“Halston” é mais uma produção original de Ryan Murphy (“American Horror Story”, “O Povo contra O.J. Simpson”, “O Assassinato de Gianni Versace”) para a Netflix, depois dos lançamentos de “Hollywood”, “The Politician” e “Ratched”, além dos filmes “Baile de Formatura” e “The Boys in the Band”.
A minissérie em 5 episódios conta a trajetória de Roy Halston Frowick (1932-1990), o primeiro estilista americano a se tornar uma celebridade. Ewan McGregor está excelente no papel e encarnou com perfeição os maneirismos e até a forma peculiar com que Halston falava, tendo recebido elogios rasgados de Ryan Murphy por sua atuação. Todos os trejeitos e estilo de Halston faziam parte do seu branding pessoal. Ele intuitivamente sabia que tinha que se destacar como uma personalidade excêntrica da moda e se inventar como marca, a fim de se tornar um ícone do mundo fashion.
De fato, Halston tinha um talento ímpar para se inventar e reinventar, tendo conseguido a façanha de deixar a carreira de designer de chapéu para se transformar num dos maiores nomes da alta-costura na época. Ele apostava ousadamente nas suas ideias ambiciosas e não tinha medo do fracasso. Com um ego inflado e um espírito visionário, conseguiu deixar sua marca registrada na indústria da moda: roupas com uma mistura de funcionalidade e glamour com estética minimalista e sexy. Segundo a revista Vogue, ele foi o “inventor” do estilo “casual chic”.
“Halston” mostra bem como sua personalidade destemida ajudou a transformar seu nome numa marca tão famosa. Ele conseguia ser tão envolvente e persuasivo que montou o seu primeiro ateliê sem ainda ter os recursos (milionários) necessários, convencendo clientes a investir em sua marca. O que Halston queria, conseguia realizar.
Baseado na biografia “Simply Halston: The Untold Story” de Steven Gaines, a minissérie reconstitui as famosas festas no Studio 54 e mostra, sem nenhum pudor, as farras com drogas e sexo do estilista. Ao longo dos episódios, podemos acompanhar o seu processo criativo, além de ver suas peças mais icônicas tais como o chapéu “pillbox” de Jackie Kennedy, os macacões decotados e brilhantes de Liza Minelli (uma das melhores amigas do estilista) e os lindos figurinos dos balés da Martha Graham. Sua alta produtividade e versatilidade o levavam a criar até 10 coleções por ano, algo até hoje impensável. Sua ambição, segundo ele, era “vestir todas as pessoas da América”. Multifacetado, além de roupas, ele assinou uma linha luxuosa de cama e banho, óculos escuros, tapetes, sapatos, luvas e até o uniforme da polícia de Nova York.
O estilo de vida desregrado e a dependência de drogas foram os principais fatores da sua derrocada. A má administração financeira dos negócios, gastos em excesso, caprichos e vícios acabaram por cobrar um preço alto para o estilista. Ironicamente o homem que amava tanto o luxo, acabou por ver sua queda após o controverso contrato com a JC Penney para vender produtos da marca Halston com preços acessíveis- iniciativa hoje comum para as grandes grifes - que culminou na perda de clientes importantes e contratos com grandes lojas de departamento.
O golpe mais duro para o estilista foi ter perdido a sua marca após a Norton Simon (que detinha os direitos da Halston Limited) ter sido adquirida pela Esmark Inc, que não honrou o trato anterior. Halston nunca se recuperou da perda do próprio nome e do controle artístico da grife. Apesar de ter ficado praticamente esquecido após a sua morte, o legado de Halston é, sem dúvida alguma, marcante e a minissérie consegue fazer jus à sua importância e influência dele para as gerações seguintes de estilistas como Tom Ford e Donna Karan.
Senti falta na série de alguns artistas famosos e intelectuais que faziam parte do círculo de Halston, entre eles Andy Warhol e Bianca Jagger. Aparentemente a produção preferiu focar mais na genialidade do estilista e na evolução dos seus negócios desde o bem-sucedido licenciamento da marca Halston nos anos 70, fazendo com que a marca se expandisse além das roupas e acessórios até o seu famoso perfume, lançado em 1975, que vendeu 85 milhões de dólares em apenas dois anos.
Um fato curioso é que Joel Schumacher (1939-2020) - cineasta que ficou conhecido por dirigir filmes como “Batman Eternamente”, “Batman & Robin “e “Os Garotos Perdidos” - trabalhou com Halston no lançamento de sua marca. Ele é interpretado pelo ator Rory Culkin, irmão mais novo de Macaulay Culkin e do ator de “Succession”, Kieran Culkin.
Se você gosta de séries biográficas, “Halston” é sob medida para você. Seja pela grande atuação de Ewan McGregor, produção impecável ou apenas para conhecer a história do estilista. Você não pode perder!
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