"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!
Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:
Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!
"O Poço" é o filme de estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia - ele foi o produtor responsável pelo premiado "El ataúd de cristal". Gaztelu-Urrutia surpreende na função, ele entrega um filme bastante dinâmico, mesmo se passando 100% do tempo em um mesmo lugar. Com uma narrativa que mistura elementos de terror com suspense, o filme é praticamente uma crítica a estrutura socioeconômica capitalista que o mundo se apoia e como o reflexo dessa desigualdade interfere nas relações humanas em diversos, olha só, níveis!
O Desenho de Produção entrega um cenário completamente minimalista e que se adequa ao tamanho do orçamento com muita inteligência. O Desenho de som e os Efeitos Especiais trabalham alinhados ao departamento de arte, dando o "peso" que os objetos precisam para impactar quem assiste. A fotografia do Jon D. Domínguez é muito boa, já que explora um ambiente extremamente limitado, mas nem por isso nos dá a sensação de mentiroso - o conceito distópico ajuda muito, convenhamos, mas o conjunto é harmonioso! Domínguez foi o diretor de fotografia de um dos "curtas" que fez parte do projeto VHS.
Dois outros destaques que merecem muitos elogios: 1. O Roteiro do David Desola e do Pedro Rivero é criativo como contexto de universo, mas os diálogos são incríveis - acima da média! O trabalho alegórico do texto é digno de Darren Aronofsky (Mother! e Fonte da Vida)! 2. O trabalho do Ivan Massagué como o protagonista que precisa ir "literalmente" ao fundo do poço em busca das respostas para sua jornada, é digno de muitos prêmios - e acho que a quebra de paradigmas de "Parasita" tem muito que ajudar na percepção de um trabalho como esse!
Antes de finalizar eu preciso fazer um alerta: o filme requer estômago forte, principalmente quando vemos o que acontece nos níveis mais baixos da prisão e isso nada mais é do que um enorme tapa na cara ao expor e nos provocar com uma "verdade" extremamente inconveniente, mas que justifica todas as marcas que aqueles personagens deixam dentro de uma jornada muito dura! Como o próprio protagonista diz no final: “(...) nenhuma mudança é espontânea” porém nós sabemos por onde começar!
Vale muito a pena!
"O Poço" é o tipo de filme que trabalha muito bem as alegorias sem perder a força de uma narrativa mais linear que alimenta o gênero que faz parte: no caso o suspense! O que eu quero dizer com isso? Que o filme vai muito além do que vemos na tela, mas nem por isso deixa de ter uma história intrigante - embora o final só vá funcionar para quem realmente se aprofunda nas entrelinhas do roteiro!
Situado dentro de uma espécie de prisão vertical conhecida como "El Hoyo" (que inclusive é o título original do filme), acompanhamos a jornada de Goreng (Ivan Massagué), um homem que aparentemente não cometeu crime algum, mas que por escolha própria resolve ir para a prisão com o objetivo de parar de fumar. É lá que ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor que já está há "muitos meses preso", como ele mesmo define. É Trimagasi que explica como funciona a única dinâmica do local: esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo, andar por andar, com um banquete. Como Goreng e Trimagasi estão no nível 48, eles precisam aguardar para ver o que sobra depois dos 47 níveis acima se alimentarem, porém de tempos em tempos eles são transferidos para outros níveis e é aí que a coisa começa a pegar, afinal quanto mais baixo, menos comida sobra e a luta pela sobrevivência começa ser a única alternativa! Confira o trailer:
Se "Parasita" extrapolou esse tipo de discussão com maestria, "O Poço" segue a mesma receita, talvez sem o mesmo brilhantismo, mas com uma entrega muito competente. As alegorias vão permitir inúmeras interpretações, algo na linha de "Mother!". Então se você gostou dessas duas referências é bem provável que esse premiado filme espanhol te conquiste, mas se você está atrás de um bom suspense psicológico, com um pezinho no terror, sua escolha também não poderia ser melhor. Vale o play!
"O Poço" é o filme de estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia - ele foi o produtor responsável pelo premiado "El ataúd de cristal". Gaztelu-Urrutia surpreende na função, ele entrega um filme bastante dinâmico, mesmo se passando 100% do tempo em um mesmo lugar. Com uma narrativa que mistura elementos de terror com suspense, o filme é praticamente uma crítica a estrutura socioeconômica capitalista que o mundo se apoia e como o reflexo dessa desigualdade interfere nas relações humanas em diversos, olha só, níveis!
O Desenho de Produção entrega um cenário completamente minimalista e que se adequa ao tamanho do orçamento com muita inteligência. O Desenho de som e os Efeitos Especiais trabalham alinhados ao departamento de arte, dando o "peso" que os objetos precisam para impactar quem assiste. A fotografia do Jon D. Domínguez é muito boa, já que explora um ambiente extremamente limitado, mas nem por isso nos dá a sensação de mentiroso - o conceito distópico ajuda muito, convenhamos, mas o conjunto é harmonioso! Domínguez foi o diretor de fotografia de um dos "curtas" que fez parte do projeto VHS.
Dois outros destaques que merecem muitos elogios: 1. O Roteiro do David Desola e do Pedro Rivero é criativo como contexto de universo, mas os diálogos são incríveis - acima da média! O trabalho alegórico do texto é digno de Darren Aronofsky (Mother! e Fonte da Vida)! 2. O trabalho do Ivan Massagué como o protagonista que precisa ir "literalmente" ao fundo do poço em busca das respostas para sua jornada, é digno de muitos prêmios - e acho que a quebra de paradigmas de "Parasita" tem muito que ajudar na percepção de um trabalho como esse!
Antes de finalizar eu preciso fazer um alerta: o filme requer estômago forte, principalmente quando vemos o que acontece nos níveis mais baixos da prisão e isso nada mais é do que um enorme tapa na cara ao expor e nos provocar com uma "verdade" extremamente inconveniente, mas que justifica todas as marcas que aqueles personagens deixam dentro de uma jornada muito dura! Como o próprio protagonista diz no final: “(...) nenhuma mudança é espontânea” porém nós sabemos por onde começar!
Vale muito a pena!
Cookies: a gente guarda estatísticas de visitas para melhorar sua experiência de navegação, ao continuar navegando você concorda com a nossa Política de Privacidade.