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Segunda, 14 Junho 2021 13:53

Os Filhos de Sam - quando a realidade parece ficção Featured

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“Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração”, lançado no dia 5 de maio de 2021, é uma série documental de crimes reais do catálogo da Netflix que merece atenção, se você ainda não viu, preste atenção nesse texto e entenda a razão desse enorme sucesso: 

Como fã de “true crime”, acompanhei várias matérias, programas e documentários sobre David Berkowitz, também chamado de “Filho de Sam”, um dos mais conhecidos assassinos em série dos Estados Unidos. Sempre acreditei que, de fato, ele tivesse cometido os crimes hediondos dos quais foi acusado, visto que ele mesmo confessou, no momento de sua prisão, que ele era o “Filho de Sam”, revelando posteriormente detalhes sórdidos de como foram os assassinatos. 

Berkowitz explicou que escolheu o nome de “Filho de Sam” pelo fato de o “demônio” se comunicar com ele através do cachorro de estimação do seu vizinho, Sam Carr. As coisas começaram a parecer estranhas quando, após avaliação psiquiátrica, incrivelmente não foi identificado nenhum problema mental em Berkowitz, ao contrário, foi considerado capaz de responder por seus atos. No julgamento, voltou a se declarar culpado e pediu que fosse sentenciado à prisão perpétua. Alegou que assim não poderia cometer mais crimes. De fato, em junho de 1978 ele foi condenado a 365 anos de prisão. Berkowitz, que se converteu ao cristianismo, rejeitou por três vezes (em 2002, 2004 e 2006) a possibilidade de obter a liberdade condicional. 

David Berkowitz

A produção da série documental da Netflix apresenta uma nova abordagem dos crimes, seguindo a narrativa de Maury Terry, um controverso jornalista investigativo. O foco é, portanto, a investigação do caso através de evidências coletadas pelo próprio Terry, que defendia que David Berkowitz não teria agido sozinho. Segundo o jornalista, Berkowitz faria parte de um culto satânico e tido ajuda de outros satanistas, que também teriam participado dos crimes. Isso explicaria, por exemplo, o fato de os retratos falados fornecidos pelas testemunhas sobreviventes serem totalmente distintos uns dos outros. Além disso, as vítimas descreviam o autor dos disparos de forma diferente, nem sempre se encaixando com o perfil de Berkowitz. O fato é que Terry suspeitou, desde o início, das investigações realizadas pela polícia de Nova York, e achava que estavam no caminho errado, tendo seguido até o fim de sua vida com a obsessão de provar isso para o mundo. 

Maury Terry com seu livro “The Ultimate Evil”

A série documental do cineasta Joshua Zeman, se apoia em imagens de arquivo, vídeos de noticiários e entrevistas que ilustram o caso nesta nova ótica, mostrando que muitas das teorias de Terry faziam mesmo sentido, mas que acabaram sendo ignoradas por questões políticas ou pela própria atitude obcecada e, por vezes, desequilibrada do jornalista. Em entrevista dada na prisão em fevereiro de 1979, Berkowitz assumiu que inventou toda a história. No mesmo ano, ele sofreu uma tentativa de homicídio dentro da penitenciária, mas não revelou quem teria tentado matá-lo. 

Já em 1993, após 15 anos de comportamento exemplar, Berkowitz deu uma outra entrevista onde revelou que a seita satânica em que havia ingressado o obrigou a praticar os delitos, sendo que, na verdade, ele havia tirado a vida de três pessoas (e ferindo uma quarta), e que os demais crimes haviam sido praticados por outros integrantes do culto. Ele afirmou ter voluntariamente confessado ser o único autor para se proteger dos outros membros do grupo. 

Maury Terry, que chegou a publicar o livro “The Ultimate Evil” sobre o caso, levantou dados incríveis sobre o culto satânico do qual David Berkowitz fez parte.  Segundo Terry, a seita teria conexões com a cientologia e até com Charles Manson. Parece loucura, mas ao assistir aos quatro episódios da série, somos conduzidos de uma forma onde tudo faz bastante sentido. Terry não teria sido escutado e levado a sério justamente por tão absurda a justificativa dos crimes, além do fato de ter perdido praticamente a própria sanidade durante o processo. 

Na minha opinião, a série daria um ótimo longa, algo como David Fincher fez com “Zodíaco”, não apenas pela história repleta de surpresas e detalhes bizarros, mas também por conta do improvável time que Maury Terry compôs para suas investigações, que contava até com um dos sobreviventes do “Filho de Sam”. 

Assim como nos bons filmes de suspense ou ação, a série documental “Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração” deixa uma grande surpresa para os espectadores no final. Aliás, o subtítulo “loucura e conspiração” não poderia ser mais apropriado. O caso do “Filho de Sam” foi reaberto em 1996 e 2004 e assim continua. Provavelmente nunca saberemos toda a verdade, mas tentar entender a mente das pessoas que cometem esses crimes ainda fascina muita gente. 

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