"O Último Duelo" não é um filme de ação, de disputas politicas ou religiosas, de traição ou violência - embora tenha tudo isso. "O Último Duelo" é um drama (profundo) sobre a verdade, mesmo que essa venha mascarada por um contexto de época onde a misoginia e o patriarcado significavam honra e virilidade. O roteiro escrito por Matt Damon, Ben Affleck e Nicole Holofcener, é baseado em um livro sobre o último duelo judicial oficialmente reconhecido na França, mas que chega acompanhado por um subtexto atual e importante que ganha muita potência na mão (e na cabeça) criativa de Ridley Scott que resolveu contar a mesma história a partir de três diferentes perspectivas.
No filme acompanhamos a história real de uma mulher francesa do século XIV, Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), que desafiou os costumes medievais ao denunciar e levar a julgamento o homem que a violentou, Jacque Le Cris (Adam Driver), ex-companheiro de batalhas e desafeto de seu marido, Jean de Carrouges (Matt Damon). Confira o trailer:
Embora "O Último Duelo" tenha sido muito criticado por se preocupar mais em estabelecer a rivalidade entre Le Cris e Jean de Carrouges, do que pela luta por justiça de Marguerite em uma época em que a Igreja ditava as regras e um Rei simplesmente as aplicava de acordo com sua vontade, eu gostei e, sinceramente, não tive essa leitura - muito pelo contrário, o valor das circunstâncias que levaram ao duelo, para mim, são muito mais potentes do que as disputas carregadas de vaidade entre os personagens, porém Scott usa desse gatilho para gerar entretenimento ao mesmo tempo em que cria pontos de reflexão sobre o ato sofrido por Marguerite.
Partindo do conceito de que uma história possui três versões, "O Último Duelo" se aproveita de uma montagem competente da Claire Simpson (vencedora do Oscar pelo inesquecível "Platoon") para criar uma dinâmica narrativa muito interessante e provocadora - reparem como vamos mudando nossa "interpretação da verdade" a cada perspectiva. Pois bem, alinhado a isso, Scott vai entregando pequenos detalhes que vão diferenciando cada uma das versões - são pequenas nuances, diálogos em ordens diferentes e até olhares significantes que vão remodelando a narrativa. É muito bacana!
Alternando cenas de batalhas (sangrentas) bem construídas, que nos lembram os bons tempos de Scott comandando "Gladiador" (2000), com momentos bastante intimistas mesmo envolto a crueldade daquele universo, "O Último Duelo" deve agradar uma audiência mais sensível aos assuntos que exigem um olhar menos superficial e também aqueles que buscam, simplesmente, entretenimento de qualidade. Tecnicamente muito seguro como sempre, Scott sabe o seu valor, marcando essa condução tão polarizada com planos perfeitos e movimentos de câmera belíssimos, sem falar, é claro, da marcante fotografia cinzenta e sombria (ao melhor estilo Game of Thrones) de Dariusz Wolski (de "Relatos do Mundo").
Olha, vale muito o seu play!
"O Último Duelo" não é um filme de ação, de disputas politicas ou religiosas, de traição ou violência - embora tenha tudo isso. "O Último Duelo" é um drama (profundo) sobre a verdade, mesmo que essa venha mascarada por um contexto de época onde a misoginia e o patriarcado significavam honra e virilidade. O roteiro escrito por Matt Damon, Ben Affleck e Nicole Holofcener, é baseado em um livro sobre o último duelo judicial oficialmente reconhecido na França, mas que chega acompanhado por um subtexto atual e importante que ganha muita potência na mão (e na cabeça) criativa de Ridley Scott que resolveu contar a mesma história a partir de três diferentes perspectivas.
No filme acompanhamos a história real de uma mulher francesa do século XIV, Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), que desafiou os costumes medievais ao denunciar e levar a julgamento o homem que a violentou, Jacque Le Cris (Adam Driver), ex-companheiro de batalhas e desafeto de seu marido, Jean de Carrouges (Matt Damon). Confira o trailer:
Embora "O Último Duelo" tenha sido muito criticado por se preocupar mais em estabelecer a rivalidade entre Le Cris e Jean de Carrouges, do que pela luta por justiça de Marguerite em uma época em que a Igreja ditava as regras e um Rei simplesmente as aplicava de acordo com sua vontade, eu gostei e, sinceramente, não tive essa leitura - muito pelo contrário, o valor das circunstâncias que levaram ao duelo, para mim, são muito mais potentes do que as disputas carregadas de vaidade entre os personagens, porém Scott usa desse gatilho para gerar entretenimento ao mesmo tempo em que cria pontos de reflexão sobre o ato sofrido por Marguerite.
Partindo do conceito de que uma história possui três versões, "O Último Duelo" se aproveita de uma montagem competente da Claire Simpson (vencedora do Oscar pelo inesquecível "Platoon") para criar uma dinâmica narrativa muito interessante e provocadora - reparem como vamos mudando nossa "interpretação da verdade" a cada perspectiva. Pois bem, alinhado a isso, Scott vai entregando pequenos detalhes que vão diferenciando cada uma das versões - são pequenas nuances, diálogos em ordens diferentes e até olhares significantes que vão remodelando a narrativa. É muito bacana!
Alternando cenas de batalhas (sangrentas) bem construídas, que nos lembram os bons tempos de Scott comandando "Gladiador" (2000), com momentos bastante intimistas mesmo envolto a crueldade daquele universo, "O Último Duelo" deve agradar uma audiência mais sensível aos assuntos que exigem um olhar menos superficial e também aqueles que buscam, simplesmente, entretenimento de qualidade. Tecnicamente muito seguro como sempre, Scott sabe o seu valor, marcando essa condução tão polarizada com planos perfeitos e movimentos de câmera belíssimos, sem falar, é claro, da marcante fotografia cinzenta e sombria (ao melhor estilo Game of Thrones) de Dariusz Wolski (de "Relatos do Mundo").
Olha, vale muito o seu play!
"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.
Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):
Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).
Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.
Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.
"1408" tem uma narrativa datada - tanto na sua "forma" quanto no seu "conteúdo". Obviamente que isso, por si só, não seria suficiente para definir o filme dirigido pelo sueco Mikael Hafstrom (de "O Ritual") como bom ou ruim, mas é inegável que o tom da trama e a maneira como ela foi construída visualmente estão mais para os anos 90 do que para as produções atuais. Agora, também é preciso contextualizar o momento em que o filme foi lançado: 2007 vivia o fenômeno de "Lost" onde mais impactante que as respostas, eram as perguntas que ajudavam a desenvolver uma narrativa ao mesmo tempo surreal e empolgante.
Mesmo "1408" sendo classificado como um suspense psicológico, posso te garantir que para quem gosta do estilo "Lost", ele é entretenimento puro. Baseado em um conto de mesmo nome do mestre do horror, Stephen King, o filme acompanha Mike Enslin (John Cusack), um escritor cético que se especializa em escrever sobre lugares teoricamente mal-assombrados, até que ele decide investigar o quarto 1408 do Hotel Dolphin em NY - um quarto que tem uma reputação sombria e uma alta taxa de mortalidade entre seus hóspedes. Confira o trailer (em inglês):
Embora "1408" tenha bons momentos de tensão, ele vacila ao entregar uma narrativa pouco coesa e nada consistente. O que eu quero dizer é que mesmo com uma premissa bem desenvolvida, seu desenvolvimento acaba deixando a trama previsível e nada profunda emocionalmente. O roteiro, co-escrito por Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski, é bastante fiel ao conto original de King, mas ao adicionar alguns elementos para tornar a história mais cinematográfica, o filme acaba pendendo para o entretenimento deixando o horror um pouco de lado (o que pode gerar alguma decepção).
Habilmente dirigido por Hafstrom e com escolhas conceituais propositadamente cheias de clichês, o filme se apoia em uma trilha sonora das mais interessantes e na competente edição de Peter Boyle (indicado ao Oscar por "As Horas") para criar uma dinâmica bastante eficaz que aumenta a densidade do drama sem esquecer do incômodo que é navegar por águas desconhecidas. Nesse sentido a performance de Cusack é excepcional, pois ele captura a determinação de Enslin para desmascarar os mitos sobrenaturais, mas também a vulnerabilidade que ele começa a sentir quando é confrontado com as verdadeiras forças sobrenaturais do quarto.
Em resumo, "1408" tem mais coisas boas do que ruins - é um divertido filme de suspense com fortes elementos de drama psicológico que consegue nos manter curiosos do começo ao fim. Para muitos críticos, aliás, esse é um dos melhores filmes baseados nas obras de Stephen King já produzidos - eu discordo, mas entendo e respeito quem pensa assim. Para outros, esse é mais um filme "Sessão da Tarde" que diverte muito mais do que assusta - é aqui que assino embaixo. Porém, também é preciso dizer, que em ambos os casos, alinhadas as expectativas, eu diria que vale a experiência desde que fique claro que não estamos diante de um filme inesquecível, mas de uma obra que cumpre muito bem o seu papel.
Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!
O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):
Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte", não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!
Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!
Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!
Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!
O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):
Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte", não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!
Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!
Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!
O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol") ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.
Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:
"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..
Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.
Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!
Vale muito o seu play!
O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol") ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.
Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:
"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..
Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.
Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!
Vale muito o seu play!
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
"A Casa" é mais um suspense psicológico que vem da Espanha e que justifica seu sucesso. Embora tenha lido muita gente reclamando do final (algo que se repetiu no ótimo "O Poço"), posso dizer tranquilamente que o filme entrega o que promete - angústia e mal estar!
Javier Muñoz (Javier Gutierrez) é um publicitário muito conhecido em Barcelona que está desempregado há algum tempo. O temor iminente de uma queda de padrão social só aumenta a cada entrevista de emprego frustada. Marga (Ruth Díaz), sua esposa, sugere a Javier que se mudem para um apartamento mais simples até que as coisas se restabeleçam. Acontece que Javier não se conforma com a situação, sente-se humilhado, inseguro. Quando ele vê o jovem casal que agora mora no seu antigo apartamento e que parece viver uma vida perfeita, ele é tomado pela inveja e a partir daí, começa a arquitetar um plano minucioso para retomar o seu antigo status e a felicidade de viver no topo. Confira o trailer:
O filme é ótimo, mas se você espera um thriller ao melhor estilo americano , esqueça, "A Casa" não é para você! O filme tem um levada psicológica menos intensa na ação - ele funciona muito mais na empatia que sentimos pelo personagem, mesmo sabendo que suas atitudes vão se distanciando cada vez mais dos nosso valores. É quase o sentimento que tínhamos pelo inesquecível Walter White de "Breaking Bad". Isso não é uma comparação, é apenas uma citação para explicar que a "A Casa" é um filme mais cadenciado, mas que é muito competente em nos colocar dentro da trama sem o menor esforço!
Embora a trama do filme nos envolva desde seu inicio, o roteiro tem algumas inconstâncias que prejudicaram na experiência de muita gente. O primeiro e o segundo atos são excelentes - desde a apresentação do protagonista até se estabelecer a sua motivação! O medo estampado no rosto do excelente ator Javier Gutierrez naturalmente vai se transformando em ódio e, principalmente, inveja - é isso: o filme é sobre a inveja no seu nível mais estereotipado (no bom sentido) possível! O acerto das situações que transformam o personagem vai desde a escolha da sua profissão até a forma como ele lida com a necessidade de se reinventar. É claro que o roteiro abusa da suspensão da realidade, mas nem por isso nos afastamos da sua dor e isso ganha muita força quando percebemos que na verdade essa dor é muito mais pela vaidade do que pela situação que ele está vivendo - o que "justifica" sua relação com o jardineiro do seu antigo condomínio - reparem (ali temos um bom exemplo de como essa sub trama poderia ter sido melhor desenvolvida e, principalmente, melhor solucionada)! O maior deslize do roteiro está no terceiro ato, pois temos a sensação de que tudo é resolvido muito rapidamente e, mais uma vez citando Breaking Bad: falta tempo para desenvolver a transformação do protagonista em anti-herói e depois, mais tempo ainda, para colocá-lo como vitima de uma sociedade opressora, preconceituosa e de valores morais duvidosos.
Muito bem dirigido pelos irmãos David Pastor e Àlex Pastor, lindamente fotografado pelo Pau Castejón, "A Casa" é mais um exemplo de uma boa premissa para se discutir o mundo que estamos vivendo hoje, mas que infelizmente sofre com o formato - uma minissérie (ou até uma série) elevaria a qualidade do roteiro em níveis astronômicos! Em tempo, a comparação com "Parasita" é muito simplista - acreditem, não é o caso (nem de longe), mas mesmo assim é preciso dar mérito ao ótimo entretenimento que é o filme. Mais uma vez: não irá agradar a todos e compreendo as críticas sobre a falta de originalidade do assunto, mas independente de qualquer coisa, me diverti muito e indico com essas ressalvas.
Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.
Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:
O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.
Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão?
Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.
Vale seu play!
Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.
Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:
O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.
Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão?
Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.
Vale seu play!
"A Filha Perdida" é um grande filme, mas muito (muito mesmo) angustiante! A construção narrativa imposta pela talentosa atriz e agora diretora, Maggie Gyllenhaal, é baseada naquilo que "pode acontecer", não necessariamente no que "vai acontecer" - e isso pode até parecer contraditório já que a tensão do "presente" nada mais é do que um olhar profundo sobre algumas decisões do passado. Eu diria, inclusive, que o filme além de incrivelmente intimista, é provocador ao posicionar a protagonista em uma espécie de limbo entre seus fantasmas mais dolorosos e uma necessidade absurda de seguir em frente, mesmo carregada de culpa.
Leda (Olivia Colman) é uma professora, sozinha, que está em busca de paz e sossego em uma curta temporada de férias na Grécia. Ao se deparar com Nina (Dakota Johnson), uma linda jovem que vive um relacionamento tóxico com um criminoso local, as duas passam a dividir as dores de uma relação ambivalente com a maternidade. Essa aproximação faz com que Leda comece a ter que lidar com dolorosos flashbacks de uma época onde suas filhas eram pequenas e suas ambições não se encaixavam no padrão romântico de ter se tornado mãe tão jovem. Confira o trailer:
"A Filha Perdida" é um drama pesado, com elementos de suspense psicológico que servem "apenas" como gatilhos para um profundo processo de introspecção da protagonista - o que coloca Olivia Colman em um lugar extraordinário, dando um espaço para ela, mais uma vez, mostrar seu enorme talento de uma forma avassaladora. O caráter independente da produção ganhar ainda mais elegância com a direção de Gyllenhaal que usa e abusa das lentes mais fechadas (quase sempre em close-ups) para mergulhar nas camadas mais inacessíveis de um ser humano marcado pelo passado.
A escolha de dividir a narrativa em duas linhas temporais distintas que vão se cruzando entre memórias e coincidências da vida é brilhantemente pontuada por uma edição maravilhosa do Affonso Gonçalves (o premiado montador por trás de "True Detective" da HBO). Existe uma sensibilidade muito bacana ao indicar os perigos de ser inconstante (e ingenuamente reservada) em um ambiente que claramente não lhe pertence, ficando quase impossível assistir ao filme sem pausar algumas vezes para recuperar o fôlego. O roteiro que pode soar simples em um primeiro momento, vai se mostrando ameaçador por um lado e muito honesto por outro - embora alguns assuntos sejam discutidos sem a menor pretensão de carregar pré-julgamentos, como isso impacta na vida dos personagens, incomoda.
Além de Colman, é preciso destacar as performances de Jessie Buckley (como a Leda, na sua versão jovem), Dakota Johnson (como Nina), Ed Harris (como Lyle) e a irreconhecível Dagmara Dominczyk (como Callie) - e aqui cabe um comentário pertinente: Colman merece o reconhecimento nas premiações, mas o elenco como um todo dá um suporte sensacional para a atriz brilhar e não vou me surpreender se mais indicações acontecerem.
"A Filha Perdida" expõe um universo, muito bem protegido, que existe no íntimo feminino e justamente por isso a conexão tende a ser imediata. Muitas vezes difícil de visitar e quando feito, de digerir, algumas questões vitais sobre a maternidade e como isso impacta na vida de todos, são retratadas aqui de uma maneira muito humana. Brilhantemente adaptado no livro homônimo "The Lost Daughter" de Elena Ferrante, o filme é cirúrgico na forma e no conteúdo, além de colocar a audiência dentro de uma mente cheia de culpas e de uma vida marcada por essas escolhas, mesmo que em silêncio.
Vale muito a pena!
"A Filha Perdida" é um grande filme, mas muito (muito mesmo) angustiante! A construção narrativa imposta pela talentosa atriz e agora diretora, Maggie Gyllenhaal, é baseada naquilo que "pode acontecer", não necessariamente no que "vai acontecer" - e isso pode até parecer contraditório já que a tensão do "presente" nada mais é do que um olhar profundo sobre algumas decisões do passado. Eu diria, inclusive, que o filme além de incrivelmente intimista, é provocador ao posicionar a protagonista em uma espécie de limbo entre seus fantasmas mais dolorosos e uma necessidade absurda de seguir em frente, mesmo carregada de culpa.
Leda (Olivia Colman) é uma professora, sozinha, que está em busca de paz e sossego em uma curta temporada de férias na Grécia. Ao se deparar com Nina (Dakota Johnson), uma linda jovem que vive um relacionamento tóxico com um criminoso local, as duas passam a dividir as dores de uma relação ambivalente com a maternidade. Essa aproximação faz com que Leda comece a ter que lidar com dolorosos flashbacks de uma época onde suas filhas eram pequenas e suas ambições não se encaixavam no padrão romântico de ter se tornado mãe tão jovem. Confira o trailer:
"A Filha Perdida" é um drama pesado, com elementos de suspense psicológico que servem "apenas" como gatilhos para um profundo processo de introspecção da protagonista - o que coloca Olivia Colman em um lugar extraordinário, dando um espaço para ela, mais uma vez, mostrar seu enorme talento de uma forma avassaladora. O caráter independente da produção ganhar ainda mais elegância com a direção de Gyllenhaal que usa e abusa das lentes mais fechadas (quase sempre em close-ups) para mergulhar nas camadas mais inacessíveis de um ser humano marcado pelo passado.
A escolha de dividir a narrativa em duas linhas temporais distintas que vão se cruzando entre memórias e coincidências da vida é brilhantemente pontuada por uma edição maravilhosa do Affonso Gonçalves (o premiado montador por trás de "True Detective" da HBO). Existe uma sensibilidade muito bacana ao indicar os perigos de ser inconstante (e ingenuamente reservada) em um ambiente que claramente não lhe pertence, ficando quase impossível assistir ao filme sem pausar algumas vezes para recuperar o fôlego. O roteiro que pode soar simples em um primeiro momento, vai se mostrando ameaçador por um lado e muito honesto por outro - embora alguns assuntos sejam discutidos sem a menor pretensão de carregar pré-julgamentos, como isso impacta na vida dos personagens, incomoda.
Além de Colman, é preciso destacar as performances de Jessie Buckley (como a Leda, na sua versão jovem), Dakota Johnson (como Nina), Ed Harris (como Lyle) e a irreconhecível Dagmara Dominczyk (como Callie) - e aqui cabe um comentário pertinente: Colman merece o reconhecimento nas premiações, mas o elenco como um todo dá um suporte sensacional para a atriz brilhar e não vou me surpreender se mais indicações acontecerem.
"A Filha Perdida" expõe um universo, muito bem protegido, que existe no íntimo feminino e justamente por isso a conexão tende a ser imediata. Muitas vezes difícil de visitar e quando feito, de digerir, algumas questões vitais sobre a maternidade e como isso impacta na vida de todos, são retratadas aqui de uma maneira muito humana. Brilhantemente adaptado no livro homônimo "The Lost Daughter" de Elena Ferrante, o filme é cirúrgico na forma e no conteúdo, além de colocar a audiência dentro de uma mente cheia de culpas e de uma vida marcada por essas escolhas, mesmo que em silêncio.
Vale muito a pena!
Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:
Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.
Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!
O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!
Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:
Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.
Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!
O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!
"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".
Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:
É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.
Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.
Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.
Vale o play!
"A Hora do Desespero" é mais um filme do "ame ou odeie" - e muito disso se deve pelo fato de 100% da narrativa ser construída pelas ligações de celular que a protagonista faz (ou recebe) enquanto tenta lidar com uma situação dramática bem ao estilo do excelente filme dinamarquês "Culpa", mas talvez seguindo uma linha mais hollywoodiana como em "Buscando...".
Prestes a completar um ano da morte de seu marido, Amy Carr (Naomi Watts) sai para o que devia ter sido uma corrida matinal restauradora até que a policia local emite um alerta com notícias terríveis: a escola em que seu filho Noah (Colton Gobbo) frequenta foi sitiada por um atirador - o detalhe: pouco se sabe sobre a identidade do criminoso. Confira o trailer:
É impressionante como o cinema comercial americano sente a incontrolável necessidade de estabelecer quem é o herói, quem é o bandido e como é possível ter um final feliz para, assim, poder entregar uma mensagem de esperança enquanto a audiência sai emocionada da projeção. É justamente por causa dessa "cartilha" que "A Hora do Desespero" perde uma excelente oportunidade de se tornar impactante e com isso se colocar em outra prateleira de qualidade. Isso faz do filme ruim? Não, de maneira alguma, mas o classifica como um bom entretenimento quando poderia trazer muito mais sensações do que realmente traz.
Muito bem dirigido pelo australiano Phillip Noyce (da série "Revenge") e escrito pelo Chris Sparling (de "O Aviso"), "Lakewood" (no original) parece que vai entregar um drama potente, cheio de camadas, tenso e angustiante; até que se depara com soluções menos corajosas, transformando uma jornada claramente sensorial em mais um bom filme-pipoca, ótimo para um final de semana chuvoso - eu diria até que "despretensioso" quanto a sua sensibilidade. A direção de Noyce e a brilhante performance de Watts dão ao roteiro mediano uma certa elegância, que visualmente foi muito bem traduzida pelo diretor de fotografia John Brawley (de "The Thing About Pam"). A produção, de fato, chama atenção por sua ótima qualidade e, claro, pela inegável força que o assunto "bullying e cyberbullying" tem - é ele que nos conecta imediatamente àquele drama, porém é ele também que nos faz esperar mais.
Vários tons abaixo de "Utøya 22.juli", "A Hora do Desespero" pode ser considerado um bom thriller, daqueles que nos faz prender a respiração em alguns momentos e que é capaz de mexer com nossas emoções enquanto fazemos uma análise crítica mental sobre a situação que a protagonista está inserida. Seu grande mérito, porém, vai além: está na comprovação que mesmo com um pequeno orçamento é possível entregar uma jornada interessante para a audiência, provocando algum incômodo e, principalmente, proporcionando 90 minutos de um entretenimento "estilo clássico" sem nos deixar deprimidos no final.
Vale o play!
Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!
Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.
Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar.
Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!
Vale o seu play!
Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!
Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.
Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar.
Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!
Vale o seu play!
"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).
Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".
Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?
"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.
Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena!
"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).
Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".
Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?
"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.
Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
"A Ligação", é uma adaptação de um filme de 2011 escrito pelo roteirista de "O Chalé", Sergio Casci. O fato é que essa produção coreana da Netflix, é o equilíbrio perfeito entre uma boa ficção científica e um ótimo suspense! Tudo o que eu disser além disso pode estragar sua experiência, então vou focar em dois pontos: o filme é extremamente bem produzido, tecnicamente perfeito e, como qualquer filme sobre o tema, vai exigir uma certa suspensão da realidade para que a jornada seja totalmente imersiva!
Seo-yeon (Park Shin-Hye) é uma jovem que acaba de se mudar para a antiga casa da sua família, onde passara a infância e onde, anos atrás, perdera o pai (Ho-San Park) em um incêndio. Porém, as dolorosas memórias do passado não são as únicas ameaças na sua vida atual: após perder o celular, Seo-yeon passa a receber ligações sinistras de Young-sook (Jong-seo Jun), uma antiga moradora da casa, no telefone fixo. Aos poucos, o que parecia ser obra do acaso se transforma em uma experiência aterrorizante onde os fantasmas do passado voltam para cobrar por algumas decisões que Seo-yeon precisou tomar. Confira o trailer (em inglês):
O maior mérito de "A Ligação", é a forma como o diretor estreante Chung-Hyun Lee (olho nesse cara) vai mudando o gênero do filme de acordo com progresso da história. O interessante é que nosso mood acompanha essas escolhas narrativas, fazendo com que um de argumento nada original se transforme em algo único - muito parecido com o estilo conceitual do próprio Bong Joon Ho em "Parasita".
Reparem na qualidade de três elementos-chave que só reforçam o poder desse roteiro: 1. a fotografia é linda, 2. os efeitos visuais criam uma atmosfera sensacional e 3. as duas atrizes dão uma aula de interpretação.
Olha, se você gostou do espanhol "Durante a Tormenta", dê o play voando em "A Ligação" porque além de um ótimo thriller, ele vai prender sua atenção como poucos e ainda oferecer muito mais do que a sinopse apresentou (literalmente) - e não deixe de experimentar o final de verdade!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
Sim, você vai tomar alguns (vários) sustos, mas te garanto: "A Maldição da Residência Hill" é muito (mas, muito) mais do que isso! Nesse primeiro projeto ao lado da Netflix, Mike Flanagan cria um verdadeiro tour de force pelo mundo do terror e do suspense, mas dentro de uma estrutura narrativa tão bem desenvolvida que até mesmo quando usa fantasmas como alegoria, eles se tornam instrumentos essenciais dentro daquela atmosfera tão particular. O que eu quero dizer, é que a minissérie vai muito além dos sustos convencionais, com uma trama intricada, uma fotografia magistral e performances tão envolventes que em muitos momentos temos a impressão de que tudo aquilo já faz parte do nosso inconsciente coletivo. Olha, que experiência interessante, mas cuidado: esse novo padrão para narrativas de horror psicológico que Flanagan impõe, são realmente marcantes - trazendo para a realidade algo que soa fantasia de uma forma quase documental.
Baseada no romance de Shirley Jackson, a minissérie segue os Crains, uma família de cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado e um evento traumático que marcou suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como Flanagan acertou em absolutamente tudo nessa adaptação. Sério, ele pega tudo de melhor que o gênero já ofereceu ao longo dos anos, coloca uma pitada de história macabra que pode até parecer uma daquelas lendas urbanas que fizeram (ou fazem) parte da nossa forma de enxergar o medo (real) e ainda finaliza com uma boa dose de cortes precisos com gatilhos sonoros e visuais que nos deixam com o coração na boca durante boa parte dos 10 episódios. O fato da narrativa ser dividida em duas linhas temporais, a primeira que se passa no presente com os Crains adultos e a segunda quando eles ainda eram crianças, é genial - a forma como ela é construída faz com que essa alternância por si só já ajude nessa sensação de suspense crescente. Reparem como essa dinâmica nos guia e nos faz entender toda tensão que permeia as relações entre os personagens e como isso, de fato, nos impacta a cada aparição sobrenatural. Olha, é visceral em todos os sentidos!
Ao usar elementos do terror gótico para criar uma atmosfera de medo, Flanagan (ao lado do seu parceiro, o Diretor de Fotografia Michael Fimognari de "Doutor Sono") usa e abusa da mansão Hill como uma personagem assustadora e onipresente, um lugar imponente na sua arquitetura que permite, com enquadramentos cirúrgicos e uma coerente paleta escura, transformar aqueles corredores sem fim em verdadeiros convites para conhecer os segredos sombrios que habitam tanto o local quanto as almas dos personagens. E que trabalho do elenco! A química entre eles é tão palpável que torna aquelas relações familiares ainda mais convincentes. Destaque para Victoria Pedretti que entrega uma atuação irretocável, transmitindo as complexidades emocionais de Nell de maneira simplesmente excepcional.
O fato de cada personagem conviver com seus próprios traumas e medos, faz com que "A Maldição da Residência Hill" saia do óbvio e consiga explorar temas muito íntimos (e importantes) de forma profunda e emocionante - o drama da família aliado a construção desses dilemas é o foco da proposta de Flanagan que nunca se perde e nos envolve, sem pedir licença, até o último (e incrível) episódio. Dê o play sabendo que a história é mais importante do que alguns sustos ou mistérios temporários e que sua proximidade com a realidade pode servir de gatilho para difíceis reflexões sobre medos e traumas passados.
Uma pancada, mas que vale muito a pena!
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Brutal, angustiante, visceral - não sei nem se esses adjetivos conseguem definir o que representa "A Mosca"! Lançado em 1986 e dirigido por David Cronenberg, "The Fly" (no original) é um dos filmes de ficção científica, com fortes elementos de terror, mais icônicos dos anos 80. Remake de uma obra de 1958, essa versão de Cronenberg não só reimaginou a premissa original, como também a elevou a novos patamares ao fundir o body horror em uma jornada que conecta a tragédia clássica com o romance moderno. Combinando efeitos especiais inovadores para época, uma maquiagem que lhe rendeu o Oscar em 1987, uma performance marcante de um jovem Jeff Goldblum e a visão única de um promissor Cronenberg, posso adiantar: "A Mosca" foi e continua sendo uma obra profundamente perturbadora e emocionalmente impactante que serve de referência para muitas produções até hoje - uma delas: "O Homem Invisível"de Leigh Whannell.
A trama segue o cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que está trabalhando em uma invenção revolucionária: uma máquina de teletransporte. Inicialmente hesitante, Brundle decide testar o dispositivo em si mesmo. Porém, sem perceber, uma mosca entra na cabine de teletransporte com ele, causando uma fusão genética entre homem e inseto. O filme acompanha a progressiva e grotesca transformação de Brundle, enquanto ele se torna cada vez menos humano, tanto física quanto mentalmente. Ao mesmo tempo, sua namorada, a jornalista Veronica Quaife (Geena Davis), observa impotente a desintegração do homem que ama. Confira o trailer clássico em inglês:
Com uma atmosfera de filme independente, Cronenberg aborda com muita inteligência o drama mais íntimo da deterioração física e psicológica sem esquecer do impacto que o "body horror" pode gerar. Em "A Mosca", o diretor explora de forma implacável os medos do ser humano em relação as doenças, ao envelhecimento e até perante a perda de identidade. A transformação de Seth Brundle é (também metaforicamente) gradual, e Cronenberg não poupa a audiência dos detalhes grotescos dessa mutação, no entanto essa repulsa visual que a mutação provoca é equilibrada com o lado emocional do filme, já que a relação entre Brundle e Veronica se torna mais trágica à medida que a monstruosidade física do protagonista avança. Nesse sentido, o desempenho de Jeff Goldblum é essencial para o sucesso do filme - ele traz profundidade e vulnerabilidade para o seu personagem, fazendo com que quem assiste sinta empatia por ele, mesmo quando seu corpo e mente começam a se desintegrar - essa abordagem é ao mesmo tempo fascinante e cruel.
Veja, Cronenberg vai criando uma atmosfera densa e cada vez mais perturbadora pontuando a transformação física de Brundle - as sutis mudanças do inicio, como aumento de força e agilidade, logo evolui para a perda de controle sobre seu próprio corpo, com pele descamando, apêndices surgindo e secreções nojentas aparecendo. A transformação final de Brundle em uma mosca gigante é chocante, mas saiba que o horror é amplificado mesmo porque, nesse momento, a audiência já está emocionalmente conectada com o destino trágico do personagem. Aqui, os efeitos práticos, criados por Chris Walas (de "Gremlins") e Stephan Dupuis (de "Venon"), ganham força - cada estágio da mutação é feito com detalhes meticulosos, utilizando maquiagem e próteses, conferindo à transformação uma fisicalidade aterrorizante.
Em sua essência, "A Mosca" é uma palpável história de amor e perda. A deterioração de Brundle reflete o inevitável declínio físico e mental que todas as pessoas enfrentam com o tempo, e sua relação com Veronica se alinha com essa proposta - o que começa com paixão e descoberta, acaba se tornando um estudo sobre o luto e a impotência perante o fim. O filme sugere uma reflexão sobre o impacto devastador de uma doença, não apenas sobre aqueles que a sofrem, mas também sobre os entes queridos que ficam para assistir essa transformação. O medo da perda de identidade, do controle sobre o próprio corpo e da irreversível separação emocional são temas centrais que, analisando hoje em dia, fazem de "A Mosca" muito mais do que um simples filme de terror.
Vale muito o seu play!
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Brutal, angustiante, visceral - não sei nem se esses adjetivos conseguem definir o que representa "A Mosca"! Lançado em 1986 e dirigido por David Cronenberg, "The Fly" (no original) é um dos filmes de ficção científica, com fortes elementos de terror, mais icônicos dos anos 80. Remake de uma obra de 1958, essa versão de Cronenberg não só reimaginou a premissa original, como também a elevou a novos patamares ao fundir o body horror em uma jornada que conecta a tragédia clássica com o romance moderno. Combinando efeitos especiais inovadores para época, uma maquiagem que lhe rendeu o Oscar em 1987, uma performance marcante de um jovem Jeff Goldblum e a visão única de um promissor Cronenberg, posso adiantar: "A Mosca" foi e continua sendo uma obra profundamente perturbadora e emocionalmente impactante que serve de referência para muitas produções até hoje - uma delas: "O Homem Invisível"de Leigh Whannell.
A trama segue o cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que está trabalhando em uma invenção revolucionária: uma máquina de teletransporte. Inicialmente hesitante, Brundle decide testar o dispositivo em si mesmo. Porém, sem perceber, uma mosca entra na cabine de teletransporte com ele, causando uma fusão genética entre homem e inseto. O filme acompanha a progressiva e grotesca transformação de Brundle, enquanto ele se torna cada vez menos humano, tanto física quanto mentalmente. Ao mesmo tempo, sua namorada, a jornalista Veronica Quaife (Geena Davis), observa impotente a desintegração do homem que ama. Confira o trailer clássico em inglês:
Com uma atmosfera de filme independente, Cronenberg aborda com muita inteligência o drama mais íntimo da deterioração física e psicológica sem esquecer do impacto que o "body horror" pode gerar. Em "A Mosca", o diretor explora de forma implacável os medos do ser humano em relação as doenças, ao envelhecimento e até perante a perda de identidade. A transformação de Seth Brundle é (também metaforicamente) gradual, e Cronenberg não poupa a audiência dos detalhes grotescos dessa mutação, no entanto essa repulsa visual que a mutação provoca é equilibrada com o lado emocional do filme, já que a relação entre Brundle e Veronica se torna mais trágica à medida que a monstruosidade física do protagonista avança. Nesse sentido, o desempenho de Jeff Goldblum é essencial para o sucesso do filme - ele traz profundidade e vulnerabilidade para o seu personagem, fazendo com que quem assiste sinta empatia por ele, mesmo quando seu corpo e mente começam a se desintegrar - essa abordagem é ao mesmo tempo fascinante e cruel.
Veja, Cronenberg vai criando uma atmosfera densa e cada vez mais perturbadora pontuando a transformação física de Brundle - as sutis mudanças do inicio, como aumento de força e agilidade, logo evolui para a perda de controle sobre seu próprio corpo, com pele descamando, apêndices surgindo e secreções nojentas aparecendo. A transformação final de Brundle em uma mosca gigante é chocante, mas saiba que o horror é amplificado mesmo porque, nesse momento, a audiência já está emocionalmente conectada com o destino trágico do personagem. Aqui, os efeitos práticos, criados por Chris Walas (de "Gremlins") e Stephan Dupuis (de "Venon"), ganham força - cada estágio da mutação é feito com detalhes meticulosos, utilizando maquiagem e próteses, conferindo à transformação uma fisicalidade aterrorizante.
Em sua essência, "A Mosca" é uma palpável história de amor e perda. A deterioração de Brundle reflete o inevitável declínio físico e mental que todas as pessoas enfrentam com o tempo, e sua relação com Veronica se alinha com essa proposta - o que começa com paixão e descoberta, acaba se tornando um estudo sobre o luto e a impotência perante o fim. O filme sugere uma reflexão sobre o impacto devastador de uma doença, não apenas sobre aqueles que a sofrem, mas também sobre os entes queridos que ficam para assistir essa transformação. O medo da perda de identidade, do controle sobre o próprio corpo e da irreversível separação emocional são temas centrais que, analisando hoje em dia, fazem de "A Mosca" muito mais do que um simples filme de terror.
Vale muito o seu play!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Se você leu o livro que deu origem ao filme "A Mulher na Janela", provavelmente você vai se decepcionar! Se você não leu, você tem 50% de chance de gostar e te explico a razão: o filme tem uma dinâmica narrativa muito particular dos anos 90 e inicio dos anos 2000, uma época onde nossas referências eram bem mais limitadas do que temos hoje, com isso nosso nível de percepção da história era menos rigoroso, o que nos proporcionava ótimos momentos de entretenimento com o gênero, como em "Quarto do Pânico", "A Mão Que Balança o Berço" ou "Medo". Dito isso, esse suspense psicológico da Netflix com Amy Adams e Julianne Moore, vai te divertir mas não empolgar como deveria!
“A Mulher na Janela” é uma adaptação do livro homônimo de A.J. Finn que acompanha Anna Fox (Adams), uma psicóloga infantil que sofre de agorafobia (um tipo de transtorno de ansiedade em que a pessoa tem medo e evita lugares ou situações que podem causar pânico). Confinada em casa e a base da combinação entre remédios e álcool, ela começa a observar pela sua janela a vida aparentemente perfeita dos vizinhos que acabaram de se mudar para o prédio da frente. Um dia, ela acaba sendo testemunha de um crime violento e isso vira sua vida de cabeça para baixo. Confira o trailer:
Desde seu anúncio, "A Mulher na Janela" vinha sendo aguardado com muitas expectativas. A premissa "HBO" do filme se justificava pelos nomes envolvidos no projeto: Tracy Letts no roteiro (de "Killer Joe - Matador de Aluguel" e "Álbum de Família"), Joe Wright diretor de “O Destino de Uma Nação“ e um elenco incrível com Amy Adams, Julianne Moore, Gary Oldman e Brian Tyree Henry. Pois bem, o fato é que esses talentos todos até funcionam no primeiro ato, criando um clima de suspense, drama e mistério dos melhores, mas que acaba não se sustentando até o final. O segundo ato é mediano e a conclusão muito apressada. Ok, mas isso faz o filme ser ruim? Depende da sua expectativa - como entretenimento é ótimo, você vai se sentir angustiado, provocado pelo mistério e ainda tomar alguns sustos; mas quando os créditos subirem sua mente não estará explodindo!
Veja, a personagem Anna Fox é alcóolatra, viciada em remédios, tem um trauma familiar, é agorafóbica e sofre de alucinações - um personagem complexo e cheio de camadas que funciona nas mão de Adams, mas que se desperdiça no filme pela necessidade de entregar toda a jornada em pouco mais de 90 minutos. Seria uma excelente minissérie, tem muito mistério e personagens orbitais que teriam muito a acrescentar na dinâmica narrativa e na construção de uma trama consistente, além da própria protagonista - basta lembrar de "The Undoing".
O fato é que “A Mulher na Janela” sofre com a expectativa criada, com os nomes envolvidos e com o sucesso do livro. Agora, se você um dia entrou na locadora só para alugar "Invasão de Privacidade", "Dormindo com o Inimigo", "Mulher Solteira Procura"; certamente você vai se divertir com o play!
Olha, "A Primeira Profecia" não é uma jornada das mais tranquilas! Visualmente impactante em vários momentos, o filme surpreende pela sua qualidade conceitual e pela forma como o roteiro se conecta com o clássico de 1977 sem se esquecer do novo. Pois bem, para quem não sabe, aqui temos um prequel que se propõe a explorar as origens do filme "A Profecia" (ou "The Omen") - com um enfoque na construção de um suspense mais realista e uma abordagem desenvolvida em cima de elementos psicológicos bastante atuais, a diretora Arkasha Stevenson (de "Legion") nos oferece, de fato, uma história surpreendentemente potente que busca expandir o universo da franquia, mergulhando nas raízes do mal e que posteriormente levaria ao nascimento de Damien.
A trama acompanha a jovem americana Margaret (Nell Tiger Free), que é enviada a Roma para viver a serviço da igreja. No local, ela se afeiçoa por Carlita (Nicole Sorace), uma jovem quieta e sozinha, que também mora no convento. Ao questionar o passado e a situação da garota para as outras irmãs da igreja, ela é alertada para se manter afastada. No entanto, antes de seguir o conselho, Margaret se depara com práticas obscuras que a faz questionar sua fé. Com a ajuda de um padre exonerado, Brennan (Ralph Ineson), ela acaba descobrindo uma conspiração tenebrosa, que por anos foi ocultada pela igreja local, e que tentava esconder o inevitável: a volta do mal encarnado, o chamado Anticristo. Confira o trailer:
Com o claro objetivo de oferecer para uma nova audiência aquele olhar mais profundo sobre os eventos que antecedem o terror que se desenrola em "A Profecia", "The First Omen" (no original) entrega uma mistura de suspense psicológico com elementos sobrenaturais de encher os olhos. O roteiro, escrito por Stevenson ao lado de Tim Smith e de Keith Thomas, equilibra perfeitamente aquela gramática cinematográfica mais lenta do mistério e do suspense com momentos de terror realmente viscerais. Ao explorar temas como a fé, o destino e o eterno conflito entre o bem e o mal, utilizando a história de Katherine como uma lente para examinar questões mais amplas, "A Primeira Profecia" se escora no original, prestando a reverência necessária, mas sem se tornar obrigatório qualquer conhecimento prévio.
Arkasha Stevenson, em sua estreia como diretora de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de crescente tensão e desconforto. A diretora utiliza uma abordagem visual estilizada, com uma paleta de cores sombria e uma cinematografia que enfatiza a claustrofobia e o isolamento. A direção de fotografia do Aaron Morton (de "A Morte do Demônio") é particularmente eficaz, utilizando luz e sombras para sugerir a presença de forças invisíveis e ameaçadoras. Aqui cabe um comentário: repare como o uso dos cenários e a atenção aos pequenos detalhes ajudam a construir uma sensação constante de inquietação - quando Margaret está trancada no quarto, por exemplo, a porta está cheia de marcas de unhas em um claro sinal de desespero. Nesse sentido,Nell Tiger Free merece elogios - no tom certo, ela é capaz de transmitir de forma eficaz toda a transformação de sua personagem, desde a incredulidade inicial até o reconhecimento inevitável do horror que a cerca. Sua performance é fundamentada em uma autenticidade emocional que ancora o filme, tornando Katherine uma protagonista cheia de camadas.
"A Primeira Profecia" não está isenta de críticas - o ritmo do filme pode soar deliberadamente lento para alguns, no entanto, o que mais incomoda é a previsibilidade do roteiro. Penso que faltou um pouco de sensibilidade ou talvez até um certo grau de experiência para Stevenson controlar melhor nossas expectativas. Mas isso impacta na nossa experiência? Não muito, desde que você embarque na proposta da diretora - especialmente se você conhece o filme original. Em suma, "A Primeira Profecia" é uma adição digna ao universo de "A Profecia", uma exploração rica das origens do mal que assombrou e conduziu a franquia durante anos. Tenho certeza que para os fãs do suspense, aqueles que gostam de tomar alguns sustos mesmo e de se sentir provocados visualmente, "A Primeira Profecia" vai valer muito o play!
Olha, "A Primeira Profecia" não é uma jornada das mais tranquilas! Visualmente impactante em vários momentos, o filme surpreende pela sua qualidade conceitual e pela forma como o roteiro se conecta com o clássico de 1977 sem se esquecer do novo. Pois bem, para quem não sabe, aqui temos um prequel que se propõe a explorar as origens do filme "A Profecia" (ou "The Omen") - com um enfoque na construção de um suspense mais realista e uma abordagem desenvolvida em cima de elementos psicológicos bastante atuais, a diretora Arkasha Stevenson (de "Legion") nos oferece, de fato, uma história surpreendentemente potente que busca expandir o universo da franquia, mergulhando nas raízes do mal e que posteriormente levaria ao nascimento de Damien.
A trama acompanha a jovem americana Margaret (Nell Tiger Free), que é enviada a Roma para viver a serviço da igreja. No local, ela se afeiçoa por Carlita (Nicole Sorace), uma jovem quieta e sozinha, que também mora no convento. Ao questionar o passado e a situação da garota para as outras irmãs da igreja, ela é alertada para se manter afastada. No entanto, antes de seguir o conselho, Margaret se depara com práticas obscuras que a faz questionar sua fé. Com a ajuda de um padre exonerado, Brennan (Ralph Ineson), ela acaba descobrindo uma conspiração tenebrosa, que por anos foi ocultada pela igreja local, e que tentava esconder o inevitável: a volta do mal encarnado, o chamado Anticristo. Confira o trailer:
Com o claro objetivo de oferecer para uma nova audiência aquele olhar mais profundo sobre os eventos que antecedem o terror que se desenrola em "A Profecia", "The First Omen" (no original) entrega uma mistura de suspense psicológico com elementos sobrenaturais de encher os olhos. O roteiro, escrito por Stevenson ao lado de Tim Smith e de Keith Thomas, equilibra perfeitamente aquela gramática cinematográfica mais lenta do mistério e do suspense com momentos de terror realmente viscerais. Ao explorar temas como a fé, o destino e o eterno conflito entre o bem e o mal, utilizando a história de Katherine como uma lente para examinar questões mais amplas, "A Primeira Profecia" se escora no original, prestando a reverência necessária, mas sem se tornar obrigatório qualquer conhecimento prévio.
Arkasha Stevenson, em sua estreia como diretora de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de crescente tensão e desconforto. A diretora utiliza uma abordagem visual estilizada, com uma paleta de cores sombria e uma cinematografia que enfatiza a claustrofobia e o isolamento. A direção de fotografia do Aaron Morton (de "A Morte do Demônio") é particularmente eficaz, utilizando luz e sombras para sugerir a presença de forças invisíveis e ameaçadoras. Aqui cabe um comentário: repare como o uso dos cenários e a atenção aos pequenos detalhes ajudam a construir uma sensação constante de inquietação - quando Margaret está trancada no quarto, por exemplo, a porta está cheia de marcas de unhas em um claro sinal de desespero. Nesse sentido,Nell Tiger Free merece elogios - no tom certo, ela é capaz de transmitir de forma eficaz toda a transformação de sua personagem, desde a incredulidade inicial até o reconhecimento inevitável do horror que a cerca. Sua performance é fundamentada em uma autenticidade emocional que ancora o filme, tornando Katherine uma protagonista cheia de camadas.
"A Primeira Profecia" não está isenta de críticas - o ritmo do filme pode soar deliberadamente lento para alguns, no entanto, o que mais incomoda é a previsibilidade do roteiro. Penso que faltou um pouco de sensibilidade ou talvez até um certo grau de experiência para Stevenson controlar melhor nossas expectativas. Mas isso impacta na nossa experiência? Não muito, desde que você embarque na proposta da diretora - especialmente se você conhece o filme original. Em suma, "A Primeira Profecia" é uma adição digna ao universo de "A Profecia", uma exploração rica das origens do mal que assombrou e conduziu a franquia durante anos. Tenho certeza que para os fãs do suspense, aqueles que gostam de tomar alguns sustos mesmo e de se sentir provocados visualmente, "A Primeira Profecia" vai valer muito o play!
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A Terapia" (que ganhou o egocêntrico subtítulo de "por Sebastian Fitzek" atestando ser uma adaptação do seu best-seller) é uma espécie de drama psicológico bem anos 90, mas com aquele toque inconfundível de Harlan Coben - que nesse caso entrega seis episódios de entretenimento puro, com muito mistério e algum suspense, mas que vai exigir uma boa dose de abstração da realidade para embarcar na proposta do autor. Criada pelo Alexander M. Rümelin (de "Transporter: The Series"), essa produção alemã é muito bem realizada e de fato nos prende por uma série de gatilhos narrativos que parte de um caso de desaparecimento chocante que vai ganhando força com uma série de desdobramentos inesperados, nos provocando algumas boas horas de suposições e teorias até sermos surpreendidos por seu desfecho - mas atenção: muitas das soluções apresentadas durante a história você já viu em algum lugar, então não espere algo absurdamente inovador; o que vale aqui é a diversão!
"A Terapia" segue a jornada do renomado psicoterapeuta Viktor Larenz (Stephan Kampwirth) cuja vida é abalada quando sua filha Jose (Helena Zengel) desaparece misteriosamente. Consumido pela culpa e pela dor, Larenz decide se isolar em uma ilha, onde um encontro inesperado com a misteriosa Anna Spiegel (Emma Bading) desencadeia vários eventos perturbadores e à medida que alguns segredos são desvendados, a linha entre a realidade e imaginação se torna cada vez mais tênue. Confira o trailer (em alemão):
Olhar para "A Terapia, por Sebastian Fitzek" e não se impressionar com a maneira como sua narrativa desafia nossas expectativas como audiência, soa improvável desde o primeiro episódio - para não dizer desde o trailer (mesmo sem entender uma única palavra em alemão). Sim, esse é o mood que nos acompanha durante quase 6 horas em uma trama repleta de reviravoltas imprevisíveis que nos convida constantemente a questionar aquela realidade que o protagonista está inserido - olha, é uma sensação meio "Lost", meio "O Sexto Sentido", para ficar apenas nos clássicos do mistério.
A direção de arte e a fotografia são realmente de tirar o fôlego, criando uma composição entre "forma" e "conteúdo" bastante envolvente. Dirigida por Thor Freudenthal (de ""Carnival Row") e Iván Sáinz-Pardo (do premiadíssimo curta-metragem "Simones Labyrinth"), a minissérie é um primor estético com cenas cuidadosamente elaboradas para refletir toda a tensão psicológica que permeia a história. Minha única crítica diz respeito as performances dos atores. Tirando Stephan Kampwirth e Helena Zengel (a garotinha apaixonante de "Relatos do Mundo" que agora cresceu) que entregam convincentes e complexos personagens, todo o elenco de apoio é bem mediano, eu diria até estereotipados demais. A trilha sonora e a edição de som até que ajudam a minimizar a limitação de parte do elenco, complementando uma atmosfera sombria que eleva nossa experiência, mas em alguns momentos você sente a falta de alma, sabe?
A verdade é que "A Terapia" é muito mais uma jornada intensa e misteriosa, que desafia e cativa, do que uma obra-prima narrativa como "Dark", por exemplo. A sua estrutura, habilmente construída por Fitzek em seu livro, é bem adaptada para as telas, mantendo a proposta envolvente do quebra-cabeça psicológico que nos prende do início ao fim, combinando elementos técnicos excepcionais com performances medianas, mas que entregam uma ótima experiência - especialmente a partir do terceiro episódio quando entendemos o caminho que estamos percorrendo. Para os amantes do drama psicológico, investigativo, com certo suspense e uma pitada de sobrenatural, esse é um "play" que vale embarcar.
"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!
Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.
O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:
Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.
Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!
"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!
Vale muito a pena!
"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!
Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.
O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:
Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.
Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!
"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!
Vale muito a pena!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!
Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive).
Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!
Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!
Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!
Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive).
Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!
Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!