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Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Carlos Ghosn: O Último Voo

A história que você vai conhecer em "Carlos Ghosn: O Último Voo" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso Nick Green (do premiado "Putin: A Russian Spy Story" - indicado ao BAFTA 2021 como melhor série documental), esse documentário de quase duas horas transita perfeitamente por um universo conspiratório sem a pretensão de cravar quem seriam os verdadeiros culpados. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Green deixa claro desde o inicio que toda história possui dois lados e é isso que ele quer explorar.

Produzido pela BBC inglesa, o documentário faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas e de imagens exclusivas, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):

Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.

Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Green, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Carlos Ghosn: O Último Voo" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes - uma focada na vida e carreira  e outra no drama da prisão e na construção do plano para sua fuga - o resultado seria muito mais satisfatório já que muitas passagens foram explicadas muito apressadamente. As consequências que envolveram a polícia turca e a prisão de sete pessoas supostamente coniventes com sua fuga: quatro pilotos, dois trabalhadores de solo de um aeroporto e um funcionário de uma empresa de transporte de carga, é um bom exemplo desse gap do roteiro.

O fato é que "Carlos Ghosn: The Last Flight" (no original) é mais um filme que vai te surpreender - uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embates e desacordos. Uma história que também envolveu muito dinheiro, poder, ganância e ego. Além, é claro, de um desfecho digno dos melhores filmes de ação hollywoodiano.

Vale muito a pena!

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A história que você vai conhecer em "Carlos Ghosn: O Último Voo" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso Nick Green (do premiado "Putin: A Russian Spy Story" - indicado ao BAFTA 2021 como melhor série documental), esse documentário de quase duas horas transita perfeitamente por um universo conspiratório sem a pretensão de cravar quem seriam os verdadeiros culpados. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Green deixa claro desde o inicio que toda história possui dois lados e é isso que ele quer explorar.

Produzido pela BBC inglesa, o documentário faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas e de imagens exclusivas, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):

Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.

Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Green, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Carlos Ghosn: O Último Voo" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes - uma focada na vida e carreira  e outra no drama da prisão e na construção do plano para sua fuga - o resultado seria muito mais satisfatório já que muitas passagens foram explicadas muito apressadamente. As consequências que envolveram a polícia turca e a prisão de sete pessoas supostamente coniventes com sua fuga: quatro pilotos, dois trabalhadores de solo de um aeroporto e um funcionário de uma empresa de transporte de carga, é um bom exemplo desse gap do roteiro.

O fato é que "Carlos Ghosn: The Last Flight" (no original) é mais um filme que vai te surpreender - uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embates e desacordos. Uma história que também envolveu muito dinheiro, poder, ganância e ego. Além, é claro, de um desfecho digno dos melhores filmes de ação hollywoodiano.

Vale muito a pena!

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Cassandro

Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

Clark

Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

Assista Agora

Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

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Coach Carter

"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

Vale a pena!

Assista Agora

"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

Vale a pena!

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Colin em Preto e Branco

"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

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"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

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Como Ser Warren Buffett

É preciso olhar para o sucesso e entender como algumas referências, de fato inspiradoras, podem nos mover para frente. "Como Ser Warren Buffett" nem de longe será o melhor documentário biográfico que você vai assistir, muito menos menos será o mais dinâmico ou inovador, mas nem por isso ele deixa de ser imperdível. Dirigido pelo Peter W. Kunhardt (de "Living with Lincoln", também da HBO), aqui temos um recorte biográfico mais tradicional, pelo olhar do próprio protagonista, o que naturalmente acaba nos oferecendo uma análise profunda, mais pessoal e íntima, sobre o "Oráculo de Omaha" - como ficou conhecido um dos homens mais ricos e influentes do mundo. Saiba que esse documentário, no mínimo, te fará repensar sobre seus conceitos de sucesso e pode ter certeza que, de alguma forma, te motivará a perseguir seus sonhos sob uma nova perspectiva.

Becoming Warren Buffett" (no original) nos leva a uma jornada pela vida de Warren Buffett, desde sua infância em Nebraska até o topo do mundo dos investimentos. Através de entrevistas exclusivas com o próprio Buffett, alguns familiares, amigos e colegas de trabalho, o filme procura analisar os métodos do investidor, desvendar os segredos do seu sucesso profissional e ainda entender como sua paixão por números, a disciplina inabalável e o foco permanente, transformaram sua vida ao longo dos anos. Confira o trailer (em inglês):

Com uma narrativa mais clássica, basicamente focada nos depoimentos cativantes de Buffett e de pessoas muito próximas a ele, eu diria que a experiência de assistir "Como Ser Warren Buffett" é algo mais educacional, inspiracional. A direção de Kunhardt é precisa e elegante ao dar esse tom ao documentário, utilizando recursos como imagens de arquivo, animações e gráficos para ilustrar os conceitos complexos do protagonista de uma forma clara e acessível para todos. Veja, o filme não é um manual definitivo de como ficar rico, muito pelo contrário, o objetivo aqui é desmistificar Buffett sem precisar apelar para aquele sensacionalismo barato de outros tempos - embora a passagem que conta sobre a doença de sua ex-mulher soe mais como gatilho para as decisões que ele veio a tomar em seguida, do que propriamente como um evento transformador de sua vida.

Sem dúvida que um dos pontos fortes do documentário é a forma como o roteiro desmistifica o mundo dos investimentos, tornando-o palpável para o público em geral. Através da história de Buffett, aprendemos sobre os princípios básicos de sua filosofia de investimento, a importância da pesquisa e da análise de dados e, claro, o valor da paciência e da disciplina em todo esse processo - Buffet chega brincar que os livros que ele leu estão disponíveis para todos, ou seja, não se trata apenas de adquirir conhecimento, é preciso colocar em prática. Mesmo com uma certa atmosfera "chapa branca" demais, o filme também nos convida a refletir sobre valores importantes para Buffet como ética, filantropia e uma busca frequente por uma vida significativa, especialmente próxima a quem amamos - essa abordagem se dá muito mais por uma provocação para se encontrar um equilíbrio, do que propriamente para revelar a fórmula mágica que ele seguiu e funcionou, afinal até Buffet tem seus fantasmas.

"Como Ser Warren Buffett" é uma história sobre a paixão, a perseverança e uma crença inabalável nos próprios sonhos. É um filme que nos inspira a buscar o sucesso em nossos próprios termos, mas pelo exemplo (vivo). Seja no universo do investimento ou do empreendedorismo, eu afirmo que assistir 90 minutos de Warren Buffett é um privilégio e um incentivo para todos aqueles que desejam aprender com um dos maiores gênios da nossa época.

Vale seu play!

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É preciso olhar para o sucesso e entender como algumas referências, de fato inspiradoras, podem nos mover para frente. "Como Ser Warren Buffett" nem de longe será o melhor documentário biográfico que você vai assistir, muito menos menos será o mais dinâmico ou inovador, mas nem por isso ele deixa de ser imperdível. Dirigido pelo Peter W. Kunhardt (de "Living with Lincoln", também da HBO), aqui temos um recorte biográfico mais tradicional, pelo olhar do próprio protagonista, o que naturalmente acaba nos oferecendo uma análise profunda, mais pessoal e íntima, sobre o "Oráculo de Omaha" - como ficou conhecido um dos homens mais ricos e influentes do mundo. Saiba que esse documentário, no mínimo, te fará repensar sobre seus conceitos de sucesso e pode ter certeza que, de alguma forma, te motivará a perseguir seus sonhos sob uma nova perspectiva.

Becoming Warren Buffett" (no original) nos leva a uma jornada pela vida de Warren Buffett, desde sua infância em Nebraska até o topo do mundo dos investimentos. Através de entrevistas exclusivas com o próprio Buffett, alguns familiares, amigos e colegas de trabalho, o filme procura analisar os métodos do investidor, desvendar os segredos do seu sucesso profissional e ainda entender como sua paixão por números, a disciplina inabalável e o foco permanente, transformaram sua vida ao longo dos anos. Confira o trailer (em inglês):

Com uma narrativa mais clássica, basicamente focada nos depoimentos cativantes de Buffett e de pessoas muito próximas a ele, eu diria que a experiência de assistir "Como Ser Warren Buffett" é algo mais educacional, inspiracional. A direção de Kunhardt é precisa e elegante ao dar esse tom ao documentário, utilizando recursos como imagens de arquivo, animações e gráficos para ilustrar os conceitos complexos do protagonista de uma forma clara e acessível para todos. Veja, o filme não é um manual definitivo de como ficar rico, muito pelo contrário, o objetivo aqui é desmistificar Buffett sem precisar apelar para aquele sensacionalismo barato de outros tempos - embora a passagem que conta sobre a doença de sua ex-mulher soe mais como gatilho para as decisões que ele veio a tomar em seguida, do que propriamente como um evento transformador de sua vida.

Sem dúvida que um dos pontos fortes do documentário é a forma como o roteiro desmistifica o mundo dos investimentos, tornando-o palpável para o público em geral. Através da história de Buffett, aprendemos sobre os princípios básicos de sua filosofia de investimento, a importância da pesquisa e da análise de dados e, claro, o valor da paciência e da disciplina em todo esse processo - Buffet chega brincar que os livros que ele leu estão disponíveis para todos, ou seja, não se trata apenas de adquirir conhecimento, é preciso colocar em prática. Mesmo com uma certa atmosfera "chapa branca" demais, o filme também nos convida a refletir sobre valores importantes para Buffet como ética, filantropia e uma busca frequente por uma vida significativa, especialmente próxima a quem amamos - essa abordagem se dá muito mais por uma provocação para se encontrar um equilíbrio, do que propriamente para revelar a fórmula mágica que ele seguiu e funcionou, afinal até Buffet tem seus fantasmas.

"Como Ser Warren Buffett" é uma história sobre a paixão, a perseverança e uma crença inabalável nos próprios sonhos. É um filme que nos inspira a buscar o sucesso em nossos próprios termos, mas pelo exemplo (vivo). Seja no universo do investimento ou do empreendedorismo, eu afirmo que assistir 90 minutos de Warren Buffett é um privilégio e um incentivo para todos aqueles que desejam aprender com um dos maiores gênios da nossa época.

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Crypto Boy

Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios""O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar. 

Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):

Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter.  O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.

A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.

É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito. 

Assista Agora

Se olharmos pela perspectiva do desejo de ser muito rico, ainda muito jovem e assim resolver todos os problemas da vida com dinheiro e sem pensar nas consequências, "Crypto Boy" é uma versão atualizada de todo dilema que assistimos em "O Clube dos Meninos Bilionários" e que depois fomos nos aprofundando em excelentes obras como "Altos Negócios""O Primeiro Milhão" e "O Mago das Mentiras". Dito isso, fica muito fácil definir a linha narrativa que essa produção holandesa da Netflix escolhe para discutir o jogo de altos e baixos, mentiras e meia-verdades, do universo das criptomoedas, sem cair na armadilha de se aprofundar ou analisar didaticamente um cenário que, pode ter certeza, ainda terá ótimas (e verídicas, talvez por isso absurdas) histórias para contar. 

Dirigido por Shady El-Hamus (de "Forever Rich"), o filme acompanha a história do jovem Amir (Shahine El-Hamus), um rapaz que anda ainda meio perdido na vida, mas cheio de sonhos e ambições, que não se sente feliz sendo o garoto de entregas do restaurante mexicano de seu pai. Quando, bem por acaso, Amir descobre o universo das criptomoedas e conhece o CEO de uma startup que transaciona esse tipo de ativo prometendo lucros de 2% ao dia, Roy (Minne Koole), tudo muda! O problema é que, com o tempo, aquilo que parecia uma mina de ouro se transforma em uma crise pessoal e familiar sem precedentes. Confira o trailer (no seu idioma original):

Talvez a grande força "Crypto Boy" esteja justamente no elemento que pode desagradar algumas pessoas: sua simplicidade. O filme não deve ser encarado como um documentário mais profundo sobre o assunto, para isso sugiro outra obra: "Não confie em ninguém: a caça ao rei das criptomoedas", também da Netflix. Aqui estamos falando é de um drama despretensioso que, mesmo nos remetendo ao escândalo real da FTX e de seu fundador Sam Bankman-Fried, não passa de uma ficção com o único objetivo de entreter.  O roteiro de El-Hamus, ao lado de seu parceiro Jeroen Scholten van Aschat, é habilmente construído para tornar aquele mundo que pode soar complexo para alguns, em algo acessível para todos, independentemente do conhecimento prévio que podemos (ou não) ter.

A narrativa é sim muito inteligente e por isso envolvente, já que insere uma jornada de humanidade ao perigo que pode ser o mercado de criptomoedas. Embora um pouco estereotipado demais em alguns momentos, o filme proporciona uma visão mais perspicaz sobre as dinâmicas financeiras modernas ao mesmo tempo em que usa das consequências de sua fraude para pontuar as relações familiares e provocar uma reflexão sobre o valor da "ultrapassada" velha economia. A direção habilidosa de El-Hamus capta muito bem a distorção do conceito "não trabalhe por dinheiro; deixe o dinheiro trabalhar por você" na cabeça de uma geração que ainda acredita no "almoço grátis" para se dar bem. Agora reparem quando a realidade bate na porta, como a tensão simbolizada pelo olhar de Amir e a angustia de, mais uma vez, ter decepcionado seu pai, nos provoca reflexões - e acreditem, ao encarar, sob essa perspectiva, "Crypto Boy" muda de patamar.

É um fato que aqui temos um filme que nos cativa do início ao fim, mas que não deixa marcas inesquecíveis. Embora sua narrativa seja intrigante, o assunto esteja em voga, as atuações sejam de alto nível e a produção impecável dentro de suas limitações e proposta, "Crypto Boy" é apenas mais um ótimo entretenimento para um domingo à tarde. Ou seja, se você é um entusiasta de tecnologia, um investidor em criptomoedas ou simplesmente alguém em busca diversão sem precisar pensar demais, certamente você vai se conectar com a história e ficar muito satisfeito. 

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De Tirar o Fôlego

Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.

Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.

São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.

É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!

Vale muito o seu play!

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Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.

Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:

Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.

São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.

É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!

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Diana

"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

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"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

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Divino Baggio

Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!

Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:

Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.

Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.

"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!

Vale seu play!

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Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!

Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:

Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.

Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.

"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!

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Dor e Glória

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

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Doutor Castor

Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

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Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

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É apenas o Fim do Mundo

"É apenas o Fim do Mundo" é um filme difícil, não por uma narrativa complicada ou por um conceito visual ou estético que nos provoque muito mais do que nos mostre; mas pela forma como o jovem diretor canadense Xavier Dolan constrói um espetáculo onde os personagens são profundos, machucados, amargurados e inconsequentes em seus atos e, pricipalmente, em suas palavras. É perceptível a dor enrustida em cada um deles, com motivos, claro, mas sem nenhum controle ou respiro para reflexão. É um "misancene" tão real, palpável e comum, que chega a ferir quem assiste - pelo simples fato de entender que toda história tem dois lados e mesmo sem a coragem de encarar os fatos, todos preferem em alimentar a dor, do que ter que enfrentá-la.

Baseado na peça homônima de Jean-Luc Lagarce de 1990, "É apenas o Fim do Mundo" acompanha um jovem e renomado dramaturgo, Louis (Gaspard Ulliel), que resolve visitar sua família após 12 anos de ausência. Seu objetivo, no entanto, é revelar sua iminente morte para sua mãe (Nathalie Baye), para sua irmã mais nova (Léa Seydoux) com quem praticamente não se relacionou, para o ressentido irmão mais velho (Vincent Cassel) e sua submissa esposa (Marion Cottilard). Confira o trailer:

Xavier Dolan praticamente dirige o filme com uma lente 85mm, ou seja, com planos extremamente fechado ele parece querer que as almas dos personagens sejam lidas, e vou te dizer: funciona! As relações estabelecidas assim que Louis entra na casa de sua família já nos indica exatamente onde estamos nos enfiando - no caos emocional! Ao acompanhar essa dinâmica, o roteiro nos dá o primeiro gatilho: é compreensível que Louis tenha se mantido afastado de sua família por tanto tempo, limitando-se a enviar cartões em datas comemorativas. Mas com o passar do tempo, vem o segundo e poderoso gatilho: mas e o outro lado? E o sentimento de inferioridade e inadequação do irmão mais velho? E a ansiedade de Suzanne para impressionar o irmão famoso que pouco conhece? E a tentativa da mãe em transformar tantas mágoas e recuperar essas relações completamente fragmentadas? Até Catherine, a cunhada, sofre com os reflexos de tudo isso ao ter que lidar com um marido ignorante que a transformou em uma mulher insegura que mal pode se expressar - e aqui cabe um comentário que merece sua atenção: Marion Cottilard é uma grande atriz e todos sabemos disso, mas a capacidade que ela tem de expressar seus sentimentos apenas com o olhar, é de cair o queixo! Reparem!

O filme brilha ao expor a capacidade de interpretação dos atores. "É apenas o Fim do Mundo" é um filme de diálogos, de confrontos, de atuação! Nenhuma discussão é por acaso e tudo ajuda a construir (ou desvendar) as inúmeras camadas de cada um dos personagens - estamos falando de um obra independente, autoral, de relação, com uma referência teatral enorme, cheio de poesia, metáforas, símbolos, sensibilidade - inclusive na fotografia que pontua a troca de atmosferas e a distância entre o que é dito e o que é pensado - a mudança de luz no terceiro ato, entre a chuva e o sol que surge é incrível! Isso é lindo e muito difícil de equilibrar com o realismo que o cinema pede nesse tipo de filme.

O fato é que se você gostou dos também franceses "Até a Eternidade" (ou Les Petits Mouchoirs) ou "Frankie" é muito provável que você vai se identificar com "É apenas o Fim do Mundo", mas se prepare: vai doer na alma!

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"É apenas o Fim do Mundo" é um filme difícil, não por uma narrativa complicada ou por um conceito visual ou estético que nos provoque muito mais do que nos mostre; mas pela forma como o jovem diretor canadense Xavier Dolan constrói um espetáculo onde os personagens são profundos, machucados, amargurados e inconsequentes em seus atos e, pricipalmente, em suas palavras. É perceptível a dor enrustida em cada um deles, com motivos, claro, mas sem nenhum controle ou respiro para reflexão. É um "misancene" tão real, palpável e comum, que chega a ferir quem assiste - pelo simples fato de entender que toda história tem dois lados e mesmo sem a coragem de encarar os fatos, todos preferem em alimentar a dor, do que ter que enfrentá-la.

Baseado na peça homônima de Jean-Luc Lagarce de 1990, "É apenas o Fim do Mundo" acompanha um jovem e renomado dramaturgo, Louis (Gaspard Ulliel), que resolve visitar sua família após 12 anos de ausência. Seu objetivo, no entanto, é revelar sua iminente morte para sua mãe (Nathalie Baye), para sua irmã mais nova (Léa Seydoux) com quem praticamente não se relacionou, para o ressentido irmão mais velho (Vincent Cassel) e sua submissa esposa (Marion Cottilard). Confira o trailer:

Xavier Dolan praticamente dirige o filme com uma lente 85mm, ou seja, com planos extremamente fechado ele parece querer que as almas dos personagens sejam lidas, e vou te dizer: funciona! As relações estabelecidas assim que Louis entra na casa de sua família já nos indica exatamente onde estamos nos enfiando - no caos emocional! Ao acompanhar essa dinâmica, o roteiro nos dá o primeiro gatilho: é compreensível que Louis tenha se mantido afastado de sua família por tanto tempo, limitando-se a enviar cartões em datas comemorativas. Mas com o passar do tempo, vem o segundo e poderoso gatilho: mas e o outro lado? E o sentimento de inferioridade e inadequação do irmão mais velho? E a ansiedade de Suzanne para impressionar o irmão famoso que pouco conhece? E a tentativa da mãe em transformar tantas mágoas e recuperar essas relações completamente fragmentadas? Até Catherine, a cunhada, sofre com os reflexos de tudo isso ao ter que lidar com um marido ignorante que a transformou em uma mulher insegura que mal pode se expressar - e aqui cabe um comentário que merece sua atenção: Marion Cottilard é uma grande atriz e todos sabemos disso, mas a capacidade que ela tem de expressar seus sentimentos apenas com o olhar, é de cair o queixo! Reparem!

O filme brilha ao expor a capacidade de interpretação dos atores. "É apenas o Fim do Mundo" é um filme de diálogos, de confrontos, de atuação! Nenhuma discussão é por acaso e tudo ajuda a construir (ou desvendar) as inúmeras camadas de cada um dos personagens - estamos falando de um obra independente, autoral, de relação, com uma referência teatral enorme, cheio de poesia, metáforas, símbolos, sensibilidade - inclusive na fotografia que pontua a troca de atmosferas e a distância entre o que é dito e o que é pensado - a mudança de luz no terceiro ato, entre a chuva e o sol que surge é incrível! Isso é lindo e muito difícil de equilibrar com o realismo que o cinema pede nesse tipo de filme.

O fato é que se você gostou dos também franceses "Até a Eternidade" (ou Les Petits Mouchoirs) ou "Frankie" é muito provável que você vai se identificar com "É apenas o Fim do Mundo", mas se prepare: vai doer na alma!

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Eike - Tudo ou Nada

É preciso muito cuidado ao analisar o filme "Eike - Tudo ou Nada" - primeiro como obra cinematográfica e depois pelo valor de seu personagem e do que ele representou para universo empreendedor por muitos anos, mas vamos por partes. Eike, o personagem, tem aura de Bernie Madoff com o mindset de Elizabeth Holmes (da Theranos), ou seja, ele era uma bomba relógio prestes a explodir e por isso é tão fascinante (independente de julgamentos pré-estabelecidos ou opniões pessoais) - e aqui cabe citar uma passagem do próprio roteiro que ilustra isso: "na vida não se pode pensar pequeno demais, mas também não se pode acreditar ser maior do que realmente é". Já como um filme de longa-metragem, muito bem produzido por sinal, a narrativa está repleta de problemas e escolhas criativas (ou conceituais) de qualidade muito duvidosa e passagens tão mal resolvidas que, infelizmente, beiram o constrangimento - se você acha que posso estar exagerando, reparem na forma que o texto explica o que é um IPO e como o passado do personagem com a atriz Luma de Oliveira foi retratado.

Feita essa introdução e colocando as cartas na mesa, admito que dei o play apenas pela curiosidade e, mesmo longe (mas muito longe) de ser um grande filme, saí satisfeito com o que encontrei. Baseado na obra de Malu Gaspar, "Eike - Tudo ou Nada" acompanha o processo de ascensão e queda do Grupo X pelos olhos do empresário e ex-bilionário Eike Batista. A história que começa em 2006, quando a economia brasileira estava borbulhando por conta do pré-sal, Eike decide criar a OGX, petroleira que o transforma no sétimo homem mais rico do mundo mesmo que acompanhado de especulações e mentiras - razões, inclusive, pela qual a empresa vai à falência, levando com ela tanto o seu patrimônio quanto o poder e prestígio que demorou anos para ele construir. Confira o trailer:

Assim como nos acostumamos a encontrar nos catálogos dos streamings obras que expõem os bastidores nada glamourosos do empreendedorismo (e de seus fundadores) como no Facebook, no Spotify, no Uber, na Theranos e até no WeWork, é notável a iniciativa de trazer para o grande público a história do grupo X, uma empresa brasileira, e os conceitos e ideias que fizeram um brasileiro, Eike Batista, convencer inúmeros investidores a entrar no negócio e assim captar mais de 1 bilhão de dólares. Veja, não tem nada de errado em acreditar que sua ideia pode dar certo e lutar por ela, o complicado é fechar os olhos para a realidade que teima em te mostrar que o caminho não é bem esse que o powerpoint aceitou - e pasmem, no caso do Eike, até o governo deu uma forcinha (mesmo que daquele jeito que estamos acostumados) ao mudar a regra do jogo no meio do campeonato quando resolveu retirar 41 blocos (os mais aptos a encontrar petróleo) do leilão do pré-sal para proteger a Petrobras.

O ponto alto do filme, como não poderia deixar de ser, está em abordar essas nuances em um recorte cruel do capitalismo pelos olhos de um empreendedor considerado visionário - e aqui pontuo elementos marcantes dessa trajetória de Eike, desde o risco de uma aposta, a busca por investimentos, os equívocos muitas vezes pautados pelo ego, a montanha-russa de emoções a cada movimento estratégico e, claro, até chegar na corrupção. Dirigido e roteirizado por Dida Andrade e Andradina Azevedo, "Eike - Tudo ou Nada" teria material para ser uma série, mas o recorte escolhido para o filme conecta muito bem a jornada com o personagem, mesmo que soe um pouco ingênuo nos dias de hoje. O que foge disso, é o que na verdade incomoda: embora compreensível, o arco do investidor amador que perde tudo com a queda do grupo X, especificamente da OGX, é tão dispensável quanto a discussão sobre a calvice de Eike!

Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar se Eike era um mentiroso compulsivo ou um empreendedor genial, um nacionalista empenhado no progresso do país ou um egocêntrico sem limites e sem moral na busca pelo poder, um homem à frente do seu tempo ou mais um estelionatário que usou de seu passado para ganhar muito dinheiro; o fato é que se "Eike - Tudo ou Nada" não deve ser considerado um grande filme, mas certamente ele é um retrato curioso de um megalomaníaco, egocêntrico e manipulador que se encaixou dentro de um sistema mentiroso para ganhar muito dinheiro - mesmo sabendo que haveria um preço a se pagar!

Pela história, pelo personagem, vale seu play!

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É preciso muito cuidado ao analisar o filme "Eike - Tudo ou Nada" - primeiro como obra cinematográfica e depois pelo valor de seu personagem e do que ele representou para universo empreendedor por muitos anos, mas vamos por partes. Eike, o personagem, tem aura de Bernie Madoff com o mindset de Elizabeth Holmes (da Theranos), ou seja, ele era uma bomba relógio prestes a explodir e por isso é tão fascinante (independente de julgamentos pré-estabelecidos ou opniões pessoais) - e aqui cabe citar uma passagem do próprio roteiro que ilustra isso: "na vida não se pode pensar pequeno demais, mas também não se pode acreditar ser maior do que realmente é". Já como um filme de longa-metragem, muito bem produzido por sinal, a narrativa está repleta de problemas e escolhas criativas (ou conceituais) de qualidade muito duvidosa e passagens tão mal resolvidas que, infelizmente, beiram o constrangimento - se você acha que posso estar exagerando, reparem na forma que o texto explica o que é um IPO e como o passado do personagem com a atriz Luma de Oliveira foi retratado.

Feita essa introdução e colocando as cartas na mesa, admito que dei o play apenas pela curiosidade e, mesmo longe (mas muito longe) de ser um grande filme, saí satisfeito com o que encontrei. Baseado na obra de Malu Gaspar, "Eike - Tudo ou Nada" acompanha o processo de ascensão e queda do Grupo X pelos olhos do empresário e ex-bilionário Eike Batista. A história que começa em 2006, quando a economia brasileira estava borbulhando por conta do pré-sal, Eike decide criar a OGX, petroleira que o transforma no sétimo homem mais rico do mundo mesmo que acompanhado de especulações e mentiras - razões, inclusive, pela qual a empresa vai à falência, levando com ela tanto o seu patrimônio quanto o poder e prestígio que demorou anos para ele construir. Confira o trailer:

Assim como nos acostumamos a encontrar nos catálogos dos streamings obras que expõem os bastidores nada glamourosos do empreendedorismo (e de seus fundadores) como no Facebook, no Spotify, no Uber, na Theranos e até no WeWork, é notável a iniciativa de trazer para o grande público a história do grupo X, uma empresa brasileira, e os conceitos e ideias que fizeram um brasileiro, Eike Batista, convencer inúmeros investidores a entrar no negócio e assim captar mais de 1 bilhão de dólares. Veja, não tem nada de errado em acreditar que sua ideia pode dar certo e lutar por ela, o complicado é fechar os olhos para a realidade que teima em te mostrar que o caminho não é bem esse que o powerpoint aceitou - e pasmem, no caso do Eike, até o governo deu uma forcinha (mesmo que daquele jeito que estamos acostumados) ao mudar a regra do jogo no meio do campeonato quando resolveu retirar 41 blocos (os mais aptos a encontrar petróleo) do leilão do pré-sal para proteger a Petrobras.

O ponto alto do filme, como não poderia deixar de ser, está em abordar essas nuances em um recorte cruel do capitalismo pelos olhos de um empreendedor considerado visionário - e aqui pontuo elementos marcantes dessa trajetória de Eike, desde o risco de uma aposta, a busca por investimentos, os equívocos muitas vezes pautados pelo ego, a montanha-russa de emoções a cada movimento estratégico e, claro, até chegar na corrupção. Dirigido e roteirizado por Dida Andrade e Andradina Azevedo, "Eike - Tudo ou Nada" teria material para ser uma série, mas o recorte escolhido para o filme conecta muito bem a jornada com o personagem, mesmo que soe um pouco ingênuo nos dias de hoje. O que foge disso, é o que na verdade incomoda: embora compreensível, o arco do investidor amador que perde tudo com a queda do grupo X, especificamente da OGX, é tão dispensável quanto a discussão sobre a calvice de Eike!

Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar se Eike era um mentiroso compulsivo ou um empreendedor genial, um nacionalista empenhado no progresso do país ou um egocêntrico sem limites e sem moral na busca pelo poder, um homem à frente do seu tempo ou mais um estelionatário que usou de seu passado para ganhar muito dinheiro; o fato é que se "Eike - Tudo ou Nada" não deve ser considerado um grande filme, mas certamente ele é um retrato curioso de um megalomaníaco, egocêntrico e manipulador que se encaixou dentro de um sistema mentiroso para ganhar muito dinheiro - mesmo sabendo que haveria um preço a se pagar!

Pela história, pelo personagem, vale seu play!

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Elvis

"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!

Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:

A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!

Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona.  Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!

Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"

Vale muito o seu play!

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"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!

Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:

A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!

Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona.  Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!

Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"

Vale muito o seu play!

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Era uma vez um sonho

"Era uma vez um sonho" é um filme que chegou sem muito barulho na Netflix e que apanhou muito da critica, na minha opinião, injustamente. A estrutura narrativa e o tema que movimenta a história tem como base o peso que o ciclos geracionais trazem para vida de um personagem - tudo muito parecido com o excelente "O Castelo de Vidro", embora sem a mesma profundidade e força dramática.

A filme conta a história real de J.D. Vance (Gabriel Basso) um jovem promissor que tenta vencer sua origem humilde para ingressar na prestigiada Universidade de Yale e se formar em Direito, mas vê seu sonho ameaçado quando recebe uma ligação de sua irmã Lindsay (Haley Bennett) contando que sua mãe, Beverly (Amy Adams), teve uma overdose de heroína. No caminho de volta para sua terra natal, Vance relembra sua vida através de três gerações: a de sua mãe, de sua avó Mamaw (Glenn Close) e sua própria e de sua irmã. Confira o trailer:

Definir o filme como uma peça política por ter tido seu relato disputado por democratas e republicanos, competindo pela narrativa exposta no livro lançado em 2016, é de uma limitação sem tamanho. Entender que essa mesma narrativa se baseia em provar que o chamado “sonho americano” está vivo e que todos podem conquistá-lo se batalharem bastante é tão frágil quanto a tese de que a história mostra exatamente o fundo do poço no qual estava a nação norte-americana que elegeu o (ex)presidente Donald Trump na época. Esquece! O filme pode ter as duas interpretações, porém, ambas, estão na camada mais superficial (e tendenciosa) da história. Tanto a direção de Ron Howard, quanto o roteiro de Vanessa Taylor, mesmo com algumas falhas conceituais, buscam algo muito mais intimista - um olhar para o passado, cheio de cicatrizes profundas, e a possibilidade de quebrar a repetição de padrões  familiares que, pouco a pouco, destruiram todos daquela família.

Amy Adams e Glenn Close dão um show de interpretação - que rendeu mais uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante para Close e outra ignorada para o trabalho de Adams. Sério, as duas estão impecáveis - e aqui cabe um comentário: "Era uma vez um sonho" recebeu mais uma indicação ao Oscar 2021, o de "Cabelo e Maquiagem", elemento vital para a construção da personagem de Glenn Close. Ao ver os vídeos reais de J.D. Vance no final do filme, percebemos que a vó Mamaw é, de fato, a atriz. Impressionante a semelhança! Ah, antes de seguir, é preciso comentar sobre o trabalho de Owen Asztalos (o J.D. Vance jovem): ele também merece todos os elogios.

É fato que "Era uma vez um sonho" tinha pretensões maiores para a temporada de premiações e não só as dezenas de indicações que Glenn Close recebeu, mas olhando em perspectiva, nesse mundo polarizado que estamos vivendo, é até natural o distanciamento do público americano (e da Academia) por uma história biográfica tão complexa ideologicamente e que merecia ser contada, da forma que foi. Eu diria que vale muito a pena, desde que você se permita (e para nós isso será mais fácil) enxergar além dos esteriótipos regionais e assim encarar o que realmente importa: o significado de deixar nossos fantasmas para trás quando é necessário seguir nosso caminho olhando para frente!

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"Era uma vez um sonho" é um filme que chegou sem muito barulho na Netflix e que apanhou muito da critica, na minha opinião, injustamente. A estrutura narrativa e o tema que movimenta a história tem como base o peso que o ciclos geracionais trazem para vida de um personagem - tudo muito parecido com o excelente "O Castelo de Vidro", embora sem a mesma profundidade e força dramática.

A filme conta a história real de J.D. Vance (Gabriel Basso) um jovem promissor que tenta vencer sua origem humilde para ingressar na prestigiada Universidade de Yale e se formar em Direito, mas vê seu sonho ameaçado quando recebe uma ligação de sua irmã Lindsay (Haley Bennett) contando que sua mãe, Beverly (Amy Adams), teve uma overdose de heroína. No caminho de volta para sua terra natal, Vance relembra sua vida através de três gerações: a de sua mãe, de sua avó Mamaw (Glenn Close) e sua própria e de sua irmã. Confira o trailer:

Definir o filme como uma peça política por ter tido seu relato disputado por democratas e republicanos, competindo pela narrativa exposta no livro lançado em 2016, é de uma limitação sem tamanho. Entender que essa mesma narrativa se baseia em provar que o chamado “sonho americano” está vivo e que todos podem conquistá-lo se batalharem bastante é tão frágil quanto a tese de que a história mostra exatamente o fundo do poço no qual estava a nação norte-americana que elegeu o (ex)presidente Donald Trump na época. Esquece! O filme pode ter as duas interpretações, porém, ambas, estão na camada mais superficial (e tendenciosa) da história. Tanto a direção de Ron Howard, quanto o roteiro de Vanessa Taylor, mesmo com algumas falhas conceituais, buscam algo muito mais intimista - um olhar para o passado, cheio de cicatrizes profundas, e a possibilidade de quebrar a repetição de padrões  familiares que, pouco a pouco, destruiram todos daquela família.

Amy Adams e Glenn Close dão um show de interpretação - que rendeu mais uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante para Close e outra ignorada para o trabalho de Adams. Sério, as duas estão impecáveis - e aqui cabe um comentário: "Era uma vez um sonho" recebeu mais uma indicação ao Oscar 2021, o de "Cabelo e Maquiagem", elemento vital para a construção da personagem de Glenn Close. Ao ver os vídeos reais de J.D. Vance no final do filme, percebemos que a vó Mamaw é, de fato, a atriz. Impressionante a semelhança! Ah, antes de seguir, é preciso comentar sobre o trabalho de Owen Asztalos (o J.D. Vance jovem): ele também merece todos os elogios.

É fato que "Era uma vez um sonho" tinha pretensões maiores para a temporada de premiações e não só as dezenas de indicações que Glenn Close recebeu, mas olhando em perspectiva, nesse mundo polarizado que estamos vivendo, é até natural o distanciamento do público americano (e da Academia) por uma história biográfica tão complexa ideologicamente e que merecia ser contada, da forma que foi. Eu diria que vale muito a pena, desde que você se permita (e para nós isso será mais fácil) enxergar além dos esteriótipos regionais e assim encarar o que realmente importa: o significado de deixar nossos fantasmas para trás quando é necessário seguir nosso caminho olhando para frente!

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Estrada para a Glória

"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

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"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

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