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Observador

Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que  "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs". 

A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.

Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia. 

Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.

"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que  "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs". 

A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.

Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia. 

Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.

"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.

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Os Segredos que Guardamos

Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Padre Stu

"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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Pistorius

Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.

Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.

Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum  julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).

O fato é que  "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!

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Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.

Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.

Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum  julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).

O fato é que  "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!

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Querida Alice

Querida Alice

Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Querido Menino

"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!

O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:

"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?

O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen. 

Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!

"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.

Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!

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"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!

O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:

"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?

O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen. 

Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!

"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.

Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!

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Reacher

"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.

Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:

Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.

Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.

Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!

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"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.

Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:

Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.

Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.

Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!

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Remando para o Ouro

Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

Vale seu play!

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Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

Vale seu play!

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Réquiem para um Sonho

Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.

"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.

O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão  emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.

"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável.  Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.

Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!

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Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.

"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.

O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão  emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.

"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável.  Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.

Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!

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Respire Fundo

"Respire Fundo" é um retrato silencioso sobre a depressão - ou seja, essa será uma jornada dolorosa, então se você for sensível ao assunto, definitivamente esse filme não é para você.

Bem na linha de "Tully", o filme de estreia da promissora diretora e roteirista Amy Koppelman, aborda um lado pouco discutido da maternidade e como o pós-parto pode potencializar alguns gatilhos bastante sensíveis para algumas mulheres. Ao romantizar a maternidade, deixa-se de lado uma nova realidade, difícil e solitária, mesmo que você tenha uma rede de apoio como a que personagem Julie (Amanda Seyfried) possui, com um marido presente como Ethan (Finn Witrock) e uma mãe dedicada como Bobbi (Amy Irving).

Julie Davis é uma famosa autora best-seller de livros infantis. Ela é carinhosa, gentil e amorosa com seu marido e com seu filho recém-nascido. Embora seus livros tratem de desvendar os medos da infância, ela não consegue lidar com um segredo que tem assombrado sua própria vida. Mas quando seu segundo filho nasce, alguns eventos trazem esse mistério à tona e com isso, Julie, inicia uma batalha esmagadora e poderosa pela sobrevivência. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no próprio livro de Koppelman, "A Mouthful of Air" (no original) merece muito cuidado em sua avaliação. Os elementos técnicos e artísticos são irretocáveis. Tanto a diretora quanto Seyfried são impecáveis ao explorar os dramas mais íntimos da personagem com muita sensibilidade e honestidade. Koppelman, aliás, evita a tentação de impactar visualmente, o que imprime uma certa sensação de angustia e ansiedade muito coerente com o que esta sendo discutido na tela. Os enquadramentos bem construídos pelo fotógrafo Frank G. DeMarco (de "Até o Fim") dão a exata noção da profundidade do problema sem ao menos mostrar suas consequências mais cruéis.

O roteiro transforma a experiência de assistir “Respire Fundo” em algo muito difícil ao mesmo tempo em que também traz um certo (e bem vindo) didatismo para o assunto. Ver alguém se desintegrando, apesar de ter um futuro lindo pela frente, e estar vivendo um dos momentos mais sublimes da vida de uma mulher, é de cortar o coração. Por outro lado, a dinâmica narrativa é muito inteligente ao buscar no passado algumas situações marcantes que, de alguma maneira, podem justificar o que está acontecendo no presente - e eu disse "podem", não que justifiquem. A reflexão sobre essas passagens bastante sutis dos flashbacks ajudam a construir um certo entendimento sobre a linha de conduta de Julie, mas em hipótese alguma devem servir como respostas - como a diretora sabe disso, ela se relaciona cinematograficamente com os fatos de uma maneira quase lúdica, colocando o filme em outro patamar: menos expositivo do que muitos poderiam esperar.

"Respire Fundo" é corajoso ao trazer um tom poético para uma realidade tão dura e de difícil aceitação. As escolhas conceituais da diretora dão a exata proporção de como a depressão é sorrateira sem precisar se apoiar em clichês. Eu diria que o filme é até mais importante do que inesquecível, mas seria injusto pela qualidade dramática que a história tem e pelas inúmeras sensações que a narrativa nos provoca!

Vale muito o seu play, mas esteja preparado!

Assista Agora

"Respire Fundo" é um retrato silencioso sobre a depressão - ou seja, essa será uma jornada dolorosa, então se você for sensível ao assunto, definitivamente esse filme não é para você.

Bem na linha de "Tully", o filme de estreia da promissora diretora e roteirista Amy Koppelman, aborda um lado pouco discutido da maternidade e como o pós-parto pode potencializar alguns gatilhos bastante sensíveis para algumas mulheres. Ao romantizar a maternidade, deixa-se de lado uma nova realidade, difícil e solitária, mesmo que você tenha uma rede de apoio como a que personagem Julie (Amanda Seyfried) possui, com um marido presente como Ethan (Finn Witrock) e uma mãe dedicada como Bobbi (Amy Irving).

Julie Davis é uma famosa autora best-seller de livros infantis. Ela é carinhosa, gentil e amorosa com seu marido e com seu filho recém-nascido. Embora seus livros tratem de desvendar os medos da infância, ela não consegue lidar com um segredo que tem assombrado sua própria vida. Mas quando seu segundo filho nasce, alguns eventos trazem esse mistério à tona e com isso, Julie, inicia uma batalha esmagadora e poderosa pela sobrevivência. Confira o trailer (em inglês):

Baseado no próprio livro de Koppelman, "A Mouthful of Air" (no original) merece muito cuidado em sua avaliação. Os elementos técnicos e artísticos são irretocáveis. Tanto a diretora quanto Seyfried são impecáveis ao explorar os dramas mais íntimos da personagem com muita sensibilidade e honestidade. Koppelman, aliás, evita a tentação de impactar visualmente, o que imprime uma certa sensação de angustia e ansiedade muito coerente com o que esta sendo discutido na tela. Os enquadramentos bem construídos pelo fotógrafo Frank G. DeMarco (de "Até o Fim") dão a exata noção da profundidade do problema sem ao menos mostrar suas consequências mais cruéis.

O roteiro transforma a experiência de assistir “Respire Fundo” em algo muito difícil ao mesmo tempo em que também traz um certo (e bem vindo) didatismo para o assunto. Ver alguém se desintegrando, apesar de ter um futuro lindo pela frente, e estar vivendo um dos momentos mais sublimes da vida de uma mulher, é de cortar o coração. Por outro lado, a dinâmica narrativa é muito inteligente ao buscar no passado algumas situações marcantes que, de alguma maneira, podem justificar o que está acontecendo no presente - e eu disse "podem", não que justifiquem. A reflexão sobre essas passagens bastante sutis dos flashbacks ajudam a construir um certo entendimento sobre a linha de conduta de Julie, mas em hipótese alguma devem servir como respostas - como a diretora sabe disso, ela se relaciona cinematograficamente com os fatos de uma maneira quase lúdica, colocando o filme em outro patamar: menos expositivo do que muitos poderiam esperar.

"Respire Fundo" é corajoso ao trazer um tom poético para uma realidade tão dura e de difícil aceitação. As escolhas conceituais da diretora dão a exata proporção de como a depressão é sorrateira sem precisar se apoiar em clichês. Eu diria que o filme é até mais importante do que inesquecível, mas seria injusto pela qualidade dramática que a história tem e pelas inúmeras sensações que a narrativa nos provoca!

Vale muito o seu play, mas esteja preparado!

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Risco de Voo

Se você gostou do documentário "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", certamente você vai gostar de "Risco de Voo" - essa produção funciona como uma espécie de continuação da elogiada produção da Netflix. Mesmo tocando em pontos similares, a forma é completamente diferente, criando um senso de complementariedade  que certamente vai fazer sentido para você que se interessa pelo assunto. Se em um o foco é a investigação sobre os acidentes com os dois 737 MAX da Boeing, o outro diz respeito as consequências desses acidentes na vida dos familiares e como advogados, ex-funcionários da empresa, jornalistas investigativos e políticos tentaram impedir que mais tragédias como essas acontecessem.

"Flight/Risk"(no original) acompanha a vida de pessoas comuns que se veem envolvidas em tragédias quando dois aviões Boeing 737 Max caem com diferença de apenas cinco meses em 2018 e 2019. Este impactante documentário é contado pela perspectiva de membros das famílias afetadas, seus representantes jurídicos, delatores da Boeing e de Dominic Gates, jornalista do Seattle Times e vencedor do prêmio Pulitzer. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo premiado e polêmico diretor Karim Amer (de "Privacidade Hackeada" e "The Vow") e que foi produtor de "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2013),  "Risco de Voo" é um verdadeiro soco no estômago! Toda a questão sobre a ganância dos executivos da Boeing, com o intuito de otimizar os processos de produção de novas aeronaves e assim alcançar metas que se transformariam em bônus exorbitantes, mesmo que para isso fosse necessário abrir mão da segurança, volta a ser discutida só que dessa vez com um peso emocional mais latente já que o envolvimento dos personagens aqui, parte sempre do elo mais fraco.

Com depoimentos de pessoas que estiveram envolvidas direta, ou indiretamente, aos eventos, o documentário constrói uma linha narrativa potente embora menos didática que "Queda Livre". Como Amer praticamente segue com sua câmera quatro personagens em suas respectivas cruzadas (cada qual com seu objetivo), a dinâmica da história fica muito fragmentada, em alguns momentos até incompleta; por outro lado, esse conceito impõe uma realidade extremamente brutal para o roteiro - o que transforma nossa experiência como audiência em algo mais visceral, dolorido.

A dor de uma filha que perdeu seu pai, aliás, é o ponto de partida. Zipporah Kuria é o rosto e a voz dos familiares; já o advogado Justin Green, luta para que todos parentes das vitimas tenham os mesmos direitos sobre as indenizações; enquanto isso o famoso repórter investigativo Dominic Gates, tenta encontrar mais provas sobre a relação direta entre os dois acidentes; e até o ex-funcionário da Boeing, Edward Pierson, que alertou os altos executivos sobre os riscos de colocar o 37 MAX nos céus, procura conviver com o peso de ter tido conhecimento do problema de segurança e não ter sido ouvido, o que o faz entrar em um forte embate com FAA (Federal Aviation Administration), órgão que deveria inspecionar as atividades da empresa, mas não o fez por influências politicas - são essas as histórias que se cruzam e que se completam em uma atmosfera de muita tristeza e ganância, que mais uma vez coloca a vida humana em segundo plano.

Vale muito o seu play, mas esteja preparado para uma jornada pesada!

Assista Agora

Se você gostou do documentário "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", certamente você vai gostar de "Risco de Voo" - essa produção funciona como uma espécie de continuação da elogiada produção da Netflix. Mesmo tocando em pontos similares, a forma é completamente diferente, criando um senso de complementariedade  que certamente vai fazer sentido para você que se interessa pelo assunto. Se em um o foco é a investigação sobre os acidentes com os dois 737 MAX da Boeing, o outro diz respeito as consequências desses acidentes na vida dos familiares e como advogados, ex-funcionários da empresa, jornalistas investigativos e políticos tentaram impedir que mais tragédias como essas acontecessem.

"Flight/Risk"(no original) acompanha a vida de pessoas comuns que se veem envolvidas em tragédias quando dois aviões Boeing 737 Max caem com diferença de apenas cinco meses em 2018 e 2019. Este impactante documentário é contado pela perspectiva de membros das famílias afetadas, seus representantes jurídicos, delatores da Boeing e de Dominic Gates, jornalista do Seattle Times e vencedor do prêmio Pulitzer. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo premiado e polêmico diretor Karim Amer (de "Privacidade Hackeada" e "The Vow") e que foi produtor de "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2013),  "Risco de Voo" é um verdadeiro soco no estômago! Toda a questão sobre a ganância dos executivos da Boeing, com o intuito de otimizar os processos de produção de novas aeronaves e assim alcançar metas que se transformariam em bônus exorbitantes, mesmo que para isso fosse necessário abrir mão da segurança, volta a ser discutida só que dessa vez com um peso emocional mais latente já que o envolvimento dos personagens aqui, parte sempre do elo mais fraco.

Com depoimentos de pessoas que estiveram envolvidas direta, ou indiretamente, aos eventos, o documentário constrói uma linha narrativa potente embora menos didática que "Queda Livre". Como Amer praticamente segue com sua câmera quatro personagens em suas respectivas cruzadas (cada qual com seu objetivo), a dinâmica da história fica muito fragmentada, em alguns momentos até incompleta; por outro lado, esse conceito impõe uma realidade extremamente brutal para o roteiro - o que transforma nossa experiência como audiência em algo mais visceral, dolorido.

A dor de uma filha que perdeu seu pai, aliás, é o ponto de partida. Zipporah Kuria é o rosto e a voz dos familiares; já o advogado Justin Green, luta para que todos parentes das vitimas tenham os mesmos direitos sobre as indenizações; enquanto isso o famoso repórter investigativo Dominic Gates, tenta encontrar mais provas sobre a relação direta entre os dois acidentes; e até o ex-funcionário da Boeing, Edward Pierson, que alertou os altos executivos sobre os riscos de colocar o 37 MAX nos céus, procura conviver com o peso de ter tido conhecimento do problema de segurança e não ter sido ouvido, o que o faz entrar em um forte embate com FAA (Federal Aviation Administration), órgão que deveria inspecionar as atividades da empresa, mas não o fez por influências politicas - são essas as histórias que se cruzam e que se completam em uma atmosfera de muita tristeza e ganância, que mais uma vez coloca a vida humana em segundo plano.

Vale muito o seu play, mas esteja preparado para uma jornada pesada!

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Rivais

"Rivais" poderia ter cinco minutos a menos, mas ainda assim é muito bom - agora é preciso que se diga: o filme é uma versão de "Closer", mais adolescente e no universo do tênis profissional. É isso, "Challengers" (no original) é um drama que se destaca pelo paralelo que constrói entre uma relação de casal e o intrigante mundo do tênis, obviamente, indo além do esporte para explorar questões como a ambição e os reflexos de um complexo triângulo emocional entre seus personagens principais. Lançado em 2024, o filme dirigido por Luca Guadagnino combina sua estética visual única com um enredo que mescla romance, tensão e angústia.

A história segue Tashi Duncan (Zendaya), uma ex-jogadora de tênis prodígio que, após uma grave lesão que a impede de continuar jogando, se torna treinadora de seu marido, Art (Mike Faist), um atleta em crise de confiança. O relacionamento deles começa a desmoronar quando Art é forçado a competir contra Patrick (Josh O'Connor), seu ex-melhor amigo e também ex-namorado de Tashi. À medida que o torneio avança, as tensões entre o trio aumentam, misturando ressentimentos passados, ciúmes e rivalidades pessoais onde a necessidade de vitória vai muito além do esporte. Confira o trailer:

Um fato: o filme não é sobre tênis, mas sobre as relações interpessoais e os conflitos que surgem no meio de uma pressão imensa. Guadagnino usa do esporte apenas como um pano de fundo para explorar cuidadosamente os altos e baixos dos relacionamentos, principalmente na dinâmica, através dos anos, entre Tashi, Art e Patrick. O tênis, nesse caso, é mais uma metáfora para a competitividade que permeia todas as esferas da vida - seja no campo profissional, amoroso ou pessoal. A direção de Guadagnino, para muitos, vai soar elegante e visualmente cativante. Ele utiliza a câmera para capturar não apenas a intensidade física das partidas de tênis (aqui pouco inspirado), mas também a intimidade emocional dos personagens (já aqui o que ele sabe fazer de melhor). As cenas dos jogos de tênis são coreografadas de maneira até vibrante, transmitindo a energia e a tensão da competição, mas são nos momentos mais silenciosos e introspectivos que Guadagnino realmente brilha - a forma como ele dirige seu elenco é genial. Repare na maneira como ele constrói o suspense emocional entre os personagens - é muito Mike Nichols (diretor de "Closer").

Zendaya mais uma vez se destaca, retratando uma personagem forte, ambiciosa e, ao mesmo tempo, emocionalmente vulnerável e de caráter duvidoso. Sua atuação é complexa, já que Tashi é uma mulher que manipula os dois homens ao longo de sua vida para alcançar seus próprios objetivos, mas também é alguém que carrega o peso de suas próprias inseguranças e arrependimentos. A relação de Tashi com Art e Patrick é marcada por uma mistura de paixão, traição e desejo, e Zendaya consegue equilibrar perfeitamente esses elementos de forma convincente, tornando sua personagem fascinante de acompanhar - uma mistura de Alice (Natalie Portman) com Anna (Julia Roberts) para ficar só em "Closer".

Embora o roteiro possa parecer um tanto previsível em alguns momentos, especialmente nas reviravoltas emocionais que envolvem o triângulo amoroso, os diálogos são muito bem escritos e as motivações dos personagens soam compreensíveis - a sacada do simbolismo da raquete no final do terceiro ato é uma golaço de Justin Kuritzkes (em seu primeiro texto para o cinema). O enredo segue uma trajetória que pode ser antecipada pela audiência, especialmente para aqueles familiarizados com dramas de relações que envolvem rivalidades amorosas, ainda assim, "Rivais" consegue se sustentar por mais de 120 minutos - em grande parte devido às atuações poderosas e à habilidade de Guadagnino de criar uma atmosfera emocional das mais intensas.

Vale muito o seu play!

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"Rivais" poderia ter cinco minutos a menos, mas ainda assim é muito bom - agora é preciso que se diga: o filme é uma versão de "Closer", mais adolescente e no universo do tênis profissional. É isso, "Challengers" (no original) é um drama que se destaca pelo paralelo que constrói entre uma relação de casal e o intrigante mundo do tênis, obviamente, indo além do esporte para explorar questões como a ambição e os reflexos de um complexo triângulo emocional entre seus personagens principais. Lançado em 2024, o filme dirigido por Luca Guadagnino combina sua estética visual única com um enredo que mescla romance, tensão e angústia.

A história segue Tashi Duncan (Zendaya), uma ex-jogadora de tênis prodígio que, após uma grave lesão que a impede de continuar jogando, se torna treinadora de seu marido, Art (Mike Faist), um atleta em crise de confiança. O relacionamento deles começa a desmoronar quando Art é forçado a competir contra Patrick (Josh O'Connor), seu ex-melhor amigo e também ex-namorado de Tashi. À medida que o torneio avança, as tensões entre o trio aumentam, misturando ressentimentos passados, ciúmes e rivalidades pessoais onde a necessidade de vitória vai muito além do esporte. Confira o trailer:

Um fato: o filme não é sobre tênis, mas sobre as relações interpessoais e os conflitos que surgem no meio de uma pressão imensa. Guadagnino usa do esporte apenas como um pano de fundo para explorar cuidadosamente os altos e baixos dos relacionamentos, principalmente na dinâmica, através dos anos, entre Tashi, Art e Patrick. O tênis, nesse caso, é mais uma metáfora para a competitividade que permeia todas as esferas da vida - seja no campo profissional, amoroso ou pessoal. A direção de Guadagnino, para muitos, vai soar elegante e visualmente cativante. Ele utiliza a câmera para capturar não apenas a intensidade física das partidas de tênis (aqui pouco inspirado), mas também a intimidade emocional dos personagens (já aqui o que ele sabe fazer de melhor). As cenas dos jogos de tênis são coreografadas de maneira até vibrante, transmitindo a energia e a tensão da competição, mas são nos momentos mais silenciosos e introspectivos que Guadagnino realmente brilha - a forma como ele dirige seu elenco é genial. Repare na maneira como ele constrói o suspense emocional entre os personagens - é muito Mike Nichols (diretor de "Closer").

Zendaya mais uma vez se destaca, retratando uma personagem forte, ambiciosa e, ao mesmo tempo, emocionalmente vulnerável e de caráter duvidoso. Sua atuação é complexa, já que Tashi é uma mulher que manipula os dois homens ao longo de sua vida para alcançar seus próprios objetivos, mas também é alguém que carrega o peso de suas próprias inseguranças e arrependimentos. A relação de Tashi com Art e Patrick é marcada por uma mistura de paixão, traição e desejo, e Zendaya consegue equilibrar perfeitamente esses elementos de forma convincente, tornando sua personagem fascinante de acompanhar - uma mistura de Alice (Natalie Portman) com Anna (Julia Roberts) para ficar só em "Closer".

Embora o roteiro possa parecer um tanto previsível em alguns momentos, especialmente nas reviravoltas emocionais que envolvem o triângulo amoroso, os diálogos são muito bem escritos e as motivações dos personagens soam compreensíveis - a sacada do simbolismo da raquete no final do terceiro ato é uma golaço de Justin Kuritzkes (em seu primeiro texto para o cinema). O enredo segue uma trajetória que pode ser antecipada pela audiência, especialmente para aqueles familiarizados com dramas de relações que envolvem rivalidades amorosas, ainda assim, "Rivais" consegue se sustentar por mais de 120 minutos - em grande parte devido às atuações poderosas e à habilidade de Guadagnino de criar uma atmosfera emocional das mais intensas.

Vale muito o seu play!

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Rocky

Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!

"Rocky", sem dúvida alguma, é um dos filmes mais icônicos da história. Um filme que além de ser muito bem construído narrativamente, ainda consolidou Sylvester Stallone como uma estrela mundial e criou uma franquia que redefiniu o gênero de esportes no cinema. Com um roteiro eficaz, escrito pelo próprio Stallone, "Rocky" vai além de uma história de boxe, oferecendo um retrato profundamente humano de perseverança, de superação e de luta pela dignidade pela perspectiva mais intima de seu protagonista. O filme é realmente surpreendente nesse sentido - hoje fica ainda mais claro entender a razão de ter conquistado o coração de milhões de pessoas e ainda ter levado para casa três Oscars (depois de 10 indicações), incluindo o de "Melhor Filme" e de "Melhor Diretor", tornando-se um marco da cultura pop.

A história gira em torno de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um lutador amador de boxe da Filadélfia que trabalha como cobrador de dívidas para a máfia local. Sua vida é marcada por frustrações, falta de oportunidades e uma carreira no boxe que nunca decolou. No entanto, sua sorte muda quando o campeão mundial de pesos pesados, Apollo Creed (Carl Weathers), decide lhe dar uma chance de lutar pelo título como uma jogada de marketing para manter a atenção do público. O que começa como uma manobra publicitária acaba se tornando um conto inspirador sobre perseverança e espírito de luta, à medida que Rocky se prepara para o maior combate de sua vida. Confira o trailer e segura esse coração:

Lançado em 1976 e dirigido pelo John G. Avildsen (de "Karatê Kid - A Hora da Verdade"), "Rocky", é preciso dizer, tem uma narrativa que é movida por uma simplicidade que acerta na mosca ao capturar o espírito do “sonho americano” de uma maneira sincera e autêntica. A história não é sobre a vitória, mas sobre a luta. Rocky Balboasabe que não tem chance de vencer Apollo, um boxeador altamente talentoso e arrogante, mas ele decide lutar para provar para si mesmo que pode durar pelo menos os 15 rounds, mostrando que a verdadeira vitória está em dar o melhor de si. Essa simplicidade de propósito, que hoje pode parecer até piegas, combinada com a força emocional de um personagem complexo, ressoa com a audiência e dá ao filme sua força que depois virou receita de sucesso para filmes, digamos, menos inspirados.

A direção de John G. Avildsen é muito eficaz, focada em criar um realismo em torno da vida de Rocky e da Filadélfia, uma cidade que funciona perfeitamente como cenário nesse processo de superação - repare como ela ganha vida e importância metafórica durante a jornada do protagonista (Filadélfia não é Nova York e muito menos Los Angeles. Até ali, Filadélfia era só a Filadélfia). Repare como a câmera segue Rocky pelas ruas geladas, pelos becos sombrios e pelos ambientes modestos, o que contribui para a sensação de autenticidade e proximidade com o público. O treinamento de Rocky, especialmente na famosa sequência da subida das escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, tornou-se um momento icônico, simbolizando o espírito de luta e a determinação que um atleta precisa para vencer. Sylvester Stallone, em um papel que ele próprio escreveu e para qual lutou muito até ser escalado, dá vida a Rocky Balboa com uma honestidade crua e cativante. Stallone evita o clichê do herói invencível, retratando Rocky como um homem simples, com sonhos pequenos, mas com um coração gigante. Sua vulnerabilidade e humildade tornam o personagem incrivelmente inspirador. Além de Stallone, Talia Shire, como Adrian, o interesse amoroso de Rocky, traz uma atuação delicada e sensível. A relação entre Rocky e Adrian, construída com ternura e timidez, é um dos pilares emocionais do filme. Burt Young, como Paulie, e Burgess Meredith, como Mickey, também merecem destaque por suas performances memoráveis.

Dois pontos precisam ser citados antes de concluirmos: o primeiro é sobre o confronto final entre Rocky e Creed - a coreografia da luta é realista ao ponto de sentirmos os golpes pesados e os momentos de exaustão física que refletem a brutalidade do boxe profissional. E o segundo, é a inesquecível trilha sonora composta por Bill Conti - a música-tema "Gonna Fly Now", que acompanha a sequência de treinamento, tornou-se um dos temas mais reconhecidos e inspiradores da história do cinema - e é essa trilha sonora que reforça a atmosfera emocional e heróica do filme, elevando momentos chave da narrativa a um patamar invejável de empolgação! Ah, mas alguns podem argumentar que o filme, em seu desejo de ser inspirador, recorre a alguns clichês de histórias de superação e tal! Ok, essas pessoas estão certas, mas estamos falando de um filme onde, em sua essência, um homem que foi deixado para trás pela sociedade, sem muitas opções de futuro, consegue ascender na vida e assim refletir a esperança universal de que qualquer um, se tiver a oportunidade certa, pode alcançar algo maior. Funciona!

"Rocky" transcende qualquer discurso motivacional para se tornar um marco que fará você sorrir enquanto os créditos sobem!

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Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!

"Rocky", sem dúvida alguma, é um dos filmes mais icônicos da história. Um filme que além de ser muito bem construído narrativamente, ainda consolidou Sylvester Stallone como uma estrela mundial e criou uma franquia que redefiniu o gênero de esportes no cinema. Com um roteiro eficaz, escrito pelo próprio Stallone, "Rocky" vai além de uma história de boxe, oferecendo um retrato profundamente humano de perseverança, de superação e de luta pela dignidade pela perspectiva mais intima de seu protagonista. O filme é realmente surpreendente nesse sentido - hoje fica ainda mais claro entender a razão de ter conquistado o coração de milhões de pessoas e ainda ter levado para casa três Oscars (depois de 10 indicações), incluindo o de "Melhor Filme" e de "Melhor Diretor", tornando-se um marco da cultura pop.

A história gira em torno de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um lutador amador de boxe da Filadélfia que trabalha como cobrador de dívidas para a máfia local. Sua vida é marcada por frustrações, falta de oportunidades e uma carreira no boxe que nunca decolou. No entanto, sua sorte muda quando o campeão mundial de pesos pesados, Apollo Creed (Carl Weathers), decide lhe dar uma chance de lutar pelo título como uma jogada de marketing para manter a atenção do público. O que começa como uma manobra publicitária acaba se tornando um conto inspirador sobre perseverança e espírito de luta, à medida que Rocky se prepara para o maior combate de sua vida. Confira o trailer e segura esse coração:

Lançado em 1976 e dirigido pelo John G. Avildsen (de "Karatê Kid - A Hora da Verdade"), "Rocky", é preciso dizer, tem uma narrativa que é movida por uma simplicidade que acerta na mosca ao capturar o espírito do “sonho americano” de uma maneira sincera e autêntica. A história não é sobre a vitória, mas sobre a luta. Rocky Balboasabe que não tem chance de vencer Apollo, um boxeador altamente talentoso e arrogante, mas ele decide lutar para provar para si mesmo que pode durar pelo menos os 15 rounds, mostrando que a verdadeira vitória está em dar o melhor de si. Essa simplicidade de propósito, que hoje pode parecer até piegas, combinada com a força emocional de um personagem complexo, ressoa com a audiência e dá ao filme sua força que depois virou receita de sucesso para filmes, digamos, menos inspirados.

A direção de John G. Avildsen é muito eficaz, focada em criar um realismo em torno da vida de Rocky e da Filadélfia, uma cidade que funciona perfeitamente como cenário nesse processo de superação - repare como ela ganha vida e importância metafórica durante a jornada do protagonista (Filadélfia não é Nova York e muito menos Los Angeles. Até ali, Filadélfia era só a Filadélfia). Repare como a câmera segue Rocky pelas ruas geladas, pelos becos sombrios e pelos ambientes modestos, o que contribui para a sensação de autenticidade e proximidade com o público. O treinamento de Rocky, especialmente na famosa sequência da subida das escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, tornou-se um momento icônico, simbolizando o espírito de luta e a determinação que um atleta precisa para vencer. Sylvester Stallone, em um papel que ele próprio escreveu e para qual lutou muito até ser escalado, dá vida a Rocky Balboa com uma honestidade crua e cativante. Stallone evita o clichê do herói invencível, retratando Rocky como um homem simples, com sonhos pequenos, mas com um coração gigante. Sua vulnerabilidade e humildade tornam o personagem incrivelmente inspirador. Além de Stallone, Talia Shire, como Adrian, o interesse amoroso de Rocky, traz uma atuação delicada e sensível. A relação entre Rocky e Adrian, construída com ternura e timidez, é um dos pilares emocionais do filme. Burt Young, como Paulie, e Burgess Meredith, como Mickey, também merecem destaque por suas performances memoráveis.

Dois pontos precisam ser citados antes de concluirmos: o primeiro é sobre o confronto final entre Rocky e Creed - a coreografia da luta é realista ao ponto de sentirmos os golpes pesados e os momentos de exaustão física que refletem a brutalidade do boxe profissional. E o segundo, é a inesquecível trilha sonora composta por Bill Conti - a música-tema "Gonna Fly Now", que acompanha a sequência de treinamento, tornou-se um dos temas mais reconhecidos e inspiradores da história do cinema - e é essa trilha sonora que reforça a atmosfera emocional e heróica do filme, elevando momentos chave da narrativa a um patamar invejável de empolgação! Ah, mas alguns podem argumentar que o filme, em seu desejo de ser inspirador, recorre a alguns clichês de histórias de superação e tal! Ok, essas pessoas estão certas, mas estamos falando de um filme onde, em sua essência, um homem que foi deixado para trás pela sociedade, sem muitas opções de futuro, consegue ascender na vida e assim refletir a esperança universal de que qualquer um, se tiver a oportunidade certa, pode alcançar algo maior. Funciona!

"Rocky" transcende qualquer discurso motivacional para se tornar um marco que fará você sorrir enquanto os créditos sobem!

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Sabor da Vida

"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.

Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:

"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).

Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.

Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!

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"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.

Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:

"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).

Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.

Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!

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Saltburn

"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".

Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:

"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).

Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.

Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.

Vale muito o seu play!

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"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".

Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:

"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).

Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.

Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.

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Samaritano

Se você gosta de HQs de heróis, você vai gostar de "Samaritano" - e cito HQs, pois como você deve saber, a construção da história nos quadrinhos é completamente diferente de um roteiro cinematográfico, ou seja, o filme do diretor Julius Avery (de "Operação Overlord") prioriza a criação de uma atmosfera de ação e fantasia sem a necessidade de se aprofundar nos detalhes, sejam eles visuais ou narrativos - aqui os diálogos são, em sua maioria, curtos, diretos, expositivos e previsíveis; focando na expectativa da transformação dos protagonistas e só. Então, não espere algo cheio de camadas como em "Corpo Fechado" do Shyamalan, por exemplo, "Samaritano" está mais para aquele tipo de entretenimento mais puro!

Sam Cleary (Javon "Wanna" Walton), um garoto de 13 anos, suspeita que seu vizinho misterioso e solitário, o Sr. Smith (Sylvester Stallone) é, na verdade, o lendário vigilante Samaritano, que foi dado como morto há 25 anos. Com o crime em ascensão e a sociedade à beira do caos, Sam toma como sua missão persuadir seu vizinho a sair do esconderijo para salvar a cidade da ruína. Confira o trailer:

“Samaritano”, na verdade, se baseia em algumas HQs independentes da pequena editora americana Mythos Comics, que foram publicadas a partir de 2015, se apoiando no conceito do herói aposentado que busca não se envolver mais em problemas (impossível, mais uma vez, não lembrar de "Corpo Fechado"). Já o roteiro do Bragi F. Schut (de "Escape Room") que adaptou a história, propositalmente, trouxe a essência do gênero sem se preocupar em eliminar os esteriótipos - a sensação de já termos assistido algo muito parecido nos acompanha por todos os 90 minutos de filme.

Avery também parece não se preocupar com os impactos que um bom diálogo, entre bons atores, podem ter na narrativa. Stallone retoma sua performance "caras e bocas" ao melhor estilo anos 80 e Walton segue o mesmo tom juvenil que vimos no personagem Bastian (Barret Oliver) em "História sem fim" de 1984. Essa ingenuidade, característica daquela época que aprendia a se relacionar com a fantasia, pode incomodar parte da audiência acostumada com as produções mais elaboradas da DC ou da Marvel, porém, é preciso que se diga, a proposta desse filme é completamente outra - “Samaritano” não parece ter a pretensão de criar um universo (embora certamente terá uma continuação e até uma série poderia cair muito bem), o que lhe permite ficar na superficialidade do drama e da construção de uma mitologia que não precisará ser revisitada no futuro.

Resumindo, “Samaritano” é sim uma história que tem seus méritos, principalmente se você embarcar no que ela se propõe desde o seu prólogo. Os personagens são bons, os atores carismáticos, visualmente o filme é bonito (mesmo com alguma limitação de orçamento), existe uma certa criatividade estética e uma dinâmica bem elaborada que nos faz curtir o filme sem se apegar ao tempo. Como entretenimento de nicho (bem de nicho), eu não só não descartaria, como indico sem receio de errar.

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Se você gosta de HQs de heróis, você vai gostar de "Samaritano" - e cito HQs, pois como você deve saber, a construção da história nos quadrinhos é completamente diferente de um roteiro cinematográfico, ou seja, o filme do diretor Julius Avery (de "Operação Overlord") prioriza a criação de uma atmosfera de ação e fantasia sem a necessidade de se aprofundar nos detalhes, sejam eles visuais ou narrativos - aqui os diálogos são, em sua maioria, curtos, diretos, expositivos e previsíveis; focando na expectativa da transformação dos protagonistas e só. Então, não espere algo cheio de camadas como em "Corpo Fechado" do Shyamalan, por exemplo, "Samaritano" está mais para aquele tipo de entretenimento mais puro!

Sam Cleary (Javon "Wanna" Walton), um garoto de 13 anos, suspeita que seu vizinho misterioso e solitário, o Sr. Smith (Sylvester Stallone) é, na verdade, o lendário vigilante Samaritano, que foi dado como morto há 25 anos. Com o crime em ascensão e a sociedade à beira do caos, Sam toma como sua missão persuadir seu vizinho a sair do esconderijo para salvar a cidade da ruína. Confira o trailer:

“Samaritano”, na verdade, se baseia em algumas HQs independentes da pequena editora americana Mythos Comics, que foram publicadas a partir de 2015, se apoiando no conceito do herói aposentado que busca não se envolver mais em problemas (impossível, mais uma vez, não lembrar de "Corpo Fechado"). Já o roteiro do Bragi F. Schut (de "Escape Room") que adaptou a história, propositalmente, trouxe a essência do gênero sem se preocupar em eliminar os esteriótipos - a sensação de já termos assistido algo muito parecido nos acompanha por todos os 90 minutos de filme.

Avery também parece não se preocupar com os impactos que um bom diálogo, entre bons atores, podem ter na narrativa. Stallone retoma sua performance "caras e bocas" ao melhor estilo anos 80 e Walton segue o mesmo tom juvenil que vimos no personagem Bastian (Barret Oliver) em "História sem fim" de 1984. Essa ingenuidade, característica daquela época que aprendia a se relacionar com a fantasia, pode incomodar parte da audiência acostumada com as produções mais elaboradas da DC ou da Marvel, porém, é preciso que se diga, a proposta desse filme é completamente outra - “Samaritano” não parece ter a pretensão de criar um universo (embora certamente terá uma continuação e até uma série poderia cair muito bem), o que lhe permite ficar na superficialidade do drama e da construção de uma mitologia que não precisará ser revisitada no futuro.

Resumindo, “Samaritano” é sim uma história que tem seus méritos, principalmente se você embarcar no que ela se propõe desde o seu prólogo. Os personagens são bons, os atores carismáticos, visualmente o filme é bonito (mesmo com alguma limitação de orçamento), existe uma certa criatividade estética e uma dinâmica bem elaborada que nos faz curtir o filme sem se apegar ao tempo. Como entretenimento de nicho (bem de nicho), eu não só não descartaria, como indico sem receio de errar.

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Seberg

"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.

Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:

O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!

O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!

Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!

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"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.

Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:

O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!

O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!

Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!

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Sede Assassina

Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.

Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:

Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.

Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.

Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.

Vale seu play! 

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Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.

Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:

Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.

Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.

Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.

Vale seu play! 

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Segredos de um Escândalo

Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.

Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:

Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.

A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade. 

"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.

Vale seu play!

Assista Agora

Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.

Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:

Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.

A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade. 

"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.

Vale seu play!

Assista Agora

Segunda Chance

Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com  toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!

O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:

Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.

O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.

"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!

Assista Agora

Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com  toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!

O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:

Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.

O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.

"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!

Assista Agora