Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
“Halston” é mais uma produção Original Netflix assinada por Ryan Murphy (“American Horror Story”, “O Povo contra O.J. Simpson”, “O Assassinato de Gianni Versace”), depois dos mais recentes lançamentos como “Hollywood”, “The Politician” e “Ratched”, além dos filmes “Baile de Formatura” e “The Boys in the Band”. Pois bem, a minissérie conta a história da ascensão e queda do lendário estilista que virou um ícone da moda nos anos 70, Roy Halston. Estrelada por Ewan McGregor, essa é uma minissérie que já vale o destaque entre os lançamentos da plataforma em 2021.
Baseado na biografia “Simply Halston: The Untold Story” de Steven Gaines, “Halston” reconstitui as famosas festas no Studio 54 e mostra, sem nenhum pudor, as farras com drogas e sexo do estilista. Ao longo dos 5 episódios, podemos acompanhar o seu processo criativo, além de ver suas peças mais icônicas tais como o chapéu “pillbox” de Jackie Kennedy, os macacões decotados e brilhantes de Liza Minelli (uma das melhores amigas do estilista) e os lindos figurinos dos balés da Martha Graham. Sua alta produtividade e versatilidade o levavam a criar até 10 coleções por ano, algo até hoje impensável. Sua ambição, segundo ele, era “vestir todas as pessoas da América”. Multifacetado, além de roupas, ele assinou uma linha luxuosa de cama e banho, óculos escuros, tapetes, sapatos, luvas e até o uniforme da polícia de Nova York. Confira o Trailer:
Roy Halston Frowick (1932-1990) foi o primeiro estilista americano a se tornar uma celebridade. Ewan McGregor está excelente no papel e encarnou com perfeição os maneirismos e até a forma peculiar com que Halston falava, tendo recebido elogios rasgados de Ryan Murphy por sua atuação. Todos os trejeitos e estilo de Halston faziam parte do seu branding pessoal. Ele intuitivamente sabia que tinha que se destacar como uma personalidade excêntrica da moda e se inventar como marca, a fim de se tornar um ícone do mundo fashion. A minissérie mostra bem como sua personalidade destemida ajudou a transformar seu nome numa marca tão famosa. Halston conseguia ser tão envolvente e persuasivo que montou o seu primeiro ateliê sem ainda ter os recursos (milionários) necessários, convencendo clientes a investir em sua marca. O que Halston queria, conseguia realizar.
Embora tenha sentido falta de alguns artistas famosos e intelectuais que faziam parte do círculo de Halston, entre eles Andy Warhol e Bianca Jagger, aparentemente a produção preferiu focar mais na genialidade do estilista e na evolução dos seus negócios desde o bem-sucedido licenciamento da marca Halston nos anos 70, fazendo com que a marca se expandisse além das roupas e acessórios até o seu famoso perfume, lançado em 1975, que vendeu 85 milhões de dólares em apenas dois anos.
Se você gosta de dramas biográficos, com aquele toque de empreendedorismo, “Halston” é sob medida para você. Seja pela grande atuação de Ewan McGregor, pela produção impecável ou apenas para conhecer a história desse grande ícone da moda!
Escrito por Ana Cristina Paixão
“Halston” é mais uma produção Original Netflix assinada por Ryan Murphy (“American Horror Story”, “O Povo contra O.J. Simpson”, “O Assassinato de Gianni Versace”), depois dos mais recentes lançamentos como “Hollywood”, “The Politician” e “Ratched”, além dos filmes “Baile de Formatura” e “The Boys in the Band”. Pois bem, a minissérie conta a história da ascensão e queda do lendário estilista que virou um ícone da moda nos anos 70, Roy Halston. Estrelada por Ewan McGregor, essa é uma minissérie que já vale o destaque entre os lançamentos da plataforma em 2021.
Baseado na biografia “Simply Halston: The Untold Story” de Steven Gaines, “Halston” reconstitui as famosas festas no Studio 54 e mostra, sem nenhum pudor, as farras com drogas e sexo do estilista. Ao longo dos 5 episódios, podemos acompanhar o seu processo criativo, além de ver suas peças mais icônicas tais como o chapéu “pillbox” de Jackie Kennedy, os macacões decotados e brilhantes de Liza Minelli (uma das melhores amigas do estilista) e os lindos figurinos dos balés da Martha Graham. Sua alta produtividade e versatilidade o levavam a criar até 10 coleções por ano, algo até hoje impensável. Sua ambição, segundo ele, era “vestir todas as pessoas da América”. Multifacetado, além de roupas, ele assinou uma linha luxuosa de cama e banho, óculos escuros, tapetes, sapatos, luvas e até o uniforme da polícia de Nova York. Confira o Trailer:
Roy Halston Frowick (1932-1990) foi o primeiro estilista americano a se tornar uma celebridade. Ewan McGregor está excelente no papel e encarnou com perfeição os maneirismos e até a forma peculiar com que Halston falava, tendo recebido elogios rasgados de Ryan Murphy por sua atuação. Todos os trejeitos e estilo de Halston faziam parte do seu branding pessoal. Ele intuitivamente sabia que tinha que se destacar como uma personalidade excêntrica da moda e se inventar como marca, a fim de se tornar um ícone do mundo fashion. A minissérie mostra bem como sua personalidade destemida ajudou a transformar seu nome numa marca tão famosa. Halston conseguia ser tão envolvente e persuasivo que montou o seu primeiro ateliê sem ainda ter os recursos (milionários) necessários, convencendo clientes a investir em sua marca. O que Halston queria, conseguia realizar.
Embora tenha sentido falta de alguns artistas famosos e intelectuais que faziam parte do círculo de Halston, entre eles Andy Warhol e Bianca Jagger, aparentemente a produção preferiu focar mais na genialidade do estilista e na evolução dos seus negócios desde o bem-sucedido licenciamento da marca Halston nos anos 70, fazendo com que a marca se expandisse além das roupas e acessórios até o seu famoso perfume, lançado em 1975, que vendeu 85 milhões de dólares em apenas dois anos.
Se você gosta de dramas biográficos, com aquele toque de empreendedorismo, “Halston” é sob medida para você. Seja pela grande atuação de Ewan McGregor, pela produção impecável ou apenas para conhecer a história desse grande ícone da moda!
Escrito por Ana Cristina Paixão
Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.
Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:
É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.
Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.
Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.
"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!
Vale seu play!
Talvez você ainda não tenha assistido um filme sobre ataques terroristas ao redor do planeta por uma perspectiva tão brutal como em "Hotel Mumbai". Esse filme realmente traz o horror dessa experiência tão marcante de uma forma muito palpável, visceral eu diria, que é impossível não se sentir impactado - sua narrativa me lembrou muito o documentário (também imperdível), "13 de Novembro: Terror em Paris". O fato é que "Atentado ao Hotel Taj Mahal" (título nacional), filme de estréia do diretor Anthony Maras, é uma obra cinematográfica que se destaca não apenas pela sua excelência técnica, mas também pela maneira como sua narrativa constrói uma jornada de profunda humanidade e coragem de personagens. Baseado nos eventos reais do atentado ao Hotel Taj Mahal Palace em Mumbai, Índia, o filme oferece uma visão angustiante e comovente sobre os horrores do terrorismo e a resiliência do espírito humano. Recebendo elogios tanto da crítica quanto do público, esse é aquele tipo de obra que transcende os limites do entretenimento e que, de fato, nos faz refletir sobre o extremismo e suas implicações na sociedade - em vários níveis, aliás.
Basicamente "Hotel Mumbai" acompanha a história real de alguns dos seus funcionários, incluindo o renomado chef Hemant Oberoi (Anupam Kher) e de seu ajudante Arjun (Dev Patel), que arriscam suas próprias vidas para proteger os hóspedes do requintado Hotel Taj Mahal Palace durante os ataques terroristas de 2008. Enquanto o caos se desenrola ao seu redor, esses funcionários se tornam heróis improváveis, lutando para manter a calma e a esperança em meio à violência dos extremistas e ao desespero de seus hóspedes. Confira o trailer:
É perceptível a tentativa do diretor Anthony Maras de fazer de "Hotel Mumbai" um recorte intimista do que realmente aconteceu naquele 26 de novembro de 2008 - e por isso fica fácil atestar que sua proposta se destaca pela autenticidade e realismo com que narra os bastidores do atentado. Sua direção é magistral, justamente por criar uma impressionante atmosfera de tensão, capaz de transportar a audiência para dentro do caos sem pedir muita licença. “Golpear contra um símbolo da riqueza e do progresso daÍndia” - era esse um dos objetivos do grupo terrorista Lashkar-e-Taiba ao atacar o Taj Mahal Palace Hotel e outros pontos isolados de Mumbai e é seguindo uma ordem cronológica das mais interessantes que Maras nos dá a exata noção da carnificina que aconteceu na cidade naquele dia. Veja, se o filme propositalmente não se aprofunda nas relações entre os diversos personagens, é nessa sensação de abandono que sua narrativa se apoia - reparem como as histórias pessoais de cada um dos personagens (sejam eles terroristas, hóspedes ou funcionários) são mais sugeridas do que escancaradas.
Existe um conceito claro em "Hotel Mumbai" que ajuda na nossa imersão: em muitos momentos o diretor mistura cenas reais (imagens de arquivo mesmo) com sua versão na ficção - a reconstituição é tão bem feita que vai exigir muito da audiência caso ela queira diferenciar uma da outra. A fotografia do também estreante Nick Remy Matthews, é impecável, já que ele é capaz de captar cada momento com uma intensidade absurda e sem esquecer das referências reais daquelas horas intermináveis de terror. Junto com a montagem e com a direção, sem dúvida, que é a fotografia quem expõe o poder do roteiro de John Collee (de "Mestre dos Mares") em transitar entre o suspense e o drama com a mesma competência e sensibilidade.
Antes de finalizar, impossível não citar as performances dos atores. Dev Patel entrega um trabalho emotivo e poderoso como Arjun, o garçom determinado a proteger os hóspedes do hotel a todo custo, independente do preconceito que sofria. Seu desempenho convincente é a base para brilhante interpretação de Anupam Kher (chef Oberoi) cuja coragem e liderança inspiraram aqueles ao seu redor - a química entre eles é lindo de ver.
"Hotel Mumbai" é uma homenagem aos heróis anônimos que emergiram em meio àquela tragédia, demonstrando coragem, compaixão e humanidade em face do terror. O filme sabe de sua força ao nos servir como um meio de nos transportar para lugares e experiências além de nossa imaginação e vontade, ou seja, não serão raras as vezes que você vai se pegar pensando em "o que eu faria" se estivesse no Hotel Taj Mahal aquela noite. Como "Utoya 22 de Julho", sua narrativa envolvente, performances emocionantes e uma direção habilidosa, "Hotel Mumbai" é uma obra que ficará gravada na sua memória, pode ter certeza!
Vale seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.
O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:
O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante! Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).
Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.
Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!
PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.
Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.
O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:
O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante! Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).
Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.
Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!
PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.
A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!
Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:
Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança") com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!
Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".
"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.
Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!
A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!
Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:
Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança") com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!
Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".
"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.
Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!
Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.
Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.
Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.
"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!
Vale muito o seu play!
Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.
Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.
Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.
"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!
Vale muito o seu play!
"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!
O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:
Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer. Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!
Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!
Vale muito a pena
Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!
"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!
O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:
Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer. Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!
Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!
Vale muito a pena
Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
Se você está em busca de uma experiência cinematográfica que misture boas risadas com algumas lágrimas de emoção, nem perca seu tempo lendo essa análise - pode dar o play que seu entretenimento está garantido! Ao embarcar na incrível jornada que é "Intocáveis", dirigido e escrito por Olivier Nakache e Éric Toledano, você vai encontrar um verdadeiro tesouro do cinema contemporâneo, graças a uma história cativante, com elementos técnicos extremamente bem trabalhados, da direção às performances do elenco (passando pela fotografia e trilha sonora impecáveis), além de uma rara conexão emocional tão profunda que nos acompanha muito depois dos créditos finais. Olha, essa premiadíssima produção francesa de 2011 é realmente imperdível!
Na trama somos apresentado a uma improvável amizade entre o rabugento Philippe (François Cluzet), um aristocrata rico que sofreu um grave acidente e ficou tetraplégico, e o esforçado Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas com problemas físicos. Aos poucos, Driss aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais pelo jovem por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Confira o trailer e saiba o que espera:
"Intocáveis" mergulha na jornada de transformação de ambos os personagens, explorando suas diferenças culturais e sociais de maneira tocante. A narrativa tem o mérito de equilibrar momentos hilários com passagens de grande emoção, receita infalível para conquistar os corações da audiência. O filme, de fato, conquistou não apenas os franceses, mas também o público ao redor do mundo - para você ter uma ideia, o filme custou pouco menos de 10 milhões de euros e faturou mais de 425 milhões de dólares. Um verdadeiro fenômeno de bilheteria!
Nakache e Toledano mostram toda sua maestria na direção ao criar passagens que nos envolvem profundamente com a história. Ao focar na importância da empatia e da quebra de barreiras sociais, os cineastas que estiveram juntos na versão francesa de "Sessão de Terapia", exploram com tanta sensibilidade e inteligência a relação entre Philippe e Driss ao ponto de criar um potente lembrete sobre a importância da amizade e como ela pode surgir nas circunstâncias mais inesperadas - reafirmando que e conexão humana vai muito além de diferenças de classe, cultura ou até de currículo.. A cinematografia do talentoso Mathieu Vadepied (que também assina a direção de arte do filme) captura perfeitamente tanto a grandiosidade dos cenários parisienses quanto a intimidade dos momentos compartilhados entre os dois protagonistas com a mesma delicadeza - é impressionante como os planos bem construídos tocam nossa alma. Aliás, falando em tocar a alma, o que dizer da trilha sonora de "Intocáveis"? É ela que dá o tom do filme, intensificando os sentimentos dos personagens e adicionando camadas emocionais à narrativa como poucas vezes encontramos.
"Intocáveis" é mesmo um filme especial - daqueles que deixam uma marca duradoura em quem o assiste devido a sua história envolvente, com valores emocionais verdadeiramente profundos e que elevam sua narrativa muito além de uma simples comédia dramática - como, aliás, a obra é percebida inicialmente. Eu diria que o filme é uma celebração da amizade genuína, da superação de obstáculos e do poder essencial do amor capaz de transformar as relações humanas. Um filme lindo, para rir, para chorar, mas, principalmente, para refletir sobre o que realmente importa nessa breve passagem que vivenciamos por aqui.
Vale muito o seu play!
Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio.
Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):
Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.
A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos - sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.
"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!
Vale muito o seu play!
Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio.
Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):
Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.
A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos - sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.
"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!
Vale muito o seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!
Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:
É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!
A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".
Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!
"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!
Vale o seu play!
Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!
"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!
Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:
É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!
A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".
Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!
"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!
Vale o seu play!
Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!
Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar.
Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:
Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.
Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.
Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.
É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!
Quando "Joy" chegou aos cinemas em 2015, o filme veio carregado de críticas - umas coerentes, mas a maioria exagerada. Um filme que tem em seu arco principal a superação de uma personagem mulher em busca de um sonho empreendedor para mudar de vida definitivamente, como em "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", precisa ser entendido e interpretado de acordo com sua proposta narrativa, não a partir da filmografia de seu diretor - no caso, David O. Russell que vinha de três grandes sucessos como "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" e "Trapaça", e ainda carregava a pressão de cinco indicações ao Oscar.
Inspirado em uma história real, o filme mostra a emocionante jornada de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher que é ferozmente determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente e insuperável probabilidade de se dar mal. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida melhor, Joy busca com todas as forças, triunfar como a fundadora e inventora do "esfregão", e assim se tornar a matriarca de um bilionário império que transformou sua vida e a de sua família. Confira o trailer:
Veja, talvez a história de Joy seja de fato mais interessante que o filme, mas em hipótese nenhuma podemos dizer que o filme é ruim - ele não é. Algumas escolhas narrativas de O. Russell, que também escreveu o roteiro, me pareceram equivocadas e destaco duas: a narração em off (e a escolha da personagem que faz isso) é ruim e a fixação em tentar encontrar paralelos com a Soap Opera que fez parte da vida de Joy e razão da inércia da sua mãe, pior ainda. Embora ambos sejam artifícios para cortar o caminho sempre complicado de colocar na tela uma biografia com tão pouco tempo de história, é de se notar a pretensão do diretor de querer ser genial - o que acaba sendo um desperdício de energia, pois a jornada de Joy por si só já entregaria uma conexão imediata com o público deixando espaço para algumas alegorias que ele sempre gostou de pontuar (e bem) em seu filmes.
Ao olharmos pelo prisma empreendedor, meu Deus, "Joy" é um retrato tão palpável, que mesmo no exagero do texto ainda sim nos identificamos com a jornada. Vemos como a vida espanca (sim, esse é o termo exato do que acontece) a protagonista diariamente para então acompanharmos como a determinação, a criatividade, a boa vontade, o trabalho e a esperança podem mudar o rumo das coisas. É impressionante como a protagonista vai ao fundo do poço, e claro que isso é romantizado, mas o que importa (e aqui voltamos na proposta narrativa) é a mensagem quase motivacional de resiliência.
Reparem que logo no inicio o diretor já avisa que o filme é sobre “mulheres fortes”, ou seja, se trata de uma tentativa de estabelecer uma visão de empoderamento feminino - que é válido, mas retórico. Disse tudo isso para afirmar que "Joy" (que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "O Nome do Sucesso") pode soar apressada, mas vai te fisgar de acordo com o olhar pela qual você receber a narrativa. Pessoalmente, achei o filme bom, interessante pelo ponto de vista da jornada do herói, mas especialmente válido por conhecer o desafio empreendedor e a vontade de vencer na vida da protagonista mesmo com tantas dificuldades.
É emocionante e divertido, mesmo que falhe como obra biográfica. Vale o play!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.
O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!
Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...
A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!
"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!
Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.
O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!
Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...
A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!
"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!
Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.
Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:
Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).
Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.
Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.
Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!
Vale cada segundo!
Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.
Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.
Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:
Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).
Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.
Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.
Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!
Vale cada segundo!
Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.
"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!
Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!
Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.
As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados.
Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!
É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.
"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!
Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!
Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.
As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados.
Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!
É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lakers: Hora de Vencer" é simplesmente sensacional! Mesmo com alguns excessos conceituais, é inegável que a produção da HBO é um sopro de criatividade e autenticidade na construção de uma narrativa digna do tamanho da representatividade que o Lakers e seus personagens têm para o esporte americano e mundial. Mas a série é para o amante do basquete? Creio que não, mas para quem tem mais de 40 anos e um certo conhecimento sobre o esporte, a experiência será como poucas - além da nostalgia, um excelente entretenimento!
A série, basicamente, gira em torno do novo proprietário do Los Angeles Lakers, Jerry Buss (John C. Reilly) e toda a celebração pela escolha do então novato Earvin "Magic" Johnson (Quincy Isaiah). Além de Magic, outros jogadores icônicos fazem parte da formação, como o pivô Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes), que participaram do processo de reconstrução do time, transformando o Lakers em uma das franquias mais rentáveis e valiosas do esporte americano. Confira o trailer:
A produção de Adam McKay, Max Borenstein e Jim Hecht se apoia no livro "Showtime: Magic, Kareem, Riley, and the Los Angeles Lakers Dynasty of the 1980s", de Jeff Pearlman, para dramatizar a reformulação da franquia e a formação do time que se tornou referência na década de 1980 - os mais antigos ainda vão se lembrar do primeiro jogo, ainda no PC, "Lakers x Celtics", e que depois, em 1991, a Electronic Arts lançou com enorme sucesso para o Mega Drive (mas essa é uma outra história). O fato que conecta essas duas pontas é que se em 1979, o futuro da NBA parecia sombrio, sofrendo com a queda de audiência, graves problemas financeiros e as sempre presentes tensões de um Estados Unidos racista, e foi na ascensão do Lakers (de "Magic" Johnson) e sua rivalidade com o Boston Celtics (de Larry Bird) que ajudaram a mudar as coisas.
Quase documental, e McKay adora construir seu conceito narrativo e visual misturando as duas linguagens, a série tem uma fluidez que poucas vezes encontrei em uma adaptação de uma história real e que tem um recorte bastante extenso de tempo. Só para se ter uma ideia, a temporada da NBA tem 82 jogos e se vemos 5 durante os 10 episódios, é muito - o mais incrível, é que a ação em quadra não faz a menor falta porque o foco da história não está no que acontecia durante os jogos, mas sim nas pessoas que faziam o esporte funcionar - as interações nos bastidores são incríveis. Veja, a série da HBO consegue apoiar todo seu drama nas particularidades de seus personagens e nas performances de um elenco primoroso, de forma que a ausência de um foco narrativo (seja na quadra, no negócio, ou na vida pessoal dos atletas) se torna irrelevante para o entendimento daquele universo e das peculiaridades de uma linha temporal muito bem planejada no roteiro.
John C. Reilly está impecável (separa o Emmy, é sério!). Os estreantes Quincy Isaiah e Solomon Hughes parecem veteranos - a química entre eles transcende a interpretação e acaba na quadra como se fossem, na verdade, dois jogadores profissionais de basquete. Acertar na representação dessas duas figuras tão emblemáticas para o esporte era essencial para que todo o argumento da série funcionasse - e não por acaso ela terá mais temporadas (ainda bem!). Dito isso, é simples indicar "Lakers: Hora de Vencer" se você gostou de "Arremesso Final" da Netflix - mesmo que o gênero seja outro, a jornada é basicamente a mesma, com personagens complexos, momentos de tensão esportiva, de decisões complicadas e de relatos repletos de curiosidade e emoção!
Vale muito a pena!
"Lakers: Hora de Vencer" é simplesmente sensacional! Mesmo com alguns excessos conceituais, é inegável que a produção da HBO é um sopro de criatividade e autenticidade na construção de uma narrativa digna do tamanho da representatividade que o Lakers e seus personagens têm para o esporte americano e mundial. Mas a série é para o amante do basquete? Creio que não, mas para quem tem mais de 40 anos e um certo conhecimento sobre o esporte, a experiência será como poucas - além da nostalgia, um excelente entretenimento!
A série, basicamente, gira em torno do novo proprietário do Los Angeles Lakers, Jerry Buss (John C. Reilly) e toda a celebração pela escolha do então novato Earvin "Magic" Johnson (Quincy Isaiah). Além de Magic, outros jogadores icônicos fazem parte da formação, como o pivô Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes), que participaram do processo de reconstrução do time, transformando o Lakers em uma das franquias mais rentáveis e valiosas do esporte americano. Confira o trailer:
A produção de Adam McKay, Max Borenstein e Jim Hecht se apoia no livro "Showtime: Magic, Kareem, Riley, and the Los Angeles Lakers Dynasty of the 1980s", de Jeff Pearlman, para dramatizar a reformulação da franquia e a formação do time que se tornou referência na década de 1980 - os mais antigos ainda vão se lembrar do primeiro jogo, ainda no PC, "Lakers x Celtics", e que depois, em 1991, a Electronic Arts lançou com enorme sucesso para o Mega Drive (mas essa é uma outra história). O fato que conecta essas duas pontas é que se em 1979, o futuro da NBA parecia sombrio, sofrendo com a queda de audiência, graves problemas financeiros e as sempre presentes tensões de um Estados Unidos racista, e foi na ascensão do Lakers (de "Magic" Johnson) e sua rivalidade com o Boston Celtics (de Larry Bird) que ajudaram a mudar as coisas.
Quase documental, e McKay adora construir seu conceito narrativo e visual misturando as duas linguagens, a série tem uma fluidez que poucas vezes encontrei em uma adaptação de uma história real e que tem um recorte bastante extenso de tempo. Só para se ter uma ideia, a temporada da NBA tem 82 jogos e se vemos 5 durante os 10 episódios, é muito - o mais incrível, é que a ação em quadra não faz a menor falta porque o foco da história não está no que acontecia durante os jogos, mas sim nas pessoas que faziam o esporte funcionar - as interações nos bastidores são incríveis. Veja, a série da HBO consegue apoiar todo seu drama nas particularidades de seus personagens e nas performances de um elenco primoroso, de forma que a ausência de um foco narrativo (seja na quadra, no negócio, ou na vida pessoal dos atletas) se torna irrelevante para o entendimento daquele universo e das peculiaridades de uma linha temporal muito bem planejada no roteiro.
John C. Reilly está impecável (separa o Emmy, é sério!). Os estreantes Quincy Isaiah e Solomon Hughes parecem veteranos - a química entre eles transcende a interpretação e acaba na quadra como se fossem, na verdade, dois jogadores profissionais de basquete. Acertar na representação dessas duas figuras tão emblemáticas para o esporte era essencial para que todo o argumento da série funcionasse - e não por acaso ela terá mais temporadas (ainda bem!). Dito isso, é simples indicar "Lakers: Hora de Vencer" se você gostou de "Arremesso Final" da Netflix - mesmo que o gênero seja outro, a jornada é basicamente a mesma, com personagens complexos, momentos de tensão esportiva, de decisões complicadas e de relatos repletos de curiosidade e emoção!
Vale muito a pena!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Um estado de indecisão, incerteza, indefinição; é mais ou menos isso que significa "Limbo" em seu sentido figurado. "Limbo", o filme, usa de alguma simbologia para contar a história dolorosa de como é estar em um país desconhecido, cercado de incertezas, sendo um refugiado. Dirigido pelo talentoso Ben Sharrock (de "Pikadero"), essa produção britânica é um verdadeiro soco no estômago ao narrar com muita sensibilidade, mas sem deixar de pesar na mão no texto e no visual, toda a dor, sofrimento e humilhação que essas pessoas sofrem ao sair de sua terra natal, do seu lugar, de suas referências, para encarar o desconhecido na busca pela liberdade. Aqui um elemento chama atenção: a perda de toda a essência que se tem de si e da sua cultura - é de machucar a alma.
"Limbo", basicamente, conta a história de Omar (Amir El-Masry), um jovem sírio que se vê obrigado a fugir de seu país devido os conflitos sociais e políticos que já conhecemos. Juntamente com outros três refugiados, um do Afeganistão, um de Gana e um da Nigéria, ele finca morada em uma remota e gélida ilha ao sul da Escócia enquanto espera a regularização de sua situação como refugiado. No entanto, é na relação com seus pais, que também se refugiam não muito longe da Síria, e com seu irmão, que resolveu ficar e lutar, que seus fantasmas ganham força e as lembranças tomam proporções quase insuportáveis. Confira o trailer (em inglês):
Com um tom bastante autoral, Sharrock sabe da dramaticidade de sua história, no entanto ele busca suavizar essa jornada usando um certo humor ácido para contar esse lado obscuro do abandono. Não sei se em algum momento achamos graça de algo, talvez um certo alívio com o personagem Farhad (Vikash Bhai), um afegão apaixonado por Freddie Mercury; mas fora isso somos muito tocados é mesmo pelas situações e também pela subjetividade de uma narrativa precisa que dá uma sofisticada em “Limbo” - tanto é que o filme foi indicado em duas categorias no "BAFTA Awards" e foi um dos vencedores no renomado Festival de San Sebastián.
Logo de cara já chama a atenção ver que o filme é apresentado em uma janela 4:3 e não 16:9. Esse aspecto provoca uma sensação de aprisionamento e mesmo não sendo uma grande inovação criativa, funciona para criar uma atmosfera de desconforto em quem assiste. Os planos lindamente construídos pelo fotógrafo Nick Cooke (de "Anadolu Leopar") parecem pinturas, por outro lado, exploram perfeitamente as sensações mais profundas de melancolia e de esperança simultaneamente - uma linha tênue, mas essencial para o sucesso da narrativa. Aliás, é impressionante como "Limbo" traz aquele contexto emocional complexo de "Nomadland" e "Sombras da Vida".
"Limbo" não é apenas um filme sobre refugiados, é uma experiência visceral que transcende barreiras culturais e ressoa com a essência da humanidade - perdida nas bolhas dos "especialistas de Instagram". De fato não é um filme fácil, sua estética mais autoral não será uma unanimidade e seu ritmo deve afastar boa parte da audiência; agora, e é preciso que se dia, ao embarcar na proposta de Ben Sharrock você estará diante de uma obra de arte que, além de sua beleza estética, oferece uma reflexão realista sobre a busca por identidade e pertencimento. Esqueça os estereótipos, Amir El-Masry é o que mais tememos dentro das jornadas das histórias humanas - ele é a personificação da solidão, da saudade, do receio de falhar, e isso dói de verdade!
Um testemunho duradouro de resiliência e da busca pela esperança em tempos adversos, dê o play e encare essa jornada com o coração aberto!
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.