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Terça, 10 Março 2020 08:53

Tendências - A hora de “Noughts & Crosses” é agora

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A BBC está um passo a frente e a importância desse mindset se comprova com a chegada de “Noughts & Crosses”, série dramática que propõe um elemento curioso no seu pano de fundo: uma sociedade racista invertida, com os negros no domínio do poder. Confira todos os detalhes:

A polarização política e social mundial levou a indústria do entretenimento a cada vez mais produzir conteúdo instigante e questionador, aproveitando a energia conflitante da sociedade para empreender novas análises sobre as nossas melhores e piores atitudes. Baseada na série de livros da aclamada autora britânica Malorie Blackman, “Noughts & Crosses” conta ao longo de seis episódios uma história de amor não muito diferente de outros clássicos da literatura, como Romeu e Julieta. Porém, um detalhe crucial torna esta produção extremamente relevante e necessária para a audiência contemporânea: o mundo vive sob as regras de uma supremacia negra. Apesar do primeiro livro ter sido publicado há quase 20 anos, o contexto sociopolítico da década atual estimula comparações interessantes com a realidade e o passado histórico.

Malorie Blackman, autora do livro homônimo que inspira a série “Noughts and Crosses”

Sephy (Masali Baduza) é filha do poderoso político Kamal Hadley (Paterson Joseph), forte representante do lado “cross”. Callum McGregor (Jack Rowan) é um “nought” que tenta promover um impacto positivo no mundo apesar das adversidades impostas a ele. Amigo de infância de Sephy, a amizade logo transforma-se em flerte proibido. Enquanto ser um “cross” representa poder, influência e riqueza, nascer um “nought” é visto como símbolo de escassez, fracasso, pobreza e opressão. Em resumo: os crosses são uma raça superior, representada pelos negros; já os noughts são a raça mais pobre, que servem os crosses e são compostos por brancos.

O relacionamento de Sephy e Callum mostra-se complicado e explicita todo tipo de preconceito e ignorância de suas respectivas famílias a um casal interracial separado pela sociedade, porém unido pelo amor. A narrativa romântica ganha ênfase política ao inverter os paradigmas racistas. Historicamente dominados pela visão eurocêntrica branca, o diferencial desta série é exatamente mostrar ao avesso todo o racismo perpetrado por brancos na vida real. O que sempre foi naturalizado aos olhos da classe dominante agora tem sua provocação simbolizada por negros exercendo poder contra os brancos.

Casal protagonista: Sephy (Masali Baduza) e Callum (Jack Rowan)

Alvo da polícia, do preconceito estrutural e da falta de oportunidades, os noughts representam a metáfora invertida dos negros oprimidos pela sociedade do mundo real a cada dia. Na série, homens brancos são perseguidos por policiais negros, que atacam ferozmente com suas armas e xingamentos racistas. A brutalidade da polícia acaba levando um nought inocente a ser internado em um hospital. Cena nada diferente dos nossos telejornais, a não ser pelo principal elemento: a cor da pele.

A série foi filmada essencialmente na África do Sul – e a linguagem, a música, a iluminação, o figurino e maquiagem foram utilizados para representar esse mundo invertido, com ideais de beleza e influências culturais baseadas nas normas africanas - já havíamos percebido esse movimento como listamos aqui. Para além da reflexão que “Noughts and Crosses” deve promover no público, a produção merece ser saudada por caracterizar mais um importante passo na visibilidade negra dentro e fora do entretenimento. A possibilidade de entrar em contato com o universo de referências afro, além de um numeroso elenco negro, precisa ser mencionado como uma conquista.

Kamal Hadley (Paterson Joseph) e Jasmine Hadley (Bonnie Mbuli), os pais de Sephy

A estreia da série é recente, aconteceu no dia 05 de março em território britânico e a receptividade da imprensa foi surpreendente. “Noughts and Crosses” é um produto audiovisual questionador e reflexivo, que mistura cenas realistas com protagonistas racialmente invertidos para gerar conflito na mente da audiência. Romper com os séculos do naturalismo racista é o grande feito da adaptação da BBC.

Read 8267 times Last modified on Quinta, 01 Abril 2021 08:09

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