indika.tv - Drama

Capital Humano

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

Assista Agora

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

Assista Agora

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Cassandro

Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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Cela 211

"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!

Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:

Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.

Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.

"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.

Vale a pena!

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"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!

Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:

Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.

Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.

"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.

Vale a pena!

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Cenas de um Casamento

Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

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Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!

Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:

Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes). 

Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).

A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!

A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.

Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.

O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.

Vale muito a pena!

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Chernobyl

Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Cherry

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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Círculo Fechado

As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

As mesmas mentes criativas por trás de "Mosaic" se reúnem novamente em mais uma complexa minissérie policial. "Círculo Fechado" se apoia em uma narrativa repleta de dramas pessoais e mistérios que nos envolve em uma atmosfera de enigmas bem estruturados e um clima de tensão constante de tirar o fôlego - principalmente nos dois primeiros episódios. A trama se desenrola ao longo de seis episódios e, bem ao estilo HBO., não facilita nossa jornada, já que a história é cheia de detalhes, muitos nem tão auto-explicativos assim, o que exige muita atenção e reflexão para uma experiência, de fato, imersiva - Ed Solomon, o criador, e Steven Soderbergh, o diretor; são craques nisso!

O casal Sam (Claire Danes) e Derek Browne (Timothy Olyphant) tem sua rotina interrompida ao receber a notícia de que seu filho, Jared (Ethan Stoddard), foi sequestrado. No entanto, o sequestro não sai exatamente como planejado e isso desencadeia uma série de segredos do passado, conectando diferentes pessoas e culturas em uma Nova York marcada por crimes e vingança. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, "Círculo Fechado" nos ganha pela combinação habilidosa entre personagens bem desenvolvidos e uma trama que desafia constantemente as nossas expectativas. Desde seu início, a minissérie é muito competente em estabelecer um ambiente denso e enigmático, nos transportando para um universo desconfortável onde nada é o que parece - mesmo que isso soe clichê, a forma como Soderbergh conduz a narrativa subverte essa condição e praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante toda a jornada. É impressionante como cada personagem é importante para a trama ao mesmo tempo que precisa lidar com uma gama complexa de motivações e segredos, que são gradualmente revelados ao longo dos episódios - você não vai ver o roteiro roubando no jogo, então preste atenção até naqueles personagens que parecem descartáveis.

Solomon criou uma verdadeira teia de relações, o que potencializa essa atmosfera de desconfiança que nos mantém intrigados enquanto procuramos as respostas. A partir do terceiro episódio existe um certo equilíbrio entre as revelações graduais e os momentos de ação, mas nada que impacte tanto como o inicio - nesse aspecto a minissérie me lembrou outra produção da HBO que eu adoro: "The Night Of". Veja. a tensão, o movimento, o caos, está na origem, mas o drama em si, esse sim encontramos à medida que os protagonistas vão mergulhando mais fundo na busca pela verdade - é aí que o enigma central vai se desdobrando em múltiplas camadas e ganha força.

A fotografia do próprio Soderbergh e a direção de arte da April Lasky (de "Morte, Morte, Morte") também merecem destaque. A paleta de cores sombrias, o nervoso movimento de câmera e a escolha cuidadosa de cenários e locações, contribuem para a criação de um ambiente extremamente perturbador em seu simples realismo - quem conhece NY vai sacar isso de cara. Mais um vez: os detalhes visuais são pensados para insinuar pistas e dicas sutis, então esteja atento.

O fato é que "Full Circle" (no original) entrega uma ótima conclusão, amarrando as pontas soltas de maneira consistente - mesmo que a verdade por trás de todo o mistério não gere tanto impacto assim. O que experienciamos aqui está na jornada inteligente, não na conclusão surpreendente - isso precisa ficar claro para alinhar as expectativas. No entanto, existe sim uma aura de ambiguidade que permeia todos os episódios, contribuindo para uma sensação de fascínio que nos convida a revisitar algumas passagens em busca de pistas que poderiam ter passado despercebidas ou que teríamos escolhido ignora-las - e quando se trata de Steven Soderbergh, isso é implacável!

Vale muito o seu play!

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Cisne Negro

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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Close

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Closer

“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Closer", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Perto Demais”, é um tapa na cara de quem acha que vai assistir um romance comum. O filme do sempre muito competente Mike Nichols (de "Jogos do Poder") não tem o menor receio de expor as fragilidades de cada um de seus personagens que vão culminar em conflitos bem pesados.

Baseado numa peça teatral de Patrick Marber, a trama acompanha Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que se divorciou recentemente. Ela conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo obituários, mas acaba se casando com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna e acaba usando Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar reconquistar o amor de Anna. Confira o trailer (em inglês):

O arco principal de “Closer" já indica o quanto esses personagens usam uns aos outros para satisfazer seus próprios interesses, mas o filme de Nichols ultrapassa essa narrativa e vai além ao mostrar as camadas mais complexas de cada um deles, partindo do principio que traições e inseguranças fazem parte dos términos e reconciliações dessas relações tão instáveis - vemos emuma cena, por exemplo, Dan dizendo para Alice que a ama, ela então o questiona sobre o amor com um diálogo potente que toca numa questão que todos, inclusive nós, nos fazem repensar sobre o assunto. Aliás, o que esse filme faz muito bem são os diálogos - e você vai refletir muito sobre eles!

Além disso, o elenco todo tem uma química extraordinária - o que acabou resultando em duas indicações para o Oscar de 2005: Clive Owen como ator e Natalie Portman como atriz, ambos coadjuvantes. O roteiro do próprio Marber nos provoca a prestar atenção nas instabilidade que cada personagem e como as situações vão moldando os desejos de cada um. Uma dica: repare nas passagens de tempo durante a história, elas acontecem muitas vezes, e os mais desatentos podem se perder durante a trama e isso certamente vai impactar no entendimento do filme.

“Closer - Perto Demais” inicia e termina ao som de “The Blowers Daughter”, de Damien Rice, - um sucesso na época; e com sua cena final avassaladora (e inesquecível), só reforça nossa o opinião que estamos falando de um dos dramas de relacionamento mais doloridos e realistas da história do cinema, um clássico! Imperdível!

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Coach Carter

"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

Vale a pena!

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"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

Vale a pena!

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Colin em Preto e Branco

"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

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"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

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Conexão Escobar

Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

Vale muito a pena!

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Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

Vale muito a pena!

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Coringa

É preciso dizer que "Coringa" é o melhor filme que a DC produziu desde o "Cavaleiro das Trevas" do Nolan!!! O filme é simplesmente sensacional - eu diria que quase perfeito (e mais abaixo vou explicar por onde, na minha opinião, escapou a perfeição). Algumas observações para você que está muito ansioso para assistir: o filme é uma verdadeira imersão na "sombra" do personagem, na construção da jornada de transformação e nas suas motivações. "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA. Esse novo selo da DC deu a liberdade que algumas histórias pediam e fica claro na tela que a violência, a profundidade psíquica, o cuidado no roteiro e o conceito estético são pilares que devem ser seguidos daqui para frente, porque o resultado é incrível!

"Coringa" segue a vida Arthur Fleck, um aspirante a comediante, completamente fracassado e com uma condição mental bastante peculiar onde, em determinados momentos,  o faz rir compulsivamente (normalmente o gatilho vem do seu estado emocional fragilizado ou ameaçado). Morando com mãe, Fleck é um pacato ser humano, vítima de uma sociedade elitista e preconceituosa. Aliás, aqui vem o primeiro elogio ao roteiro: situar a história no começo dos anos 80 permitiu não só construir um novo personagem como também iniciar uma gênese que pode servir de base para futuros filmes. Em "Coringa" vemos porque Gothan se tornou tão violenta e como a dinastia Wayne interferiu nessa realidade. Aliás não foi preciso citar nada além do que vemos na tela para nos sentirmos familiarizados com aquele Universo de tão bem construído que foi. Só espero que a DC saiba usar isso com inteligência e que as informações que foram veiculadas sobre a independência dos filmes desse selo seja revista, porque seria um pecado não aproveitar "Coringa" para nada!

O roteiro é poético ao mesmo tempo que é extremamente violento. O diretor Todd Phillips ("Se beber, não case") merece uma indicação ao Oscar, pois seu trabalho é simplesmente perfeito. Ele achou o tom do filme, alinhou com a espetacular atuação de Joaquin Phoenix (que também vai ser indicado) e finalizou com uma fotografia lindíssima de um surpreendente Lawrence Sher (Godzilla II e Cães de Guerra). O roteiro é super original até para quem ama o personagem e acompanha os quadrinhos, porém peca em dois únicos momentos (e aí parece muito mais culpa ou pressão do Estúdio, do que um preciosismo dos roteiristas): quando explica as alucinações de Fleck (não precisava explicar, estava claro, o corte já contava essa história, não precisava mastigar para o público - deu raiva) e quando, mais uma vez, mostra o destino dos Wayne saindo do cinema - sério, eu já não aguento mais assistir aquele colar de pérolas caindo (desperdício de oportunidade de só sugestionar uma situação e trabalhar com a memória emotiva de quem acompanha a saga do Batman há anos). A edição de som, mixagem, a trilha sonora e o desenho de produção, olha, estão primorosos!

"Coringa" vai levar Phoenix ao Oscar por entregar um personagem tão bem construído (ou mais) que Heath Ledger. A comparação será inevitável, mas injusta, pois não se trata de um filme do Batman e sim do Coringa, mas se pensarmos como uma homenagem, meu Deus, que personagem complexo e profundo que vemos nesse filme - os caras deveriam ter feito uma série sobre ele (rs)! O filme é tão bom, tão dinâmico, tão redondo, que nem vemos o tempo passar e chegamos a torcer para que ele não acabe - e são duas horas de filme!!! Puxa, é preciso admitir que foi um grande trabalho da DC e, pode apostar, vai render pelo menos umas 5 indicações no próximo Oscar - me cobrem! Grande acerto, só, por favor, não estraguem essa obra-prima com o que já está planejado!!!

Assistam o que foi, para mim, um dos melhore filmes do ano até aqui! Mesmo!!!

Up-date: "Coringa" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator!

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É preciso dizer que "Coringa" é o melhor filme que a DC produziu desde o "Cavaleiro das Trevas" do Nolan!!! O filme é simplesmente sensacional - eu diria que quase perfeito (e mais abaixo vou explicar por onde, na minha opinião, escapou a perfeição). Algumas observações para você que está muito ansioso para assistir: o filme é uma verdadeira imersão na "sombra" do personagem, na construção da jornada de transformação e nas suas motivações. "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA. Esse novo selo da DC deu a liberdade que algumas histórias pediam e fica claro na tela que a violência, a profundidade psíquica, o cuidado no roteiro e o conceito estético são pilares que devem ser seguidos daqui para frente, porque o resultado é incrível!

"Coringa" segue a vida Arthur Fleck, um aspirante a comediante, completamente fracassado e com uma condição mental bastante peculiar onde, em determinados momentos,  o faz rir compulsivamente (normalmente o gatilho vem do seu estado emocional fragilizado ou ameaçado). Morando com mãe, Fleck é um pacato ser humano, vítima de uma sociedade elitista e preconceituosa. Aliás, aqui vem o primeiro elogio ao roteiro: situar a história no começo dos anos 80 permitiu não só construir um novo personagem como também iniciar uma gênese que pode servir de base para futuros filmes. Em "Coringa" vemos porque Gothan se tornou tão violenta e como a dinastia Wayne interferiu nessa realidade. Aliás não foi preciso citar nada além do que vemos na tela para nos sentirmos familiarizados com aquele Universo de tão bem construído que foi. Só espero que a DC saiba usar isso com inteligência e que as informações que foram veiculadas sobre a independência dos filmes desse selo seja revista, porque seria um pecado não aproveitar "Coringa" para nada!

O roteiro é poético ao mesmo tempo que é extremamente violento. O diretor Todd Phillips ("Se beber, não case") merece uma indicação ao Oscar, pois seu trabalho é simplesmente perfeito. Ele achou o tom do filme, alinhou com a espetacular atuação de Joaquin Phoenix (que também vai ser indicado) e finalizou com uma fotografia lindíssima de um surpreendente Lawrence Sher (Godzilla II e Cães de Guerra). O roteiro é super original até para quem ama o personagem e acompanha os quadrinhos, porém peca em dois únicos momentos (e aí parece muito mais culpa ou pressão do Estúdio, do que um preciosismo dos roteiristas): quando explica as alucinações de Fleck (não precisava explicar, estava claro, o corte já contava essa história, não precisava mastigar para o público - deu raiva) e quando, mais uma vez, mostra o destino dos Wayne saindo do cinema - sério, eu já não aguento mais assistir aquele colar de pérolas caindo (desperdício de oportunidade de só sugestionar uma situação e trabalhar com a memória emotiva de quem acompanha a saga do Batman há anos). A edição de som, mixagem, a trilha sonora e o desenho de produção, olha, estão primorosos!

"Coringa" vai levar Phoenix ao Oscar por entregar um personagem tão bem construído (ou mais) que Heath Ledger. A comparação será inevitável, mas injusta, pois não se trata de um filme do Batman e sim do Coringa, mas se pensarmos como uma homenagem, meu Deus, que personagem complexo e profundo que vemos nesse filme - os caras deveriam ter feito uma série sobre ele (rs)! O filme é tão bom, tão dinâmico, tão redondo, que nem vemos o tempo passar e chegamos a torcer para que ele não acabe - e são duas horas de filme!!! Puxa, é preciso admitir que foi um grande trabalho da DC e, pode apostar, vai render pelo menos umas 5 indicações no próximo Oscar - me cobrem! Grande acerto, só, por favor, não estraguem essa obra-prima com o que já está planejado!!!

Assistam o que foi, para mim, um dos melhore filmes do ano até aqui! Mesmo!!!

Up-date: "Coringa" ganhou em duas categorias no Oscar 2020: Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator!

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Corpo e Alma

"Corpo e Alma" foi o representante Húngaro na disputa do Oscar 2018. Ele chegou com a validação por ter ganho o Urso de Ouro em Berlin em 2017. O filme conta a história de um homem e uma mulher, colegas de trabalho, que passam a se conhecer melhor e acabam descobrindo que eles sonham as mesmas coisas durante a noite. Com isso, eles decidem tornar essa relação incomum em algo real, apesar das dificuldades no mundo real. Confira o trailer:

"On Body and Soul" (título internacional)é tecnicamente muito bem realizado e tem uma história até que interessante - embora, tenha uma ou outra cena mais chocante envolvendo animais, porém apresentada de forma gratuita - muito mais para chocar do que para mover a história para frente. Até acho que faz algum sentido no contexto cruel daquele universo, mas, admito, marca demais!

Analisando isoladamente é um filme que te prende e te instiga assim que a trama central é apresentada. Os atores húngaros estão muito bem, com destaque para o Géza Morcsányi. Já a Alexandra Borbély, mais experiente, achei um pouco fora do tom, quase esteriotipada, mas como seu personagem pedia isso, certamente foi uma escolha justificada pelo contexto - penso que se não estivesse tão robótica ficaria mais fácil criar uma empatia. O fato é que em nenhum momento torci ou me preocupei com ela, talvez por isso não tenha gostado tanto do filme quanto gostei de "Loveless" e "The Square" que também estão na disputa pelo Oscar.

A diretora, Ildikó Enyedi, já havia ganho a Camera de Ouro em Cannes em 89 e vale a pena conhecer o trabalho dela. Ela não inventa, faz um cinema mais clássico e com muita qualidade. Gostei!

No geral, o filme é bacana. O cinema húngaro foi um novidade para mim, mas eu gostei do que vi e por isso indico tranquilamente!

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"Corpo e Alma" foi o representante Húngaro na disputa do Oscar 2018. Ele chegou com a validação por ter ganho o Urso de Ouro em Berlin em 2017. O filme conta a história de um homem e uma mulher, colegas de trabalho, que passam a se conhecer melhor e acabam descobrindo que eles sonham as mesmas coisas durante a noite. Com isso, eles decidem tornar essa relação incomum em algo real, apesar das dificuldades no mundo real. Confira o trailer:

"On Body and Soul" (título internacional)é tecnicamente muito bem realizado e tem uma história até que interessante - embora, tenha uma ou outra cena mais chocante envolvendo animais, porém apresentada de forma gratuita - muito mais para chocar do que para mover a história para frente. Até acho que faz algum sentido no contexto cruel daquele universo, mas, admito, marca demais!

Analisando isoladamente é um filme que te prende e te instiga assim que a trama central é apresentada. Os atores húngaros estão muito bem, com destaque para o Géza Morcsányi. Já a Alexandra Borbély, mais experiente, achei um pouco fora do tom, quase esteriotipada, mas como seu personagem pedia isso, certamente foi uma escolha justificada pelo contexto - penso que se não estivesse tão robótica ficaria mais fácil criar uma empatia. O fato é que em nenhum momento torci ou me preocupei com ela, talvez por isso não tenha gostado tanto do filme quanto gostei de "Loveless" e "The Square" que também estão na disputa pelo Oscar.

A diretora, Ildikó Enyedi, já havia ganho a Camera de Ouro em Cannes em 89 e vale a pena conhecer o trabalho dela. Ela não inventa, faz um cinema mais clássico e com muita qualidade. Gostei!

No geral, o filme é bacana. O cinema húngaro foi um novidade para mim, mas eu gostei do que vi e por isso indico tranquilamente!

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Crescendo Juntas

Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

Vale muito o seu play!

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Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

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Crimes de Família

Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

Assista Agora ou

Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

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