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Terça, 03 Dezembro 2019 08:53

Tendências - África ganha protagonismo no audiovisual

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Em fevereiro de 2018, um filme americano transformou a trajetória do cinema e demonstrou ser totalmente possível criar um enorme sucesso de crítica e de público com um elenco negro e um herói afro. “Pantera Negra” e sua força incomensurável reacenderam o debate sobre representatividade no entretenimento. Desde então, o mercado nunca mais foi o mesmo. Confira:

Tudo indica que 2020 será um ano recheado de lançamentos audiovisuais produzidos em território africano. Isso porque as maiores empresas de mídia do mundo estão com olhos e os bolsos voltados para o continente. Com imensa diversidade cultural e complexidades socioeconômicas, a África surge como a região ideal para desenvolver produtos de alcance global e tempero local. Hoje, veremos quais projetos estão sendo elaborados e as prósperas parcerias entre os grandes players do entretenimento e as produtoras africanas.

Uma negociação histórica, assim podemos descrever o acordo comercial entre China e Nollywood (um dos maiores polos produtores de filmes do mundo). Pela primeira vez, o país asiático assinou um compromisso com cineastas nigerianos para desenvolver uma coprodução cinematográfica entre as duas nações. O grupo chinês Huahua Media vai produzir “30 Days in China” com o comediante nigeriano Ayo Makun. O novo filme é parte da franquia cômica de Makun, que registra aventuras engraçadas no exterior. O projeto está previsto para o ano que vem e contará com a presença de estrelas de Nollywood, assim como de atores chineses.

Ayo Makun, comediante nigeriano que fechou contrato com gigante chinesa

Outro gigante do setor que está atento ao mercado africano é o Canal Plus Group. Como parte da estratégia para reforçar sua presença na África, o grupo de mídia francês adquiriu o estúdio nigeriano ROK Film Studios. O movimento demonstra o interesse da companhia em desenvolver conteúdo original local e aumentar a oferta de produtos para sua base de consumidores. Atualmente, o Canal Plus oferece o canal de ficção Nollywood TV (focado em filmes nigerianos) para os assinantes francófonos da região. De acordo com fontes do mercado, o grupo francês busca estender sua atuação para o território africano a fim de compensar as perdas financeiras que vêm ocorrendo na França, após a intensificação da briga entre os concorrentes streamers.  

Mary Njoku, fundadora da ROK Studios, empresa adquirida pelo grupo francês Canal Plus

Por falar em streamers, Netflix também está na turma dos investidores do continente africano. Recentemente, a plataforma contratou a executiva e cineasta queniana Dorothy Ghettuba como gerente para a área de International Originals. A contratação tem como objetivo ampliar a produção de conteúdo original em territórios da África a partir de 2019.

Dorothy Ghettuba, diretora queniana contratada pela Netflix para comandar o setor de conteúdo original africano

O efeito foi rápido. Duas produções foram encomendadas pela Netflix e estão em desenvolvimento atualmente. “Queen Sono” traz a atriz sul-africana Pearl Thusi (Quantico) no papel homônimo da série como uma agente secreta que lida com operações criminosas enquanto gerencia crises em sua vida pessoal. A previsão de estreia é para 2020.

Pearl Thusi em “Queen Sono”, série da Netflix

“Blood & Water” é a segunda série original anunciada pela plataforma de streaming e conta a história de uma garota de 16 anos que é transferida para a mesma escola de uma adolescente que ela suspeita ser sua irmã, sequestrada há 17 anos. A produção ainda não tem data de lançamento.

Ama Qamata e Khosi Ngema são as protagonistas de “Blood & Water”, série da Netflix

Por fim, a Netflix promoveu o maior lançamento de um drama produzido no continente africano até o momento, atingindo um total de 190 países. Isso aconteceu com a série “Shadow”, disponível desde o dia 8 de março. Abalado por uma perda trágica, um ex-policial incapaz de sentir dor decide ir sozinho atrás dos bandidos que despistaram a polícia de Joanesburgo. Veja o trailer:

A concorrente Amazon está desenvolvendo um drama baseado no primeiro livro da série de ficção científica “Patternist”, da americana Octavia E. Butler. A atração será produzida pelo casal Viola Davis e Julius Tennon, roteirizada pela queniana Wanuri Kahiu e pela premiada autora nigeriana Nnedi Okorafor. Kahiu é a diretora de “Rafiki”, um romance lésbico exibido no Festival de Cannes de 2018.

Nnedi Okorafor e Wanuri Kahiu, responsáveis pela adaptação do romance de Octavia E. Butler para a Amazon

“Wild Seed” é uma história de amor e ódio entre dois imortais africanos que viajam no tempo, do longínquo passado até o inimaginável futuro. Doro, um assassino que usa seu poder para criar pessoas como gado, encontra Anyanwu, uma curandeira que o obriga a reavaliar seus milênios de comportamento cruel. Por séculos, suas batalhas pessoais mudam o curso de nosso mundo enquanto lidam com o pano de fundo do tempo. 

Em paralelo, Nnedi Okorafor será a consultora para HBO na adaptação do seu livro pós-apocalítico “Who Fears Death” em uma série de TV do mesmo produtor de “Game of Thrones”, George R. R. Martin. A história segue uma jovem com poderes mágicos no Sudão pós-apolítico, que utiliza suas habilidades para combater males endêmicos em zonas de conflito africanas, como genocídio, estupro e mutilação genital feminina.

Nnedi Okorafor, seu livro “Who Fears Death” e George R. R. Martin

O grupo de mídia sul-africano MultiChoice firmou parceria com grandes representantes do mercado europeu. Com a distribuidora britânica Fremantle, a série criminal “Reyka”, que acompanha uma investigadora assombrada por seu passado. Filha de pais africanos e britânicos, ela é sequestrada aos 11 anos e consegue escapar do criminoso. A história começa em 1994, no final do Apartheid.

Já com a emissora alemã ZDF, o grupo desenvolve “Trackers”, a adaptação do romance do autor bestseller sul-africano Deon Meyer. A série entrelaça três vertentes da trama em um suspense que cobre toda a extensão da África do Sul e envolve crime organizado, diamantes contrabandeados, segurança do Estados, rinocerontes negros, a CIA e um terrorista internacional.

Também vindas da África do Sul, temos as séries “The Girl From St. Agnes” e “Resolution 418”. A primeira aborda um assassinato misterioso ambientado em uma escola da elite sul-africana. Já o segundo é baseado em eventos reais sobre a sabotagem de uma usina nuclear durante a era do Apartheid e a Guerra Fria.

 

Para concluir a lista, ainda temos um acordo da nigeriana EbonyLife TV com a Sony Pictures Television para o desenvolvimento de três séries de ficção. Ainda não há mais detalhes sobre a negociação.

Apesar do grande volume de projetos apresentados aqui, há boas expectativas para que o conteúdo africano vivencie um verdadeiro boom no mercado internacional nos próximos anos. O estímulo por novas narrativas, a competição cada vez mais intensa entre os players do entretenimento e o imenso potencial consumidor da população africana dão confiança para esta empreitada. Estamos só no começo! 

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