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Sicario - Terra de Ninguém

"Sicario - Terra de Ninguém" é um filme de ação que não está apenas preocupado com a pancadaria ou com os tiroteios, ele é carregado de drama em um roteiro muito bem amarrado, com personagens extremamente complexos e uma direção, bem, aí é só carimbar o selo "Denis Villeneuve"!

No filme acompanhamos Kate Macer (Emily Blunt), uma agente idealista do FBI que está inscrita em uma força-tarefa de elite do governo para ajudar na crescente guerra contra as drogas na região da fronteira com o México. Essa equipe é liderada por Matt Graver (Josh Brolin), um agente da CIA com um passado questionável. Além disso, para traçar estratégias contra um poderoso cartel mexicano, Matt pede auxílio para outro homem com história dúbia, seu consultor Alejandro (Benício del Toro). Assim, a força-tarefa sai em uma jornada clandestina, forçando Kate a embarcar nessa perigosa missão que vai obriga-la questionar todas as suas crenças e percepções de mundo. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida que um dos destaques do roteiro escrito pelo Taylor Sheridan (isso mesmo, o ator da série "Sons of Anarchy") é que ao apresentar sua visão da guerra contra as drogas, ele nos coloca em em uma situação extremamente desconfortável, pois não temos a menor ideia (como a protagonista, aliás) do que, de fato, vai acontecer. Ao não entregar os objetivos reais da força-tarefa liderada por Matt e muito menos os limites de seus métodos, ficamos em uma zona tão cinzenta que em  nenhum momento, nas duas horas de filme, temos a certeza de que os mocinhos são mesmo os mocinhos.

A relação estabelecida entre Matt e Alejandro é de uma subjetividade impressionante - mesmo quando o agente clareia algumas motivações para Kate, já no terceiro ato. Obviamente que nada disso seria possível sem ótimas performances de Blunt, Brolin e Del Toro. Embora seja um filme de ação, os atores  imprimem um peso dramático aos seus personagens que mesmo sem um desenvolvimento tão expositivo, nos explica muito de suas escolhas durante a trama - essa dinâmica é raríssima e é essa, sem dúvida, é uma das razões que coloco "Sicario" entre os melhores filmes de ação de todos os tempos!

Bom, falar de Villeneuve é quase que me tornar repetitivo - ele domina a gramática cinematográfica de um filme de ação da mesma forma que mergulha no drama existencial pesado como em "Homem Duplicado" ou até na mitologia de uma ficção científica como em "Duna". Ao seu lado, nada menos que o fotógrafo Roger Deakins (vencedor de 2 Oscars com "Blade Runner 2049" e "1917", e indicado 14 vezes ao prêmio). Soma-se a isso um filme tecnicamente perfeito e de uma beleza visual que é de cair o queixo - a sequência filmada dentro do carro, na primeira fase da missão e que apresenta o real impacto da guerra contra as drogas em Juárez, uma pequena cidade mexicana, com direito a corpos decepados expostos a luz do dia, é primorosa!

"Sicario - Terra de Ninguém" tem uma personagem que transita por um mundo tão opressivo quando agressivo e imoral, sem se dar conta que esse mundo só faz sentido por causa de pessoas como ela. Ao mostrar que os "meios" justificam os "fins", o filme nos provoca a rever nossas "certezas" e sobre nossas possíveis atitudes se estivéssemos na mesma situação - essa dinâmica se reflete em uma experiência incrível e imperdível!

Vale muito, mas muito mesmo, o seu play!  

Up-date: "Sicario - Terra de Ninguém" foi indicado em três categorias no Oscar 2016: Melhor Edição de Som, Melhor Música e Melhor Fotografia!

Assista Agora

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"Sicario - Terra de Ninguém" é um filme de ação que não está apenas preocupado com a pancadaria ou com os tiroteios, ele é carregado de drama em um roteiro muito bem amarrado, com personagens extremamente complexos e uma direção, bem, aí é só carimbar o selo "Denis Villeneuve"!

No filme acompanhamos Kate Macer (Emily Blunt), uma agente idealista do FBI que está inscrita em uma força-tarefa de elite do governo para ajudar na crescente guerra contra as drogas na região da fronteira com o México. Essa equipe é liderada por Matt Graver (Josh Brolin), um agente da CIA com um passado questionável. Além disso, para traçar estratégias contra um poderoso cartel mexicano, Matt pede auxílio para outro homem com história dúbia, seu consultor Alejandro (Benício del Toro). Assim, a força-tarefa sai em uma jornada clandestina, forçando Kate a embarcar nessa perigosa missão que vai obriga-la questionar todas as suas crenças e percepções de mundo. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida que um dos destaques do roteiro escrito pelo Taylor Sheridan (isso mesmo, o ator da série "Sons of Anarchy") é que ao apresentar sua visão da guerra contra as drogas, ele nos coloca em em uma situação extremamente desconfortável, pois não temos a menor ideia (como a protagonista, aliás) do que, de fato, vai acontecer. Ao não entregar os objetivos reais da força-tarefa liderada por Matt e muito menos os limites de seus métodos, ficamos em uma zona tão cinzenta que em  nenhum momento, nas duas horas de filme, temos a certeza de que os mocinhos são mesmo os mocinhos.

A relação estabelecida entre Matt e Alejandro é de uma subjetividade impressionante - mesmo quando o agente clareia algumas motivações para Kate, já no terceiro ato. Obviamente que nada disso seria possível sem ótimas performances de Blunt, Brolin e Del Toro. Embora seja um filme de ação, os atores  imprimem um peso dramático aos seus personagens que mesmo sem um desenvolvimento tão expositivo, nos explica muito de suas escolhas durante a trama - essa dinâmica é raríssima e é essa, sem dúvida, é uma das razões que coloco "Sicario" entre os melhores filmes de ação de todos os tempos!

Bom, falar de Villeneuve é quase que me tornar repetitivo - ele domina a gramática cinematográfica de um filme de ação da mesma forma que mergulha no drama existencial pesado como em "Homem Duplicado" ou até na mitologia de uma ficção científica como em "Duna". Ao seu lado, nada menos que o fotógrafo Roger Deakins (vencedor de 2 Oscars com "Blade Runner 2049" e "1917", e indicado 14 vezes ao prêmio). Soma-se a isso um filme tecnicamente perfeito e de uma beleza visual que é de cair o queixo - a sequência filmada dentro do carro, na primeira fase da missão e que apresenta o real impacto da guerra contra as drogas em Juárez, uma pequena cidade mexicana, com direito a corpos decepados expostos a luz do dia, é primorosa!

"Sicario - Terra de Ninguém" tem uma personagem que transita por um mundo tão opressivo quando agressivo e imoral, sem se dar conta que esse mundo só faz sentido por causa de pessoas como ela. Ao mostrar que os "meios" justificam os "fins", o filme nos provoca a rever nossas "certezas" e sobre nossas possíveis atitudes se estivéssemos na mesma situação - essa dinâmica se reflete em uma experiência incrível e imperdível!

Vale muito, mas muito mesmo, o seu play!  

Up-date: "Sicario - Terra de Ninguém" foi indicado em três categorias no Oscar 2016: Melhor Edição de Som, Melhor Música e Melhor Fotografia!

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Solos

"A memória é uma homenagem a que se ama!" - com essa frase dita por nada menos que Morgan Freeman no último episódio dessa belíssima série antológica da Amazon para o seu Prime Vídeo, fica muito fácil ter uma noção do que podemos encontrar pela frente. "Solos" é um ensaio sobre a solidão sob diversos aspectos e pontos de vista. Como em "Black Mirror", a tecnologia e o futuro das coisas são os gatilhos para profundas discussões (e reflexões) filosóficas e de auto-conhecimento. O que eu quero dizer é que se você procura uma ficção científica com alguma ação ou suspense, "Solos" não é para você! 

Com uma premissa das mais interessantes, "Solos" explora o significado mais profundo da conexão humana através das lentes do indivíduo. As histórias são guiadas por personagens únicos, cada uma com uma perspectiva e em momentos diferentes, demonstrando que mesmo durante nossos momentos mais isolados, nas mais díspares das circunstâncias, estamos todos conectados através da experiência humana. Confira o trailer:

De cara, o que mais chama atenção é o elenco incrível - dada a proposta narrativa e conceitual de se apoiar basicamente em monólogos para contar a história, Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman, Uzo Aduba, Anthony Mackie, Constance Wu, Dan Stevens e Nicole Beharie, simplesmente brilham - uns com mais força emocional, outros com mais potência cênica, mas todos em um nível de performance impressionante. Veja, são histórias curtas, em média trinta minutos por episódio, ou seja, é como se estivéssemos assistindo esquetes teatrais com roteiros inteligentes e bastante provocadores - não necessariamente fáceis de digerir ou de compreender imediatamente, mas cheio de símbolos e mensagens relevantes para esse momento que a humanidade está passando.

O projeto é uma criação de David Weil (“Hunters”). Ele é o showrunner junto a Sam Taylor-Johnson. Ambos dirigem alguns episódios da série ao lado de Zach Braff e Tiffany Johnson o que reflete na qualidade narrativa focada no ator - o cenário, é simplesmente um cenário. A beleza de "Solos" está no cuidado do texto e nas sensações que as histórias nos provocam - e importante: o ponto em comum entre todas elas é a exploração (no bom sentido) de sentimentos e os conflitos familiares e isso é pega forte!

Como comentei assim que o trailer foi liberado pela Amazon: "Solos" vai muito além de ser um novo "Black Mirror", mas não vai agradar a todos - será preciso muita sensibilidade para mergulhar nas profundezas da psiquê de cada um dos personagens! Como em "Tales from the Loop", essa série é de fato surpreendente, vale a pena!

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"A memória é uma homenagem a que se ama!" - com essa frase dita por nada menos que Morgan Freeman no último episódio dessa belíssima série antológica da Amazon para o seu Prime Vídeo, fica muito fácil ter uma noção do que podemos encontrar pela frente. "Solos" é um ensaio sobre a solidão sob diversos aspectos e pontos de vista. Como em "Black Mirror", a tecnologia e o futuro das coisas são os gatilhos para profundas discussões (e reflexões) filosóficas e de auto-conhecimento. O que eu quero dizer é que se você procura uma ficção científica com alguma ação ou suspense, "Solos" não é para você! 

Com uma premissa das mais interessantes, "Solos" explora o significado mais profundo da conexão humana através das lentes do indivíduo. As histórias são guiadas por personagens únicos, cada uma com uma perspectiva e em momentos diferentes, demonstrando que mesmo durante nossos momentos mais isolados, nas mais díspares das circunstâncias, estamos todos conectados através da experiência humana. Confira o trailer:

De cara, o que mais chama atenção é o elenco incrível - dada a proposta narrativa e conceitual de se apoiar basicamente em monólogos para contar a história, Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman, Uzo Aduba, Anthony Mackie, Constance Wu, Dan Stevens e Nicole Beharie, simplesmente brilham - uns com mais força emocional, outros com mais potência cênica, mas todos em um nível de performance impressionante. Veja, são histórias curtas, em média trinta minutos por episódio, ou seja, é como se estivéssemos assistindo esquetes teatrais com roteiros inteligentes e bastante provocadores - não necessariamente fáceis de digerir ou de compreender imediatamente, mas cheio de símbolos e mensagens relevantes para esse momento que a humanidade está passando.

O projeto é uma criação de David Weil (“Hunters”). Ele é o showrunner junto a Sam Taylor-Johnson. Ambos dirigem alguns episódios da série ao lado de Zach Braff e Tiffany Johnson o que reflete na qualidade narrativa focada no ator - o cenário, é simplesmente um cenário. A beleza de "Solos" está no cuidado do texto e nas sensações que as histórias nos provocam - e importante: o ponto em comum entre todas elas é a exploração (no bom sentido) de sentimentos e os conflitos familiares e isso é pega forte!

Como comentei assim que o trailer foi liberado pela Amazon: "Solos" vai muito além de ser um novo "Black Mirror", mas não vai agradar a todos - será preciso muita sensibilidade para mergulhar nas profundezas da psiquê de cada um dos personagens! Como em "Tales from the Loop", essa série é de fato surpreendente, vale a pena!

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Som da Liberdade

"As crianças de Deus não estão a venda!" - é com essa frase de impacto e emocionalmente difícil de digerir, já sabendo da realidade que "Som da Liberdade" retrata, que te garanto: esse filme é imperdível! Dirigido pelo talentoso Alejandro Monteverde (de "Little Boy - Além do Impossível"), o filme é muito mais do que um simples relato de eventos reais; é uma jornada emocional que transcende as telas, deixando uma marca profunda em quem a assiste (especialmente para quem tem filhos), mesmo que o roteiro, em vários momentos, pese um pouco na mão ao colocar seu protagonista na condição divina de "grande salvador". Na realidade essa escolha narrativa do roteirista Rod Barr (do premiado "Is That You?") e do próprio Monteverde, nem seria um problema se o foco fosse a ação, mas por se tratar de um drama tão impactante fica difícil acreditar que tudo ocorreu exatamente daquela maneira. Isso impacta na sua experiência? De forma alguma, eu diria que pelo contrário, já que mesmo se tratando de um assunto tão sério, o entretenimento também existe ali, especialmente após o meio do segundo ato.

"Sound of Freedom" conta a história real de Tim Ballard (Jim Caviezel), um ex-agente do governo americano responsável por uma missão de resgate de dezenas de crianças vítimas do tráfico sexual na Colômbia. Na trama, depois de recuperar Miguel (Lucás Ávila) um garoto hondurenho que estava nas mãos de uma rede de pedofilia, Ballard descobre que a irmã do menino, Roccio (Cristal Aparicio) também está sendo mantida como refém. Ele decide, então, dar início a uma perigosa, porém nobre, jornada para salvá-la, mesmo que para isso precise enfrentar a violência do exército rebelde colombiano. Confira o trailer:

Produzido em 2018 com um orçamento modesto de US$14 milhões, "Som da Liberdade" arrecadou mais de US$250 milhões mundialmente, só nas bilheterias - números realmente impressionantes para um filme que ficou na gaveta por muitos anos mesmo depois de finalizado, já que a Disney, quando comprou a Fox, se recusou a lançá-lo comercialmente até que um de seus produtores, Eduardo Verástegui, conseguiu readquirir os direitos e o ofereceu à Angel Studios, pequena distribuidora de produções cristãs, como "The Chosen", que o aceitou o desafio e o risco - e que acabou se dando muito bem.

No coração do sucesso de "O Som da Liberdade", sem dúvida, está a habilidade de Monteverde em transmitir a verdadeira essência do protagonista equilibrando o drama com a ação - não se surpreenda se os olhos marejarem e o coração apertar na primeira metade do filme e se um misto de ansiedade e torcida emergirem na segunda metade com a mesma facilidade. A fotografia de Gorka Gómez Andreu (de "Uma Janela para o Mar") captura de maneira impressionante as nuances emocionais dos personagens com igual capacidade com que recorta uma atmosfera tensa e inóspita da geografia colombiana - algo como vimos em "Narcos", por exemplo. Ao mergulhar a audiência nos bastidores das missões de Ballard, as lentes de Andreu deixa claro o que, de fato, representa o terror desprezível do turismo sexual na Colômbia bem como as profundezas daquela selva opressora, um "lugar de ninguém", berço da produção de cocaína do país e do mundo.

Antes de finalizar quero destacar mais dois elementos: o primeiro é a  trilha sonora do Javier Navarrete - poética na medida certa e extremamente alinhada com o belíssimo conceito visual do filme, as músicas são um fator crucial que intensifica a nossa experiência, criando uma atmosfera emotiva que permanece mesmo após o término do filme. Já o segundo merece um aplauso de pé: Bill Camp como "Vampiro" dá uma aula - ao ponto de, para mim, merecer até uma indicação ao Oscar (que infelizmente esqueceu de "Som da Liberdade" em muitos aspectos). Um filme que aborda temas sensíveis e urgentes, que não apenas destaca a brutalidade do tráfico humano, mas também oferece uma visão esperançosa e, mesmo acompanhada da crítica dos chatos de plantão, inspiradora.

Um filme imperdível em todos os seus méritos e que vale muito o seu play!

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"As crianças de Deus não estão a venda!" - é com essa frase de impacto e emocionalmente difícil de digerir, já sabendo da realidade que "Som da Liberdade" retrata, que te garanto: esse filme é imperdível! Dirigido pelo talentoso Alejandro Monteverde (de "Little Boy - Além do Impossível"), o filme é muito mais do que um simples relato de eventos reais; é uma jornada emocional que transcende as telas, deixando uma marca profunda em quem a assiste (especialmente para quem tem filhos), mesmo que o roteiro, em vários momentos, pese um pouco na mão ao colocar seu protagonista na condição divina de "grande salvador". Na realidade essa escolha narrativa do roteirista Rod Barr (do premiado "Is That You?") e do próprio Monteverde, nem seria um problema se o foco fosse a ação, mas por se tratar de um drama tão impactante fica difícil acreditar que tudo ocorreu exatamente daquela maneira. Isso impacta na sua experiência? De forma alguma, eu diria que pelo contrário, já que mesmo se tratando de um assunto tão sério, o entretenimento também existe ali, especialmente após o meio do segundo ato.

"Sound of Freedom" conta a história real de Tim Ballard (Jim Caviezel), um ex-agente do governo americano responsável por uma missão de resgate de dezenas de crianças vítimas do tráfico sexual na Colômbia. Na trama, depois de recuperar Miguel (Lucás Ávila) um garoto hondurenho que estava nas mãos de uma rede de pedofilia, Ballard descobre que a irmã do menino, Roccio (Cristal Aparicio) também está sendo mantida como refém. Ele decide, então, dar início a uma perigosa, porém nobre, jornada para salvá-la, mesmo que para isso precise enfrentar a violência do exército rebelde colombiano. Confira o trailer:

Produzido em 2018 com um orçamento modesto de US$14 milhões, "Som da Liberdade" arrecadou mais de US$250 milhões mundialmente, só nas bilheterias - números realmente impressionantes para um filme que ficou na gaveta por muitos anos mesmo depois de finalizado, já que a Disney, quando comprou a Fox, se recusou a lançá-lo comercialmente até que um de seus produtores, Eduardo Verástegui, conseguiu readquirir os direitos e o ofereceu à Angel Studios, pequena distribuidora de produções cristãs, como "The Chosen", que o aceitou o desafio e o risco - e que acabou se dando muito bem.

No coração do sucesso de "O Som da Liberdade", sem dúvida, está a habilidade de Monteverde em transmitir a verdadeira essência do protagonista equilibrando o drama com a ação - não se surpreenda se os olhos marejarem e o coração apertar na primeira metade do filme e se um misto de ansiedade e torcida emergirem na segunda metade com a mesma facilidade. A fotografia de Gorka Gómez Andreu (de "Uma Janela para o Mar") captura de maneira impressionante as nuances emocionais dos personagens com igual capacidade com que recorta uma atmosfera tensa e inóspita da geografia colombiana - algo como vimos em "Narcos", por exemplo. Ao mergulhar a audiência nos bastidores das missões de Ballard, as lentes de Andreu deixa claro o que, de fato, representa o terror desprezível do turismo sexual na Colômbia bem como as profundezas daquela selva opressora, um "lugar de ninguém", berço da produção de cocaína do país e do mundo.

Antes de finalizar quero destacar mais dois elementos: o primeiro é a  trilha sonora do Javier Navarrete - poética na medida certa e extremamente alinhada com o belíssimo conceito visual do filme, as músicas são um fator crucial que intensifica a nossa experiência, criando uma atmosfera emotiva que permanece mesmo após o término do filme. Já o segundo merece um aplauso de pé: Bill Camp como "Vampiro" dá uma aula - ao ponto de, para mim, merecer até uma indicação ao Oscar (que infelizmente esqueceu de "Som da Liberdade" em muitos aspectos). Um filme que aborda temas sensíveis e urgentes, que não apenas destaca a brutalidade do tráfico humano, mas também oferece uma visão esperançosa e, mesmo acompanhada da crítica dos chatos de plantão, inspiradora.

Um filme imperdível em todos os seus méritos e que vale muito o seu play!

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Somos o que Somos

"Somos o que Somos" é um suspense surpreendente em muitos aspectos, mas talvez o que mais me chamou atenção tenha sido a maneira como o diretor Jim Mickle construiu a tensão em cima do drama familiar pelo ponto de vista de uma das filhas e sem precisar entregar tudo tão mastigado - mesmo que para alguns possa parecer que o roteiro tenha sido preguiçoso ao não criar as conexões ideais para aquele final que, de fato, eu não esperava! Ah, e me parece que o filme segue aquela tendência muito particular das produções recentes do gênero: ou você vai amar, ou você vai odiar - eu amei e vou explicar em detalhes a razão!

Em uma cidade do interior dos EUA, mora a família Parker. Frank (Bill Sage), o pai, é um homem bastante reservado, mas que insiste em manter as tradições familiares e religiosas, mesmo depois da morte prematura de sua esposa. Com isso, a filha mais velha do casal, Iris (Ambyr Childers) passa a ser responsável por alguns rituais bastante peculiares, mesmo contra a vontade da irmã mais nova, Rose (Julia Garner). Acontece, que após o desaparecimento de mais uma jovem estudante local, se inicia uma investigação e uma série de circunstâncias passam a revelar importantes segredos dos Parker, mudando completamente a maneira como a familia se relaciona entre si e com aquela comunidade. Confira o trailer (em inglês):

"Somos o que Somos" é a versão americana do filme mexicano "Somos Lo que Hay" de 2010, em que Mickle repete sua parceria de sucesso com o roteirista Nick Damici para entregar uma adaptação simples, mas bastante fluida. Dividindo toda história em apenas quatro dias, o roteiro levanta questões importantes como o fundamentalismo religioso e seu reflexo nas gerações mais novas ao mesmo tempo que consegue transmitir um certo suspense que funciona muito bem como ponto de equilíbrio entre a melancolia dos personagens e a tensão cinematográfica do gênero.

É um ótimo entretenimento e vai agradar quem gostou de "Midsommar" do Ari Aster ou "O Chalé" da dupla Severin Fiala e Veronika Franz.

Com um orçamento bem abaixo dos padrões americanos, Mickle optou por investir menos em perfurarias e mais no trabalho íntimo dos atores, criando assim um ritmo diferenciado, que pode até parecer arrastado no começo, mas que vai crescendo, até culminar em um final, digamos, empolgante! Dois elementos ajudam muito nessa dinâmica narrativa. O primeiro, sem dúvida, é a bela fotografia do diretor Ryan Samul. Os belos enquadramentos, tendo um pano de fundo bastante gélido, se encaixam perfeitamente com os movimentos de câmera precisos para criar, de forma bastante orgânica, a tensão que o filme pede. Alinhado a esse trabalho, está o segundo elemento de destaque: a mixagem! Com um desenho de som excelente e uma trilha sonora melancólica, a mixagem constrói o retrato definitivo de uma vida pacata ao mesmo tempo em que mascara a loucura e a angustia das situações que aqueles personagens estão passando. Reparem!

No elenco é preciso destacar o trabalho das talentosas Ambyr Childers e, principalmente, Julia Garner - elas estão perfeitas, no tom exato, mesmo com uma maquiagem que, na minha opinião, tirou a naturalidade de algumas ações das personagens. Michael Parks como o Doutor Barrow também está ótimo. Apenas Bill Sage que me pareceu um pouco perdido entre a loucura e a crença cega - em muitos momentos esses traços de personalidade se confundem e mais atrapalha do que nos provoca (soa fake). Ainda no assunto interpretação, vale comentar sobre ótimo trabalho do Jim Mickle com os atores - todos bem alinhados ao tom que ele escolheu para o filme, muito pautado no silêncio, no receio do próximo passo, na respiração e no medo particular de cada uma dos personagens. Tenho a certeza que esse alinhamento conceitual foi fundamental para a experiência que o filme oferece!

De fato o roteiro tem algumas inconsistências, mas em nada atrapalha na jornada. Algumas passagens ficam sem maiores explicações, alguns personagens simplesmente aparecem ou somem sem muita coerência e até algumas motivações soam muito superficiais, mas como comentei: se focarmos no drama das irmãs Parker, tudo que não foi devidamente esclarecido ou que pareça fora dos trilhos, passam a servir de gatilho para criamos nossa própria versão dos fatos, já que não interferem ativamente em nada no resultado final do filme - ajudaria se tudo se encaixasse? Sim, mas digamos que as peças soltas servem apenas para compor o cenário e não a trama!

"Somos o que Somos" começa morno, mas vai esquentando até entrar em completa ebulição no terceiro ato, com os 5 minutos finais justificando a indicação de 18 anos que o filme recebeu quando estreou nos cinemas em 2013. Se você gosta de um suspense, mais próximo do drama do que do terror, eu não perderia esse filme por nada! Vale seu play!

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"Somos o que Somos" é um suspense surpreendente em muitos aspectos, mas talvez o que mais me chamou atenção tenha sido a maneira como o diretor Jim Mickle construiu a tensão em cima do drama familiar pelo ponto de vista de uma das filhas e sem precisar entregar tudo tão mastigado - mesmo que para alguns possa parecer que o roteiro tenha sido preguiçoso ao não criar as conexões ideais para aquele final que, de fato, eu não esperava! Ah, e me parece que o filme segue aquela tendência muito particular das produções recentes do gênero: ou você vai amar, ou você vai odiar - eu amei e vou explicar em detalhes a razão!

Em uma cidade do interior dos EUA, mora a família Parker. Frank (Bill Sage), o pai, é um homem bastante reservado, mas que insiste em manter as tradições familiares e religiosas, mesmo depois da morte prematura de sua esposa. Com isso, a filha mais velha do casal, Iris (Ambyr Childers) passa a ser responsável por alguns rituais bastante peculiares, mesmo contra a vontade da irmã mais nova, Rose (Julia Garner). Acontece, que após o desaparecimento de mais uma jovem estudante local, se inicia uma investigação e uma série de circunstâncias passam a revelar importantes segredos dos Parker, mudando completamente a maneira como a familia se relaciona entre si e com aquela comunidade. Confira o trailer (em inglês):

"Somos o que Somos" é a versão americana do filme mexicano "Somos Lo que Hay" de 2010, em que Mickle repete sua parceria de sucesso com o roteirista Nick Damici para entregar uma adaptação simples, mas bastante fluida. Dividindo toda história em apenas quatro dias, o roteiro levanta questões importantes como o fundamentalismo religioso e seu reflexo nas gerações mais novas ao mesmo tempo que consegue transmitir um certo suspense que funciona muito bem como ponto de equilíbrio entre a melancolia dos personagens e a tensão cinematográfica do gênero.

É um ótimo entretenimento e vai agradar quem gostou de "Midsommar" do Ari Aster ou "O Chalé" da dupla Severin Fiala e Veronika Franz.

Com um orçamento bem abaixo dos padrões americanos, Mickle optou por investir menos em perfurarias e mais no trabalho íntimo dos atores, criando assim um ritmo diferenciado, que pode até parecer arrastado no começo, mas que vai crescendo, até culminar em um final, digamos, empolgante! Dois elementos ajudam muito nessa dinâmica narrativa. O primeiro, sem dúvida, é a bela fotografia do diretor Ryan Samul. Os belos enquadramentos, tendo um pano de fundo bastante gélido, se encaixam perfeitamente com os movimentos de câmera precisos para criar, de forma bastante orgânica, a tensão que o filme pede. Alinhado a esse trabalho, está o segundo elemento de destaque: a mixagem! Com um desenho de som excelente e uma trilha sonora melancólica, a mixagem constrói o retrato definitivo de uma vida pacata ao mesmo tempo em que mascara a loucura e a angustia das situações que aqueles personagens estão passando. Reparem!

No elenco é preciso destacar o trabalho das talentosas Ambyr Childers e, principalmente, Julia Garner - elas estão perfeitas, no tom exato, mesmo com uma maquiagem que, na minha opinião, tirou a naturalidade de algumas ações das personagens. Michael Parks como o Doutor Barrow também está ótimo. Apenas Bill Sage que me pareceu um pouco perdido entre a loucura e a crença cega - em muitos momentos esses traços de personalidade se confundem e mais atrapalha do que nos provoca (soa fake). Ainda no assunto interpretação, vale comentar sobre ótimo trabalho do Jim Mickle com os atores - todos bem alinhados ao tom que ele escolheu para o filme, muito pautado no silêncio, no receio do próximo passo, na respiração e no medo particular de cada uma dos personagens. Tenho a certeza que esse alinhamento conceitual foi fundamental para a experiência que o filme oferece!

De fato o roteiro tem algumas inconsistências, mas em nada atrapalha na jornada. Algumas passagens ficam sem maiores explicações, alguns personagens simplesmente aparecem ou somem sem muita coerência e até algumas motivações soam muito superficiais, mas como comentei: se focarmos no drama das irmãs Parker, tudo que não foi devidamente esclarecido ou que pareça fora dos trilhos, passam a servir de gatilho para criamos nossa própria versão dos fatos, já que não interferem ativamente em nada no resultado final do filme - ajudaria se tudo se encaixasse? Sim, mas digamos que as peças soltas servem apenas para compor o cenário e não a trama!

"Somos o que Somos" começa morno, mas vai esquentando até entrar em completa ebulição no terceiro ato, com os 5 minutos finais justificando a indicação de 18 anos que o filme recebeu quando estreou nos cinemas em 2013. Se você gosta de um suspense, mais próximo do drama do que do terror, eu não perderia esse filme por nada! Vale seu play!

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Sonhos de uma vida

Sonhos de uma vida

"Sonhos de uma vida" é um filme muito difícil em sua forma e em seu conteúdo. Em sua forma pelo fato de ter uma narrativa bastante cadenciada, lenta até, extremamente autoral - o que permite algumas escolhas que vão contra o entendimento de um público que busca mais entretenimento. E em seu conteúdo por falar essencialmente sobre o "arrependimento" em uma camada mais superficial e sobre a "dor" se você se permitir uma imersão mais profunda na história.

O filme acompanha um dia na vida de um pai, Leo (Javier Bardem) e de sua filha, Molly (Elle Fanning). Ele está claramente debilitado, mesmo que a história não se preocupe em explicar o motivo de seu estado de saúde. Por outro lado, Molly se dedica a cuidar do pai e, apesar de estar em um momento de ascensão profissional (que exige também a sua atenção), ela escolhe deixar o trabalho de lado para estar com ele e tentar entender como seu esforço pode, de fato, melhorar sua qualidade de vida. Confira o trailer:

Sally Potter é uma diretora (e roteirista) premiada em praticamente todos os filmes em que esteve envolvida. Quando "The Roads Not Taken"(título original) chegou em Berlin em 2020, imediatamente ele foi chancelado como um dos favoritos para levar o Urso de Ouro no Festival - apenas com essa informação já é possível se ter uma ideia da qualidade técnica e artística do filme, e isso vai se comprovar imediatamente após o play. Porém, o contexto em que o filme é exibido hoje pode provocar um certo distanciamento do público acostumado com uma narrativa mais linear e uma trama mais, digamos, mastigada. "Sonhos de uma vida" não vai entregar essa experiência, muito pelo contrário, entender a dinâmica que a diretora escolheu como forma de contar sua história impacta diretamente na maneira como nos relacionamos com ela - e aqui é preciso elogiar o trabalho de Potter também como roteirista, já que ela é capaz de nos surpreender quando nossa descrença começa a incomodar e ao mesmo tempo nos "decepcionar" quando finalmente achamos que encontramos o caminho mais confortável de onde a história vai nos levar. Veja, como na relação entre Leo e Molly, vai ser muito difícil termos a certeza de que fomos capazes de assimilar todos os sentimentos que Potter nos propõe.

Contada em três linhas temporais diferentes que se misturam em um montagem perfeita (mérito de Emilie Orsini, Jason Rayton e da própria Sally Potter), a história vai construindo a personalidade do protagonista ao mesmo tempo que vai nos apresentando suas cicatrizes - Javier Bardem que tem uma performance discutível como o Leo do presente, é praticamente perfeito com o personagem no passado! Dos diálogos às ações, Bardem se coloca em uma posição de muita vulnerabilidade, que se encaixe perfeitamente nos momentos de vida de Leo. Já Elle Fanning dá outra aula - sou um fã e o fato de considerar ela uma das melhores atrizes de sua geração não vem de hoje. Esse seu trabalho é maduro, consistente - uma pena que o caráter independente tenha afastado Fanning das premiações até aqui.

Talvez o maior problema de "Sonhos de uma vida" tenha sido acreditar que sua complexidade pudesse fornecer alguns ensinamentos sobre a essência humana, em momentos de muita sensibilidade, enquanto na verdade sua maior força é justamente provocar a reflexão sobre o que é "certo" e o que é "errado" - a última cena do filme talvez descreva exatamente essa dualidade das escolhas que fazemos durante a vida. A grande questão para você que lê esse review até aqui é se, após o play, você estará disposto a olhar para dentro e se questionar sobre as decisões tomadas no passado e se elas impactaram de uma forma diferente do que você mesmo imaginou no seu presente - e se isso acontecer, o filme terá cumprido o seu papel.

Assista Agora

"Sonhos de uma vida" é um filme muito difícil em sua forma e em seu conteúdo. Em sua forma pelo fato de ter uma narrativa bastante cadenciada, lenta até, extremamente autoral - o que permite algumas escolhas que vão contra o entendimento de um público que busca mais entretenimento. E em seu conteúdo por falar essencialmente sobre o "arrependimento" em uma camada mais superficial e sobre a "dor" se você se permitir uma imersão mais profunda na história.

O filme acompanha um dia na vida de um pai, Leo (Javier Bardem) e de sua filha, Molly (Elle Fanning). Ele está claramente debilitado, mesmo que a história não se preocupe em explicar o motivo de seu estado de saúde. Por outro lado, Molly se dedica a cuidar do pai e, apesar de estar em um momento de ascensão profissional (que exige também a sua atenção), ela escolhe deixar o trabalho de lado para estar com ele e tentar entender como seu esforço pode, de fato, melhorar sua qualidade de vida. Confira o trailer:

Sally Potter é uma diretora (e roteirista) premiada em praticamente todos os filmes em que esteve envolvida. Quando "The Roads Not Taken"(título original) chegou em Berlin em 2020, imediatamente ele foi chancelado como um dos favoritos para levar o Urso de Ouro no Festival - apenas com essa informação já é possível se ter uma ideia da qualidade técnica e artística do filme, e isso vai se comprovar imediatamente após o play. Porém, o contexto em que o filme é exibido hoje pode provocar um certo distanciamento do público acostumado com uma narrativa mais linear e uma trama mais, digamos, mastigada. "Sonhos de uma vida" não vai entregar essa experiência, muito pelo contrário, entender a dinâmica que a diretora escolheu como forma de contar sua história impacta diretamente na maneira como nos relacionamos com ela - e aqui é preciso elogiar o trabalho de Potter também como roteirista, já que ela é capaz de nos surpreender quando nossa descrença começa a incomodar e ao mesmo tempo nos "decepcionar" quando finalmente achamos que encontramos o caminho mais confortável de onde a história vai nos levar. Veja, como na relação entre Leo e Molly, vai ser muito difícil termos a certeza de que fomos capazes de assimilar todos os sentimentos que Potter nos propõe.

Contada em três linhas temporais diferentes que se misturam em um montagem perfeita (mérito de Emilie Orsini, Jason Rayton e da própria Sally Potter), a história vai construindo a personalidade do protagonista ao mesmo tempo que vai nos apresentando suas cicatrizes - Javier Bardem que tem uma performance discutível como o Leo do presente, é praticamente perfeito com o personagem no passado! Dos diálogos às ações, Bardem se coloca em uma posição de muita vulnerabilidade, que se encaixe perfeitamente nos momentos de vida de Leo. Já Elle Fanning dá outra aula - sou um fã e o fato de considerar ela uma das melhores atrizes de sua geração não vem de hoje. Esse seu trabalho é maduro, consistente - uma pena que o caráter independente tenha afastado Fanning das premiações até aqui.

Talvez o maior problema de "Sonhos de uma vida" tenha sido acreditar que sua complexidade pudesse fornecer alguns ensinamentos sobre a essência humana, em momentos de muita sensibilidade, enquanto na verdade sua maior força é justamente provocar a reflexão sobre o que é "certo" e o que é "errado" - a última cena do filme talvez descreva exatamente essa dualidade das escolhas que fazemos durante a vida. A grande questão para você que lê esse review até aqui é se, após o play, você estará disposto a olhar para dentro e se questionar sobre as decisões tomadas no passado e se elas impactaram de uma forma diferente do que você mesmo imaginou no seu presente - e se isso acontecer, o filme terá cumprido o seu papel.

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Sou sua Mulher

A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.

Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:

Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra! 

Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!

"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.

Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!

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A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.

Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:

Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra! 

Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!

"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.

Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!

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Soulmates

Se a HBO (em co-produção com a BBC) trouxe com muita competência a sua visão "Black Mirror" para o streaming com "Years and Years", agora é a vez da Prime Vídeo (via AMC) de seguir pelo mesmo caminho e com igual qualidade - "Soulmates" (Almas Gêmeas) tem uma primeira temporada de 6 episódios praticamente perfeita! São roteiros inteligentes, ousados, profundos (uns mais que outros, claro) e muito bem dirigidos.

A série se passa quinze anos no futuro, quando uma empresa acaba de fazer uma descoberta que muda para sempre a maneira como as pessoas se relacionam entre si: através de um rápido teste realizado cientificamente, agora é possível encontrar sua “alma gémea” e assim que ambos entram no sistema, um app imediatamente avisa sobre o "match". Confira o trailer:

Vale ressaltar que a série foi desenvolvida pelo talentoso Will Bridges, responsável por “Stranger Things” e pelo próprio “Black Mirror”, e pelo Brett Goldstein, do surpreendente “Ted Lasso”, o que mostra que a escolha conceitual pela narrativa antológica, onde cada episódio corresponde por uma história com começo, meio e fim, foi a decisão mais inteligente já que as tramas podem transitar por vários gêneros captando o que cada um dos criadores tem de melhor, mas mantendo qualidade, o equilíbrio e nunca se afastando do ponto em comum: como lidar com a informação que pode fazer a maior diferença na vida de um ser humano, aquela que muitas pessoas buscam incansavelmente e que pode definir um lugar entre a felicidade de conhecer sua alma gêmea ou a dúvida de ter feito uma escolha errada.

É muito inteligente como as histórias abordam o tema em diferentes situações e talvez esse seja o grande diferencial da série em relação a uma produção francesa da Netflix que gostei muito e que também fala sobre "almas gêmeas", mas de um ponto de vista mais tecnológico e, digamos, sem muita "alma": "Osmosis".

Se nos três primeiros episódios de "Soulmates" a provocação é mais filosófica, focada nas relações em si, onde se discute se as pessoas deveriam ou não fazer o teste, já que tem suas vidas estabelecidas com outros parceiros. Nos três episódios seguintes a direção muda um pouco, a série passa a ser um entretenimento menos despretensioso, com histórias de gênero e sem a necessidade de reflexões mais profundas - em ambos os casos a qualidade é alta, mas será natural uma identificação com um ou outro episódio como, inclusive, acontece muito em "Black Mirror".

"Soulmates"foi já descrita por vários críticos como“a união entre Black Mirror e Modern Love"- talvez nos episódios inicias essa definição faça sentido, mas o que vemos depois serve muito mais para mostrar que a série tem potencial para se transformar em uma franquia de sucesso (se não perder a sua essência) e que veio, de fato, para ficar - tanto que a segunda temporada já foi garantida pelo AMC! Vale muito a pena!

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Se a HBO (em co-produção com a BBC) trouxe com muita competência a sua visão "Black Mirror" para o streaming com "Years and Years", agora é a vez da Prime Vídeo (via AMC) de seguir pelo mesmo caminho e com igual qualidade - "Soulmates" (Almas Gêmeas) tem uma primeira temporada de 6 episódios praticamente perfeita! São roteiros inteligentes, ousados, profundos (uns mais que outros, claro) e muito bem dirigidos.

A série se passa quinze anos no futuro, quando uma empresa acaba de fazer uma descoberta que muda para sempre a maneira como as pessoas se relacionam entre si: através de um rápido teste realizado cientificamente, agora é possível encontrar sua “alma gémea” e assim que ambos entram no sistema, um app imediatamente avisa sobre o "match". Confira o trailer:

Vale ressaltar que a série foi desenvolvida pelo talentoso Will Bridges, responsável por “Stranger Things” e pelo próprio “Black Mirror”, e pelo Brett Goldstein, do surpreendente “Ted Lasso”, o que mostra que a escolha conceitual pela narrativa antológica, onde cada episódio corresponde por uma história com começo, meio e fim, foi a decisão mais inteligente já que as tramas podem transitar por vários gêneros captando o que cada um dos criadores tem de melhor, mas mantendo qualidade, o equilíbrio e nunca se afastando do ponto em comum: como lidar com a informação que pode fazer a maior diferença na vida de um ser humano, aquela que muitas pessoas buscam incansavelmente e que pode definir um lugar entre a felicidade de conhecer sua alma gêmea ou a dúvida de ter feito uma escolha errada.

É muito inteligente como as histórias abordam o tema em diferentes situações e talvez esse seja o grande diferencial da série em relação a uma produção francesa da Netflix que gostei muito e que também fala sobre "almas gêmeas", mas de um ponto de vista mais tecnológico e, digamos, sem muita "alma": "Osmosis".

Se nos três primeiros episódios de "Soulmates" a provocação é mais filosófica, focada nas relações em si, onde se discute se as pessoas deveriam ou não fazer o teste, já que tem suas vidas estabelecidas com outros parceiros. Nos três episódios seguintes a direção muda um pouco, a série passa a ser um entretenimento menos despretensioso, com histórias de gênero e sem a necessidade de reflexões mais profundas - em ambos os casos a qualidade é alta, mas será natural uma identificação com um ou outro episódio como, inclusive, acontece muito em "Black Mirror".

"Soulmates"foi já descrita por vários críticos como“a união entre Black Mirror e Modern Love"- talvez nos episódios inicias essa definição faça sentido, mas o que vemos depois serve muito mais para mostrar que a série tem potencial para se transformar em uma franquia de sucesso (se não perder a sua essência) e que veio, de fato, para ficar - tanto que a segunda temporada já foi garantida pelo AMC! Vale muito a pena!

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Spotlight

"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

Vale muito o seu play!

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"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.

O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:

O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!

O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.

A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.

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Sr. & Sra. Smith

"Sr. & Sra. Smith" está mais para "Killing Eve" do que para "Segurança em Jogo", ou seja, todos os elementos de espionagem, investigação, crimes e conspiração estão aqui, mas é o "tom" que vai direcionar a narrativa. Lançada em 2024, essa produção original da Amazon para seu Prime Video, é uma releitura moderna e estilizada do filme de 2005, desta vez criada por Donald Glover e Francesca Sloane. A série traz uma abordagem moderna e cheia de energia para a premissa clássica de um casal de espiões cujas vidas secretas colidem de maneira explosiva em uma mistura de ação, comédia e drama. "Sr. & Sra. Smith" busca capturar a química entre seus protagonistas enquanto explora temas como amor, lealdade e identidade, sempre com um toque de humor afiado e cativante. Um excelente entretenimento!

A trama segue John e Jane Smith (interpretados por Donald Glover e Maya Erskine), dois estranhos solitários que conseguem empregos em uma misteriosa agência que lhes oferece uma oportunidade gloriosa como um casal de mentira que vive uma vida dupla como espiões. A série explora como missões perigosas e segredos cuidadosamente guardados começam a se entrelaçar com suas vidas pessoais, levando a situações caóticas e muitas vezes cômicas. A relação entre John e Jane é complexa, oscilando entre amor e rivalidade, confiança e traição. Confira o trailer:

Inspirado nos personagens criados por Simon Kinberg, essa adaptação co-escrita por Glover e Sloane (ambos de "Atlanta") expande o universo do filme de uma maneira até mais inteligente e, por consequência, com reviravoltas mais bem construídas - aliás, uma característica essencial para o sucesso de uma trama de espionagem. "Sr. & Sra. Smith" chama atenção desde o primeiro episódio pela sua capacidade de equilibrar habilmente o desenvolvimento dos personagens pela perspectiva mais intima e pessoal com cenas de ação repletas de ironias e alívios cômicos, criando assim uma narrativa envolvente e divertida. Veja, a série não tem medo de explorar os aspectos mais sombrios e complicados do relacionamento entre John e Jane, mas faz isso com um toque leve que evita aquela sensação de tensão e angústia constantes. A equipe de direção sabe disso e, mesmo sem pesar na mão, nos surpreende com um conceito estiloso e cheio de energia, utilizando ângulos dinâmicos, cortes rápidos e uma paleta de cores vibrante para criar uma atmosfera que combina ação de alta octanagem com um toque de comédia (romântica) e sofisticação. Repare como as sequências de ação são coreografadas com precisão, oferecendo uma mistura de combate corpo a corpo, tiroteios e perseguições que deixa muito "drama realista" com inveja.

Donald Glover, além de co-criar a série, também brilha como protagonista. Conhecido por seu talento que transita por vários gêneros, Glover traz seu carisma e charme com um timing cômico impecável ao papel, criando um personagem que é ao mesmo tempo letal e vulnerável. Sua performance é repleta de nuances, pontuando seu lado divertido com momentos de seriedade que revelam a profundidade emocional de suas lutas internas. Já Maya Erskine, sua co-protagonista, entrega um trabalho igualmente dinâmico ao capturar a dualidade oriental de Jane com habilidade, mostrando uma personagem que é tanto uma espiã implacável quanto uma mulher lidando com os desafios de um relacionamento complexo e com as marcas de seu passado. Agora vale o registro: o que é muito bacana mesmo é a química entre os dois - tudo é palpável, seus diálogos são cirúrgicos e até nas cenas de ação, onde o ritmo é mais acelerado, eles fazem com que essa relação seja, de fato, um dos pontos altos da série.

"Sr. & Sra. Smith", em sua tentativa de combinar tantos elementos diferentes, pode até se tornar um pouco dispersa em termos de tom e ritmo, especialmente nos primeiros episódios. No entanto, eu sugiro um pouco de paciência até se conectar com a proposta de Glover e Sloane, pois essa nova adaptação é realmente divertida, traz boas ideias e muita energia para um projeto que parecer ter potencial para muitas temporadas.

Vale o seu play, especialmente se você estiver em busca de histórias de espionagem com um toque de humor e com personagens cativantes!

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"Sr. & Sra. Smith" está mais para "Killing Eve" do que para "Segurança em Jogo", ou seja, todos os elementos de espionagem, investigação, crimes e conspiração estão aqui, mas é o "tom" que vai direcionar a narrativa. Lançada em 2024, essa produção original da Amazon para seu Prime Video, é uma releitura moderna e estilizada do filme de 2005, desta vez criada por Donald Glover e Francesca Sloane. A série traz uma abordagem moderna e cheia de energia para a premissa clássica de um casal de espiões cujas vidas secretas colidem de maneira explosiva em uma mistura de ação, comédia e drama. "Sr. & Sra. Smith" busca capturar a química entre seus protagonistas enquanto explora temas como amor, lealdade e identidade, sempre com um toque de humor afiado e cativante. Um excelente entretenimento!

A trama segue John e Jane Smith (interpretados por Donald Glover e Maya Erskine), dois estranhos solitários que conseguem empregos em uma misteriosa agência que lhes oferece uma oportunidade gloriosa como um casal de mentira que vive uma vida dupla como espiões. A série explora como missões perigosas e segredos cuidadosamente guardados começam a se entrelaçar com suas vidas pessoais, levando a situações caóticas e muitas vezes cômicas. A relação entre John e Jane é complexa, oscilando entre amor e rivalidade, confiança e traição. Confira o trailer:

Inspirado nos personagens criados por Simon Kinberg, essa adaptação co-escrita por Glover e Sloane (ambos de "Atlanta") expande o universo do filme de uma maneira até mais inteligente e, por consequência, com reviravoltas mais bem construídas - aliás, uma característica essencial para o sucesso de uma trama de espionagem. "Sr. & Sra. Smith" chama atenção desde o primeiro episódio pela sua capacidade de equilibrar habilmente o desenvolvimento dos personagens pela perspectiva mais intima e pessoal com cenas de ação repletas de ironias e alívios cômicos, criando assim uma narrativa envolvente e divertida. Veja, a série não tem medo de explorar os aspectos mais sombrios e complicados do relacionamento entre John e Jane, mas faz isso com um toque leve que evita aquela sensação de tensão e angústia constantes. A equipe de direção sabe disso e, mesmo sem pesar na mão, nos surpreende com um conceito estiloso e cheio de energia, utilizando ângulos dinâmicos, cortes rápidos e uma paleta de cores vibrante para criar uma atmosfera que combina ação de alta octanagem com um toque de comédia (romântica) e sofisticação. Repare como as sequências de ação são coreografadas com precisão, oferecendo uma mistura de combate corpo a corpo, tiroteios e perseguições que deixa muito "drama realista" com inveja.

Donald Glover, além de co-criar a série, também brilha como protagonista. Conhecido por seu talento que transita por vários gêneros, Glover traz seu carisma e charme com um timing cômico impecável ao papel, criando um personagem que é ao mesmo tempo letal e vulnerável. Sua performance é repleta de nuances, pontuando seu lado divertido com momentos de seriedade que revelam a profundidade emocional de suas lutas internas. Já Maya Erskine, sua co-protagonista, entrega um trabalho igualmente dinâmico ao capturar a dualidade oriental de Jane com habilidade, mostrando uma personagem que é tanto uma espiã implacável quanto uma mulher lidando com os desafios de um relacionamento complexo e com as marcas de seu passado. Agora vale o registro: o que é muito bacana mesmo é a química entre os dois - tudo é palpável, seus diálogos são cirúrgicos e até nas cenas de ação, onde o ritmo é mais acelerado, eles fazem com que essa relação seja, de fato, um dos pontos altos da série.

"Sr. & Sra. Smith", em sua tentativa de combinar tantos elementos diferentes, pode até se tornar um pouco dispersa em termos de tom e ritmo, especialmente nos primeiros episódios. No entanto, eu sugiro um pouco de paciência até se conectar com a proposta de Glover e Sloane, pois essa nova adaptação é realmente divertida, traz boas ideias e muita energia para um projeto que parecer ter potencial para muitas temporadas.

Vale o seu play, especialmente se você estiver em busca de histórias de espionagem com um toque de humor e com personagens cativantes!

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Steve Jobs

Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!

O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:

Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.

Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.

"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!

Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!

O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:

Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.

Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.

"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!

Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!

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Tales from the Loop

"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:

"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!

"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!

A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.

No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home". 

"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético! 

Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!

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"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:

"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!

"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!

A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.

No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home". 

"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético! 

Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!

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Tese sobre um Homicídio

"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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"Tese sobre um Homicídio" é mais um daqueles filmes como o também argentino "O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella ou, mais recentemente, como o espanhol "Um Contratempo" do Oriol Paulo. Todos os três filmes partem do mesmo conceito narrativo: construir uma trama envolvente, cheio de peças aparentemente perdidas, mas que aos poucos vão sendo encaixadas de uma forma menos conveniente e que no final nos surpreende de alguma forma - mas sem roubar no jogo!

Nesse filme do diretor argentino Hernán Goldfrid, acompanhamos Roberto Bermudez (Ricardo Darín), um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante concorrido na universidade local. Seco e um tanto quanto arrogante, Roberto já não vê as coisas com o idealismo da juventude por saber como tudo funciona na prática. Apesar disto, ele sente-se incomodado com o jovem Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um velho conhecido, que está matriculado em seu curso, simplesmente por ser seu fã. Quando um brutal assassinato acontece perto da universidade, o professor logo se interessa pelo caso e passa a investigá-lo, por mera curiosidade e graças aos anos de profissão na área criminal. Uma pista leva a outra e, pouco a pouco, Roberto passa a desconfiar que Gonzalo esteja por trás do crime. Confira o trailer:

Um elemento que me chamou muito atenção em "Tese sobre um Homicídio" é justamente como o roteiro do Patricio Vega consegue criar um clima misterioso e bastante envolvente em torno de uma possível paranoia de Roberto - principalmente a partir de seu relacionamento com Gonzalo. Cria-se aí uma espécie de confronto psicológico dos mais interessantes onde cada um dos personagens se desafiam a todo instante. O curioso é que, por mais que os indícios apresentados por Roberto, sejam nítidos e até óbvios se olharmos pela perspectiva de quem conhece o gênero, o filme jamais os assume o fato de que ele possa estar certo. Reparem.

Ricardo Darín, claro, dá outro show. Seu personagem sente a progressão da história fisicamente, mas é mentalmente que ele vai ganhando camadas profundas: se ele bebe e fuma cada vez mais, é com seu descontrole que ele parece se preocupar e isso ajuda a expor uma complexidade que poucos estão dispostos a encarar. A direção de fotografia de Rolo Pulpeiro está completamente alinhada com um conceito de direção bastante estiloso de Hernán Goldfrid - como se os atores estivessem livres para brilhar em cima de uma história maravilhosamente bem contada em imagens e diálogos - e como disse inicialmente: sem inventar ou encontrar uma solução mirabolante para justificar suas escolhas. Como diz o protagonista: o segredo está no detalhe!

Baseado no livro deDiego Paszkowski,  "Tese sobre um Homicídio" não se propõe a fechar uma questão sem nos colocar para pensar (daí a força do seu título) - isso é preciso ficar claro! O que não deixa a narrativa didática demais, porém pode decepcionar quem prefere algo mais mastigado como em outros filmes do gênero, porém a jornada é tão interessante quanto o final e vale muito a pena pelo entretenimento de excelente qualidade!  

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The Boys

Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.

"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.

 

Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido   Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!

Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas em 2019 - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.

"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desses heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell (Jack Quaid) percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher (Karl Urban) e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.

 

Uma das coisas mais interessantes que percebi nessa primeira temporada, foram alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para que a série de Vince Gilligan se tornasse um grande sucesso, pela inovação narrativa e inventividade visual. O primeiro deles é a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino - e se inicio vemos muito de Walter White em Hughie, com o passar dos episódios temos a impressão que seu personagem é muito mais próximo do Jessie, afinal ele está sempre se questionando e sua aproximação com a Annie January (Erin Moriarty), a Starlight, só aumenta sua dúvida sobre estar no caminho certo e es caminho deve ser percorrido com um ressentido   Billy Butcher! Outro elemento bastante perceptível está na quebra das barreiras que separavamm os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificavam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". Mas em "The Boys", quem são os bandidos? E por fim, e não menos importante, é o tom que série trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados de personagens muito bem desenvolvidos, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama (ao melhor estilo Tarantino), quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!

Resumindo: com um roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que já criou uma identidade muito particular, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho! Com o final da primeira temporada é fácil afirmar que a série está irrepreensível! Vale muito a pena!!!!

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The Looming Tower

"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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"The Looming Tower" é uma das melhores minisséries que assisti ultimamente. Se você gosta da "tríade": investigação x terrorismo x política, você não vai conseguir parar de assistir esse projeto da Hulu que aqui no Brasil é distribuído pela Amazon Prime Vídeo! Confira o trailer:

Baseada no livro de Lawrence Wright, lançado em 2006 e ganhador do Prêmio Pulitzer, a história acompanha o crescimento da ameaça de terrorismo que os EUA viviam no inicio dos anos 2000, representada pela Al-Qaeda de Osama bin Laden. O roteiro expõe de maneira muito inteligente, a tensão, a desconfiança  e a rivalidade entre a CIA e o FBI, além das falhas (reais) que essa disputa representou na luta para impedir a tragédia de 11 de setembro. É realmente um absurdo!

O roteiro tem como foco a jornada de dois personagens: John O'Neill (Jeff Daniels), chefe do esquadrão antiterrorista do FBI, e seu braço direito Ali Soufan (Tahar Rahim), libanês naturalizado americano. Juntos eles trabalhavam para impedir os avanços da Al-Qaeda, tanto no ocidente como no oriente. Porém, além das naturais dificuldades nas investigações, existia uma disputa de ego e poder, que dificultava o fluxo de informações entre a burocrata CIA e os agentes de campo do FBI. O triste é perceber que a individualidade do ser humano não foi capaz impedir o maior ataque terrorista da história - e isso fica muito claro nas cenas reais do interrogatório feito pelo Congresso Americano após os acontecimentos! É preciso dizer, porém, que o roteirista e criador da série Dan Futterman (de "Gracepoint" e "Foxcatcher") demoniza apenas um lado da história - uma dinâmica que ajuda a estabelecer quem é o bandido e quem é o mocinho, mas que na vida real sabemos não ser assim que acontece e isso enfraquece a credibilidade da discussão principal da série: a incapacidade que as agências do FBI e da CIA tiveram de trabalhar em conjunto!

Sempre ancorado em eventos reais, a linha do tempo de "The Looming Tower" nos ajuda a entender a lógica de muitos personagens: da ideologia à ação. Vemos (ou ouvimos) comentários sobre o caso de Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton no exato período onde alguns ataques aéreos ao Afeganistão matavam centenas de inocentes - a cena do menino olhando o míssil se aproximando é uma das coisas mais bacanas que eu já assisti e depois toda sua explicação sobre o fato deixa claro que o problema é muito maior do que podemos imaginar (e os EUA é parte dele). Os ataques a embaixada no Quênia, ao destroyer USS Cole no porto de Áden, no Iêmen, e até a liderança desastrosa de George W. Bush e Condeleeza Rice já mais próximos ao "9/11", tudo está lá, muito bem pontuado! Jeff Daniels talvez tenha feito seu melhor trabalho da carreira - o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy de 2018. Peter Sarsgaard está intragável como Martin Schmidt e, claro, Bill Camp sempre impecável!

Muito bem dirigida e extremamente bem produzida (a recriação das Torres Gêmeas chega a dar um certo mal estar pela perfeição da fotografia), "The Looming Tower" é daquelas minisséries inesquecíveis, tipo "Chernobyl" - sem o menor medo de errar! Não espere cenas de terroristas dentro dos aviões ou até dos aviões batendo nas Torres - embora esse exato momento tenha sido uma das soluções mais inteligentes que já acompanhei e muito, mas muito, impactante! A série é sobre os bastidores, com uma ou outra cena de ação, mas seu forte está no diálogo e na construção do quebra-cabeça para impedir atos terroristas!

Vale muito a pena, são 10 episódio de 50 minutos que vão te prender, mesmo todos já sabendo o final!

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The Night Manager

Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

Olha, vale muito o seu play!

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Você até pode não ter assistido "The Night Manager", mas certamente vai se arrepender de não ter feito isso antes assim que os créditos do sexto episódio subirem. Sim, essa minissérie que agora virou série (e comento sobre isso no final dessa análise) é simplesmente imperdível e talvez não tenha se tornado um grande hit como "House of Cards", por exemplo, por ter sido lançada em um momento onde os serviços de streaming ainda se consolidavam entre os assinantes. Essa produção de 2016, dirigida pela Susanne Bier (de "The Undoing"), é uma mistura irresistível de espionagem, intriga e drama político onde, basicamente, os segredos revelados e a lealdade do ser humano são colocados à prova a cada episódio - bem na linha "Homeland" ou "Califado", eu diria.

Baseada no romance de John Le Carré, "The Night Manager" nos mergulha em um mundo de intrigas internacionais, corrupção e jogos de poder com uma trama que segue Jonathan Pine (Tom Hiddleston), um ex-soldado que se torna gerente noturno de um luxuoso hotel no Egito. No entanto, sua vida dá uma reviravolta quando ele é recrutado para uma missão perigosa em que precisa se infiltrar e ganhar a confiança do traficante de armas Richard Roper (Hugh Laurie) e assim impedir uma transação capaz de iniciar uma nova guerra. Confira o trailer:

Co-produzindo pela AMC e pela BBC,  "The Night Manager" foi uma das minisséries mais premiadas na temporada de seu lançamento, vencendo, inclusive, 2 Emmys depois de ter recebido 12 indicações (isso mesmo, doze!) - Bier venceu como melhor diretora de séries limitadas e Víctor Reyes venceu com sua incrível trilha sonora. Sem dúvida que essa carreira vitoriosa se deu pela qualidade absurda de seu roteiro, mas essencialmente o que chama muito a atenção é a grandiosidade da sua produção muito bem alinhada com uma fotografia deslumbrante do Michael Snyman (de "See") que nos transporta para cenários exóticos e elegantes que vão de Palma de Mallorca na Espanha até um luxuoso hotel no Cairo, ainda passando por locações na Suíça, na Inglaterra, na Turquia e no Marrocos.  A direção habilidosa de Susanne Bier aproveita dessa linda moldura para criar uma atmosfera tensa de contrastes, extremamente envolvente e lindamente pontuada por uma trilha sonora que intensifica cada momento de angustia e emoção - pode ter certeza que sensações não faltarão na sua jornada como audiência.

O interessante, no entanto, é que a minissérie não se limita ao enorme quebra-cabeça politico e diplomático da trama, ela também traz para tela muita ação e suspense, sempre explorando as relações complexas e emocionais entre os personagens. Existe uma profundidade a cada reação do personagens, brilhantemente potencializadas pela câmera de Bier, que dá o tom do drama que cada um está vivendo, revelando suas motivações e dilemas internos de uma maneira muito orgânica e impactante. Destaque para ela, Olivia Colman como a incansável agente Angela Burr e para a química entre Hiddleston e Laurie em seus jogos de ironia, desconfiança e até de afeto.

Antes de finalizar, é importante ressaltar que desde seu lançamento, "The Night Manager" foi conquistando uma base de fãs muito fiel graças a essa combinação de um roteiro dos mais inteligentes e dinâmicos, com performances impressionantes, esse toque de espionagem, de ação e, claro, com aquela constante tensão emocional que nos acompanha por todos os episódios. Uma obra-prima esquecida na Prime-Vídeo que, mais de sete anos depois, deve voltar a receber atenção, pois já foi confirmada a produção de mais duas temporadas com o retorno de Tom Hiddleston como protagonista. Ainda bem!

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

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Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

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The Tunnel

Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

Pode ir sem medo que a escolha é certeira!

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Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.

A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:

Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.

A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.

A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..

Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".

O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!

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The Voyeurs

Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Them

"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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Time

"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

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"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

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