indika.tv - Drama

Black Bird

"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

Vale seu play!

Assista Agora

"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

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Blind

"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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Blue Valentine

Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!

A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!

A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!

“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente! 

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Bob Marley: One Love

Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley.  "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.

A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:

Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.

Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".

Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.

Vale muito o seu play!

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Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley.  "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.

A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:

Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.

Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".

Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.

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Bohemian Rhapsody

Bohemian Rhapsody

É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen! 

"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!

De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando.  O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!

Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos. 

O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!

Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!

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Bom Dia, Verônica

"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".

Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.

Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.

Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.

"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!

PS: A série terá três temporadas. 

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"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".

Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.

Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.

Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.

"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!

PS: A série terá três temporadas. 

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Borderliner

"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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Bosch

Se você procura por uma excelente série policial, pode ser que eu esteja acabando com sua vida social pelos próximos meses - são sete temporadas (68 episódios), sem contar um spin-off genial com mais três, e, acreditem, com um final! “Bosch”, série criada por Eric Ellis Overmyer (consultor de "The Wire") e baseada na vasta e aclamada obra policial de Michael Connelly, é um exemplo raro de consistência narrativa no atual cenário das produções para o streaming. Com temporadas lançadas entre 2014 e 2021, a produção da Prime Video apresenta uma trama de fato sólida, centrada no detetive Hieronymus “Harry” Bosch, vivido por um impecável Titus Welliver. Em um mundo onde a verdade muitas vezes se esconde atrás da burocracia, da corrupção institucional ou da moralidade seletiva, "Bosch" é o tipo da série que já parece ter nascida como um clássico - com um personagem marcante, cheio de princípios inflexíveis e capaz de ir até as últimas consequências para honrar seu propósito, independente das regras que precisa quebrar.

A sinopse oficial reforça esse conceito com precisão: “A série acompanha Harry Bosch, um detetive do Departamento de Polícia de Los Angeles, enquanto ele enfrenta os limites da lei e da ética para resolver casos de homicídio. Em meio a tensões internas e ameaças externas, Bosch lida com seus próprios demônios enquanto busca justiça em uma cidade marcada por corrupção e violência.” Confira o trailer (em inglês):

Tecnicamente, “Bosch” é uma obra que prima pela sobriedade, pelo sua atmosfera quase noir. A fotografia não se rende aos excessos visuais que muitas séries contemporâneas vem adotando - ela opta por uma paleta de tons urbanos e frios, retratando uma Los Angeles menos glamourosa e mais melancólica, mais "vida real". A cidade, sem dúvida, é um personagem recorrente e silenciosa da série - algo como vimos em "Tokyo Vice". Da arquitetura moderna ao concreto opressor das marginais, do brilho ambíguo do pôr do sol às sombras dos becos em Hollywood, a ambientação aqui, realmente reforça o clima angustiante que serve de base para todas as temporadas, com maestria.

O roteiro, adaptado com engenhosidade por Overmyer, se apropria do que os romances de Connelly tem de melhor - como uma espécie de ponto de partida, a série vai além ao estruturar arcos independentes a cada temporada, sempre costurando múltiplos casos, investigações paralelas e dilemas morais que nos prendem como poucas vezes experienciamos. A força de “Bosch”, sem dúvida, está no seu ritmo deliberadamente metódico - ao invés de resolver tudo em reviravoltas abruptas, a série constrói pacientemente o peso da investigação, do processo legal e do cotidiano policial. Obviamente que isso exige atenção da audiência, no entanto, é impressionante como somos recompensados com personagens complexos em uma verdadeira jornada de profunda compreensão sobre os sistemas que regem a justiça e sua falência.

É inegável que performance de Titus Welliver funciona como o pilar dessa jornada. Em um personagem que exige contenção e intensidade, o ator entrega uma atuação de rara precisão: Bosch é lacônico, mas cheio de camadas; é duro, mas vulnerável; é um outsider que ainda acredita na estrutura da qual faz parte. E esse embate entre crença e frustração é justamente o que torna sua trajetória tão envolvente. Veja, após sete temporadas, “Bosch” encerra seu arco principal com dignidade e sem pressa, fiel ao seu tom realista e ao desenvolvimento lento de seus personagens. Mas se prepare, pois o universo não termina ali. O spin-off “Bosch: Legacy” (já disponível) surge como uma extensão natural, mantendo a base estética e narrativa da série original, mas abrindo espaço para novas relações, conflitos e dinâmicas - com um Bosch já fora do LAPD, mas ainda irremediavelmente comprometido com sua cruzada por justiça. A transição é orgânica, respeitosa com os fãs e com a mitologia criada por Connelly, e prova que, mesmo após o fim de um ciclo, ainda há muito a explorar nesse mundo em que a verdade raramente é simples - e a justiça, quase nunca é absoluta.

Vale demais o seu play!

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Se você procura por uma excelente série policial, pode ser que eu esteja acabando com sua vida social pelos próximos meses - são sete temporadas (68 episódios), sem contar um spin-off genial com mais três, e, acreditem, com um final! “Bosch”, série criada por Eric Ellis Overmyer (consultor de "The Wire") e baseada na vasta e aclamada obra policial de Michael Connelly, é um exemplo raro de consistência narrativa no atual cenário das produções para o streaming. Com temporadas lançadas entre 2014 e 2021, a produção da Prime Video apresenta uma trama de fato sólida, centrada no detetive Hieronymus “Harry” Bosch, vivido por um impecável Titus Welliver. Em um mundo onde a verdade muitas vezes se esconde atrás da burocracia, da corrupção institucional ou da moralidade seletiva, "Bosch" é o tipo da série que já parece ter nascida como um clássico - com um personagem marcante, cheio de princípios inflexíveis e capaz de ir até as últimas consequências para honrar seu propósito, independente das regras que precisa quebrar.

A sinopse oficial reforça esse conceito com precisão: “A série acompanha Harry Bosch, um detetive do Departamento de Polícia de Los Angeles, enquanto ele enfrenta os limites da lei e da ética para resolver casos de homicídio. Em meio a tensões internas e ameaças externas, Bosch lida com seus próprios demônios enquanto busca justiça em uma cidade marcada por corrupção e violência.” Confira o trailer (em inglês):

Tecnicamente, “Bosch” é uma obra que prima pela sobriedade, pelo sua atmosfera quase noir. A fotografia não se rende aos excessos visuais que muitas séries contemporâneas vem adotando - ela opta por uma paleta de tons urbanos e frios, retratando uma Los Angeles menos glamourosa e mais melancólica, mais "vida real". A cidade, sem dúvida, é um personagem recorrente e silenciosa da série - algo como vimos em "Tokyo Vice". Da arquitetura moderna ao concreto opressor das marginais, do brilho ambíguo do pôr do sol às sombras dos becos em Hollywood, a ambientação aqui, realmente reforça o clima angustiante que serve de base para todas as temporadas, com maestria.

O roteiro, adaptado com engenhosidade por Overmyer, se apropria do que os romances de Connelly tem de melhor - como uma espécie de ponto de partida, a série vai além ao estruturar arcos independentes a cada temporada, sempre costurando múltiplos casos, investigações paralelas e dilemas morais que nos prendem como poucas vezes experienciamos. A força de “Bosch”, sem dúvida, está no seu ritmo deliberadamente metódico - ao invés de resolver tudo em reviravoltas abruptas, a série constrói pacientemente o peso da investigação, do processo legal e do cotidiano policial. Obviamente que isso exige atenção da audiência, no entanto, é impressionante como somos recompensados com personagens complexos em uma verdadeira jornada de profunda compreensão sobre os sistemas que regem a justiça e sua falência.

É inegável que performance de Titus Welliver funciona como o pilar dessa jornada. Em um personagem que exige contenção e intensidade, o ator entrega uma atuação de rara precisão: Bosch é lacônico, mas cheio de camadas; é duro, mas vulnerável; é um outsider que ainda acredita na estrutura da qual faz parte. E esse embate entre crença e frustração é justamente o que torna sua trajetória tão envolvente. Veja, após sete temporadas, “Bosch” encerra seu arco principal com dignidade e sem pressa, fiel ao seu tom realista e ao desenvolvimento lento de seus personagens. Mas se prepare, pois o universo não termina ali. O spin-off “Bosch: Legacy” (já disponível) surge como uma extensão natural, mantendo a base estética e narrativa da série original, mas abrindo espaço para novas relações, conflitos e dinâmicas - com um Bosch já fora do LAPD, mas ainda irremediavelmente comprometido com sua cruzada por justiça. A transição é orgânica, respeitosa com os fãs e com a mitologia criada por Connelly, e prova que, mesmo após o fim de um ciclo, ainda há muito a explorar nesse mundo em que a verdade raramente é simples - e a justiça, quase nunca é absoluta.

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Brian Banks: Um Sonho Interrompido

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

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"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

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Buscando...

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

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"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

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C.B. Strike

"C.B. Strike" é entretenimento puro - especialmente se você gostou da famosa série antológica, também da BBC, "Sherlock". Por mais surpreendente que possa parecer, "C.B. Strike" é uma adaptação da série de livros escritos por J.K. Rowling (ela mesmo) sob o pseudônimo de Robert Galbraith, que  traz para a televisão histórias do charmoso detetive Cormoran Strike, e de sua assistente Robin Ellacott, em casos extremamente envolventes que mesclam mistério, thriller psicológico e drama pessoal. Criada por Tom Edge (de "The Crown") e Ben Richards (de "The Tunnel") essa série, posso te garanatir, é uma das melhores adaptações contemporâneas do gênero policial noir - mas com um tom mais realista e menos estilizado.

A narrativa, como já é possível imaginar, segue Cormoran Strike (Tom Burke), um ex-soldado que perdeu parte da perna em uma explosão no Afeganistão e que agora trabalha como detetive particular em Londres. Desorganizado, endividado e lidando com um trauma mal resolvido, ele sobrevive resolvendo casos passageiros até que um crime bastante complexo, o assassinato da modelo Lula Landry (Elarica Johnson), o coloca sob os holofotes. Nesse contexto que conhecemos Robin Ellacott (Holliday Grainger), uma assistente temporária que logo demonstra um talento nato para investigações, criando assim uma das melhores dinâmicas entre investigadores da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

"C.B. Strike", de fato, se destaca pela estrutura narrativa divertida e muito fiel aos livros. Aqui, cada temporada adapta um caso específico da obra original - desde "O Chamado do Cuco", que mergulha no suposto suicídio de uma supermodelo, até "Sangue Revolto", um caso sombrio que leva a dupla a investigar um culto realmente perigoso. Com roteiros bem construídos, a adaptação foi muito feliz ao manter a complexidade das investigações, com detalhes muito precisos dos romances, mas sem perder a fluidez necessários para uma jornada na tela - a série não é ágil, é verdade, mas ela está longe de ser lenta. O sucesso foi imediato, proporcionando, até agora, cinco temporadas com dois a quatro episódios cada, totalizando 19 - sendo 16 escritos por Tom Edge.

Já a equipe de direção, liderada por Susan Tully (de "Crossing Lines"), aposta em um realismo cru, utilizando Londres não apenas como pano de fundo, mas como um personagem vivo que amplifica a atmosfera mais crônica de tensão e mistério. Diferente de "Sherlock", que estiliza a cidade para criar um ambiente quase fantasioso, "C.B. Strike" mantém os pés no chão, apresentando uma capital britânica sombria, úmida e cheia de becos estreitos que reforçam a sensação de perigo. E aqui cabe um elogio: a fotografia estruturada por Hubert Taczanowski (não por acaso de "The Missing") reforça a estética mais noir da série, brincando com as sombras e os contrastes para enfatizar os momentos de maior mistério, enquanto a trilha sonora discreta, mas eficaz, contribui para o peso do tom, só que sem se sobrepor ao drama, permitindo que a tensão seja construída da forma mais natural possível.

Tom Burke e Holliday Grainger são o grande trunfo da série. Burke incorpora Strike com a dose certa de exaustão e inteligência, mas sem cair nos clichês do detetive cínico e autodestrutivo. Ele é falho, mas extremamente perspicaz, e a série explora bem suas fraquezas sem transformá-las em mero artifício dramático. Já Grainger traz força e sensibilidade para sua personagem, cuja evolução ao longo das cinco temporadas a torna tão essencial para as investigações quanto o próprio Strike. Veja "C.B. Strike" valoriza os diálogos, a construção do mistério e o desenvolvimento dos personagens, o que pode parecer mais cadenciada para quem espera uma abordagem eletrizante. No entanto, essa escolha conceitual permite um aprofundamento maior nos casos e nas relações interpessoais, sem pressa, tornando a série uma experiência mais interessante para os fãs do gênero, ou seja, para quem gosta de histórias de detetives e de investigações meticulosas, sem nunca fugir do propósito do divertimento, essa é série que você estava esperando!

Divirta-se!

Assista Agora

"C.B. Strike" é entretenimento puro - especialmente se você gostou da famosa série antológica, também da BBC, "Sherlock". Por mais surpreendente que possa parecer, "C.B. Strike" é uma adaptação da série de livros escritos por J.K. Rowling (ela mesmo) sob o pseudônimo de Robert Galbraith, que  traz para a televisão histórias do charmoso detetive Cormoran Strike, e de sua assistente Robin Ellacott, em casos extremamente envolventes que mesclam mistério, thriller psicológico e drama pessoal. Criada por Tom Edge (de "The Crown") e Ben Richards (de "The Tunnel") essa série, posso te garanatir, é uma das melhores adaptações contemporâneas do gênero policial noir - mas com um tom mais realista e menos estilizado.

A narrativa, como já é possível imaginar, segue Cormoran Strike (Tom Burke), um ex-soldado que perdeu parte da perna em uma explosão no Afeganistão e que agora trabalha como detetive particular em Londres. Desorganizado, endividado e lidando com um trauma mal resolvido, ele sobrevive resolvendo casos passageiros até que um crime bastante complexo, o assassinato da modelo Lula Landry (Elarica Johnson), o coloca sob os holofotes. Nesse contexto que conhecemos Robin Ellacott (Holliday Grainger), uma assistente temporária que logo demonstra um talento nato para investigações, criando assim uma das melhores dinâmicas entre investigadores da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

"C.B. Strike", de fato, se destaca pela estrutura narrativa divertida e muito fiel aos livros. Aqui, cada temporada adapta um caso específico da obra original - desde "O Chamado do Cuco", que mergulha no suposto suicídio de uma supermodelo, até "Sangue Revolto", um caso sombrio que leva a dupla a investigar um culto realmente perigoso. Com roteiros bem construídos, a adaptação foi muito feliz ao manter a complexidade das investigações, com detalhes muito precisos dos romances, mas sem perder a fluidez necessários para uma jornada na tela - a série não é ágil, é verdade, mas ela está longe de ser lenta. O sucesso foi imediato, proporcionando, até agora, cinco temporadas com dois a quatro episódios cada, totalizando 19 - sendo 16 escritos por Tom Edge.

Já a equipe de direção, liderada por Susan Tully (de "Crossing Lines"), aposta em um realismo cru, utilizando Londres não apenas como pano de fundo, mas como um personagem vivo que amplifica a atmosfera mais crônica de tensão e mistério. Diferente de "Sherlock", que estiliza a cidade para criar um ambiente quase fantasioso, "C.B. Strike" mantém os pés no chão, apresentando uma capital britânica sombria, úmida e cheia de becos estreitos que reforçam a sensação de perigo. E aqui cabe um elogio: a fotografia estruturada por Hubert Taczanowski (não por acaso de "The Missing") reforça a estética mais noir da série, brincando com as sombras e os contrastes para enfatizar os momentos de maior mistério, enquanto a trilha sonora discreta, mas eficaz, contribui para o peso do tom, só que sem se sobrepor ao drama, permitindo que a tensão seja construída da forma mais natural possível.

Tom Burke e Holliday Grainger são o grande trunfo da série. Burke incorpora Strike com a dose certa de exaustão e inteligência, mas sem cair nos clichês do detetive cínico e autodestrutivo. Ele é falho, mas extremamente perspicaz, e a série explora bem suas fraquezas sem transformá-las em mero artifício dramático. Já Grainger traz força e sensibilidade para sua personagem, cuja evolução ao longo das cinco temporadas a torna tão essencial para as investigações quanto o próprio Strike. Veja "C.B. Strike" valoriza os diálogos, a construção do mistério e o desenvolvimento dos personagens, o que pode parecer mais cadenciada para quem espera uma abordagem eletrizante. No entanto, essa escolha conceitual permite um aprofundamento maior nos casos e nas relações interpessoais, sem pressa, tornando a série uma experiência mais interessante para os fãs do gênero, ou seja, para quem gosta de histórias de detetives e de investigações meticulosas, sem nunca fugir do propósito do divertimento, essa é série que você estava esperando!

Divirta-se!

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Califado

Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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Campeões

Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

Assista Agora

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Capital Humano

As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.

Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:

O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).

Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).

Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.

Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".

Pode dar play sem medo!

Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco  Marisa Tomei e Liev Schreiber.

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Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Cassandro

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

Assista Agora

"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.

Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:

Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive. 

Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.

Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.

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Cela 211

"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!

Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:

Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.

Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.

"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.

Vale a pena!

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"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!

Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:

Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.

Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.

"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.

Vale a pena!

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