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Spotlight

"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

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Tales from the Loop

"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:

"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!

"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!

A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.

No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home". 

"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético! 

Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!

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"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:

"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!

"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!

A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.

No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home". 

"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético! 

Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!

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Tese sobre um Homicídio

"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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The Boys

Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.

"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.

 

Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido   Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!

Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!

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Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.

"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.

 

Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido   Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!

Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!

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The Looming Tower

The Looming Tower

"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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The Night Manager

Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

Olha, vale muito o seu play!

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Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

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The Voyeurs

Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Them

"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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Time

"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

Assista Agora 

"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

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Tio Frank

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

Assista Agora

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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Treze Vidas

O senso de urgência que experienciamos ao assistir "Treze Vidas" é impressionante - muito similar ao "127 Horas", premiado filme de 2010 do diretor Danny Boyle, porém pelo prisma de quem está fora do problema em si. Essa excelente produção da Amazon tem alguns elementos que só potencializam o nosso envolvimento com a história: primeiro por ser um fato recente (que aconteceu em 2018) e segundo pelas vítimas serem crianças, o que mobilizou o mundo na busca por soluções que pudessem ajudar no sucesso do resgate - mais uma vez, nós queremos salvar, não sermos salvos! Olha, são duas horas e meia de filme onde você será incapaz de tirar os olhos da tela mesmo já sabendo o final.  

Baseado na história real que tocou o mundo, "Treze Vidas" é o relato emocionante do resgate de um time de futebol infantil da caverna Tham Luang, na Tailândia, onde doze crianças e seu treinador ficaram presos devido a um fenômeno meteorológico que antecipou as chuvas torrenciais na região, pegando o grupo de surpresa, impossibilitando qualquer tentativa de socorro graças a inundação do local. Confira o trailer:

Ron Howard (de "O Código Da Vinci") é um craque em criar narrativas que nos prendem à trama e nos fazem torcer pelos protagonistas desde o primeiro minuto. Dito isso, pode até parecer superficial sobre o que se esperar de "Thirteen Lives" (no original), mas não, Howard encontra o exato equilíbrio entre a potência de um drama real e a dinâmica de ação que a história pede. Ao lado do roteirista William Nicholson (de "Terra das Sombras") e baseado na história desenvolvida pelo Don MacPherson (de "Os Vingadores"), o diretor não perde tempo com apresentações de personagens ou se aprofunda nas motivações que fizeram os mergulhadores britânicos Rick Stanton (Viggo Mortensen) e John Volanthen (Colin Farrell) encararem esse desafio - eles criam mesmo é uma análise quase documental sobre os acontecimentos, não sobre os envolvidos.

A escolha de Howard em trabalhar boa parte do filme com tailandeses (muitos nem atores) em sua língua nativa, cria uma atmosfera de realidade muito interessante. Algumas das falas nem legendadas são e isso gera uma sensação de desconforto, de falta de informação, de angustia por noticias. Já em inglês, a relação dos mergulhadores com a marinha tailandesa funciona muito mais como um gatilho dramático do que como parte essencial da trama - a impressão que temos é que para existir um herói seria preciso criar um bandido e aqui não funcionou, pois o problema era muito maior e se sustentaria por si só.

"Treze Vidas" não se interessa em mostrar como a equipe de futebol ficou presa ou o que se passou com os jovens e seu treinador durante o período - o olhar do filme é o de quem ficou do lado de fora de Tham Luang e como o problema poderia ser resolvido. Ao mostrar todos os perigos que envolvem a missão de resgate, Howard deixa muito claro como a caverna alagada era perigosa, como aquele complexo labirinto claustrofóbico poderia ser fatal. Com o uso cirúrgico de uma inserção gráfica para ilustrar a caverna, temos a perfeita noção de como era complicado chegar aos jovens e pior, como era quase impossível tira-los de lá - afinal, um trajeto de mais de 6 horas embaixo da água, digamos que não é para qualquer um.

Obviamente que diversos momentos foram omitidos ou elipsados para que a história fosse mais objetiva - e funcionou. O desenho de produção e a fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (de "Me chame pelo seu nome") são invejáveis e ajudam a criar uma tensão quase insuportável para a audiência. O trabalho do elenco, embora não seja memorável, também não compromete - meu destaque, óbvio, fica com Mortensen. 

Resumindo, "Treze Vidas" é uma história sobre a sobrevivência humana contra todas as probabilidades de sucesso, que emociona na mesma dimensão que entretém! Vale muito o seu play!

PS: Para nós brasileiros um fato curioso: o roteiro usa a Copa do Mundo de 2018 como ferramenta para estabelecer a época que os eventos aconteceram e, infelizmente, a derrota do Brasil para a Bélgica aconteceu em um momento importante da história e por isso é citada algumas vezes! (rs)

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O senso de urgência que experienciamos ao assistir "Treze Vidas" é impressionante - muito similar ao "127 Horas", premiado filme de 2010 do diretor Danny Boyle, porém pelo prisma de quem está fora do problema em si. Essa excelente produção da Amazon tem alguns elementos que só potencializam o nosso envolvimento com a história: primeiro por ser um fato recente (que aconteceu em 2018) e segundo pelas vítimas serem crianças, o que mobilizou o mundo na busca por soluções que pudessem ajudar no sucesso do resgate - mais uma vez, nós queremos salvar, não sermos salvos! Olha, são duas horas e meia de filme onde você será incapaz de tirar os olhos da tela mesmo já sabendo o final.  

Baseado na história real que tocou o mundo, "Treze Vidas" é o relato emocionante do resgate de um time de futebol infantil da caverna Tham Luang, na Tailândia, onde doze crianças e seu treinador ficaram presos devido a um fenômeno meteorológico que antecipou as chuvas torrenciais na região, pegando o grupo de surpresa, impossibilitando qualquer tentativa de socorro graças a inundação do local. Confira o trailer:

Ron Howard (de "O Código Da Vinci") é um craque em criar narrativas que nos prendem à trama e nos fazem torcer pelos protagonistas desde o primeiro minuto. Dito isso, pode até parecer superficial sobre o que se esperar de "Thirteen Lives" (no original), mas não, Howard encontra o exato equilíbrio entre a potência de um drama real e a dinâmica de ação que a história pede. Ao lado do roteirista William Nicholson (de "Terra das Sombras") e baseado na história desenvolvida pelo Don MacPherson (de "Os Vingadores"), o diretor não perde tempo com apresentações de personagens ou se aprofunda nas motivações que fizeram os mergulhadores britânicos Rick Stanton (Viggo Mortensen) e John Volanthen (Colin Farrell) encararem esse desafio - eles criam mesmo é uma análise quase documental sobre os acontecimentos, não sobre os envolvidos.

A escolha de Howard em trabalhar boa parte do filme com tailandeses (muitos nem atores) em sua língua nativa, cria uma atmosfera de realidade muito interessante. Algumas das falas nem legendadas são e isso gera uma sensação de desconforto, de falta de informação, de angustia por noticias. Já em inglês, a relação dos mergulhadores com a marinha tailandesa funciona muito mais como um gatilho dramático do que como parte essencial da trama - a impressão que temos é que para existir um herói seria preciso criar um bandido e aqui não funcionou, pois o problema era muito maior e se sustentaria por si só.

"Treze Vidas" não se interessa em mostrar como a equipe de futebol ficou presa ou o que se passou com os jovens e seu treinador durante o período - o olhar do filme é o de quem ficou do lado de fora de Tham Luang e como o problema poderia ser resolvido. Ao mostrar todos os perigos que envolvem a missão de resgate, Howard deixa muito claro como a caverna alagada era perigosa, como aquele complexo labirinto claustrofóbico poderia ser fatal. Com o uso cirúrgico de uma inserção gráfica para ilustrar a caverna, temos a perfeita noção de como era complicado chegar aos jovens e pior, como era quase impossível tira-los de lá - afinal, um trajeto de mais de 6 horas embaixo da água, digamos que não é para qualquer um.

Obviamente que diversos momentos foram omitidos ou elipsados para que a história fosse mais objetiva - e funcionou. O desenho de produção e a fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (de "Me chame pelo seu nome") são invejáveis e ajudam a criar uma tensão quase insuportável para a audiência. O trabalho do elenco, embora não seja memorável, também não compromete - meu destaque, óbvio, fica com Mortensen. 

Resumindo, "Treze Vidas" é uma história sobre a sobrevivência humana contra todas as probabilidades de sucesso, que emociona na mesma dimensão que entretém! Vale muito o seu play!

PS: Para nós brasileiros um fato curioso: o roteiro usa a Copa do Mundo de 2018 como ferramenta para estabelecer a época que os eventos aconteceram e, infelizmente, a derrota do Brasil para a Bélgica aconteceu em um momento importante da história e por isso é citada algumas vezes! (rs)

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Triângulo da Tristeza

Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

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Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

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Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo

Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

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Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

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Twilight Zone

"Twilight Zone" da CBS (all access), distribuído pela Amazon Prime Vídeo aqui no Brasil, é uma grande homenagem ao clássico programa de 1959. Criada por Rod Serling, "Além da Imaginação", como ficou conhecido por aqui, possui episódios independentes que mostram histórias com personagens que por alguma razão existencial precisam enfrentar algum problema (normalmente apresentado de forma exagerada) tendo como pano de fundo elementos de suspense, mistério e fantasia. Eu diria que  "Twilight Zone" é a versão raiz de "Black Mirror" e essa nova versão soube equilibrar muito bem a tradição e o conceito narrativo da série com a modernidade e as ferramentas de um cinema quase autoral. O resultado, embora satisfatório, varia de acordo com os episódios - existe sim uma inconsistência, mas que vai depender do gosto e das preferências de quem assiste e aí é que a série navega com tranquilidade, pois talvez não seja uma unanimidade total, mas vai divertir e entreter na maior parte do tempo. É uma boa pedida para maratonar da mesma forma que funciona em episódios isolados! Vale seu play!

Um dos elementos que encontramos no DNA de "Twilight Zone" e que depois foi muito bem trabalhado em "Amazing Stories" de Steven Spielberg - que aliás já está repaginando o seu formato com a equipe da Amblim deve fazer seu lançamento ainda esse ano na Apple TV+ - é subtexto por trás de cada história central dos episódios. É fundamental para quem assiste, entender que a série usa desse artificio como justificativa para o exagero ou para o aproveitar seu direito de ser inexplicável! Nessa nova versão é muito fácil encontrar esse subtexto, mas em alguns episódios ele parece tão superficial que chegamos a duvidar da sua eficiência, mesmo com um elenco de peso. Vejamos:

- Episódio 1: O comediante Samir Wassan (Kumail Nanjiani - indicado ao Emmy 2019 como "melhor ator convidado") quer ser famoso a qualquer custo, mas para isso é preciso pagar um preço e o roteiro trabalha muito bem esse conceito que nos acompanha durante toda a vida: será que estamos dispostos a pagar o preço para nos diferenciarmos na multidão? A grande maioria não quer, mas os poucos que querem, em algum momento, se perguntam se valeu a pena, mas aí já pode ser tarde! - Para mim, esse é um dos melhores episódios dessa primeira temporada.

-  Episódio 2: O jornalista Justin Sanderson (Adam Scott) encontra uma gravação que fala sobre o futuro e como suas decisões podem afetar o destino do Voo 1015, onde ele á passageiro. O episódio mostra a luta contra o tempo e a angustia de um homem que sabe como ajudar, mas é incompreendido pelas suas ações - tão atual, não? 

- Episódio 3: Uma velha filmadora tem o poder de rebobinar o tempo e esse excelente episódio mostra como o racismo é tão incontrolável quanto a vida cotidiana. Sem dúvida um dos melhores episódios e que nos convida à uma reflexão profunda. Agora prepare-se, tenho a impressão que é a história mais visceral e sufocante da temporada. Muito dolorida!

-  Episódio 4: É Natal e em uma cidade militar do Alaska, um viajante misterioso chega para movimentar a noite e provocar os mais diversos sentimentos nas pessoas. Esse episódio é meio arrastado. Mesmo com momentos interessantes, a história não me convenceu, embora o subtexto seja um dos mais provocativos ao trazer para discussão a hipocrisia humana!

- Episódio 5: Um profissional responsável por campanhas eleitorais está quase em ruínas quando resolve criar um novo ícone para concorrer a presidência dos EUA: no caso uma criança de 11 anos. Outro tema muito atual: a discussão do populismo e da força das mídias sociais - mas a história não me pareceu muito inspirada. Basta lembrar que o próprio "Black Mirror" fez algo muito parecido, porém com muito mais habilidade e criatividade em “The Waldo Moment”!

- Episódio 6: O mais "ficção científica" da temporada mostra uma tripulação tendo que fazer escolhas a todo momento para chegar a marte depois que os EUA sofrem um ataque nuclear da China! Mais um episódio arrastado na minha opinião. O conceito é excelente, mas na prática criou poucos conflitos interessantes e o final, embora cause uma certa surpresa, me pareceu bobo.

- Episódio 7: Depois de um chuva de meteoros, surge uma infecção que transforma a maneira como os homens reagem a determinadas situações. O assunto "a masculinidade tóxica" é discutido aqui com muita criatividade. Talvez esse seja o episódio com mais elementos de terror da temporada.

- Episódio 8: Uma rica dona de casa é levada para um centro de detenção sem entender muito bem os motivos, o que mexe com sua realidade e com seu passado. A discussão sobre os violentos centros de detenção de imigrantes nos EUA é o pano de fundo dessa história. Mais uma vez: embora o assunto seja excelente, o resultado do episódio fica muito aquém do seu potencial. Esse episódio eu achei chato!

- Episódio 9: Um professor de antropologia encontra um revolver que parece ter vida própria, no pente uma bala com seu nome. Esse é um episódio bem intrigante, fala sobre as mudanças da vida e como isso pode interferir na personalidade das pessoas. É interessante, mas não surpreende.

- Episódio 10: A roteirista (ficticia) do "Twilight Zone" é assombrada por uma entidade que representa muito do seu passado. Esse episódio é muito mais interessante pela homenagem as origens da série do que propriamente por uma história magnifica construída para encerrar a temporada em alto estilo. Na verdade eu diria até que o episódio fraco, mas o resgate do gênero com uma pegada mais de suspense e sobrenatural carregam a trama até um final de certa forma nostálgico. 

De fato os episódios são muito bem produzidos, embora a maioria deles usem de um mesmo cenário para contar toda a história o que não seria um problema se o texto fosse muito bom - o que não é o caso! A dinâmica narrativa sofre com essa limitação e, certamente, acusa o golpe quando os roteiros são menos inspirados. Jordan Peele é o narrador perfeito para a série - tem o tom, as pausas dramáticas e uma postura enigmática, além de ser uma referência, ou melhor, a personificação do renascimento de um gênero que estava esquecido: o suspense fantástico!

Como disse anteriormente,  "Twilight Zone" é agradável como entretenimento, mas não é e nem será o fenômeno que foi no final dos anos 50. Talvez uma segunda temporada traga mais oxigênio para série, quem sabe diminuindo o tempo dos episódios ou cuidando melhor das histórias, mas independente de qualquer coisa, vale como divertimento.

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"Twilight Zone" da CBS (all access), distribuído pela Amazon Prime Vídeo aqui no Brasil, é uma grande homenagem ao clássico programa de 1959. Criada por Rod Serling, "Além da Imaginação", como ficou conhecido por aqui, possui episódios independentes que mostram histórias com personagens que por alguma razão existencial precisam enfrentar algum problema (normalmente apresentado de forma exagerada) tendo como pano de fundo elementos de suspense, mistério e fantasia. Eu diria que  "Twilight Zone" é a versão raiz de "Black Mirror" e essa nova versão soube equilibrar muito bem a tradição e o conceito narrativo da série com a modernidade e as ferramentas de um cinema quase autoral. O resultado, embora satisfatório, varia de acordo com os episódios - existe sim uma inconsistência, mas que vai depender do gosto e das preferências de quem assiste e aí é que a série navega com tranquilidade, pois talvez não seja uma unanimidade total, mas vai divertir e entreter na maior parte do tempo. É uma boa pedida para maratonar da mesma forma que funciona em episódios isolados! Vale seu play!

Um dos elementos que encontramos no DNA de "Twilight Zone" e que depois foi muito bem trabalhado em "Amazing Stories" de Steven Spielberg - que aliás já está repaginando o seu formato com a equipe da Amblim deve fazer seu lançamento ainda esse ano na Apple TV+ - é subtexto por trás de cada história central dos episódios. É fundamental para quem assiste, entender que a série usa desse artificio como justificativa para o exagero ou para o aproveitar seu direito de ser inexplicável! Nessa nova versão é muito fácil encontrar esse subtexto, mas em alguns episódios ele parece tão superficial que chegamos a duvidar da sua eficiência, mesmo com um elenco de peso. Vejamos:

- Episódio 1: O comediante Samir Wassan (Kumail Nanjiani - indicado ao Emmy 2019 como "melhor ator convidado") quer ser famoso a qualquer custo, mas para isso é preciso pagar um preço e o roteiro trabalha muito bem esse conceito que nos acompanha durante toda a vida: será que estamos dispostos a pagar o preço para nos diferenciarmos na multidão? A grande maioria não quer, mas os poucos que querem, em algum momento, se perguntam se valeu a pena, mas aí já pode ser tarde! - Para mim, esse é um dos melhores episódios dessa primeira temporada.

-  Episódio 2: O jornalista Justin Sanderson (Adam Scott) encontra uma gravação que fala sobre o futuro e como suas decisões podem afetar o destino do Voo 1015, onde ele á passageiro. O episódio mostra a luta contra o tempo e a angustia de um homem que sabe como ajudar, mas é incompreendido pelas suas ações - tão atual, não? 

- Episódio 3: Uma velha filmadora tem o poder de rebobinar o tempo e esse excelente episódio mostra como o racismo é tão incontrolável quanto a vida cotidiana. Sem dúvida um dos melhores episódios e que nos convida à uma reflexão profunda. Agora prepare-se, tenho a impressão que é a história mais visceral e sufocante da temporada. Muito dolorida!

-  Episódio 4: É Natal e em uma cidade militar do Alaska, um viajante misterioso chega para movimentar a noite e provocar os mais diversos sentimentos nas pessoas. Esse episódio é meio arrastado. Mesmo com momentos interessantes, a história não me convenceu, embora o subtexto seja um dos mais provocativos ao trazer para discussão a hipocrisia humana!

- Episódio 5: Um profissional responsável por campanhas eleitorais está quase em ruínas quando resolve criar um novo ícone para concorrer a presidência dos EUA: no caso uma criança de 11 anos. Outro tema muito atual: a discussão do populismo e da força das mídias sociais - mas a história não me pareceu muito inspirada. Basta lembrar que o próprio "Black Mirror" fez algo muito parecido, porém com muito mais habilidade e criatividade em “The Waldo Moment”!

- Episódio 6: O mais "ficção científica" da temporada mostra uma tripulação tendo que fazer escolhas a todo momento para chegar a marte depois que os EUA sofrem um ataque nuclear da China! Mais um episódio arrastado na minha opinião. O conceito é excelente, mas na prática criou poucos conflitos interessantes e o final, embora cause uma certa surpresa, me pareceu bobo.

- Episódio 7: Depois de um chuva de meteoros, surge uma infecção que transforma a maneira como os homens reagem a determinadas situações. O assunto "a masculinidade tóxica" é discutido aqui com muita criatividade. Talvez esse seja o episódio com mais elementos de terror da temporada.

- Episódio 8: Uma rica dona de casa é levada para um centro de detenção sem entender muito bem os motivos, o que mexe com sua realidade e com seu passado. A discussão sobre os violentos centros de detenção de imigrantes nos EUA é o pano de fundo dessa história. Mais uma vez: embora o assunto seja excelente, o resultado do episódio fica muito aquém do seu potencial. Esse episódio eu achei chato!

- Episódio 9: Um professor de antropologia encontra um revolver que parece ter vida própria, no pente uma bala com seu nome. Esse é um episódio bem intrigante, fala sobre as mudanças da vida e como isso pode interferir na personalidade das pessoas. É interessante, mas não surpreende.

- Episódio 10: A roteirista (ficticia) do "Twilight Zone" é assombrada por uma entidade que representa muito do seu passado. Esse episódio é muito mais interessante pela homenagem as origens da série do que propriamente por uma história magnifica construída para encerrar a temporada em alto estilo. Na verdade eu diria até que o episódio fraco, mas o resgate do gênero com uma pegada mais de suspense e sobrenatural carregam a trama até um final de certa forma nostálgico. 

De fato os episódios são muito bem produzidos, embora a maioria deles usem de um mesmo cenário para contar toda a história o que não seria um problema se o texto fosse muito bom - o que não é o caso! A dinâmica narrativa sofre com essa limitação e, certamente, acusa o golpe quando os roteiros são menos inspirados. Jordan Peele é o narrador perfeito para a série - tem o tom, as pausas dramáticas e uma postura enigmática, além de ser uma referência, ou melhor, a personificação do renascimento de um gênero que estava esquecido: o suspense fantástico!

Como disse anteriormente,  "Twilight Zone" é agradável como entretenimento, mas não é e nem será o fenômeno que foi no final dos anos 50. Talvez uma segunda temporada traga mais oxigênio para série, quem sabe diminuindo o tempo dos episódios ou cuidando melhor das histórias, mas independente de qualquer coisa, vale como divertimento.

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Um Brinde ao Sucesso

"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.

Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:

Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.

Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.  

A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!

Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!

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"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.

Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:

Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.

Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.  

A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!

Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!

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Um Filho

"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

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"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

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Um Instante de Amor

"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

Vale muito!

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"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

Vale muito!

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Um lugar bem longe daqui

Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!

Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:

Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.

Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!

 "Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!

Vale seu play!

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Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!

Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:

Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.

Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!

 "Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!

Vale seu play!

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