ser bem sucedidos também no cinema, porque à longo prazo (entendeu DC?) se transformam em uma grande franquia, ou melhor, em uma máquina de fazer dinheiro sem fim.

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Viúva Negra

"Viúva Negra" me parece o maior erro estratégico da Marvel até aqui. Não que o filme seja ruim, eu não achei pelo menos, mas não dá para negar que ele está completamente deslocado na linha do tempo - na ficção e na realidade. Antes de mais nada vamos lembrar que estamos falando de um "filme de herói", ou seja, toda suspensão de realidade é praticamente um pré-requisito para embarcar na jornada sem torcer o nariz para cada cena impossível de explicar para aqueles que se apegam ao realismo fantástico só para criticar o gênero! Dito isso, eu afirmo: "Viúva Negra" é entretenimento puro, como suas falhas narrativas, mas com o mérito de ser um filme de ação dinâmico e divertido!

O filme acompanhaa vida de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de "Guerra Civil". Se escondendo do governo norte-americano devido a sua aliança com o time do Capitão América, Natasha ainda precisa confrontar partes de sua história quando surge uma conspiração perigosa ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que não irá parar até derrotá-la, ela tem que lidar com sua antiga vida de espiã, e também reencontrar membros de sua família que deixou para trás antes de se tornar parte dos Vingadores. Confira o trailer:

"Viúva Negra" é uma mistura de muitas histórias e com um visual muito similar a algumas produções recentes do gênero e isso impacta diretamente na sua identidade como obra de um universo cinematográfico que é reconhecido justamente por sua originalidade. A diretora Cate Shortland até procura impor algum conceito narrativo, mas o roteiro de Eric Pearson, baseado na história de Jac Schaeffer e Ned Benson, soa como uma colcha de retalhos que repetem elementos (já pouco originais) de "Bloodshot", "Anna"e "Projeto Gemini".

Natasha Romanoff nunca foi uma personagem de primeira linha, mas Scarlett Johansson acabou transformando a Viúva Negra em queridinha da Marvel - o que sem dúvida fomentou a ideia de lhe entregar um filme solo em uma época onde o Disney+ era apenas um projeto ambicioso. Pois bem, ao posicionar sua história na linha temporal do MCU entre "Capitão América: Guerra Civil" e "Vingadores: Guerra Infinita", a solução do Estúdio acabou criando um problema já que a produção sofreu em seu desenvolvimento e depois em sua distribuição (graças à pandemia). Já na fase 4 do MCU e com o destino da personagem traçado, ficou claro que contar essa história ganhou status de "projeto datado", perdendo uma grande chance de coroar o ótimo trabalho de Johansson e do próprio Estúdio até aqui - é como se o desejo de conhecer a história de Romanoff tenha esfriado ou tenha sido esquecido pelo tempo (e os números de sua estreia só colaboram com essa tese).

"Viúva Negra" não é um filme de origem e não vai influenciar em nada no MCU daqui para frente - mesmo com uma cena pós-crédito completamente desconectada do resto da história, mas que tende a funcionar como gancho (mesmo que improvisado). Eu diria que se o filme fosse uma minissérie de 6 episódios no streaming, tudo faria mais sentido já que os inúmeros (e ótimos) momentos de ação se equilibrariam com uma construção mais honesta de motivação e desenvolvimento de personagens - tanto o vilão "Treinador" quanto o "Guardião Vermelho". O fato é que "Viúva Negra" tem ação para dar e vender, mas poderia ter mais - algo que chamamos de "história"!

Vale o play para os fãs de ação e para quem curte filme de herói, mas você não vai encontrar nada de novo, que saltem aos olhos ou que nos transportem para os melhores momentos (até mesmo dos inusitados como "Guardiões da Galáxia") do MCU.

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"Viúva Negra" me parece o maior erro estratégico da Marvel até aqui. Não que o filme seja ruim, eu não achei pelo menos, mas não dá para negar que ele está completamente deslocado na linha do tempo - na ficção e na realidade. Antes de mais nada vamos lembrar que estamos falando de um "filme de herói", ou seja, toda suspensão de realidade é praticamente um pré-requisito para embarcar na jornada sem torcer o nariz para cada cena impossível de explicar para aqueles que se apegam ao realismo fantástico só para criticar o gênero! Dito isso, eu afirmo: "Viúva Negra" é entretenimento puro, como suas falhas narrativas, mas com o mérito de ser um filme de ação dinâmico e divertido!

O filme acompanhaa vida de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de "Guerra Civil". Se escondendo do governo norte-americano devido a sua aliança com o time do Capitão América, Natasha ainda precisa confrontar partes de sua história quando surge uma conspiração perigosa ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que não irá parar até derrotá-la, ela tem que lidar com sua antiga vida de espiã, e também reencontrar membros de sua família que deixou para trás antes de se tornar parte dos Vingadores. Confira o trailer:

"Viúva Negra" é uma mistura de muitas histórias e com um visual muito similar a algumas produções recentes do gênero e isso impacta diretamente na sua identidade como obra de um universo cinematográfico que é reconhecido justamente por sua originalidade. A diretora Cate Shortland até procura impor algum conceito narrativo, mas o roteiro de Eric Pearson, baseado na história de Jac Schaeffer e Ned Benson, soa como uma colcha de retalhos que repetem elementos (já pouco originais) de "Bloodshot", "Anna"e "Projeto Gemini".

Natasha Romanoff nunca foi uma personagem de primeira linha, mas Scarlett Johansson acabou transformando a Viúva Negra em queridinha da Marvel - o que sem dúvida fomentou a ideia de lhe entregar um filme solo em uma época onde o Disney+ era apenas um projeto ambicioso. Pois bem, ao posicionar sua história na linha temporal do MCU entre "Capitão América: Guerra Civil" e "Vingadores: Guerra Infinita", a solução do Estúdio acabou criando um problema já que a produção sofreu em seu desenvolvimento e depois em sua distribuição (graças à pandemia). Já na fase 4 do MCU e com o destino da personagem traçado, ficou claro que contar essa história ganhou status de "projeto datado", perdendo uma grande chance de coroar o ótimo trabalho de Johansson e do próprio Estúdio até aqui - é como se o desejo de conhecer a história de Romanoff tenha esfriado ou tenha sido esquecido pelo tempo (e os números de sua estreia só colaboram com essa tese).

"Viúva Negra" não é um filme de origem e não vai influenciar em nada no MCU daqui para frente - mesmo com uma cena pós-crédito completamente desconectada do resto da história, mas que tende a funcionar como gancho (mesmo que improvisado). Eu diria que se o filme fosse uma minissérie de 6 episódios no streaming, tudo faria mais sentido já que os inúmeros (e ótimos) momentos de ação se equilibrariam com uma construção mais honesta de motivação e desenvolvimento de personagens - tanto o vilão "Treinador" quanto o "Guardião Vermelho". O fato é que "Viúva Negra" tem ação para dar e vender, mas poderia ter mais - algo que chamamos de "história"!

Vale o play para os fãs de ação e para quem curte filme de herói, mas você não vai encontrar nada de novo, que saltem aos olhos ou que nos transportem para os melhores momentos (até mesmo dos inusitados como "Guardiões da Galáxia") do MCU.

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Wakanda para Sempre

Existe um certo tom melancólico em "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" que o talentoso diretor e roteirista Ryan Coogler consegue transformar em homenagem - embora as imagens sejam lindas e as performances dos atores notavelmente sinceras, é no silêncio que a emoção explode quando a lembrança de Chadwick Boseman é invocada. Talvez esse seja o gatilho emocional que Coogler precisava para entregar, mais uma vez, um filme de herói com certo diferencial - o roteiro, de fato, exige mais dos atores e em muitos momentos a própria direção se apoia na câmera mais solta, naquele close-up escolhido cirurgicamente e no bem executado "foco e desfoco" da cena, para que aquela poesia mais intimista seja capaz de colocar o filme em outro patamar. Sim, o "Pantera Negra 2" tem muita ação, muita piadinha "estilo Marvel", mas é inegavelmente mais equilibrado e inteligente do que normalmente encontramos no MCU!

Após a morte de T'Challa (Boseman) e com a nação de Wakanda já fragilizada, Rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri (Letitia Wright), M'Baku (Winston Duke), Okoye (Danai Gurira) e as Dora Milaje precisam lutar contra uma grande pressão internacional para que o país divida suas reservas de Vibranium, material que permitiu grandes avanços tecnológicos no país. Ao mesmo tempo em que uma nova raça, também detentora de reservas de Vibranium, os Talokan, emerge das profundezas do oceano, sob a liderança de seu rei Namor (Tenoch Huerta), para cobrar por séculos e séculos de exploração. Confira o trailer:

Visualmente, um verdadeiro espetáculo - o que justifica três das cinco indicações ao Oscar 2023: cabelo e maquiagem, figurino e, finalmente o favorito, efeitos especiais. O interessante, no entanto, é que especificamente na franquia Pantera Negra, o visual serve muito mais como elemento de apoio ao ator e sua história, do que como bengala para as inúmeras (e muito bem feitas) cenas de ação. Veja, é muito claro o cuidado de Coogler em usar todos esses elementos visuais para potencializar seu propósito de mexer com a emoção da audiência - o que talvez tenha justificado, inclusive, as duas outras indicações: canção original com "Lift Me Up" de Rhianna e Angela Bassett como atriz coadjuvante.

Bassett dá um show - ela é o ponto de conexão entre a dor e o instinto de proteção. Sua Ramonda é a personificação do sentimento materno mais puro e o que para muitos críticos soou piegas demais, para mim funcionou como uma luva. Dizer que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" tende para o sentimentalismo em detrimento ao aspecto transgressor e politico, desculpe, mas me parece superficial demais. É óbvio que a morte de Boseman influenciou em algumas escolhas conceituais e narrativas do filme, mas, embora longa, a história funciona como um excelente entretenimento. Veja, as provocações sobre racismo, colonialismo e representação cultural continuam lá, mesmo que sem aquela enorme bandeira levantada - e isso é mais um ponto para se aplaudir, não para criticar.  

O risco de trazer uma sequência para um personagem que fez tanto sucesso no passado recente e que não pode contar mais com a figura carismática de seu protagonista, era um risco e todos sabiam disso. Porém, independente de qualquer coisa, eu posso te dizer tranquilamente que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" mesmo não sendo tão autoral quando o primeiro, mesmo sem um roteiro tão redondinho e até sem aquela história surpreendente de origem que chamou atenção até do Oscar, ainda sim é muito divertido e muito bem realizado, com muitos momentos tão emocionantes quanto marcantes.

Vale o seu play! 

Up-date: "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" levou o Oscar na categoria "Melhor Figurino" em 2023! 

Assista Agora

Existe um certo tom melancólico em "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" que o talentoso diretor e roteirista Ryan Coogler consegue transformar em homenagem - embora as imagens sejam lindas e as performances dos atores notavelmente sinceras, é no silêncio que a emoção explode quando a lembrança de Chadwick Boseman é invocada. Talvez esse seja o gatilho emocional que Coogler precisava para entregar, mais uma vez, um filme de herói com certo diferencial - o roteiro, de fato, exige mais dos atores e em muitos momentos a própria direção se apoia na câmera mais solta, naquele close-up escolhido cirurgicamente e no bem executado "foco e desfoco" da cena, para que aquela poesia mais intimista seja capaz de colocar o filme em outro patamar. Sim, o "Pantera Negra 2" tem muita ação, muita piadinha "estilo Marvel", mas é inegavelmente mais equilibrado e inteligente do que normalmente encontramos no MCU!

Após a morte de T'Challa (Boseman) e com a nação de Wakanda já fragilizada, Rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri (Letitia Wright), M'Baku (Winston Duke), Okoye (Danai Gurira) e as Dora Milaje precisam lutar contra uma grande pressão internacional para que o país divida suas reservas de Vibranium, material que permitiu grandes avanços tecnológicos no país. Ao mesmo tempo em que uma nova raça, também detentora de reservas de Vibranium, os Talokan, emerge das profundezas do oceano, sob a liderança de seu rei Namor (Tenoch Huerta), para cobrar por séculos e séculos de exploração. Confira o trailer:

Visualmente, um verdadeiro espetáculo - o que justifica três das cinco indicações ao Oscar 2023: cabelo e maquiagem, figurino e, finalmente o favorito, efeitos especiais. O interessante, no entanto, é que especificamente na franquia Pantera Negra, o visual serve muito mais como elemento de apoio ao ator e sua história, do que como bengala para as inúmeras (e muito bem feitas) cenas de ação. Veja, é muito claro o cuidado de Coogler em usar todos esses elementos visuais para potencializar seu propósito de mexer com a emoção da audiência - o que talvez tenha justificado, inclusive, as duas outras indicações: canção original com "Lift Me Up" de Rhianna e Angela Bassett como atriz coadjuvante.

Bassett dá um show - ela é o ponto de conexão entre a dor e o instinto de proteção. Sua Ramonda é a personificação do sentimento materno mais puro e o que para muitos críticos soou piegas demais, para mim funcionou como uma luva. Dizer que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" tende para o sentimentalismo em detrimento ao aspecto transgressor e politico, desculpe, mas me parece superficial demais. É óbvio que a morte de Boseman influenciou em algumas escolhas conceituais e narrativas do filme, mas, embora longa, a história funciona como um excelente entretenimento. Veja, as provocações sobre racismo, colonialismo e representação cultural continuam lá, mesmo que sem aquela enorme bandeira levantada - e isso é mais um ponto para se aplaudir, não para criticar.  

O risco de trazer uma sequência para um personagem que fez tanto sucesso no passado recente e que não pode contar mais com a figura carismática de seu protagonista, era um risco e todos sabiam disso. Porém, independente de qualquer coisa, eu posso te dizer tranquilamente que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" mesmo não sendo tão autoral quando o primeiro, mesmo sem um roteiro tão redondinho e até sem aquela história surpreendente de origem que chamou atenção até do Oscar, ainda sim é muito divertido e muito bem realizado, com muitos momentos tão emocionantes quanto marcantes.

Vale o seu play! 

Up-date: "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" levou o Oscar na categoria "Melhor Figurino" em 2023! 

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WandaVision

"WandaVision" além de ser mais uma aula de storytelling da Marvel, escancara, mais uma vez, a capacidade do Estúdio de se reinventar baseado em um planejamento cuidadosamente construído para que tudo faça sentido independente do canal de distribuição! Dito isso, fica fácil considerar que essa primeira experiência do MCU no streaming da Disney foi mais um acerto nessa construção única de uma grande jornada, principalmente porquê nem Wanda e nem Vision teriam força o suficiente para segurar um filme solo nos cinemas, então por que não em uma série (ou melhor, em uma minissérie pelo que tudo indica)?

Após os eventos de "Vingadores: Ultimato"(2019), Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), misteriosamente, passam a levar uma vida normal em uma cidade do interior dos EUA. Escondendo seus poderes, a dupla logo começa a suspeitar que nem tudo está tão tranquilo assim. Eles se encontram, na verdade, dentro de uma constante sitcom, que vai desde a década de 50 até os dias de hoje. Conforme o tempo vai passando, Wanda e Visão começam a perder a noção daquela "realidade", a "ficção" vai mostrando outras camadas e a certeza de que algo realmente está muito errado se torna uma questão de tempo. Confira o trailer:

O que vemos em "WandaVision" é selo da Marvel do cinema agora no streaming. Esquece tudo que você já viu antes: de "Demolidor" (que é incrível) à "Agentes da S.H.I.E.L.D." - estamos em uma outra era! A série (vamos chamar assim até que se prove o contrário) segue a cartilha de outras produções de sucesso em seu "conteúdo", alternando momentos de comédia com suspense e ação com maestria, mas, na minha opinião, o que coloca o projeto em outro patamar é a sua "forma". Construir duas linhas narrativas completamente distintas (realidade e ficção) e depois cruzá-las para entregar um final sensacional, com o surgimento de toda mitologia em cima da Feiticeira Escarlate, foi de uma sabedoria para deixar a DC de boca aberta!

Além de uma qualidade técnica e artística em toda produção, que é indiscutível, reparem como elenco, com Kathryn Hahn (Agnes) e Teyonah Parris (Monica Rambeau) está sensacional! Paul Bettany e sua versão "atrapalhada" do Visão subverte aquela postura de herói tecnológico, sem emoções, da sua estreia em "A Era de Ultron" - e faz todo o sentido, diferente da versão pastelão do Hulk que, inclusive, já critiquei anteriormente. Elizabeth Olsen com sua Wanda, que até aqui estava limitada ao segundo plano dos Vingadores, dá um show, equilibrando com muita naturalidade a comédia e o drama - digna de prêmios!

Com um uma trama que discute como lidar com o luto, depois de estarem presos em um eterno vai e vem, da Era de Ouro da TV nos EUA, com imagens em preto e branco, até o presente e vice-versa; "WandaVision" vai além do que vemos nessa tela, pois usa de uma estrutura narrativa complexa para guiar com muita inteligência aos novos caminhos que aquele sensacional Universo tem a oferecer. Imperdível!

Assista Agora

"WandaVision" além de ser mais uma aula de storytelling da Marvel, escancara, mais uma vez, a capacidade do Estúdio de se reinventar baseado em um planejamento cuidadosamente construído para que tudo faça sentido independente do canal de distribuição! Dito isso, fica fácil considerar que essa primeira experiência do MCU no streaming da Disney foi mais um acerto nessa construção única de uma grande jornada, principalmente porquê nem Wanda e nem Vision teriam força o suficiente para segurar um filme solo nos cinemas, então por que não em uma série (ou melhor, em uma minissérie pelo que tudo indica)?

Após os eventos de "Vingadores: Ultimato"(2019), Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), misteriosamente, passam a levar uma vida normal em uma cidade do interior dos EUA. Escondendo seus poderes, a dupla logo começa a suspeitar que nem tudo está tão tranquilo assim. Eles se encontram, na verdade, dentro de uma constante sitcom, que vai desde a década de 50 até os dias de hoje. Conforme o tempo vai passando, Wanda e Visão começam a perder a noção daquela "realidade", a "ficção" vai mostrando outras camadas e a certeza de que algo realmente está muito errado se torna uma questão de tempo. Confira o trailer:

O que vemos em "WandaVision" é selo da Marvel do cinema agora no streaming. Esquece tudo que você já viu antes: de "Demolidor" (que é incrível) à "Agentes da S.H.I.E.L.D." - estamos em uma outra era! A série (vamos chamar assim até que se prove o contrário) segue a cartilha de outras produções de sucesso em seu "conteúdo", alternando momentos de comédia com suspense e ação com maestria, mas, na minha opinião, o que coloca o projeto em outro patamar é a sua "forma". Construir duas linhas narrativas completamente distintas (realidade e ficção) e depois cruzá-las para entregar um final sensacional, com o surgimento de toda mitologia em cima da Feiticeira Escarlate, foi de uma sabedoria para deixar a DC de boca aberta!

Além de uma qualidade técnica e artística em toda produção, que é indiscutível, reparem como elenco, com Kathryn Hahn (Agnes) e Teyonah Parris (Monica Rambeau) está sensacional! Paul Bettany e sua versão "atrapalhada" do Visão subverte aquela postura de herói tecnológico, sem emoções, da sua estreia em "A Era de Ultron" - e faz todo o sentido, diferente da versão pastelão do Hulk que, inclusive, já critiquei anteriormente. Elizabeth Olsen com sua Wanda, que até aqui estava limitada ao segundo plano dos Vingadores, dá um show, equilibrando com muita naturalidade a comédia e o drama - digna de prêmios!

Com um uma trama que discute como lidar com o luto, depois de estarem presos em um eterno vai e vem, da Era de Ouro da TV nos EUA, com imagens em preto e branco, até o presente e vice-versa; "WandaVision" vai além do que vemos nessa tela, pois usa de uma estrutura narrativa complexa para guiar com muita inteligência aos novos caminhos que aquele sensacional Universo tem a oferecer. Imperdível!

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White Lines

"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

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"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

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Zona de Confronto

Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

Vale seu play!

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Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

Vale seu play!

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