"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.
Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):
Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).
Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.
Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.
"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.
Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):
Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).
Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.
Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.
O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol") ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.
Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:
"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..
Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.
Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!
Vale muito o seu play!
O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol") ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.
Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:
"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..
Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.
Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!
Vale muito o seu play!
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:
Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.
Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!
O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!
Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:
Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.
Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!
O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!
Se você está em busca de respostas rápidas, "A Hora do Diabo" pode não ser a melhor escolha. Agora, se você está disposto a mergulhar em uma jornada envolvente, cheia de mistérios e que, de fato, vai te provocar intelectualmente, pode dar o play sem o menor receio de errar - e fique tranquilo, as respostas virão, mas tudo no seu tempo! "The Devil's Hour" (no original) é uma minissérie de suspense psicológico e investigativo que desafia as convenções tradicionais ao mergulhar em temas como paranoia, trauma e até fenômenos sobrenaturais - no melhor estilo Stephen King, sabe? A produção é realmente intrigante nesse sentido e ao trazer o elemento criminal para a trama, olha, nos prende de uma forma que é difícil parar de assistir. Com uma narrativa inquietante e cheia de reviravoltas, "A Hora do Diabo" segue bem a linha de "Outsider" da Max e se você sabe do que eu estou falando, também sabe onde está se metendo!
A história gira em torno de Lucy Chambers (Jessica Raine), uma assistente social cuja vida parece estar em espiral, especialmente após uma série de eventos inexplicáveis pós-separação. Lucy é atormentada por algumas visões e acorda todas as noites às 3h33, um fenômeno conhecido como "a hora do diabo". Além de lidar com essa situação perturbadora, ela também enfrenta os desafios de criar seu filho Isaac (Benjamin Chivers), uma criança emocionalmente distante e que apresenta comportamentos, no mínimo, bem estranhos. À medida que todos esses eventos da vida de Lucy se conectam com uma série de crimes brutais, o que era ruim, piora ainda mais. Confira o trailer (em inglês):
O criador da minissérie, Tom Moran (de "The Feed"), constrói uma narrativa bem envolvente que brinca com muita inteligência com os conceitos de tempo e realidade. A estrutura da narrativa é naturalmente não linear, o que exige atenção dobrada, no entanto ao explorar questões profundas sobre o impacto psicológico de um trauma e dos reflexos da culpa, somos provocados a criar conexões entre todas essas camadas dramáticas a todo momento. O roteiro da minissérie usa essa estratégia com muita competência e ao questionar a natureza do destino e se os eventos que nos cercam são meros acasos ou se fatos predestinados, cria-se um subtexto filosófico fascinante para uma história de crime e mistério.
A direção de Johnny Allan (de "Bodkin") é meticulosamente trabalhada para entregar uma atmosfera densa e inquietante - sempre com aquela identidade visual britânica de cair o queixo. As cenas são carregadas de tensão, com uma fotografia evocativa que faz uso de sombras e de uma iluminação contrastante que acentua a sensação de desconforto. A estética é um dos pontos altos do projeto - repare como ela amplifica a "confusão" que Lucy sente, fazendo com que a audiência se questione, junto com ela, sobre o que é real e o que é fruto de sua mente perturbada. E aqui é preciso citar a performance de Jessica Raine - ela consegue transmitir a angústia, o medo e a vulnerabilidade de uma mulher que está lentamente perdendo o controle de sua vida, sem nunca perder o senso de força e determinação que a mantém viva. Peter Capaldi, como Gideon, traz uma presença sombria e magnética para um personagem envolto em mistério - com sua habilidade natural de encarnar figuras ambíguas, Gideon é ao mesmo tempo ameaçador e fascinante (uma espécie de Hannibal Lecter na sua essência).
É inegável que um dos principais pontos fortes de "A Hora do Diabo" é a maneira como ela equilibra elementos sobrenaturais com o drama psicológico. Em vez de se apoiar inteiramente no inexplicável, a minissérie faz um trabalho eficaz ao explorar os efeitos psicológicos das marcas do passado, mostrando como essas emoções reprimidas podem distorcer a percepção da realidade. Isso torna nossa jornada mais complexa, eu diria até que, mais do que apenas uma minissérie de suspense sobrenatural ou de investigação criminal, aqui temos uma exploração profunda da mente humana e dos limites da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.
Mas antes do play apenas um disclaimer: "A Hora do Diabo"tem uma narrativa cativante, mas algumas pessoas podem achar o ritmo um tanto lento, especialmente nos primeiros episódios, onde o roteiro se dedica a estabelecer o tom e a atmosfera do que veremos a seguir. No entanto, posso te garantir que sua paciência será recompensada à medida que a trama se desenrola, com revelações surpreendentes e nada óbvias.
Vale muito o seu play!
Se você está em busca de respostas rápidas, "A Hora do Diabo" pode não ser a melhor escolha. Agora, se você está disposto a mergulhar em uma jornada envolvente, cheia de mistérios e que, de fato, vai te provocar intelectualmente, pode dar o play sem o menor receio de errar - e fique tranquilo, as respostas virão, mas tudo no seu tempo! "The Devil's Hour" (no original) é uma minissérie de suspense psicológico e investigativo que desafia as convenções tradicionais ao mergulhar em temas como paranoia, trauma e até fenômenos sobrenaturais - no melhor estilo Stephen King, sabe? A produção é realmente intrigante nesse sentido e ao trazer o elemento criminal para a trama, olha, nos prende de uma forma que é difícil parar de assistir. Com uma narrativa inquietante e cheia de reviravoltas, "A Hora do Diabo" segue bem a linha de "Outsider" da Max e se você sabe do que eu estou falando, também sabe onde está se metendo!
A história gira em torno de Lucy Chambers (Jessica Raine), uma assistente social cuja vida parece estar em espiral, especialmente após uma série de eventos inexplicáveis pós-separação. Lucy é atormentada por algumas visões e acorda todas as noites às 3h33, um fenômeno conhecido como "a hora do diabo". Além de lidar com essa situação perturbadora, ela também enfrenta os desafios de criar seu filho Isaac (Benjamin Chivers), uma criança emocionalmente distante e que apresenta comportamentos, no mínimo, bem estranhos. À medida que todos esses eventos da vida de Lucy se conectam com uma série de crimes brutais, o que era ruim, piora ainda mais. Confira o trailer (em inglês):
O criador da minissérie, Tom Moran (de "The Feed"), constrói uma narrativa bem envolvente que brinca com muita inteligência com os conceitos de tempo e realidade. A estrutura da narrativa é naturalmente não linear, o que exige atenção dobrada, no entanto ao explorar questões profundas sobre o impacto psicológico de um trauma e dos reflexos da culpa, somos provocados a criar conexões entre todas essas camadas dramáticas a todo momento. O roteiro da minissérie usa essa estratégia com muita competência e ao questionar a natureza do destino e se os eventos que nos cercam são meros acasos ou se fatos predestinados, cria-se um subtexto filosófico fascinante para uma história de crime e mistério.
A direção de Johnny Allan (de "Bodkin") é meticulosamente trabalhada para entregar uma atmosfera densa e inquietante - sempre com aquela identidade visual britânica de cair o queixo. As cenas são carregadas de tensão, com uma fotografia evocativa que faz uso de sombras e de uma iluminação contrastante que acentua a sensação de desconforto. A estética é um dos pontos altos do projeto - repare como ela amplifica a "confusão" que Lucy sente, fazendo com que a audiência se questione, junto com ela, sobre o que é real e o que é fruto de sua mente perturbada. E aqui é preciso citar a performance de Jessica Raine - ela consegue transmitir a angústia, o medo e a vulnerabilidade de uma mulher que está lentamente perdendo o controle de sua vida, sem nunca perder o senso de força e determinação que a mantém viva. Peter Capaldi, como Gideon, traz uma presença sombria e magnética para um personagem envolto em mistério - com sua habilidade natural de encarnar figuras ambíguas, Gideon é ao mesmo tempo ameaçador e fascinante (uma espécie de Hannibal Lecter na sua essência).
É inegável que um dos principais pontos fortes de "A Hora do Diabo" é a maneira como ela equilibra elementos sobrenaturais com o drama psicológico. Em vez de se apoiar inteiramente no inexplicável, a minissérie faz um trabalho eficaz ao explorar os efeitos psicológicos das marcas do passado, mostrando como essas emoções reprimidas podem distorcer a percepção da realidade. Isso torna nossa jornada mais complexa, eu diria até que, mais do que apenas uma minissérie de suspense sobrenatural ou de investigação criminal, aqui temos uma exploração profunda da mente humana e dos limites da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.
Mas antes do play apenas um disclaimer: "A Hora do Diabo"tem uma narrativa cativante, mas algumas pessoas podem achar o ritmo um tanto lento, especialmente nos primeiros episódios, onde o roteiro se dedica a estabelecer o tom e a atmosfera do que veremos a seguir. No entanto, posso te garantir que sua paciência será recompensada à medida que a trama se desenrola, com revelações surpreendentes e nada óbvias.
Vale muito o seu play!
Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!
Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.
Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar.
Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!
Vale o seu play!
Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!
Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.
Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar.
Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!
Vale o seu play!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Angustiante e com uma trama muito bem construída - e tudo isso muito bem envolvido em um conceito estético realmente belíssimo! "A Mulher na Parede" é mesmo surpreendente! Criada por Joe Murtagh e produzida pela BBC, essa é mais uma minissérie de suspense psicológico que explora os limites entre o trauma e a memória, sempre pautada em muito mistério. Ambientada em uma pequena cidade irlandesa, "A Mulher na Parede"se destaca pela intensidade emocional de sua protagonista e pela atmosfera sombria e envolvente que permeia cada episódio. A produção combina um mistério intrigante com uma crítica social real sobre os abusos cometidos em instituições religiosas na Irlanda, especificamente em torno das chamadas Magdalene Laundries, onde mulheres (geralmente solteiras grávidas, prostitutas ou pessoas vistas de alguma forma como moralmente degradadas) eram mantidas em condições desumanas por décadas com o único objetivo de "dar a luz"!
A trama de "The Woman in the Wall" (no original) gira em torno de Lorna Brady (Ruth Wilson), uma mulher assombrada por eventos de seu passado relacionados ao tempo que passou em uma determinada instituição religiosa. Lorna, que sofre de episódios de amnésia e sonambulismo, acorda um dia para descobrir um cadáver em sua casa, mas não tem ideia de como ele foi parar lá. À medida que tenta desvendar o mistério, Lorna precisa enfrentar os fantasmas do passado, descobrir a verdade sobre sua relação com o convento e as mulheres que desapareceram de lá. É nesse contexto que conhecemos o detetive Colman Akande (Daryl McCormack), que investiga o caso e revela segredos que vão muito além de um crime comum. Confira o trailer:
Murtagh (de "Gangs of London") constrói uma narrativa rica em tensão. A minissérie é sombria em tom e estética, com uma direção que utiliza habilmente os cenários da pequena cidade irlandesa para criar uma sensação de isolamento e claustrofobia impressionante. A atmosfera opressiva escolhida pelas diretoras Harry Wootliff (de "Only You") e Rachna Suri (de "O Filho Bastardo do Diabo") reflete perfeitamente o estado mental de Lorna, além de remeter à sensação de desespero e perda de controle das mulheres que passaram pelas Magdalene Laundries - a minissérie é habilidosa em retratar como o passado pode assombrar o presente, e como instituições que deveriam cuidar das pessoas mais vulneráveis acabaram causando traumas ainda mais profundos. Essa crítica social de "A Mulher na Parede" é até sutil, mas poderosa. Veja, as Magdalene Laundries são retratadas como o cerne do mistério e também como um símbolo dos abusos institucionais sofridos por mulheres marginalizadas na sociedade irlandesa e embora o foco da trama esteja no suspense e na investigação, a crítica a essas instituições é clara.
Ruth Wilson, mais uma vez, dá um show em "A Mulher na Parede". Sua performance é repleta de camadas, oscilando entre vulnerabilidade e determinação com muita habilidade. Wilson retrata com sensibilidade o trauma psicológico de sua personagem, enquanto o mistério do corpo encontrado em sua casa funciona como uma metáfora para o peso das memórias reprimidas e os abusos sofridos em algum momento de sua vida. Lorna é sim uma figura trágica, mas também resiliente, e Wilson consegue transitar entres esses pólos de forma convincente, nos levando em uma jornada emocional de fato intensa. Daryl McCormack, o detetive Colman Akande, também merece destaque - ele traz uma dinâmica interessante para a narrativa através de sua interação com Lorna. É um misto de empatia e desconfiança, onde as descobertas que ele faz ao longo dos episódios acabam revelando que o mistério central é apenas a ponta do iceberg.
Uma infinidade de tons frios e sombrios intensificam esse aspecto mais melancólico e opressor da narrativa, enquanto as cenas externas capturam a beleza austera da paisagem irlandesa. A cidade pequena e isolada funciona quase como um personagem adicional, com seus segredos escondidos em cada esquina, ecoando a própria mente fragmentada de Lorna. Obviamente que esse mood visual reforça a atmosfera de mistério e tensão da narrativa, no entanto, por ser menos intrusiva, essa cadência pode afastar parte da audiência. A profundidade psicológica da trama e o foco em traumas pessoais podem parecer mais importantes que mistério central em certos episódios, no entanto, tudo é tão bem amarrado e os personagens são tão bem desenvolvidos que esse forte subtexto emocional em nada atrapalha nossa experiência, muito pelo contrário: assim que entendemos a proposta de Joe Murtagh é difícil parar de assistir!
Resumindo, "A Mulher na Parede" é uma reflexão poderosa sobre o passado e seus ecos no presente, fantasiada de investigação criminal, que vale muito o seu play!
Angustiante e com uma trama muito bem construída - e tudo isso muito bem envolvido em um conceito estético realmente belíssimo! "A Mulher na Parede" é mesmo surpreendente! Criada por Joe Murtagh e produzida pela BBC, essa é mais uma minissérie de suspense psicológico que explora os limites entre o trauma e a memória, sempre pautada em muito mistério. Ambientada em uma pequena cidade irlandesa, "A Mulher na Parede"se destaca pela intensidade emocional de sua protagonista e pela atmosfera sombria e envolvente que permeia cada episódio. A produção combina um mistério intrigante com uma crítica social real sobre os abusos cometidos em instituições religiosas na Irlanda, especificamente em torno das chamadas Magdalene Laundries, onde mulheres (geralmente solteiras grávidas, prostitutas ou pessoas vistas de alguma forma como moralmente degradadas) eram mantidas em condições desumanas por décadas com o único objetivo de "dar a luz"!
A trama de "The Woman in the Wall" (no original) gira em torno de Lorna Brady (Ruth Wilson), uma mulher assombrada por eventos de seu passado relacionados ao tempo que passou em uma determinada instituição religiosa. Lorna, que sofre de episódios de amnésia e sonambulismo, acorda um dia para descobrir um cadáver em sua casa, mas não tem ideia de como ele foi parar lá. À medida que tenta desvendar o mistério, Lorna precisa enfrentar os fantasmas do passado, descobrir a verdade sobre sua relação com o convento e as mulheres que desapareceram de lá. É nesse contexto que conhecemos o detetive Colman Akande (Daryl McCormack), que investiga o caso e revela segredos que vão muito além de um crime comum. Confira o trailer:
Murtagh (de "Gangs of London") constrói uma narrativa rica em tensão. A minissérie é sombria em tom e estética, com uma direção que utiliza habilmente os cenários da pequena cidade irlandesa para criar uma sensação de isolamento e claustrofobia impressionante. A atmosfera opressiva escolhida pelas diretoras Harry Wootliff (de "Only You") e Rachna Suri (de "O Filho Bastardo do Diabo") reflete perfeitamente o estado mental de Lorna, além de remeter à sensação de desespero e perda de controle das mulheres que passaram pelas Magdalene Laundries - a minissérie é habilidosa em retratar como o passado pode assombrar o presente, e como instituições que deveriam cuidar das pessoas mais vulneráveis acabaram causando traumas ainda mais profundos. Essa crítica social de "A Mulher na Parede" é até sutil, mas poderosa. Veja, as Magdalene Laundries são retratadas como o cerne do mistério e também como um símbolo dos abusos institucionais sofridos por mulheres marginalizadas na sociedade irlandesa e embora o foco da trama esteja no suspense e na investigação, a crítica a essas instituições é clara.
Ruth Wilson, mais uma vez, dá um show em "A Mulher na Parede". Sua performance é repleta de camadas, oscilando entre vulnerabilidade e determinação com muita habilidade. Wilson retrata com sensibilidade o trauma psicológico de sua personagem, enquanto o mistério do corpo encontrado em sua casa funciona como uma metáfora para o peso das memórias reprimidas e os abusos sofridos em algum momento de sua vida. Lorna é sim uma figura trágica, mas também resiliente, e Wilson consegue transitar entres esses pólos de forma convincente, nos levando em uma jornada emocional de fato intensa. Daryl McCormack, o detetive Colman Akande, também merece destaque - ele traz uma dinâmica interessante para a narrativa através de sua interação com Lorna. É um misto de empatia e desconfiança, onde as descobertas que ele faz ao longo dos episódios acabam revelando que o mistério central é apenas a ponta do iceberg.
Uma infinidade de tons frios e sombrios intensificam esse aspecto mais melancólico e opressor da narrativa, enquanto as cenas externas capturam a beleza austera da paisagem irlandesa. A cidade pequena e isolada funciona quase como um personagem adicional, com seus segredos escondidos em cada esquina, ecoando a própria mente fragmentada de Lorna. Obviamente que esse mood visual reforça a atmosfera de mistério e tensão da narrativa, no entanto, por ser menos intrusiva, essa cadência pode afastar parte da audiência. A profundidade psicológica da trama e o foco em traumas pessoais podem parecer mais importantes que mistério central em certos episódios, no entanto, tudo é tão bem amarrado e os personagens são tão bem desenvolvidos que esse forte subtexto emocional em nada atrapalha nossa experiência, muito pelo contrário: assim que entendemos a proposta de Joe Murtagh é difícil parar de assistir!
Resumindo, "A Mulher na Parede" é uma reflexão poderosa sobre o passado e seus ecos no presente, fantasiada de investigação criminal, que vale muito o seu play!
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.
Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):
Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!
Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?
"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação.
Vale a pena!
"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.
Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):
Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!
Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?
"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação.
Vale a pena!
"Anticristo" é um filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier (Dogville) e somente por isso fico a vontade em fazer duas afirmações: é um dos filme mais fortes e perturbadores que eu já recomendei por aqui e, por consequência, é também uma aula de cinema - mas isso vou explicar melhor logo mais a frente!
O filme conta a história de um casal devastado pela morte do seu único filho, que se mudam para uma casa no meio de uma floresta para tentar superar esse episódio profundamente traumático. Acontece que os questionamentos do marido, um psicanalista (cujo personagem não tem nome propositalmente e é interpretado pelo excelente Willem Dafoe), começam a abalar qualquer tentativa de reaproximação do casal - as reflexões sobre a dor do luto e o reflexo em sua esposa (Charlotte Gainsbourg) desencadeiam uma espiral de acontecimentos misteriosos e assustadores onde as consequências dessa jornada psicológica se transformam no pior pesadelo que uma pessoa poderia vivenciar!
Pois bem, vamos retomar à primeira afirmação que fiz no inicio do texto: o filme é difícil de assistir! O tema é extremamente polêmico e a forma com que o diretor (e também roteirista) escolhe para nos mostrar as sequências dos fatos é tão explícita e sem o menor pudor que chega a embrulhar o estômago - e isso é uma das marcas de Von Trier, portanto, então se você não se identifica com o diretor, esqueça, não dê o play, porque você vai se chocar!
O roteiro fortalece uma história que poderia ser considerada uma espécie de tratado psicanalítico digno de doutorado - são signos e metáforas que constroem uma trama que nos remete à inúmeras sensações, muitas delas não tão agradáveis. Admito que não foi fácil o caminho até o final, então fortaleço meu conselho: se você não tem estômago, fuja! Agora, se a idéia é encarar as quase duas horas do filme, se prepare para ver um primor de direção - e um convite para uma experiencia extremamente sensorial e propositalmente desconfortável. Como cinema, os enquadramentos são lindos, a fotografia do diretor Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar em 2009 por "Quem quer ser um Milionário?") é linda, a trilha sonora do também dinamarquês, Kristian Eidnes Andersen, é genial.
É preciso ressaltar que Lars Von Trier foi capaz de contar uma história densa com uma técnica ímpar - quando começa o “prólogo” em PB (preto e branco), rodando em 60, 120 quadros por segundo (mais lento), mas com uma intensidade que vai além da velocidade de captação da câmera, alternando planos abertos com super closes ao som de uma trilha bastante intimista, nossa, é para ver e rever - por isso da minha segunda afirmação! Quando retomamos a história, que inteligentemente é dividida em 4 atos, percebemos uma progressão na narrativa contada pela fotografia, pelos movimentos, pelos enquadramentos, que é genial! Repare! As performances dos protagonistas, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, também merece destaque - são viscerais e apoiadas em muita técnica. Lindo de ver e difícil de digerir!
Certamente não é um filme que diverte, que vai agradar a um público muito pequeno, mas garanto que é um filme que ensina muito! Indico com todas as ressalvas que o texto pontuou!
"Anticristo" é um filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier (Dogville) e somente por isso fico a vontade em fazer duas afirmações: é um dos filme mais fortes e perturbadores que eu já recomendei por aqui e, por consequência, é também uma aula de cinema - mas isso vou explicar melhor logo mais a frente!
O filme conta a história de um casal devastado pela morte do seu único filho, que se mudam para uma casa no meio de uma floresta para tentar superar esse episódio profundamente traumático. Acontece que os questionamentos do marido, um psicanalista (cujo personagem não tem nome propositalmente e é interpretado pelo excelente Willem Dafoe), começam a abalar qualquer tentativa de reaproximação do casal - as reflexões sobre a dor do luto e o reflexo em sua esposa (Charlotte Gainsbourg) desencadeiam uma espiral de acontecimentos misteriosos e assustadores onde as consequências dessa jornada psicológica se transformam no pior pesadelo que uma pessoa poderia vivenciar!
Pois bem, vamos retomar à primeira afirmação que fiz no inicio do texto: o filme é difícil de assistir! O tema é extremamente polêmico e a forma com que o diretor (e também roteirista) escolhe para nos mostrar as sequências dos fatos é tão explícita e sem o menor pudor que chega a embrulhar o estômago - e isso é uma das marcas de Von Trier, portanto, então se você não se identifica com o diretor, esqueça, não dê o play, porque você vai se chocar!
O roteiro fortalece uma história que poderia ser considerada uma espécie de tratado psicanalítico digno de doutorado - são signos e metáforas que constroem uma trama que nos remete à inúmeras sensações, muitas delas não tão agradáveis. Admito que não foi fácil o caminho até o final, então fortaleço meu conselho: se você não tem estômago, fuja! Agora, se a idéia é encarar as quase duas horas do filme, se prepare para ver um primor de direção - e um convite para uma experiencia extremamente sensorial e propositalmente desconfortável. Como cinema, os enquadramentos são lindos, a fotografia do diretor Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar em 2009 por "Quem quer ser um Milionário?") é linda, a trilha sonora do também dinamarquês, Kristian Eidnes Andersen, é genial.
É preciso ressaltar que Lars Von Trier foi capaz de contar uma história densa com uma técnica ímpar - quando começa o “prólogo” em PB (preto e branco), rodando em 60, 120 quadros por segundo (mais lento), mas com uma intensidade que vai além da velocidade de captação da câmera, alternando planos abertos com super closes ao som de uma trilha bastante intimista, nossa, é para ver e rever - por isso da minha segunda afirmação! Quando retomamos a história, que inteligentemente é dividida em 4 atos, percebemos uma progressão na narrativa contada pela fotografia, pelos movimentos, pelos enquadramentos, que é genial! Repare! As performances dos protagonistas, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, também merece destaque - são viscerais e apoiadas em muita técnica. Lindo de ver e difícil de digerir!
Certamente não é um filme que diverte, que vai agradar a um público muito pequeno, mas garanto que é um filme que ensina muito! Indico com todas as ressalvas que o texto pontuou!
Olha, "Até os Ossos" não é nada fácil e justamente por isso deve dividir opiniões - até pela zona um pouco cinzenta por onde ele transita, entre um profundo drama de relações e um suspense com boa dose de realismo. O filme dirigido por Luca Guadagnino (de "Me Chame pelo Seu Nome), mergulha, sem receios, nas complexidades da condição humana, explorando dois temas bastante sensíveis: o primeiro, identidade; o segundo, muito chocante, canibalismo. Com uma abordagem visceral e perturbadora, o filme nos desafia a confrontar nossas próprias noções de existência e a questionar o "diferente" por um olhar mais íntimo - mas cuidado: você pode se impressionar com as cenas que você vai assistir ao dar o play.
Assombrada por um instinto que é incapaz de controlar, a jovem Maren Yearly (Taylor Russell) embarca em uma jornada em busca de suas raízes após ceder a um novo ataque canibal. No caminho, ela encontra o misterioso Lee (Timothée Chalamet), que demonstra padecer do mesmo problema. Juntos, eles percebem que a aceitação deve se sobressair à compreensão de sua verdadeira essência, e buscam por formas que autorizem a manutenção de seu relacionamento. Confira o trailer:
Talvez a melhor forma de definir "Até os Ossos" seja: um suspense com alma. Digo isso pois o roteiro escrito pelo David Kajganich (de "Suspíria: A Dança do Medo") e pela Camille DeAngelis (que criou a história) foge do lugar comum ao tentar equilibrar uma trama de certa forma simples, mas com elementos pouco explorados no cinema ao longo dos anos - embora seja inegável que o tema "canibalismo" venha ganhando cada vez mais holofotes em produções recentes. Talvez, essa ousadia do roteiro tenha encontrado uma gramática cinematográfica perfeita nas mãos de Guadagnino, já que o diretor é capaz de levar o público para uma jornada emocional e psicológica extremamente desconfortável sem se esquecer de que por trás do impacto visual, existe dores muito particulares de seus personagens - reparem como o texto transmite a vulnerabilidade e a intensidade dos personagens com a mesma precisão.
Sua direção é mais uma vez primorosa. Com uma abordagem visual arrojada, seguindo aquele estilo mais independente, com cenas de diálogos importantes resolvidas sem cortes e muita, muita, criatividade para refletir a angústia e a desconexão daquela realidade em imagens - e aqui cabe um outro elogio: o desenho de som, muitas vezes faz o mesmo papel da imagem com maestria, já que Guadagnino "sugere" e "mostra" com a igual potência. A fotografia do bielorrusso Arseni Khachaturan (de "The Idol") é marcada por imagens impactantes sim, mas também por muito simbolismo já que precisa retratar uma condição que enxerga beleza e um desejo peculiar pelo corpo humano, de uma forma completamente diferente de quem assiste - que, inclusive, sente na pele uma enorme repulsa.
Por fim é preciso destacar as performances de Russell e Chalamet. Ambos com uma entrega visceral, além de uma capacidade de se expressar e trabalhar uma gama de emoções sem usar muito das palavras - lindo de ver. Outro que merece aplausos é Mark Rylance como Sully - é incrível como ele transmite sua dor e sua frustração, ao mesmo tempo em que o olhar indica sua obsessão. Olha, digno de prêmios!
O fato é que "Bones and All" (no original) não vai ter meio termo, ou você vai amar ou vai odiar - principalmente se você levar em consideração que depois do prólogo (genial), o primeiro ato patina um pouco, deixando o segundo ato para ajustar o tom da narrativa e entregar um terceiro ato bem mais redondinho e surpreendente. Agora, também é preciso dizer que, embarcado na experiência, o filme não terá problemas em se mostrar desafiador ao mergulhar nas profundezas de uma condição humana muito desconfortável.
Se eu fosse você, eu arriscaria!
Olha, "Até os Ossos" não é nada fácil e justamente por isso deve dividir opiniões - até pela zona um pouco cinzenta por onde ele transita, entre um profundo drama de relações e um suspense com boa dose de realismo. O filme dirigido por Luca Guadagnino (de "Me Chame pelo Seu Nome), mergulha, sem receios, nas complexidades da condição humana, explorando dois temas bastante sensíveis: o primeiro, identidade; o segundo, muito chocante, canibalismo. Com uma abordagem visceral e perturbadora, o filme nos desafia a confrontar nossas próprias noções de existência e a questionar o "diferente" por um olhar mais íntimo - mas cuidado: você pode se impressionar com as cenas que você vai assistir ao dar o play.
Assombrada por um instinto que é incapaz de controlar, a jovem Maren Yearly (Taylor Russell) embarca em uma jornada em busca de suas raízes após ceder a um novo ataque canibal. No caminho, ela encontra o misterioso Lee (Timothée Chalamet), que demonstra padecer do mesmo problema. Juntos, eles percebem que a aceitação deve se sobressair à compreensão de sua verdadeira essência, e buscam por formas que autorizem a manutenção de seu relacionamento. Confira o trailer:
Talvez a melhor forma de definir "Até os Ossos" seja: um suspense com alma. Digo isso pois o roteiro escrito pelo David Kajganich (de "Suspíria: A Dança do Medo") e pela Camille DeAngelis (que criou a história) foge do lugar comum ao tentar equilibrar uma trama de certa forma simples, mas com elementos pouco explorados no cinema ao longo dos anos - embora seja inegável que o tema "canibalismo" venha ganhando cada vez mais holofotes em produções recentes. Talvez, essa ousadia do roteiro tenha encontrado uma gramática cinematográfica perfeita nas mãos de Guadagnino, já que o diretor é capaz de levar o público para uma jornada emocional e psicológica extremamente desconfortável sem se esquecer de que por trás do impacto visual, existe dores muito particulares de seus personagens - reparem como o texto transmite a vulnerabilidade e a intensidade dos personagens com a mesma precisão.
Sua direção é mais uma vez primorosa. Com uma abordagem visual arrojada, seguindo aquele estilo mais independente, com cenas de diálogos importantes resolvidas sem cortes e muita, muita, criatividade para refletir a angústia e a desconexão daquela realidade em imagens - e aqui cabe um outro elogio: o desenho de som, muitas vezes faz o mesmo papel da imagem com maestria, já que Guadagnino "sugere" e "mostra" com a igual potência. A fotografia do bielorrusso Arseni Khachaturan (de "The Idol") é marcada por imagens impactantes sim, mas também por muito simbolismo já que precisa retratar uma condição que enxerga beleza e um desejo peculiar pelo corpo humano, de uma forma completamente diferente de quem assiste - que, inclusive, sente na pele uma enorme repulsa.
Por fim é preciso destacar as performances de Russell e Chalamet. Ambos com uma entrega visceral, além de uma capacidade de se expressar e trabalhar uma gama de emoções sem usar muito das palavras - lindo de ver. Outro que merece aplausos é Mark Rylance como Sully - é incrível como ele transmite sua dor e sua frustração, ao mesmo tempo em que o olhar indica sua obsessão. Olha, digno de prêmios!
O fato é que "Bones and All" (no original) não vai ter meio termo, ou você vai amar ou vai odiar - principalmente se você levar em consideração que depois do prólogo (genial), o primeiro ato patina um pouco, deixando o segundo ato para ajustar o tom da narrativa e entregar um terceiro ato bem mais redondinho e surpreendente. Agora, também é preciso dizer que, embarcado na experiência, o filme não terá problemas em se mostrar desafiador ao mergulhar nas profundezas de uma condição humana muito desconfortável.
Se eu fosse você, eu arriscaria!
Angustiante - eu só te digo isso: angustiante!
Sim, o filme sabe como explorar temas como a tentação, a infidelidade e as consequências morais de algumas decisões, digamos, mais impulsivas. O diretor, Eli Roth ("O Albergue"), de fato, sabe mesmo como criar uma atmosfera de suspense que nos tira da zona de conforto. Porém, também é preciso que se diga, que o filme não será uma unanimidade, já que o roteiro tem dificuldades para desenvolver plenamente suas ótimas ideias, principalmente quando escolhe o caminho mais fácil, excessivamente exagerado em certos momentos. É como se Roth quisesse ser um Tarantino! Funciona? Claro que sim, mas mais como entretenimento despretensioso do que como um filme inesquecível!
"Bata Antes de Entrar" conta a história de Evan Webber (Keanu Reeves) um arquiteto bem-sucedido que está sozinho em casa durante um fim de semana enquanto sua esposa e filhos estão viajando. Sua tranquilidade, porém, é interrompida quando duas jovens, Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas), batem em sua porta em busca de ajuda durante uma tempestade. Se inicialmente elas tentam seduzi-lo, no dia seguinte, elas passam a persegui-lo implacavelmente, transformando um ato de fraqueza em uma experiência das mais macabras! Confira o trailer:
A direção de Roth é eficaz em muitos sentidos - na criação de uma tensão progressiva e ao usar de elementos visuais para transmitir algum desconforto, sucesso. O filme acaba ganhando uma dimensão menos superficial com a fotografia do Antonio Quercia e a trilha sonora assinada pelo Manuel Riveiro, ambos de "Aftershock" - eles contribuem demais nessa construção de uma a atmosfera quase claustrofóbica e intensa, aumentando a curiosa sensação de paranoia e agonia vivida pelo protagonista de uma forma impressionante.
Aliás, a atuação de Keanu Reeves é ótima - ele retrata com maestria essa luta interna entre a moral e a tentação, conforme ele é seduzido pelas jovens. Poderia ser melhor desenvolvido? Sim, mas em nada atrapalha nossa experiência. Lorenza Izzo e Ana de Armas também entregam performances convincentes, alternando entre uma aparência inocente e outra manipuladora, com a mesma competência. Tudo isso faz de "Bata antes de Entrar" em filme provocativo - um bom suspense psicológico sem derramar uma gota de sangue (ou, pelo menos, sem derramar muito sangue) e que sabe brincar com nossas mais diversas sensações e, por que não, fantasias!
Uma coisa é certa, "Knock Knock" (no original) funciona muito melhor como um entretenimento, que mergulha nas nuances da tentação e das consequências morais do impulso, do que como um thriller psicológico profundo cheio de interpretações e teorias como o próprio trailer pode sugerir. Dito isso, aproveite e experiência e divirta-se!
Angustiante - eu só te digo isso: angustiante!
Sim, o filme sabe como explorar temas como a tentação, a infidelidade e as consequências morais de algumas decisões, digamos, mais impulsivas. O diretor, Eli Roth ("O Albergue"), de fato, sabe mesmo como criar uma atmosfera de suspense que nos tira da zona de conforto. Porém, também é preciso que se diga, que o filme não será uma unanimidade, já que o roteiro tem dificuldades para desenvolver plenamente suas ótimas ideias, principalmente quando escolhe o caminho mais fácil, excessivamente exagerado em certos momentos. É como se Roth quisesse ser um Tarantino! Funciona? Claro que sim, mas mais como entretenimento despretensioso do que como um filme inesquecível!
"Bata Antes de Entrar" conta a história de Evan Webber (Keanu Reeves) um arquiteto bem-sucedido que está sozinho em casa durante um fim de semana enquanto sua esposa e filhos estão viajando. Sua tranquilidade, porém, é interrompida quando duas jovens, Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas), batem em sua porta em busca de ajuda durante uma tempestade. Se inicialmente elas tentam seduzi-lo, no dia seguinte, elas passam a persegui-lo implacavelmente, transformando um ato de fraqueza em uma experiência das mais macabras! Confira o trailer:
A direção de Roth é eficaz em muitos sentidos - na criação de uma tensão progressiva e ao usar de elementos visuais para transmitir algum desconforto, sucesso. O filme acaba ganhando uma dimensão menos superficial com a fotografia do Antonio Quercia e a trilha sonora assinada pelo Manuel Riveiro, ambos de "Aftershock" - eles contribuem demais nessa construção de uma a atmosfera quase claustrofóbica e intensa, aumentando a curiosa sensação de paranoia e agonia vivida pelo protagonista de uma forma impressionante.
Aliás, a atuação de Keanu Reeves é ótima - ele retrata com maestria essa luta interna entre a moral e a tentação, conforme ele é seduzido pelas jovens. Poderia ser melhor desenvolvido? Sim, mas em nada atrapalha nossa experiência. Lorenza Izzo e Ana de Armas também entregam performances convincentes, alternando entre uma aparência inocente e outra manipuladora, com a mesma competência. Tudo isso faz de "Bata antes de Entrar" em filme provocativo - um bom suspense psicológico sem derramar uma gota de sangue (ou, pelo menos, sem derramar muito sangue) e que sabe brincar com nossas mais diversas sensações e, por que não, fantasias!
Uma coisa é certa, "Knock Knock" (no original) funciona muito melhor como um entretenimento, que mergulha nas nuances da tentação e das consequências morais do impulso, do que como um thriller psicológico profundo cheio de interpretações e teorias como o próprio trailer pode sugerir. Dito isso, aproveite e experiência e divirta-se!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!
Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:
Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.
O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).
Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!
‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!
Vale muitíssimo o seu play!
Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!
Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:
Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.
O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).
Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!
‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!
Vale muitíssimo o seu play!
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.
Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:
Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!
Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.
Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”
Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.
Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.
É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!
As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.
Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:
O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).
Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).
Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.
Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".
Pode dar play sem medo!
Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco Marisa Tomei e Liev Schreiber.
As pessoas são essencialmente egoístas quando uma atitude (impensada ou não) pode imediatamente se reverter em algo muito prejudicial para elas mesmas - é quase um súbito de auto-preservação. Isso pode parecer banal ou até mesmo generalista demais, afinal o caráter não se põe a prova, certo? Errado! "Capital Humano", produção italiana de 2013, provoca justamente essa reflexão sobre a desvalorização da condição humana, partindo de eventos simples (mesmo que com reflexos sérios), com pessoas diferentes e em momentos de vida distantes, mas que, de alguma maneira, querem algo em comum, com o poder da escolha e a chance de mudar uma vida - que não necessariamente é a própria.
Dividido em quatros atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem-chave (mais um epílogo), "Capital Humano" acompanha o destino de três famílias de classes sociais completamente diferentes (Ossola, Bernaschi e Ambrosini), que estão irrevogavelmente conectadas depois que um ciclista é acidentalmente atropelado enquanto voltava para casa depois de uma longa noite de trabalho. Confira o trailer:
O filme se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato de uma Itália decadente em que a ganância e o egoísmo fazem com que as pessoas não meçam suas atitudes, mesmo quando existe um outro ser humano no centro da equação. Dirigido pelo premiado diretor italiano Paolo Virzì, "Capital Humano" tem uma narrativa extremamente dinâmica e envolvente, onde, com o passar dos atos, juntamos todas as peças até entendermos o que de fato aconteceu naquela noite - esse conceito narrativo, muito utilizado por roteiristas mexicanos e argentinos do circuito mais independente, traz uma certa elegância para a história e, nesse caso, um tom de mistério muito bem desenvolvido na trama por personagens cheios de camadas (e que são absolutamente surpreendentes).
Ligue os pontos: Primeiro Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um pacato corretor de imóveis, quer ganhar um dinheiro que nunca viu na vida, pedindo um empréstimo no banco apenas para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni), um bem sucedido empresário e pai do namorado da sua filha. Depois temos Carla (Valeria Bruni Tedeschi), mulher de Giovanni, que busca encontrar um ressignificado para sua vida e assim recuperar uma paixão antiga pelas artes a partir de tudo que o marido conquistou ao seu lado. E por fim, Serena (Matilde Gioli), filha de Dino, que conhece Luca (Giovanni Anzaldo), um rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas e paciente de sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino), por quem se apaixona mesmo tendo o namorado "ideal", Massimiliano (Guglielmo Pinelli).
Com essa espécie de mosaico de personagens e situações, Virzì vai costurando um drama com um leve tom de ironia e acaba entregando um filme muito mais profundo do que parece - bem ao estilo "Parasita" no conteúdo e "Amores Perros" na forma. Sua habilidade como diretor transforma a performance desse elenco incrível em um conjunto caricato (aqui no bom sentido) de sensações e sentimentos que retratam toda a podridão da humanidade a partir de gestos "inofensivos", mas que impactam diretamente no próximo, sem a menor preocupação com a empatia.
Só por isso o filme já valeria a pena, mas antecipo que "Capital Humano" foi uma das produções mais premiadas no circuito de festivais independentes entre 2013 e 2014, ganhando 7 prêmios no Oscar Italiano (das 18 indicações), inclusive, o de "Melhor Filme do Ano".
Pode dar play sem medo!
Em tempo, "Capital Humano" ganhou uma versão americana com a direção de Marc Meyers e tendo no elenco Marisa Tomei e Liev Schreiber.
"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!
Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:
Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.
Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.
"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.
Vale a pena!
"Cela 211" é um grande filme, mas não é uma grande produção - o que eu quero dizer é que o roteiro de Jorge Guerricaechevarría (El Bar) e do diretor Daniel Monzón (O Segredo de Kovak) merecia um orçamento de super-produção (tipo "Prison Break") - o que inviabilizaria o projeto; então será preciso fechar os olhos para a falta de cuidado no que acontece em segundo plano, mesmo tendo no foco da narrativa um grande ator como Luis Tosar (de "Quem com ferro fere"). É preciso dizer também que eram outros tempos, quando do lançamento de "Cela 211", uma era pré-streaming, portanto é natural essa dificuldade na produção, mas eu adianto: essas limitações pouco vão interferir na experiência imersiva que é assistir o filme!
Juan Oliver (Alberto Ammann) é um funcionário novato de uma prisão espanhola, que acaba sofrendo um acidente no seu primeiro dia de trabalho. Acontece que logo depois explode um motim justamente na área onde Oliver está sendo cuidado e que acaba sendo tomada pelos presos mais temidos e perigosos, encabeçado por Mala Madre (Luis Tosar). Para salvar suas vidas, os companheiros de Oliver fogem deixando ele desmaiado na cela 211 - a única vazia do pavilhão. Ao acordar, Oliver compreende o perigo da situação e resolve se passar por um presidiário perante os amotinados. A partir desse momento, o protagonista tem que sobreviver a base de mentiras até que tudo muda de uma hora para outra. Confira o trailer original, com legendas em inglês:
Vencedor de 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar Espanhol), entre eles o de Melhor Filme, superando, inclusive, o sensacional "O Segredo dos seus Olhos", "Cela 211" se estabelece como uma crítica pesada às condições precárias a que os presos são submetidos e ao funcionamento do sistema carcerário espanhol. Porém esse é só o pano fundo para discutir algo muito mais profundo: a capacidade que o "meio" tem de corromper até aqueles de caráter (aparentemente) inabalável - e o pior de tudo é que damos razão a essa transformação do personagem porque o sistema é realmente falho e muitas vezes até desleal.
Sem dúvida que o ponto alto do filme é a bem estruturada construção da personalidade complexa do protagonista, que vai de um extremo ao outro durante as quase duas horas de filme, sempre motivado por situações onde as próprias relações com os presos e com os funcionários do presídio, vão sendo propostas - essa transformação me lembrou muito uma imperdível minissérie da HBO chamada "The Night Of". Como Riz Ahmed lá, Ammann se apoia em pequenas expressões, sem apelar para o exagero, trazendo uma realidade brutal para seu personagem que chega a ser impressionante, enquanto Luis Tosar nos entrega um antagonista, líder entre os presidiários, Malamadre, controlado e assustador - ambas performances, inclusive, foram vencedoras no Goya.
"Cela 211" é mais um belo trabalho do cinema espanhol, com uma narrativa ágil e muito bem construída,que chega ao ápice no final do segundo ato com uma reviravolta surpreendente e, na minha opinião, extremamente corajosa. Aliás, o filme do talentoso Daniel Monzón, em nenhum momento cai na covardia de encontrar o caminho mais fácil, mesmo nas passagens mais previsíveis, ele encontra camadas que geram, no mínimo, certa angústia em quem assiste. Com um tom independente, "Cela 211" deve agradar a todos que buscam um bom drama com ótimos elementos de ação.
Vale a pena!