Não por acaso gosto de afirmar que a maravilha do streaming está na possibilidade de ter contato com filmes como "Divertimento"! Sim, essa é uma história improvável que merecia ser contada e mesmo com um roteiro que deixa algumas pontas soltas, eu te adianto: é impossível não se apaixonar pela história de Zahia Ziouali. Não se preocupe, eu sei que você nem imagina quem seja Zahia Ziouali, natural (eu também nunca tinha ouvido falar); e é justamente por isso que esse filme é tão bacana e merece ser visto - ele vai deixar o seu coração bem quentinho e será difícil tirar o sorriso do rosto por alguns minutos após os créditos! Dirigido por Marie-Castille Mention-Schaar (de "Os Herdeiros"), "Divertimento" é um drama francês inspirado em eventos reais que celebra a paixão pela música e a luta pela igualdade e diversidade no mundo das artes. Através da história de Ziouani, conhecemos uma jovem maestrina de origem argelina que, contra todas as adversidades, luta para realizar seu sonho de liderar uma orquestra sinfônica. Saiba que o filme é mais do que um simples relato sobre superação; é uma reflexão sobre a importância da resiliência e a força transformadora da arte perante a sociedade.
A trama se passa em 1995 e segue Zahia Ziouani (Oulaya Amamra), uma jovem talentosa e ambiciosa de apenas 17 anos que deseja se tornar regente em um universo predominantemente masculino e elitista. Vinda de um subúrbio parisiense, ela enfrenta todo tipo de preconceito enquanto tenta abrir seu próprio caminho no mundo da música clássica. Para alcançar esse objetivo, Zahia decide fundar sua própria orquestra, a Divertimento, onde busca não apenas realizar seus sonhos, mas também oferecer oportunidades para jovens talentos que, como ela e sua irmã Fettouma (Lina El Arabi), foram historicamente excluídos dos palcos tradicionais. Confira o trailer:
"Divertimento" usa da força e do talento da sua protagonista para abordar a questão da representatividade e da inclusão na música clássica, um campo frequentemente associado a uma elite cultural e econômica. O filme não se esquiva de retratar os obstáculos enfrentados por Zahia, desde o preconceito racial até a resistência do establishment musical em aceitar uma jovem mulher de origem árabe como líder de uma orquestra na França dos anos 90. A diretora Marie-Castille Mention-Schaar constrói uma narrativa que é uma homenagem ao talento e a paixão pela música, mas também uma crítica social que questiona as barreiras impostas por uma sociedade inegavelmente machista. A direção de Mention-Schaar é sensível e cuidadosa ao tocar em temas tão sensíveis, evitando o melodrama gratuito e focando muito mais na autenticidade da história de Zahia do que no vitimismo. O filme, nesse sentido, se destaca por seu realismo, utilizando a música como um elemento narrativo que transcende palavras e emoções, servindo como um meio de expressão e, principalmente, de resistência - as cenas em que Zahia conduz a orquestra são particularmente emocionantes, transmitindo a beleza e a intensidade da música clássica de uma forma que captura a audiência, mesmo para aqueles que não são tão familiarizados com esse tipo de arte.
Oulaya Amamra entrega uma atuação poderosa como Zahia, capturando a determinação da personagem, mas também a vulnerabilidade e a insegurança de uma garota de 17 anos. Amamra transmite com autenticidade o peso das expectativas e dos desafios que Zahia enfrenta, ao mesmo tempo que mostra sua paixão ardente pela música que a impulsiona. A forma como Amamra conduz sua personagem é magnética, com uma presença carismática e nuances emocionais primorosas - novamente: é impossível não se conectar com sua jornada. Outro ponto que merece ser observado é a forma como o roteiro sabe lidar com a relação entre a música e a identidade cultural, no entanto Clara Bourreau, que co-escreve com Mention-Schaar, vacila ao querer discutir tantos polis ao ponto de ficar sem tempo de tela para entregar o que ficou apenas sugerido como conflito.
Aproveitando dos contrastes visuais entre os cenários do subúrbio parisiense e os espaços clássicos e imponentes das salas de concerto, "Divertimento" usa da dicotomia entre a origem humilde de Zahia e o mundo elitista da música que ela deseja conquistar, para reforçar o caráter transformador da arte. Emocionante e inspirador, o filme combina a beleza da música com uma mensagem poderosa e atual sobre igualdade. Até por se tratar de um recorte biográfico, é possível afirmar que o filme não é apenas um tributo ao poder da música, mas também à força de uma mulher que, apesar de todas as adversidades, lutou para fazer da sua paixão uma realidade e um exemplo!
Imperdível!
Não por acaso gosto de afirmar que a maravilha do streaming está na possibilidade de ter contato com filmes como "Divertimento"! Sim, essa é uma história improvável que merecia ser contada e mesmo com um roteiro que deixa algumas pontas soltas, eu te adianto: é impossível não se apaixonar pela história de Zahia Ziouali. Não se preocupe, eu sei que você nem imagina quem seja Zahia Ziouali, natural (eu também nunca tinha ouvido falar); e é justamente por isso que esse filme é tão bacana e merece ser visto - ele vai deixar o seu coração bem quentinho e será difícil tirar o sorriso do rosto por alguns minutos após os créditos! Dirigido por Marie-Castille Mention-Schaar (de "Os Herdeiros"), "Divertimento" é um drama francês inspirado em eventos reais que celebra a paixão pela música e a luta pela igualdade e diversidade no mundo das artes. Através da história de Ziouani, conhecemos uma jovem maestrina de origem argelina que, contra todas as adversidades, luta para realizar seu sonho de liderar uma orquestra sinfônica. Saiba que o filme é mais do que um simples relato sobre superação; é uma reflexão sobre a importância da resiliência e a força transformadora da arte perante a sociedade.
A trama se passa em 1995 e segue Zahia Ziouani (Oulaya Amamra), uma jovem talentosa e ambiciosa de apenas 17 anos que deseja se tornar regente em um universo predominantemente masculino e elitista. Vinda de um subúrbio parisiense, ela enfrenta todo tipo de preconceito enquanto tenta abrir seu próprio caminho no mundo da música clássica. Para alcançar esse objetivo, Zahia decide fundar sua própria orquestra, a Divertimento, onde busca não apenas realizar seus sonhos, mas também oferecer oportunidades para jovens talentos que, como ela e sua irmã Fettouma (Lina El Arabi), foram historicamente excluídos dos palcos tradicionais. Confira o trailer:
"Divertimento" usa da força e do talento da sua protagonista para abordar a questão da representatividade e da inclusão na música clássica, um campo frequentemente associado a uma elite cultural e econômica. O filme não se esquiva de retratar os obstáculos enfrentados por Zahia, desde o preconceito racial até a resistência do establishment musical em aceitar uma jovem mulher de origem árabe como líder de uma orquestra na França dos anos 90. A diretora Marie-Castille Mention-Schaar constrói uma narrativa que é uma homenagem ao talento e a paixão pela música, mas também uma crítica social que questiona as barreiras impostas por uma sociedade inegavelmente machista. A direção de Mention-Schaar é sensível e cuidadosa ao tocar em temas tão sensíveis, evitando o melodrama gratuito e focando muito mais na autenticidade da história de Zahia do que no vitimismo. O filme, nesse sentido, se destaca por seu realismo, utilizando a música como um elemento narrativo que transcende palavras e emoções, servindo como um meio de expressão e, principalmente, de resistência - as cenas em que Zahia conduz a orquestra são particularmente emocionantes, transmitindo a beleza e a intensidade da música clássica de uma forma que captura a audiência, mesmo para aqueles que não são tão familiarizados com esse tipo de arte.
Oulaya Amamra entrega uma atuação poderosa como Zahia, capturando a determinação da personagem, mas também a vulnerabilidade e a insegurança de uma garota de 17 anos. Amamra transmite com autenticidade o peso das expectativas e dos desafios que Zahia enfrenta, ao mesmo tempo que mostra sua paixão ardente pela música que a impulsiona. A forma como Amamra conduz sua personagem é magnética, com uma presença carismática e nuances emocionais primorosas - novamente: é impossível não se conectar com sua jornada. Outro ponto que merece ser observado é a forma como o roteiro sabe lidar com a relação entre a música e a identidade cultural, no entanto Clara Bourreau, que co-escreve com Mention-Schaar, vacila ao querer discutir tantos polis ao ponto de ficar sem tempo de tela para entregar o que ficou apenas sugerido como conflito.
Aproveitando dos contrastes visuais entre os cenários do subúrbio parisiense e os espaços clássicos e imponentes das salas de concerto, "Divertimento" usa da dicotomia entre a origem humilde de Zahia e o mundo elitista da música que ela deseja conquistar, para reforçar o caráter transformador da arte. Emocionante e inspirador, o filme combina a beleza da música com uma mensagem poderosa e atual sobre igualdade. Até por se tratar de um recorte biográfico, é possível afirmar que o filme não é apenas um tributo ao poder da música, mas também à força de uma mulher que, apesar de todas as adversidades, lutou para fazer da sua paixão uma realidade e um exemplo!
Imperdível!
"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.
Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:
A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias.
Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.
Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".
"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!
"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.
Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:
A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias.
Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.
Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".
"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!
Essa minissérie vai mexer com suas emoções!
"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.
Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.
O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.
Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.
Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".
“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).
Vale muito o seu play!
Essa minissérie vai mexer com suas emoções!
"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.
Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.
O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.
Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.
Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".
“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).
Vale muito o seu play!
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!
A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!
Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!
Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora: ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!
"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!
Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017
Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição!
Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!
A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!
Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!
Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora: ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!
"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!
Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017
Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição!
Se você gostou de "O Escândalo", "A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa").
Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:
Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo.
Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.
"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!
Se você gostou de "O Escândalo", "A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa").
Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:
Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo.
Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.
"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!
"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!
Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:
A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!
Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona. Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!
Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"
Vale muito o seu play!
"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!
Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:
A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!
Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona. Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!
Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"
Vale muito o seu play!
"Em Defesa de Cristo" me pareceu ser mais um caso de um livro infinitamente melhor que o filme - não que ele seja ruim, mas é que a história é muito (mas, muito) boa.
Lee Strobel (Mike Vogel), é um jornalista conservador e linha dura, vivendo os melhores dias de sua carreira: uma premiada reportagem acaba de lhe render uma promoção como editor jurídico no jornal Chicago Tribune. Mas, seu casamento não vai muito bem. Sua esposa, Leslie (Erika Christensen), se converteu à fé cristã indo contra tudo que Lee pensava, como um ateu convicto, a respeito da religião. Utilizando sua vasta experiência sobre leis e usando o jornalismo como ponto de partida, Lee começa uma jornada para rebater os argumentos do cristianismo e assim salvar seu casamento. Investigando a maior história de sua carreira, Lee se vê cara a cara com fatos inesperados que podem mudar tudo que ele acredita ser verdade. Confira o trailer:
Tecnicamente o roteiro não está à altura que uma história dessas merece: Brian Bird nos apresenta uma resolução um pouco mais superficial e uma trama paralela que poderia ser melhor desenvolvida, se algumas camadas fossem exploradas - existe um embate intimo do protagonista que chama a atenção como gatilho, mas que parece não sair do lugar. Agora, mesmo com algumas inconsistências, eu não deixaria de assistir o filme - na verdade, eu gostei, só que é impossível não imaginar uma história tão potente como essa na mão de alguém com mais força na escrita e até na direção. Aliás, a direção do Jon Gunn ("De Coração Partido") é apenas protocolar - imagine se Denis Villeneuve (de "A Chegada") ou até o DarrenAronofsky (de "Cisne Negro") estivessem no projeto, olha, seria outro patamar!
De fato "The Case for Christ" (título original) é um filme bom, mas que transita pela mediocridade em vários aspectos e momentos - eu diria que é uma boa "Sessão da Tarde" que vai entreter, instigar, provocar, mas que não vai te marcar para sempre! É aquela diversão param sábado chuvoso!
Vale a pena nessas condições!
"Em Defesa de Cristo" me pareceu ser mais um caso de um livro infinitamente melhor que o filme - não que ele seja ruim, mas é que a história é muito (mas, muito) boa.
Lee Strobel (Mike Vogel), é um jornalista conservador e linha dura, vivendo os melhores dias de sua carreira: uma premiada reportagem acaba de lhe render uma promoção como editor jurídico no jornal Chicago Tribune. Mas, seu casamento não vai muito bem. Sua esposa, Leslie (Erika Christensen), se converteu à fé cristã indo contra tudo que Lee pensava, como um ateu convicto, a respeito da religião. Utilizando sua vasta experiência sobre leis e usando o jornalismo como ponto de partida, Lee começa uma jornada para rebater os argumentos do cristianismo e assim salvar seu casamento. Investigando a maior história de sua carreira, Lee se vê cara a cara com fatos inesperados que podem mudar tudo que ele acredita ser verdade. Confira o trailer:
Tecnicamente o roteiro não está à altura que uma história dessas merece: Brian Bird nos apresenta uma resolução um pouco mais superficial e uma trama paralela que poderia ser melhor desenvolvida, se algumas camadas fossem exploradas - existe um embate intimo do protagonista que chama a atenção como gatilho, mas que parece não sair do lugar. Agora, mesmo com algumas inconsistências, eu não deixaria de assistir o filme - na verdade, eu gostei, só que é impossível não imaginar uma história tão potente como essa na mão de alguém com mais força na escrita e até na direção. Aliás, a direção do Jon Gunn ("De Coração Partido") é apenas protocolar - imagine se Denis Villeneuve (de "A Chegada") ou até o DarrenAronofsky (de "Cisne Negro") estivessem no projeto, olha, seria outro patamar!
De fato "The Case for Christ" (título original) é um filme bom, mas que transita pela mediocridade em vários aspectos e momentos - eu diria que é uma boa "Sessão da Tarde" que vai entreter, instigar, provocar, mas que não vai te marcar para sempre! É aquela diversão param sábado chuvoso!
Vale a pena nessas condições!
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.
No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".
Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.
No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".
Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
"Eu, Tonya" acompanha a vida da ex-patinadora no gelo Tonya Harding e mesmo construindo uma linha temporal com um recorte especifico, seu resultado como obra cinematográfica chama atenção pela qualidade do roteiro e pela performance do elenco - algo que dificilmente se conecta quando o assunto é cinebiografia.
Durante a década de 1990, ela conseguiu superar sua infância pobre e surgir como uma verdadeira campeã no campeonato nacional americano e ainda conquistar a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois "supostos" ladrões tentaram incapacitar uma de suas principais adversárias, Nancy Kerrigan (Caitlin Carver) quebrando a perna dela durante a preparação para as Olimpíadas de Inverno na Noruega em 1994. Confira o trailer:
Gostei muito do filme, muito mesmo! Talvez por eu me lembrar perfeitamente do que aconteceu na época e como aquilo tomou conta da mídia (ao melhor estilo O.J. Simpson). O diretor Craig Gillespie foi capaz de fazer um filme com muita inteligência - usou de vários artifícios narrativos para costurar a história desde a época em que Tonya ainda era uma criança até a sua apresentação nas Olimpíadas de Inverno aos 23 anos de idade. Ele brincou com as mídias da época, usou vários recursos estéticos e narrativos com total equilíbrio e propriedade. O filme tem alguns planos sequências belíssimos. Ele fez uma espécie de "Cisne Negro" no gelo - aplicou o conceito que o Aronofsky usou na dança para dar a leveza e o movimento das apresentações no gelo e ficou lindo!
Margot Robbie mais uma vez provou ser uma ótima atriz e não fosse pelo show da Frances McDormand, seria minha favorita para o Oscar 2018! Ela é linda e estava completamente desconstruída para o papel - demais! Allison Janney vai levar melhor atriz coadjuvante - pode me cobrar!!! Grande performance!!! O trabalho de montagem, terceira e última indicação, também é muito bom, mas acho que não tem força vai levar!!!
Olha, estamos falando de um grande filme - acho até um pecado não estar entre os 9 finalistas na disputa de Melhor Filme do Ano - não que fosse, mas sua indicação chancelaria sua qualidade!
Vale muito seu play!
"Eu, Tonya" acompanha a vida da ex-patinadora no gelo Tonya Harding e mesmo construindo uma linha temporal com um recorte especifico, seu resultado como obra cinematográfica chama atenção pela qualidade do roteiro e pela performance do elenco - algo que dificilmente se conecta quando o assunto é cinebiografia.
Durante a década de 1990, ela conseguiu superar sua infância pobre e surgir como uma verdadeira campeã no campeonato nacional americano e ainda conquistar a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois "supostos" ladrões tentaram incapacitar uma de suas principais adversárias, Nancy Kerrigan (Caitlin Carver) quebrando a perna dela durante a preparação para as Olimpíadas de Inverno na Noruega em 1994. Confira o trailer:
Gostei muito do filme, muito mesmo! Talvez por eu me lembrar perfeitamente do que aconteceu na época e como aquilo tomou conta da mídia (ao melhor estilo O.J. Simpson). O diretor Craig Gillespie foi capaz de fazer um filme com muita inteligência - usou de vários artifícios narrativos para costurar a história desde a época em que Tonya ainda era uma criança até a sua apresentação nas Olimpíadas de Inverno aos 23 anos de idade. Ele brincou com as mídias da época, usou vários recursos estéticos e narrativos com total equilíbrio e propriedade. O filme tem alguns planos sequências belíssimos. Ele fez uma espécie de "Cisne Negro" no gelo - aplicou o conceito que o Aronofsky usou na dança para dar a leveza e o movimento das apresentações no gelo e ficou lindo!
Margot Robbie mais uma vez provou ser uma ótima atriz e não fosse pelo show da Frances McDormand, seria minha favorita para o Oscar 2018! Ela é linda e estava completamente desconstruída para o papel - demais! Allison Janney vai levar melhor atriz coadjuvante - pode me cobrar!!! Grande performance!!! O trabalho de montagem, terceira e última indicação, também é muito bom, mas acho que não tem força vai levar!!!
Olha, estamos falando de um grande filme - acho até um pecado não estar entre os 9 finalistas na disputa de Melhor Filme do Ano - não que fosse, mas sua indicação chancelaria sua qualidade!
Vale muito seu play!
"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.
O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:
É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.
Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.
Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!
"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.
O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:
É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.
Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.
Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!
"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf".
Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:
Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!
"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu play.
"Ferrugem e Osso" é uma adaptação do livro homónimo do canadense Craig Davidson. Ele foi um filme premiadíssimo na temporada de 2012 em vários festivais importantes e que rendeu a indicação de melhor atriz no Globo de Ouro para Marion Cotillard, 4 anos depois dela ter ganho o Oscar com "Piaf".
Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Fracassado, ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele acaba conhecendo Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de baleias que trabalha em um parque aquático da cidade. Alain leva Stéphanie para casa e acaba deixando seu cartão, caso ela precise de algum serviço. O que eles não imaginavam é que, pouco tempo depois, ela sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Confira o lindo trailer:
Olha, esse tipo tema os franceses dominam: o filme é muito bom, mas realmente quem rouba a cena é a Marion Cotillard com um trabalho sensível, profundo nas emoções, na entrega! A direção do Jacques Audiard ("O profeta") é impecável - sua capacidade de trabalhar as cenas mais delicadas do filme com uma certa poesia, não tirou sua dramaticidade e imprimiu uma atmosfera incrível para a história. Outro elemento que merece destaque é a Trilha Sonora do Alexandre Desplat - 11 vezes indicado ao Oscar e Vencedor com a "A Forma da Água"!
"Ferrugem e Osso" não é um "O Escafandro e a Borboleta", nem um "Intocáveis", mas caminha na mesma direção! Vale o seu play.
Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!
A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil. Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.
A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.
Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.
Imperdível!
Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!
A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil. Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.
A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.
Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.
Imperdível!
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:
Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.
"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.
Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!
Orlando, na Florida, é considerada a capital mundial das férias. Um paraíso que recebe anualmente milhões de turistas do mundo inteiro - uma espécie de "Reino Mágico" com incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos, etc. Mas Orlando tem o seu outro lado, sem tanto brilho, sem tanta diversão! É essa história que "Florida Project" teme em contar: Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), de seis anos, vivem em um motel barato de beira de estrada. Enquanto a mãe se vira entre um trabalho mal pago e uma vida caótica, Moonee e suas amigas do motel ao lado passam os dias explorando prédios abandonados, tomando sorvete e pregando peças nos funcionários – tendo como alvo especial o sempre paciente Bobby (Willem Dafoe). Confira o trailer:
Na maratona "Oscar 2018", acho que o filme que mais gostei (e o que tem menos indicações) foi "Florida Project"! Ele é quase um documentário, cruel, realista e visceral de uma sociedade americana que não costuma aparecer em Hollywood! O diretor Sean Baker (de "Tangerine") trouxe uma câmera solta, caótica as vezes - tudo isso para expor, sem pedir licença, as histórias por trás desse Motel baixo-custo de Orlando e, claro, de seus moradores - especialmente de uma mãe completamente irresponsável e de sua filha de 6 anos. São planos curtos, cortes secos e não lineares - o que dá uma dinâmica muito interessante para o filme. A fotografia do mexicano Alexis Zabe é sensacional, muitas vezes vista de baixo para cima, propositalmente sem um enquadramento perfeito e que escancara uma Orlando que não estamos acostumados e como ela interfere na vida dessas crianças "reais", sem condições de viver a magia que a cidade oferece aos turistas.
"Florida Project" é um filme muito interessante com uma narrativa inteligente e muito bem conduzida. O desenho de som, somada a essa fotografia, é um show a parte. A cada plano externo, ouvimos (e vemos) os helicópteros pousando ou decolando, jogando na nossa cara o abismo social que é discutido no filme. A indicação para o Oscar ficou por conta de Dafoe (melhor ator coadjuvante) - essa indicação faz justiça a um belíssimo trabalho. E digo mais, daria pra ter colocado a criança, Brooklyn Prince, e a sua mãe Bria Vinaite, nessa disputa tranquilamente.
Olha, é um grande trabalho... Emocionante!!! Não deixem de assistir!!!
Basicamente existe duas formas de assistir "Fome de Poder" - a primeira pelo entretenimento puro e simples, e aí talvez o filme não seja tão consistente, dinâmico e empolgante quanto sua premissa prometia. A segunda, e é aí que o roteiro brilha, é que a história por trás de Ray Kroc é simplesmente genial - uma aula com muitos elementos e nuances que servem de lição para quem empreende (para o lado bom e para lado ruim).
O filme do diretor John Lee Hancock (de "Um sonho possível") se propõe a contar a história de ascensão do McDonald's. Após receber uma demanda sem precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora do normal, um fracassado vendedor de Illinois chamado Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participação nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald no sul da Califórnia e, pouco a pouco, eliminando os dois das decisões estratégicas, acaba transformando a marca em um gigantesco império de fast food. Confira o trailer:
Muito mais do que uma rede de lanchonetes, o McDonald's se tornou um verdadeiro símbolo cultural que conquistou o planeta e como o próprio Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg sugeriu em "A Rede Social": "Você não faz 500 milhões de amigos, sem fazer alguns inimigos". Pois bem, a história de Ray Kroc inegavelmente segue esse mesmo conceito em sua jornada empreendedora e obviamente existe um preço a se pagar. Kroc é apresentado como uma pessoa determinada, visionária, resiliente e tão focada no sucesso que em nenhum momento hesita em abrir mão de sua ética profissional ou de sua relação com a família para alcançar seu objetivo - é impressionante como o roteiro do Robert Siegel (do imperdível "Bem-Vindos ao Clube da Sedução") vai construindo essa persona e Keaton vai embarcando na ideia com uma performance digna de muitos prêmios.
Embora "Fome de Poder" possa ser considerado um "filme de ator", sua estrutura narrativa naturalmente amplia a visão do entretenimento para ganhar ainda mais força com as lições que a própria história pode nos ensinar. Frases como "Se você pretende crescer na vida, pessoal e profissionalmente, deve aprender a assumir riscos" ou "Você não precisa ser o melhor em tudo, desde que esteja cercado das melhores pessoas para auxiliá-lo” pontuam uma linha do tempo bem construída, mas que não deixa de pincelar aquele certo tom de fábula. A fotografia do John Schwartzman (indicado ao Oscar por "Seabiscuit: Alma de Herói") prioriza as cores quentes e saturadas, criando uma ambientação agradável, enquanto a trilha sonora de Carter Burwell (de "Três Anúncios para um Crime") se prontifica a trazer a transição entre o triunfante e o sombrio - reparem como o mood do filme vai se modificando, ganhando ares de "Succession" mesmo antes da série da HBO se quer existir.
"Fome de Poder" pode dividir opiniões baseado no olhar ou na perspectiva de quem assiste. Sim, existe um discurso cínico, fortemente apoiado nos pilares do capitalismo (selvagem) americano, mas nunca crítico em relação aos movimentos de Ray Kroc e de suas escolhas estratégicas - principalmente se levarmos em consideração que todo marketing das redes de fast foodno EUA, historicamente, deriva de uma premissa de costumes, de coletividade; e não de conveniências da industrialização. Dito isso, posso te garantir que "The Founder" (no original) tem um apelo inegável enquanto narrativa e que certamente vai te provocar muitas reflexões, além de expandir seus horizontes como quem é capaz de ler (e perceber) as maravilhas escritas nas entre-linhas.
Vale muito o seu play!
Basicamente existe duas formas de assistir "Fome de Poder" - a primeira pelo entretenimento puro e simples, e aí talvez o filme não seja tão consistente, dinâmico e empolgante quanto sua premissa prometia. A segunda, e é aí que o roteiro brilha, é que a história por trás de Ray Kroc é simplesmente genial - uma aula com muitos elementos e nuances que servem de lição para quem empreende (para o lado bom e para lado ruim).
O filme do diretor John Lee Hancock (de "Um sonho possível") se propõe a contar a história de ascensão do McDonald's. Após receber uma demanda sem precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora do normal, um fracassado vendedor de Illinois chamado Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participação nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald no sul da Califórnia e, pouco a pouco, eliminando os dois das decisões estratégicas, acaba transformando a marca em um gigantesco império de fast food. Confira o trailer:
Muito mais do que uma rede de lanchonetes, o McDonald's se tornou um verdadeiro símbolo cultural que conquistou o planeta e como o próprio Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg sugeriu em "A Rede Social": "Você não faz 500 milhões de amigos, sem fazer alguns inimigos". Pois bem, a história de Ray Kroc inegavelmente segue esse mesmo conceito em sua jornada empreendedora e obviamente existe um preço a se pagar. Kroc é apresentado como uma pessoa determinada, visionária, resiliente e tão focada no sucesso que em nenhum momento hesita em abrir mão de sua ética profissional ou de sua relação com a família para alcançar seu objetivo - é impressionante como o roteiro do Robert Siegel (do imperdível "Bem-Vindos ao Clube da Sedução") vai construindo essa persona e Keaton vai embarcando na ideia com uma performance digna de muitos prêmios.
Embora "Fome de Poder" possa ser considerado um "filme de ator", sua estrutura narrativa naturalmente amplia a visão do entretenimento para ganhar ainda mais força com as lições que a própria história pode nos ensinar. Frases como "Se você pretende crescer na vida, pessoal e profissionalmente, deve aprender a assumir riscos" ou "Você não precisa ser o melhor em tudo, desde que esteja cercado das melhores pessoas para auxiliá-lo” pontuam uma linha do tempo bem construída, mas que não deixa de pincelar aquele certo tom de fábula. A fotografia do John Schwartzman (indicado ao Oscar por "Seabiscuit: Alma de Herói") prioriza as cores quentes e saturadas, criando uma ambientação agradável, enquanto a trilha sonora de Carter Burwell (de "Três Anúncios para um Crime") se prontifica a trazer a transição entre o triunfante e o sombrio - reparem como o mood do filme vai se modificando, ganhando ares de "Succession" mesmo antes da série da HBO se quer existir.
"Fome de Poder" pode dividir opiniões baseado no olhar ou na perspectiva de quem assiste. Sim, existe um discurso cínico, fortemente apoiado nos pilares do capitalismo (selvagem) americano, mas nunca crítico em relação aos movimentos de Ray Kroc e de suas escolhas estratégicas - principalmente se levarmos em consideração que todo marketing das redes de fast foodno EUA, historicamente, deriva de uma premissa de costumes, de coletividade; e não de conveniências da industrialização. Dito isso, posso te garantir que "The Founder" (no original) tem um apelo inegável enquanto narrativa e que certamente vai te provocar muitas reflexões, além de expandir seus horizontes como quem é capaz de ler (e perceber) as maravilhas escritas nas entre-linhas.
Vale muito o seu play!
"Ford vs Ferrari" é um filme que escancara a necessidade absurda que os americanos tem de provar que sua estrutura capitalista é a melhor do mundo! Por mais que essa frase possa parecer carregada de orientações políticas e até ideológicas, eu já me adianto: não é o caso! Porém é impossível fechar os olhos para a maneira como essa história foi contada!
No meio da década de 60, a Ford sentia a necessidade de transformar a percepção de como toda uma nova geração de americanos viam seus carros: de um meio de transporte para um símbolo de status e alta performance. Para isso, foi sugerido ao então presidente, Henry Ford II (Tracy Letts), neto do fundador da empresa, que iniciasse um processo de aquisição da Ferrari, que estava à beira da falência. A montadora italiana possuía os atributos que a Ford sonhava em construir e ainda, de quebra, vinha tendo anos de sucesso em competições automobilísticas - seria o casamento perfeito! Acontece que Enzo Ferrari queria manter o controle sobre sua marca mesmo depois da venda, mas a Ford nunca levou isso em consideração. Resultado: a Ferrari acabou fechando negócio com a Fiat e frustrou os planos de Henry Ford II. Ressentido, Henry partiu para o contra-ataque: convocou os melhores designers e engenheiros para fabricar um carro esportivo que pudesse destronar a Ferrari no maior evento esportivo da época: as 24 horas de Le Mans.
Pela sinopse é possível ter uma idéia bastante clara do que esperar de "Ford vs Ferrari", pois o filme é uma imersão nos bastidores do automobilismo raiz - com cheiro de pneu queimado e mancha de óleo para todo lado. Se você se identifica com esse universo, vá em frente que a diversão está garantida: no mínimo pelas boas sequências de corridas como Daytona e, claro, Le Mans.
Um dos aspectos técnicos que mais me agradou ao assistir "Ford vs Ferrari" foi, sem dúvida, a edição (inclusive indicada ao Oscar 2020). Embora muito bem filmadas pelo diretor James Mangold (Logan), a dinâmica das corridas tem muito da mão de Michael McCusker e equipe. São cortes rápidos, bem escolhidos e completamente alinhados aos movimentos de câmera que Mangold sabe fazer como poucos (basta lembrar das sequências de luta em "Logan") - na minha opinião, as cenas das corridas estão melhores do que assistimos em "Rush", embora, no geral, o filme dirigido pelo do Ron Howard me agrade mais! Desenho de Som e Mixagem, também indicados ao Oscar, merecem um destaque. A construção da ambientação de uma corrida de automóvel é extremamente complexa e "Ford vs Ferrari" foi capaz de entregar uma experiência muito interessante - é aquele típico filme que merece um tela grande e um bom equipamento de som como pede "1917", por exemplo. Nessas categorias, "Ford vs Ferrari" pode até ser considerado um dos favoritos e não me surpreenderia em nada se ganhasse. A quarta e última indicação é a mais polêmica: "Melhor Filme" - sinceramente, não acho que "Ford vs Ferrari" tem força para estar nessa categoria. Se compararmos com filmes como "Dois Papas"ou "Rocketman" é possível afirmar que a indicação já foi seu prêmio! Não estou dizendo com isso que o filme seja ruim, apenas que existem filmes melhores na fila que foram esquecidos só no Oscar! O roteiro de "Ford vs Ferrari" é bom nos dois primeiros atos, mas é completamente desequilibrado no terceiro: reparem como a história proposta já estava contada no final da corrida de Le Mans - não precisava de mais nada do que foi para tela depois. Christian Bale como o piloto Ken Miles está, mais uma vez, sensacional e sua ausência no Oscar se deve, única e exclusivamente, ao altíssimo nível dos indicados desse ano. Matt Damon como o lendário Carroll Shelby praticamente some ao lado dele.
O fato é que "Ford vs Ferrari" tem ótimos momentos de ação, uma história interessante, mas que infelizmente, muito em breve, será outro filme de "sessão da tarde". Os aspectos técnicos realmente merecem ser observados, mas, na minha opinião, faltou alma para que o filme vingasse. A natural comparação com "Rush" é perfeita nesse caso, pois fica bem fácil visualizar como a fusão dessas duas obras seria a situação ideal - se "Rush" tem um drama melhor construído e um texto mais consistente, "Ford vs Ferrari" tem nas cenas de ação sua maior força, o que diverte, mas não sei se justifica as duas horas e meia de tela! Eu, pessoalmente, até gostei do filme, mas indicaria apenas para um público bem especifico, pois para quem não se identifica com o tema, vai ser como assistir uma briga de dois garotos lutando para ver quem é o mais forte (como, inclusive, aparece no filme)!
Up-date: "Ford vs Ferrari" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Edição de Som e Melhor Montagem!
"Ford vs Ferrari" é um filme que escancara a necessidade absurda que os americanos tem de provar que sua estrutura capitalista é a melhor do mundo! Por mais que essa frase possa parecer carregada de orientações políticas e até ideológicas, eu já me adianto: não é o caso! Porém é impossível fechar os olhos para a maneira como essa história foi contada!
No meio da década de 60, a Ford sentia a necessidade de transformar a percepção de como toda uma nova geração de americanos viam seus carros: de um meio de transporte para um símbolo de status e alta performance. Para isso, foi sugerido ao então presidente, Henry Ford II (Tracy Letts), neto do fundador da empresa, que iniciasse um processo de aquisição da Ferrari, que estava à beira da falência. A montadora italiana possuía os atributos que a Ford sonhava em construir e ainda, de quebra, vinha tendo anos de sucesso em competições automobilísticas - seria o casamento perfeito! Acontece que Enzo Ferrari queria manter o controle sobre sua marca mesmo depois da venda, mas a Ford nunca levou isso em consideração. Resultado: a Ferrari acabou fechando negócio com a Fiat e frustrou os planos de Henry Ford II. Ressentido, Henry partiu para o contra-ataque: convocou os melhores designers e engenheiros para fabricar um carro esportivo que pudesse destronar a Ferrari no maior evento esportivo da época: as 24 horas de Le Mans.
Pela sinopse é possível ter uma idéia bastante clara do que esperar de "Ford vs Ferrari", pois o filme é uma imersão nos bastidores do automobilismo raiz - com cheiro de pneu queimado e mancha de óleo para todo lado. Se você se identifica com esse universo, vá em frente que a diversão está garantida: no mínimo pelas boas sequências de corridas como Daytona e, claro, Le Mans.
Um dos aspectos técnicos que mais me agradou ao assistir "Ford vs Ferrari" foi, sem dúvida, a edição (inclusive indicada ao Oscar 2020). Embora muito bem filmadas pelo diretor James Mangold (Logan), a dinâmica das corridas tem muito da mão de Michael McCusker e equipe. São cortes rápidos, bem escolhidos e completamente alinhados aos movimentos de câmera que Mangold sabe fazer como poucos (basta lembrar das sequências de luta em "Logan") - na minha opinião, as cenas das corridas estão melhores do que assistimos em "Rush", embora, no geral, o filme dirigido pelo do Ron Howard me agrade mais! Desenho de Som e Mixagem, também indicados ao Oscar, merecem um destaque. A construção da ambientação de uma corrida de automóvel é extremamente complexa e "Ford vs Ferrari" foi capaz de entregar uma experiência muito interessante - é aquele típico filme que merece um tela grande e um bom equipamento de som como pede "1917", por exemplo. Nessas categorias, "Ford vs Ferrari" pode até ser considerado um dos favoritos e não me surpreenderia em nada se ganhasse. A quarta e última indicação é a mais polêmica: "Melhor Filme" - sinceramente, não acho que "Ford vs Ferrari" tem força para estar nessa categoria. Se compararmos com filmes como "Dois Papas"ou "Rocketman" é possível afirmar que a indicação já foi seu prêmio! Não estou dizendo com isso que o filme seja ruim, apenas que existem filmes melhores na fila que foram esquecidos só no Oscar! O roteiro de "Ford vs Ferrari" é bom nos dois primeiros atos, mas é completamente desequilibrado no terceiro: reparem como a história proposta já estava contada no final da corrida de Le Mans - não precisava de mais nada do que foi para tela depois. Christian Bale como o piloto Ken Miles está, mais uma vez, sensacional e sua ausência no Oscar se deve, única e exclusivamente, ao altíssimo nível dos indicados desse ano. Matt Damon como o lendário Carroll Shelby praticamente some ao lado dele.
O fato é que "Ford vs Ferrari" tem ótimos momentos de ação, uma história interessante, mas que infelizmente, muito em breve, será outro filme de "sessão da tarde". Os aspectos técnicos realmente merecem ser observados, mas, na minha opinião, faltou alma para que o filme vingasse. A natural comparação com "Rush" é perfeita nesse caso, pois fica bem fácil visualizar como a fusão dessas duas obras seria a situação ideal - se "Rush" tem um drama melhor construído e um texto mais consistente, "Ford vs Ferrari" tem nas cenas de ação sua maior força, o que diverte, mas não sei se justifica as duas horas e meia de tela! Eu, pessoalmente, até gostei do filme, mas indicaria apenas para um público bem especifico, pois para quem não se identifica com o tema, vai ser como assistir uma briga de dois garotos lutando para ver quem é o mais forte (como, inclusive, aparece no filme)!
Up-date: "Ford vs Ferrari" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Edição de Som e Melhor Montagem!
Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.
"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:
Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.
Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.
"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.
Vale eu play!
Chega a soar absurdo o que aconteceu com a família Von Erich! Olha, uma verdadeira pancada - então esteja preparado! "Garra de Ferro" é um drama biográfico que mergulha na trágica e complexa história da família Von Erich, que acabou ganhando notoriedade por ser uma dinastia de lutadores de luta livre que alcançou tanto o auge da fama e do sucesso profissional quanto o abismo de inúmeras tragédias pessoais. "The Iron Claw" (no original) traz a sensibilidade de seu diretor Sean Durkin (de "Martha Marcy May Marlene" e de "O Refúgio"), para contar uma história difícil de maneira íntima e emocional, capturando as nuances de personagens cheios de camadas e os efeitos devastadores de suas escolhas ao longo da vida. O filme, desde seu prólogo, é uma exploração intensa e muitas vezes melancólica das pressões e dos desafios enfrentados por uma família que viveu à sombra das frustração de seu patriarca.
"Garra de Ferro" acompanha a vida e a carreira dos irmãos Von Erich, pela perspectiva de Kevin (Zac Efron). A narrativa explora a ascensão dos irmãos no mundo da luta livre profissional durante os anos 1980, sua rivalidade tanto dentro quanto fora do ringue, e o impacto esmagador das expectativas familiares e da indústria brutal desse esporte. O filme também aborda o "Von Erich curse", uma série de tragédias pessoais que afetaram a família, resultando em um legado marcado pela dor e pela perda. Confira o trailer:
Durkin dirige "Garra de Ferro" com uma abordagem interessante: visceral, mas introspectiva. Ele cria uma atmosfera densa e carregada de tensão, utilizando um conceito visual que alterna entre a luz crua dos holofotes do ringue e os tons pesados das cenas mais íntimas e pessoais de seus protagonistas. Essa escolha de Durkin por uma câmera mais próxima reflete o peso emocional da história, nos colocando ali, como observadores, criando uma fácil conexão com a psicologia dos personagens. Esta abordagem, sem dúvida, dá ao filme uma autenticidade e uma profundidade emocional que faz toda diferença na nossa experiência, mas saiba: não estamos falando de um filme de esporte e superação, estamos falando de um drama profundo sobre as relações humanas. O roteiro, também escrito por Durkin, é bem estruturado e equilibrado, misturando momentos de intensidade física e ação com cenas mais silenciosas - em nenhum momento o roteiro se desvia das verdades mais duras e brutais sobre o que os irmãos Von Erich enfrentaram, tanto como lutadores quanto como indivíduos lidando com problemas de saúde mental, pressão familiar e a busca incessante por validação, amor e sucesso.
Zac Efron entrega uma performance poderosa, capturando a força física e emocional do seu personagem como poucas vezes vi - talvez aqui a referência de Mickey Rourke em "O Lutador" se faça presente. Efron se transformou fisicamente para o papel, mostrando uma dedicação ao seu desempenho que vai além da aparência, trazendo uma vulnerabilidade que ressoa ao longo do filme. Efron realmente entrega um retrato empático e convincente de um homem que traz o peso das expectativas familiares e a dor da perda. Holt McCallany, como o patriarca Fritz Von Erich, também merece elogios - odioso, ele é a presença dominante, e muitas vezes intimidadora, da família, cujo amor duro e suas expectativas inflexíveis moldaram o destino de seus filhos e deixaram sérias marcas. Repare como as interações entre os personagens são ricas e emocionalmente carregadas, mesmo em seu subtexto, refletindo a dinâmica disfuncional da família e o peso que cada um carrega.
"Garra de Ferro" realmente pode parecer um pouco denso ou sobrecarregado demais em certos momentos. A expectativa que a narrativa vai criando ao longo do primeiro ato e que se transforma em um caos tão avassalador no segundo, com a ênfase no sofrimento e na tragédia, pode até ser vista como um tanto opressiva. Com poucos momentos de alívio ou esperança, assistir todo o filme exige da audiência, mas nem de longe tira o seu brilho. O que temos aqui é uma obra poderosa e profundamente humana, retratada com uma honestidade brutal, mas também com o respeito pela resiliência de sua jornada e de seus protagonistas.
Vale eu play!