Desde o anúncio de que a "Endemol/Shine" estava produzindo uma série sobre a história do Menudo, muito se especulou até onde os roteiristas se permitiriam arriscar ou, pelo menos, mostrar o que realmente acontecia nos bastidores do maior fenômeno pop dos anos 80 na América Latina. Para quem tem mais de 40 anos, seria um mergulho nostálgico em uma época que marcou uma geração, já que essa boy band de Porto-Rico abriu caminho para uma série de sucessos que se sucedem até hoje!
"Sobe em minha moto" reconta toda a trajetória do grupo Menudo, desde sua primeira formação (no final da década de 70) até seu fim, no final dos anos 90, depois de uma infinidade de trocas e escândalos. Como comentei, os mais jovens podem até não saber quem foram os Menudos, mas, certamente, vão reconhecer seu membro mais ilustre: Ricky Martin! Ricky, como era conhecido na época, entrou em 1984 e ficou no grupo até 1989. A formação que ele fez parte pode ser considerada a que fez o maior sucesso, chegando a entregar um Grammy para Michael Jackson e a lotar o Estádio do Morumbi ao melhor estilo U2!
O grande problema, porém, não é a história do grupo, mas a forma como ela é contada na série - começando pelo absurdo de ter 15 episódios, de 60 minutos, em uma única temporada! A narrativa é dividida entre passado e presente e tem Edgardo (Yamil Urena e Braulio Castillo Hijo), criador do Menudo, como protagonista e fio condutor. Na verdade não há problema algum em contar uma história em retrospectiva, o próprio "Rocketman" mostrou que, se bem desenvolvido, esse conceito narrativo funciona como uma ótima estratégia para focar apenas naquilo que é relevante, sem a necessidade vital de seguir uma linha temporal tão rígida para se fazer entender! Acontece que em "Sobe em minha moto" os roteiristas criaram um plot para justificar uma pseudo-tensão no "presente" que além de péssimo, não ajuda em nada no arco principal que está no "passado"! Sério, é muito fraco, quase injustificável!
A direção tem, na minha opinião, dois ótimos acertos conceituais: o primeiro é o de criar um distanciamento da realidade ao usar câmeras VHS (no aspecto quadrado do 4:3) para nos colocar sob a perspectiva dos anos 80. O segundo é o de aplicar legendas para encerrar a participação dos integrantes do grupo sem precisar explicar muito - os cortes são tão bruscos que, além de criar a sensação de vazio que as fãs sentiam na época, acaba valorizando o que realmente interessa: o grupo em si! E aqui cabe um pequeno disclaimer: para quem não sabe, um integrante do Menudo, por contrato, poderia ser substituído se crescesse demais, mudasse a voz ou chegasse aos 16 anos de idade. Isso gerou muita polêmica na época, mas foi tão inovador que manteve o grupo renovado por muitos e muitos anos!
Quando eu estava assistindo a série, principalmente nos primeiros episódios, eu tinha a impressão que alguns cenários serviam de bengala para reproduzir um período da história e que, com o tempo, tudo se tornaria grandioso - seguindo, claro, a ascensão meteórica do grupo. Para minha surpresa, a série vai passando e nada muda - exatamente, nada mesmo!!!! O palco onde o grupo faz o primeiro show é o mesmo do seu último show - a direção de arte só se deu ao (péssimo) trabalho de adereçar de forma diferente - é constrangedor! É natural que uma série como essa até não tenha um orçamento que possibilite um trabalho de composição em CG, como vimos em Bohemian Rhapsody por exemplo, mas por favor, a solução que a produção e o diretor encontraram foi a pior possível - é como se todos os shows tivessem sido gravados no mesmo dia, só trocando os atores e a decoração - porque até o público é o mesmo (sem falar que é obvio que eles estão em um salão e não em um Estádio)!
Olha, poucas vezes eu vi uma história tão boa, rica e até genial se pensarmos na importância que teve para um mercado tão importante como o da música, ser desperdiçada dessa forma - talvez o filme sobre a vida/obra do Walt Disney se encaixe nessa prateleira de decepção! Fico imaginando como alguém aprovou um roteiro tão ruim e não se deu conta que, com aquele tamanho de orçamento, seria impossível contar uma jornada tão grandiosa! O fato é que agora entendo a razão pela qual a Prime Vídeo ter praticamente ignorado 0 lançamento de "Súbete a Mi Moto"!
Se você for muito fã e não se incomodar em assistir uma produção "nível novela mexicana dos anos 80", dê o play! Caso contrário, não perca seu tempo!
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