"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!
O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:
"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!
Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!
Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"One person unicorn" é a expressão usada para designar uma "empresa de um homem só" que é avaliada em mais de US$ 1 bilhão e que, em tempos de influência digital, serve para definir um "fundador" que se transformou em uma marca tão sólida e tão poderosa capaz de gerar muito (mas, muito) dinheiro! Embora essa expressão tenha sido criada há mais de dez anos, ela foi se adaptando de acordo com as transformações culturais e de mercado, no entanto um nome precisa ser estudado quando tal assunto vem à tona: Martha Stewart! "Martha", dirigido por R.J. Cutler (de "Big Vape"), é um documentário biográfico que oferece uma visão íntima e ampla da vida de Martha Stewart, uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e lifestyle nos Estados Unidos. Cutler aproveita a colaboração e abertura pessoal da própria Martha, que compartilha seus arquivos pessoais, incluindo fotos, cartas e registros de um diário que escreveu na prisão, nunca antes visto, para construir um retrato completo da empresária e influenciadora.
O documentário da Netflix cobre desde a infância e juventude de Martha Stewart até seu caminho para se tornar um ícone da cultura americana, abordando marcos em sua vida como a construção de seu império e o período conturbado de sua prisão por acusações de "insider trading". Cutler estrutura o documentário de forma cronológica, utilizando uma narrativa que é ao mesmo tempo inspiradora e reveladora para explorar como Martha, com sua visão única de estilo e negócios, revolucionou o conceito de “faça você mesmo” e levou as práticas de organização e decoração ao mainstream, tornando-se uma referência para gerações de consumidores americanos. Confira o trailer:
Talvez o grande diferencial de "Martha" seja a abordagem de Cutler: intimista e respeitosa, o diretor permite que Martha Stewart apresente sua própria história em suas próprias palavras. As entrevistas com Martha são reveladoras e, em muitos momentos, emocionantes, pois ela compartilha suas conquistas e desafios com uma honestidade brutal - ao ponto de em algumas passagens pessoais soar até hipócrita. Essa perspectiva direta enriquece o documentário, pois permite que a audiência veja além da figura pública ("perfeitamente perfeita") e entenda as motivações, os sacrifícios e as ambições que moldaram sua trajetória cheia de erros e aprendizados. Martha reflete sobre a complexidade de seu sucesso e sobre as críticas e controvérsias que enfrentou, mostrando-se vulnerável e determinada ao mesmo tempo.
A montagem do documentário é hábil em intercalar essas entrevistas com imagens de arquivo, documentos pessoais e cenas icônicas de programas e eventos protagonizados por Martha ao longo de sua carreira. Esse material de arquivo dá ao público uma sensação autêntica da época e do impacto cultural de Martha Stewart, revelando não apenas a mulher de negócios implacável, mas também a pessoa por trás da marca. O uso de fotos e cartas pessoais adiciona camadas emocionais à narrativa, permitindo uma compreensão mais profunda de sua vida privada e de como ela lidou com momentos difíceis e de superação. Repare como o diretor usa a voz de pessoas próximas de Martha para narrar determinadas passagens e assim imprimir um certo mood de intimidade entre a história contada e a realidade vivida.
O documentário também explora as complexidades e as pressões de ser uma mulher empreendedora de sucesso em um mundo dominado por homens. "Martha" não ignora as dificuldades que Stewart enfrentou ao consolidar seu nome e seu império, incluindo a desconfiança e o ceticismo que muitas vezes são direcionados a mulheres bem-sucedidas e poderosas. Ao tratar do episódio de sua prisão, Cutler aborda como Martha enfrentou as consequências de uma perseguição velada com resiliência e como o episódio impactou sua vida pessoal e profissional. O filme também analisa como a mídia e o público reagiram a essa fase de sua vida, evidenciando os julgamentos e as expectativas frequentemente dirigidos à celebridades que, por alguma razão, desabam do topo!
Embora "Martha" seja uma espécie de celebração da vida e das conquistas de Martha Stewart, o documentário não se exime de fazer uma análise crítica de como o sucesso tem seu custo. Ao pontuar os sacrifícios que ela fez para alcançar o topo e as repercussões de ser uma figura dura e ambiciosa, o filme oferece um recorte de sua personalidade que poucas pessoas conhecem e utiliza de uma perspectiva bastante interessante para narrar os altos e baixos de uma vida marcada pelo sucesso e pela controvérsia!
Vale muito o seu play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).
Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:
Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.
Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.
Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história.
Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua".
“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.
Vale muito a pena!
“Mike" que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "Além de Tyson”, é um recorte curioso sobre a história de vida de um dos maiores boxeadores de todos os tempos! Seguindo um conceito narrativo bem similar ao que a HBO aplicou em "Lakers: Hora de Vencer", a minissérie da Hulu (aqui disponível no Star+) parte de uma ideia bem interessante: mostrar em retrospectiva alguns dos momentos-chave da vida do lutador sob a perspectiva do próprio protagonista (com excessão do polêmico episódio 5, onde quem tem voz é apenas Desiree Washington - suposta vítima de estupro de Tyson).
Em oito episódios, de 25 minutos em média, acompanhamos a trajetória do famoso boxeador Mike Tyson (Trevante Rhodes) desde a sua complicada infância e adolescência até a meteórica ascensão no pugilismo. Conhecido por sua capacidade como atleta e por sua excentricidade na vida pessoal (que o levou a ter um tigre albino como animal de estimação), a minissérie apresenta detalhes mais profundos e pouco conhecidos do público sobre a vida e a carreira do atleta. Confira o trailer:
Após declarar falência, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados, Mike Tyson criou uma espécie de stand-up comedy onde, de uma maneira até desajeitada e naturalmente cômica, subia ao placo para dar sua versão sobre alguns dos momentos mais polêmicos da sua vida. Apoiado nessa iniciativa do boxeador, o roteirista Steven Rogers (de "Eu, Tonya") emprestou essa ideia para desenvolver uma história contada em flashbacks, tendo Tyson como narrador e protagonista de suas próprias histórias.
Bastam alguns minutos para entender que a referência de "Lakers: Hora de Vencer" vai além do tom leve com que os dramas são retratados. Com uma ótima (e propositalmente caricata) performance de Rhodes, a figura mítica de Tyson é completamente desconstruída - da mesma forma como Adam McKay e Quincy Isaiah fizeram com Magic Johnson. Aliás essa humanização dos personagens, ao mesmo tempo que nos afasta do atleta fenomenal, nos aproxima do ser humano e por consequência escancaram os defeitos e as falhas de caráter que não tínhamos conhecimento. No caso de Tyson, essas falhas estão, inclusive, em outro patamar - diga-se de passagem.
Também é preciso que se diga, que Rogers procura nos munir de muitas informações para que possamos entender as atitudes de Tyson. O roteirista deixa todo o processo de julgamento nas nossas mãos e a cada episódio essa dinâmica vai ganhando força - a relação de "causa e consequência" é muito bem explorada na série. Agora é inegável que no meio da temporada somos surpreendidos com uma forte quebra conceitual ao dar voz "apenas" para Desiree Washington (Li Eubanks) no caso de estupro que levou o boxeador ao julgamento e posteriormente até a prisão. Me parece que faltou coragem para Rogers, independente da versão de Tyson ser a verdadeira ou não, dele ser culpado ou inocente, o fato é que essa escolha destruiu toda uma coerência narrativa - no mínimo Rogers poderia ter usado a estratégia que Antonio Campos usou em "A Escada" de apresentar versões para uma mesma história.
Obviamente que existem pontos que poderiam ser melhor aproveitados caso a minissérie tivesse uma hora de duração por episódio - minha crítica passa pela superficialidade com que algumas passagens importantes foram retratadas ou até esquecidas, porém se você também sentir a necessidade de saber um pouco mais, inclusive sobre as acusações de Desiree Washington e como o julgamento foi conduzido, recomendo a leitura da autobiografia "Mike Tyson: a verdade nua e crua".
“Mike" - Além de Tyson” é tão curioso quanto interessante, um ótimo e rápido entretenimento para aqueles que gostam de desvendar os mistérios por trás de uma carreira de sucesso como a do boxeador que, mesmo com seus sérios problemas fora do ringue, foi capaz de deixar o nome marcado na história do esporte mundial.
Vale muito a pena!
"Miss Americana" é um excelente documentário, principalmente se você tomar o cuidado de olhar com mais profundidade para toda aquela história que mais parece um conto de fadas - não se engane, não trata de um entretenimento construído apenas para agradar aos fãs; sinceramente eu acho que o filme vai muito, mas muito, além do processo de construção de uma estrela da música country, trata-se de uma jornada de amadurecimento, com suas dores e alegrias, dificuldades e vitórias, que assombram cada um de nós durante a vida, em diferentes níveis, e em momentos distintos.
O filme cobre uma série de eventos na vida e na carreira de Taylor Swift, incluindo a criação de seu sétimoálbum de estúdio,Lover (2019), sua anterior batalha com umdistúrbio alimentar, seu julgamento por agressão sexual, o diagnóstico decâncer de sua mãe e a decisão da cantora se posicionar para assuntos mais polêmicos e tornar público sua visão política. Confira o trailer:
Um dos pontos altos de "Miss Americana" é a maneira pouco intrusiva como a diretora Lana Wilson (de “The Departure”) registra os momentos mais íntimos de Swift sem a necessidade de construir um ícone pop invencível e segura de todos os seus passos - esse, aliás, é um dos assuntos do documentário: ser tão organizada e planejar cada um dos seus passos tornou sua carreira muito mais densa do que realmente precisava ser? Certamente sim. Pelo que assistimos "não errar" era tão importante quanto "melhorar sempre", e a constante falta de posicionamento perante algumas situações ajudaram a protagonista estacionar em uma zona de conforto perigosa e traiçoeira. Em um mundo em evolução (e muitas vezes cruel) seria preciso reencontrar seu caminho como ser humano e artista que influencia milhões de pessoas mundo a fora. Como disse no início: é preciso olhar além, conectar algumas posturas que vamos conhecer às atitudes que nós mesmos temos (ou teríamos) perante a vida pessoal e, principalmente, profissional.
Ao tocar em pontos sensíveis, Wilson equilibra perfeitamente várias faces da cantora - ao ter acesso a uma enorme quantidade de imagens de arquivos pessoais, a diretora consegue unificar tudo, deixando a narrativa fluida, orgânica, de uma forma que não nos damos conta sobre quem é a figura pública e o que pode refletir profundamente na vida privada de Taylor Swift - ela é basicamente uma só, e isso é incrível! Veja, são passagens que humanizam a personagem, com imagens do primeiro violão, das primeiras apresentações, até quando ela resolve migrar do country para o pop, depois de já ser um nome conhecido na indústria e de ter que engolir a falta de educação de uma figura desprezível como a de Kanye West.
O filme tem tantos pontos que merecem nosso elogio, da edição à direção, passando por um roteiro bem estruturado, que eu diria que "Miss Americana" vai trazer ótimos insights até para aqueles que nem conhecem a cantora (o que deve ser raro) ou que não acompanham sua carreira (isso mais comum entre nossos usuários). Ser treinada para atender expectativas, para sorrir ao receber elogios e para não se envolver em discussões que não lhe pertencem, até lidar com a necessidade de se provar constantemente e não se permitir errar, transforma “Miss Americana” em um relato sincero e importante para quem admira e a analisa a construção de uma carreira de sucesso.
Vale muito a pena, mesmo!
"Miss Americana" é um excelente documentário, principalmente se você tomar o cuidado de olhar com mais profundidade para toda aquela história que mais parece um conto de fadas - não se engane, não trata de um entretenimento construído apenas para agradar aos fãs; sinceramente eu acho que o filme vai muito, mas muito, além do processo de construção de uma estrela da música country, trata-se de uma jornada de amadurecimento, com suas dores e alegrias, dificuldades e vitórias, que assombram cada um de nós durante a vida, em diferentes níveis, e em momentos distintos.
O filme cobre uma série de eventos na vida e na carreira de Taylor Swift, incluindo a criação de seu sétimoálbum de estúdio,Lover (2019), sua anterior batalha com umdistúrbio alimentar, seu julgamento por agressão sexual, o diagnóstico decâncer de sua mãe e a decisão da cantora se posicionar para assuntos mais polêmicos e tornar público sua visão política. Confira o trailer:
Um dos pontos altos de "Miss Americana" é a maneira pouco intrusiva como a diretora Lana Wilson (de “The Departure”) registra os momentos mais íntimos de Swift sem a necessidade de construir um ícone pop invencível e segura de todos os seus passos - esse, aliás, é um dos assuntos do documentário: ser tão organizada e planejar cada um dos seus passos tornou sua carreira muito mais densa do que realmente precisava ser? Certamente sim. Pelo que assistimos "não errar" era tão importante quanto "melhorar sempre", e a constante falta de posicionamento perante algumas situações ajudaram a protagonista estacionar em uma zona de conforto perigosa e traiçoeira. Em um mundo em evolução (e muitas vezes cruel) seria preciso reencontrar seu caminho como ser humano e artista que influencia milhões de pessoas mundo a fora. Como disse no início: é preciso olhar além, conectar algumas posturas que vamos conhecer às atitudes que nós mesmos temos (ou teríamos) perante a vida pessoal e, principalmente, profissional.
Ao tocar em pontos sensíveis, Wilson equilibra perfeitamente várias faces da cantora - ao ter acesso a uma enorme quantidade de imagens de arquivos pessoais, a diretora consegue unificar tudo, deixando a narrativa fluida, orgânica, de uma forma que não nos damos conta sobre quem é a figura pública e o que pode refletir profundamente na vida privada de Taylor Swift - ela é basicamente uma só, e isso é incrível! Veja, são passagens que humanizam a personagem, com imagens do primeiro violão, das primeiras apresentações, até quando ela resolve migrar do country para o pop, depois de já ser um nome conhecido na indústria e de ter que engolir a falta de educação de uma figura desprezível como a de Kanye West.
O filme tem tantos pontos que merecem nosso elogio, da edição à direção, passando por um roteiro bem estruturado, que eu diria que "Miss Americana" vai trazer ótimos insights até para aqueles que nem conhecem a cantora (o que deve ser raro) ou que não acompanham sua carreira (isso mais comum entre nossos usuários). Ser treinada para atender expectativas, para sorrir ao receber elogios e para não se envolver em discussões que não lhe pertencem, até lidar com a necessidade de se provar constantemente e não se permitir errar, transforma “Miss Americana” em um relato sincero e importante para quem admira e a analisa a construção de uma carreira de sucesso.
Vale muito a pena, mesmo!
Se você, como eu, achava que "DeLorean" era apenas o carro que viajava no tempo em "De Volta para o Futuro", você precisa assistir essa excelente minissérie documental da Netflix, pois a história, te garanto, vai muito além do objeto de desejo de Martin McFly e da genialidade do Doutor Brown.
"Mito e Magnata: John Delorean" explora a ascensão e queda de um prodígio engenheiro executivo da GM que se tornou um verdadeiro ícone do mercado automobilístico ao criar a DeLorean Motors Company. John DeLorean, uma espécie de Elon Musk dos anos 60/70, era um visionário, mas também um personagem carregado deganância e insegurança, que conseguiu criar um império com a mesma velocidade que o viu desabar. Confira o trailer (em inglês):
Em rápidos três episódios de 40 minutos, você vai conhecer o mito John DeLorean em seu palco dizendo frases como: "Não há atalhos para a qualidade" ou "A lealdade e satisfação do cliente são as únicas bases sólidas para crescer nesse mercado", mas também vai conhecer os bastidores (bem menos glamoroso) de um homem cheio de falhas e que se deixou levar pela possibilidade de se tornar uma lenda sem estar ao menos preparado psicologicamente para isso. Quando ele deixou a GM por não acreditar mais nos produtos que a empresa estava criando, seu propósito era muito claro: seria possível inovar de forma muito mais sustentável em um mercado que sofria com a crise do petróleo na década de 70 - aliás, essa história (e a farsa) lembra muito a jornada de Elizabeth Holmes de "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício".
Com entrevistas exclusivas e imagens inéditas gravadas há algum tempo pelo premiado D.A Pennebaker (Bob Dylan: Don’t Look Back), o diretor Mike Connolly faz um verdadeiro estudo de caso sobre a DeLorean Motors Company ao mesmo tempo que analisa o perfil de seu fundador. Os depoimentos de sua ex-esposa e de seu filho nos dias atuais, já evidenciam um final não tão feliz para a jornada empreendedora de John com reflexos diretos na vida pessoal. Eu diria que a minissérie é mais um exemplo do que não se deve fazer ao gerir um negócio promissor do que propriamente uma aula de empreendedorismo.
"Mito e Magnata: John Delorean" é direto, fácil de entender e tem uma narrativa bastante dinâmica para um documentário que transita muito bem entre vida pessoal e profissional, porém deixa alguns assuntos importantes de lado, como os outros casamentos de John após sua falência e a negociação para ter um "DeLorean" no filme que já comentamos. Ao traçar uma linha temporal bastante recortada, mas bem desenvolvida, a minissérie cumpre seu papel de deixar absolutamente claro que a pessoa que estava no palco era uma versão bastante limitada de um executivo que sonhou mais do que realizou, por falta de foco, organização, lealdade e de caráter - e que depois ficou mais claro ainda não tinha a menor condição moral de se tornar uma lenda.
Observação: tenho a impressão que, muito em breve, teremos muito mais histórias como essa, porque o que existe de empreendedor bom de palco e ruim de negócio, é impressionante!
Vale pela aula e pelo entretenimento!
Se você, como eu, achava que "DeLorean" era apenas o carro que viajava no tempo em "De Volta para o Futuro", você precisa assistir essa excelente minissérie documental da Netflix, pois a história, te garanto, vai muito além do objeto de desejo de Martin McFly e da genialidade do Doutor Brown.
"Mito e Magnata: John Delorean" explora a ascensão e queda de um prodígio engenheiro executivo da GM que se tornou um verdadeiro ícone do mercado automobilístico ao criar a DeLorean Motors Company. John DeLorean, uma espécie de Elon Musk dos anos 60/70, era um visionário, mas também um personagem carregado deganância e insegurança, que conseguiu criar um império com a mesma velocidade que o viu desabar. Confira o trailer (em inglês):
Em rápidos três episódios de 40 minutos, você vai conhecer o mito John DeLorean em seu palco dizendo frases como: "Não há atalhos para a qualidade" ou "A lealdade e satisfação do cliente são as únicas bases sólidas para crescer nesse mercado", mas também vai conhecer os bastidores (bem menos glamoroso) de um homem cheio de falhas e que se deixou levar pela possibilidade de se tornar uma lenda sem estar ao menos preparado psicologicamente para isso. Quando ele deixou a GM por não acreditar mais nos produtos que a empresa estava criando, seu propósito era muito claro: seria possível inovar de forma muito mais sustentável em um mercado que sofria com a crise do petróleo na década de 70 - aliás, essa história (e a farsa) lembra muito a jornada de Elizabeth Holmes de "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício".
Com entrevistas exclusivas e imagens inéditas gravadas há algum tempo pelo premiado D.A Pennebaker (Bob Dylan: Don’t Look Back), o diretor Mike Connolly faz um verdadeiro estudo de caso sobre a DeLorean Motors Company ao mesmo tempo que analisa o perfil de seu fundador. Os depoimentos de sua ex-esposa e de seu filho nos dias atuais, já evidenciam um final não tão feliz para a jornada empreendedora de John com reflexos diretos na vida pessoal. Eu diria que a minissérie é mais um exemplo do que não se deve fazer ao gerir um negócio promissor do que propriamente uma aula de empreendedorismo.
"Mito e Magnata: John Delorean" é direto, fácil de entender e tem uma narrativa bastante dinâmica para um documentário que transita muito bem entre vida pessoal e profissional, porém deixa alguns assuntos importantes de lado, como os outros casamentos de John após sua falência e a negociação para ter um "DeLorean" no filme que já comentamos. Ao traçar uma linha temporal bastante recortada, mas bem desenvolvida, a minissérie cumpre seu papel de deixar absolutamente claro que a pessoa que estava no palco era uma versão bastante limitada de um executivo que sonhou mais do que realizou, por falta de foco, organização, lealdade e de caráter - e que depois ficou mais claro ainda não tinha a menor condição moral de se tornar uma lenda.
Observação: tenho a impressão que, muito em breve, teremos muito mais histórias como essa, porque o que existe de empreendedor bom de palco e ruim de negócio, é impressionante!
Vale pela aula e pelo entretenimento!
"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.
Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:
Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane.
Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.
"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.
Imperdível!
Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".
Vale seu play!
"Moneyball" é um filme, de fato, fascinante e que oferece uma abordagem única que vai além do universo do beisebol (um esporte que o brasileiro não se conecta em sua maioria) - ou seja, embora tenha muitos elementos que remetam ao esporte em si, o filme é muito mais sobre um protagonista que pensava "fora da caixa", que estava a frente do seu tempo, do que qualquer outra coisa! Certamente um dos melhores de 2010, o filme dirigido pelo Bennett Miller (de "Capote") equilibra perfeitamente algumas curiosidades sobre os bastidores do esporte com a mesma habilidade com que constrói um drama coeso com um leve toque de crítica social, sem nunca perder seu ritmo empolgante.
Baseado em uma história real, o filme acompanha a jornada de Billy Beane (Brad Pitt), o gerente geral do time de beisebol Oakland Athletics, que decide abandonar as práticas convencionais de contratação de jogadores para adotar uma estratégia arriscada, baseada em dados e estatística, para formar um time barato, mas vencedor, e assim tentar mudar a história de como as pessoas viam o esporte. Confira o trailer:
Escrito por Aaron Sorkin e Steven Zaillian, e baseado na história de Stan Chervin, o roteiro de "Moneyball" é uma verdadeira obra-prima. Sua narrativa se desenvolve de maneira inteligente, cativando o público desde o primeiro momento. Embora o filme tenha um ritmo mais cadenciado em alguns momentos, com diálogos apressados (até verborrágicos demais) e termos pouco convencionais para o grande público, eu diria que a história é tão envolvente que fica até difícil perder o interesse pela jornada de Beane.
Aliás, Brad Pitt entrega uma performance fenomenal, capturando perfeitamente a complexidade de seu personagem - dos seus sonhos até suas inseguranças. Sua presença em cena cativa nossa atenção, ele transmite as emoções e a determinação de Beane de uma forma muito autêntica, muito verdadeira. Jonah Hill também merece elogios como Peter Brand, o economista que se junta a Beane na busca por essa nova abordagem. A química entre os dois atores é evidente, proporcionando momentos divertidíssimos. A fotografia de "Moneyball" é outro elemento técnico que precisa ser citado: o trabalho do Wally Pfister (parceiro de Nolan em vários filmes e vencedor do Oscar por "A Origem") impõe uma estética tão elegante quanto realista. As cenas dentro e fora do campo são capturadas de forma magistral, transmitindo a intensidade do jogo e a pressão enfrentada por Beane de uma forma muito natural.
"Moneyball" é um filme excepcional que transcende o gênero esportivo. É uma história das mais inspiradoras sobre perseverança, inovação e a busca incansável para alcançar o sucesso. Sua mensagem é tão poderosa que o filme virou referência quando o assunto é questionar as tradições e lidar com a mudança.
Imperdível!
Up-date:"Moneyball" foi indicado em seis categorias no Oscar 2012, inclusive de "Melhor Filme".
Vale seu play!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
"Muito prazer, Laura Pausini" é um documentário muito interessante, mas um drama sofrível! Eu explico: o diretor e roteirista italiano Ivan Cotroneo partiu de uma premissa até que interessante, mas que na prática, mais atrapalhou do que ajudou. Para contar a história de sucesso de Laura Pausin o cineasta criou um paralelo entre um documentário riquíssimo em imagens raras (muitas pessoais) da cantora e um drama macarrônico do que teria acontecido se ela não tivesse vencido o Festival de Sanremo em 1993.
Produzida pela Amazon Studios, o docudrama (podemos chamar assim) acompanha a vida de Laura de um modo totalmente original. Em filmagens inéditas de sua vida real e fictícia, a artista nos mostra sua essência, em uma análise franca e ousada de sua vida e de como poderia ter sido, não fosse a vitória em Sanremo que mudou para sempre seu destino. Confira o trailer:
"Muito prazer, Laura Pausini" brilha ao retratar uma Laura Pausini humana, honesta e muito simpática, desde seu inicio de carreira, quando ainda era uma garota tímida, de blazer comprido, um pouco desengonçada até, mas que venceu como cantora, conquistando o Globo de Ouro e a indicação para o Oscar de melhor canção em 2021. Ao mostrar a relação com os pais e o casamento com o músico Paolo Carta, com quem tem uma menina, Paola, de 9 anos, Cotroneo invade a intimidade de Pausini e nos entrega uma nostálgica jornada, cheia de curiosidades e de reflexões importantes feitas pela própria protagonista que funciona como uma espécie de narradora da obra.
A grande questão, é que na tentativa de subverter a gramática conceitual do documentário e inserir uma linha paralela ficcional, o filme perde força, ritmo e verdade. Embora a história seja até válida, já que essa reflexão do "e se..." veio da própria cantora, sua execução é quase constrangedora. Não que as cenas sejam mal produzidas ou mal dirigidas, mas são desnecessárias, não dialogam com documental e ainda colocam Pausini em uma situação completamente desconfortável - obviamente até ela pegar o microfone e começar a cantar.
"Muito prazer, Laura Pausini" é uma história incrível e merece ser vista, mesmo com essa derrapada conceitual do projeto. Embora não prejudique a experiência como um todo, é óbvio que toda construção da linha temporal real de Pausini é muito mais empolgante - ela expõe suas aflições como mãe, como mulher e até como cantora, nos dando a exata noção de que, até para ela, nada foi fácil, mas essencial para ela se transformar naquela pessoa apaixonante e com um brilho impressionante.
Vale a pena, mas ignore o drama - até se você for muito fã!
"Muito prazer, Laura Pausini" é um documentário muito interessante, mas um drama sofrível! Eu explico: o diretor e roteirista italiano Ivan Cotroneo partiu de uma premissa até que interessante, mas que na prática, mais atrapalhou do que ajudou. Para contar a história de sucesso de Laura Pausin o cineasta criou um paralelo entre um documentário riquíssimo em imagens raras (muitas pessoais) da cantora e um drama macarrônico do que teria acontecido se ela não tivesse vencido o Festival de Sanremo em 1993.
Produzida pela Amazon Studios, o docudrama (podemos chamar assim) acompanha a vida de Laura de um modo totalmente original. Em filmagens inéditas de sua vida real e fictícia, a artista nos mostra sua essência, em uma análise franca e ousada de sua vida e de como poderia ter sido, não fosse a vitória em Sanremo que mudou para sempre seu destino. Confira o trailer:
"Muito prazer, Laura Pausini" brilha ao retratar uma Laura Pausini humana, honesta e muito simpática, desde seu inicio de carreira, quando ainda era uma garota tímida, de blazer comprido, um pouco desengonçada até, mas que venceu como cantora, conquistando o Globo de Ouro e a indicação para o Oscar de melhor canção em 2021. Ao mostrar a relação com os pais e o casamento com o músico Paolo Carta, com quem tem uma menina, Paola, de 9 anos, Cotroneo invade a intimidade de Pausini e nos entrega uma nostálgica jornada, cheia de curiosidades e de reflexões importantes feitas pela própria protagonista que funciona como uma espécie de narradora da obra.
A grande questão, é que na tentativa de subverter a gramática conceitual do documentário e inserir uma linha paralela ficcional, o filme perde força, ritmo e verdade. Embora a história seja até válida, já que essa reflexão do "e se..." veio da própria cantora, sua execução é quase constrangedora. Não que as cenas sejam mal produzidas ou mal dirigidas, mas são desnecessárias, não dialogam com documental e ainda colocam Pausini em uma situação completamente desconfortável - obviamente até ela pegar o microfone e começar a cantar.
"Muito prazer, Laura Pausini" é uma história incrível e merece ser vista, mesmo com essa derrapada conceitual do projeto. Embora não prejudique a experiência como um todo, é óbvio que toda construção da linha temporal real de Pausini é muito mais empolgante - ela expõe suas aflições como mãe, como mulher e até como cantora, nos dando a exata noção de que, até para ela, nada foi fácil, mas essencial para ela se transformar naquela pessoa apaixonante e com um brilho impressionante.
Vale a pena, mas ignore o drama - até se você for muito fã!
É impossível assistir os primeiros minutos da série documental da Netflix, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" e não lembrar do recente "King Richard" - a jornada é muito parecida, porém tendo como protagonista uma asiática de 20 e poucos anos que, curiosamente, chega ao estrelato ao derrotar justamente a americana Serena Williams na final do Aberto dos Estados Unidos de 2018. Dirigido pela Garrett Bradley (indicada ao Oscar pelo excelente e imperdível "Time"), essa é mais uma produção de LeBron e Maverick Carter da Uninterrupted, empresa responsável, entre outros, pelo documentário "Neymar - O Caos Perfeito".
Em três episódios, o documentário é um olhar íntimo sobre a vida de uma das mais dotadas e complexas atletas da sua geração. Uma perspetiva sobre as duras decisões e os incríveis triunfos que definem Naomi Osaka simultaneamente como uma superestrela de elite mundial e uma jovem que precisa lidar com uma enorme pressão graças ao mundo conectado de hoje. Confira o trailer:
Com uma linha narrativa bem construída, mas sem se aprofundar muito nos assuntos levantados pelo roteiro, a série segue uma linha bem de observação, com pouca ou nenhuma influência da diretora na condução da história, fazendo com que a audiência seja um olhar curioso sobre o dia a dia da atleta. Através de um acesso inédito, Bradley acompanha Osaka durante dois anos - talvez os mais importantes na vida dela até aqui. São os anos de transformação esportiva, mas também uma época onde ela começa a encontrar a sua voz e compreender seu poder como referência na modalidade.
O interessante é que vemos a preparação para defender os dois títulos de Grand Slam que ela conquistou no ano anterior, da mesma forma em que ela se coloca como defensora dos direitos humanos usando máscaras com o nome de pessoas afro-americanas que perderam suas vidas covardemente. Outro ponto interessante é o seu processo de luto pela perda inesperada do seu mentor e amigo Kobe Bryant - e como isso impactou na sua performance nas quadras. Talvez o pouco esforço do roteiro em humanizar Osaka seja uma das coisas mais surpreendentes da narrativa (diferente do documentário de Neymar, por exemplo) - sua relação com a tenista americana de 15 anos, Cori Gauff, é real e muito bacana por isso. Quando Osaka perde para Gauff, sua naturalidade em dizer o quanto aquilo foi ruim, mesmo gostando da adversária, é muito honesto!
Com essa abordagem empática, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" brilha pelas curiosidades: seja pelo infernal programa de treinos e viagens, ou pela exploração de todas as camadas de pressão que a atleta está sujeita - é de se compreender o histórico de ansiedade, medos, perdas, derrotas, reinvenção, vitórias e posicionamento perante a importância da saúde mental que Osaka encabeçou ao lado de Simone Biles. Ela mesmo faz uma auto-avaliação sobre a necessidade de desenvolver seu mindset vencedor para mudar de patamar como atleta.
O fato é que, pelo esporte e pela figura marcante, a série vale muito a pena!
É impossível assistir os primeiros minutos da série documental da Netflix, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" e não lembrar do recente "King Richard" - a jornada é muito parecida, porém tendo como protagonista uma asiática de 20 e poucos anos que, curiosamente, chega ao estrelato ao derrotar justamente a americana Serena Williams na final do Aberto dos Estados Unidos de 2018. Dirigido pela Garrett Bradley (indicada ao Oscar pelo excelente e imperdível "Time"), essa é mais uma produção de LeBron e Maverick Carter da Uninterrupted, empresa responsável, entre outros, pelo documentário "Neymar - O Caos Perfeito".
Em três episódios, o documentário é um olhar íntimo sobre a vida de uma das mais dotadas e complexas atletas da sua geração. Uma perspetiva sobre as duras decisões e os incríveis triunfos que definem Naomi Osaka simultaneamente como uma superestrela de elite mundial e uma jovem que precisa lidar com uma enorme pressão graças ao mundo conectado de hoje. Confira o trailer:
Com uma linha narrativa bem construída, mas sem se aprofundar muito nos assuntos levantados pelo roteiro, a série segue uma linha bem de observação, com pouca ou nenhuma influência da diretora na condução da história, fazendo com que a audiência seja um olhar curioso sobre o dia a dia da atleta. Através de um acesso inédito, Bradley acompanha Osaka durante dois anos - talvez os mais importantes na vida dela até aqui. São os anos de transformação esportiva, mas também uma época onde ela começa a encontrar a sua voz e compreender seu poder como referência na modalidade.
O interessante é que vemos a preparação para defender os dois títulos de Grand Slam que ela conquistou no ano anterior, da mesma forma em que ela se coloca como defensora dos direitos humanos usando máscaras com o nome de pessoas afro-americanas que perderam suas vidas covardemente. Outro ponto interessante é o seu processo de luto pela perda inesperada do seu mentor e amigo Kobe Bryant - e como isso impactou na sua performance nas quadras. Talvez o pouco esforço do roteiro em humanizar Osaka seja uma das coisas mais surpreendentes da narrativa (diferente do documentário de Neymar, por exemplo) - sua relação com a tenista americana de 15 anos, Cori Gauff, é real e muito bacana por isso. Quando Osaka perde para Gauff, sua naturalidade em dizer o quanto aquilo foi ruim, mesmo gostando da adversária, é muito honesto!
Com essa abordagem empática, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" brilha pelas curiosidades: seja pelo infernal programa de treinos e viagens, ou pela exploração de todas as camadas de pressão que a atleta está sujeita - é de se compreender o histórico de ansiedade, medos, perdas, derrotas, reinvenção, vitórias e posicionamento perante a importância da saúde mental que Osaka encabeçou ao lado de Simone Biles. Ela mesmo faz uma auto-avaliação sobre a necessidade de desenvolver seu mindset vencedor para mudar de patamar como atleta.
O fato é que, pelo esporte e pela figura marcante, a série vale muito a pena!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
"Ninguém sabe que estou aqui" provavelmente vai te surpreender! Embora tenha uma narrativa sem muita dinâmica, com pouquíssimos diálogos e uma história, digamos, previsível, o filme entrega um final onde tudo se encaixa de uma maneira muito correta - o que nos proporciona uma sensação de alivio muito particular e acaba sobrepondo as inúmeras fraquezas do roteiro. De fato, eu diria que "Ninguém sabe que estou aqui" é um filme que se apoia na empatia do protagonista para nos mover por um drama pessoal profundo sobre injustiça e as marcas que ela deixa na vida!
Memo (Jorge Garcia - Hurley de "Lost"), quando criança, foi um candidato a se tornar um fenômeno da música pop, porém os padrões da indústria do entretenimento dos anos 90 exigia um visual diferente - não havia espaço para uma criança como ele, mesmo com seu talento. Por ter uma voz incrível e uma afinação acima da média, os produtores resolveram fabricar uma "estrela" de sucesso internacional, usando a voz de Memo, mas o visual de outra criança. Traumatizado por esses (e outros importantes) acontecimentos do passado, Memo resolveu se isolar do mundo, indo morar com o tio em uma fazenda no interior do Chile, até que uma mulher da região lhe oferece a chance de encontrar a paz que ele procurou por tantos anos. Confira o trailer:
É verdade que no inicio do filme temos a impressão de estarmos assistindo algo mais cadenciado como "Sob a Pele do Lobo" até que ele vai evoluindo, pegando no tranco e nos trazendo alguns elementos bem emocionais que nos provocam a torcer pelo protagonista como em "Nasce uma Estrela" por exemplo! Essa dinâmica exige um pouco de paciência, mas o ótimo trabalho do Jorge Garcia e um direção muito competente do estreante Gaspar Antillo, nos conquista e vai nos entretendo até que finalmente encontramos a paz junto com o protagonista em uma cena ao melhor estilo "Judy"! É isso: se você gostou dessas referências que acabei de citar, sua diversão está garantida, mesmo que de uma forma um pouco menos hollywoodiana e mais autoral, mas que de qualquer modo, vai valer muito a pena!
O roteiro de "Ninguém sabe que estou aqui" é bem irregular, cheio de lacunas que o próprio diretor nem se preocupa em explicar ou pelo menos indicar visualmente elementos que fariam a audiência deduzir alguns motivos e até as motivações de personagens importantes - a repercução desproporcional de uma publicação do vídeo em que Memo canta um sucesso do passado e as relação sem o menor propósito com seu pai, que se diz uma figura pública, são alguns dos exemplos do mal desenvolvimento da história. Pois bem, com uma certa abstração, no entanto, é possível mergulhar no sofrimento causado pelo trauma que Memo sofreu e até entender sua forma de enxergar as pessoas e a vida. Jorge Garcia usa de uma interpretação bastante contida para projetar uma angústia quase vital (é o sofrimento e o rancor que o mantém vivo) que nos conquista - torcemos por ele, por uma retratação, pela volta por cima!
O diretor Gaspar Antillo ganhou o prêmio de Melhor Diretor Estreante no Tribeca Film Festival com muita justiça. Ele foi capaz de criar uma atmosfera de solidão e introspecção, sem perder o fôlego da narrativa, de uma forma impressionante. Com planos longos e alguma inventividade nos enquadramentos, Antillo deu a identidade que o filme pedia e o trabalho do fotógrafo Sergio Armstrong (de "O Presidente") só intensificou esse mood! Outro elemento que merece destaque é a montagem: as inserções dos flashbacks são cirúrgicas - a sensação de estarmos assistindo um documentário ou uma história real é muito bem explorada pelo montador. Reparem!
"Ninguém sabe que estou aqui" não é um filme inesquecível e nem estará na disputa do próximo Oscar, mas possui qualidades que merecem elogio. Acabou se transformando, de um filme lento, em uma jornada de redenção do protagonista que, mesmo com algumas soluções óbvias, nos mantém entretidos e na torcida. Teria espaço para plots melhor desenvolvidos? Certamente, mas é impossível negar que o filme não te prende até o final, principalmente depois do meio do segundo ato!
Tenha paciência, vai valer a pena mesmo!
"Ninguém sabe que estou aqui" provavelmente vai te surpreender! Embora tenha uma narrativa sem muita dinâmica, com pouquíssimos diálogos e uma história, digamos, previsível, o filme entrega um final onde tudo se encaixa de uma maneira muito correta - o que nos proporciona uma sensação de alivio muito particular e acaba sobrepondo as inúmeras fraquezas do roteiro. De fato, eu diria que "Ninguém sabe que estou aqui" é um filme que se apoia na empatia do protagonista para nos mover por um drama pessoal profundo sobre injustiça e as marcas que ela deixa na vida!
Memo (Jorge Garcia - Hurley de "Lost"), quando criança, foi um candidato a se tornar um fenômeno da música pop, porém os padrões da indústria do entretenimento dos anos 90 exigia um visual diferente - não havia espaço para uma criança como ele, mesmo com seu talento. Por ter uma voz incrível e uma afinação acima da média, os produtores resolveram fabricar uma "estrela" de sucesso internacional, usando a voz de Memo, mas o visual de outra criança. Traumatizado por esses (e outros importantes) acontecimentos do passado, Memo resolveu se isolar do mundo, indo morar com o tio em uma fazenda no interior do Chile, até que uma mulher da região lhe oferece a chance de encontrar a paz que ele procurou por tantos anos. Confira o trailer:
É verdade que no inicio do filme temos a impressão de estarmos assistindo algo mais cadenciado como "Sob a Pele do Lobo" até que ele vai evoluindo, pegando no tranco e nos trazendo alguns elementos bem emocionais que nos provocam a torcer pelo protagonista como em "Nasce uma Estrela" por exemplo! Essa dinâmica exige um pouco de paciência, mas o ótimo trabalho do Jorge Garcia e um direção muito competente do estreante Gaspar Antillo, nos conquista e vai nos entretendo até que finalmente encontramos a paz junto com o protagonista em uma cena ao melhor estilo "Judy"! É isso: se você gostou dessas referências que acabei de citar, sua diversão está garantida, mesmo que de uma forma um pouco menos hollywoodiana e mais autoral, mas que de qualquer modo, vai valer muito a pena!
O roteiro de "Ninguém sabe que estou aqui" é bem irregular, cheio de lacunas que o próprio diretor nem se preocupa em explicar ou pelo menos indicar visualmente elementos que fariam a audiência deduzir alguns motivos e até as motivações de personagens importantes - a repercução desproporcional de uma publicação do vídeo em que Memo canta um sucesso do passado e as relação sem o menor propósito com seu pai, que se diz uma figura pública, são alguns dos exemplos do mal desenvolvimento da história. Pois bem, com uma certa abstração, no entanto, é possível mergulhar no sofrimento causado pelo trauma que Memo sofreu e até entender sua forma de enxergar as pessoas e a vida. Jorge Garcia usa de uma interpretação bastante contida para projetar uma angústia quase vital (é o sofrimento e o rancor que o mantém vivo) que nos conquista - torcemos por ele, por uma retratação, pela volta por cima!
O diretor Gaspar Antillo ganhou o prêmio de Melhor Diretor Estreante no Tribeca Film Festival com muita justiça. Ele foi capaz de criar uma atmosfera de solidão e introspecção, sem perder o fôlego da narrativa, de uma forma impressionante. Com planos longos e alguma inventividade nos enquadramentos, Antillo deu a identidade que o filme pedia e o trabalho do fotógrafo Sergio Armstrong (de "O Presidente") só intensificou esse mood! Outro elemento que merece destaque é a montagem: as inserções dos flashbacks são cirúrgicas - a sensação de estarmos assistindo um documentário ou uma história real é muito bem explorada pelo montador. Reparem!
"Ninguém sabe que estou aqui" não é um filme inesquecível e nem estará na disputa do próximo Oscar, mas possui qualidades que merecem elogio. Acabou se transformando, de um filme lento, em uma jornada de redenção do protagonista que, mesmo com algumas soluções óbvias, nos mantém entretidos e na torcida. Teria espaço para plots melhor desenvolvidos? Certamente, mas é impossível negar que o filme não te prende até o final, principalmente depois do meio do segundo ato!
Tenha paciência, vai valer a pena mesmo!
Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!
"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):
Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.
As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.
"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé"e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!
Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!
"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):
Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.
As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.
"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé"e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!
Vale muito a pena!
Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!
"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):
Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.
A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência.
"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!
Vale seu play!
Essa é uma daquelas histórias que demora até acreditarmos que algo parecido seria possível - e essa dúvida vai te acompanhar enquanto sobem os créditos, provavelmente com seus olhos marejados e com o coração apertado. "Nyad" pode não ser uma superprodução com um roteiro impecável, mas a jornada em si vale cada segundo! O filme é muito mais do que apenas um relato impressionante dos incríveis desafios que a lendária nadadora de longa distância Diana Nyad precisou superar; na verdade eu diria que o filme é uma celebração da resiliência e da determinação de um ser humana que nunca deixou de acreditar na sua capacidade como atleta, mesmo depois dos 60 e isso, por si só, já merece nosso respeito!
"Nyad", basicamente, narra a extraordinária saga de Diana Nyad (Annette Bening) e de sua treinadora e amiga fiel, Bonnie Stoll (Jodie Foster), que durante anos tentou completar uma jornada épica: cruzar a nado os perigosos 170 km do Estreito da Flórida, entre Cuba e Key West. Ao enfrentar desafios inimagináveis e ultrapassando seus próprios limites físico e etário, "Nyad" acompanha os bastidores de um desafio que para muitos era classificado como mais impossível do que possível! Confira o trailer (em inglês):
Adaptado da biografia "Find a Way", escrito pela própria Diana, o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (ambos vencedores do Oscar por "Free Solo" e responsáveis pelo ótimo "De Volta ao Espaço") é, de fato, uma conquista cinematográfica notável em todos os aspectos técnicos ao unir elementos documentais em uma narrativa ficcional das mais interessantes e dinâmicas. Mesmo que notavelmente siga uma fórmula para muitos "batida" (o que não é o meu caso, que fique claro), "Nyad" compensa pela humanização de sua história e pela emoção que ela provoca. A capacidade de Chin e Vasarhelyi em nos colocar ao lado da atleta, no meio do oceano, enfrentando o desconhecido, nos remete ao estilo conceitual angustiante de "Mar Aberto", ou seja, pode se preparar para uma experiência realmente sensorial, embora maquiada como um clássico drama de superação.
A fotografia do chileno Claudio Miranda é um espetáculo! Miranda, que já ganhou um Oscar com a "As Aventuras de Pi", constrói uma atmosfera de tirar o fôlego, capturando a solidão das vastas e muito desafiadoras paisagens do oceano com a mesma maestria com que desnuda a intimidade de Diana em momentos que teria tudo para se tornar piegas. E aqui talvez caiba uma única e pontual critica ao filme: os flashbacks ajudam a contextualizar os fantasmas da protagonista, mas a forma como essas passagens foram retratadas me soa "um caminho confortável demais". Tanto Bening como Foster se esforçam para entregar performances emocionalmente poderosas, compartilhando suas experiências com uma autenticidade que toca o coração, mas essas quebras narrativas até o passado, realmente, não surgem com a mesma potência.
"Nyad" tem um tom inspirador na sua proposta. Por se tratar de uma jornada de superação, determinação e força de vontade, fica fácil nos conectarmos, mesmo com algumas "frases de caminhão" perdidas no roteiro, algo como: "O diamante é apenas um pedaço de carvão que não desistiu". Isso prejudica o filme? Não, desde que você esteja disposto a mergulhar (sem trocadilhos) nesse tipo de subgênero. Para muitos, essa experiência vai significar algo muito além do que um simples entretenimento; será um lembrete poderoso de que os limites só existem para serem ultrapassados e blá, blá, blá. Para outros, serão 120 minutos de uma trama equilibrada, que emociona e que deixa o coração mais quentinho. Independente de onde você se encaixar, uma coisa eu posso te garantir: essa história merecia ser contada e Diana merece ser ainda mais conhecida!
Vale seu play!
"O Amor de Sylvie" é basicamente uma linda homenagem aos romances clássicos do cinema dos anos 60 - em sua forma e em seu conteúdo! Um filme delicioso de assistir, leve e bem conduzido, mesmo quando se apoia em fórmulas e soluções completamente previsíveis. O fato é que o filme chega com a chancela de sua indicação ao Emmy 2021 como "Melhor Filme para TV".
Sylvie (Tessa Thompson) é uma moça comprometida e apaixonada por música que trabalha na loja de discos de seu pai, mas sonha em ser uma produtora de TV. Quando conhece Robert (Nnamdi Asomugha) vê que seu amor é personificado pelo talentoso músico em ascensão. A partir daí, Sylvie precisa lidar com suas escolhas antes de decidir entre ficar ao lado do grande amor da sua vida, buscar seus sonhos ou viver o futuro que sua mãe escolheu para ela. Confira o trailer (em inglês):
O filme tem uma ambientação criada em cima dos anos 60 de uma Nova Yorke movida pelo jazz - e é bastante competente nesse quesito. Desenho de Produção, Figurino e a Fotografia do Declan Quinn (o mesmo de "Hamilton" e "A Cabana") estão fielmente alinhadas com o conceito estético mais clássico que o Diretor Eugene Ashe (de "Homecoming") quis imprimir. As cores mais contrastadas são levemente esverdeados em alguns momentos e mais escuras ou amareladas em outros. Até a inserção de uma excelente trilha sonora e letterings de apresentação e encerramento se comunicam com o visual de "O Amor de Sylvie" organicamente - de fato é um excelente trabalho, coerente!
O roteiro em si é simples, mas potente. Os dois primeiros atos focam no romance como barreira social e o terceiro traz mais o lado pessoal para a narrativa. Elementos como racismo e igualdade de gêneros são delicadamente bem pontuados, passando a mensagem, mas sem levantar nenhum tipo de bandeira ou ser institucional demais - o que vale é o sentimento disso tudo, afinal, estamos falando de um romance clássico! Se Nnamdi Asomugha é uma ótima surpresa, é Tessa Thompson que conquista a nossa simpatia imediatamente - sua composição é suave, sem excessos, no tom exato para nos fazer sentir suas aflições ao mesmo tempo que é forte o suficiente para nos deixar claro suas intenções.
"O Amor de Sylvie" tem um gostinho de nostalgia, uma atmosfera encantadora, mas também, como comentei, é bastante previsível. O filme segue exatamente o arco do típico romance "Sessão da Tarde" - o que não significa que o resultado seja ruim, muito pelo contrário, ele é realmente bom. Pode dar o play sem medo, porque a história vai te deixar com o coração leve e com a alma preenchida!
E atenção: o filme não acaba com o "The End", atenção aos letterings finais.
"O Amor de Sylvie" é basicamente uma linda homenagem aos romances clássicos do cinema dos anos 60 - em sua forma e em seu conteúdo! Um filme delicioso de assistir, leve e bem conduzido, mesmo quando se apoia em fórmulas e soluções completamente previsíveis. O fato é que o filme chega com a chancela de sua indicação ao Emmy 2021 como "Melhor Filme para TV".
Sylvie (Tessa Thompson) é uma moça comprometida e apaixonada por música que trabalha na loja de discos de seu pai, mas sonha em ser uma produtora de TV. Quando conhece Robert (Nnamdi Asomugha) vê que seu amor é personificado pelo talentoso músico em ascensão. A partir daí, Sylvie precisa lidar com suas escolhas antes de decidir entre ficar ao lado do grande amor da sua vida, buscar seus sonhos ou viver o futuro que sua mãe escolheu para ela. Confira o trailer (em inglês):
O filme tem uma ambientação criada em cima dos anos 60 de uma Nova Yorke movida pelo jazz - e é bastante competente nesse quesito. Desenho de Produção, Figurino e a Fotografia do Declan Quinn (o mesmo de "Hamilton" e "A Cabana") estão fielmente alinhadas com o conceito estético mais clássico que o Diretor Eugene Ashe (de "Homecoming") quis imprimir. As cores mais contrastadas são levemente esverdeados em alguns momentos e mais escuras ou amareladas em outros. Até a inserção de uma excelente trilha sonora e letterings de apresentação e encerramento se comunicam com o visual de "O Amor de Sylvie" organicamente - de fato é um excelente trabalho, coerente!
O roteiro em si é simples, mas potente. Os dois primeiros atos focam no romance como barreira social e o terceiro traz mais o lado pessoal para a narrativa. Elementos como racismo e igualdade de gêneros são delicadamente bem pontuados, passando a mensagem, mas sem levantar nenhum tipo de bandeira ou ser institucional demais - o que vale é o sentimento disso tudo, afinal, estamos falando de um romance clássico! Se Nnamdi Asomugha é uma ótima surpresa, é Tessa Thompson que conquista a nossa simpatia imediatamente - sua composição é suave, sem excessos, no tom exato para nos fazer sentir suas aflições ao mesmo tempo que é forte o suficiente para nos deixar claro suas intenções.
"O Amor de Sylvie" tem um gostinho de nostalgia, uma atmosfera encantadora, mas também, como comentei, é bastante previsível. O filme segue exatamente o arco do típico romance "Sessão da Tarde" - o que não significa que o resultado seja ruim, muito pelo contrário, ele é realmente bom. Pode dar o play sem medo, porque a história vai te deixar com o coração leve e com a alma preenchida!
E atenção: o filme não acaba com o "The End", atenção aos letterings finais.